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Capítulo 15

Cirurgia de aumento
de coroa clínica
Tony Rolo, Isabel Poiares Baptista, Sérgio Matos, Orlando Martins
Cirurgia de aumento de coroa clínica

Introdução radicular dos dentes. Assim, o biótipo fino está geral-


mente associado a coroas altas, de forma mais triangular,
Hoje em dia, um sorriso estético não se baseia ape- com pontos de contactos pequenos localizados no terço
nas em factores dentários (forma, cor, alinhamento nas incisal e a raízes de contornos convexos proeminentes,
arcadas) mas implica também a presença de tecidos que favorecem a presença de fenestrações e deiscências
periodontais saudáveis, com um contorno gengival har- a nível da tábua óssea. Por sua vez, o biótipo grosso está
mónico. Neste sentido, a execução de restaurações de um modo geral associado a coroas baixas, mais qua-
estéticas, funcionais e acima de tudo biológicas, pode drangulares, com superfícies de contacto localizadas
implicar o recurso a técnicas cirúrgicas e/ou ortodônti- mais apicalmente e a raízes de contornos mais paralelos.4
cas que visam aumentar a exposição de estrutura den- A avaliação clínica da anatomia supra-alveloar, que
tária supragengival, de modo a preservar a integridade inclui a margem gengival, o sulco gengival, a união
do periodonto.1 Contudo, a necessidade de aumento de dentogengival e a crista alveolar, revela-se de suma
coroa clínica na zona estética nem sempre está relacio- importância para o planeamento de um aumento de
nada com critérios restauradores, permitindo também a coroa clínica. O espaço biológico (Esquema 1) é um
correcção estética de pacientes com sorriso gengival, conceito clínico, definido pela altura da união dento-
principalmente em casos de erupção passiva alterada, e gengival5, sendo esta constituída pela aderência epite-
de outras assimetrias gengivais. Com base num diagnós- lial (epitélio juncional) e pela inserção conjuntiva
tico exaustivo e tendo em conta as particularidades de supra-alveloar.6
cada caso, cabe ao clínico escolher a técnica de O estudo de Gargiulo et al. 19617 e mais tarde, o
aumento de coroa clínica mais adequada.2 Para isso, de Vacek et al. 19948 avaliaram, em cadáveres, as
importa relembrar as noções de biótipo gengival e de dimensões do sulco gengival, da aderência epitelial e
espaço biológico. da inserção conjuntiva, que no seu conjunto repre-
sentam o complexo dentogengival (Tabela 1).
Biótipo gengival e espaço biológico Pela análise destes estudos7,8, o espaço biológico
tem um valor médio de 2mm, em áreas sem patolo-
O biótipo gengival refere-se à espessura do perio- gia periodontal. Contudo, outros autores9 consideram
donto e podemos distinguir duas formas: o biótipo fino, que o sulco gengival também deveria ser integrado no
caracterizado pela presença de uma margem gengival conceito de espaço biológico aumentando o seu
fina, muito festoneada, com papilas mais triangulares, valor médio para 2,7 – 3mm. Estes valores não devem

Inserção conjuntiva
Espaço
biológico
Aderência epitelial Complexo
dentogengival
Sulco gengival

Esquema 1

mais predisposto ao surgimento de recessões gengivais; e ser entendidos como absolutos mas sim como valores
o biótipo grosso, que apresenta uma margem gengival de referência, pois existe uma substancial variabili-
mais espessa, com um contorno mais plano, mais resis- dade intra e inter-individual do espaço biológico
tente a agressões. Estes biótipos estão relacionados com quando avaliado clinicamente. Neste sentido, a regra
a morfologia da crista óssea subjacente3, parecendo exis- de 3mm para o espaço biológico não tem uma apli-
tir também uma relação com a anatomia coronária e cabilidade universal e pode mesmo, em alguns casos,

