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REVISTA PORTUGUESA DE PEDAGOGIA wma fa rama fe mcaiets eeeaieras ma useeacts REVISTA PORTUGUESA PEDAGOGIA inte REF. PORT, DE PEDAGOGIA, Ano XXIV, 1990, 39-5 A INVESTIGACAO-ACGAO: NATUREZA E VALIDADE (*) INTRODUCAG Embora certos autores tenham adoptado taxinomias algo diferentes (Walker ¢ Eveper TSB pp. 28-29), poder-se-4 afirmar, com Husén (1988, , que *o}século xx foi testemunha do hdradigmas pFincipais, utilizados na inves- empiricas ¢ quantificaveis, que se prestam a aniilises conduzidas por instrumentos mate- méticos. Nesta perspectiva, a tarefa da investigagSo consistiria em estabelecer relagtes causais, em explicar (ErkMiren). O outro paradigma, derivado das humanidades, coloca o acento na infor- mario holistica € qualitativa ¢ nas abordagens interpretativas (Verstechen)». Em termos mais simples, dir-se-ia que a drea da investigagio educacional tem sido dominada pelo confronta do paradigma dito quantitative © do paradigma conhecido por qualitative. Na citago acabada de referir, apontava Husén algumas caracteristicas contrastantes dos mesmos. Se bem que, nem aqui, exista completa unanimidade de pontos de vista, convitia sublinhar que 4 oposigiio entre eles ¢ mais do que uma questo metodolégica— da rel ia do quantitative ou numérico versus qualitative ou verbal, No fundo, o que estd em causa sio duas filosofias e epistemologias diferentes: uma, que poderia designar-se por «légico-positivistan, a qual considera que existe (©) Comunicagta apreventada, no 1 Colloque National sobre investi- gneko-acrdo, realizado, em Lisbon, de 9-10 de Fevereiro de 1990, Joaquim Ferreira Gomes RESUMO No coatexto da reforma universitiria de 1911, a lesistarto criow Labo- Mdtios de Psicologia us Faculdades de Letras das Universidades de Coimbra de Lisboa, Em ordem a preparar a instalagSa do Laberatério de Psicologia Expe- rimental, a Facuklade de Letras de Coimbra encarregou 0 professor de Filo- sofia, Auguste Joaquim Alves des Santos, de, no primeira trimestre do ano lective de 1912-1913, realizar uma miso de estudo na Universidade de Genebra © na Universidade de Paris. Iniclade nas técnicas laboratoriais sobretwdo em Genebra ¢ tendo adqu- ride os aparethos indispensiveis sobretudo em Paris, Alves dos Santos mis © Laboratério a funcionar em Fevereiro de 1913. RESUME Dans te contente de la riforme universitaire portupaise du 1911, la Kegiddation a crdé des Laboratoires de Psychologie dana les Facultés des Lettres des Universités de Colmbra et de Lisbonne. En ordre 4 préparer installation du Laboratatre de Psychologie Expé- rimentale, Ia Faculté des Lettres de Coimbra a chargé je professeur de Philo- sophie, Augusta Joaquim Alves das Santos, de réaliser, pendant le premier trimestre de l'année scolaire de 1912-1913, une mission d’étude & F Université de Genive et i Université de Paris, ‘Apres avoir été initié aux techniques laboratoirielles surtout 4 Genive et apres avolr acquis, surtout a Paris, les appareils indispensables, Alves dos Santos a mis te Laboratoire & fonctionner en Février 1913, SUMMARY In the context of the portuguese University reform of 1911, there were created Laboratories of Prychology at the Faculties of Liberal Arts of the Universities of Coimbra and Lisbon, In onder to prepare the installation of the Laboratory of Experimental Psychology, the Faculty of Liberal Arts of Coimbra charged the profesior of Philosophy, Augusto Joaquim Alves dos Santos, of a mission of study, during the fest trimester of the school year of 1912-1913, at the Universities ofGencve and Paris, where he was initiated in the baste laberaterial technics. ‘Acquired the necessary instruments at Paris, Alves dos Santos put the Labo- ratory working in February of 1913 (*), () © presente artigo deu entrada na Redacylo da Revisra Pormpuasa de Pecaroria no dia 22 de Dexembeo de 1989 40 Anténio Simées uma