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INTRODUÇÃO

O objetivo da Revista com o tema Serviço Social é retomar os conteúdos


históricos e teóricos que não são amplamente discutidos atualmente, num
período após aquele de crítica ao Serviço Social tradicional. O intuito de se
conhecer os clássicos de cada profissão é para segui-los, revisá-los ou
negar seus pressupostos pensados de acordo com a realidade social de
cada período. Entende - se por clássica, por ser a primeira a oferecer uma
obra destinada ao serviço social e disponibilizar materiais elaborados
através de seus pressupostos teóricos - metodológicos, oferecendo as
bases para o exercício prático da profissão, e que influenciou diversos
países.
O serviço social surge em meio a dinâmica capitalista, na qual há maior
divisão de trabalho segundo as demandas das teias de produção e das
relações construídas. O processo de construção do serviço social,
entendido como resultante de diversas modificações sociais até a chegada
do capitalismo monopolista, retoma à Europa por volta do século XIX.
Surge devido uma necessidade da sociedade criada por ela própria, em
relações de desigualdade produzidas pelo modelo capitalista sobre as
quais há a integração e interação entre Estado, Igreja e organizações
sociais assistenciais, que vão contemplar o processo do peculiar
pauperismo que assola os trabalhadores e suas famílias.
Essa peculiaridade se dá porque, nos períodos anteriores a causa do
pauperismo era a escassez e atingia toda a população ou pelo menos sua
maior parte.
Ao contrário do que acontece no capitalismo, em que há uma abundância
de recursos (até excedente ao que demandava a necessidade da
população) que é distribuído apenas à um pequeno grupo que detém o
poder (no caso, os meios de produção).
A determinação das classes foi um dos fortes fatores que determinaram a
desigualdade sem precedentes do rico muito rico e o pobre muito pobre.
Essas expressões das desigualdades criadas na base econômica, provocam
reações dos trabalhadores, que se mostra na luta entre classe
trabalhadora e burguesia capitalista, que será mais para a frente
denominada de Questão Social (1831).
É no modo particular de expressão do desenvolvimento do capitalismo
nos EUA que se terá as condições adequadas para a constituição
formalmente legitimada de atividades designadas a um grupo de pessoas
preparadas para atuar em tal.
Com sua institucionalização, entre 1890 e 1940, ela ganha o status de
profissão assalariada, compreendendo práticas do meio jurisdicional e da
saúde. É o momento do capitalismo monopolista, no qual os ideais liberais
do capitalismo concorrencial começam a dar espaço para os de
intervenção estatal na economia para resolução de crises sociais e
econômicas.
Fortemente marcado por momentos de prosperidade, estagnação,
guerras, crises sociais e momentos de alta e baixa de empregos. Nesse
mesmo período (1890 - 1940) ocorre a crise de 1929 que segundo
Mészáros trata - se apenas de uma das crises cíclicas do capital, que se
resolve no interior do próprio sistema.
Esse momento de expansão capitalista monopolista se dá ao mesmo
tempo em que nos Estados Unidos começa a se inserir linhas de
montagem automática de automóveis, a determinação de oito horas
diárias de trabalho, maior recompensa aos trabalhadores e claramente
composto das ideias de produção e consumo em massa.
As primeiras décadas do século passado foram marcadas pelos
movimentos de reformas sociais, principalmente em Nova Iorque, com
grupos de trabalhadores e militante de esquerda que se uniram focados
nos problemas de desemprego causados pelas crises econômicas (cíclicas
e próprias do capitalismo).
A linha de montagem fordista, acompanhando esses movimentos sociais,
foi recebida com resistência justamente pelos movimentos repetitivos,
rigidez e pela forte presença da alienação em relação à participação
integral no processo produtivo.
Esse novo modelo implantado carregava consigo a moralização dos
costumes com o conceito do "novo homem", o qual exigia disciplina, boa
formação moral, equilíbrio familiar, consumo moderado de álcool, tudo
isso para atender às expectativas do mundo corporativo.
A situação apresentada é a demonstração da típica expressão da questão
social, peculiar do capitalismo, de resistência dos trabalhadores em
relação às condições de trabalho estabelecidas pelo capital, o qual é
objeto de ação e a base de surgimento do Serviço Social.
