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AVISO: Este spin off contará sobre os protagonistas de Anjo Negro

(Beatrice e Manuele), porém, ambientados no livro Anjo Perdido.

Portanto, para um melhor entendimento, aconselho a leitura dos livros


anteriores: ANJO NEGRO, ANJO INDOMADO, ANJO SELVAGEM e
ANJO PERDIDO.
Copyright© 2021 Sara Ester
Capa: Barbara Dameto
Revisão: Sara Ester
Diagramação Digital: Sara Ester

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e


acontecimentos descritos são produtos da imaginação da autora. Qualquer
semelhança com fatos é mera coincidência
_______________________________________________________
Nosso Anjo
Livro 4,5 — Irmãos Fratelli
Sara Ester
1ª Edição
Maio — 2021
Imbituba — SC/ Brasil

Todos os direitos reservados.


São proibidos o armazenamento e/ou a reprodução de
qualquer parte dessa obra, através de quaisquer meios — tangível ou
intangível — sem o consentimento escrito da autora.

A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei nº

9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.


SINOPSE
Quando Beatrice Bianchi conheceu Manuele Ricci, um dos irmãos
Fratelli, ela não sabia o que era felicidade. Sentia na pele o preço do
dinheiro e do poder, e tudo o que podia fazer era aceitar e acatar as ordens
que lhe eram impostas por seu pai e único irmão.

Entretanto, essa realidade mudou no instante em que se apaixonou pelo

homem que salvou não somente sua vida, mas também seu coração. O amor
que cresceu entre ela e Manuele foi único, como um bálsamo se alastrando
por sua pele e alma curando todas as suas feridas.

Os dois tinham uma conexão única.

Algo parecido com a calmaria e tempestade.

O tempo passou e algo mudou; Beatrice podia sentir. A escuridão que

sempre ameaçou tomar conta do seu amado estava lá outra vez... e ela não
permitiria que isso acontecesse.

Não quando já tinha certeza de que dentro de si batia um novo e

pequenino coração...
Sumário
Beatrice

Beatrice

Beatrice

Beatrice

Beatrice

Beatrice

Beatrice

Beatrice

Beatrice

Dias depois

Manuele
UM
Beatrice
Me sentia como se estivesse flutuando... as sensações que tomavam

conta do meu corpo arrancavam não somente meu ar, mas também meu
raciocínio.

Era sempre assim.

Era sempre desse jeito quando Manuele me tomava em seus braços e


me amava como se não houvesse amanhã.

Mordendo os lábios, apertei os olhos enquanto esmagava meus

mamilos entre meus dedos e remexia o corpo contra os lençóis num esforço

para prolongar o prazer que era ter meu marido acariciando o meio das
minhas pernas com sua língua habilidosa. Arrastei as mãos para baixo e as

levei até seus cabelos, onde puxei os fios com força calculada.

— Isso, meu anjo... — soprou ele, fazendo com que eu me arrepiasse

com a vibração que sua voz causou em meu corpo — Dê-me tudo, querida
— pediu, enrolando os braços em minhas pernas de modo a me deixar

completamente aberta e à sua mercê. — Quero beber todo seu mel.

Fui incapaz de segurar o grito que escapou da minha garganta no


instante em que senti o raspar de seus dentes em meu clitóris inchado. Me

contorci toda, desesperada por libertação, mas também desesperada por

mais... muito mais.

Me peguei apertando sua cabeça um pouco mais contra mim, ansiando

pelo ápice do prazer que somente ele podia me proporcionar.

— Oh, céus... — gemi, sentindo aquele redemoinho delicioso


crescendo em meu baixo ventre — Manuele...

Minha voz se perdeu quando uma enorme onda de prazer me abateu,

derrubando-me com tanta força que chegou a roubar meu ar. Os espasmos
que me atingiram se tornaram incontroláveis.

Mal me recuperei do orgasmo arrebatador e já senti o corpo do

Manuele sobre o meu. Afastou minhas pernas com as suas e me penetrou com

facilidade, considerando que eu estava completamente pronta para recebê-

lo. Sua boca tomou a minha de assalto. O beijo foi uma mistura de devoção e

fúria. Era como se ele estivesse numa batalha interna com ele mesmo.

Uma batalha para se controlar.


Enrolei sua cintura com minhas pernas, disposta a receber tudo o que

ele queria me dar. Gemi em seu ouvido quando deslizou os lábios para meu

pescoço, onde deixou mordidinhas em minha pele clara. Suas investidas

eram duras e intensas, conforme se perdia em meu corpo como se eu fosse

sua fonte de vida e de força. Eu adorava a sensação de saber que era tão

necessária para ele quanto ele era para mim.

Seus gemidos roucos me arrepiavam, tornando todo o momento ainda

mais intenso e único.

De olhos fechados, deslizei as mãos por suas costas, arranhando sua

pele do jeito que eu sabia que ele gostava. O calor dos seus beijos queimava

minha pele causando-me um frenesi já conhecido enquanto meu corpo se

preparava para outro orgasmo. Ao perceber que eu estava prestes a gozar

outra vez, Manuele afastou o rosto para me encarar nos olhos; ele tinha uma
estranha obsessão em observar minhas reações quando eu estava gozando.

— Olhe para mim, querida — exigiu num gemido sexy.

O calor se intensificou, tornando-se insuportável... o ar faltou e meus

músculos enrijeceram.

— Oh, Manuele, eu...

— Isso, meu amor, chame por mim. — Murmurou, se inclinando para

me beijar e roubar meus gemidos desesperados.


Sua língua exigiu espaço dentro da minha boca entreaberta, conforme

aumentava a pressão dos movimentos. Eu conseguia senti-lo profundamente

dentro de mim. Sua respiração se tornou irregular e arrepios me tomaram por


completo quando ouvi seu rosnado em meu ouvido.

Instante depois, se deixou cair ao meu lado, parecendo exausto e

ofegante.

Me virei de lado, para poder encarar seus lindos olhos.

Estávamos em sua sala secreta, o local em que ele usava para pintar

seus quadros. Ao olhar ao nosso redor, era possível ver a enorme quantidade

de pinturas... todas com meus autorretratos. Ninguém, além do Mariano e eu

sabíamos desse seu lado sensível... Manuele era um pintor excepcional.

— Você está bem? — perguntei num murmúrio, enquanto acariciava

seu lindo rosto.

Observei as marcas de vincos em sua testa conforme absorvia minha

pergunta.

— Por que a pergunta? — Segurou minha mão, que estava em seu

rosto, e beijou a palma. Dei uma risadinha com as cócegas que sua barba

rala me causou.

— Não sei — fiz uma careta. — Estou sentindo você diferente nas

últimas semanas — Respirei fundo. — Preocupado, nervoso e... — me


sentei, angustiada com a maneira como eu vinha enxergando nossa vida

ultimamente.

— E...? — instigou, se sentando também. — Ei? — Me abraçou pela


cintura com uma das mãos, enquanto com a outra, forçou meu olhar no seu.

— Qual o problema, querida?

— Estou sentindo você distante, Manuele — admiti meu temor em voz

alta. — Algo está acontecendo com você, mas não quer me contar.

Ele permaneceu me olhando, mas sem nada dizer. Dava para perceber

sua luta interna... seu amor por mim brilhava em suas íris azuis, mas também

havia aquela escuridão o qual eu tanto temia...

Quando abriu a boca para falar, seu telefone começou a tocar. Pedindo

desculpas, ele se afastou para atender.

Apenas suspirei, tendo a certeza de que, mais uma vez, aquela

conversa ficaria em segundo plano.

Me coloquei de pé, pegando meu robe para cobrir minha nudez.

— Certo — o ouvi dizer, provavelmente a um dos seus irmãos — Já

estou indo.

Poucos instantes depois, ele começou a colocar suas roupas, enquanto

eu permanecia parada, abraçando a mim mesma. Esforçava-me para não


demonstrar quão chateada estava com essa sensação ruim que tomava conta

do meu coração.

— Se importa de ir a faculdade com um dos nossos seguranças, hoje?

— perguntou. — Vou precisar ir até a fortaleza agora. Luca conseguiu

encontrar a irmã do Angel e parece que as coisas saíram do controle.

Angel era um dos aliados da máfia Fratelli, chefe do maior cartel


mexicano. Há quase três anos teve sua única irmã raptada, e na sua busca

desenfreada por ela acabou encontrando os irmãos, que compraram sua dor e

começaram a ajudá-lo na caçada pela garota. Como ordem do capo Rossi,

Luca se tornou o responsável pela missão de encontrá-la, e encontrou. O

problema era que, por alguma razão, Rosa acabou fugindo outra vez.

Sacudi a cabeça, assentindo à pergunta que Manuele me fez.

— Claro. — Afirmei, sorrindo sem mostrar os dentes. — Não tem

problema.

Dando a volta na cama, chegou até onde eu estava e me puxou para

seus braços, exigindo meus lábios nos seus.

— Estamos bem? — quis saber, amparando meu rosto.

Encarando seus olhos, tentei encontrar alguma coisa que me fizesse

entender o que podia estar acontecendo com ele, mas não encontrei nada.

Nada.
Apenas aquela escuridão que me assustava.

— Beatrice...

— Não se preocupe — cortei suas palavras, cobrindo sua boca com

meu indicador. — Pode ir tranquilo. — Sorri para confortá-lo. — Amo você

demais.

Sorrindo aliviado, voltou a me beijar.

De uma coisa eu tinha certeza: enquanto estivéssemos juntos, tudo


ficaria bem.
DOIS
Beatrice
Depois de tudo o que enfrentei no passado, com a morte precoce da

minha mãe; seguido da morte do meu irmão e depois a do meu pai, passou a

arder em meu coração um forte desejo de ajudar as pessoas. Num primeiro


momento, pensei em me tornar médica, entretanto, acabei optando por

estudar serviço social. O segmento de atuação que escolhi foi trabalhar com
crianças e adolescentes em situação de abandono familiar. Talvez por causa

do que vivenciei dentro da minha própria casa.

