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Volume Especial - Bem-estar Animal ISSN 1517-6770

Gatos, equívocos e desconhecimento na destinação de animais


em abrigos: Revisão da Literatura
Vania Plaza Nunes¹ & Guilherme Marques Soares²
¹Associação Brasiliera De Medicos Veterinarios Especialistas Em Bem Estar Animal. E-mail para correspondência: vania.vet@gmail.com
²Universidade Severino Sombra, Vassouras, Rio de Janeiro, Brasil. E-mail: gsoaresvet@gmail.com

Abstract. Cats, misunderstandings and lack of knowledge in the destination of animals in shelters: Literature Review.
Abandoned cats are exposed to many kinds of ill-treatment, like and poisoning, and suffering, like hunger, isolation and
rejection by humans. Many of these animals are taken to private or public shelters by volunteers and municipal officers.
In general, in a shelter-like environment there are a high number of animals, scarce environmental, sanitary and feeding
resources, inadequate handling and risk of social interactions that may compromise the welfare of sheltered cats. The
evaluation of socialization spectrum of cats taken to shelters can be an important tool for initial screening and choosing
of appropriate disposition track - adoption or resocialization programs, permanent housing, return-to-field or euthanasia
of these animals. In Brazil, there are no records of technically based assessments considering behavior, communication
and interaction levels of domestic cats in shelters. In other countries, when this analysis happens, it is usually done by
using well-established stress assessment tools, in individual cage housing. In order to carry out adoption, adult cats collec-
tively held in public shelters or in non-governmental organizations should be evaluated regarding their socialization, thus
minimizing the risk of re-abandoned of those cats with a more fearful, withdraw behavior or living with a low degree of
well-being. In the literature review, no evaluation instruments were fond for adoption programs of adult cats where the
socialization of the animals was the central point of the screening. The existence of this instrument could facilitate the
destination of felines rescued from abandonment to different programs of adoption, resocialization or definitive mainte-
nance in restricted, controlled environments and with the employment of environmental enrichment.

Key words: feline behavior, cat adoption, animal welfare, and socialization of adult cats.

Resumo. O abandono de gatos os expõe a maus tratos como envenenamento e a sofrimento como, a fome, o isolamento,
e a rejeição, por parte dos humanos. O resgate de muitos desses animais ocorre por voluntários e servidores municipais
que os conduzem a abrigos privados ou públicos. Em geral, nesses ambientes, encontramos um elevado número de
animais, escassez de recursos ambientais, sanitários e alimentares, manejo inadequado e riscos de convívio social que
comprometem o bem-estar dos gatos alojados. A avaliação do grau de socialização de gatos recolhidos em abrigos pode
ser uma ferramenta importante para triagem inicial e destinação a programas de adoção, ressocialização, manutenção
permanente, devolução à comunidade de origem ou a eutanásia desses animais. No Brasil não há registros na literatura
de que ocorra alguma avaliação tecnicamente embasada considerando o comportamento, comunicação e expressão do
gato doméstico nesses locais. Em outros países, em geral, essa análise, quando ocorre, se dá através do emprego de
instrumentos de avaliação de estresse e em ambientes de alojamento individual em gaiolas. Para encaminhamento para
adoção, gatos adultos recolhidos a abrigos públicos ou a organizações não governamentais, em geral são mantidos coleti-

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vamente, e deveriam ser avaliados quanto a sua socialização, minimizando assim os riscos de abandono daqueles animais
com temperamento mais arredio ou medrosos, ou que os mesmos vivam com baixo grau de bem-estar. Na revisão de
literatura não se encontrou instrumentos de avaliação para programas de adoção de gatos adultos onde a socialização dos
animais fosse o ponto central da triagem. A existência desse poderá facilitar a destinação de felinos resgatados de aban-
dono para diferentes programas adoção, ressocialização, ou manutenção definitiva em ambientes restritos, controlados e
com emprego de enriquecimento ambiental.

Palavras-chave: comportamento felino, adoção de gatos, bem-estar animal e socialização de gatos adultos.

Introdução segurança e o bem-estar desses animais. (Paixão


& Machado, 2015; Genaro, 2005)
Nas últimas décadas inúmeras mudanças
ocorreram na sociedade humana, desde a forma O estudo do comportamento animal tem
de viver, constituir uma família, interagir com a se mostrado uma ferramenta muito eficiente
natureza, ocupar espaços rurais e urbanos, e se quando se busca, a partir do entendimento do
relacionar com animais de estimação, entre eles comportamento natural dos animais, entender
os gatos. Entretanto todos os anos milhões des- suas necessidades, sua expressividade, e a ado-
ses animais são abandonados em todo mundo tar e aplicar ações que promovam o bem-estar
(Gourkow & Fraser, 2006; Slater et al., 2013- a, dos animais (Dybdall et al., 2007). Pouco é divul-
b; Genaro, 2005) gado a sociedade sobre informações e conheci-
mento que possam auxiliar no entendimento das
Gatos popularmente são vistos como ani-
necessidades biológicas, no reconhecimento do
mais de hábitos solitários, mobilidade noturna
comportamento natural de animais, e muitas in-
mais intensa quando em vida livre, mas que se
terpretações equivocadas baseadas em crenças
adaptam em pequenos ambientes quando domi-
questionáveis e negativas sobre o gato, levam ao
ciliados, e hoje em alguns países como os E.U.A.
abandono de milhares de animais todo ano em
têm sua preferência para convívio tanto por pes-
todo mundo (Paixão & Machado, 2015; Souza-
soas solitárias, quanto famílias numerosas (Bea-
-Dantas, 2010).
ver, 2005). São animais de comportamento pe-
culiar, alta sensibilidade ás mudanças ambientais Recolhidos a abrigos de serviços muni-
mesmo as aparentemente suaves ou simples, po- cipais ou de organizações não governamentais
dendo apresentar comportamentos indesejados (ONGs) a grande maioria desses animais passa a
pelos tutores. Esses comportamentos podem viver em ambientes coletivos pobres em recursos
ser equivocadamente interpretados, levando os básicos à espécie, sendo condenados, em espe-
humanos a atitudes que podem comprometer a cial os adultos, a ali viverem por falta de ações

