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Contestação - LORENA
Contestação - LORENA
ª VARA DA COMARCA DE
SALVADOR
I – DAS PRELIMINARES
Assim, não há como prosperar o pedido de justiça gratuita, vez que o Autor não
provou a necessidade de tal concessão, mesmo porque, contratando profissional do
direito, firmou contrato oneroso, demonstrando sua capacidade econômico-financeira
para arcar com os custos do processo que, certamente, corresponderá a uma ínfima
fração dos merecidos honorários que haverá de ser pago ao Douto Patrono de seu
litígio.
O processo sem citação (ou com citação nula somada à revelia), é juridicamente inexistente
em relação ao réu, enquanto situação jurídica apta a produzir ou gerar sentença de mérito
(salvo os casos de improcedência liminar do pedido – art. 332 do CPC/2015). Antes a
essencialidade da citação para o desenvolvimento do processo, não há preclusão para a
arguição da sua falta ou de sua nulidade, desde que o processo tenha corrido à revelia. Pode
tal vício ser alegado inclusive em impugnação ao cumprimento da sentença proferida no
processo viciado, ou até mesmo por simples petição, ou, se houver interesse jurídico, em
ação própria (ação declaratória de inexistência).
I.III Fundamento para arguir a incorreção do valor da causa e motivos para alegá-
las:
O art. 293 do CPC/15 aduz que o “réu
poderá impugnar”. A legislação destaca
que “poderá” e caso não o faça,
ocorrerá a preclusão. Assim, caso o
demandado não impugne o valor da
causa em momento adequado não
poderá fazê-lo posteriormente.
Vejamos:
“Art. 293. O réu poderá impugnar, em
preliminar da contestação, o valor
atribuído à causa pelo autor, sob pena
de preclusão, e o juiz decidirá a
respeito, impondo, se for o caso, a
complementação das custas.”
É indispensável alertar que a matéria preclui para o(s) réu(s) com a apresentação
da contestação. Logo, a preliminar deve ser suscitada em contestação (inciso III, do
art. 337 do CPC/15).
Quando o Magistrado verificar a incorreção do valor atribuído ao feito, deverá intimar
a parte para corrigir e, caso não o faça, arbitrará o valor entender como cabível
(poderá fazê-lo de ofício – sem provocação) e, sendo realizada a correção, mandará
recolher as custas complementares.
O não recolhimento das custas complementares acarretará no indeferimento da
petição inicial (TJDFT. Acórdão 1339645, 07033858820208070018, Relator: ANA
CANTARINO, 5ª Turma Cível, data de julgamento: 12/5/2021, publicado no DJE:
24/5/2021).
Sobre a natureza da matéria da “incorreção do valor da causa” há precedentes do
Superior Tribunal de Justiça – STJ, é de que a referida matéria está dentro do rol de
questões de “ordem pública” (STJ 460.375/BA, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO
BELLIZZE, TERCEIRA TURMA, julgado em 27/06/2017, DJe 02/08/2017).
I.IV DO DEFEITO DE REPRESENTAÇÃO: FALTA DE PROCURAÇÃO
Destarte, o Gilberto Silva alega que sofreu agressão física do seu funcionário
Beto Pera, ao chama-lo para uma reunião que definiria sua relação com os
clientes da empresa. Dessa forma, acusa também, o réu de causar prejuízos
materiais em seu escritório e departamentos subsequentes.
A questão nuclear do fato, tido como delituoso, tanto numa como noutra ação,
é a mesma. Todavia, há de se levar em consideração a atitude rigorosa que o
sr. Gilberto vem tratando seu funcionário Beto Pera. Suas duras regras,
excesso de cobranças, pressão psicológica e demais condutas tóxicas que o
empresário exercia fizeram com que Beto Pera tivesse um momento de
descontrole emocional.
Ao convocar uma reunião com Beto Pera, Gilberto Silva fez cobranças
absurdas para seu funcionário, solicitando que agisse com má-fé sobre seus
clientes, a fim de obter ganhos superiores com os seguros.
Beto Pera se sentiu coagido com tal pedido, pois é um homem de caráter
íntegro, e somado a todo tipo de pressão que já havia sofrido em todos esses
anos de trabalho, não conseguiu suportar a ideia de lesar diversas pessoas
em benefício de outrem.