Entendia que quem pretendia se tornar um profissional do serviço


social precisava ter sensibilidade no trato com as pessoas e estar aberto a

desenvolver sua capacidade de comunicação. Também era necessário um


compromisso com a liberdade, a justiça e a democracia. Nesse sentido, é

necessário estar comprometido com valores que dignificam e respeitam as

pessoas em suas diferenças e potencialidades, sem discriminação de

qualquer natureza.

Em todos esses anos de curso, jamais me arrependi da escolha;

adorava todo o aprendizado a qual éramos submetidos, onde nos


estimulavam a pensar e a resolver problemas do cotidiano profissional.

— No caso que iremos estudar hoje, eu trouxe a história de duas

crianças — ouvi a voz da professora. Eu estava tentando me concentrar na


aula, embora minha mente estivesse dividida. Não conseguia focar minha

atenção cem por cento ali... não quando Manuele se tornava o protagonista

de todos os meus pensamentos.

De repente, imagens dos maus tratos das duas crianças — do caso em

que estudaríamos — foram colocadas na tela do retroprojetor. Meu estômago

se revirou na mesma hora e me obriguei a me levantar e correr para o

banheiro.

Na cabine, me curvei contra o vaso sanitário e vomitei tudo o que

tinha comido naquela manhã.

Respirando com dificuldade, saí e caminhei até a pia onde joguei uma

água no rosto e nuca. Ainda sentia meu estômago revirado.

No lado de fora do banheiro, me deparei com um colega de sala.

Lorenzo era um rapaz educado, prestativo e muito querido.

— Você está bem? — quis saber, oferecendo-me minha bolsa. Acabei


deixando na sala de aula, já que saí correndo por causa das náuseas. —

Fiquei preocupado.

Sorri para ele, aceitando a bolsa.


— Não foi nada — respondi, começando a caminhar em direção a

saída. Estava totalmente sem condições para retornar a aula. — Apenas um

mal estar, eu acho. — Franzi a testa, confusa com minha própria declaração.

De soslaio, podia observar os três seguranças que me acompanhavam,

discretamente. Manuele tinha feito questão disso. E foi uma briga para que o

Heitor da faculdade permitisse a presença deles.

— Tem certeza? — insistiu. — Parece pálida. — Observou. — Meu

pai é médico, então se quiser, posso ligar para ele e marcar uma consulta

para você ainda hoje.

Parei de caminhar e o encarei, emocionada com sua preocupação.

Segurei sua mão.

— Agradeço, mas não há necessidade — falei. — De verdade, eu

estou bem.

Lorenzo sorriu de lado.

— Já que insiste nessa teimosia. — Deu de ombros, arrancando-me

uma risadinha. Em seguida, levou minha mão aos seus lábios para beijar o
dorso.

— QUE PORRA É ESSA? — rugiu uma voz que eu reconheceria em

qualquer lugar.
Olhei para o lado, puxando minha mão do Lorenzo num movimento

rápido. O olhar do Manuele era tão assassino quanto sua postura indicava.

Meu amigo arregalou os olhos, tão assustado quanto eu.

— Querido... — tentei me aproximar dele, mas Manuele,

simplesmente, me ignorou e passou por mim feito um caminhão

desgovernado seguindo direto para Lorenzo.

— O que pensa que está fazendo ao tocar na minha mulher, hein, seu
bosta?! — continuou rugindo, intimidando. — Beatrice é minha.

— Me desculpe, cara, eu... — gaguejou, apavorado, enquanto dava

passos para trás — não estávamos fazendo nada demais, eu juro...

Gritei de pavor no instante em que Manuele fechou a mão e socou o

rosto de Lorenzo, nocauteando-o na mesma hora. Lorenzo não era um homem

robusto, pelo contrário, era mais no estilo nerd. Cobri o rosto sentindo as
lágrimas abrilhantando meus olhos.

Corri até meu amigo, que estava caído no chão.

— Lorenzo...? — chamei em desespero. Percebi que estava saindo

bastante sangue do seu nariz.

— Deixe-o, Beatrice — ouvi Manuele dizer, porém, não lhe dei

ouvidos.

Me coloquei de pé, varrendo os olhos ao nosso redor.


— Você! — Apontei para um dos seguranças. — Me ajude a carregá-

lo até o carro. Precisamos levá-lo ao pronto socorro.

— Beatrice...

— Não me toque! — sibilei ao Manuele quando ameaçou me segurar

pelo braço. — Você não podia ter feito isso — avisei, tentando me controlar.

Meu rosto estava banhado de lágrimas. — Não aqui. Não com um dos meus

amigos.

Furiosa, voltei a encarar o segurança, que ainda não tinha movido um

dedo para pegar o Lorenzo. Agradeci que estávamos numa parte pouco

movimentada do campus. Apesar de que seria apenas questão de tempo até


aparecer alguém.

— O que está esperando, soldado? — rosnei, impaciente.

Olhei dele para o Manuele, que permaneceu me encarando por alguns

segundos, mas depois acabou gesticulando para o seu homem me ajudar.

Nervosa, observei-o pegar o Lorenzo nos braços e caminhar em

direção ao estacionamento.

Passei as mãos no rosto de modo a enxugar as lágrimas insistentes.

— Beatrice...

— Não! — cortei Manuele outra vez.


Minha preocupação no momento estava em garantir que meu amigo

ficasse bem.
TRÊS
Beatrice
Minha cabeça estava uma verdadeira bagunça, assim como meu corpo.

Minha respiração irregular deixava claro o quanto toda a adrenalina, da cena

horrenda em que Manuele protagonizou na minha frente, fez um estrago em


meu interior.

Obviamente que eu não podia ser hipócrita em afirmar que jamais


presenciei algo do tipo, pelo contrário, vi coisas bem piores. A morte do

meu próprio irmão — causada por mim — era um cenário o qual jamais

esqueceria; levaria comigo para o túmulo. Entretanto, Manuele se deixou


dominar por seus instintos selvagens, passando por cima do seu cuidado e

respeito por mim.

E isso era inadmissível.

Estávamos há alguns minutos na sala de espera de uma clínica

particular, onde Lorenzo estava sendo atendido. Manuele tentou conversar

comigo mais algumas vezes, porém, continuei o ignorando. Eu não queria

conversar ali.
— Familiares do paciente Lorenzo? — O médico surgiu, verificando

as informações na ficha.

Me coloquei de pé.

— Eu sou uma colega de faculdade — expliquei, angustiada por

informações. — Fui eu quem o trouxe depois que presenciei o acidente. —

Pigarreei, nervosa.

— Certo! — O médico me olhou, em seguida, levou os olhos para

além de mim. Segui seu olhar e me deparei com Manuele bem atrás de mim.

— Esse é meu marido — argumentei, tentando não fazer uma careta de

decepção. — Será que posso ver o Lorenzo?

— Bem, seu amigo sofreu uma lesão no nariz, então é necessário

esperarmos passar 3 a 5 dias consecutivos, para reduzir o inchaço, antes da

reposição dos fragmentos de osso partido no seu local correto (redução).


Esse prazo de espera facilita muito o processo de observar e palpar para os

fragmentos ficarem perfeitamente alinhados. Muitas fraturas nasais não

interrompem o alinhamento e não precisam ser reduzidas, que, infelizmente,

não é o caso do Lorenzo.

Cobri a boca com as mãos, magoada com a situação dele.

— Entendi — soprei, esforçando-me para não chorar. — Posso falar

com ele agora? Preciso saber se ele quer que eu avise a família.
— Claro. — Sorriu. — É o primeiro leito daquele corredor. —

Apontou.

Manuele ameaçou vir atrás de mim, mas o parei.

— Não ouse me acompanhar — sibilei entre dentes.

Pude notar seu rosto escurecendo, mas pouco me importei. Ele não era

dado a aceitar comandos, além dos que recebia do irmão mais velho.
Manuele não gostava de ser contrariado.

Nervosa, dei uma batidinha na porta antes de entrar no leito em que

Lorenzo estava.

Meu amigo se assustou quando me viu.

— Por favor, não se assuste. — Ergui as mãos num esforço para

tranquilizá-lo. — Estou sozinha aqui. — Ele pareceu mais aliviado. —

Posso me aproximar?

Assentiu.

Meus olhos já estavam marejados quando cheguei mais perto e

visualizei o estrago em seu rosto.

— Oh, meu Deus! — exclamei, cobrindo a boca para abafar o choro

da culpa. — Eu sinto muito, Lorenzo — pedi. — Por favor, me perdoe.

Jamais imaginei que meu marido fosse fazer isso com você.
Como eu estava perto da maca em que ele estava, senti sua mão

segurar a minha e apertar. Sem condições de falar, ele apenas sorriu

levemente. Entendi isso como uma aceitação ao meu pedido de desculpas.


Lorenzo era um rapaz muito doce.

Meu coração se aliviou um pouco.

— Quer que eu ligue para alguém? — indaguei depois de me acalmar.

— Seu pai, talvez?

Balançou a cabeça, apontando para sua mochila que estava em cima

de um armário pequeno. Respirando fundo, peguei seu celular e procurei o

nome de algum familiar seu na lista de contatos.

***

Mal entramos em casa e Manuele me segurou pela mão e me puxou

para ele; minhas mãos espalmaram seu peito e pude sentir a velocidade em

que seu coração batia sob meus dedos.

— Beatrice, por favor, querida, fale comigo — implorou, me

encarando com medo cortante. — Não me castigue com sua indiferença.