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efetivas que possam minimizar o abandono e re- alterações comportamentais são complexas,
conduzir os animais em condições adequadas de exigindo recursos materiais e humanos
saúde e comportamento e a nova oportunidade especializados (Soares et al., 2010). Em outros
de um lar (Dybdall et al., 2007). No Brasil assim casos ainda esses protocolos avaliam e triam
como os E.U.A., Reino Unido e Canadá, entre ou- animais que necessitarão serem supervisiona-
tros países com números expressivos de gatos, dos por especialistas de forma permanente em
não existe a prática da avaliação do grau de so- programas voltados a destinação específica para
cialização ou de estresse dos gatos recolhidos em estes animais (Siegford et al., 2003; Slater et al.,
abrigos, mesmo nos governamentais, embora 2013- a e b; Dybdall, et al. 2007). No Brasil ain-
naqueles centros alguns trabalhos apontem essa da não há registros de locais onde estas práticas
necessidade como rotina, nas atividades de res- ocorram de forma permanente, em abrigos pú-
gate de gatos, em especial adultos (Siegford et blicos ou particulares para animais oriundos do
al., 2003; Slater et al., 2013- a e b; Dybdall, et abandono.
al. 2007).
Ferramentas de avaliação comportamen-
Os serviços de controle animal, sejam eles tal necessitam ser cuidadosamente testadas e ao
públicos ou privados, em geral têm entre seus mesmo tempo ser simples e diretas no momento
quadros funcionais trabalhadores e eventual- da avaliação. A definição dos pontos básicos para
mente técnicos que pouco ou nada compreen- a avaliação deve considerar o comportamento
dem do comportamento natural do gato domés- natural e os sinais de comunicação dos animais,
tico (Vieira et al. 2009; Garcia et al., 2008). O mas também devem incluir práticas comuns na
conhecimento empregado por esses indivíduos relação da comunidade com esses animais, con-
ao lidar com gatos, em geral, ou vem de práticas
siderando-se as necessidades de interação e ma-
leigas ou rotineiras que possuem com seus pró-
nejo básicos necessários (Slater et al., 2013- a e
prios animais ou de pessoas próximas, ou então
b; Dybdall, et al. 2007).
é adquirido de colegas em situações e atividades
semelhantes. A domesticação dos gatos

Em relação a cães, existem técnicas O gato chegou ao Novo Mundo com os


consagradas de avaliação comportamental que navegadores por ocasião da descoberta de no-
auxiliam a triar animais com perfil de maior vos continentes. Vem atravessando os séculos e
docilidade classificando animais destinados passando pelas diversas fases da sociedade hu-
a adoção, outros com perfil mais agressivo e mana gerando comportamentos antagônicos de
de maior risco de ataque a humanos e outros ódio e de amor (Beaver, 2005; Faraco, 2013).
animais, que deverão passar por programas O gato ainda hoje suscita uma postura ambígua
específicos de re-socialização, nos quais as na sociedade. Dados mundiais mostram que a

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cada ano cresce o número de lares com gatos, Esses dados demonstraram o expressivo número
ao mesmo tempo que, aumenta também o re- de exemplares da população felina em relação à
gistro de gatos abandonados, vítimas de maus estimada canina, por exemplo, quando compara-
tratos, abandono, sendo reduzida a taxa de ado- dos aos dados anteriores, apontados em diferen-
ção, por exemplo, em relação aos cães (Paixão tes trabalhos de avaliação ou estimativa popula-
& Machado, 2015). Nos E.U.A. todos os anos cional disponíveis no país (Garcia et al., 2008).
milhões de gatos são eliminados em abrigos pú-
Na Europa e E.U.A., gatos são animais de
blicos e privados (Slater et al., 2013- b; Genaro,
companhia já há muito tempo populares, e são
2005). De acordo com dados da ASPCA, 2018,
encontrados em grande número também em
cerca de 860.000 gatos em média são eutanasia-
abrigos públicos e de organizações de proteção
dos anualmente nos EUA. Já em países europeus
animal (Siegford et al. 2003). No Reino Unido
como a Espanha cerca de 30.000 gatos por ano
dados de pesquisa de Murray, 2010, já demons-
foram abandonados entre 2008 e 2013 e cerca
travam que mesmo as estimativas na avaliação
de 23,4% desses animais foram submetidos a eu-
sobre empresas comerciais do mercado “pet”, a
tanásia (Fatjó,2015).
população de gatos era subestimada, e que essa
A população de animais de estimação população era praticamente idêntica a popula-
ção de cães e numa curva crescente de interesse
O Brasil é hoje o segundo país no mundo
dos humanos com o passar das décadas em es-
em população de cães e gatos. No Brasil tem se
pecial em classes sociais mais elevadas.
observado a tendência do aumento da popula-
ção de gatos nos lares brasileiros (Faraco, 2013; As mudanças no estilo de vida da socie-
Paixão & Machado, 2015; Genaro, 2005). Dados dade do século XXI faz com que o interesse no
recentes mostram que no Brasil, a exemplo de gato como animal de estimação aumente, por
outros países, a população de gatos cresce de ser interativo, limpo, necessitar menor espaço
forma expressiva, sendo atualmente a metade para viver, alta adaptabilidade e independência
da população canina estimada no país. Em dados quando comparados aos cães (Faraco, 2013;
publicados pelo Ibge (2013), são mais de 52 mi- Machado, 2017). Quando pensamos em gran-
lhões e de cães e 22 milhões de gatos, mostran- des cidades com mais de 200 mil habitantes, por
do que em 44,3% dos lares brasileiros existe ao exemplo, podemos dizer que na maioria delas as
menos um cão e 17,7% ao menos um gato. Foi a características de uso ocupação do solo com o
primeira vez que informações básicas da presen- adensamento em número das moradias, a redu-
ça de cães e gatos em lares brasileiros passaram ção do tamanho dos imóveis, e a realidade atual
a fazer parte das pesquisas periódicas coletadas de diminuição do número de membros nas famí-
e publicadas para estabelecer um perfil social lias, a formação destas famílias cada vez mais tar-
nacional em seus 5570 municípios (IBGE, 2013). diamente na vida das pessoas, vem fazendo com