SERVIÇO SOCIAL NOS EUA E SUA EXPANSÃO
A instituição do serviço social como profissão foi precedido por atividades
caritativas e entidades filantrópicas, principalmente na Europa, que
prestavam assistência às camadas mais pobres da sociedade, geralmente
vinculados à igreja católica.
Essas atividades contavam com uma equipe multidisciplinar que possuía
gente da medicina social, economia, física social e da dinâmica de
movimentos sociais que buscavam denunciar a exploração da mão de
obra.
Isso se tornou um suporte para o modelo de serviço social da era
capitalista para "resolver" o problema da pobreza, ou seja, um mediador
de conflitos.
O ano de 1890 marcou o início do serviço social, através da criação da
Women's University Settlements, de Londres que surgiu do movimento
feminista da época. Procurava formar as pessoas para a ação social com os
grupos afetados pelo pauperismo.
Essa ação foi um movimento de especialização e racionalização da ação de
assistência baseado em teorias sociológicas e psicológicas.
Ele foi responsável por desconstruir a ideia de "utopia revolucionária" que
era presente nos movimentos feministas e por significativas mudanças nos
padrões humanistas e solidários da moral cristã interligada com os valores
burgueses.
O primeiro curso experimental de formação desse voluntariado
especializado é então concretizado em 1893, através da Charity
Organization Society de Londres (criada em 1869).
O movimento chega no EUA em 1894 e é liderado pelas Charities inglesa e
Norte - Americana e pela Women's para a qualificação adequada do
pessoal.
A Charity passa a utilizar as pessoas com formação qualificada e com
remuneração para a realização de investigações sociais as quais
designaram as formas de assistência social.
As pesquisas realizadas buscavam conhecer as condições socioeconômicas
para selecionar as famílias que precisavam de "ajuda".
Pós análise da situação, uma orientação era entregue ao friendly visiting
(o visitador) que cuidava do acompanhamento do caso e da mediação de
prevenção dos conflitos através da compreensão dos "dois lados da
moeda" (ricos e pobres).
Assim o serviço social é entendido como profissão assalariada a partir do
momento em que ocorre a institucionalização e as primeiras produções
teóricas.
Em 1897, Mary Richmond, membro da Charity norte-americana, propõe a
criação da Escola de Filantropia Aplicada, que buscava a formação para o
pessoal com essa finalidade.
Posteriormente há a proliferação de outras escolas de assistentes sociais
incorporados por instituições públicas e privadas, em várias parte da
Europa e nos EUA.
Entende - se a partir daí que a necessidade da profissão foi gerada a partir
das condições sociais criadas na base econômica, com forte presença da
desigualdade social peculiar do capitalismo "em uma sociedade
caracterizada pela abundância dependia de instituições para prestação de
serviços sociais com vistas a minimizar os problemas da pobreza e a
insatisfação das classes trabalhadoras pauperizadas envolvidas no
processo".
Esse processo de expansão e institucionalização se estendeu até 1940.
Chega então à preocupação de definir o caráter, a função, o objeto da
ação e os métodos do procedimento profissional.
Era vista como uma aproximação da ciência social que visa buscar
fundamentos para a prática juntos aos indivíduos, trabalhadores,
desempregados e de suas famílias que sofriam com as péssimas condições
de vida resultante das desigualdades de classes própria do capitalismo.
Suas bases teórico - Metodológicas provinham dos pensamentos da classe
burguesa ascendente, gerado em meio às transformações no modo de
produção da sociedade capitalista.
No século XVII temos a mudança na base da ciência que passa de dados
empíricos para os princípios eternos que determinam as coisas como são
para a apreensão da legalidade objetiva da realidade para transforma - lá
conforme seus interesses econômicos e sociais, levou para a descoberta e
explicação de fenômenos e de leis que constituem a natureza a partir da
própria natureza, parte da "racionalidade humana como meio de captar o
conhecimento dos dados observáveis, desenvolve - se os métodos
científicos que irão conduzir a razão na busca pela verdade nas ciências.
O empirismo foi de suma importância no campo da pesquisa científica,
onde "aquilo que pode ser observado, testado e demonstrado
empiricamente a partir da descoberta das leis internas que regem o
objeto torna - se de grande importância para as descobertas científicas".
Ocorre a separação da Filosofia e Ciência no embate entre o antigo regime
e a classe burguesa que assumiu o poder que defendia a ciência para a
dominação da natureza abolindo a ontologia (parte da metafísica e possui
conceitos abstratos), isso se estende às ciências sociais que recorrem às
ciências da natureza como modelo.
