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APRECIAÇÃO CRÍTICA

TÍTULO – sugestivo / apelativo

INTRODUÇÃO – descrição sucinta e contextualizada do objeto (livro, filme, exposição, canção,


jogo, obra de arte…)

DESENVOLVIMENTO – apresentação e valoração de aspetos relevantes - positivos e/ou


negativos - (apreciação crítica – por que é que é bom/menos bom/mau)

1.º aspeto selecionado + comentário crítico


2.º aspeto selecionado + comentário crítico
3.º aspeto selecionado + comentário crítico
CONCLUSÃO – Apreciação global / reforço da(s) ideia(s) mais importantes /comentário final

LINGUAGEM

 Na apresentação do objeto e descrição das características (pontos fortes e/ou pontos


fracos – utilização frequente de verbos copulativos (ser, estar, ficar, continuar, tornar-se…) e
abundância de adjetivos (agradável, extraordinário, magnífico, belo, interessante, eficaz,
surpreendente, significativo, acessível, inesperado, positivo, negativo, sofrível, insignificante,
desapontante…)
 Utilização de linguagem apreciativa/depreciativa, de forma a destacar os aspetos alvo da
crítica, através de comentários como:
No conjunto do filme/do livro/do álbum/da exposição/…, gostei de…, apreciei
vivamente…, achei interessante…, todavia não apreciei… ,
Adoro… detesto… constato com satisfação… não faz parte das minhas
preferências… É significativo que… Vale a pena…, não vale, de todo, a pena
É uma perda de tempo…, a não perder! É o filme/o livro/a música/… da minha
vida!... que marca uma geração!

NOTA: Uso preferencial da 3.ª pessoa (mas também pode incluir a 1.ª), do Presente e de frases
declarativas. Conetores. Discurso claro e coerente. Os aspetos a referir e a apreciar devem ser
num número exequível, considerando o limite de palavras definido previamente.
Para redigir um texto de apreciação crítica é necessário perceber claramente que a
apresentação do objeto em análise (filme, livro, peça de teatro ou outra obra de arte) é tão
importante como o comentário crítico que convencerá o nosso leitor. Isto porque, neste tipo de
texto, a forma de descrever o objeto «contamina» já a visão que o leitor terá desse mesmo objeto.
Leio com atenção os artigos que se seguem e reparo na sua estrutura e na linguagem que
os autores utilizaram para persuadir o leitor de que a perspetiva apresentada é a mais válida.

Apreciação crítica de música – (exemplo em ± 120 palavras)


Apreciação crítica de filme – (exemplo em 770 palavras)

Título sugestivo que causa


perplexidade ou choque

44 minutos de anticlímax Frase de abertura: apresentada


como uma verdade de valor
Nem sempre um filme acerca de acontecimentos épicos se torna num épico.
universal
Ainda que tenha à proa estrelas como Orlando Bloom, Jeremy Irons, Liam
Neeson e Edward Norton e, ao leme, o mestre Ridley Scott, Reino dos Tipo de objeto; título, data,
Introdução

Céus (coprodução inglesa, alemã e espanhola de 2005) apresenta-se como autor/realizador, atores
uma débil tentativa de fundir reconstituição histórica, ação e drama. Drama
que, curiosamente, está mais presente nas cenas de batalhas do que nas Apresentação da tese
faces dos atores.

A história transporta-nos ao século XII, período de Cruzadas e conflitos Descrição do objeto:


religiosos entre cristãos, muçulmanos e judeus. Orlando Bloom é Balian, um enredo global
humilde ferreiro francês que descobre que é filho de Godfrey de Ibelin
Tempo
(Liam Neeson), um aristocrata completamente dedicado a conservar a paz
na Terra Santa. Após conhecer o pai, Balian fica órfão, herdando a posição
Desenvolvimento

Tema
e a função que este ocupava na Terra Santa. Já em Jerusalém (durante um
período de tréguas entre a I e a II Cruzada), conhece Balduíno IV, o rei dos Espaço
territórios cristãos (um talentoso Edward Norton escondido atrás de uma
Personagens e identificação
máscara, que merecia mais tempo em cena e melhores diálogos), além de
de alguns atores principais
Tiberias (conselheiro real), o prepotente Guy de Lusignan e a sua formosa
esposa, Sybilla. Linguagem valorativa

A corte cristã da cidade vive em alguma desordem, com lutas de poder,


acabando essa confusão por gerar animosidades com os governantes
Continuação da descrição
muçulmanos que cercam o território. Balian consegue defender Jerusalém
do enredo
de ataques e de um cerco aterrorizante, negociando a entrega pacífica da
cidade ao rei muçulmano, Saladino. No final, Balian retorna a França, não
sem antes garantir um salvo-conduto para os habitantes cristãos de
Jerusalém. A cidade fica sob controlo muçulmano, e o herói parte para a
Europa na companhia da sua amada Sybilla.