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que a necessidade de contato com a natureza e Realidade do abandono dos felinos


de companhia doméstica, possa ser alcançada
O abandono de cães e gatos é uma pratica
pela presença, por exemplo, de um gato como
humana comum no mundo todo. Os gatos, em-
membro desta nova e pequena família no país. bora animais de companhia populares, particu-
Atualmente em centros urbanos, os ani- larmente na Europa e nos E.U.A., aparecem tam-
mais de estimação permanecem parte do dia so- bém em números elevados correspondentes nos
grandes abrigos de animais, sendo oriundos do
zinhos, ou em pequenos grupos uni ou multies-
abandono ou desinteresse dos tutores em con-
pécie, confinados no ambiente doméstico, em
tinuar convivendo com esses animais (Siegford
especial por aspectos que garantam sua seguran-
et al., 2003).
ça (Alho et al. 2012; Genaro, 2005). Entretanto,
quando nos dirigimos às regiões mais periféricas Numa pesquisa de 2014, no Reino Unido
encontram-se animais em especial os cães pe- estimou-se que no período de 12 meses um total
rambulando pelas ruas. No caso dos gatos por de 156.826 gatos foram recolhidos para abrigos.
seus hábitos espécie-específicos, esses podem O estudo ainda mostrou que também ali invaria-
passar despercebidos em muitas localidades, velmente as entidades protetoras sempre estão
com sua capacidade máxima de ocupação para
e, no entanto, estarem vivendo em situação de
alojamento e manutenção dos felinos. Em geral
abandono ou serem parcialmente negligencia-
as condições de cuidado e provisão de recursos
dos quanto a sua supervisão, cuidados básicos
básicos são precárias favorecendo que os animais
de alimentação e sanitários em boa parte do dia
apresentem problemas de saúde física, mental e
devido a seus hábitos de vida mais crepusculares
comportamental (Finka et al., 2014).
e noturnos (Garcia et al., 2008).
Não existem dados oficiais sobre o nú-
Crenças populares levam a sociedade mero de abandono de cães e gatos no Brasil. A
brasileira a discriminar a espécie felina como estimativa da O.M.S. (Organização Mundial da
um animal pouco sociável e independente, que Saúde) de 2014, apontam que apenas no Brasil
pouco interage com humanos, se acostuma com existem 30 milhões de cães e gatos nesta condi-
a casa e não com os tutores, por exemplo. Isso ção (2/3 de cães e 1/3 de gatos). Dados mundiais
pode reduzir a possibilidade de gatos adultos se- estimam que de 7 a 10% da população estimada
rem adotados e terem a chance de conviver de de cães viva nas ruas de cidades de grande porte
forma satisfatória em uma família para promo- em muitas partes do mundo (Anda, 2014). Com
ção do bem-estar felino. Quando aceita a adoção relação à população de gatos por faixa etária os
no caso especialmente de gatos, ela ocorre pre- números são ainda mais desconhecidos. Entre-
ferencialmente com a escolha de filhotes. tanto pelo crescimento da população destes ani-

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mais em domicílios de acordo com dados do Ibge pontuais dos tutores como, mudança de casa, se-
(2013) também nos centros urbanos, podemos paração, morte do cuidador, problemas de saú-
estimar que o número de animais desta espécie de, aconselhamento equivocado de profissionais
também cresce quando o tema é o abandono. da saúde sobre a presença de gatos em situa-
Embora não apresentando dados científicos, em ções específicas ( gestação, processos alérgicos,
maio de 2016 a revista “VEJA São Paulo”, trouxe doenças crônico degenerativas de ocorrência nos
uma matéria que pode exemplificar esses núme- seres humanos) são motivos comuns na socieda-
ros. Segundo a publicação em média 16 animais de atual que comprometem a guarda responsá-
por dia, 500 por mês e 6000 por ano são resga- vel dos felinos.
tados apenas por 10 das entidades de proteção e
Um dos motivos apontados por Serpell,
defesa animal da capital de São Paulo ouvidas na
(1996), segundo Paixão & Machado, (2015), é a
matéria, sendo variável, mas crescente, o núme-
comparação constante feita entre o comporta-
ro de gatos recolhidos.
mento de cães e gatos. Podemos dizer que, de
Práticas culturais equivocadas, falta de fato, a prática do abandono em geral ocorre pela
percepção, entendimento e interpretação do desconexão dos humanos com o compromisso
comportamento natural da espécie felina, (Pai- de manter animais sobre sua guarda, garantindo
xão & Machado, 2015), são as principais razões o bem-estar animal (Paixão & Machado, 2015).
frequentemente citadas para o abandono de
Abandono e o comportamento felino
gatos recolhidos para abrigos (Siegford et al.,
2003). Muitos destes são depois de um período Os gatos são destinados a abrigos
curto de tempo eutanasiados (Siegford et al., ou abandonados em diferentes ambientes.
2003). Estudos sobre padrões comportamentais de
Entre os equívocos para o abandono dos gatos ainda hoje são insuficientes e muitas
gatos está o desconhecimento da expressão na- vezes pouco esclarecedores e com acesso
tural do seu comportamento como, o de elimina- restrito a maioria dos tutores, para esclarecer
ção, a marcação territorial, os comportamentos muitos dos comportamentos naturais exibidos
de caça, reprodutivo, comportamentos agonís- pelos gatos domésticos, como as diferentes
ticos (relacionados a agressividade), comporta- formas de marcação territorial, eliminação,
mento social, (Machado, 2017), e a participação, socialização, entre outros. Os tutores desses
ou não do animal como transmissor de doenças felinos podem por desconhecimento e falta de
como, as zoonoses. Outros como, a incompreen- acesso a informações, responsabilizar os gatos
são, o descompromisso ou impossibilidade dos por comportamentos naturais indesejados e
seus tutores originais proverem cuidados bási- assumirem condutas inadequadas que por
cos de alimentação, abrigo e saúde, ou questões equívocos na interação, manejo, comprometem o

