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DOSSIÊ DO PROFESSOR págin@as 10

TESTES DE AVALIAÇÃO

TESTE DE AVALIAÇÃO 4

GRUPO I

A. Lê o seguinte texto e consulta as notas apresentadas.

Vem a Mãe e diz: MÃE Sempre tu has de bailar


e sempre elle há de tanger?
MÃE Pero Marquez foi-se já? Se não tiveres que comer
INÊS E pera que era elle aqui? o tanger te há de fartar?
E não t,’agrada elle a ti?
MÃE 25 INÊS Cada louco com sua teima.
Va-se muitieramá1! com ũa borda de boleima4
5 INÊS
que sempre disse e direi: e ũa vez d’agua fria
mãe, eu me não casarei não quero mais cada dia.
senão com homem
MÃE Como às vezes isso
discreto.
30 queima.
10 E assi vo-lo prometo E qu’é d’esses escudeiros?
ou antes o leixarei.
Que seja homem mal feito, INÊS Eu falei ontem ali
que passaram por aqui
feio, pobre, sem feição os judeus casamenteiros
como tiver descrição
35 e hão de vir agora aqui.
15 não lhe quero mais proveito.
E saiba tanger viola, Gil Vicente, Farsa de Inês Pereira,
E coma eu pão e cebola Porto: Porto Editora, 2020.
siquer ũa canteguinha
discreto, feito em farinha2
20 porque isto me degola3.

Responde de forma completa às seguintes questões.

1. Explicita um traço psicológico que caracterize Inês Pereira e outro relativo à Mãe, ilustrando a resposta com
citações relevantes.

2. Refere duas expressões do texto que produzem um efeito cómico, fundamentando a resposta.

3. Identifica o recurso expressivo presente em “Se não tiveres que comer/o tanger te há de fartar?” e explicita o
seu valor.

1
muitieramá – em muito má hora.
2
feito em farinha – meigo.
3
degola – agrada.
4
boleima – bolo.

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TESTES DE AVALIAÇÃO

B. Lê os dois textos e consulta as notas apresentadas.

TEXTO 1
INÊS Que pecado foi o meu?
Porque me dais tal prisão?
ESC. Vós buscastes descrição,
que culpa vos tenho eu?
5 Pode ser maior aviso,
maior descrição e siso
que guardar o meu tisouro?
Não sois vós, molher, meu ouro?
Que mal faço em guardar isso?
10 Vós não haveis de mandar
em casa somente hum pelo
s’eu disser isto he novelo,
havei-lo de confirmar.
E mais, quando eu vier
15 de fora, haveis de tremer
e cousa que vós digais
não vos há de valer mais
daquilo que eu quiser.
Gil Vicente, Farsa de Inês Pereira, Porto: Porto Editora, 2020.

TEXTO 2

Vem Branca Annes, a brava, e Marta Dias, a mansa, e vem dizendo a brava.

BRA Pois casei má hora, e nela,


e com tal marido, prima,
comprarei cá ũa gamela,
5 para o ter debaixo dela,
e hum gram penedo em cima.
Porque vai-se-me às figueiras,
e come verde e maduro;
e quantas uvas penduro
10 jeita nas gorgomileiras1:
parece negro monturo2.
Vai-se-m’ às ameixieiras
antes que sejam maduras,
ele quebra as cerejeiras,
15 ele vindima as parreiras,
e não sei que faz das uvas.
Ele não vai à lavrada3,

1
gorgomileiras – goelas.
2
monturo – monte de lixo.
3
à lavrada – à jeira; ao campo da sementeira.

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TESTES DE AVALIAÇÃO

ele todo o dia come,


ele toda a noite dorme,
20 ele não faz nunca nada,
e sempre me diz que há fome.
Jesu! Posso-te dizer,
e jurar e tresjurar,
e provar e reprovar,
25 e andar e revolver,
qu’ é melhor pera beber,
que não pera maridar.
O demo que o fez marido!
que assim seco como he
30 beberá a torre da Sé:
então arma um arruído
assi debaixo do pé4.

Gil Vicente, Auto da Feira, Porto: Porto Editora, 2014.

Responde de forma completa às seguintes questões.

4. Tendo em conta o ponto de vista feminino, apresenta uma característica idêntica e uma atitude diferente das
duas personagens masculinas referidas nos dois excertos de Gil Vicente.

5. Completa as afirmações abaixo apresentadas, selecionando a opção adequada a cada espaço. Regista apenas
as letras – a), b) e c) – e, para cada uma delas, o número que corresponde à opção selecionada em cada um
dos casos.

Nos excertos transcritos, é possível encontrar várias características da obra de Gil Vicente, nomeadamente a
caracterização das personagens através do uso da interrogação retórica, presente em ……a)……. O recurso à
metáfora permite também apreciar o seu caráter, como em ……b)……. A sátira da obra vicentina serve-se,
frequentemente, do cómico de linguagem, como é visível em ……c)……. .

a) b) c)
1. “Que pecado foi o 1. “Não sois vós, molher, meu 1. “s’eu disser isto he novelo, / havei-lo
meu?” (1 – v. 1) ouro?” (1 – v. 8) de confirmar” (1 – vv. 12-13)
2. “Porque me dais tal 2. “parece negro monturo” 2. “e jurar e tresjurar, / e provar e
prisão?” (1 – v. 2) (2 – v. 11) reprovar, / e andar e revolver”
(2 – vv. 23-25)
3. “Que mal faço em 3. “ele todo o dia come, / ele toda a
guardar isso? (1 – v. 9) noite dorme, / ele não faz nunca 3. “qu’ é melhor pera beber, / que não
nada” (2 – vv. 18-20) pera maridar. (2– vv. 26-27)

C.

