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Resenha - O Sagrado - Flávio Cardoso de Pádua
Resenha - O Sagrado - Flávio Cardoso de Pádua
Campinas
2021
REFERÊNCIA DO LIVRO
OTTO, Rudolf. O sagrado: aspectos irracionais na noção do divino e sua relação
com o racional. São Leopoldo: Sinodal/EST; Petrópolis: Vozes,2007.
Aqui, no capítulo três, o autor faz uma divisão em duas partes. Na primeira
parte, ele faz um apelo para que os seus leitores reflitam se já experimentaram
alguma manifestação do numinoso (sem isso, seria difícil prosseguir na leitura),
pois, o conhecimento experiencial supera em muito o conhecimento teórico.
Essa experiência não seria uma simples contemplação de um êxtase moral, mas,
sim, do sentimento que o antecede - o próprio cristianismo reconhece que
sentimentos morais estão contidos em outras áreas, não sendo necessário uma
manifestação do solene. Na segunda parte, o autor traz uma referência de
Schleiermacher, onde esse, afirma que o sentimento de dependência é o que
tem feito as pessoas procurarem a manifestação do nume. Porém, Otto faz dois
reparos na afirmação de Schleiermacher. O primeiro reparo é que esse
sentimento é uma mera analogia e ele faz uma diferença apenas de grau e não
qualitativamente intrínseca (absoluto x relativo). Abraão, por exemplo, quando
encontra com Deus, tem esse sentimento de dependência (ou, melhor dizendo,
sentimento de criatura), onde ele se afunda em nulidade perante aquilo que se
exalta sobre a criação. Ainda assim fica impossível a conceituação dessa
experiência, pois o caráter dessa manifestação avassaladora é maior que a
nulidade da criatura. Isso leva o autor para o segundo reparo, onde,
Schleiermacher afirma que é possível achegar-se ao divino por uma dedução
desse sentimento, mas, esse sentimento de criatura (autopercepção do homem
perante o nume), é somente uma sombra desse outro elemento (receio) que não
provém do homem. Portanto, Otto afirma que esse objeto que causa o receio
seria a presença do nume e somente por aplicação desse “objeto” a psique
recebe o receio (então esse não pode ser o causador da busca do nume).
No sétimo capítulo, o autor revela um termo diferente do que foi visto até
aqui, o termo deinós (em alemão, ungeheuer). Esse conceito racionalista chega
mais próximo do sentimento assombroso (ou aquilo que é extremo, excelso). O
autor ainda cita Goethe, que trata desse termo como aquilo que é monstruoso
(aterrador). Esse aspecto, além de inconcebível à psique, é também estupendo
(estranho para o racional).