nica realidade social objectiva Gindependente dos senti- mentos ¢ das crengas dos individuos), realidade essa abordavel empiricamente, como todo o fenémeno natural; a outra, a que poderia chamar-se «naturalistico-fenomenolégica», a qual pos- tula a existéncia de muilfiplas realidades soctais, construidas pelos individuos e abordaveis pela via da vivé: da convivéncia ¢ da empatia, como todo o fenémeno social (McMillan ¢ Schu- macher, 1989, p. 14). Nao foi pacifiea, longe disso, a coexisténcia dos dois para- digmas. A literatura da especialidade (por exemplo, Bogdan ¢ Biklen, 1982, cap. I) documenta a histéria desse confronto, que teria passado, no dizer de alguém (Rist, citado por Bogdan ¢ Biklen, 1982, p. 21), de uma fase inicial de «desdém» a uma fase actual de «détente». Efectivamente, embora haja ainda quem insista nas dicotomias entre dados «fortes» versus «fracos», entre ajornalismo» versus «investigagiion, entre acientificar versus aintuitives. a tendéncia. hale, vai.no sentido de as ultra- nassar ¢ de considerar os doif mouelos! numa perspectiva de complementariedade. Tal é também a atitude por nés assumida. Particularmente, no que concerne a0 objecto desta exposigiie, ou seja, & inves- tigagdo-acgaio, 1. Natureza da investigacdo-aceéo Devendo a sua paternidade a Kurt Lewin (1890-1947), que cunhou também a expressiio, cerca de 1944, a L-A. tem uma histéria andloga 4 da generalidade dos restantes métodos quali- tativos. Mais, de repelids ¢ ignorada, passou a ser objecto de interesse ¢ a constituir uma moda (Hess, 1983, p. 15). Surpreendentemente, ao grau de interesse de que é objecto, nao corresponde idéntico grau de clareza do conceito. Quer dizer que a designagao lewiniana de «action-research» (traduzida pelos. franceses por urecherche-actiony, «recherche activen ¢, as vezes, «recherche opérationnelle») é uma expressiio polis- sémica. A investigasdo-acgdo 4 Na tentativa de elucidar o conceito, um autor (Dubost, 1983, p. 20) enumera quatro acepges do mesmo: —uma estratégia de investigagio, no campo cientifico; —uma estratégia de acgle, desencadeada, quer por ins- Uincias do poder, quer por grupos dominados; uma: estratégia de existéncia, uma conduta global expres- siva; — uma estratégia de andlise social, com objectives de elu- cidacao. No primeiro caso, tratar-se-ia de investigar um problema, fazendo da acglo o instrumenta de pesquisa. Seria a isto, segundo o autor citado, que deveria reservar-se a designagio de L-A. No. segundo caso, estaria em questo um estudo-accio, um estudo destinado a fazer emergir «necessidadess ow objectivos de aceo, uma espécie de cconscientizaciion. No terceiro caso, tratar-se-ia mais de wexperiéncia de vida», de pdr em acto um projecto ou uma utopia, em que a acco deixaria de ter cardcter instrumental, para ter carieter expressivo. Na iiltima acepgio, estaria em causa a andlise Neste caso, a accio situar-se-ia a nivel meramente cognitivo, ou de andlise de situagdes e acontecimentos, para thes descobrir o signi- ficado. Como se vé, algumas destas nocBes parecem esvaziar de contetido, pelo menos um dos termos da diade da investigagiio- -acgio. E o que se verifica, por exemplo, na iiltima accepeao referida. ‘A este propésito, parcce-nos pertinente a observagiio de Ardoino (1983, p. 24), segundo a qual ha que distinguir entre questionamento e investigagdo, por um lado, ja que o primeiro podera ser, quando muito, uma ocasific da segunda e, por outro lado, entre pesquisa cientifica ¢ solicitacdo praxeolégica, ja que esta nfo basta para dar a um trabaino o caracter cientifico. Na sequéncia do autor, que vinhamos citando, parece-nos que se evitariam muitas confus6es, se a-acgie fosse entendida em sentido instrumental — uma intervengio sobre a situagdo real —e se a investigagdo fasse encarada como a busca de uma a2 Anténio Simies resposta a uni problema, através de dados empiricos, recolhides de