A verdade histórica nem sempre é respeitada pelo argumento. Poderíamos 1.º aspeto criticado
pensar que o filme não pretende ser um documentário, que a liberdade
Frase declarativa
criativa é central para qualquer obra de arte, que o que aconteceu na
(verbo «ser»)
realidade em Jerusalém não agradaria ao público americano, habituado a
blockbusters que não exijam reflexão. Teria sido mais interessante aliar todo o Sugestão de mudança
esforço artístico a uma pesquisa histórica honesta e à elaboração de um
Frase declarativa (verbo
discurso coerente com a época e com o que de facto acontece às
«ser» no modo condicional)
personagens, fazendo do filme não só uma obra de arte mas também um
instrumento educativo. Acaba por não ser nem uma coisa, nem outra! Frase exclamativa,
demonstrando desagrado
Um outro problema é o paupérrimo guião. Os diálogos são vulgares,
com 2.º
a escolha
aspetodo realizador
criticado
simplistas, longe da eloquência exigida pela épica. Há alturas em que as
palavras são tão superficiais que geram um constante desalento no Frase declarativa (verbo
«ser»)

Adjetivação depreciativa
espectador. Verifique-se o diálogo entre Godfrey e o ferreiro: um nobre
confessa ser pai de um bastardo sem que a complexidade dessa revelação se
note numa reflexão mais intensa. Outro exemplo de falta de eloquência é o
discurso que Balian profere como incentivo à população de Jerusalém Exemplos
aquando do cerco ou, ainda, a cerimónia improvisada de ordenação de
cavaleiros.

Não é, no entanto, só o guião que está cheio de banalidades. Também as


Tentativa de interpretação
interpretações se pautam pela mediania. Orlando Bloom tinha obrigação de
das escolhas do realizador
encarnar o seu primeiro papel como protagonista com mais brio: até mesmo
e dos atores
os seus grandes planos são inexpressivos, mostrando que o ator foi incapaz
de se colocar na pele de um ferreiro, tornado nobre, tornado cavaleiro,
tornado comandante e defensor, não de um qualquer vilarejo mas, pasme-
se, da própria Cidade Santa! E não há cenas de autoquestionamento, não há
um olhar de Bloom que expresse dúvida, medo, complexidade interior! Bem
podemos aguardar por esse grande momento dramático: ele não existe! Esta
ascensão meteórica quer mais apelar ao ideal do sonho americano do que à
verosimilhança com o século XII.

Uma outra interpretação que marca pela frivolidade é Eva Green: quer 2.º exemplo concreto que
esteja a galope, na corte, a seduzir Balian ou a acompanhar o momento da prova a tese apresentada
morte de seu irmão Balduíno, o olhar é o mesmo, sem uma ruga de
sofrimento na face! Veja-se a cena do velório de Balduíno, em que a Frases exclamativas
personagem retira a máscara ao rei leproso e se confronta com a Interrogação retórica
deformidade a que a doença o confinou. Arrepios? Lágrimas? Nojo? Não! Metáfora:
Nada! Um verdadeiro anticlímax! Um momento à opacidade! Estes atores realçam o aspeto censurado
serão feitos de mármore?
1 aspeto positivo
Bem podemos tentar salvar o filme por causa da grandiosidade das batalhas
e da cenografia, primorosamente cuidadas pelos meios sofisticados de Indicação de filmes do
Holywood. Mas estas são cenas a que o espectador já se habituou: de género que se destacam pela
Gladiador a O Senhor dos Anéis, cidades cercadas, torres de ataque
Conclusão

positiva
contribuem para a espetacularidade mas não evitam que nos confrontemos
com o que falta: personagens e factos históricos verosímeis, um guião
Frase final: enumeração dos
realmente dramático e atores que se apaixonem pelas personagens que estão
3 aspetos negativos
a encarnar.
Apreciação crítica de jogo – (exemplo em ± 1300 palavras)

Os deslizes de Need for Speed Heat


Produtora: Ghost Games
Plataformas: PC, PlayStation 4, Xbox One Elementos paratextuais


Pedro Martins
Público, 18 de Novembro de 2019, 12:37
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A Ghost Games traz um jogo onde a adrenalina domina e o prazer nas curvas é inegável. Mas é também um
jogo com problemas na inteligência artificial e com um arco narrativo fraco.