Com forte influência do positivismo Durkheim cria a primeira metodologia
para a Sociologia que foi proposta como ciência autônoma e segundo ele
o objeto de estudo era o Fato Social como coisa e defendendo que deveria
existir método e objetos de estudo particulares e autônomos das ciências
sociais.
Essa influência positivista é mais evidente na primeira produção teórica do
Serviço Social, feito por Mary Richmond, auxiliada pela aproximação com
as ciências sociais já estabelecidas como a sociologia e psicologia.
SERVIÇO SOCIAL DE CASOS INDIVIDUAIS
Retomando, a Mary Richmond é considerada a pioneira do Serviço Social
como profissão justamente por ter sido a primeira a pensar e elaborar
produções teóricas e por ter influenciado o Serviço Social em todo o
mundo.
As bases de seu pensamento e desse início teórico do serviço social de
casos individuais estão reunidas nas suas obras Diagnóstico Social e
Serviço Social de Casos.
Seu pensamento se espalhou pelo mundo e acarretou que o serviço social
foi institucionalizado como profissão.
O Brasil teve a influência do Serviço Social estadunidense por volta de
1940, ocorreu um intercâmbio entre os dois países e isso possibilitou a ida
de representantes brasileiros ao Estados Unidos.
Voltando à Obra Diagnóstico Social, publicada em 1917, contou com uma
vasta pesquisa de natureza documental, juntamente com suas
colaboradoras que apresentaram o conteúdo e a forma das atividades
desenvolvidas pelos agentes sociais.
Falava da necessidade de reunir noções técnicas básicas e comuns de
procedimentos Metodológicos aos assistentes sociais que fossem além
daquelas que eram voltadas aos casos individuais.
Ela buscava com isso dar um viés científico para o trabalho dos agentes
sociais com um dos principais instrumentos: a elaboração do diagnóstico
próprio de investigação e de ação.
Em 1915 nos EUA já havia um número significativo de profissionais
assalariados que iam além do serviço social de casos individuais.
Os movimentos sociais de inquietação e propostas de reformas sociais
entre 1900 e 1920, foi favorável aos ideais vigentes no Serviço Social.
Os movimentos reformistas contavam principalmente com a população
"em defesa ou contra a intervenção do setor público os programas sociais,
o uso adequado dos fundos públicos e a luta por melhoria dos
equipamentos, como creches, escolas, construção de playgrounds e
ginásio de esportes, planejamento urbano e habitacional etc."
Mary Richmond então, busca criar um método que fosse comum a toda
ação profissional, apoiada na racionalidade científica vinda da sociologia,
psicologia e ciências jurídicas.
Nesse período ainda, o serviço social não possui um conjunto de ideias
homogêneo e não comporta apenas a abordagem sobre os casos
individuais.
Richmond, porém, se ocupa teoricamente do chamado serviço social de
casos individuais e elabora sua proposta de diagnóstico social que se
dariam pelo método hipotético-dedutivo por meio do empirismo.
O PENSAMENTO DE RICHMOND
O Estados Unidos, ao contrário do Brasil, já possuía vasta rede de
atendimento e encaminhamento de pessoas necessitadas de assistência
dos mais diversos casos, tornando o encaminhamento uma das
ferramentas do Serviço Social.
Pela divergência de realidades entre Brasil e Estados Unidos, o país norte-
americano não dispunha de conteúdo teórico que atendesse ao serviço
social brasileiro. Desta forma o pensamento de Mary Richmond não foi
objeto de estudos por seus fundamentos ainda que tenha exercido forte
influência no Serviço Social de Casos no âmbito da formação profissional.
O Principal caráter do pensamento de Mary Richmond é o progresso da
especie humana e a melhoria das relações sociais, com função de ajuste
entre o indivíduo e seu meio social, o qual não abrangia o sistema
capitalista como um todo, que tinha por base um modo de produção
exploratório (Ela não discutia o sistema), acreditava, portanto, que o
capitalismo poderia ser melhorado no seu processo de desenvolvimento.
Para isso, o Serviço Social seria um modo de realizar esse
desenvolvimento através da conscientização dos indivíduos por meios
materiais ou intelectivos.