Tormia sistematica ¢ controlada, portanto, com carcter puiblico © objectivo.. Tal perspectiva implicaria, porventura, negar o cardcter cientifico a algumas daquelas actividades, sem que isso necessariamente significasse negar a sua utilidade.. Proprio da I-A. seria a relagio dialéctica entre os dois termos assim entendidos: entre o «homem-actorm ¢ o ahomem-inves- tigador (Pourtois, 1981-1983, p. 557). Do género da praxis, a L-A. uniria indissninvelmente 0 eonhecimento ¢ a oratica: um conhecimento, que sé age e uma pritica que sé conhece; um conhecimento-para-a-acgo e uma accdo-para-o-conhecimento (Esteves, in Silva e Pinto, 1986) Deste modo, a I-A. aparece como «um_oscindalo eniste molégico» (Ardoino, 1983, p, 22), constituindo, por isso mesmo, um forte at Dara muitos. Isto, na medida em que em causa a tradicional istingiio ‘entre investigadores ¢ a erreno «novas aliangas», ela representaria o fim das miltiplas roturas, que dilaceraram a investigagao clissica: entre 9 trabalho tedrico ¢ o trabalho pritico; entre a universidade ¢ ‘os meios exteriores; entre o discurso sobre a realidade ¢ o recurso 4 evoluglo desta realidade; entre as ciéncias da natureza e as ciéneias do homem (Bolle de Bal. 1983. . S80). Em suma, a L-A. poderia definit-se como a «produgao-te- eonhecimentos ligada 4 modificagio de uma realidade social dada,~om a participagio activa dos interessadoss (Ledoux, ._ 623) Note-se, em primeiro lugar, © cardcter colaborative da, mesma; priticos © mvestigadores trabalham, em conjunto, na cOncretieagée de um projecto, Sublinhe-se, em particular, a implicagao do investigador. E para nos fazermos compreender melhor, citaremos uma voz autorizada; «Quando os especialistas, utilizando @ abordagem qualitativa — escrevem Bogdan ¢ Biklen (1982, p. 216) —se interessam per um problema social, podem estudi-lo ¢ escrever sobre ele um livro, expressando o ponto de vista de algum grupo desfavorecido ..., mas ndo s¢ trata de L-A., embora seja investigagdo valiosa, jf que no est ligada & accaio com vista & mudanca». A investigagio-acgdo 43 Além disso, « LA_é sitactonal "visa o diagnéstico ¢ a solugdio de um problema encontrado. num contexta eocial especifico. £ participativa, no sentido de que os proprios pratics sao exe- sutores da pesquisa. E auto-avaliative, na medida em que as modificagdes vio sendo CONTHUMGhte avaliadas, com vista a produzir novos conhecimentos e a alterar a pritica (Cohen ¢ Manion, 1980, ter notado — & um provesso ciclico, que comporta eguintes: © plancamentO = aogtOy Gt observaciio ¢ a Ou, se se quiser, o planeamento, a acgio, a avaliagao, & qual se segue, de novo, o planeamento, etc. — © resultado deverd ser um triplo objectiva: produzir canheci- mento, modificar a realidade e transformar os actores. 2. Valldade da I-A. ‘Abstendo-nos de fazer comentirios a filosofia (ou, pelo menos, a uma filosofia) do conhecimento, subjacente & L-A., ‘ou seja, o pragmatismo (Susman, 1983; Morgan, 1983, p. 244 to critieivel, alits, como o préprio positivismo, comegdremos por chamar a ateng%io para a complexidade dear proiecto-de investigaciio deste ofmern Acabimos, com efeito, de referir que el&4 propde, ao mesmo tempo trés objectives: conhecer, agir e formar. Ora, se qualquer deles, isoladamente, acarreta problemas"de extrema gravidade, considerados, em conjunto, multiplicam, enormemente, as difi- culdades. Assim, e a titulo de exemplo; Nao € pelo facto de participarem ma pesquisa investi- gadores © priticos que s¢ simplifica milagrosamente a escolha do problema a estudar. Pelo contririo, as coisas complicam-se, quando se trata de chegar a um consenso, que envolva intereties contraditérios das partes implicadas. Enquge t Fyalor & precisfio, a0 conitoio, j izagdo ds y g aneira de fazer as coisas (Cohen ¢ on “980, p. 183), Depois, nia é pelo facto de se utilizar uma estratégia situa cional ¢ pari iva que se resolvem os problemas