226
Capítulo 15

induzir em erro.10 O único método preciso para ava- gival das margens da restauração, violando o espaço
liar o espaço biológico num determinado dente biológico. Entre elas podemos citar:2, 10, 13
consiste na sondagem da crista óssea, sob anestesia, – Cáries infragengivais;
numa zona periodontalmente sã.2 – Fracturas infragengivais;
A idade do paciente, o tipo de dente e a migração – Perfurações por tratamento endodôntico ou pela
dentária são alguns dos factores que influenciam a colocação de espigões radiculares (principalmente
dimensão do espaço biológico. Assim, a aderência no terço coronário radicular);
epitelial é maior em indivíduos jovens e diminui com – Reabsorções radiculares externas;
a idade, variando também de acordo com o dente, – Estrutura dentária inadequada para a retenção
sendo maior nos molares do que nos incisivos. O de restaurações;
sulco gengival varia de forma similar segundo o – Coroas clínicas curtas por atricção dentária;
dente, mas de modo inverso relativamente à idade. A – Preparos dentários pré-existentes invadindo o
inserção conjuntiva é a estrutura que apresenta espaço biológico.
menor variação em termos dimensionais.11 Assim, nos
indivíduos mais jovens, o sulco gengival é menos pro- Para além destas, o aumento de coroa clínica tam-
fundo, a aderência epitelial é maior e a crista óssea bém está indicado na resolução de alguns problemas
está localizada mais coronalmente. Nos indivíduos estéticos, como o sorriso gengival, principalmente em
idosos sem doença periodontal, o espaço biológico casos de erupção passiva alterada, e as assimetrias do
encontra-se mais apicalmente, sendo o sulco gengival contorno gengival.2, 10, 13
geralmente mais profundo, a aderência epitelial
menor e localizando-se a crista alveloar numa posi- Contra-indicações do aumento
ção mais apical em relação à junção amelo-cementá-
ria (JAC).7
de coroa clínica
Importa contudo realçar que as dimensões da Devido à natureza irreversível do aumento de
união dentogengival estão geneticamente determina- coroa clínica, é imperativo que o clínico tenha bem
das e são por isso, inalteráveis. Quando violada por presentes as suas contra-indicações, das quais desta-
causas iatrogénicas, esta união irá restabelecer-se camos13:
mais apicalmente, à custa da reabsorção da inserção – Dentes que, por cárie ou fracturas demasiado
periodontal. Neste sentido, a cirurgia de aumento de profundas, não podem ser restaurados;
coroa clínica pretende não apenas expor estrutura – Proporção coroa/raiz desfavorável pós-alonga-
dentária à custa da remoção do periodonto mais mento, devido a raízes curtas ou ao reduzido suporte
coronal, mas principalmente criar condições que per- periodontal;
mitam o restabelecimento da união dentogengival – A manutenção de um dente que compromete o(s)
numa localização mais apical, preservando a integri- dente(s) adjacente(s) em termos estéticos e funcionais
dade dos seus constituintes.11, 12 por remoção de demasiado suporte periodontal ou por
exposição de furcas. Um estudo comparativo em mola-
Indicações para o aumento de coroa res mandibulares, demonstrou que é necessária uma
distância pré-operatória mínima de 4mm entre a furca
clínica e a crista óssea de modo a não correr o risco de desen-
As indicações mais frequentemente citadas para o volver posteriormente uma lesão de furca;14
aumento de coroa clínica referem-se a procedimen- – Dente cujo valor estratégico não é compatível
tos de cariz restaurador, nos quais a preparação den- com a extensão dos procedimentos necessários à sua
tária pode resultar na colocação demasiado infragen- manutenção.

