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Resumo da obra ‘Os Custos Ambientais e Humanos do Negócio de Terras:

O caso do MATOPIBA, Brasil”

Ana Clara Barbosa de Freitas


Igor Sandino de Paiva Crispiniano
Luiz Inacio Borges Filho
Mateus Gabriel de Melo Filgueira
Sofia Guedes Moura

Mossoró/RN
2022
1. INTRODUÇÃO

A discussão da obra centra-se nos casos de expansão do agronegócio e impactos


ambientais no ambiente do MATOPIBA, a partir da análise de dois estudos, 2017 e 2018.
“MATOPIBA” é utilizado para se referir a região coberta pelo Cerrado nos estados do
Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, região que tem sido fortemente abalada pela expansão
maléfica do agronegócio. O objetivo central desse estudo é investigar e tornar visível os
problemas relacionados aos danos ambientais e humanos nesse ramo do agronegócio e seus
adjacentes, bem como investigar os países que estão atrás do pano patrocinando todo esse
desarranjo ambiental, como Holanda, Alemanha e Suécia. Portanto, a ideia mais relevante
seria identificar os responsáveis por abusos e violações de direitos humanos e responsabiliza-
los, de forma a remediar os prejuízos causados e impedir novos abusos e violações.

2. A ESTRUTURA CONCEITUAL E ANALÍTICA DESTE RELATÓRIO

A questão da terra voltou a ser fortemente discutida em meios as crises mundiais e


despertou um forte interesse dos grandes detentores econômicos mundiais, desencadeando
uma forte onda desenfreada de apropriações e explorações. Apropriar-se de terras, hoje,
significa o ato de obter o controle sobre vastas extensões de terra e outros recursos naturais
envolvendo grandes capitais, e isso afeta diretamente as pessoas que vivem e necessitam
daquele recurso para sobreviver. Por facilidade, as terras mais visadas são aquelas em que há
posição incerta no sistema de propriedades do Estado, o que se ampara no fato do sistema de
propriedades dos povos tradicionais não tenha tanta formalidade, sendo os indígenas os mais
afetados com isso.

Toda essa narrativa omite o fato daquela terra ser um lar, um refúgio para uma
comunidade local. É notório que a terra e os recursos naturais estão sendo cada vez mais
tratados como bens econômicos e financeiros globalizados, onde a terra é vista como
produtiva, excluindo toda a reserva e consideração com a saúde ambiental. Ocorre então, a
financeirização dos bens naturais, e ela escancara tudo que está por baixo dos tapetes, como
os agentes que financiam, os processos e planejamentos. Esses agentes, por sua parte,
canalizam seus investimentos com a intenção de ter o controle sobre aquela terra e estabelecer
um poder estrutural.

Já com relação aos direitos humanos, tem como objetivo assegurar a vida com dignidade a
todos, sem nenhuma restrição. Com isso, os direitos humanos tentam estipular e averiguar os
limites do poder do Estado, bem como busca estabelecer a conexão existente entre o povo,
que detém os direitos, e os Estados, quem tem deveres. Com isso, torna-se um direito
inalienável e interdependente. As leis que regulam esses direitos impõem obrigações gerais
(deve-se garantir que nenhum indivíduo ou grupo sofra discriminação) e específicas
(obrigação de respeitar, proteger e realizar).

Quanto ao Direito humano ligado à alimentação adequada, é evidente destacar que


constitui um direito fundamental reconhecido pelo DUDH – Declaração Universal dos
Direitos Humanos. Há de se considerar também a seguinte vertente: direito à não sentir fome,
que basicamente diz que não adianta ter alimentação se ela não é acessível a todos, a exemplo
os super preços. Para isso, deve-se garantir que o salário mínimo suporte todas as despesas
referentes às necessidades básicas e ainda para a alimentação adequada. Tais alimentos
também precisam ser obtidos de maneira sustentável, afim de não comprometer as gerações
futuras. Portanto, o Estado deve facilitar, promover e prover esse direito.

O direito à terra também é um direito fundamental, tendo em vista a conexão que existe
entre direitos humanos e terra. A terra é o ponto central indispensável para as comunidades
rurais, já que vivem dela. Algumas diretrizes internacionais cooperam para o reconhecimento
da terra como um direito humano concreto. Tais diretrizes buscam, sobretudo, reconhecer a
titularidade legítima e os direitos de posse, facilitar o acesso à justiça, prevenir disputas sobre
terras e entre outros. Os direitos das mulheres no meio rural também foram discutidos em
2016 pelos Comitês responsáveis, pela primeira vez. Tais direitos incluem a participação
delas nas tomadas de decisões no campo. Com isso, a terra atribui-se como um direito
humano notável.