metodoldgicos, aad Aniénio Simées que se colocam a qual ipo de inveStigacdo, seja cla de tipo quantitative ou Baan © problema da ificidade ¢, mais particularifiente, os problemas da objectividade, da fideli. ‘dade ¢ da validade das conclusdes. A este propésito, escreveu Ardoin (1983, p. 25) que «hi uma certa demagogia — sobre- tudo, quando a LA. s¢ quer militante—em pretender, assim, colocar a ciéneia ao alcance de todos. Esta exigéncia — da qual todas somos portadores —de difundir, de. ‘vulgarizar’, no bom sentido do termo, o saber supde condigdes miltiplas, uma aprendizagem assaz longa, que nfo reiine forcosament AT-Asn. Particularmente, 0 problema coloca-se a respeito do j Ihe € prejudicial manter-se distante, como ¢ cepgarado mo a exige a L-A.? Mais ainda, géfmo vai ele \eedlo, de modo. agir sobre as do problema © 4 encontrar Chyatégias que permitam rei las (Grell, 1938, p. 607)? Sabemos bem que VertesKEinmis, 1988, p. 47) parecem apontar, quase a titulo de ideal, aquilo a que chamam @ 1.-A, enaneipatéria, em que toda a resnonsabilidade nelo proceso (aogdg_¢ reflexiio) é atribuida aos praticos, COMTEXCNAT AE woutsi- dere, Dirseta que ;itio, plenamente, adele nigdle de L-A. como sendo a pesquisa, por parte dos priticos, da sua propria prdtica (Kemmis, 1988, p. 42), dores ¢ dos actores, todos eles ‘impli cados’ numa IA., se ‘metamorfoseiam', a ponto de niio mais se distinguirem uns dos outros. Hé, por certo, uma profunda transformagdo destes papéis (em particular, uma maior impli- cago da investigador, relativamente ao -objecto da pesquisa e um outro ‘olhar’ — porque distanciado ¢ enriquecide com noves elementos de conheeimentos —do actor que cria, mas também analisa a situagdo). Mas nao deixa de ser verdade que os dife- fentes protagonists niio tém todos 0. mesme nivel, 0 mesmo estatutow, A divestigagdo-acgao 45 Além disso, seria de ter em conta as observagdes de Pourtois (1983, p. 557): «Por um lado, os actores apressam-se a empe- nhar-se na acglo e pouco ou nada s¢ preocupam com a sua avaliagiio. Se o programa ‘corre bem’, a avaliagio parecerd indtil; se a acgdo deixa transparecer deficiéncias, a avaliagdo representa uma ameaca para o futuro do projecto. Por outro lado, os actores visam a transformagiio da realidade exterior pela sua prépria vontade ¢ privilegiam os efeitos esperados, negli- genciando os efeitos niio esperados». Pela sua relevincia, petmitir-nos-iamos insistir na proble- muitica metodoldgica, que a I-A. tem em comum, com a inves- tigagiio quantitativa e qualitativa. Num ¢ noutro caso, esti em jogo a caracteristica da_cxegl bilidade, baseada na utilizagio adequada de critérios de con- “TOTS das varidveis e de generalizagio dos resaltadas. Na nossa Peeper ager \Dizefios isto, porque alguns entusrastas SORE ellinive (nao todos, perém, nem, certamente, a maioria) tém tendéncia a ignori-lo, considerando-o irrelevante, Ao contririo, Cook ¢ Campbell (1979) langam aos que assim procedem o repio de provarem a superioridade dos seus métodos, eliminando com eles um maior miimero de ameagas a validade da investigagio (p. 93). Este assunto foi estudado, nomeadamente, por Wilson (1977) € por LeCompte e Goetz (1982). Nao eabe, nos limites deste artigo, uma anilise destes tra- balhos, sobretudo do iiltimo, Ele & um estudo exaustivo ¢ autorizado desta problemética, apontande, a um tempo, as deficiéneias das metodologias qualitativas, no que A fidelidade © validade se refere, ¢ as maneiras de Ihes trazer remédio, Para estabelecer a validade interna das suas conclusdes (isto ¢, o rigor ou legitimidade das mesmas), 0 investigador-actor teria de fazer face a uma quantidade de ameagas, que constituem oltras tantas varidveis parasitas: a histdria ¢ a maturacdo, os 46 Anténio Simées efeitos do observador, a selecclio © a regressiio, a mortalidade experimental ¢ a espuriedade nas conclusdes. Limitar-nos-emos, aqui, a breves