Tabela 1
Gargiulo et al., 19617 Vacek et al., 19948
Dimensões médias dos constituintes do
Sulco gengival 0,69 mm 1,32 mm complexo dentogengival (EB - Espaço
Inserção epitelial 0,97 mm EB 1,14 mm EB biológico).
Inserção conjuntiva 1,07 mm = 2,04 mm 0,77 mm = 1,91 mm
Tabela 1

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Cirurgia de aumento de coroa clínica

Técnicas para aumento de 1) Análise da estética facial e do sorriso


coroa clínica A análise da estética facial e do sorriso deve
incluir a avaliação da simetria facial, da linha inter-
O aumento de coroa clínica pode ser realizado pupilar, da linha do sorriso, da relação da linha média
recorrendo a diversas técnicas, podendo ser divididas dentária com a linha média facial, da exposição gen-
em dois grupos: técnicas cirúrgicas, que incluem a gival na fala e no sorriso, da harmonia das margens
gengivectomia e o retalho de reposicionamento api- gengivais, do tamanho e forma dos dentes, e dos pla-
cal; e técnicas ortodônticas (extrusão dentária forçada nos incisal e oclusal. Esta análise revela-se de particu-
com ou sem fibrotomia). Consoante as especifidades lar importância no diagnóstico diferencial dos casos
de cada caso clínico, estas técnicas poderão ser utili- de sorriso gengival, visto que o seu tratamento é subs-
zadas isoladamente ou combinadas entre si. tancialmente diferente consoante a etiologia. Sendo
A selecção da técnica mais adequada depende assim, o sorriso gengival pode resultar de:2
da futura localização da margem da restauração, da – Um excesso maxilar vertical que leva a um
localização da crista alveolar e da margem gengi- aumento do andar médio da face. Este é um pro-
val, da quantidade existente de gengiva aderente e blema esquelético que, consoante a gravidade,
da quantidade de estrutura dentária disponível, necessitará de tratamento ortodôntico, eventualmente
assim como do número de dentes onde iremos combinado com cirurgia ortognática;
actuar.15 Como se pode constatar, a recolha de – Um lábio curto e/ou hiper-móvel, cujo trata-
todos estes dados deverá resultar obrigatoriamente mento consiste no reposicionamento labial cirúrgico.
de uma avaliação clínica cuidada, de modo a per- – Erupção passiva alterada, em que o tratamento
mitir a elaboração de um plano de tratamento ade- de eleição é o aumento de coroa clínica recorrendo a
quado. cirurgia periodontal (Tabela 2).

Avaliação clínica e plano 2) Análise periodontal


A análise periodontal deve ser efectuada após
de tratamento
conclusão do tratamento da patologia periodontal
A avaliação de um paciente para aumento de presente e redução da inflamação ao mínimo.4 Como
coroa clínica requer uma análise do ponto de vista de já foi referido anteriormente, o método mais preciso
estético, periodontal e restaurador. para avaliar o espaço biológico num determinado

Alongamento Tabela 2
Motivo Técnica Combinação com... Tabela de decisão terapêutica.
Coronário
Adaptado de Camargo et al. 2007.2
Restaurador Extrusão ortodôn- Eventual cirurgia periodontal
tica com ou sem localizada, se ocorrer movi-
Dente isolado
fibrotomia mento coronário da margem
gengival

Cirurgia
Vários dentes
Restaurador periodonal +
contíguos
cirurgia óssea

Excesso maxi-
Ortodôncia Eventual cirurgia ortognática
lar vertical

Lábio curto Cirurgia de


Sorriso e/ou reposicionamento
gengival hipermóvel labial

Erupção Cirurgia
dentária periodontal +
alterada cirurgia óssea
Tabela 2

228
Capítulo 15

Técnica cirúrgica Profundidade Distância da JAC Banda de gengiva Cirurgia óssea


do sulco gengival à crista alveolar aderente
Gengivectomia 3 a 4mm ≥ 2mm Larga Não

Retalho de reposicionamento apical 3 a 4mm < 2mm Mínima (2mm) Sim

Tabela 3
Critérios para escolha da técnica cirúrgica periodontal.