Nesse ínterim, no que se refere aos gastos materiais, não consta a destruição
de portas e janelas, uma vez que foi atingido as paredes do lado oposto a que
se encontrava esses elementos.
III. MÉRITO
III.1 DA INEXISTÊNCIA DE DANO MORAL
Quanto ao dano moral, pela doutrina e jurisprudência, tal dano é conceituado e
exclusivamente como aquele que abala a honra e a dignidade humana, sendo
exigido, para sua configuração, um impacto psicológico, humilhação ou severo
constrangimento.
Nessa linha de princípio, só deve ser reputado dano moral a dor, vexame, sofrimento
ou humilhação que, fugindo à normalidade, interfira intensamente no comportamento
psicológico do indivíduo causando-lhe aflições, angústia e desequilíbrio em seu bem-
estar. Mero dissabor, aborrecimento, mágoa, irritação ou sensibilidade exarcebada
estão fora da órbita do dano moral, porquanto, além de fazerem parte da
normalidade do nosso diaadia, no trabalho, no trânsito, entre amigos e até no
ambiente familiar, tais situações não são intensas e duradouras, a ponto de romper o
equilíbrio psicológico do indivíduo. Se assim não se entender, acabaremos por
banalizar o dano moral, ensejando ações judiciais em busca de indenização pelos
mais triviais acontecimentos.
[...]
Outra conclusão que se tira desse novo enfoque constitucional é a de que o mero
inadimplemento contratual, mora ou prejuízo econômico não configuram por si sós,
dano moral, porque não agridem a dignidade humana. Os aborrecimentos deles
decorrentes ficam subsumidos pelo dano material, salvo se os efeitos do
inadimplemento contratual, por sua natureza ou gravidade, exorbitarem o
aborrecimento normalmente decorrente de uma perda patrimonial e também
repercutirem na esfera da dignidade da vítima, quando, então, configurarão o dano
moral.
Oportuno destacar, Excelência, que, em meio a uma situação atípica que o mundo
está enfrentando (pandemia pela covid-19), os pedidos de indenização por danos
morais devem ser vistos com moderação, afinal, todos foram pegos de surpresa e
não tiveram tempo hábil para se adequar às mudanças drásticas impostas,
principalmente econômicas.
Nesse sentido, cabe destacar trecho da decisão do Desembargador Diaulas Costa
Ribeiro, da 8ª Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, proferida no
julgamento de recurso no processo XXXXX-53.2019.8.07.0009, em 29/04/2020:
[...] Este voto foi elaborado em pleno cerco sanitário – quarentena – provocado pela
pandemia da doença covid-19. O Poder Judiciário, nesta difícil fase existencial da
humanidade, precisa rever não só o conceito de dano moral, construído com
excesso de voluntarismo nas últimas décadas, mas, também, os valores fixados em
alguns casos. Não é justo nem razoável impor ou manter condenações por dano
moral para qualquer átimo de sensibilidade. Negócios são atividades da vida
cotidiana e inadimplência contratual não gera, como regra, dano moral. 5.
Haverá, como decorrência desta pandemia, um aumento exponencial dos
litígios por inadimplência contratual e não é só. O Poder Judiciário, como nunca,
será chamado para impedir que o corona vírus transforme a sociedade em uma
barbárie. É preciso conter o ânimo de se ganhar reparação econômica por qualquer
desconforto, por qualquer desvio de tempo útil, por qualquer intolerância. E quando
for cabível e inafastável a reparação, os valores deverão ser fixados de maneira
razoável, proporcional, parcimoniosa, considerando, também, o contexto da
economia brasileira e mundial e não os valores sem critérios dos pedidos que
chegam aos Juízes.
Por outro lado, caso o magistrado entenda de maneira diversa, o que se admite
apenas por argumentar, requer o réu que, para a fixação do quantum indenizatório,
seja observado o princípio da proporcionalidade e razoabilidade, objetivando evitar o
enriquecimento sem causa pela autora.
Posteriormente, seu chefe teve atitudes grosseiras e acusou o sr. Beto de está
instruindo corretamente os clientes da seguradora (papel que foi contratado para
prestar) e isso estava trazendo prejuízos para a empresa.