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bem-estar dos espécimes. Muitos são destinados e eventualmente pelos serviços municipais de
às ruas ou negligenciados na sua guarda e acabam controle animal de acordo com protocolos locais
em abrigos sejam públicos ou de ONGs, cada vez por eles definidos. Os demais permanecem em
mais lotados, e onde o bem-estar dos indivíduos condições insatisfatórias para sua sobrevivência
alojados pode ser bem questionável pela falta de estando expostos a inúmeras condições de pri-
recursos básicos necessários a todos os animais vação quanto a alimentação, cuidados, abrigo, e
alojados (Souza-Dantas, 2010). sendo alvo de maus tratos. Os animais recolhidos
passam a compor uma população de animais que
Muitos dos animais recolhidos e manti-
vivem em condições inadequadas com compro-
dos em abrigos podem parecer receosos, mas
metimento variável ao seu bem-estar (Gourkow
na verdade, podem estar ocultando um alto grau
& Fraser, 2006).
de estresse, em especial pelo ambiente onde se
encontram (Frasch, 1999). Em geral esses ani- Os abrigos de animais são constituídos
mais podem mudar completamente de compor- ou por locais específicos definidos nos serviços
tamento e estado emocional quando levados municipais de controle animal, e em um grande
para uma casa que ofereça a possibilidade de um número de casos, sem atender as necessidades
manejo humanitário, num ambiente confortável comportamentais dos animais, ou o ambiente
e uma família inclusiva e comprometida com o previsto para alojamento é adaptado de forma
bem-estar daquele animal, tornando-se animais improvisada para gatos, em geral não atenden-
extrovertidos e sociais. Avaliações de tempera- do às necessidades mínimas ao bem-estar des-
mento, por exemplo, se forem adequadamente ses animais (Reichmann et al., 2000; Vieira et al.,
realizadas, podem auxiliar na escolha da família 2009). Nesses locais podemos observar a grande
de adotantes sendo esta cuidadosamente acom- população de gatos em alojamento ou em peque-
panhada (Siegford et al., 2003). Em outras situa- nos e insuficientes recintos como gaiolas, cerca-
ções poderá se encontrar o inverso, animais que dos, ou abrigo em locais coletivos com recursos
na verdade são receosos, mas com um bom pro- escassos ou inexistentes e uma grande quantida-
grama de ressocialização poderão ampliar sua de de animais com comportamentos inadequa-
gama de comportamentos positivos e interativos dos, vigília e comportamento de estresse cons-
com o ambiente e os humanos que ali convivem, tante, adoecimento, agressividade, e mesmo
mesmo quando da necessidade de manutenção muitas mortes (Gourkow & Fraser, 2006).
dos gatos, sobre controle permanente em abri-
Abrigos de animais resgatados por ONGs
gos enriquecidos (Da Graça & Fragoso, 2010).
em países como na Dinamarca sempre buscam
No Brasil, parte dos gatos abandonados manter gatos de forma definitiva ou transitória
é resgatada por entidades de proteção animal até sua destinação a lares e famílias, só encami-
(ONGs), por protetores ou cuidadores voluntários nhando para eutanásia animais doentes ou que

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apresentam problemas graves de medo e sofri- forma transitória ou mesmo em situações bem
mento pelo confinamento, após um tempo de- especificas como a superlotação e a falta de re-
terminado, onde se comprova que o animal não cursos ambientais de forma permanente. Gou-
tem possibilidade de recuperação (Hoff, 2009). rkow & Fraser, (2006) concluíram que a forma
Mesmo animais ferais são recolhidos e podem de alojar, o enriquecimento e o manejo etológico
ser mantidos de forma definitiva nestes locais se e humanitário dos animais, contribuíram de for-
eles se mostrarem adaptados (Hoff, 2009). Essa ma marcante, para redução do estresse, medo,
prática guarda muita semelhança com a maneira e tornaram o animal melhor adaptado e relaxa-
das ONGs e cuidadores brasileiros lidarem com do, conduziram o gato mais rapidamente a estar
o problema, onde, a eutanásia por problemas pronto para a inclusão em programas de adoção
comportamentais nesses ambientes praticamen- específicos.
te inexiste, assim como a avaliação comporta-
Um ponto comum aos abrigos de animais
mental dos gatos recolhidos.
na América do Norte é a preocupação com a in-
Gatos adultos e mais velhos geralmente cidência de doenças entre os animais alojados,
não despertam interesse em programas de ado- portanto, a escolha por alojamento em gaiolas
ção, ficando meses em situações variadas que individuais para gatos resgatados de abandono é
podem se iniciar com estresse, medo e evoluir uma pratica comum (Gourkow & Fraser, 2006).
para doenças e que levarão muitas vezes o ani- Entretanto, de acordo com Gourkow & Fraser,
mal a óbito, ou então desenvolverem comporta- (2006), uma série de comportamentos podem
mentos agressivos que os condenarão à eutaná- ser observados, indicando bem-estar reduzido
sia (Salman et al., 1998). manifestando-se como agressividade, hipervigi-
lância, autolimpeza e vocalização excessiva, recu-
O estudo de Gourkow & Fraser (2006)
sa de alimento, apatia, baixa imunidade, quando
mostrou que a estratégia motivadora para am-
gatos são alojados em gaiolas individuais com-
pliar a adoção de gatos em abrigos americanos
prometendo o resultado do trabalho proposto de
foi combinar manejo consistente com diferentes
resgate e melhoria das condições dos gatos. Da
opções de alojamento. Segundo os autores o
mesma forma, alojar gatos em ambientes coleti-
estresse para gatos recolhidos em abrigos pode
vos pensando no enriquecimento social e espa-
estar presente em situações de alojamento co-
cial pode também significar uma fonte adicional
letivo no caso de gatos tímidos, idosos, muito
de estresse para gatos tímidos, muito jovens ou
jovens, gatos com baixa socialização com outros
mais idosos (Gourkow & Fraser, 2006).
gatos, e com certeza situações de estresse tran-
sitório que ocorrem quando um novo gato entra Outros fatores podem aumentar ou dimi-
no abrigo, gerando situações não conhecidas e nuir a ocorrência de estresse em abrigos: como
envolvendo o bem-estar de todos os animais de forma de acomodação, disponibilização de espa-