6. Tendo em conta a tua experiência de leitura, demonstra, numa exposição de 100 a 170 palavras, de que forma
as obras de Gil Vicente são um exemplo da representação do quotidiano, fundamentando as tuas afirmações.

A tua exposição deve apresentar a seguinte estrutura:


• uma introdução ao tema;
• um desenvolvimento no qual distingas atores individuais de atores coletivos;
• uma conclusão adequada ao desenvolvimento do tema.

4
arma ... do pé – arranja questões por motivos insignificantes.

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TESTES DE AVALIAÇÃO

GRUPO I
Nas respostas aos itens de escolha múltipla, seleciona a opção correta.
Escreve, na folha de respostas, o número do item e a letra que identifica a opção escolhida.

A arte do galanteio no século XIX


Amor e galanteio variam de acordo com a sua inscrição espacial e social. Por isso, os galanteios
urbanos distinguiam-se dos rurais, da mesma forma que se diferenciavam em função do estatuto social
dos amantes. Até meados do século XIX, o espaço público das cidades encontrava-se segregado segundo
o género de quem o frequentava. O estatuto de “homem público” era atribuído a quem gozava de prestígio
social, reconhecimento público. Em contrapartida, “mulher pública” era a designação outorgada à
5 prostituta, precisamente porque circulava num espaço de domínio masculino, transgressão carregada de
suspeição. À mulher virtuosa estava consagrado o espaço doméstico. Era em casa que devia ficar tendo
quando muito permissão para tomar chá em casa de amigas ou frequentar cultos religiosos. (...)
Refugiadas no espaço doméstico, as mulheres logravam adquirir uma boa reputação que lhes permitia
manter ou conquistar um casamento. Para tomarem ar podiam assomar à janela, mas muito discretamente.
As solteiras arriscavam namorar à janela. O namoro de estaca, como também era conhecido, era tolerado
10
por algumas mães e mais bem acolhido pela vizinhança, matronas desejosas de não perder pitada do
namoro da filha da vizinha. Os amantes sentiam, por isso, o seu espaço de intimidade violado. Os mais
astutos acabariam por descobrir uma maneira de burlar a bisbilhotice da vizinhança mediante bilhetinhos
amorosos que se baixavam e erguiam por um cordel que se desprendia da janela. (...)
Em meados do século XIX, as modas parisienses invadem Lisboa. As senhoras burguesas anseiam por
15 aceder às elegantes lojas de moda do Chiado, às mais chiques novidades importadas. (...)
Era a conquista do espaço público pela mulher burguesa. O gosto burguês de exibição em público – no
Chiado, no Passeio Público, nos jardins, nos teatros – levou a mulher a dotar a sua presença de signos
falantes. As próprias fitinhas e laços, balanceando na traseira das cinturas das donzelas, ganhavam apodos
significativos: “Siga-me, senhor! Dê-me aqui um beliscão! Casa-me, papá!”. Em contrapartida, algumas
damas usavam o pudor como estratégia de sedução.
20
José Machado Pais, Visão História, n.º 54, agosto de 2019, pp. 58-59.

1. De acordo com o texto, no século XIX, o espaço público das cidades era
(A) aberto a toda a população.
(B) vedado à mulher honrada.
(C) um local de livre acesso.
(D) um espaço de galanteios.

2. O recato do lar era condição essencial para


(A) a rapariga solteira namorar à janela.
(B) a mulher preservar uma boa reputação.
(C) a mulher fazer um casamento de conveniência.
(D) as solteiras transgredirem as regras da sociedade.

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TESTES DE AVALIAÇÃO

3. No século XIX, a moda parisiense assumiu-se como um fenómeno social

(A) ao introduzir novos hábitos de consumo.

(B) porque alterou a forma de vestir da mulher.

(C) ao permitir o acesso da mulher às novidades estrangeiras.

(D) porque mudou o estatuto da mulher portuguesa.

4. No contexto em que surge, a frase “dotar a sua presença de signos falantes” (linhas 22-23) significa

(A) usar objetos para comunicar algo.

(B) exibir-se no espaço público.

(C) estar presente nos eventos de moda.

(D) adquirir objetos de adorno.

5. O referente do pronome pessoal presente em “o género de quem o frequentava” (linha 4) é

(A) “o espaço público”.

(B) “século XIX”.

(C) “o espaço público das cidades”.

(D) “cidades”.

6. Indica a função sintática das seguintes expressões:

a) “Refugiadas no espaço doméstico” (linha 10).

b) “O namoro de estaca” (linha 12).

7. Divide e classifica as orações que compõem o segmento “Os mais astutos acabariam por descobrir uma
maneira de burlar a bisbilhotice da vizinhança mediante bilhetinhos amorosos que se baixavam e erguiam por
um cordel que se desprendia da janela” (linhas 15-17).

GRUPO III

Redige uma apreciação crítica, com um mínimo de cento e cinquenta e um máximo de duzentas palavras, de uma
qualquer manifestação cultural com a qual tenhas contactado recentemente.
Respeita as marcas específicas deste género textual, a nível da estrutura e das marcas linguísticas.
O teu texto deve incluir:
• a apresentação da manifestação cultural selecionada, destacando elementos significativos;
• um comentário crítico, fundamentando devidamente a tua apreciação e utilizando um discurso valorativo;
• uma conclusão adequada aos pontos de vista desenvolvidos.

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