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Texto Argumentativo: Crítica de cinema

– 11ºano –

Prof. Ana Sofia Morgado


I
ficha do filme
 
Voltar
Título original: Volver
De: Pedro Almodóvar
Com: Penélope Cruz, Carmen Maura, Lola Dueñas
Género: ComDra
Classificacao: M/12
 
ESP, 2006, Cores, 120 min.

VOLTAR
Tudo sobre a mãe dela (e sobre a filha também)
 
Para aqueles que acham que todo e qualquer texto crítico se deve resumir a emitir uma opinião clara, concisa e cristalina sobre um filme, aqui vai ela:
"Voltar" é um belíssimo filme menor de Pedro Almodóvar.

No entanto, é impossível ser claro, conciso e cristalino sobre um filme tão resolutamente maduro como "Voltar", objecto que, por trás da tranquilidade
com que se vai desenhando, prova ser um dos títulos mais fervilhantes do realizador espanhol. Depois de "Má Educação" (2004) ter retomado a uma
nova luz o lado transgressor da primeira fase da sua obra (o de "A Lei do Desejo" e "Matador", ambos 1986), "Voltar" encena um retorno de Almodóvar
às subversões iconoclastas do melodrama clássico de faca e alguidar de "Que Fiz Eu para Merecer Isto?" (1984) ou "Mulheres à Beira de um Ataque de
Nervos" (1988), e nem falta a presença da sua "musa" nesses anos 1980, Carmen Maura, para o sublinhar.

Mas "Voltar" é também uma história de fantasmas que perseguem os vivos, inserindo-se na linhagem das três obras-primas anteriores - "Tudo Sobre a
Minha Mãe" (1999), "Fala com Ela" (2002) e "Má Educação", filmes sobre gente assombrada por passados que se recusam a morrer, sobre gente que
confronta (e aprende a viver com) tabus. E é um regresso ao universo feminino de "Tudo Sobre a Minha Mãe", universo do qual os homens não só
estão completamente ausentes como ao qual não fazem faltinha nenhuma […]. No entanto, "Voltar" é precisamente, e numa contradição aparente, o
filme do eterno retorno e o filme dos regressos impossíveis. Percebem agora porque é que é difícil ser claro, conciso e cristalino sobre este filme?

[…]

É precisamente isso – [o regresso de um passado varrido para debaixo da alcatifa, que surge como um fantasma] – (embora não seja só isso) que
aproxima "Voltar" do magnífico (e razoavelmente controverso) "Má Educação" - essa precisa construção narrativa que transfigura o passado em ficção,
o modo como o passado é reavaliado e reapropriado com o correr do tempo. Só que onde aquele filme optava por um lado de filme negro auto-
referencial quase Brian de Palma, este coloca-se do lado dos melodramas latinos feitos para maior glória de uma actriz (ou é por acaso que, a certa
altura, Carmen Maura vê na televisão uma passagem da "Bellissima" de Visconti, com Anna Magnani?). Aqui, é Penélope Cruz, a quem Almodóvar dá o
papel de uma vida, revelando finalmente o talento de uma actriz que deu o salto para Hollywood cedo demais e por lá se perdeu em objectos que
exploravam a sua sensualidade exótica mas não lhe pediam que representasse.

No exacto oposto da imagem sofisticada que lhe conhecemos, Cruz literalmente desabrocha com uma criação magnética de mulher-mãe-
-coragem do povo que faz das tripas coração para manter o desespero à distância mas a quem a vida parece apostada em dar traulitadas por dá cá
aquela palha. A surpresa, contudo, é mesmo ver Almodóvar assumir essa linhagem melodramática que sempre esteve presente e assumida no seu
cinema de modo muito mais contido e reservado - menos garrido, menos extravagante, menos excêntrico, "Voltar" parece ter sido contaminado pela
escuridão que emanava de "Má Educação", tal é o luto que pesa sobre as suas personagens (luto por um passado perdido, por alguém que se amou,
pelas esperanças que foram ficando pelo caminho). Mas, depois percebemos, esse luto não é algo que pese ou que se transporte como um fardo,
antes um luto pacífico, encarado como parte natural da vida, e que contribui para dar a "Voltar" o seu peculiar registo, invulgar no cinema de Almodóvar,
de quase total ausência de conflito, de conversas que raramente elevam o tom de voz, de gente que se entende mas que, quando não se entende, não
precisa de muito para resolver pragmaticamente a situação.