Fig. 1 Fig. 2 Fig. 3

Figura 1 Figura 2 Figura 3


Modelo de estudo maxilar, referente ao Modelo alterado após desgaste, de modo a Guia cirúrgica confeccionada sobre o
caso clínico a apresentar na ilustração de prever o resultado final da cirurgia de modelo alterado.
cirurgia de retalho reposicionado retalho reposicionado apicalmente.
apicalmente (Figs. 7 a 24).

dente consiste na sondagem da crista óssea sob anes- quantidade de gengiva aderente, principalmente se
tesia numa zona periodontalmente sã. Assim, recor- estão programadas restaurações com margens infra-
rendo a uma sonda periodontal, deve-se medir a pro- gengivais, ou melhor, intracreviculares. Nestes casos,
fundidade do sulco gengival, determinar a localiza- é recomendada a preservação de uma banda mínima
ção da crista óssea e a sua relação com a JAC, em de 2mm de gengiva aderente necessária à estabili-
todas as faces do(s) dente(s) que irão ser sujeitos ao dade periodontal9. Assim, se a quantidade de gengiva
procedimento de aumento da coroa clínica. aderente existente é mínima (≤ 2mm), a gengivecto-
Em adultos jovens com periodonto são, a margem mia está contra-indicada, devido ao risco de criação
gengival localiza-se a cerca de 1mm para coronal da de um defeito muco-gengival, sendo o retalho de
JAC, conferindo ao sulco gengival uma profundidade reposicionamento apical a técnica de eleição nesta
média de 1mm. Nos casos em que o sulco gengival se situação particular (Tabela 3).4, 16
apresenta mais profundo (3 - 4mm) e o tecido gengi- Adicionalmente, deverão realizar-se radiografias
val é fibroso, o aumento de coroa clínica cirúrgico é intraorais para determinar o nível ósseo, a forma e a
a solução terapêutica mais indicada, estando a proximidade das raízes.15
escolha da técnica cirúrgica dependente da relação
entre a crista óssea e a JAC. Assim, se a crista óssea 3) Análise restauradora
estiver localizada 2mm para apical da JAC, a gengi- Sob o ponto de vista restaurador e sobretudo nas
vectomia será a mais indicada. Pelo contrário, se a zonas estéticas, o aumento de coroa clínica deve
distância da crista óssea à JAC for inferior, o procedi- compreender a elaboração prévia de um encera-
mento correcto será a realização de um retalho de mento de diagnóstico que mimetize os resultados a
reposicionamento apical com osteotomia, de modo a alcançar, nomeadamente a forma e o tamanho das
restabelecer o espaço biológico (Tabela 3). Importa, futuras restaurações.2, 15, 17 Tendo por base este encera-
todavia, sublinhar que estas opções cirúrgicas apenas mento de diagnóstico, e particularmente nos casos
deverão ser executadas em casos onde exista simetria que englobam mais do que um dente, deve-se
no nivelamento das junções amelo-cementárias, par- confeccionar uma guia cirúrgica (Figs 1, 2, 3), a qual
ticularmente nos incisivos centrais maxilares.11 apresenta diversas vantagens:13, 17
Outro aspecto a ter em conta é a avaliação da – Permitir a localização intra-oral dos bordos inci-