Ademais, vale destacar que os direitos humanos são universais e isso influencia os países
a respeitar e zelar por esses direitos muito além de suas fronteiras. Inicialmente, os Estados
devem impedir que suas políticas contribuam para a apropriação de terras e interferência nos
direitos humanos, em segundo, devem garantir que outros agentes não prejudiquem os direitos
humanos do povo e por último, o Estado deve responsabilizar todos os agentes que
cometerem abusos contra os direitos humanos do mais fraco.

3. A TERRA COMO UM BEM FINANCEIRO: OS NOVOS ATORES E


FATORES NA QUESTÃO DA APROPRIAÇÃO DE TERRAS NA REGIÃO DO
MATOPIBA
A região da MATOPIBA inclui o Maranhão, Bahia, Piauí e Tocantins, ela foi criada para
o planejamento de um desenvolvimento de atividades de agropecuária e mineração na região.
Seu bioma é o Cerrado, com grande importância social e ambiental para o Brasil, porém vem
sofrendo com uma grande onda de desmatamento, causada, justamente, pela ação do
agronegócio.

Grande parte da região da MATOPIBA, e consequentemente do cerrado, são ocupadas


por comunidades indígenas que vivem do extrativismo local e de forma tradicional. Mas, com
a exploração de terras essas comunidades sofrem constantemente com a violência da falta de
conhecimento da sua cultura e invasão de terras, por não possuírem títulos de propriedade da
maioria das terras das quais vivem. Entretanto, adquiriram o direito de propriedade à essas
terras por meio da usucapião, as “terras devolutas”.

Nesse sentido, as grandes empresas que reivindicam o uso das terras da MATOPIBA para
o agronegócio e extração de produtos naturais, abusam desse fator, extrapolando as fronteiras
e atingindo fortemente as comunidades locais. A venda de terras para negócios fundiários,
com criações de grandes fazendas, causando um enorme desmatamento na região. A
falsificação ou fraude de títulos de propriedade é uma parte fundamental desse negócio, como
uma forma de formalizar (ou ao menos simular) a propriedade de terras que foram obtidas
ilegalmente. No Brasil, essa forma de apropriação ilegal de terras é conhecida como grilagem.

O TIAA (Teachers Insurance and Annuity Association,ou Associação de Seguros e


Anuidades para Professores) é um fundo de pensão privado, sem fins lucrativos, que
administra as contas de aposentadoria de cerca de 5 milhões de professores e profissionais da
área deserviços sociais de 16.000 organizações. Sua sede fica em Nova Iorque e a organização
é a maior investidora internacional em terras agrícolas, além da terceira maior administradora
de imóveis comerciais. O TIAA compra terras agrícolas desde 2007. Grande maioria de seus
cultivos é de commodities. No Brasil, 36% de seu território fica nos estados do MATOPIBA,
45% em São Paulo e o restante no Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Goiás.
O fundo reconhece que seu investimento em terras é uma questão complexa, mas diz que lida
com isso por meio de “diligências próprias”.

Em 2011, o fundo de pensões dos médicos alemães “Ärzteversorgung Westfalen-Lippe”


(ÄVWL), que oferece planos de aposentadoria para mais de 56 mil médicos e administra mais
de 10 bilhões de euros, investiu US$ 100 milhões na empresa de investimentos TCGA I. De
acordo com as informações recebidas durante um encontro com o ÄVWL, o fundo tem o
compromisso de ficar no TCGA I por mais 10 anos, mas sua parte pode ser vendida para
outros grupos que participam do investimento. Na estrutura que rege o sistema de planos de
aposentadoria da Alemanha, os planos de pensão de profissionais, como o ÄVWL, são parte
do ‘primeiro pilar’ dos planos de aposentadoria estatutários. Em conformidade com as normas
políticas da Alemanha, a ÄVWL é uma entidade de direito público e com atribuições de
natureza pública. De acordo com suas diretrizes internas, investimentos em terras não devem
ser realizados se não forem condizentes com as boas práticas de governança estabelecidas
pelo Pacto Global da ONU.

O Stichting Pensioenfonds ABP é um fundo de pensão para funcionários do governo e


profissionais da educação da Holanda cujos ativos superam o valor de 400 bilhões de euros. É
o maior da Holanda e um dos cinco maiores do mundo. Em 2010, o gerente sênior de
commodities do fundo, Jos Lemmens, afirmou que o mundo era, basicamente “a fazenda da
Holanda” após aumentar seus investimentos depois da crise mundial de 2008. Em 2013, o
setor dos fundos de pensão recebe uma breve seção sobre investimentos sustentáveis, que
reflete em grande parte a responsabilidade de reportar-se prevista na Lei de Pensões da
Holanda.