Eu estava cansada não só fisicamente, mas psicologicamente também,

já que tive que garantir que Lorenzo não contasse a ninguém sobre o

incidente, muito menos a polícia.

— Me solte — pedi num sopro.


— Não — se negou, deslizando ambas as mãos em meu rosto. — Não

posso fazer isso sem saber que estamos bem.

Fechei os olhos, soltando um suspiro baixo.

— Hoje, você me envergonhou no local em que estudo — expus,

calma, olhando diretamente em seus olhos. — Feriu um dos colegas que

custei a fazer, considerando toda a dificuldade que tenho, e você sabe disso.

E o pior de tudo é saber que fez isso por pura desconfiança.

— Querida...

— Você desconfiou de mim, Manuele — atropelei sua tentativa de se

defender. — Desconfiou do meu amor.

— Isso não é verdade.

— A partir do momento em que suas ações são movidas por puro

ciúme, então sim, você não confia na veracidade do meu amor —

argumentei, séria.

Ele ficou calado.

— Agora, por favor, me solte — voltei a pedir.

Mesmo a contra gosto, fez o que pedi.

Eu podia sentir a sua angústia, medo e dor, pois equiparavam-se as

mesmas emoções que me dominavam naquele momento. Odiava brigar com


ele.

— Quero que escolha um dos quartos de hospedes para dormir —

decretei, sentindo meu coração rachar ao meio.

Mas era necessário.

Infelizmente, Manuele precisava aprender com os erros. E ele errou ao

ter descontado suas frustrações numa pessoa inocente.

Naquele momento, tive certeza de que algo muito ruim estava

acontecendo e temi perder meu marido para a escuridão que rondava sua

alma.
QUATRO
Beatrice
Dentro do banheiro, tirei minhas roupas e abri a porta do box. Regulei

a temperatura da água e, em seguida, me coloquei debaixo da ducha,

fechando os olhos ao sentir o alívio em minha pele. O choro irrompeu minha


garganta forçando-me a espalmar a parede fria; meu coração parecia estar

sangrando no peito, apenas com a mágoa por estar distante do homem que eu
amava.

Manuele era minha alma gêmea, mas também era a única pessoa com o

poder de me destruir, já que tinha meu coração em suas mãos.

Lentamente, deixei a água deslizar por minha pele ansiando que

levasse com ela toda sensação ruim. Odiava essa sensação. Odiava me sentir

distante do meu coração... o Manuele.

Longos minutos depois, decidi sair, considerando que minha pele

começou a murchar.

Enrolei uma toalha em meus cabelos loiros, em seguida, enxuguei meu

corpo. Voltei a sentir náuseas, entretanto, consegui controlar o mal estar sem
ter que vomitar outra vez.

Enrolada no roupão, abri a porta do banheiro da suíte e saí. Manuele

estava no quarto, sentado em nossa cama. Minha expressão se fechou na


mesma hora.

— Não entendeu meu recado? — intimei com rispidez. — Não quero

sua presença aqui.

— Esse quarto também é meu — sibilou, nitidamente contrariado.

Tiquetaqueei o maxilar, irritada com suas palavras.

Parei e o encarei com os olhos estreitos.

— Ótimo! — exclamei em revolta. — Então fique com ele. — Segui

até o enorme closet. — Saio eu.

Ouvi seu praguejar.

Estava de costas para ele, mas senti quando se colocou de pé. Seu
desespero era visível.

— Querida, por favor, pare com isso — implorou.

Continuei em silêncio, enquanto escolhia as roupas que iria vestir.

— Não vou conseguir dormir sem você — insistiu, apesar do meu

silêncio torturante. — Não posso dormir sem seu cheiro.


Ignorando-o, passei por ele, depois de escolher uma camisola e uma

lingerie.

— Por que você está... — sua voz se perdeu no instante em que retirei

o roupão, ficando completamente nua em sua frente. Tentei não demonstrar o

calor que seus olhos causaram em meu corpo. —, fazendo isso comigo? —

concluiu a pergunta. — Por favor, me perdoe.

Bufei indignada.

— Se não consegue entender a gravidade do que fez, do que adianta

me pedir perdão?

Vesti a calcinha e, em seguida, coloquei a camisola.

Sem me dar tempo de impedi-lo, Manuele chegou mais perto e me

puxou para seus braços fortes.

— Juro que não sei o que deu em mim — alegou, amparando meu

rosto. Seus olhos estavam desesperados nos meus, causando-me dor. Odiava

a ideia de fazê-lo sofrer.

— Você ficou com ciúmes — murmurei. — Se deixou dominar pelo

seu lado feio. — Ergui uma das mãos e toquei seu rosto. — Se descontrolou

e me deixou assustada.

— Sei disso — admitiu. — E estou arrependido.


Analisei seus olhos, tentando encontrar alguma coisa. Mas as únicas

coisas que vi refletida através deles foram dor, desespero e medo.

— O que está acontecendo com você? — perguntei. — Que tipo de

problemas vem enfrentando para deixá-lo tão estressado desse jeito, hein?

— Fixei nossos olhares, enquanto segurava seu rosto em minhas mãos

quentes. Senti seus beijos em meu pulso. — Converse comigo, meu amor.

Podia visualizar sua luta em se abrir comigo, o que apenas servia para
me desesperar um pouco mais. Sentia-me de mãos atadas.

— Não tem nada acontecendo — respondeu, desviando os olhos. —

Não quero que encha sua cabecinha linda com essas coisas.

Num misto de cansaço e irritação, me afastei dele.

— Saia — ditei, dando a volta na cama.

— Mas...

— Já mandei sair, Manuele — repeti a ordem, me deitando na cama e

me ajeitando entre os lençóis.

Virei-me de costas para ele, apagando a luz do abajur.

Meu coração sangrava com o fato de saber que não estava sendo capaz

de ajudar meu marido. O único dono do meu coração.


CINCO
Beatrice
Alguns dias se passaram desde meu desentendimento com Manuele e,

infelizmente, as coisas entre nós não foram resolvidas e eu sentia que a

situação apenas piorava.

Eu continuava firme em meu propósito de fazê-lo falar o que tanto o

afligia, e com isso, vinha insistindo em nosso afastamento.

— Vou levá-la para a fortaleza — avisou, durante nosso café. — Ou


prefere ficar aqui?

Levei os olhos para ele, do outro lado da mesa.

— Não, eu quero ver o pessoal — falei. — Estou com saudades da

Maya e do Benjamin.

Há alguns dias, Paola e Mariano viajaram em lua de mel, embora


tivessem levado o Luigi, filho dela. Então, no fundo, a viagem foi mais como

um passeio em família. Eu não conseguia colocar em palavras quão feliz me

sentia com essa nova realidade da Paola, a quem eu considerava como uma

irmã que nunca tive.


— Não aguento mais isso, Beatrice — desabafou ele, chamando minha

atenção. Seu olhar era duro em minha direção. — Você nos impôs esse

distanciamento, que apenas está nos fazendo sofrer. Nem estou conseguindo

trabalhar pensando em nós dois, e agora percebo que nem se alimentar

direito você está. — Gesticulou.

Fiz uma careta para a fatia do bolo de chocolate que tinha pegado para

experimentar, mas que meu estômago reclamou somente com o cheiro.

No fim das contas, vinha bebendo apenas líquidos, pois qualquer outra

escolha, o caminho para o banheiro mais próximo era certo.

Soltei um suspiro cansado.

— Está pronto para conversar comigo?

Continuou me encarando, com expressão impaciente dessa vez.

— Teimosa do caralho! — rugiu num praguejar. Em seguida, se

levantou da mesa. — A hora que quiser ir, saiba que já estou pronto.

Dizendo isso, deixou a sala de jantar.

Baixei a cabeça, fechando os olhos de modo a controlar o desejo de

chorar.

***
— Você está com uma expressão triste, Bea. — Observou Maya,

enquanto pegava seu filho dos meus braços. Eu tinha ficado um tempo com

ele para que ela pudesse descarregar as energias na sala de treinos da Paola.

— Aconteceu alguma coisa? Se quiser conversar, saiba que estou aqui pra

você.

Olhei para ela, sentindo-me agradecida. Nós não tínhamos a mesma

ligação que Paola e eu tínhamos, mas éramos unidas pelo forte elo da

amizade.

— Não é nada — menti. — Só estou com um mal-estar. — O que não

era mentira.

Benjamin começou a beijar seu rosto, sugando sua pele e a fazendo rir.

A cena era extremamente encantadora de se ver. Quando Maya chegou na

família, anos atrás, as coisas levaram um tempo para acontecer entre ela e

Rossi, considerando a teimosia de ambos. Como ela foi obrigada a se casar

com ele, demorou a aceitá-lo em sua vida. Por isso, quando a via com o filho

deles nos braços, transbordando felicidade, meu peito inflava de amor.

— Quer que eu chame o Frank? — referiu-se ao médico da família.

Aproximou-se de mim e tocou em minha testa, o que me fez rir. — Apesar de

pálida, não parece estar com febre.

— Foi apenas uma indisposição, Maya, mas já estou melhorando.


Seus olhos me encararam com desconfiança.

— Tem certeza?

Sacudi a cabeça, sorrindo para que ela acreditasse.

— Está certo — disse, virando em seus calcanhares para sair da sala

de piano. — Vou dar comida para o Ben — avisou. — Quer me ajudar com

isso?

Neguei fazendo uma careta, o que lhe arrancou uma risadinha.

— Estou com vontade de tocar um pouco. — Olhei para o piano em

minha frente. — Daqui a pouco procuro por você.

— Tudo bem. — Sorriu. — Até mais.

Assim que saiu, me sentei no banquinho diante do piano de cauda e

foquei minha atenção nas teclas diante de mim. Uma das maneiras de se

combater o estresse era tirando a atenção do que estava causando o estresse.


