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SINGER Introdução À Economia Solidária
SINGER Introdução À Economia Solidária
O
capitalismo se tornou dominante há tanto
Para pessoas como eu, adversárias de um Nas páginas deste livro se encontram só-
certo discurso apontando que os proble-
tempo que nossa tendência é considerá-lo lidos argumentos reafirmando a necessi-
mas do trabalhador só serão resolvidos no como normal ou natural. Vivemos, assim, dade de buscarmos uma forma de organi-
dia da grande transformação, o livro mostra em uma sociedade em que a competição domina zação social e econômica que ultrapasse
de maneira convincente que a sociedade praticamente todas as áreas da atuação humana. as potencialidades oferecidas à humani-
justa por que lutamos precisa ser constru- No entanto, esta competição tem sido criticada por dade pelo capitalismo, superando as de-
ída desde já, na barriga do atual sistema. sigualdades que lhe são inerentes.
causa de seus graves efeitos sociais. A apologia da
Nesse processo, trata-se de ocupar “inters-
economia solidária
talismo na mesma prateleira onde já estão
no sentido do crescimento, este estudo
arquivados o feudalismo e a escravidão.
de Singer vale como um bálsamo e como
ISBN 978-85-86469-51-0
Luiz Inácio Lula da Silva verdadeira fonte de luz.
Diretoria
Marcio Pochmann – presidente
Iole Ilíada – vice-presidente
Ariane Chagas Leitão – diretora
Arthur Henrique Santos – diretor
Fátima Cleide – diretora
Joaquim Soriano – diretor
Coordenação editorial
Rogério Chaves
Assistente editorial
Raquel M. Costa
Revisão
Márcio Guimarães Araújo
Marcos Marcionilo
Editoração eletrônica
Augusto Gomes
Enrique Pablo Grande
Capa
Mário Pizzignacco
Impressão
Gráfica Bartira
Introdução à
Economia Solidária
6a reimpressão
Capítulo II – História, 24
1. Origens históricas da economia solidária, 24
Bibliografia, 125
Fundamentos
1. A economia capitalista atual não é competitiva na maior parte dos seus mercados,
dominada geralmente por oligopolios. Mas há concorrência no comércio varejista e em
muitos mercados de serviços, de modo que os consumidores com poder aquisitivo têm
possibilidades de escolha. Os pobres são obrigados a gastar o seu pouco dinheiro no
essencial à sua sobrevivência.
2. A inempregabilidade provém do fato de que os empregadores também estão com-
petindo pelos melhores empregados. Como eles não podem saber de antemão quem é
o melhor, guiam-se pelas aparências e por preconceitos. Quem ficou muito tempo sem
trabalho ou foi despedido muitas vezes não “deve” ser bom. Então por que arriscar?
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3. Autogestão e heterogestão
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5. Não por acaso a palavra aprovado significa tanto passar de ano como obter a apro-
vação de outros.
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História
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3. Cole argumenta que as bolsas não poderiam praticar preços diferentes do comércio
em geral porque, se o fizessem, “eles venderiam rapidamente todos os artigos relati-
vamente mais baratos e ficariam sem vender os relativamente mais caros” (p. 31). Isso
seria o caso se houvesse conversibilidade entre as notas de trabalho e as libras esterlinas.
Deve-se supor que para obter notas de trabalho era preciso vender algo na bolsa, sendo
este algo um produto cooperativo. Neste caso, o mercado cooperativo seria fechado
e poderia praticar preços diferentes dos praticados no comércio. Mas negociantes
comuns vendiam seus produtos em troca de notas de trabalho para comprar produtos
cooperativos com elas. Isso pode significar que eles praticavam arbitragem entre os
preços externos e internos da bolsa ou que os últimos acabaram sendo ajustados aos
primeiros, como imagina Cole.
