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MIEGI - FEUP | Materiais 2020/2021

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Ferros fundidos e ligas não ferrosas


Ferros fundidos
Os ferros fundidos (FF) são ligas Fe-C com uma percentagem de carbono superior a
2.06%. Apresentam uma boa colabilidade inerente à transformação eutética e à diminuição da
temperatura de solidificação ligadas ao elevado teor em carbono. A colabilidade pode ser vista
como a capacidade de preencher todas as cavidades de um molde em fundição e é alta para
um baixo intervalo de solidificação - ligas eutéticas. Existem quatro tipos de ferros fundidos: FF
brancos, FF cinzentos, FF dúcteis (nodulares) e FF maleáveis.
Os ferros fundidos brancos são combinações de carbono e ferro (Fe3C) e não contém
grafite, pelo que a fratura apresenta um aspeto branco. O seu interesse reside na sua grande
resistência ao desgaste e à abrasão. A palavra-chave deste tipo de ferros fundidos é
resistência ao desgaste.
Os ferros fundidos cinzentos são compostos por carbono (teor mínimo de 3%), silício
(elemento grafitizante), fósforo (limitado a 1.2%), manganês (limitado a 1% - elemento anti
grafitizante) e enxofre (limitado a 0.12%). Contém grafite (grafite lamelar), pelo que a fratura
apresenta um aspeto cinzento. A palavra-chave deste tipo de ferros fundidos é baixo custo.
Os ferros fundidos dúcteis (nodulares) são iguais aos FF cinzentos, mas apresentam a
grafite sob a forma de nódulos - grafite nodular (esferoidal). A palavra-chave deste tipo de
ferros fundidos é ductilidade.

Os ferros fundidos maleáveis são FF brancos, que sofreram posteriormente um


recozido em atmosfera neutra ou oxidante. A palavra-chave deste tipo de ferros fundidos é
maquinabilidade.

Ligas não ferrosas


As ligas de alumínio apresentam uma boa ductilidade (CFC), boa condutividade térmica
e elétrica, boa colabilidade, boa resistência à corrosão e alta resistência mecânica. A palavra-
chave destas ligas é o seu excecional peso específico. Podem classificar-se em ligas
trabalhadas (tratáveis termicamente - endurecimento por precipitação estrutural - e não
tratáveis termicamente - endurecimento por encruamento) - ligas Al-Mg - e em ligas de fundição
- ligas Al-Si. São exemplos de aplicação chapas, barras, perfis, caixilharia de construção,
construção naval, estruturas de aeronaves, jantes, colaças, etc.

As ligas de cobre são dúcteis (CFC) e apresentam boa condutividade térmica e elétrica.
A palavra-chave destas ligas é a sua resistência à corrosão. Os latões são ligas Cu-Zn com 5 a
45% de Zn e os bronzes são ligas Cu-Sn com 3 a 20% de Sn. Existem ainda ligas de memória
de forma - ligas Ni-Ti e Cu-Zn-Al. São utilizadas nos setores da construção civil, elétrica,
automobilística, eletrónica, etc.

As ligas de titânio apresentam baixa densidade, elevada resistência à corrosão,


resistência a quente e à fluência, embora seja um material caro. A palavra-chave destas ligas é
a sua elevada resistência específica. Algumas áreas de aplicação são a aeronáutica e
aeroespacial (turbinas de aviões, aviões supersónicos), biomecânica (próteses), etc.

As ligas de níquel, também conhecidas como superligas, são praticamente todas


monofásicas (CFC) e utilizadas pela sua resistência à corrosão. A palavra-chave destas ligas é
a sua resistência à fluência. Apresentam boas propriedades de resistência e tenacidade. São
utilizadas para cunhagens de moedas, revestimentos metálicos, baterias recarregáveis, etc.