alusdes relativas apenas & varidvel efeitos do observador. Na I-A. em maior ou menor erau. o investigador é um observador partitipante, alguém que—no dizer de Pirson “(1983, p. 349) —ocupa wma posigdio exterior ao grupo-sujeito, a fim de se dar as possibilidades duma leitura critica ¢ distanciada do que esti a acontecer, enquanto o seu papel de actor induz uma posiciio de interioridade face a0 grupo em trabalho de elucidagion. Ora, sfio conhecidas as desvantagens (¢ as vantagens também) do observador particinante (Borg © Gall, 1983, p, 490 ¢ ss.; Taft, 1988, p. 60). Num sentido, em razio do seu papel de ybservador, o investigador é sempre um «outsider, podendo, modificar © comportamento do grupo. Acresce: que, na medida em que mais participa, mais provdvel é que emo- cionalmente se implique, com consequente prejuizo da neces- saria objectividade. Por ultimo, ele nfo poderd nunca fazer tibua rasa dos seus interesses préprios de investigador, dos seus quadros de referéncia tedricos, das suas aliliagdes disciplinares —e isso reflectir-se-d ma maneira de categorizar a informagto na forma de interpretar os dados. Encontramos, aqui, por conseguinte, problemas anilogos aos que Cook © Campbell designam com as rubricas da instrumentagio ¢ do «testing». ‘Assim, se a dialéctica da interioridade-exterioridade & essen- al, na L.-A., visto que «renunciar a interioridade equivaleria a pér em causa as condigdes da sua acreditagdo pelo grupo, ao Passo que renunciar & exterioridade obrigaria o investigador a privar-se do limiar critico de distancia ideolégica» (Pirson, 1983, p. 349) —temos de convir que ela acarreta para o investigador nilo poucos problemas. Para finalizar este rol de dificuldades, faremos ainda uma curta referéncia & validade externa da L-A., ov seja, & possibi- lidade de generalizar os resultados. Se a E-A. visa construir conhecimenjos, nio pode legiti- mamente desinteressar-se com a sua generalizagio, como quer que ela se entenda A investlgapdo-acgiio 4 Pode, efectivamente, aludir-se 4 generalizagio em sentido quantitativo, ou seja, a partir de amostras estatisticamente repre- sentativas, Tratar-se-ia, neste caso, de cstender os resultados & ou a outras populagdes de sujeitos, situagdes ou medigdes.! Assim entendida, acarretaria problemas de amostragem comuny! ® bem coahecidos da investigacdo quantitativa, Mas, provavelmente, na maior parte dos casos, a L-A. assumird a forma de estuda de caso. E, entdo, sera por meio ‘aa-Tepuicagao (que, muitas vezes, se naa faz) que poderd che- garse a generalizagOes. Tratando-se de instituigdes ou populagdes especiais, pode ser mais apropriade conceptwalizar a generalizagdo em termos de comparabilidade ¢ de transferibilidade dos resultados: até que ponte é que um fendmeno dado é comparivel e contras- tante, no que respeita a um certo ndmero de dimensbes, com outros fendmenos. Sé na medida em que se conseguir esta- belecer a sua tipificidade, ou seja, descrevé-lo ¢m termos de carsc- teristicas tinieas, se poderi avangar neste sentido. Quer isto dizer queum e¢studo particular ter de cuidadosamente carac- terizar as varidveis varticioantes, lugares, quadros tedricos, “esratemas de investizagiio. Mas, mais uma vez, nfo se trata, aqui, de tarefa facil, pois, teri de arrostar com problemas relativos aos efgitos de selecgiio (escolha inadequada de constructos, por serem especincos de um grupo), de contexto (possibilidade de tais constructos serem fungao do contexto-em-observacio ¢ nio, simplesmente, do con- ‘texto, serem de algum modo, reactivos, isto é, fruto da reacgio a0 investigador}, de histéria (os construetos referem-se a expe- rigneias tmicas aos grupos e culturas) ¢ de constructos (os constructos sio demasiado idiossineriticos, peculiares a certos grupos). CONCLUSAO As consideracdes, até aqui produzidas, no slo de molde a aconselhar entusiasmos Fictis, como s¢ a L-A. fosse esse novo