O segundo AP é um dos cinco fundos de pensões complementares da Suécia. Esses cinco


têm como função controlar a flutuação dos principais. De acordo com o AP2, sua estratégia é
“investir em grandes propriedades agrícolas em países com uma estrutura jurídica clara”, mas
reconhecem que no contexto do Brasil isso pode ser um problema. Eles declaram que
preferem investir em países que tem poucos subsídios, e um dos critérios é que o país em
questão deve ter um superavit na exportação de produtos agrícolas. Além do mais, a estratégia
oficial do fundo é a de comprar terras e arrendá-las para empresas agrícolas com o objetivo
principal de cultivar plantas que podem ser colhidas de forma mecanizada (como milho, soja,
trigo e cana-de-açúcar). As terras agrícolas são vistas pelo AP2 como seus investimentos em
ativos de maior prazo, podendo durar até 20 anos. Hoje, há um processo de atualização em
andamento no que diz respeito às normas jurídicas dos fundos de pensões. Em 2017, uma
proposta mais enérgica para a pauta da sustentabilidade e direitos humanos foi apresentada.
No entanto, o objetivo principal continua sendo a obtenção de altos lucros. Ela foi apresentada
em 2018. O AP2 segue as convenções internacionais da ONU, OIT, OCDE e outras mesmo
em países que não tenham aderido a elas ou cuja legislação seja mais fraca.
4. OS IMPACTOS SOCIAIS E AMBIENTAIS DA APROPRIAÇÃO DE TERRAS
NA REGIÃO DO MATOPIBA