Ao tocar piano, era exigido concentração, ou seja, o foco deveria estar ali, e

não em qualquer outro problema. Era necessário foco na respiração, na

velocidade, nos intervalos e no ritmo, por exemplo. Isso já era suficiente

para me auxiliar no combate ao estresse.

De olhos fechados, deixei minha criatividade fluir e permiti que meus

dedos tocassem nas teclas; a melodia começou a fluir lentamente, inundando

o ambiente e meus ouvidos. Eu me sentia livre.


Em paz.

Somente eu e minha música.

Era emocionante a sensação de bem-estar causada pela melodia feita

por minhas próprias mãos. A música era capaz de ativar nossas emoções de

uma maneira que quase nenhuma outra arte conseguia — tanto que, no

cinema, ela é uma importante aliada para alcançar esse objetivo.

Me perdi no tempo, apenas me deixando levar pelo som que invadia

não somente meus sentidos, mas também a minha alma.

Assim que terminei, abri os olhos e me deparei com Manuele parado

em frente a enorme vidraça que tomava conta de uma das paredes. Percebi

que suas mãos estavam nos bolsos e seus ombros tensos.

O silêncio foi nossa companhia por alguns segundos.

— Acabei de saber que Luca e Rosa foram alvos de uma emboscada

— contou com a voz dolorida. — Estamos sem comunicação com eles há

algum tempo.

Meu coração acelerou de terror quando meu cérebro absorveu sua

declaração. Mais cedo, Luca e Rosa tinham saído com a intenção de irem

para o México. O plano era que ele levasse a garota, em segurança, para seu

irmão.
— Mandei Fillipo ir atrás deles, mas isso não muda em nada a

preocupação e o medo que tomou posse do meu coração — soprou em

agonia. — Sinto que estou me afogando, sabe? — Virou a cabeça para me

encarar e pude vislumbrar o tormento em seus olhos. — Você tem razão

quando afirma que há algo de errado comigo, Beatrice. Estou prestes a

explodir, e pela primeira vez depois de muito tempo, eu estou com medo.

Medo de perder você. Medo de perder meus irmãos.

Com o coração apertado, me levantei e encurtei o espaço que nos

separava.

Enrolei seus ombros com meus braços e o apertei contra mim o

máximo que pude. Escondi o rosto em seu pescoço onde enchi de beijos.

— Você não vai me perder, meu amor — declarei com fervor. — Eu

estou aqui.

Circulando minha cintura com seus braços fortes, Manuele inspirou o

perfume dos meus cabelos. Consegui sentir o alivio emanando de seus poros.

— Sem você, eu não sou nada, Beatrice. Sou um homem morto.

Segurando seu rosto, tomei o cuidado de encarar seus olhos azuis

intensos, pois queria fazê-lo entender e acreditar em minhas palavras.

— Nós estamos juntos. Eu estou aqui e vou ajudá-lo, entendeu? Jamais

vou desistir de você, que é minha melhor parte.


Uni nossas bocas, gemendo com a sensação prazerosa.

Era uma mistura de amor e saudade.

Era um reencontro de almas.


SEIS
Beatrice
— Isso tudo é saudade? — Paola brincou enquanto eu a apertava em

meus braços. Ela tinha acabado de chegar em minha casa, depois de ter

passado alguns dias em lua de mel.

— Não me julgue por isso. — Lhe dei um beijo estalado na bochecha,

deixando-a sem jeito. — Está cansada de saber quão especial é para mim.

Disfarçando o quanto minhas palavras lhe emocionaram, ela se


afastou, pigarreando.

— Onde está o Luigi? — perguntei, olhando para trás dela.

— Está na aula. Iniciou na escola ontem. — Respondeu com um

sorriso de orelha a orelha.

— Que maravilha! — exclamei. — E ele está se adaptando? —


perguntei. — Venha, vamos para a sala de jogos — convidei, me

encaminhando para lá.

— Meu garotinho é muito inteligente — exibiu-se com orgulho pleno.

— Disse que já fez muitos amigos e que adorou os professores.


Sorri com ela.

— Isso é muito bom — comentei. — O estudo é importante na

construção do ser humano dentro da sociedade.

— É verdade — concordou. — E então? Como estão as coisas por

aqui? O que eu perdi, além do que aconteceu com Luca e a tal garota

mexicana?

Na sala de jogos, cada uma de nós tomou um lugar no sofá. Na

verdade, Paola se jogou sobre o puff gigante.

Franzi o cenho, pensando sobre o que dizer.

Poderia contar a respeito do que vinha acontecendo entre mim e

Manuele, mas de nada adiantaria. Isso era algo íntimo. Algo para

resolvermos sozinhos.

— Por que teria novidade? — rebati na defensiva, dando de ombros.

Semicerrou os olhos em minha direção.

— Não sei — murmurou. — Foi só uma pergunta, ora. Por que ficou

nervosa? O que está escondendo?

Dei uma risada sem graça.

Abri a boca para falar, mas acabei hesitando.

Me coloquei de pé, agoniada demais para continuar sentada.


— Beatrice?

Comecei a andar de um lado ao outro, enquanto esfregava meus braços

num esforço para controlar as emoções.

— Você e Manuele brigaram? — insistiu ela. — Quando cheguei aqui,

senti um clima meio pesado entre vocês dois.

Virei meu rosto para ela, que continuava sentada, mas deixando nítido
a sua preocupação.

— Nós dois estamos passando por uma crise sim, mas sinto que logo

nos resolveremos. — Afirmei, buscando encher meus pulmões de ar. Desde


nossa conversa na sala de piano, há menos de uma semana, eu e ele

vínhamos nos esforçando para nos entendermos. Embora, eu ainda sentisse a

ausência de um esforço maior por parte dele, que não se abria comigo. — O

que está me incomodando é outra coisa.

Paola permaneceu em silêncio, me esperando prosseguir com o

raciocínio.

Inspirando o ar profundamente, voltei a me sentar no sofá.

— Estou com a menstruação atrasada. — Confessei de uma vez,

esfregando uma mão na outra. Os olhos da Paola se arregalaram. — Além

disso, os enjoos se tornaram minha companhia nos últimos dias. E meus


seios... — olhei para baixo, tocando-os com minhas mãos — estão

doloridos.

Assentiu, parecendo absorver minha declaração por alguns instantes.

— Ele já sabe? — perguntou, referindo-se ao Manuele.

Franzi o cenho.

— Não. — Respondi, me jogando para trás. — Primeiro, quero ter

certeza.

Paola permaneceu pensativa com minha resposta.

— Levanta. — Exigiu, se colocando de pé. — Vamos até algum

laboratório. Só teremos certeza depois que você fizer o exame.

Meu coração batia descompassado.

Na verdade, desde que passei a ter essa desconfiança, meu interior se

tornou puro caos. Meu casamento com Manuele estava balançado, então

como ele receberia uma notícia dessas? Ainda mais com tanta coisa

acontecendo ao mesmo tempo?

— Beatrice? — Paola chegou perto de mim e estalou seus dedos em

frente ao meu rosto fazendo-me voltar a realidade. — Pare de sofrer por

antecipação. Além do mais, se estiver realmente grávida a notícia será

maravilhosa — declarou.
Não tinha tanta certeza disso, mas resolvi não falar nada.

***

Acordei abruptamente ao escutar os passos do Manuele pelo nosso

quarto. Não fazia ideia do horário, mas sabia que já era de madrugada.

Fiquei observando-o na penumbra por um tempo, sem mostrar que

estava acordada. Pelo aroma que invadiu o cômodo, deduzi que ele tinha

acabado de sair do banho.

Podia sentir a tensão emanando do seu corpo, deixando claro que seu

dia tinha sido difícil, e eu sabia que tinha sido mesmo. Não fiquei sabendo

de todos os detalhes, mas entendi que algo ruim tinha acontecido assim que

Mariano ligou para Paola, que estava comigo, pedindo para que ela fosse até

a casa de Luca e levasse a Simona, garota que fazia parte da sua equipe.

Me remexi na cama, chamando sua atenção para mim.

— Me perdoe — pediu. — Não queria te acordar.

— Meu sono é leve, você sabe — comentei num murmúrio.

Permanecemos nos encarando, apesar da pouca iluminação do cômodo. —

Você está bem?

Demorou um pouco para responder.

— Não — respondeu depois de alguns segundos. — Não estou bem.


Dizendo isso, virou em seus calcanhares e ameaçou seguir para a

porta. Ainda estávamos dormindo em quartos separados.

Me sentei rapidamente.

— Por favor, não vá — pedi, fazendo-o frear os passos e se voltar em

minha direção. Joguei os pés para fora da cama e me coloquei de pé,

caminhando até encontrá-lo perto da porta. — Estou com saudades.

Espalmei seu peitoral, sentindo o acelerar do seu coração,

equiparando-se ao meu.

Seus olhos ferozes brilharam nos meus com uma emoção nova.

Deslizando a mão do meu rosto a minha nuca, logo senti o calor dos

seus lábios em minha boca.

O beijo foi delicioso e esfomeado.

Firmando minha cintura, Manuele caminhou comigo até que eu pudesse

sentir a maciez do colchão em minhas costas. Seus beijos se tornaram

urgentes e desesperados conforme erguia minha camisola de modo a tocar

minha pele quente com suas mãos.

— Puta que pariu, parece que estou sonhando... — gemeu, cheirando e

mordiscando minha intimidade por cima da calcinha, arrancando-me um

gritinho agudo.

Me coloquei sob meus cotovelos para observá-lo tirar suas roupas.


— Tem certeza de que me quer aqui? — perguntou, fazendo meu

coração se apertar por ele cogitar que eu pudesse ter esse tipo de dúvida.

Me ergui e fiquei de joelhos, segurando seu pescoço e colando nossas

testas.