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ço e pontos de fuga, forma de alojamento, pre- ou feral, podem ser considerados inadequados
sença de enriquecimento ambiental e estruturas para programas de adoção. Quando mantidos
mínimas necessárias para expressão comporta- em ambientes desafiadores ao seu bem-estar,
mental dos gatos, manejo dos animais, forma de como abrigos, privados de recursos mínimos ne-
interação, tom de voz e movimentação, práticas cessários ou em quantidade insuficiente a todos
afetivas dos cuidadores de interação como carí- os animais alojados, poderá ser ampliado o gra-
cias, e brincadeiras (Gourkow & Fraser, 2006). diente de desconforto e incapacidade de adapta-
Entretanto, o treinamento e a capacitação sobre ção dos gatos (Slater et al., 2013-a). Gatos adul-
essas práticas e sua importância não é algo que tos podem passar longos períodos em abrigos de
ocorra como rotina em países como os E.U.A. a animais antes da adoção e serem mantidos em
não ser em situações e locais específicos. Estu- ambientes empobrecidos, seja quanto a recur-
dos mostram que gatos mais brincalhões e ativos sos, seja quanto à sua necessidade de manejo
têm uma maior tendência a adoção. (Gourkow etológico, comprometendo seu bem-estar (Gou-
& Fraser, 2006). rkow & Fraser, 2006). Mesmo gatos castrados
apresentam características comportamentais
Gatos resgatados e mantidos em abrigos
distintas entre machos e fêmeas que indepen-
A origem dos animais recolhidos em abri- dem portanto, da ação hormonal reprodutiva.
gos pode ser múltipla, e a necessidade de evitar Geram então um padrão que define caracterís-
acúmulo de animais é uma constante. Em países ticas da espécie que é comum aos indivíduos de
como nos E.U.A. muitos dos gatos resgatados de um grupo, por exemplo (De Oliveira, 2002).
abandono assim como no Brasil têm sua histó- Adoção de gatos
ria completamente desconhecida e o comporta-
mento destes animais podem variar de dóceis a A adoção de animais é um tema que gera
ferais. A ausência de instrumentos de avaliação muita discussão por diferentes aspectos, por ser
do grau de socialização, podem juntamente com um importante pilar do controle das populações
situações de estresse e medo a que estes animais de animais de estimação. O incentivo a adoção
ao invés da compra, vem crescendo nas diferen-
foram submetidos levar a equívocos na interpre-
tes cidades e estados do Brasil como uma con-
tação de seu comportamento e a definição pre-
duta correta ao se pensar em obter um animal
coce de sua destinação (Slater et al., 2013- a e
para companhia. Entretanto, o número de ado-
b).
ções é amplamente maior no caso de filhotes do
Tanto gatos dóceis, mas transitoriamente que adultos, fazendo com que muitos animais
enfrentando medo ou vivenciando um ambien- permaneçam por um longo período de tempo
te desconhecido e intimidador, quantos outros em abrigos e expostos a diferentes situações ne-
animais, com baixo grau de socialização primária gativas ao seu bem-estar. Faltam dados publica-

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dos que espelhem a realidade nacional, estadual animais que promovam agravos aos seres huma-
ou municipal, do número de animais adotados nos e devem ser previstos programas de adoção
anualmente, mas relatos informais das entidades para os animais independente de sua faixa etária,
de proteção animal em diferentes localidades do e ainda com mecanismos de avaliação compor-
país apontam essa realidade em mudança e de tamental dos animais destinados à adoção, além
forma animadora (Soto et al., 2005). daqueles que promovam e recuperem a saúde
dos animais abrigados. Nesse processo, a promo-
No caso dos gatos a situação é semelhan-
ção da socialização dos animais com humanos,
te. No entanto a necessidade de cuidados na
a diferentes estímulos ambientais, a manejo e
adoção de adultos pode ser ainda mais complexa
presença de enriquecimento ambiental deverá
e necessita de atenção complementar. Um des-
ser observada (Vieira et al., 2009). O enriqueci-
ses cuidados se refere á correta avaliação da so-
mento ambiental é um processo dinâmico onde
cialização do felino, com humanos. Aqueles que
através de mudanças na estrutura dos ambien-
os adotam em geral esperam que este processo
tes e nas práticas de manejo busca-se aumentar
seja positivo para ambos (Gourkow & Fraser,
as chances de escolha dos animais, estimulando
2006).
comportamentos e habilidades característicos
A adoção de animais de estimação, como da espécie, promovendo aumento nos níveis de
gatos, faz parte das recomendações e estratégias bem-estar estar psicológico e fisiológico conside-
para estabelecimento de políticas públicas mu- rando a perspectiva da biologia comportamental
nicipais de acordo com o Programa de Controle e a história natural dos animais cativos (Young,
das Populações de Cães e Gatos do Estado de 2003). Entre as possibilidades de enriquecimento
São Paulo (Vieira et al., 2009). Segundo o pro- ambiental está o social que pode ser interespe-
grama, a adoção, é um processo que permite aos cífico e busca ampliar a expressão dos compor-
animais não resgatados por seus antigos tutores, tamentos naturais do animal, promovendo seu
possam depois de recuperados e triados, serem bem-estar através da interação do animal com
destinados à adoção segundo protocolos que humanos (Machado, 2017).
garantam sua saúde física, mental e comporta-
Além dos médicos veterinários envolvi-
mental. A adoção deve ser voluntária, consciente
dos nessas atividades, também os demais fun-
e legalmente definida e registrada nos organis-
cionários e voluntários que interagem com os
mos municipais de controle animal (Vieira et al.,
animais, desde o resgate até a destinação final,
2009).
devem ser capacitados com ferramentas que au-
Ainda segundo o programa, os animais xiliem e ampliem a capacidade de aprimoramen-
devem estar socializados de acordo com sua fai- to tanto na interface com a população como no
xa etária, serem avaliados quanto a não serem desempenho das atividades diretamente ligadas