A missão internacional de investigação na região do MATOPIBA, que coletou


informações em primeira mão para este relatório, realizou-se na região sudoeste do Estado do
Piauí, na fronteira com o Estado do Maranhão e concentrou-se em dois municípios: Gilbués
and Santa Filomena. A equipe da missão internacional de investigação visitou as seguintes
comunidades entre os dias 6 e 11 de setembro de 2017: Melancias: Esta comunidade está
situada no município de Gilbués. Ela é composta por 53 famílias que se identificam como
ribeirinhos brejeiro. A comunidade se encontra muito prejudicada por conta das nascentes de
água que secaram nos últimos anos devido à diminuição dos níveis de água do aquífero.
Membros da comunidade afirmam que faz cinco anos que a água começou a ficar escassa e os
brejos onde estão os buritizeiros passaram a secar. Consequentemente, as árvores deixaram de
dar frutos. Outras plantas utilizadas na elaboração de medicamentos também estão
desaparecendo. De acordo com seus testemunhos, o rio também está secando e as abelhas e
peixes estão sumindo. Baixão Fechado: Esta comunidade está situada no município de Santa
Filomena e vive às margens do brejo Sucruiu. A comunidade relatou que eles sofrem
constantemente com a ação de grileiros, tiroteios e muita violência devido às disputas por
terra na região. Os grileiros ocuparam não apenas as áreas de chapadas, que eram utilizadas
coletivamente pelas comunidades, e as transformaram em plantações de soja, mas também
têm avançado sobre os baixões das comunidades. De acordo com o uso tradicional da terra
pelas comunidades, as chapadas eram utilizadas para criar animais, caçar e coletar plantas.
Sete Lagoas: Esta comunidade também se localiza no município de Santa Filomena. Eles se
identificam como parte do povo indígena Gamela. A comunidade se estabeleceu na região
como posseiros, sem títulos formais de seus territórios tradicionais. Membros da comunidade
alegam que as famílias estão sendo impedidas de trabalhar e de cuidar das roças, sendo que
algumas de suas roças e casas foram depredadas. Brejo das Meninas: Esta comunidade vive às
margens do rio Riozinho e está situada no município de Santa Filomena. . Eles se identificam
como ribeirinhos. As mulheres da comunidade dependem da extração do buriti e outras frutas
do Cerrado como seus meios de subsistência. Durante a visita, diversos moradores
enfatizaram os problemas causados pelo desmatamento, como a diminuição do número de
animais silvestres, que prejudica as possibilidades de caça. Algumas das áreas usadas pelas
monoculturas foram queimadas e por isso não produzem mais nada, os moradores veem isso
como uma tentativa de expulsá-los de suas terras. Eles também afirmam que os governos
municipais estão fechando as escolas rurais como mais uma forma de forçá-los a deixar suas
terras. Santa Fé: Esta comunidade está localizada no município de Santa Filomena. . Ela é
composta por cerca de 100 famílias, que se identificam como ribeirinhos e têm vivido nessas
terras há mais de 200 anos. É uma comunidade grande que conseguiu consolidar uma
infraestrutura significativa, refletindo claramente o grande trabalho da comunidade catalisado
pelo trabalho missionário do Padre João, com o apoio de ONGs internacionais. Já no tocante
às apropriações de terras e a expropriação das comunidades: Para a população local, a
desapropriação de suas terras é o impacto mais imediato da expansão do agronegócio na
região. Todas as comunidades relataram a tomada de terras, nas quais foram criadas
plantações do agronegócio. Apesar de serem habitantes antigos dessas terras, os direitos das
comunidades sobre elas nunca foi oficialmente reconhecido ou registrado. Com a
expulsão/despejo dessas comunidades dos planaltos, onde hoje existem plantações de soja e
cana-de-açúcar após o desmatamento da vegetação nativa do Cerrado, os baixões tornaram-se
insuficientes. para a sobrevivência e manutenção dessas comunidades. Muitos se viram
forçados a abandonar suas terras de forma permanente, migrando para as cidades, onde vivem
em favelas nas periferias das grandes e médias metrópoles, disponibilizando-se como força de
trabalho precária. De acordo com vários testemunhos, existe um conluio entre as autoridades
públicas, tanto locais quanto estaduais, e grandes empresas do agronegócio, o que facilita a
apropriação de terras e a expropriação das comunidades tradicionais. Brechas na lei acabaram
por gerar um novo método de apropriação de terras, a grilagem verde: como os baixões ainda
possuem uma cobertura vegetal nativa do Cerrado, donos de monoculturas e empresas do
agronegócio passaram a cobiçar essas terras também, para se adequarem à legislação
ambiental brasileira. Os grileiros também têm usado o Cadastro Ambiental Rural (o CAR),
como um instrumento para formalizar suas reivindicações pelas terras. Sobre as disputas por
água e seus meios de uso: A disputa por água e seus meios de uso foi um ponto marcante nos
relatos dados pelas comunidades. As apropriações de terras e expropriações geralmente
ocorrem em áreas onde existe água disponível, como nascentes e os olhos d’água. Como
resultado, o acesso das comunidades à água e recursos pesqueiros, que é crucial para manter
seus meios de subsistência, modos de viver e práticas agrícolas, passa a ser altamente
ameaçado. Sobre o uso de agrotóxicos: O crescente uso de agrotóxicos foi apontado pelas
comunidades como um dos principais problemas causados. Pelas atividades do agronegócio
na região. São inúmeros os impactos. Os agrotóxicos impedem os insetos de atacar as
plantações nas chapadas, mas as pragas descem para os baixões e atacam as plantações de
subsistência das comunidades tradicionais. O uso de agrotóxicos também elimina os
predadores naturais de pragas que já existem, o que torna muito difícil para a população local
proteger suas colheitas dessas pragas. Além de um projeto de destruição do serrado. Relatos
das comunidades indicam que os “projeteiros” e grandes empresas desmataram praticamente
tudo em seu caminho para criar suas plantações, sem deixar uma única árvore do Cerrado de
pé em muitas áreas. Para fazê-lo, utilizam-se de métodos altamente destrutivos, como os
chamados “correntão liso” e “correntão de faca”, que consistem em remover a vegetação por
meio de dois tratores ligados a uma enorme corrente que arrasta e derruba até mesmo as
maiores árvores em seu caminho. Além de eliminar toda a flora, animais de todo o tipo ficam
presos e são esmagados pelas árvores ou cortados pelas correntes. Dessa forma, o correntão
extermina em poucas horas as extraordinárias diversidades social e ambiental do Cerrado, que
levaram séculos e milênios para se formar e estabelecer. Além da violência infligida contra as
comunidades por meio da destruição da natureza que os cerca e sustenta, todas as
comunidades visitadas pela missão vivem em circunstâncias perturbadoras. Essas
circunstâncias envolvem diferentes graus de intimidação, assédio e violência física. Além da
violência infligida contra as comunidades por meio da destruição da natureza que os cerca e
sustenta, todas as comunidades visitadas pela missão vivem em circunstâncias perturbadoras.
Essas circunstâncias envolvem diferentes graus de intimidação, assédio e violência física
transporte, beneficiamento e comercialização do buriti que é parte da cultura alimentar da
região e representa uma fonte de renda importante das famílias e comunidades. Até o
momento, a principal resposta para o aumento dos conflitos por terra na região visitada pela
missão internacional de investigação em setembro de 2017 foi a aprovação, pelo governo do
Piauí, da Lei Estadual N° 6.709 sobre a colonização de terras e regularização fundiária, de 28
de setembro de 2015.151 Esta lei, junto com o Decreto N° 16.324, de 7 de dezembro de 2015,
deu início a um programa de regularização de terras que pertenciam oficialmente ao Estado
do Piauí e foram consideradas como terras devolutas. Como já foi explicado, essas terras não
estão desocupadas, elas são utilizadas por comunidades com base em um sistema de posse
tradicional, frequentemente de natureza coletiva/comunitária.

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