— Você é o homem da minha vida, Manuele — declarei. — E isso não

mudou e jamais vai mudar, independente dos problemas que estamos

enfrentando. — Mordi seu lábio inferior, me deitando e trazendo seu corpo


comigo. — Só você tem a mim de todas as formas. Apenas você e mais

ninguém.

Ajeitando-se entre minhas pernas, levou as mãos até a lateral da minha

calcinha onde, simplesmente, rasgou a renda frágil. Ambos gememos quando


me penetrou de uma vez só.

— Ah, que delícia! — exclamou, de olhos fechados, exigindo minha

boca na sua. — Esse é meu lugar favorito em todo mundo — declarou, me


encarando com devoção. — Você é minha casa, Beatrice. O meu anjo sem

asas.

Apertei-o contra mim, abraçando sua cintura com minhas pernas e me

permitindo sentir aquela conexão.

Éramos nós dois.


E eu não podia ignorar o amor que sentíamos um pelo outro, a saudade
que sentíamos com todo o distanciamento que nos impus. Além do mais, eu

precisava dar um jeito de resolver nossos problemas, pelo nosso bem e...
pelo nosso bebê.
SETE
Beatrice
— Quer me contar o que aconteceu hoje? — soprei a pergunta,

quebrando o silêncio que nos invadiu há alguns minutos desde que nos

perdemos no corpo um do outro depois de dias de distanciamento.

Ouvi seu suspiro baixo, enquanto continuava a acariciar meus cabelos.

Eu estava aninhada em seu peito, adorando ouvir o som das batidas


frenéticas do seu coração.

— Rosa e Rossi sofreram um atentado hoje.

Choque me abateu naquele momento.

— O quê? — Minha voz não passou de um silvo.

— Eles estavam seguindo para a fortaleza quando dois carros os

interceptaram no caminho — narrou com a voz carregada de um peso


doloroso. — Eu, Fillipo e Luca estávamos na delegacia, conversando com o

delegado, então não pudemos ajudar em nada. Quando a notícia chegou até

nós, o pior já tinha acontecido.

Desesperei-me.
— Pior? Como assim, Manuele?

Me sentei, incapaz de controlar a angústia que me abateu. Ele também

se sentou, e se inclinou para poder pegar sua calça no chão, onde começou a
fuçar nos bolsos atrás da carteira de cigarros. Seu nervosismo era evidente.

— A garota foi levada — respondeu.

— Rosa?! Céus! — Cobri a boca com as mãos, assustada.

— Rossi se feriu no processo, mas nada muito grave —

complementou. — Nosso maior problema agora é encontrarmos o paradeiro


da Rosa.

Se levantou quando acendeu o cigarro. Caminhou até a porta da

sacada, onde abriu de modo a fazer com que a fumaça se espalhasse.

— Luca deve estar arrasado — murmurei, sentindo meus olhos

marejados. — Coitada da Rosa. — Sacudi a cabeça, irritada com a maldade

desse mundo. — O irmão dela já sabe?

— Também não sabemos onde ele está — respondeu antes de dar

outra tragada. — Infelizmente, ainda existem muitas lacunas em toda essa

história.

Soltando um suspiro, voltei a me aninhar na cama, tentando não pensar

no sofrimento da minha mais nova amiga. Nas poucas oportunidades que tive
de conversar com ela, Rosa me pareceu ser uma garota muito doce. Não

merecia nada disso, pelo contrário, merecia seu final feliz.

Assim que terminou de fumar, Manuele fechou a porta da sacada e, ao

contrário do que imaginei que faria, seguiu em direção a saída do quarto.

— Aonde vai? — intimei, me colocando sob meus cotovelos.

Parou com a mão na maçaneta.

— Preciso resolver umas coisas, querida — avisou, e se virou para

me encarar. — De qualquer maneira, não conseguirei dormir. Não com todas

essas preocupações rondando minha mente.

Não falei nada.

Apenas o deixei ir.

***

— Ontem, eu só fiquei sabendo quando Manuele chegou em casa —


falei, abraçando a Maya assim que cheguei à fortaleza. — Como ele está? —

Afastei-me para poder encarar seus incríveis olhos azuis. — E você?

— Agora estou melhor, mas quando o vi fiquei bastante assustada. —


Admitiu, esfregando os próprios braços. — E o idiota ainda tentou me

enganar dizendo que não era nada. — Revirou os olhos, irritada. — Olha, eu

amo aquele homem, mas tem hora que tenho vontade de esganá-lo com

minhas próprias mãos.


De repente, Luigi desceu as escadas correndo, com Thor atrás dele.

— Oi, Lu! — exclamei, abrindo os braços para recebê-lo num abraço

apertado.

— Oi, Beatrice. — Apertou-me em seus braços. — Senti saudades de

você.

Sorri.

— Também senti, querido. — Beijei sua cabeça de cabelos

perfumados. — Agora vá brincar com o Thor.

— Não tinha aula hoje? — questionou Maya olhando para mim.

Neguei com a cabeça.

— Estou no último período, então as aulas não são tão intensas —

expliquei.

— Ah, sim, entendi — disse, seguindo para a cozinha. — Como o Ben

está dormindo, vou aproveitar para comer alguma coisa. Quer?

Meu estômago reclamou na mesma hora apenas com a palavra comer.

Fiz uma careta.

Maya me encarou com desconfiança.

— Já falei que você anda esquisita — comentou, gesticulando. — Tem

certeza de que não está doente?


Sorri, revirando os olhos para o seu drama.

— Estou ótima! — exclamei. — Onde está a Paola?

— Ela e Mariano estão resolvendo o problema que tiveram no

búnquer — respondeu sacudindo a cabeça. — Parece que o local sofreu uma

tentativa invasão ontem.

— Meu Deus! Será que não temos notícias boas nessa família?! —

Soltei um suspiro cansado.

Maya estalou os lábios, parecendo sentir a mesma frustração que eu.

— Acho que vou tocar um pouco de piano — avisei, dando meia

volta.

Entretanto, fui parada pela Maya, que segurou minha mão.

— Se por acaso encontrar o Rossi, por favor, converse com ele —

pediu com a expressão apreensiva. — Tenho medo de que ele... —

pigarreou, nervosa — você sabe como ele reage quando as coisas saem do

controle.

De todos os irmãos, Rossi era o que mais sofria com a perda da irmã
caçula. Infelizmente, ele não sabia lidar com a culpa e se automutilava para

amenizar a dor. Embora, com a chegada da Maya as coisas tenham tomado

outra direção na vida dele.

— Converse com ele — insistiu ela. — Rossi parece escutar você.


Assenti.

Trilhei o caminho da escada e, em seguida, a direção que me levaria

até a sala do piano. Não me surpreendi ao encontrar o Rossi ali.

Estava sentado na poltrona branca de canto. O espaço era amplo e,

extremamente, claro. Feito realmente para um anjo como a menina Bianca

foi.

— Bom encontrar você aqui — comentei, me aproximando. — Como

você está?

Sua expressão, como sempre, não demonstrava nada.

— Estou bem — afirmou. — Ao contrário da Rosa — confidenciou.

— Não consegui impedir que a levassem.

Tomei o cuidado de me sentar na poltrona a sua frente.

— Nem todas as coisas estão em nossas mãos para fazê-las acontecer,

Rossi — ditei. — Você não poderia ter impedido o ataque, porque foi pego

de surpresa. Mas tenho certeza de que fez o possível.

Ele não falou nada, continuou com o olhar para a claridade das

janelas.

— Manuele e eu estamos passando por uma crise — decidi contar.


Tive sua atenção na mesma hora. — Ele afirma que não, mas sinto que

esconde coisas de mim.


Rossi enrugou a testa.

— Acha que ele...

Nem o deixei terminar:

— Não estou falando disso — resmunguei, fazendo uma careta apenas

ao imaginar meu marido com outra. — Mas falo sobre Manuele querer

abraçar o mundo todo sozinho, sabe? Estou sentindo que todo o peso das

preocupações, não somente com a máfia Fratelli, mas também com a Unità
está o empurrando para longe, entende? Para longe de mim.

Rossi levou a mão ao queixo, se tornando pensativo.

— Ele não me disse nada — comentou. — Mas confesso que com


todos os últimos acontecimentos, fiquei relapso com meus irmãos. Não

percebi nada de diferente.

— Eu sei, Rossi — falei com um suspiro baixo. — E não estou te

dizendo isso para acarretá-lo com mais problemas — apressei-me em


explicar. — Você e seus irmãos são muito parecidos neste aspecto. — Sorri.

— Querem abraçar o mundo. Querem fazer mais do que são capazes.

Ele baixou os olhos, sacudindo a cabeça.

— Você é um irmão incrível. Um pai e marido excepcional — apontei,

fazendo-o me encarar com olhos brilhantes. — Saiba que todos nós te


amamos e somos orgulhosos da sua força, da sua coragem e da sua devoção
a família. Se as coisas saíram do controle, não culpe a si mesmo. — Me
coloquei de pé. — Culpe o destino. Culpe o Universo.

Fui até a banqueta em frente ao piano.

— Ou, não culpe a ninguém e, simplesmente, respire — falei, me


preparando para iniciar uma melodia. — Apenas respire, Rossi.

Meus dedos tocaram as teclas, fazendo-me sentir aquela conexão


majestosa que preenchia minha alma e meu espírito.

Abandonei meus pensamentos.

Abandonei minhas preocupações.

E apenas me permiti sentir e sentir e sentir e sentir...


OITO
Beatrice
Acabei de chegar em casa, e caminhei direto para o escritório do

Manuele, pois sabia que o encontraria lá.

Dei duas batidinhas na porta e o ouvi liberar minha entrada. Assim


que abri e ele me viu, me pediu para entrar. Estava falando com alguém ao

telefone, mas encerrou a chamada rapidamente.