229
Cirurgia de aumento de coroa clínica

sais e das margens das restaurações, o que é particu- ções provisórias no momento da cirurgia facilitará o
larmente importante quando não existe estrutura den- acesso às áreas interproximais e, por conseguinte, a
tária suficiente para a colocação de uma restauração eventual osteotomia a realizar nessas zonas.2, 15
provisória prévia;
– Fornecer uma antevisão da forma e proporção Técnicas ortodônticas
dos dentes, permitindo a participação do paciente na Em algumas situações clínicas, o sucesso estético
avaliação estética da reabilitação a executar; da restauração pode estar dependente da manutenção
– Facilitar a comunicação entre profissionais, no do nível da margem gengival ou da sua alteração para
caso dos procedimentos cirúrgico e restaurador uma posição mais favorável. Noutras, o sucesso fun-
serem executados por clínicos diferentes; cional depende da manutenção da proporção
– Possibilitar a avaliação da gengiva aderente coroa/raiz, assim como da integridade do suporte
remanescente, contribuindo assim para a escolha da periodontal dos dentes adjacentes. Nestes casos, as
técnica cirúrgica; técnicas ortodônticas apresentam claras vantagens
– Guiar o traçado da primeira incisão durante a sobre as cirúrgicas, principalmente no aumento de
cirurgia, facilitando a reprodução do festoneado gen- coroa clínica de dentes isolados (Tabela 2). A erup-
gival elaborado no enceramento; ção/extrusão dentária forçada, quando efectuada de
– Permitir a avaliação da quantidade de osso a eli- um modo lento e contínuo, permite a migração de
minar durante a cirurgia óssea e guiar a osteotomia, todo o periodonto juntamente com o movimento coro-
de modo a que esta seja adequada ao plano restaura- nal do dente, conseguindo-se assim nivelar margens
dor pré-estabelecido; gengivais e também corrigir defeitos ósseos angulares.
– Favorecer a avaliação radiográfica prévia da Contudo, no final da extrusão lenta, poderá ser neces-
futura proporção coroa/raiz, quando confeccionada sário proceder a um recontorno ósseo localizado para
num material radiopaco. expor mais estrutura dentária. Contrariamente, com a
Resumindo, a utilização de uma guia cirúrgica extrusão ortodôntica rápida associada a fibrotomia das
aumenta a previsibilidade do resultado final. fibras supracrestais, consegue-se um aumento de coroa
Nos casos de cariz restaurador, para além da guia clínica sem alteração da margem gengival, pois os teci-
cirúrgica, e sempre que possível, deve–se previa- dos periodontais não são deslocados coronalmente. A
mente executar as restaurações provisórias dos dentes principal desvantagem da erupção dentária forçada
que vão ser sujeitos ao aumento de coroa clínica. refere-se ao decrescente diâmetro da raiz extruída. Isto
Estas restaurações, quando devidamente confeccio- é, devido à sua forma cónica, a raiz apresentará ao
nadas, irão permitir reduzir o componente inflamató- nível da margem gengival um diâmetro inferior ao
rio presente a nível da união dentogengival e avaliar dente contra-lateral correspondente. Consequente-
a resposta tecidular antes da selecção da técnica mente, esta discrepância poderá ser compensada pelo
cirúrgica.15 Para além disso, a remoção das restaura- perfil de emergência da restauração.2, 15

Fig. 4 Fig. 5 Fig. 6

Figura 4 Figura 5 Figura 6


Assimetria das margens gengivais dos Gengivectomia na margem do dente 11. Cicatrização aos 6 meses.
dentes 11 e 21.

230
Capítulo 15

Descrição das técnicas cirúrgicas lar. Assim, em zonas onde o recontorno ósseo seja
periodontais necessário, a simples eliminação dos tecidos moles por
gengivectomia apenas produzirá um aumento de coroa
Gengivectomia clínica temporário, uma vez que após a cicatrização,
A gengivectomia18 é um procedimento cirúrgico estes tecidos recuperam a sua dimensão geneticamente
simples que foi desenvolvido com o objectivo de eli- pré-determinada, não resultando qualquer ganho de
minar bolsas periodontais supra-ósseas, pela excisão altura na coroa clínica. Este “alongamento coronário
dos tecidos moles. Contudo, hoje em dia, a sua indi- ilusório” pode induzir o clínico a executar uma restau-
cação resume-se ao tratamento de hipertrofias gengi- ração com a margem demasiado próxima da crista
vais podendo ser realizada a bisel externo ou a bisel alveolar, violando assim o espaço biológico.2
interno11 (Figs. 4 a 6).
Numa situação de aumento de coroa clínica, a téc- Retalho reposicionado apicalmente
nica de gengivectomia apenas está indicada quando a A cirurgia de retalho reposicionado apicalmente,
distância entre a crista óssea e a margem gengival for também chamada de retalho posicionado apical-
muito superior a 4mm, de modo a que a crista óssea se mente, foi desenvolvida inicialmente para eliminar
localize a mais de 3mm da futura margem gengival, res- bolsas periodontais e preservar a banda de gengiva
peitando o espaço biológico e preservando ainda uma aderente, uma vez que possibilita a cirurgia óssea res-
banda suficiente de gengiva aderente.11 Como já foi sectiva. Actualmente, esta técnica também tem como
anteriormente referido, em zonas onde a banda de gen- indicação os casos de aumento de coroa clínica em
giva aderente é mínima (cerca de 2mm), a gengivecto- múltiplos dentes adjacentes. Para além de conservar o
mia está contra-indicada, pelo risco de criação de um tecido queratinizado existente, deslocando-o para
defeito mucogengival.16 A principal limitação desta té- uma posição mais apical, outro objectivo é possibili-
cnica é o facto de não permitir o acesso à crista alveo- tar acesso ao osso alveolar, permitindo efectuar a

