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RESUMO DA OBRA ‘NOS RASTROS DA GRILAGEM: FORMAS

JURÍDICAS DA GRILAGEM CONTEMPORÂNEA’

Ana Clara Barbosa de Freitas


Igor Sandino de Paiva Crispiniano
Luiz Inacio Borges Filho
Mateus Gabriel de Melo Filgueira
Sofia Guedes Moura

RESUMO

Mossoró/RN
2022
A prática da grilagem, embora seja um fato marcante no passado dos povos,
ainda é vigente no meio em que vivemos, mesmo as vezes sendo quase imperceptível à
sociedade. A grilagem acontece muito com as apropriações ilegais e mediante a
desumanidade com os povos nativos detentores de suas terras. Diante disso, a obra
centra-se na questão agrária na Bahia, sob a discussão da Grilagem e questões
pertinentes a ela. A grilagem está mais atuante nas terras ocupadas por povos e
comunidades tradicionais. E a partir disso, a obra foca na identificação do fenômeno sob
a perspectiva jurídica.

CASO 1 - A origem da fazenda Cristo Rei, na Comarca de Barra

Esse caso aconteceu no Oeste da Bahia, no município de Barra, e envolveu grande


repercussão nos mais de 230 mil hectares grilados, área essa que é ocupada por povos
tradicionais há muito tempo atrás. Esses povos foram enganados e perderam a força nas
suas terras. Griladores enganaram a população tradicional, sendo Rildo Mendes o
primeiro a ter contato com eles. Rildo, em conjunto com outros griladores, conseguiu a
assinatura necessária para ter posse sobre uma grande área daquele território. A partir
disso, toda a região com mais de 46 comunidades começava a ser assediada por
empresas interessadas em implantar negócios e usufruir das terras recém conquistadas,
como o ramo da eólica. Essas comunidades convivem naquele ambiente há mais de 100
(cem) anos e isso demonstra o forte pertencimento e relação nesse ambiente, toda sua
cultura, vida e comércio. A prática da Grilagem fere os direitos concernentes à
propriedade e direitos dos povos tradicionais, bem como utiliza da apropriação de terras
da União e de preservação nacional (é possível observar que esse tema não é discutido
com a importância que deveria, inclusive existe um projeto de lei conhecido por PL da
Grilagem – PL 2.633/2020 – que enfraquece o controle sobre a ocupação dessas terras, e
consequentemente favorece a prática). Portanto, depois da falsificação da dimensão de
terras nos registros imobiliários pelos quais as comunidades foram enganadas fomentou
um dos casos mais conhecidos de Grilagem no Estado da Bahia, inclusive recebendo
uma pequena atenção, após muito tempo de luta, por parte do Judiciário local.

CASO 2 – Prática do saber fazer documento em Santa Maria da Vitória

A região de Santa Maria da Vitória, localizada também no oeste baiano, tem cerca
de 20 mil hectares que é atribulado pela grilagem desde os anos 80, acarretando as
consequências mais temíveis para os habitantes tradicionais locais, cerca de 10
comunidades, que ocupavam a área grilada. Essa apropriação foi feita através de
pequenas aquisições ao redor da região e as transformando em grandes hectares
mediante falsificação de informações no cartório. As decisões referentes ao caso passam
pelo dispositivo da retificação de perímetro de áreas, conforme legalização em lei, mas
sem que atinja o direito de terceiros (Lei de registros públicos, Lei Federal n° 6.015, art.
213, inc. 2° - quando a retificação implicasse em alteração da descrição das divisas ou
da área do imóvel" essa seria feita mediante despacho judicial, após requerimento do
interessado, devendo ser citados para se manifestarem sobre o requerimento de todos os
confrontantes e o alienante ou seus sucessores). Porém, essa legalidade não ocorreu,
pois as exigências legais não foram cumpridas pois as pessoas ao redor das terras não
foram sequer procuradas, e agora eram ameaçadas de expulsão. Após todo esse
desenrolar, os grileiros, encabeçados por um casal fazendeiro da região, começou a
impor fortes restrições através de destruição, violência (com jagunços), expulsão,
ameaças, perda de animais e proibição. Após muito tempo nessa situação, os povos
locais começavam a resistir, chegando a reconquistar alguns locais tomados, e contou
com ajuda de diversas associações, sindicatos, grupos e a própria união local para
buscar seus direitos. Com a ajuda de grupos de advogados, conseguiram o amparo
jurídico e o desmonte da grilagem.