Dessa forma, obrigou o seu funcionário a usar de má-fé com os seus segurados,
para que então eles não consigam o ressarcimento e cada vez mais a seguradora
obtenha lucros exorbitantes.
Todavia, Beto Pera tentou convencer seu patrão de que isso é errado, e se o cliente
tem o devido direito não seria interessante lesa-lo de maneira tão indiscriminada.
Nesse momento, ao olhar pela janela ao lado, sr. Beto observou uma cena de
assalto a mão armada e então comunicou a Gilberto Silva, para que eles tomassem
providências. Com sua insensibilidade, Gilberto não quis prestar socorro e usou tom
de brincadeira ao dizer que esperava que a vítima não fosse algum segurado de sua
empresa.
Na sequência, Sr. Beto decidiu que iria sozinho resolver tal demanda. Com isso,
Gilberto não gostou e ameaçou demiti-lo caso saísse da sala, mesmo sabendo que
seria por um gesto nobre.
Contudo, o sr. Beto retorna para a sala, pois não poderia perder o emprego, pois
sustenta sua família: seus 3 filhos e sua esposa. Então, não poderia perder seu
sustento sob nenhuma hipótese.
Nesse instante, ao olhar pela janela e culminado ao som dos escárnios proferidos
pelo seu chefe, Beto observa que o assaltante havia conseguido fugir. Isso lhe
causou sentimentos de fraqueza e ira.
Por conseguinte, agindo impulsivamente, por estar chateado com a omissão do seu
chefe em relação que estava havendo lá fora, sr.Beto acaba causando danos físicos
ao sr. Gilberto, e consequentemente ao escritório.
Apesar disso, na inicial consta valores exorbitantes que não condizem com a
realidade dos fatos. E assim, abrindo brechas para o enriquecimento ilícito.
"Art. 1.547. A indenização por injúria ou calúnia, consistirá na reparação do dano que
delas resulte ao ofendido.
Parágrafo Único. Se este não puder provar prejuízo material, pagar-lhe-á o ofensor o
dobro da multa no grau máximo da pena criminal respectiva (art. 1.550)."
A Professora Maria Helena Diniz, nesse sentido, destaca essa posição importante,
defendendo a sua tese a respeito do assunto:
"Na reparação do dano moral o juiz determina, por equidade, levando em conta as
circunstâncias de cada caso, o "quantum" da indenização devida, que deverá
corresponder à lesão, e não ser equivalente, por ser impossível tal equivalência."
E adiante conclui:
"Será o arbítrio do juiz, com os parâmetros básicos dados pela lei, que verificará a
melhor indenização."
Mas, para o juiz avaliar o dano moral deve considerar os padrões dos envolvidos.
CLAYTON REIS (ob. cit. p. 83) ensina:
"Para avaliar o dano moral, ressalta Antonio Montenegro com precuciência, haver-
se-á de levar em consideração, em primeiro lugar, a posição social e cultural do
ofensor e do ofendido. Para isso deve-se ter em vista o" homo medius ", de
sensibilidade ético-social normal. É preciso, portanto, idear o homem médio para
que, conhecendo o seu perfil, tenhamos condições e elementos para a fixação dos
fatores que concorrerão para o arbitramento do" quantum "indenizatório."
Wilson Melo da Silva estabelece uma forma para se construir esse homem médio, ao
ensinar:
"O tipo médio de homem sensível de cada classe seria o daquele cidadão ideal que
estivesse à igual distância do estóico e do homem de coração seco que fala Rippert,
e do homem de sensibilidade extremada e doentia."
FREITAS NOBRE (in"Comentários à Lei de Imprensa", Saraiva, 1978, p. 312)
fulmina:
O Autor, nos moldes em que narra a inicial, não exibe a forma como trata seus
funcionários e como isso pode prejudicar a convivência no trabalho, fazendo com
que os empregados desenvolvam transtornos psicológicos advindos da pressão que
sofrem em suas funções.
A pretensão do Autor não passa de uma aventura. Nada tem a perder. Em suas
fantasiosas declarações teve ainda o despautério de imputar a agressão física
omitindo o real motivo que o culminou.
É certo afirmar ainda que, o Beto Pera é depositário do melhor conceito, respeito e
consideração da sociedade, sequer tendo contra si, exceto no episódio que o
envolve com o Gilberto Silva.
IV. CONCLUSÃO