Fig. 7 Fig. 8

Figura 7
Análise estética do sextante anterior:
coroas clínicas quadradas, margem gen-
gival espessa pouco festoneada e exten-
sa banda de gengiva aderente.
Figura 8
Sorriso gengival por erupção passiva
alterada.
Figura 9
Medição da altura da coroa clínica –
8mm.
Figura 10
Sondagem ao osso (sob anestesia) –
4mm.

Fig. 9 Fig. 10

231
Cirurgia de aumento de coroa clínica

Fig. 11 Fig. 12 Fig. 13

Fig. 14 Fig. 15 Fig.16

Fig. 17 Fig. 18 Fig. 19

Figura 11 Figura 13 Figura 17


Colocação da guia cirúrgica, prevendo a Demarcação dos pontos que delineiam Medição da distância do bordo incisal à
localização da nova margem gengival. É a incisão primária. crista óssea (12mm). Neste dente
possível identificar a quantidade de Figura 14 verifica-se que a crista óssea se situa
tecido gengival que se pretende Incisão primária em bisel interno, praticamente sobre a JAC.
eliminar. festoneada, unindo os pontos marcados. Figura 18
Figura 12 Figura 15 Osteotomia e osteoplastia com brocas
Pormenor da marcação, na superfície Após terminada a incisão e removido o diamantadas, com irrigação abundante.
gengival, da nova margem gengival. colar de tecido gengival. Figura 19
Importa sublinhar que durante este Figura 16 Osteoplastia com lima de Sugarman, de
procedimento a guia tem que estar Descolamento do retalho de espessura modo a recriar as depressões
bem adaptada nos bordos incisais. total. interradiculares.

232
Capítulo 15

Figura 20
Terminada a cirurgia óssea, verifica-se a
distância da crista óssea à JAC, sendo de
2,5mm.
Figura 21
Sextante anterior após a
osteotomia/osteoplastia.
Figura 22
Controlo com a guia cirúrgica para
verificar distância à crista óssea.
Fig. 22 Figura 23
Após adaptação preliminar do retalho,
verifica-se a distância da crista óssea à
margem gengival.
Figura 24
Sutura do retalho reposicionado
apicalmente, recorrendo a pontos de
colchão verticais internos nos espaços
interdentários, sendo o nó colocado por
palatino (6/0 ácido poliglicólico).
Figura 25
Imagem clinica inicial (a cinzento) e de
um controlo aos 3 meses após a
cirurgia.