Sabemos de antemão que a jogabilidade da série Need for Speed pertence aos domínios arcada, oferecendo
momentos avulsos de encher o olho e de deixar a guelra cheia de sangue. Com Need for Speed Heat, a Ghost
Games assina uma obra de provas de competição automóvel com mecânicas pensadas para fazer o jogador
sentir-se o melhor piloto de Palm City – de dia ou de noite.

Palm City é a cidade fictícia que serve como pano de fundo às corridas e à trama de Heat. Ainda que não seja
a componente primordial de um jogo de corridas, neste caso a história é descartável, entrando e saindo de
cena sem deixar nomes ou momentos marcantes. Colocando em choque directo a força policial e os
participantes em corridas ilegais, graças a clichés e a diálogos enlatados vamos ficando a saber que a polícia
não obedece necessariamente à legalidade para combater as corridas que rasgam as ruas inspiradas na
Flórida.

É um mapa que se abre à frente dos nossos olhos. Conduzimos pela cidade, acedemos a marcadores com
provas secundárias (de sprint, em voltas a circuitos, drift, fora da estrada, etc). Também devidamente
assinalados no mapa de Palm City estão ícones com as personagens disponíveis no momento, o que – caso
tenhamos os requisitos necessários – permite competir em provas que fazem avançar a história. Participar
nas diversas corridas, como seria de esperar, entrega à personagem dinheiro e reputação.

Os requisitos estão associados à existência de um nível mínimo para poderem competir, uma vez que a
reputação acumulada faz a personagem ir subindo de nível. Além disso, o dinheiro pode ser investido na
compra de novos veículos ou de peças. O leque de parâmetros a melhorar é extenso e bem recheado, com
várias atualizações ao motor, transmissão, chassis – cada secção dividida em várias subcategorias – e até
incluindo melhorias auxiliares (kits de reparação, interferências com os radares da polícia, nitro mais longo,
entre outras).

Uma das principais novidades apresentadas por Heat é a possibilidade de o jogador escolher se quer competir
durante o período noturno ou diurno, algo que está associado ao progresso que é feito. Durante o dia, as
provas espalhadas pelo mapa servem sobretudo para engordar a conta bancária. Troquem para as noites de
Palm City e as corridas atribuem sobretudo reputação. Nestes casos, as competições são muitas vezes
acompanhadas por perseguições policiais, que se podem prolongar após a bandeira axadrezada ter sido
mostrada.

É o jogador que terá de saber quando é altura de arriscar um pouco mais ou de dar a noite como terminada.
Quantas mais corridas fizerem, mais atraem a atenção da polícia, ou seja, maior é o heat. E na prática, o heat é
um multiplicador da reputação que já tiverem amealhado. Contudo, maior será também a probabilidade de
serem apanhados, uma vez que polícia vai aumentando a presença nas ruas, podendo ainda chamar
helicópteros, camiões, e recorrer até a cintas com espigões.

É uma tentação e um risco, portanto. A reputação só fica definitivamente com a personagem depois de
regressarem à garagem e terminarem a noite. Se forem apanhados, os ganhos sofrem um retumbante corte. É
um sistema que resulta, não só pela adrenalina que liberta, mas porque o risco/recompensa acontece no
momento – tal como a sensação entusiasmante de escapar, tentando tudo o que sabemos depois de as
probabilidades estarem contra nós.

No capítulo da jogabilidade, a Ghost Games ajustou a forma como podem enfrentar as curvas. Na prática,
basta soltar o acelerador, apontar a frente do carro e voltar a acelerar para que a traseira fique solta. E
enquanto o veículo vai deslizando, é fácil controlar o ângulo e a trajetória conjugando o volante e o
acelerador, parcialmente porque mesmo sendo uma obra arcada, é uma jogabilidade com “peso” (a maior
omissão é o facto de não ser possível conduzirmos com uma perspetiva do interior dos veículos). Não são
necessárias muitas voltas para que esta forma de abordar as curvas se torne natural e, verdade seja dita,
muito mais espetacular do que a habilidade da maioria.

Como este deslizar é incentivado e não resulta numa quebra acentuada de velocidade, fazer ultrapassagens
enquanto o metal passa a centímetros de outro carro ou de um obstáculo permite um ego momentaneamente
insuflado. A maioria das provas assenta em traçados que enaltecem estes processos, serpenteando por
diversas encostas ou ignorando o bom senso e entrando numa curva de noventa graus com uma velocidade
que em tantos outros jogos era sinónimo de uma violenta colisão contra as barreiras.