— Oi, querida. — Saudou-me, sacudindo a mão no ar de modo a


dissipar a fumaça deixada pelo cigarro recém fumado. — Como foi a aula?

— quis saber.

— Foi horrível — respondi, encurtando o espaço que nos separava.

— Horrível? — Franziu o cenho. — Como assim? O que houve? —


Empurrou a poltrona de rodinhas para trás, de modo a afastar-se da mesa.

Preocupação abrilhantava em seu lindo rosto.

Me aproximei dele, apoiando as mãos em seus ombros e me sentando

em seu colo, com as pernas abertas.


— Foi horrível, porque tudo o que minha mente conseguia pensar era

em você... — levei a boca ao seu ouvido — dentro de mim.

Na mesma hora, ele gemeu e suas mãos desceram para apertar meu
traseiro pressionando-me contra sua protuberância.

— Puta que pariu, Beatrice! — exclamou, tão excitado quanto eu. —

Quer me enlouquecer, hun? — Moeu os quadris contra minha intimidade, que


pulsava incessantemente.

— Não — soprei contra sua boca, de olhos fechados ao me perder em

suas carícias. — Eu quero que você acabe com esse calor entre minhas
pernas. — Me esfreguei sobre sua dureza, sem pudor. Estávamos juntos há

muito tempo para eu ainda sentir vergonha. — Está doendo...

Pegando-me desprevenida, Manuele se levantou comigo e me sentou


sobre o tampo da sua mesa, onde me fez deitar sobre toda a papelada.

Gemi descontrolada quando senti seus dedos massageando-me por

cima da calcinha molhada. Como eu estava de vestido, a tarefa foi fácil e

rápida. Logo, Manuele arrancou minha calcinha, com certa selvageria.

— Vou cuidar de você, querida — prometeu, massageando meu


clitóris delicadamente. — Vou apagar esse fogo que está te consumindo.

Gritei quando sua boca me tocou lá embaixo. Minhas mãos apalparam

os bicos rijos dos meus seios, num esforço para aplacar todo aquele tesão
que estava me dominando.

A verdade era que minha libido aumentou consideravelmente, tanto

que eu dormia e acordava desejando o toque do Manuele... certamente, isso

tinha a ver com os hormônios da gravidez.

— Manuele... — gemi, mordendo os lábios para abafar os gritos

sufocados em minha garganta.

— O que você quer, querida? — perguntou, soprando meu amontoado

de nervos, fazendo-me contorcer toda. Abri os olhos e me ajeitei sobre a

mesa de modo a poder encará-lo sob meus olhos pesados de luxuria. Pude

ver que sua braguilha estava aberta, e que, com uma das mãos, se acariciava.

— Quer o meu pau? Posso ver o desejo brilhando em seus olhos.

Lambi os lábios, que estavam ressecados.

— Quero — admiti. — Quero senti-lo todo dentro de mim. Quero ser


preenchida completamente.

Seus olhos se tornaram tão quentes quanto uma caldeira.

Na mesma hora, se ergueu e se ajeitou entre minhas pernas

lambuzando-se em minha entrada escorregadia. Provocou-me um pouco mais

antes de me penetrar com tudo e até o talo. Ambos gememos com a conexão

única e deliciosa.
As investidas começaram a ganhar um ritmo acelerado conforme o

prazer de ambos ia aumentando. Manuele se inclinou e afundou o rosto entre

meus seios, mordendo os mamilos por cima do vestido mesmo, já que ele
apenas o ergueu embolando-o em minha cintura.

O barulho da mesa arrastando contra o chão deixava tudo ainda mais

cru e selvagem, intensificando minha excitação. Minha pele ardia e meu

baixo ventre queimava com o desejo de gozar.

— Oh, Manuele... — arquejei, abrindo os olhos e me deparando com

seu olhar em meu rosto ruborizado — eu vou gozar.

Avancei a boca na sua, mordendo seu lábio inferior quando os

espasmos me tomaram. Manuele rugiu em reação a minha selvageria.

Agarrei-me a ele, ainda sentindo os efeitos do orgasmo arrebatador. Sua

penetração se intensificou até que ele mesmo se libertou, derramando-se em

meu interior.

Era tão gostosa a maneira sexy como ele gemia em meu ouvido.

Aos poucos, comecei a sentir seus beijos em meu pescoço arrastando-

se para meu rosto até chegar em minha boca.

— O que foi isso? — perguntou, ofegante.

Retirou-se de dentro de mim, e meu corpo reclamou com sua ausência.


— Isso... foi eu desejando meu marido. — Sorri para ele, que sorriu

de volta.

— Mas estou sentindo você diferente nos últimos dias — comentou,


afastando-se e ajeitando sua braguilha. Em seguida, abriu sua gaveta e

retirou um pacote de lenços de papel de dentro. — Mais ousada talvez.

Arqueei as sobrancelhas.

— Está reclamando?

Foi a vez de ele sorrir.

— Não mesmo! — exclamou, pressionando o papel entre minhas

pernas, para limpar o resquício de seu gozo. — Sou louco por você e todas

as suas nuances, querida.

Sorri também, mordendo os lábios enquanto o observava me limpar.

Na verdade, eu estava começando a sentir aquele calor gostoso outra vez.

De repente, seu telefone começou a tocar interrompendo nosso

momento íntimo.

Me sentei na mesa quando ele atendeu.

Podia sentir minha pele suada, pois alguns fios de cabelo estavam

grudando em minha nuca e testa.

Ouvi sua rápida conversa com Mariano.


No dia anterior, Luca e toda uma equipe de homens conseguiram

invadir a cerimônia de casamento da Rosa e livrá-la de se casar a força, com

um homem que sequer conhecia. Fiquei verdadeiramente emocionada quando

soube de tudo o que ela passou.

— O que foi? — perguntei depois que Manuele encerrou a ligação.

— Parece que Luca irritou o irmão da Rosa — disse, estalando os


lábios, um pouco chateado. — Agora o mexicano exigiu que ele cumpra um

desafio para ganhar a permissão de ficar com a garota.

Franzi o cenho.

— Desafio? Que tipo de desafio?

Manuele suspirou, sacudindo a cabeça.

— Não faço a menor ideia, só sei que envolve a todos nós, irmãos.

Continuei sem entender.

— Que esquisito.

Deixando o telefone de lado, voltou a se aconchegar a mim, buscando

meus lábios.

— Teremos que viajar para o México — declarou, arrastando sua

língua quente e macia pela pele do meu rosto. — E eu mal posso esperar

para comê-la naquele país, que comemora até a morte.


Joguei a cabeça para trás, rindo de suas palavras.
NOVE
Beatrice
Eu já tinha tido a oportunidade de conhecer o México, embora a

sensação de contentamento em estar ali outra vez não mudasse. Eu adorava

todas aquelas cores vivas, além das ruínas de antigas civilizações


espalhadas por todas as partes. De origem maia ou asteca, moderna ou

colonial, combinada ou não a um copo de oleosa tequila, sem dúvidas,


existiam diversos motivos para conhecer essa bela e animada nação.

— Ainda não acredito que vocês aceitaram cumprir o desafio junto

com o Luca — comentei, achando graça. Manuele e eu estávamos em um


carro, a caminho da mansão do Angel. — Está nervoso? — O encarei com

um ar brincalhão.

— Sou capaz de tudo pela família, meu anjo. — Deu uma piscadinha.

Apesar de nossa relação ter melhorado nos últimos dias, eu ainda

conseguia sentir que algo o incomodava. Entretanto, não o pressionei mais.

Sabia que na hora certa, ele se abriria comigo.


Minutos depois, o carro passou por um enorme portão onde logo

pudemos avistar o casarão de estilo antigo. O carro que nos acompanhava,

levando Mariano, Rossi e Maya parou ao lado do nosso assim que

chegamos.

Manuele abriu a porta e desceu, eu fiz o mesmo.

Rapidamente, Maya também desceu do carro em que estava e me


puxou pela mão, ansiosa para conhecer o lugar. Nos despedimos dos irmãos

e, juntamente, com Luigi seguimos para a porta de entrada.

***

— Podemos entrar? — perguntei depois de dar algumas batidas na

porta do quarto em que Rosa estava, segundo fomos instruídas.

— Caramba! Luigi foi mais rápido do que nós, Beatrice — comentou

Maya, sorrindo.

— A sua mãe não veio? — Rosa questionou ao Luigi, que foi brincar

com o pequeno Benjamin, quando Maya colocou o menino no chão, sobre o

tapete.

— Paola não pôde vir, pois está trabalhando numa missão importante.

— Foi Maya quem respondeu, enquanto Rosa a abraçava apertado.

— Estou feliz por voltar a rever você, querida. — Afirmei, instantes

depois, abraçando-a também.


Optei por me sentar na poltrona, enquanto Rosa voltava a se sentar na

cama.

— Luigi pediu para vir junto quando soube que iria ver você. Ele

estava com muitas saudades. — Comentei, sorrindo abertamente.

Emocionada, a mexicana começou a fazer cócegas no garoto, que

gargalhou enchendo o quarto de alegria.

— Vejo que você está com um ar mais leve — observou Maya,

encarando a Rosa. — Seu semblante está diferente da última vez em que nos

vimos.

Sorriu.

— Antes de qualquer coisa, quero apresentar minha amiga Belinda. —

Apontou. — Ela está comigo desde que fui trazida para cá.

Nos cumprimentamos.

— Soubemos do que houve —comentei, com expressão assustada. —

Eu fiquei muito preocupada com você.

Rosa baixou os olhos.

— Foi realmente assustador. — Murmurou, torcendo as mãos. — Mas

estou feliz que tudo tenha terminado da melhor maneira possível. Apesar de

que meu irmão acabou inventando essa porcaria de desafio... — revirou os

olhos.
Maya deu uma risadinha.