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Gatos, equívocos e desconhecimento na destinação em abrigos .195

ao manejo, cuidado e avaliação dos animais (Viei- lidade de melhoria do bem-estar do animal, auxi-
ra et al., 2009; Garcia et al., 2008). lia a minimizar a falta ou insuficiência constante
de recursos nos abrigos, o que contribui para o
A adoção de gatos domésticos, em espe-
aparecimento de distúrbios comportamentais e
cial adultos, é baixa em todo mundo. Quando re-
doenças que poderão ser permanentes em am-
colhidos em diferentes tipos de abrigos, em geral
bientes empobrecidos e com muitos indivíduos
a manutenção pode ser por longos ou definitivos
(Souza-Dantas, 2010; Gourkow, 2006; Slater et
períodos de tempo, em especial no Brasil, (Sou-
al., 2013-a e b).
za-Dantas, 2010), onde alternativas como a eu-
tanásia de animais saudáveis não são mais per- É importante que existam programas
mitidas por lei em serviços públicos de controle de adoção para animais saudáveis e sociáveis
animal em estados como o de São Paulo onde a independente da faixa etária, contribuindo com
prática condenável está proibida desde 2008 por a diminuição de riscos de doenças diversas, e
lei estadual. Diferentemente em outros países a manutenção de quadros de estresse, medo,
como nos E.U.A., a eliminação de animais sau- sofrimento que diminuem o bem-estar dos gatos
dáveis e adotáveis é comum em muitos estados, residentes em abrigos por longos períodos (Pai-
mesmo nos abrigos de animais recolhidos pelos xão & Machado, 2015). Para um programa de
diversos motivos de abandono (Slater, 2013 a e adoção diferentes fatores podem contribuir na
b). Nas ONGs brasileiras essa prática não ocorre. facilitação do processo, algum ligado as caracte-
rísticas físicas dos animais como cor, tamanho,
A manutenção de animais em abrigos de
peso, sexo, raça, e em especial, sua socialização
forma permanente é uma realidade muito co-
com humanos, capacidade lúdica e interativa
mum no país, não existindo programas de ado-
com o ambiente (Paixão & Machado, 2015).
ção específicos em especial quando se pensa em
gatos adultos, levando a uma grande população Experiências recentes em Portugal têm
permanente de gatos nesses ambientes. Os es- inclusive demonstrado a possibilidade de con-
tudos de comportamento tem sido uma fonte dicionamento comportamental para animais fe-
central para conhecimento e aprimoramento das rais que são recolhidos das ruas sejam jovens ou
necessidades dos gatos para promoção ou me- adultos, fazendo com que o animal passe a viven-
lhoria do bem-estar animal, no entanto, a dispo- ciar um ambiente mais previsível, quando da pre-
nibilização de ferramentas simples para auxiliar sença de humanos e escalonadamente passarem
na recondução de animais abrigados para novos por etapas de um condicionamento clássico que
lares é escassa ou inexistente. Buscar alternati- conduza a seu comportamento físico e neuroen-
vas que possam contribuir com a minimização dócrino mais estável e equilibrado. Desta forma,
dos períodos de internação em abrigos coletivos mesmo animais que forem mantidos abrigados
como a adoção de gatos adultos além da possibi- de forma definitiva podem ter a chance de um

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196. Nunes & Soares

convívio mais harmonioso com os desafios do a serem considerados na adoção destes animais
entorno, em especial no convívio com os seres como fonte inesgotável do suporte emocional,
humanos (Da Graça & Fragoso, 2010). companheirismo e discrição dos gatos, sendo
agentes importantes de manutenção da conexão
Programas de adoção
social entre os indivíduos inter-espécies promo-
Nos programas de adoção é fundamen- vendo um suporte emocional adicional em espe-
tal que todos os envolvidos tenham perspectivas cial na agitada vida humana da atualidade (Pai-
realistas para a melhor destinação dos animais xão & Machado, 2015).
em questão (Overall et al., 2005). Quando pen-
Bem-estar animal
samos em animais adultos, a avaliação do poten-
cial de socialização dos gatos facilita a destinação Boa parte dos problemas atuais em rela-
próxima, encaminhamento a programas de ado- ção à criação animal, entendendo aqui também,
ção; a médio prazo, a programas de ressocializa- a manutenção de animais em abrigos, prescinde
ção; ou a longo prazo, manutenção de animais de uma investigação comportamental para que
em abrigos monitorados e com manejo etológico se busque uma solução quando necessária (Fra-
e humanitário de maneira definitiva. ser, 2010).
Todo esse processo deve fazer parte tanto Sabidamente os erros de interpretação no
de programas de controle animal em diferentes comportamento natural dos animais pelos huma-
municípios e entidades de proteção e defesa dos nos é um ponto chave que pode comprometer o
animais, como de discussões para definição de bem-estar de animais como os gatos, condenan-
políticas públicas e capacitação/ habilitação de do-os ou aos maus tratos e/ou abandono (Fra-
pessoal responsável pelas atividades de manejo ser, 2010). Também pessoas que trabalham com
dos animais nos diferentes ambientes de aloja- esses animais, sejam médicos veterinários sejam
mento dos felinos domésticos. Esses cuidados funcionários públicos como oficiais de controle
ajudam a compreender as responsabilidades de
animal, (Vieira et al., 2009), sejam protetores ou
todos os envolvidos no manejo com animais no
cuidadores voluntários de animais, precisam es-
abrigo, nos responsáveis pelos cuidados veteri-
tar capacitados em conceitos do comportamento
nários, na destinação para famílias em diferentes
da espécie necessitando de treinamento, habili-
lares e situações, e prevenindo equívocos, seja
dade, e experiência prática para que o resulta-
na recepção e manejo, assim como na destinação
do do trabalho em si, que é garantir acesso aos
de animais, em especial quanto ao bem-estar de
recursos necessários ao animal e uma interação
cada gato envolvido.
comportamental/social adequada, seja com in-
Um fator relevante para adoção de gatos divíduos da mesma espécie ou de outras, entre
adultos é informar sobre os pontos importantes elas a humana, alcance seus objetivos (Fraser,