As corridas, porém, não estão isentas de alguns problemas associados à inteligência artificial, que acabam
por mitigar a diversão. Em algumas provas ascender e manter a liderança é mais fácil do que noutras. Há,
por exemplo, algumas corridas em o fosso entre lugares não parece permitir conquistar posições – ou,
verdade seja dita, perdê-las.

Ainda pior são as injustiças sentidas quando a polícia está no nosso encalço. Todos os participantes nestas
corridas estão a fazer algo ilegal, todavia, as investidas da lei parecem focadas sobretudo na nossa viatura.
Lidar com tudo isto enquanto há uma corrida para ganhar poderia ser apenas uma consequência de quem
está a semear o caos na cidade se todos os concorrentes tivessem que fazer o mesmo. Assim, entre
incontáveis abalroamentos, perder a trajectória numa curva ou perder uma prova está por múltiplas
instâncias associado a uma sensação de injustiça, pois não poderíamos ter feito melhor dadas as
circunstâncias.

Need for Speed Heat é uma proposta graficamente sólida. Jogado num PC em Ultra, são incontáveis os
apontamentos que ajudam a enaltecer a atmosfera de Palm City. Há a sensação de velocidade e, sobretudo,
bons efeitos da chuva e de iluminação, especialmente durante as noites. A Ghost Games tem o mérito de
construir uma obra apelativa, mas foi também muito inteligente na maneira como muniu a sua obra de cores
e vistas que colocam em montra esse trabalho.

O uso de tons garridos como o rosa nos néons permite um jogo de reflexos que encantam. O dia e a noite
servem para que a cidade esteja em constante mutação: desde as montanhas com as antenas e os seus sinais
de aviso encarnados até às praias, onde chegam a decorrer provas pelo areal, entre as dunas, não é um mapa
colossal, mas são quilómetros quadrados com vistas e terrenos diversos.

No campo da sonoplastia, os resultados são menos contundentes. Os efeitos sonoros dos carros e até dos
embates estão bem patentes, sendo até possível personalizar o “cantar” do vosso carro. Porém, não só a
vocalização dos diferentes intervenientes no arco narrativo está assente em prestações que fazem pouco mais
que o mínimo, como a banda sonora devia ter mais diversidade de géneros e, sobretudo, ter mais temas para
que a repetição não se fizesse sentir tão cedo.

Antes da conclusão, algumas notas adicionais. São mais de 120 carros que podem comprar e melhorar. É
muito pouco provável que os coleccionem a todos, mas há uma variedade sólida que chega para nos deixar
conduzir alguns clássicos da era moderna, como o McLaren P1, o Ferrari LaFerrari e ainda o Porsche 918
Spyder.

E há ainda a possibilidade de correrem contra outros jogadores de carne e osso. Quando começam uma
sessão em Heat, podem optar por jogar solitariamente ou online.

Need for Speed Heat será conhecido pelo sistema noite/dia e pela forma como a jogabilidade foi desenhada
para transformar quem joga em herói da borracha queimada. As perseguições e a emulsão gráfica
proporcionam descargas de adrenalina, mas nem tudo é um mar de rosas. Não é o falhanço completo que
muitos chegaram a agourar, mas não é também o inquestionável regresso à forma que deu nome à série da
Electronic Arts.
Apreciação crítica de obras literárias – (exemplos em ± 120 palavras)

OS DA MINHA RUA, ONDJAKI

A obra Os da minha rua, do escritor angolano Ondjaki, foi publicada em 2007 e retrata o espaço social
angolano, revelando a grande sensibilidade do seu autor.
Nesta antologia de contos, Ondjaki apresenta-nos uma visão feliz da infância vivida em Luanda, narrada
pela voz de uma criança. Personagens, músicas, lugares, cheiros e memórias transportam-nos para outro espaço
e outro tempo, o tempo das brincadeiras de crianças e das primeiras paixões. Por outro lado, a abundância de
diálogos tornam o livro vivo e apetecível assim como as palavras do português falado em Angola.
Em suma, um livro pleno de interesse que prende a atenção do leitor do início ao fim e lhe dá vontade
de conhecer mais deste já incontornável escritor africano.

FARSA DE INÊS PEREIRA, GIL VICENTE

A obra “Farsa de Inês Pereira” é um texto dramático do século XVI escrito por Gil Vicente, o “pai do
teatro português” e constitui uma sátira dos costumes da época.