Como perceptível, a corrente positivista exerce forte influência no
pensamento de Richmond com a ideia do progresso e do suporte da
sociedade no indivíduo, mas ainda assim não é desvinculada de outras
teorias de atividades sociais como medicina, direito, história, lógica e
psicologia.
Justamente por não debater o sistema capitalista, ela não cita em nenhum
momento que as causas econômicas são a base do problema vivenciado
pela parcela vulnerável da população, acreditando, portanto, que a
sociedade melhoraria com a melhora do indivíduo.
Pode se dizer com isso que o campo específico de atuação do serviço
social de casos seria o "desenvolvimento da personalidade do indivíduo",
ocupando - se de estabelecer melhores relações sociais, tratando o
indivíduo um a um no círculo íntimo da família" (RICHMOND 1950). Por
conta disso o campo de investigação sobre a situação do indivíduo
trabalhador (suas dificuldades e os problemas que possa apresentar no
âmbito do trabalho) é a Família.
O conceito básico é "O serviço social de casos individuais é um conjunto
de métodos que desenvolvem a personalidade, reajustando consciente e
individualmente o homem em seu meio social" (RICHMOND 1950)
Ela e alguns reformadores sociais da Europa e dos EUA criticavam ainda os
serviços de assistência prestados com base em critérios exclusivamente
econômicos e até repressivos e concordavam com aqueles que
"estudavam e desenvolviam as capacidades latentes desses indivíduos"
(Idem, p. 8) (imagem da Mary Richmond falando mimimi COMUNISTAH)
Por esses reformadores nasce a ideia de transformação do inquérito
social, o qual Mary Richmond considerou mais adequado denominar de
diagnóstico social (inquérito social era aquele realizado junto aos pobres
que qualificação sua necessidade à assistência social, bem como a
proposta de sua realização "tendo como motivo e objetivo a reintegração
social dos indivíduos (RICHMOND 1950, p. 8))
Resumindo, a reintegração social dos indivíduos nada mais era do que um
ajuste comportamental para que os indivíduos se adaptassem às regras
estabelecidas, evitando reações que ameacem a ordem/equilíbrio social.
Surge brecha para a "moralização dos costumes", a criação de um
estereótipo de hábitos e atitudes do "bom trabalhador", da "boa moça",
ao equilíbrio nas relações familiares, que demonstram pra nós a função
ideológica da profissão no "sentido da ação de uma consciência sobre
outras consciências".
A PROPOSTA METODOLÓGICA
No Serviço Social de Casos, a proposta de interação entre profissional e
"cliente" servia para viabilizar a prestação de certos serviços institucionais
acompanhados de ação pedagógica, mas tendo "como objetivo imediato a
melhoria dos indivíduos ou das famílias, uma a uma, independentemente
da sua melhoria coletiva, no conjunto do agregado social" (RICHMOND,
1950, p. 4). Era, portanto uma ação focada no indivíduo e no seu
crescimento, independentemente da coletividade.
Tendo um caráter empirista, a proposta busca diagnosticar uma
"dificuldade ou necessidade de natureza social" (RICHMOND, 1950, p. 4)
de um indivíduo ou de uma família com base no maior número possível de
fatos imediatos.
Para esta finalidade, deveriam ser adotadas como fonte as realidades
sociais "definidas como consistindo em todos os fatos, da história pessoal
e familiar que, tomados em conjunto, indicam a natureza das dificuldades
sociais dum necessitado e dos meios de removê - lá" (RICHMOND, 1950, p.
26), ou seja, conhecendo a trajetória de vida daquela pessoa seria possível
identificar a raiz de suas dificuldades sociais e a solução para elas. (Como
fatos entende - se não só as coisas visíveis ou tangíveis, como também os
pensamentos e acontecimentos)
Entra então o protagonismo do Fato Social que é tratado como coisa de
viés objetivo e subjetivo e que através do método hipotético-dedutivo
poderia chegar às causas dos problemas individuais. ("A Colheita desses
fatos consistia na base para deduções obtidas através do raciocínio")
Após a reunião dos fatos e de feita as deduções, parte - se para a
comparação e interpretação de dados e com isso obtém - se um conjunto
de referências da pessoa e de seu problema. Depois disso, o material
encontrado era passado às instituições para que se processasse o acesso à
bens e serviços aí necessitando, formando, portanto, uma rede de
controle dos membros vulneráveis da sociedade.