CASO 3 – A (re) edição da grilagem via acordos judiciais em ações discrimina


tórias de terras públicas: o caso dos Baixões
No caso 3 do documento são apresentados métodos comuns de grilagem, mas,
que possui algumas diferenças constitucionais que tornam esse caso um crime um tanto
peculiar e distinto dos demais. O caso se dá na Bahia, mais especificamente na região de
Baixões zona rural do município de Barra e, apesar das tentativas de expropriação da
terra que ocorre desde a década de 70, apenas nos anos 2000 a mesma foi prometida
para negociação às empresas AVG Siderurgia Ltda e Calsete Indústria Comércio e
Serviços Ltda, atingindo cerca de 400 famílias e dez comunidades tradicionais que ali
viviam. Primordialmente, a falsificação inicia com as sucessões do imóvel da fazenda
próxima a região que nos registros é formada por “duas sortes de terra”, e, mais tarde,
“uma e meia légua de terras”. A família responsável pelas terras da fazenda prometeu
aos posseiros e membros das comunidades tradicionais uma regularização de suas terrar,
dando-lhes dimensões muito inferiores das que lhes eram de direito e foram ocupadas.
Cerca de 350 escrituras de compra e venda de terras foram forjadas, terras essas que
sempre lhes pertenceram. O que torna esse crime diferente dos demais é o fato do
Estado da Bahia ter excluído do conflito 27.799 hectares, alegando terem sido
adquiridas de maneira pacífica pela família dona da fazenda, deixando, por conseguinte,
de incorporá-la ao patrimônio público. No entanto, o acordo é considerado um flagrante
inconstitucional, pois “a Constituição Federal e a Constituição do Estado da Bahia
determinam que tais terras devam ser destinadas, prioritariamente, para a política de
reforma agrária e proteção dos ecossistemas naturais”. Desse modo, a ação do Estado
findou em regularizar o processo de grilagem e acarretou grandes consequências, para a
população que lá vivia, para o meio ambiente e uma grave lesão ao patrimônio público.

CASO 4 – A fábrica de ações de usucapião em terras públicas (Gentio do Ouro)

Neste caso, o autor denuncia um novo modelo de grilagem que vem sendo
aplicado por proposições de ações judiciais de usucapião no município de Gentio do
Ouro o na mesorregião Centro Norte da Bahia. Nesse processo, terras públicas
desabitadas vêm sendo reconhecidas como propriedade privada, a partir de decisões
judiciais que violam o decreto que proíbe constitucionalmente a usucapião de terras
públicas. Os juízes partiram do pressuposto de que a terra não possuía em cartório a
documentação necessária que comprova que a mesma era devoluta. Desse modo,
tomaram partidos e acataram a decisão da empresa, violando o artigo 191 da
Constituição Federal de 1988 e artigo 102 do Código Civil de 2002, onde consta que os
imóveis públicos não podem ser adquiridos por usucapião. No entanto, a comprovação
de que essas terras não foram destinadas pelo poder público está, justamente, na
ausência de registros em cartório, pois, no Brasil, a propriedade pública antecede a
propriedade privada. Nesse sentido, não se deve confundir a ausência de registro com a
ausência de provas “pois no caso das terras devolutas, é exatamente a inexistência de tal
registro que comprova que o imóvel nunca foi destacado do patrimônio público”. Em
2013, o Estado da Bahia elaborou um relatório detalhado numerando as 19 ações de
usucapião, contudo, nenhuma medida judicial foi tomada com o viés de reverter as
sansões.

CASO 5 – A grilagem mora ao lado: o caso de Angico dos Dias


A comunidade de Angico dos Dias, em Campo Alegre de Lourdes, tem cerca de
mil habitantes e passou a viver uma série de ameaças ao seu território tradicional desde
a chegada de um empreendimento de mineração, a Galvani Participações e
Investimentos S/A. A população da cidade é predominantemente rural e identifica-se
pelo uso do fundo de pasto. As ocupações das terras onde essas pessoas residem
remontam ao século XIX, por meio da migração de vaqueiros e fuga de escravizados.

As áreas de fundo de pasto permaneceram durante muito tempo intocadas pelas


grandes empresas em virtude, principalmente, do preconceito contra o bioma da
caatinga. No entanto, a cada vez que se verifica que essas áreas possuem algum
potencial econômico, surgem disputas de terra que ameaçam o modo de vida tradicional
dessas comunidades. À medida que a Galvani passou a ocupar a comunidade e comprar
terras a preços baixos – além de assediar moradores que não tinham interesse em vender
seus terrenos, a pressão fundiária na região cresceu: lideranças de Angico dos Dias se
depararam com uma ordem judicial determinando que deixassem suas moradias, em
atendimento a um pedido de Wanderle Dias da Costa, cujo nome futuramente veio a
aparecer em decisão judicial como “contumaz invasor de terras”.