— Não acreditei quando Rossi me contou sobre o teste — falou entre

risos. — Ele ficou muito puto em ter que aceitar, mas aqueles irmãos são

doidos um pelo outro, então era óbvio que aceitariam. — Rolou os olhos,

mas dava para ver o orgulho em seu olhar. — Admito que estou ansiosa para

ver os cinco irmãos naquele poste. — Gargalhou com vontade.

Sacudi a cabeça, embora também estivesse rindo.

— Não ligue — comentei, gesticulando. — Maya é daquelas que

adoram uma boa dose de perigo — zombei. — Se eu for te contar tudo o que

ela já aprontou...

Rosa sorriu junto, parecendo curiosa.

A conversa perdurou por um bom tempo, até o instante em que o

pequeno Benjamim começou a chorar. Maya pediu licença, alegando que o

filho estava com saudades do pai. Rosa pediu para que Belinda a

acompanhasse, e Luigi foi com elas, porque estava com fome.

Ficamos apenas Rosa e eu.

— Você é realmente maravilhosa, sabia? — Declarei, com os olhos

sobre ela. — Não me admira que Luca tenha se apaixonado por você.

Com o rosto rubro, apenas sorriu fraco.


— Obrigada — agradeceu. — Quando nos conhecemos, eu ainda

estava perdida, não somente da minha casa, mas de mim mesma, sabe? —

contou, nostálgica. — É difícil compreender e aceitar que não existe um

padrão único; de amor, de vida, de corpo, de cabelo, de cor de pele... e eu

tinha muitas dúvidas. Mas... Luca me mostrou que o amor é o elo que nos

une, independentemente, de qualquer dúvida ou diversidade. Ele me aceitou

do jeitinho que sou. E essa foi a melhor prova de amor que alguém poderia

me dar. — Sorriu, emocionada.

Senti meu rosto se iluminar.

— Minha história com Manuele foi parecida com a sua, mas com a

diferença de que eu tive que lutar para fazê-lo entender que era merecedor

do meu amor. Ele não aceitava. Todos eles possuem um coração de ouro,

mas escondem muitos traumas e dores — expliquei com pesar. — Rossi, por

exemplo, não acreditava que pudesse ser amado. E, consequentemente, temia

ser pai um dia, pois colocou na cabeça que não merecia tal dádiva.

— Oh, meu Deus! — Cobriu a boca com a mão, espantada.

Suspirei.

— Eles são bem intensos com seus sentimentos e emoções. —

Murmurei, instintivamente amparando meu ventre, ainda plano — Estou

casada com Manuele há alguns anos, mas ainda sinto que, às vezes, as
sombras tendem a puxá-lo para longe de mim, sabe? É como se eu fosse o

único elo entre o vazio e a humanidade dele.

Franziu a testa, talvez sentindo o peso de minhas palavras.

— Mas isso é muito triste, Beatrice — resmungou, empertigada. — Já

tentou conversar com ele sobre isso? Talvez, ele esteja passando por alguma

pressão, sei lá... Tem muita coisa acontecendo ao mesmo tempo.

— Sim, eu vejo que ele anda bastante atarefado. Quando nos casamos,

ele tomou a frente dos negócios que herdei do meu falecido pai, então

precisa se desdobrar para dar conta de tudo. — Suspirei, cansada. — Tenho

medo de que ele não aguente tanta pressão.

Rosa piscou, analisando e absorvendo minhas palavras.

De repente, juntou nossas mãos e inspirou fundo antes de perguntar:

— É por isso que ainda não contou a ele sobre sua gravidez?

Meus olhos se arregalaram e pude sentir que minhas bochechas

ganharam um tom rosado. Como ela sabia?

Abri a boca diversas vezes para falar, mas acabei hesitando em todas

elas.

— A maneira como você ampara sua barriga te entregou. — Sorriu de


forma acolhedora. — Não se preocupe, não vou contar para ninguém. Seu
segredo estará seguro comigo. — Apertou minhas mãos para dar ênfase ao

que disse antes de soltá-las.

Respirando fundo, abracei a mim mesma, nervosa demais para

raciocinar sobre tudo aquilo.

— É tudo novo e, eu...

— Está com medo — concluiu meu raciocínio. Assenti. — Além de

estar apreensiva com a reação do seu marido.

Meus olhos nublaram.

— Não queria deixá-lo mais sobrecarregado, entende? E um filho é

uma responsabilidade tão grande...

— Ei?! — Tocou meu queixo e o ergueu, exigindo meu olhar no seu.

— Não encha sua cabecinha com preocupações desnecessárias. Sei que


estou na família há pouco tempo, mas na primeira vez que vi vocês dois

juntos, percebi a intensidade do amor que sentem um pelo outro. Manuele


não consegue ficar sem olhar para você, Beatrice. Então acredite em mim,

quando ele souber que está esperando um filho dele, garota... — sorriu
largamente — aquele homem será o mais feliz deste mundo.

— Você acha? — indaguei, sentindo meu coração acelerado e

esperançoso.

— Eu tenho certeza — respondeu, eufórica.


Nesse momento, a puxei para um abraço. Nos erguemos para facilitar.

— Obrigada. — Soprei, acariciando suas costas. — Você tranquilizou


meu coração.

Rosa deixou um beijo estalado em minha bochecha.

— Estou feliz em ter ajudado! — exclamou. — E já aviso que quero

ajudar a cuidar.

Ambas rimos.

Fomos interrompidas pela chegada abrupta de alguém. Era sua amiga

Belinda.

— Está na hora — avisou, esbaforida.

Rosa e eu nos entreolhamos, espelhando o mesmo nervosismo e

expectativa com o que estava por vir.

***

Dias depois
O prazer de assistir à cerimônia do casamento de Luca e Rosa foi tão

emocionante quanto meu próprio casamento. Eu podia culpar os hormônios


da gravidez, mas a verdade era que meu coração era sensível; então eu

chorava com extrema facilidade.


Fungando, me concentrei em escutar as palavras proferidas pelo
reverendo, mas tive minha atenção roubada pelo Manuele, que enrolou seu

braço em minha cintura e me puxou para si. Com o lenço que eu lhe dei — na
minha segunda noite em sua casa, anos atrás — pressionou o tecido abaixo

dos meus olhos de modo a enxugar os resquícios de lágrimas. Em seguida,


juntou nossas bocas num selinho.

— Tão sensível — murmurou com um sorriso amoroso. Voltou a me


puxar para junto do seu corpo, beijando minha cabeça. — Amor da minha

vida.

Naquele momento, me recordei das palavras da Rosa:

“Quando ele souber que está esperando um filho dele, garota...

aquele homem será o mais feliz deste mundo.”

Não controlei o sorriso que se apossou dos meus lábios.

Apertei seu braço em minha cintura, escondendo o rosto na dobra do

seu pescoço e inspirando seu cheiro gostoso. Manuele era minha alma
gêmea.

A ponte entre minha felicidade e minha ruína.

E eu sabia que precisava dele forte, e com a mente cem por cento em
nós — nosso bebê e eu — para que as coisas dessem certo.

Ou, apenas o amor não seria suficiente.


DEZ
Manuele
Apaguei o cigarro no cinzeiro que em cima da mesa de centro,

abandonando o bituca ali. Dei uma olhada no relógio de pulso e, em seguida,

me coloquei de pé.

— Preciso ir — avisei ao Rossi. Estávamos em seu escritório na

fortaleza. Mais cedo, nos reunimos todos ali quando Simona conseguiu abrir
outra pasta do pendrive. Ao todo, somavam-se duas pastas abertas. — Quero

passar na faculdade e pegar a Beatrice.

Como nós estávamos sozinhos ali, Rossi se colocou de pé ajeitando o


paletó branco, encarando-me com intensidade.

— Tem alguma coisa acontecendo em seus negócios que eu deva

saber? — perguntou de repente fazendo-me franzir o cenho pela pergunta


abrupta e aleatória. — Estou perguntando, porque comecei a observá-lo e o

notei inquieto com algo fora da família. — Engoli em seco, absorvendo suas

palavras. Rossi caminhou até estar em minha frente, onde depositou uma das

mãos em meu ombro. — Saiba que estamos aqui. Estamos sempre prontos
para lutarmos as batalhas um do outro se for preciso. Não lute sozinho

quando sabe que tem a nós, seus irmãos. Sua família.

Sorri para ele, agradecido.

— Obrigado, irmão. — Toquei sua mão com a minha. — Mas estou

bem.

Devolveu o sorriso.

Em seguida, nos despedimos e eu deixei seu escritório.

Na verdade, eu jamais o acarretaria com problemas que eram meus;

Rossi já tinha muito com o que se preocupar.

E eu não me perdoaria se, de alguma forma, atrapalhasse sua

recuperação. Meu irmão estava há um longo tempo sem se automutilar por

causa da culpa pelo que houve com nossa irmã caçula, então não o

submeteria ao peso dos meus problemas.

Nem a ele nem ninguém.

Cheguei ao meu carro e entrei, tomando o lado do motorista. Liguei a

chave na ignição e, em seguida, engatei a primeira marcha.

Eu podia afirmar, sem sombra de dúvida, que as últimas semanas

foram as piores da minha vida, considerando que Beatrice se afastou de

mim.
Meu dia podia ser o mais infernal do mundo, entretanto, eu sabia que

ao chegar em casa encontraria minha garota me esperando... sabia que

encontraria descanso em seus braços de amor. Então quando ela nos impôs

esse afastamento, minha base ruiu.

No fundo, entendia seu lado... minha garota me conhecia e sabia que

eu não estava bem. E ela estava certa.

Mas como eu abriria minha caixa de Pandora[1] para ela? Como

encontraria coragem para abrir o jogo e expor a ela a face de todos os meus

demônios? Não poderia fazer isso.