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Gatos, equívocos e desconhecimento na destinação em abrigos .197

2010; Garcia et al., 2008). envolvendo pessoas, outros animais e novos am-
bientes, promovendo potenciais vantagens para
O comportamento é um importante indi-
seu desenvolvimento (Overall et al., 2005; Bea-
cador do grau de bem-estar em qualquer espécie
ver, 2005; Genaro, 2005).
animal e hoje estão disponíveis conhecimentos
da etologia e psicologia que nos dão informação É denominado de “período sensível”,
sobre o sistema sensorial, controle motor, aspec- o estágio de desenvolvimento no qual um
tos neuroendocrinofisiológicos, estrutura social, animal tem um risco de desenvolver temores,
motivação, adaptação, entre outros que neces- ansiedade, se o animal não tiver oportunidade
sitam ser transformados em propostas aplicáveis através da experimentação, para aprender a
na promoção do bem-estar e qualidade de vida modular respostas com os estímulos ambientais
dos animais (Fraser, 2010). Portanto, utilizar me- que recebe (Overall et al., 2005; Beaver, 2005;
canismos de avaliação do comportamento ani- Genaro, 2005).
mal, considerando seu comportamento natural,
O período de socialização nos gatos pode
formas de comunicação de seu estado afetivo, e
ser classicamente dividido em primário e tardio
providências para ampliar a possibilidade de pro-
(Souza-Dantas, 2010). O período primário varia
mover o bem-estar dos animais que estiver com-
quanto a duração entre os diferentes autores,
prometido é algo sempre a ser buscado quando
os animais estão em locais destinados a sua res- do 9º dia a 9ª semana para outros, da 3ª a 8ª
trição de mobilidade e ao seu cuidado (Fraser, semana, e se caracteriza pela fase na qual os vín-
2010). culos sociais com a mesma e outras espécies, en-
tre elas a humana ocorre (Souza-Dantas, 2010).
De acordo com Broom & Fraser (2010), Portanto, ocorrendo precocemente na vida dos
uma das áreas do conhecimento geral do com- felinos se comparado a dos cães (Overall et al.,
portamento que auxilia na explicação de tais pro- 2005; Beaver, 2005; Genaro, 2005). Quando, o
blemas, seja para animais de produção ou os de contato e convívio ocorrem de forma positiva,
companhia, são as maneiras através das quais,
a interpretação e as relações sociais favoráveis
uma experiência precoce afeta o desenvolvimen-
se estabelecem. Este período pode ter duração
to do comportamento.
variável também de acordo com o ambiente, o
Socialização em gatos contato materno e fraternal, e ser mais ou menos
estressante ao indivíduo.
A socialização é um processo fundamen-
tal no desenvolvimento dos animais, que ocorre O medo de pessoas é inibido através da
nas fases precoces da vida, logo após o período exposição de forma orientada a diferentes indiví-
neonatal que permite ao animal mudanças de duos nesta fase, de forma controlada e progressi-
comportamento como resultado da exposição va. Quando o processo ocorre de forma positiva,