paradigma de investigagio (Delruelte-Vosswinkel, 1983, 48 Anténio Simbes pp. 513 €-ss.), capaz de ultrapassar as deficiéncias dos anteriores paradigmas. Em particular, a L-A. nao significa um atestado de caduci- dade & investigaglio fundamental, como se fosse epistemologica- mente viciado todo o conhecimento, sem fungdo abrigatéria & prética. Muito menos, uma definitiva ultrapassagem das meto- dologias quantitativas, epistemologicamente marcadas pela expli- cago, por oposigio A implicagdo, A L-A. é, quando muito, no dizer de Ardoino (1983, p. 23), uma «‘alternativa metodolégica’. no campo das ciéncias do homem e da saciedaden A quem dela esperasse resultados espectacufares também nao serviria de estimulo a observagdo do mesmo Ardoino (1983, p. 23}: «Devemos reconhecer—escreve— que, em perto de meio século de investigacdo-acgdo, a qual conheceu, evidente- mente, um surto notavel, a ponto de se tornar, em determinados meios, uma espécie de panaceia—devemos reconhecer que, proporcionalmente aos investimentos que suscitou, produziu bem eseassos contributos, no campo das ciéneias sociais». Nao quereriames, no entanto, coneluir. sem temperar com uma nota de apreeciagZo “mais positiva, o que pode parecer uma visio demasiado pessimista da L-A.. Evidentemente que ela apresenta problemas, ao nivel da validade interna e da validade externa, Mas é também certo que hi maneiras, mais OW menos effcazes. de mes nazer race. Nao hi, aliis, métodos perfeitos, sejam eles quantitativos ou qualitatives. O controle absoluto das varidveis nao passa de um ideal inatingivel: cada método, em certos aspectos, € mais ou menos eficaz do que outros. E ¢ em relaglo a um problema particular que um deles pode ser melhor do que outro, Interpretamos, no sentido da relatividade metodoldgica, as palavras de Bachelard (1984, pp. 129-130): «Se se trata de exa- minar homens, iguais, irméos, a simpatia ¢ a base do método. Mas, perante o mundo inerte que mo vive a nossa vida, que no sofre de nenhum dos nossos males ¢ que nenhuma das nossas alegrins pode exaltar, devemos cessar todas as expansdes, deve- mos controlar a nossa pessoa», por isso que encaramos a I-A como um método, entre varios, com as suas forgas © fraquezas, capaz de prestar A investigardo-acgda 49 alguns servigos, quando se trata de lidar com determinados problemas. Neste, como noutros casos, rejeitames as dicotomias meto- dolégicas que, no dizer de LeCompte _¢ Gaetet1952p-S}- silo «desnecessarias, incorrectase“Em iltima andlfye, contra producentes». Antonio SiMGes Professor da Faculdade de Psicolon ia ¢ de Ciémetas dia Educagio da Universidade de Coimbra, BTBTOGRATTA’ Arpowno, J., Conditions et fi 22-26, Bacuetann, G., A epistemolagia, Lisboa, Edicdes 70, 1984, BOGDAN, € BIKLEN, 5. K., Qualizative research for education: An introstuction 10 theory and methods, Boston, Allyn and Bacon, 1982. 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A. investigagto-acgito si RESUME ‘Dans te domaine de l'éducation, aussi bien qu'ailleurs, la recherche caotion a été une stratégie qui a éveillé wn Intérét grandissant.—” Cependant, il s'agit d’un terme décevant et d'une méhodologi¢ posant plusieurs problemes concernant la validité interne et externe, Dans cet article, on cssaic, d'abord, de clarifier la notion et, de suite, de critiquer la validité de Ia méthode, SUMMARY Ia the area of education and elsewhere the action-research has been fa strategy that has risen inereasing interest. ‘Nevertheless, we are dealing with an elusive term and with a methodology: raising several questions related to internal and external validity. is this paper a clarification of the term is first trled, and then a validity appraisal of this methodology is put forward (*). ©} © preseate artigo deu entrada na Redacrio da Revista Pornaguesa de Pedagogia; 0 dia 1 de Margo de 1990,

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