A partir de diversas artimanhas jurídicas, que tiveram condescendência da justiça,


Wanderle passou a afirmar-se como posseiro e proprietário da área que engloba Angico
dos Dias e as comunidades de Acú, Baixãozinho, Baixão Novo, Baixão Grande,
Arueira, Poço do Baixão, Lagoas e Queimada Grande. Após recurso da comunidade, a
liminar que dava a Wanderle a posse desses territórios foi suspensa, mas a questão da
grilagem não foi discutida e o processo permanece em andamento até hoje.

CASO 6 – Do “Escândalo da Mandioca” à luta das comunidades de fundo de


pasto em Areia Grande (Casa Nova)

No fim da década de 70, a Agroindustrial Camaragibe S/A adquiriu imóveis em


Casa Nova, na Bahia, da oligarquia Viana de Castro, por meio da transformação de
recibos de posse de pequenas áreas de terra em matrículas. Isso deu origem a uma
extensa área de terras, da qual a empresa passou a se proclamar proprietária. As posses
não tinham dimensões precisas e eram demarcadas via tradição oral, sendo transcritas
no livro de registro de propriedade sem seguir a lei. De acordo com o oficial do cartório
de Santana de Sobrado, o registro de propriedade das terras se dava a pedido dos
interessados, usando escrituras que mediam as terras em valores monetários, abrindo
assim uma brecha para que áreas de comunidades tradicionais fossem apropriadas
indevidamente.

Após tentar persuadir, sem sucesso, os ocupantes das terras para que eles
permitissem a construção de uma usina de produção de álcool, a empresa ingressou com
uma ação judicial em 1980 para demarcação de terras, com queixa de esbulho, alegando
que os moradores estavam invadindo a propriedade da empresa. O juiz responsável por
julgar a ação, no entanto, observou que a delimitação de terras era confusa e diferiam
muito do que constava nos títulos de posse da empresa. Além disso, o fato dela já ter
reconhecido previamente a posse legítima dos ocupantes da área também teve influência
na decisão.

Apesar disso, a Camaragibe permaneceu com uma parcela dessas terras, das quais o
extinto Instituto de Terras da Bahia (INTERBA) não fez a regularização fundiária após
a ação judicial. A empresa também continua sendo titular do suposto direito de
propriedade dessa área, ainda que sem posse direta.

CASO 7 – “Labutando e remendando a vida”

No estado da Bahia, mais especificamente no município Xique-Xique, no ano de


1961, uma porção de terras foi destinada para assentar famílias deslocadas mediante a
construção da barragem do Sobradinho, um dos maiores lagos artificiais do mundo.
Concomitantemente foi idealizado um projeto de irrigação do local, que só teve sua
viabilidade reconhecida em 1993, sendo iniciadas obras que já seriam paralisadas em
2003. Contudo quando o cartório concedeu a cadeia sucessória dos imóveis, a maior
parte das terras estava no nome da empresa CODEVERDE, que as adquiriu por meio de
um processo ilegal de inventário, passando por diversos nomes, incluso pessoas de força
política, como um deputado e um ex-governador da Bahia, que dava à empresa direito
sobre terras inicialmente pertencentes a João Medeiros Borges, lembrado como membro
da comunidade por outras pessoas. Juntamente a todo o processo jurídico acerca dos
imóveis ocorreu um violento processo de grilagem, invadindo terras originalmente
usadas pela comunidade para pecuária e agricultura, sendo relatadas práticas de
violência extrema e cerco das terras e comunidades, extinguindo parte da tradição e
pondo em risco a parte ainda restante.

CASO 8 – “Quem mora, vive, cria, reza e dança: a comunidade quilombola


de Graciosa”

A comunidade quilombola de Graciosa, situada na área do município de Taperoá,


sul da Bahia, foi vítima de um violento processo de apropriação de suas terras,
tradicionalmente utilizadas para pesca, agricultura e mariscagem. O processo se deu de
maneira particularmente peculiar por envolvimento direto do Governo da Bahia que de
maneira ilegal se apropriou de terras públicas e as repassou de acordo com interesses
privados, pertencendo hoje a um grupo de empresas do ramo de hotelaria e postos de
gasolina, cujo os donos passaram decadas sem cumprir o papel social das terras, sendo
ele feito pela comunidade quilombola de Graciosa. Porém, a comunidade que
simultaneamente luta pelo reconhecimento como comunidade quilombola continua
perdendo suas terras que são idealizadas para serem usadas para a construção de redes
de hotelaria, postos de gasolina e um turismo totalmente desligado das pessoas que ali
habitam. Já não bastando a situação da população local, essa manobra de grilagem
também passa por cima de uma parcela do território composta de manguezais, fauna
permanentemente preservada por lei.

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