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198. Nunes & Soares

ou seja, a interação do filhote com humano ocor- tos do temperamento dos gatos domésticos. Por
re de forma satisfatória, resulta em um aumento exemplo, os descendentes de pais ousados ​​ten-
na vontade de se aproximar dos humanos e será dem a seguir o temperamento dos pais, assim
mantida, persistindo na idade adulta (Overall como aqueles no caso de pais tímidos. Os filho-
et al., 2005; Genaro, 2005). Quando nesse pe- tes de pais amigáveis ​​tendem em geral a serem
ríodo o ambiente e contato social é desafiador o mais rápidos para se aproximar, tocar e esfregar
comportamento de medo, fobia, agressividade e em pessoas (Overall et al., 2005).
timidez excessiva, podem se estabelecer, tornan-
Gatos com bom grau de socialização vão
do-se marcantes na vida do animal, se mantendo
buscar interagir com humanos mesmo desco-
na idade adulta (Souza-Dantas, 2010).
nhecidos se comportando com mais segurança
A socialização tardia não apresenta uma e confiança, e esses têm uma alta probabilidade
precisão temporal no desenvolvimento do ani- quando recolhidos em abrigos de manter esse
mal, estando em geral identificada na fase juve- comportamento sociável. Outros mesmo com
nil ou adolescente onde fatores como o ambien- boa socialização dependendo da história de vida
te, a gonadectomia e a raça podem influenciar que tiveram até ali, idade e o quanto foram de-
na ocorrência e definição e intensidade (Souza- safiados nessa interação durante o período an-
-Dantas, 2010). terior do recolhimento, poderão ter comporta-
mentos mais receosos, evitar contato direto, se
Os gatos obtêm os benefícios da socializa-
esconder e até atacar humanos desconhecidos
ção quando muito jovens (2 a 5 semanas de ida-
(Hoff, 2009; Genaro, 2005).
de), e a exposição a seres humanos podem aju-
dar a ensinar o animal como aprender com novos Kessler & Turner (1997), observaram
estímulos ao longo da vida. A menos que os ani- que cerca de um terço dos gatos admitidos em
mais tenham sido impedidos, estímulos típicos, gatis e avaliados imediatamente após o reco-
geralmente retém alguma plasticidade, ou seja, lhimento, mantiveram-se levemente tensos in-
mantém a capacidade de recuperação ao longo dicando algum grau de estresse por até duas
da vida, por ter experimentado alguma socializa- semanas nos abrigos onde foram recolhidos, em-
ção. Ao contrário se os gatos forem excluídos das bora, a diminuição do estresse inicial aconteceu
interações e manipulação por seres humanos de de forma importante após os primeiros três dias
2 a 9 semanas de idade, há risco de interagir mal de alojamento. Entretanto, nesse mesmo estudo
com os seres humanos por toda vida (Overall et
observaram ainda que 4% do total de animais re-
al., 2005; Genaro, 2005).
colhidos mantiveram-se mesmo após esse mes-
Variáveis ​​genéticas afetam alguns aspec- mo período em alto grau de tensão ou estresse.

Revista Brasileira de Zoociências 19(2): 185-203. 2018


Gatos, equívocos e desconhecimento na destinação em abrigos .199

Avaliação comportamental de gatos quanto municípios que empregam esses instrumentos


à socialização. de avaliação comportamental, em suas ativida-
des diárias, condenando milhões de cães a se-
O comportamento individual de gatos
rem mantidos em condições variáveis de manejo
pode ser alterado durante a vida devido às expe-
e manutenção, em geral com baixo grau de bem
riências vivenciadas pelo desenvolvimento intra-
estar e todas as consequências negativas relati-
-uterino, o convívio e interação materno, o perío-
vas ao alojamento permanente desses animais
do de socialização e as experiências vivenciadas
seja em serviços oficiais de controle animal, seja
ao longo da vida, (Souza-Dantas, 2010), que po-
em ONGs (Panachão, 2012). Diferentes testes
dem ser positivas ou negativas, impregnando na
são empregados em países da Europa e EUA para
memória dos animais, possibilidades de resposta,
avaliação do comportamento de cães e avaliação
ao experimentar novos contatos com a mesma
da agressividade desses animais há mais de 20
situação. Fatores desencadeadores de estresse,
anos, entretanto muitos destes testes, não tem
adoecimento, e outros promotores de bem-estar
validação e os resultados encontrados são tão
animal atendendo as necessidades dos animais,
imprecisos ou equivocadas que sua empregabi-
não apenas quanto aos recursos ambientais e de
lidade deveria ser revista. (Patronek & Bradley,
suporte a vida, mas também os necessários para
2016).
expressão comportamental, contato social com
outras espécies entre elas a humana, são alguns A oportunidade de interagir com os cães
dos pontos que compõem uma rede de possibili- de forma agradável e regular como com brinca-
dades para definição do comportamento do gato deiras, passeios, jogos, e treinamento podem
adulto que podem torná-los adotáveis ou não, ser na verdade instrumentos mais importantes
mesmo quando adultos. (Souza-Dantas, 2010). na avaliação do comportamento desses animais
aliado ao histórico disponível do animal, facili-
No levantamento feito sobre o tema ava-
tando uma destinação mais segura, pois podem
liação comportamental do grau de socialização
minimizar problemas de abandono e maus tra-
de gatos domésticos adultos, poucos artigos
tos aos animais e acidentes com os humanos, no
foram encontrados (Slater et al., 2013- a e b;
caso da adoção (Patronek & Bradley, 2016).
Gourkow & Fraser, 2006; Hoff, 2009; Siegford
et al., 2003). É pequena a quantidade de estudos nos
quais a avaliação comportamental dos gatos
Instrumentos de avaliação comportamental
auxilia na interpretação do comportamento,
Diferentes ferramentas de avaliação do socialização, temperamento, grau de estresse,
grau de socialização para cães encontram-se dis- e é empregada como um facilitador para o
ponibilizadas, sendo seu emprego muito difundi- encaminhamento de animais para programas
do em muitos países, mas no Brasil poucos são os de adoção (Slater et al., 2013- a e b; Gourkow,

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200. Nunes & Soares

2006; Hoff, 2009; Siegford et al., 2003). Testes gramas exitosos de adoção.
de avaliação de socialização, temperamento não
Através da triagem comportamental, clas-
são muito utilizados como forma de facilitar a
sificando o grau de socialização de gatos, se po-
análise do comportamento animal para desti-
derá por exemplo categorizar os indivíduos em
nação para programas de adoção por famílias,
grupos para a adoção, a ressocialização e outro
o que facilitaria a garantia de compatibilidade
para aqueles que necessitam ser mantidos em
entre ambos, gatos e humanos. (Siegford et al.,
ambientes restritos e controlados devido a seu
2003). Siegford et al., (2003) sugeriram um tes-
baixo grau de socialização. Desta forma a condu-
te com dosagem de cortisol salivar basal, testado
ção mais segura de animais a situações de me-
em gatos com mais de 8 meses, ou seja, a partir
lhoria ou aumento de seu grau de bem-estar po-
da classificação de adultos jovens, sendo neste
derá ser facilitada.
estudo as avaliações feitas em ambientes familia-
res aos gatos, onde foram comparados os níveis Referências
do cortisol basal com o comportamento expres-
Alho, A. M. P. V. 2012. O enriquecimento am-
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