Fig. 20

Fig. 23

Fig. 21 Fig. 24

Fig. 25

233
Cirurgia de aumento de coroa clínica

remodelação óssea necessária ao restabelecimento cido do aumento de coroa pretendido, como já foi
do novo complexo dentogengival (Figs. 7 a 24). explicado previamente.
Os passos gerais deste procedimento cirúrgico, Restabelecidas as dimensões e relações deseja-
descritos por Friedman (1962)19, podem, quando apli- das, o retalho é posicionado apicalmente na sua nova
cado aos casos de aumento de coroa clínica, e espe- posição e suturado. Geralmente, está recomendada a
cialmente em zonas estéticas, sofrer pequenas adap- utilização de pontos de sutura interdentários, em col-
tações de acordo com os objectivos particulares de chão vertical, entre a gengiva aderente vestibular e a
cada caso. O procedimento inicia-se por uma incisão mucosa palatina.20
intrasulcular, festoneada, até contacto ósseo, preser-
vando assim o tecido queratinizado. Nos casos em Maturação pós-cirúrgica
que também se tem por objectivo diminuir a espes-
sura e/ou altura exagerada da gengiva aderente, pode Um dos aspectos importantes do aumento de
optar-se pela realização de uma incisão paramarginal coroa clínica prende-se com a estabilidade pós-ope-
em bisel interno, a qual resultará na excisão de uma ratória da margem gengival durante o período de
porção de tecido gengival marginal. A extensão cicatrização. Este ponto reveste-se ainda de alguma
proximal do retalho depende da amplitude do alon- controvérsia, com resultados que vão desde a reces-
gamento, sendo que quanto mais apical for o deslo- são gengival,21 passando pela estabilidade da margem
camento, mais o retalho deverá ser estendido, de gengival,21, 22 até à sua migração coronária.23, 24
modo a harmonizar os contornos gengivais dos dife- Todavia, apesar destas divergências, existe algum
rentes dentes envolvidos. A guia cirúrgica realizada consenso no tempo de espera para a finalização das
previamente, é fundamental para a localização desta restaurações. Assim, nas áreas onde a estética é pre-
incisão. ponderante, a maioria dos autores recomenda um
Nas extremidades mesial e distal da primeira, período de cicatrização mínimo de 6 meses para o
efectuam-se incisões de descarga verticais ou ligeira- posicionamento final da linha de acabamento cervi-
mente divergentes para apical, penetrando profunda- cal e para a toma de impressões definitivas,12, 21
mente na mucosa alveolar e ultrapassando a linha havendo, no entanto, quem aconselhe esperar 12
muco-gengival, de modo a permitir, no final, o repo- meses.23, 25 Recentemente, um estudo clínico contro-
sicionamento apical do retalho sem qualquer prega. lado22 demonstrou que, após um aumento cirúrgico
Contudo, sempre que possível, devem evitar-se as de coroa clínica, o espaço biológico restabelece a
incisões de descarga no sextante anterior por implica- sua dimensão vertical original ao fim de 6 meses,
rem um compromisso estético. validando assim o período de cicatrização sugerido
Procede-se então ao descolamento do retalho previamente por outros autores.
mucoperióstico, de espessura total, expondo a super- Durante a fase de cicatrização, existe algum grau
fície óssea vestibular alguns milímetros, de acordo de exposição radicular, assim como das margens das
com a extensão da correcção óssea a efectuar. Para restaurações provisórias, facto nem sempre bem tole-
além desse ponto inicia-se a dissecção do retalho em rado pelos pacientes, por motivos estéticos.2 No
espessura parcial, de forma a manter o periósteo entanto, é desaconselhada a execução de qualquer
recoberto por tecido conjuntivo gengival. Nesta fase tratamento restaurador durante, pelo menos, as pri-
é necessário ter especial atenção para evitar a perfu- meiras 6 semanas de cicatrização,21 sob o risco de
ração do retalho. perturbar a cicatrização da união dentogengival, pela
De acordo com os princípios da cirurgia óssea introdução inadvertida de material restaurador. Após
ressectiva, procede-se então à correcção óssea. este período, poder-se-á executar uma preparação
Geralmente há uma combinação entre osteotomia intermédia das coroas e o rebasamento dos provisó-
(eliminação de osso de suporte, onde se inserem rios. Contudo, a nova linha de acabamento cervical,
fibras de Sharpey) e osteoplastia (remodelação do temporária, não deverá ficar a menos de 4mm da
contorno e espessura ósseos), recorrendo a instru- crista óssea, de modo a não violar o espaço biológico
mentos rotativos e manuais. A extensão da excisão em formação. Como já foi referido anteriormente, a
óssea deverá ter sido previamente avaliada, tendo posição final da linha de acabamento cervical deverá
em conta o valor inicial do espaço biológico acres- aguardar a maturação completa dos tecidos.2

234
Capítulo 15

Bibliografia
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