Não há, de facto, uma história, ou uma narrativa, em "Voltar"; Almodóvar elimina o fio condutor que ainda estava presente nos filmes anteriores para
deixar apenas um retrato de um núcleo familiar inteiramente feminino que se reconstrói a partir do reencontro que lhe dá título, da necessidade de fazer
as pazes com o passado e de regressar à essência, mesmo sabendo que esse regresso é por natureza impossível.

A maturidade maior. Falávamos de contenção e reserva, talvez a palavra devesse ser "maturidade" - uma maturidade que muitos consideraram
durante muito tempo ausente do seu cinema "naïf", mas que se começou a sentir a partir de "A Flor do Meu Segredo" (1995) e que encontrou o seu
pico na maestria formal de "Má Educação", espécie de charneira a partir da qual o cinema de Almodóvar entrou numa nova fase. E, de facto, é essa
maturidade que se sente a cada passo em "Voltar": uma maturidade que leva o realizador a arriscar filmar a sério aquilo que geralmente era
anteriormente mostrado com uma forte carga de irrisão. O risco é que a ausência dessa irrisão minimize, ou mesmo menorize, o que Almodóvar quer
contar - e grande parte da atracção do seu cinema esteve sempre no modo estilizado, "larger than life", com que tudo era contado, e é legítimo
perguntar se, uma vez essa estilização ejectada, não se revelará um mero seguidor do lugar-
-comum.

É verdade que falta a "Voltar" a surpresa que aprendemos a amar no cinema de Almodóvar, a sensação de estarmos a ver um cineasta a descobrir
novos territórios; aqui, o cineasta espanhol está a olhar de outra maneira os mesmos territórios que já conhece de trás para a frente, como quem
regressa em adulto aos lugares que moldaram a sua infância - e há uma ironia muito grande neste olhar de maturidade não resistir a usar de vez em
quando os óculos cor-de-rosa de uma nostalgia paredes-meias com o kitsch, mas de modo perfeitamente lúcido e consciente, nunca a enjeitando e até
jogando, de modo assinalavelmente pós-moderno, com a auto-referência.

Mas quem se deixou deslumbrar pelas sucessivas ousadias dos filmes anteriores irá forçosamente esbarrar na inegável "banalidade" de "Voltar" e
sentir uma certa decepção; é um objecto onde, ao querer sublinhar o conteúdo em detrimento da forma, Almodóvar apenas sublinha como, no seu
cinema, ambos são indissociáveis, e como a sua maturidade formal é aqui usada pela primeira vez para sustentar sozinha um filme - como se o
realizador estivesse já suficientemente confiante no seu talento de cineasta para deixar que seja ele a guiá-lo, mais do que um guião pontualmente
esquemático e demasiado "escrito" . Como se Almodóvar quisesse ver até que ponto o seu cinema resoluta e inegavelmente "autoral" sobrevive à
eliminação de algumas das suas marcas de autor - e, mesmo que o resultado não atinja o brilhantismo de filmes anteriores, é sempre reconfortante ver
um realizador a correr riscos e tomar liberdades com a sua arte.

Ou seja, voltando ao princípio: sim, "Voltar" é um Almodóvar menor. Mas há muitos realizadores onde é nos filmes menores que se descobrem pistas
para o seu universo. E "Voltar", na sua menoridade, é absolutamente fascinante.
8-9-2006
Por: Jorge Mourinha (PÚBLICO)

1. Este texto crítico apresenta uma estrutura muito lógica. Começando, nos primeiros parágrafos, por
apresentar o filme e a opinião a respeito dele, passa, em cada um dos parágrafos seguintes, à
apresentação articulada e fundamentada em exemplos, da argumentação que sustenta essa opinião.
 Completa o quadro que se segue de acordo com a estrutura lógica do texto.

PARTE PARÁGRAFOS ASSUNTO EXEMPLOS ARTICULADORES


Introdução

1ºargumento

2ºargumento

3ºargumento
Aspectos Positivos

4ºargumento

5ºargumento
Desenvolvimento

6ºargumento

7ºargumento

1ºargumento
Aspectos Negativos

2ºargumento

3ºargumento

4ºargumento

Conclusão

2. Explica o sentido dos primeiro e último parágrafos desta crítica de cinema.

II
Redige uma crítica, de cerca de 200 palavras, acerca teu filme preferido ou de algum outro que tenhas
visto recentemente, onde apresentes argumentos que se prendam, por exemplo, com a construção da
história, o desempenho dos actores, os ambientes ou aspectos técnicos.
BOM TRABALHO!

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