Ana Margarida Neves | Catarina Santos


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Materiais usados

Tabela 1 - Composição química dos materiais estudados

Curva de tração dos materiais

FF lamelar

FF esferoidal

Gráfico 1 – Curva de tração do ferro fundido lamelar e do ferro fundido esferoidal

Al6082 T6

Al6082 (forno)

Al6082 (H2O)

Gráfico 2 – Curva de tração do Al6082 T6, Al6082 (arrefecido no forno) e Al6082 (arrefecido em água)

Ana Margarida Neves | Catarina Santos


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Cu

CuZn39Pb3

Gráfico 3 – Curva de tração do cobre puro comercial e do latão CuZn39Pb3

Análise de resultados - comparação da rigidez, resistência mecânica,


resistência específica e ductilidade de cada material

Tabela 2 – Propriedades mecânicas dos materiais estudados

Ana Margarida Neves | Catarina Santos


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Conclusões:

Por análise dos valores da tabela 2, obtidos a partir dos ensaios e tração dos diferentes
materiais estudados, é possível concluir que as três ligas de Alumínio apresentam o mesmo
Módulo de Young, como seria expectável. A liga Al6082 T6 apresenta melhores características
mecânicas que as restantes ligas de alumínio, uma vez que apresenta uma maior tensão de
cedência e de rotura, assim como resistência específica, sendo esta a maior dos materiais em
estudo. Contudo, a liga de alumínio 6082-T6 apresenta uma menor ductilidade, relacionada
com o menor valor de extensão após rotura, consequência inevitável da melhoria da resistência
mecânica. Já o Al6082 arrefecido no forno apresenta uma elevada ductilidade, uma vez que o
seu arrefecimento é lento o que confere ductilidade à liga.

Estas diferenças são explicáveis devido às velocidades de arrefecimento do tratamento


térmico a que as ligas em questão foram sujeitas, a precipitação estrutural. Esta consiste na
precipitação de finas partículas na matriz que causam um forte obstáculo ao movimento das
deslocações, tornando as ligas muito mais resistentes. Este tratamento é realizado em 2
etapas: recozido de homogeneização e envelhecimento. Inicialmente, o material é aquecido até
ao domínio alfa (solução sólida de cobre no alumínio - CFC) sem ultrapassar a temperatura
eutética, de modo a evitar a fundição das ligas de grão. De seguida, arrefece-se rapidamente
obtendo-se uma solução alfa sobressaturada em cobre, o que confere uma boa dureza à liga.
Posteriormente faz-se um envelhecimento, que consiste num aquecimento entre a temperatura
ambiente e Tm, havendo precipitação de partículas muito finas, que são ideais para causar
endurecimento máximo. Nesta última fase, quanto menor a temperatura de envelhecimento,
mais tempo demora a atingir o pico de dureza, razão pela qual muitas vezes se opta por um
envelhecimento artificial, visto que o natural implica grandes tempos, de dias ou mesmo
semanas, até a peça ter a dureza pretendida.

Relativamente ao Cobre puro comercial e ao latão em análise, o primeiro apresenta


uma maior rigidez, devido ao superior módulo de Young. Em termos de resistência mecânica, o
latão destaca-se apresentando valores bastante elevados de tensão de cedência e de rotura.
Isto deve-se ao facto de o latão ser uma liga de Cu-Zn, o que lhe confere uma maior
resistência, principalmente à corrosão. Em relação à ductilidade, o Cobre puro comercial
apresenta o maior valor da tabela o que é justificado pela sua estrutura cristalina, sendo este
um CFC.

Comparando os dois ferros fundidos, podemos claramente destacar o FF esferoidal


como o que apresenta melhor características mecânicas. Este ferro fundido cinzento tem os
maiores valores do Módulo de Young e de tensão de cedência e de rotura, sugerindo que este
é um material bastante resistente e rígido. O facto de a grafite aparecer sob a forma nodular, o
que implica recorrer à nodularização com magnésio e à inoculação de Fe-Si, melhora
significativamente o comportamento mecânico deste ferro fundido cinzento, uma vez que as
concentrações de tensão deixam de existir e o efeito do entalhe é reduzido. Contudo, devido ao
elevado valor de densidade, este material acaba por apresentar um valor de resistência
específica mais reduzido, mesmo apresentando os valores mais elevados de tensão de
cedência e de rotura.

O FF lamelar é um material muito frágil, visto que a sua extensão após rotura
apresenta um valor quase nulo. Isto é justificado pela sua forma lamelar que provoca um efeito
de entalhe, ou seja, cria-se uma concentração de tensão na matriz, conduzindo a que este
ferro seja muito frágil, não apresentando praticamente resistência mecânica e ductilidade.

Por fim, conclui-se que as ligas de alumínio, nomeadamente a liga Al6082 T6,
representam excelentes materiais por combinarem elevada resistência mecânica específica e
ductilidade. Isto torna-as ideais para aplicações nas quais vão ser sujeitos a esforços, mas
onde o peso é um fator importante, como na indústria dos transportes.

Ana Margarida Neves | Catarina Santos

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