Beatrice era boa demais para toda essa escuridão.

Por isso optei pelo silêncio. Optei por continuar me mantendo calado,
mesmo sofrendo com seu afastamento; mesmo sofrendo com a dor que

invadiu seus lindos olhos.

Minha mente e meus dias foram preenchidos com a tensão dos últimos
acontecimentos, o que de alguma forma, ajudou a amenizar a dor da sua

ausência.

Eu conseguia enxergar seu amor por mim brilhando em seus olhos,


mas também via a acusação... aquela em que se questionava se não era boa o

suficiente para que eu lhe confiasse meus segredos.

E não era nada disso.


Desde que a conheci, Beatrice se tornou o meu tudo.

Meu bálsamo.

Minha fonte de vida e inspiração.

Eu apenas não suportaria vê-la sofrer... embora, estivesse fazendo

exatamente isso.

Droga!

Parei o carro no estacionamento do campus da faculdade no mesmo


instante em que um grupo de estudantes começou a surgir. Beatrice estava

entre eles.

Desci do carro e me recostei na porta, cruzando os braços. Há

algumas semanas, estive ali e as coisas saíram do controle quando vi seu

entrosamento com um colega. Tinha consciência do meu erro, uma vez que,

me deixei dominar por todo estresse que vinha sentindo.

Me arrependia amargamente pelo que fiz com aquele rapaz.

Beatrice estava sorrindo enquanto conversava com seus amigos; foi

impossível não sorrir junto, contagiado pela sua beleza e pela alegria de

saber que era minha.

Somente minha.
Não demorou para seus olhos me encontrassem. Rapidamente, se

despediu do pequeno grupo e correu até mim.

— Você não disse que viria me buscar — comentou, se aproximando.

— Não gostou da surpresa? — perguntei, abrindo os braços para ela,

que se jogou contra meu peito.

— Pelo contrário, eu amei! — exclamou, sorrindo e me beijando.

Acariciando seu rosto com meus dedos, entendi que nada teria sentido

sem ela na minha vida.

Nada.

Com isso em mente, peguei sua mão e me afastei da porta para poder
abri-la.

— Vamos embora — ditei.

Em seguida, dei a volta no veículo e entrei na porta do motorista.

Rapidamente nos tirei dali.

***

— Por que estamos aqui? — indagou ela assim que descemos até

minha sala secreta, o local em que eu usava como meu ateliê de artes.

Observei quando deixou sua bolsa sobre a poltrona e, em seguida, tirou os

saltos. Estava usando uma blusa de alças, folgada, e uma saia que ia até a
altura dos joelhos. Linda. Estava linda. — Por acaso fez algum quadro novo

e quer me mostrar? — Olhou ao redor, procurando.

Nervoso, me servi com uma dose de uísque e bebi tudo num único

gole.

— Quero falar agora — declarei, fazendo seus olhos me encontrarem.

— Estou disposto a me abrir com você.

Piscando, vi quando esfregou as mãos em sua saia. Depois, se sentou

na cama. Certamente, não esperava por isso.

Buscando uma respiração profunda, fui até ela.

Sentei-me ao seu lado, segurando suas mãos.

— Antes, eu não estava pronto — admiti.

Olhando para nossas mãos juntas, ela questionou num sopro:

— E o que mudou?

— Você — confessei com fervor. — Nós dois. — Seus lindos olhos se

fixaram nos meus e pude ver que já estavam marejados. Minha garota era

muito sensível. — Finalmente entendi que somos uma dupla, e isso significa

que devemos ser cúmplices em todas as situações, sendo elas boas ou ruins.

Mesmo que eu me esforce para privá-la das partes feias. — Sorri fraco. —
Eu realmente não me sinto confortável em apresentar-lhe meu lado escuro,

querida.
— Sei que se esforça para me manter dentro de uma bolha protetora o

tempo todo, Manuele, mas sou a sua mulher — afirmou, firme. — Sou a

mulher de um mafioso, e preciso estar preparada para defendê-lo quando

necessário. E para isso, tenho que estar a par de tudo.

Precisava admitir o quanto ela amadureceu nos últimos anos; Beatrice

se tornou muito mais forte do que eu esperava. No fundo, eu sentia que, às

vezes, eu mesmo ameaçava cortar suas asas... por medo.

Medo de perdê-la.

Medo de ela me deixar.

— Eu sei — murmurei, entrelaçando nossos dedos. — Você está certa.

Aliás, sempre esteve. — Sorri, fazendo charme. Voltei a ficar sério, me


preparando para contar. — Quando começou a perceber minha mudança,
semanas atrás, estava certa. Eu não estava bem.

Assentiu, chorosa e expectante.

— Por quê?

Fechei os olhos, tentando evitar que as imagens inundassem meus

pensamentos, mas era impossível.

— Porque um homem morreu em uma operação comandada por mim

— contei, sentindo a dor esmagar meu peito. Beatrice arquejou, mas não fez
nenhum comentário. — Você sabe que estou me esforçando para expandir os
negócios deixados pelo seu pai, então preciso cortar e criar novas alianças.
— Me calei por um momento. — Contratei os serviços de uma empresa de

caminhões para exportar metanfetaminas, obviamente, escondidas em cargas


de alimentos... — pigarreei, nervoso com as lembranças — e funcionou por

um tempo.

Me calei.

Trouxe suas mãos para meus lábios, onde as beijei.

— Alguma organização descobriu o esquema e começou a interceptar

nossas cargas — continuei narrando. — Decidi agir quando passamos a


perder não somente as cargas, mas também os homens. — Me coloquei de

pé, inquieto demais para continuar sentado. — Foi quando planejei uma
emboscada, e reuni os melhores homens da Unità — contei. — Mattia tinha

acabado de ser pai.

— Mattia?

— Um rapaz gentil, leal — respondi com a mente longe. — Fazia

parte de uma das equipes de segurança da minha confiança. Eu não queria


que ele nos acompanhasse, já que sabia do nascimento do seu filho, mas ele

insistiu. — Fiquei de costas para ela, com as mãos na cintura. — Quando


chegamos ao local, nós fomos alvejados.

— Oh, céus! — Beatrice exclamou com a voz embargada.


— Mattia se colocou na frente de uma bala que vinha em minha
direção. — Confessei, me virando para ela. — Ele morreu em meus braços.

Beatrice se levantou, e veio me abraçar.

— Ele morreu no meu lugar, Beatrice — continuei a dizer, sentindo


minha voz falhar por causa do desejo de chorar. A culpa me corroía de

dentro para fora. — Morreu deixando o filho que acabou de nascer. Deixou a
mulher que amava...

— A culpa não foi sua. — A ouvi dizer, afastando o rosto para poder
me olhar nos olhos. — Não há como prever as ações de outras pessoas.

— Desde que isso aconteceu, sinto que algo em mim se quebrou um


pouco mais — admiti com a voz quebradiça —, mesmo eu me esforçando
para não permitir isso. Me fechei em minha própria dor, pois não queria

trazer essa parte sombria para você. Não queria enxergar a decepção em
seus olhos.

— Decepção? — Piscou, sem entender. Amparou meu rosto com as


mãos. — O que aconteceu foi realmente uma fatalidade, mas não foi culpa

sua. Você não deve carregar esse peso, porque não escolheu nada disso.
Você não o mandou se jogar na frente de uma bala por você, embora, nesse

momento, eu não consiga sentir outro sentimento a não ser o de gratidão.


Gratidão por esse homem, que não conheci, ter feito o que fez. Porque ao
entregar sua vida, permitiu que você voltasse vivo para casa. Voltasse vivo

para mim — pausou, me encarando fixamente nos olhos. — Vivo para nós.
— Segurou minha mão e a pressionou em sua barriga.

Pisquei, assustado.

De repente, funguei o nariz e enxuguei as lágrimas na camiseta.

— O-o que você...

— Eu estou grávida — declarou, tão emocionada quanto eu. — Estou

esperando um filho seu.

Novas lágrimas encheram meus olhos, nublando minha visão

completamente.

Amparando seu rosto, comecei a beijá-la desesperadamente, incapaz


de me conter. Era uma mistura de medo.

Amor.

Euforia.

Susto.

Alegria.

— Você está dizendo que... e-eu vou ser pai? — indaguei, meio débil.

Sorrindo entre lágrimas, ela apenas assentiu.


Gritei tão alto que o som equalizou ali dentro. Ergui Beatrice em meus

braços e a rodopiei arrancando-lhe uma gargalhada gostosa.

Quando voltei a colocá-la no chão, me ajoelhei aos seus pés,

pressionando as mãos em sua barriga plana.

— A partir de hoje, prometo que, acima de tudo, você e nosso bebê


serão minhas prioridades — afirmei com fervor. — Farei o possível e o

impossível para fazê-los felizes.

Com as mãos em meu rosto, ela sorriu emocionada.

— Eu já sou a mulher mais feliz deste mundo. — Garantiu, se

ajoelhando também. — E não tenho dúvidas de que nosso bebê será tão
amado quanto eu.

Deslizei os dedos em seu lindo rosto.

— Amo você, meu anjo. Meu amuleto.

Dizendo isso, não resisti ao desejo de avançar a boca em seus lábios

saborosos. Me coloquei de pé, trazendo-a comigo para, em seguida, aninhá-


la entre os lençóis. Passaria as próximas horas amando-a com devoção,

ciente de que nossa vida, juntos, estava apenas começando.

FIM
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[1]
Caixa de Pandora é um objeto da mitologia grega, peça central do mito de Pandora, a
primeira mulher criada por Zeus, um dos mais conhecidos dentre as histórias míticas. Embora
popularizado como uma "caixa" nas versões primitivas do mito tem-se que o recipiente seria um jarro.

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