Fazia parte do processo de interação entre profissional e necessitado, a
interferência da instituição na privacidade interna e externa da pessoa
vulnerável que, mesmo contrariada, não tinha opção a não ser aceitar, ou
seja, ela era exposta ao processo de garantia de ajuda.
Na categorização da pobreza do período (depois de um diagnóstico social
e comportamental) estavam "os trabalhadores em dificuldades,
desempregados, crianças em situação de abandono ou delinquência,
viúvas, doentes ou todos aqueles que não disponham de meios próprios
para resolução de suas dificuldades materiais ou pessoais"
Tratando - se de uma atividade realizada por um grupo específico de
agentes sociais, José Paulo Neto (1991) reconhece como objeto de
intervenção estatal as expressões da questão social sob a "nova
roupagem" do período capitalista monopolista consolidado.
O diagnóstico social por outro lado, por se formar em bases empíricas,
oferece uma investigação sobre a vida do indivíduo, traços os imediatos
da vida social, das condições de sua existência e de suas relações
interpessoais, mas não discutindo amplamente a vida social em si, não
discutindo o sistema capitalista produtor de desigualdades, do sistema de
classes e que apresentava o caráter essencial da sociedade: a exploração
do "homem pelo homem".
Considerava o indivíduo com um fim em si mesmo, sendo ele o causador,
mas também a solução do problema (entende - se por imediato aquilo
que é próximo ao indivíduo e não aquilo no qual ele se insere como um
todo). Para Mary Richmond, a ação profissional deveria guiar o indivíduo à
uma expansão da sua própria personalidade visando seu aprimoramento,
mas ao mesmo tempo escondendo o caráter "ajustador" da profissão,
naquele período.
Outro ponto a se ressaltar de sua obra é os conceitos básicos originados
da psicologia que explicam a razão da necessidade de o Serviço Social de
Casos subsistir para sempre. Seriam eles: a diferença entre os indivíduos e
a teoria da expansão da personalidade.
O primeiro baseia - se em Edward E. Thorndike, que considera que existe
inúmeras variedades de características individuais que constituem um
traço originário do indivíduo (considerado uma variante do
neobehaviorismo, ramo da psicologia experimental).
Richmond (1959, p. 314) observa primariamente que "socialmente as
semelhanças entre os homens tem muita importância, sendo elas que
tornaram possíveis a melhoria das massas (o progresso), tendo a
individualidade necessariamente de se ler adaptar", ou seja, o que
importa são as semelhanças e o que é particular de cada indivíduo precisa
adaptar - se para que ocorra o progresso.
Após isso, ao utilizar a teoria de Thorndike e constatar que os homens são
originalmente diferentes ela relaciona essa proposta ao problema da
administração democrática, já que nos primórdios da democracia a
melhor maneira de manter a ordem e administrar a sociedade seria
aquela que atendesse a todos de maneira exatamente igual, o que depois
foi desconstruído por ela ao pensar que o necessário mesmo seria atender
cada pessoa em sua individualidade, "de modo diferente para com
indivíduos diferentes" sendo assim direcionado à ele o benefício social
mais proveitoso.
Para ela bastou entender que as diferenças eram naturais do homem e
que esse era o critério dominante entres os reformadores, para que fosse
constatado que a organização social descrita anteriormente, era o modelo
de administração socioinstitucional que mais atendia às necessidades da
população, um pensamento regado de referenciais liberais e de ideias
individualistas predominantes na sociedade.
E sobre a expansão da personalidade, busca pesquisar o "homem em seu
conjunto", trata-se de entender que os elementos externos ao indivíduo
exercem influência sobre a expansão da personalidade, porque ela seria o
resultado do meio social.
Mas ao contrário do que parece a teoria de entender o homem em seu
conjunto, não é compreendê-lo em sua totalidade social, mas sim
idealmente como somatório das suas relações, e acrescenta: Sabemos que
a personalidade se dilata e se expande quando lhe surgem novos direitos,
novos interesses, novas ligações de amizade, e sabemos também como ela
é afetada quando a esfera de nossa atividade é reduzida ou quando a
morte nos rouba uma amizade [...] (RICHMOND, 1950, p. 315)
(realmente a descrição do fato social)
Ela compreende como relações sociais a ideia de interação entre o
homem e suas companhias ao longo da vida, diz: "um homem é, na
verdade mais influenciado pelas suas companhias do que pelas que os
seus antepassados tiveram"
Teve como base para suas interpretações acerca de personalidade, pelo
que avaliou como os melhores psicólogos da época como a Psicologia
Social de James Mark Baldwin, que relaciona os interesses da pessoa ao
seu meio imediato, e ela complementa que esses interesses são variáveis
e contínuos e que podem tanto elevá-los como rebaixá - los, é a forma
com a qual se relacionam entre si e no meio social.
