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Nos Rastros Da Grilagem - Resumo
Nos Rastros Da Grilagem - Resumo
RESUMO
Mossoró/RN
2022
A prática da grilagem, embora seja um fato marcante no passado dos povos,
ainda é vigente no meio em que vivemos, mesmo as vezes sendo quase imperceptível à
sociedade. A grilagem acontece muito com as apropriações ilegais e mediante a
desumanidade com os povos nativos detentores de suas terras. Diante disso, a obra
centra-se na questão agrária na Bahia, sob a discussão da Grilagem e questões
pertinentes a ela. A grilagem está mais atuante nas terras ocupadas por povos e
comunidades tradicionais. E a partir disso, a obra foca na identificação do fenômeno sob
a perspectiva jurídica.
A região de Santa Maria da Vitória, localizada também no oeste baiano, tem cerca
de 20 mil hectares que é atribulado pela grilagem desde os anos 80, acarretando as
consequências mais temíveis para os habitantes tradicionais locais, cerca de 10
comunidades, que ocupavam a área grilada. Essa apropriação foi feita através de
pequenas aquisições ao redor da região e as transformando em grandes hectares
mediante falsificação de informações no cartório. As decisões referentes ao caso passam
pelo dispositivo da retificação de perímetro de áreas, conforme legalização em lei, mas
sem que atinja o direito de terceiros (Lei de registros públicos, Lei Federal n° 6.015, art.
213, inc. 2° - quando a retificação implicasse em alteração da descrição das divisas ou
da área do imóvel" essa seria feita mediante despacho judicial, após requerimento do
interessado, devendo ser citados para se manifestarem sobre o requerimento de todos os
confrontantes e o alienante ou seus sucessores). Porém, essa legalidade não ocorreu,
pois as exigências legais não foram cumpridas pois as pessoas ao redor das terras não
foram sequer procuradas, e agora eram ameaçadas de expulsão. Após todo esse
desenrolar, os grileiros, encabeçados por um casal fazendeiro da região, começou a
impor fortes restrições através de destruição, violência (com jagunços), expulsão,
ameaças, perda de animais e proibição. Após muito tempo nessa situação, os povos
locais começavam a resistir, chegando a reconquistar alguns locais tomados, e contou
com ajuda de diversas associações, sindicatos, grupos e a própria união local para
buscar seus direitos. Com a ajuda de grupos de advogados, conseguiram o amparo
jurídico e o desmonte da grilagem.
Neste caso, o autor denuncia um novo modelo de grilagem que vem sendo
aplicado por proposições de ações judiciais de usucapião no município de Gentio do
Ouro o na mesorregião Centro Norte da Bahia. Nesse processo, terras públicas
desabitadas vêm sendo reconhecidas como propriedade privada, a partir de decisões
judiciais que violam o decreto que proíbe constitucionalmente a usucapião de terras
públicas. Os juízes partiram do pressuposto de que a terra não possuía em cartório a
documentação necessária que comprova que a mesma era devoluta. Desse modo,
tomaram partidos e acataram a decisão da empresa, violando o artigo 191 da
Constituição Federal de 1988 e artigo 102 do Código Civil de 2002, onde consta que os
imóveis públicos não podem ser adquiridos por usucapião. No entanto, a comprovação
de que essas terras não foram destinadas pelo poder público está, justamente, na
ausência de registros em cartório, pois, no Brasil, a propriedade pública antecede a
propriedade privada. Nesse sentido, não se deve confundir a ausência de registro com a
ausência de provas “pois no caso das terras devolutas, é exatamente a inexistência de tal
registro que comprova que o imóvel nunca foi destacado do patrimônio público”. Em
2013, o Estado da Bahia elaborou um relatório detalhado numerando as 19 ações de
usucapião, contudo, nenhuma medida judicial foi tomada com o viés de reverter as
sansões.
Após tentar persuadir, sem sucesso, os ocupantes das terras para que eles
permitissem a construção de uma usina de produção de álcool, a empresa ingressou com
uma ação judicial em 1980 para demarcação de terras, com queixa de esbulho, alegando
que os moradores estavam invadindo a propriedade da empresa. O juiz responsável por
julgar a ação, no entanto, observou que a delimitação de terras era confusa e diferiam
muito do que constava nos títulos de posse da empresa. Além disso, o fato dela já ter
reconhecido previamente a posse legítima dos ocupantes da área também teve influência
na decisão.
Apesar disso, a Camaragibe permaneceu com uma parcela dessas terras, das quais o
extinto Instituto de Terras da Bahia (INTERBA) não fez a regularização fundiária após
a ação judicial. A empresa também continua sendo titular do suposto direito de
propriedade dessa área, ainda que sem posse direta.