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Panorâmica
1. O cooperativismo de consumo
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2. O cooperativismo de crédito
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exatamente porque sua renda é baixa demais para que ela possa
amealhar reservas suficientes para enfrentar adversidades. Os po-
bres precisam, mais do que os remediados, de empréstimos para
sobreviver a crises de desemprego, a intempéries meteorológicas,
a perdas de colheitas, a derrotas militares do país, a epidemias
etc. O que os coloca periodicamente à mercê dos agiotas, que
aproveitam o ensejo para transformar uma emergência num laço
perpétuo de dependência e exploração, mediante dívidas que
nunca se resgatam e sempre se expandem por efeito dos juros
não pagos. São conhecidas as histórias, sobretudo de campone-
ses, cujas dívidas impagáveis passam de pais para filhos e que
entregam ao credor insaciável todo o excedente que conseguem
produzir durante decênios.
As cooperativas de crédito foram invenções alemãs: a
urbana por Hermann Schulze-Delitzsch e a rural por Friedrich
Wilhelm Raiffeisen. Ambos foram quase contemporâneos e
políticos, homens públicos sensibilizados pela mesma tragédia
– em 1846 perderam-se safras de cereais e em seguida veio um
inverno excepcionalmente duro. A fome atingiu os pobres e este
evento levou a ambos – cada um sem saber do outro – a procurar
remédios institucionais para a vulnerabilidade dos que vivem
do próprio trabalho.
Hermann Schulze (1808-1883) era juiz em Delitzsch, sua
terra natal, quando ocorreu a desgraça. Ele formou um comitê
que alugou um moinho de grãos e uma padaria, comprou trigo
no atacado para distribuir pão aos necessitados. Em 1848, uma
revolução obrigou o rei da Prússia a convocar uma Assembleia,
para a qual Schulze foi eleito representante de seu torrão natal.
Como eram muitos os Schulze entre os deputados, ele resolveu
adicionar ao sobrenome a designação do distrito que represen-
tava, tornando-se desde então Schulze-Delitzsch. Alinhou-se
aos liberais, que reivindicavam uma Constituição, e quando,
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3. Mudanças estruturais
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mil membros, que vivem em 36 mil aldeias e dos quais 94% são
mulheres. Seus empréstimos são em média de 150 dólares, o que
foi suficiente para que, em dez anos, a metade dos membros se
elevasse acima do umbral da pobreza e mais um quarto deles
esteja em via de fazê-lo (Yunus, 1997, p. 46).
O Grameen está presente em mais da metade das comunas
rurais de Bangladesh; em 1997, mantinha 1.079 agências e 12
mil empregados3. Ele pode ser considerado um banco cooperati-
vo, mantido por dezenas de milhares de Centros, que equivalem
de certa maneira às cooperativas primárias de crédito. Desde
1980, realizam-se encontros nacionais de responsáveis pelos
Centros, em que se adotam resoluções destinadas a mudar a vida
das associadas do Banco. Em 1997, as resoluções adotadas eram
16, das quais as mais interessantes nos parecem ser as seguintes:
6) Tentaremos ter poucos filhos. Limitaremos nossos gastos.
Cuidaremos de nossa saúde. 7) Educaremos nossos filhos e nos
daremos os meios para enfrentar esta educação. 9) Construiremos
e utilizaremos latrinas. 11) Não exigiremos qualquer tipo de dote
aos nossos filhos e não o daremos a nossas filhas. Os dotes serão
proscritos de nossos Centros. Opor-nos-emos ao matrimônio de
crianças. 14) Estaremos sempre dispostas a ajudar as demais. Se
alguém tem dificuldades, o ajudaremos (Yunus, 1997, p. 137).
A experiência do Grameen inspirou programas de micro-
crédito no mundo todo. Segundo Yunus (p. 212), em 1997 havia
programas desse tipo em 58 países, dos quais 22 na África, 16
na Ásia, 15 nas Américas, 4 na Europa e 1 na Australásia (região
sudoeste da Oceania). Estes programas nem sempre correspon-
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6. Cooperativas de produção
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8. Clubes de troca
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Nota:
1. Ferreira, Elenar. “A cooperação no mst: da luta pela terra à gestão coletiva dos
meios de produção.” In Singer e Souza (org.). Economia Solidária no Brasil: autogestão
como resposta ao desemprego. São Paulo, Editora Contexto, 2000.
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