Assim, equilibra - se em tendências empiristas e objetivistas da psicologia
tendo como duas pontas principais, o que pôde ser observado nas
constatações que, por um lado se ressalta a pessoa em sua individualidade
e diferenças próprias e, por outro lado, acentuam o valor dos elementos
externos para a soma do indivíduo com os mesmos e da influência que
exercem sob o homem e sua atividade psíquica.
Comportamento dos indivíduos em suas relações interpessoais e suas
influências X a necessidade de aprimoramento pessoal com auxílio do
serviço social, para a resolução dos problemas por ele enfrentados.
A atuação sobre o indivíduo seria a ferramenta para modificar o meio
social.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O pensamento de Richmond, aquele que como foi falado, deu origem às
produções teóricas do Serviço Social, oferece uma proposta investigativa e
a metodologia para se executar frente às realidades sociais em que se
apresenta situação de vida e de saúde das pessoas que vão receber o
serviço prestado.
Por mais que apresente um amplo conhecimento em formulações que se
voltam para a compreensão das condições de vida dos indivíduos na
família, trabalho e relações imediatas, e que possua elementos empíricos
e bases na sociologia e no comportamento e ações dos indivíduos, ele não
busca integrar isso tudo com as relações sociais nas quais o indivíduo se
insere, apenas em estudar, analisar e investigar o indivíduo unitariamente.
Portanto a Obra estudada pela Revista, de Mary Richmond O Diagnóstico
Social, que trata do tema da individualidade, atua como fundamento à
atuação profissional na proposta de elaborar uma técnica comum do
diagnóstico social para o conjunto dos assistentes sociais.
Bebe das fontes do funcionalismo e behaviorismo duas correntes do
campo da psicologia, sendo o primeiro um movimento que se concentra
no funcionamento dos processos mentais, principalmente em situações de
perigo e o segundo estudando e destrinchando as características do
indivíduo e a expansão de personalidade. (Personalidade que no conceito
da obra Diagnóstico Social tem a concepção do homem como somatório
das suas relações).
No capitalismo o indivíduo surge como portador de uma liberdade que
não encontra precedentes na história da sociedade de classes e a sua
personalidade foi pautada como objeto de investigação científica e
filosófica sempre desconectado da totalidade social.
É no capitalismo que os indivíduos vão surgir como individualidades,
sendo objetos de estudos e teorizações do ponto de vista econômico,
político e filosófico. Marx (1983, p. 4) diz: " a época que produz esse ponto
de vista, o do indivíduo isolado, é precisamente aquela na qual as relações
sociais gerais alcançaram o mais alto grau de desenvolvimento”, ou seja,
responsabiliza - se o indivíduo por seus problemas sem considerar o meio
social geral que vive, mesmo na época em que mais tem se desenvolvido
as relações sociais gerais.
Portanto, a concepção de personalidade no serviço social tem caráter
atemporal, a-histórico, não é construído ao longo da história. Uma
concepção de personalidade geral que coexiste com a de um indivíduo
abstrato.
As instituições e os grupos firmam - se com meios para desenvolvimento
pessoal/individual, enquanto os indivíduos (que são a causa e a solução de
seus problemas) em suas singularidades, são as forças que impulsionam o
desenvolvimento da sociedade.
A história dos indivíduos só é levada em conta para descoberta dos
problemas que comprometem sua vida social ativa e adequada à
convivência no trabalho, na família e no meio social. Não há nenhuma
ligação entre relação a personalidade e a essência da sociedade no seu
desdobramento histórico-concreto.
O serviço social de casos não só atuou na prestação de serviços de
natureza material como também através da interpretação de sintomas
patológicos no comportamento das pessoas. Todas as expressões da
questão social são vistas como uma inadaptação do indivíduo à realidade
social, quando na verdade as bases econômicas e a alienação dos
indivíduos deveriam ser questionadas.

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