Nesta farsa, Gil Vicente apresenta situações do quotidiano vividas por personagens-tipo que representam
vários grupos sociais. A religiosidade, as tarefas domésticas e a necessidade de procurar um marido
caracterizam as mulheres retratadas na obra. O humor está bem presente na obra onde surgem vários tipos de
cómico – de situação, de caráter e de linguagem.

Em suma, seguindo a máxima “ridendo castigat mores”, ou seja, a rir se vão corrigindo os costumes, Gil
Vicente apresenta-se como um autor intemporal que leva o público a rir e a refletir ao mesmo tempo.

CRÓNICA DE D. JOÃO I, FERNÃO LOPES

A obra “Crónica de D. João I “ constitui uma narrativa do século XV escrita por Fernão Lopes, o maior
cronista da Idade Média e porventura o nosso primeiro historiador.

Nesta crónica, destacam-se duas grandes preocupações do autor: ser fiel à verdade dos factos e retratar
o povo. Por um lado, surge uma nova conceção de História, caracterizada pelo rigor documental e o cruzamento
das fontes (ainda que o cronista deixe escapar alguns comentários subjetivos). Por outro, surge o povo,
retratado com grande visualismo, como uma força anímica coletiva.

Em suma, a Crónica de D. João I constitui uma obra plena de interesse quer pela temática histórica quer
pela vivacidade da narrativa que desperta no leitor as mais variadas emoções.
Apreciação crítica de obras literárias – (exemplo em ± 450 palavras)

O Deus das Moscas, William Golding


Tradução de Luís de Sousa Rebelo
Editorial Vega, Lisboa, 1997, 200 pp.
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"William Golding (1911-1993), um dos maiores escritores do século, ganhou o prémio Nobel em 1983 e
este é um dos seus grandes livros, duas vezes adaptado ao cinema, a última das quais bastante
recentemente.
Nesta obra, Golding conta a história de um grupo de crianças de um colégio inglês que naufraga, dando à
costa numa ilha deserta. Contra este pano de fundo mais ou menos idílico, a lembrar obras como "Dois
Anos de Férias" de Júlio Verne, Golding vai conduzindo o leitor pelo verdadeiro tema da obra: a maldade e
a estupidez humana, a selvajaria brutal que tudo subjuga ao prazer imediato. Quando foi publicado, em
1954, o mundo ocidental acabava de sair dos horrores da Segunda Guerra Mundial; mas, hoje, a obra
continua infelizmente atual porque a estupidez humana é uma das constantes que, ao que parece, veio
infelizmente para ficar.

Do ponto de vista formal, estamos perante uma escrita depurada que parece esconder na sua impassível
objetividade narrativa um grito surdo que passa a habitar-nos para sempre. Se há romance contagiante, é
este. A sensatez do herói do romance, que procura convencer os seus companheiros a não se deixarem
iludir pelos apelos constantes à brutal selvajaria, é quase dolorosa. Estamos perante um grande livro, que
merece ser lido e discutido e do qual é imperativo extrair uma lição.

Gostava de destacar um aspeto crucial. Na sua tentativa de convencer os seus companheiros a agir de
forma sensata e racional, o protagonista vê-se obrigado a instituir rituais — menosprezados e espezinhados
por todos. E este é um aspeto que parece captar uma característica importante da natureza humana e que
muitas vezes não é suficientemente tida em conta — nomeadamente em discussões relacionadas com a
filosofia da religião. Os seres humanos precisam de rituais, de símbolos, de histórias para conseguirem ser
sensatos; precisam da iconografia, do gesto ritual, do preceito religioso; e precisam, sobretudo, de
dramatizar o bem e o mal morais. Essa dramatização culmina, claro, com a invenção dos deuses das várias
religiões, guardiães dramáticos da ação moralmente correta. O problema — problema detetado por
Golding e exposto nesta obra — é que a dramatização corre geralmente mal; perde-se o seu sentido; e em
seu lugar fica apenas um ritual vazio e uma iconografia despropositada que acaba por ser colocada ao
serviço dos mais básicos e selvagens instintos irracionais humanos.

Termino com uma nota de cautela. Este livro não é para espíritos fracos. O seu desenlace trágico, pinta em
tons fortes os abismos morais a que a miséria humana pode conduzir. Mas, como grande escritor que é,
Golding faz mais do que impressionar o nosso sentido moral: impressiona o nosso sentido estético com um
poder tal que o convívio diário com esta obra nos marca para sempre. "

In https://mariablimunda.blogs.sapo.pt/como-fazer-um-texto-de-apreciacao-3983

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