O objetivo da Revista com o tema Serviço Social é retomar os conteúdos
históricos e teóricos que não são amplamente discutidos atualmente, num período após aquele de crítica ao Serviço Social tradicional. O intuito de se conhecer os clássicos de cada profissão é para segui-los, revisá-los ou negar seus pressupostos pensados de acordo com a realidade social de cada período. Entende - se por clássica, por ser a primeira a oferecer uma obra destinada ao serviço social e disponibilizar materiais elaborados através de seus pressupostos teóricos - metodológicos, oferecendo as bases para o exercício prático da profissão, e que influenciou diversos países. O serviço social surge em meio a dinâmica capitalista, na qual há maior divisão de trabalho segundo as demandas das teias de produção e das relações construídas. O processo de construção do serviço social, entendido como resultante de diversas modificações sociais até a chegada do capitalismo monopolista, retoma à Europa por volta do século XIX. Surge devido uma necessidade da sociedade criada por ela própria, em relações de desigualdade produzidas pelo modelo capitalista sobre as quais há a integração e interação entre Estado, Igreja e organizações sociais assistenciais, que vão contemplar o processo do peculiar pauperismo que assola os trabalhadores e suas famílias. Essa peculiaridade se dá porque, nos períodos anteriores a causa do pauperismo era a escassez e atingia toda a população ou pelo menos sua maior parte. Ao contrário do que acontece no capitalismo, em que há uma abundância de recursos (até excedente ao que demandava a necessidade da população) que é distribuído apenas à um pequeno grupo que detém o poder (no caso, os meios de produção). A determinação das classes foi um dos fortes fatores que determinaram a desigualdade sem precedentes do rico muito rico e o pobre muito pobre. Essas expressões das desigualdades criadas na base econômica, provocam reações dos trabalhadores, que se mostra na luta entre classe trabalhadora e burguesia capitalista, que será mais para a frente denominada de Questão Social (1831). É no modo particular de expressão do desenvolvimento do capitalismo nos EUA que se terá as condições adequadas para a constituição formalmente legitimada de atividades designadas a um grupo de pessoas preparadas para atuar em tal. Com sua institucionalização, entre 1890 e 1940, ela ganha o status de profissão assalariada, compreendendo práticas do meio jurisdicional e da saúde. É o momento do capitalismo monopolista, no qual os ideais liberais do capitalismo concorrencial começam a dar espaço para os de intervenção estatal na economia para resolução de crises sociais e econômicas. Fortemente marcado por momentos de prosperidade, estagnação, guerras, crises sociais e momentos de alta e baixa de empregos. Nesse mesmo período (1890 - 1940) ocorre a crise de 1929 que segundo Mészáros trata - se apenas de uma das crises cíclicas do capital, que se resolve no interior do próprio sistema. Esse momento de expansão capitalista monopolista se dá ao mesmo tempo em que nos Estados Unidos começa a se inserir linhas de montagem automática de automóveis, a determinação de oito horas diárias de trabalho, maior recompensa aos trabalhadores e claramente composto das ideias de produção e consumo em massa. As primeiras décadas do século passado foram marcadas pelos movimentos de reformas sociais, principalmente em Nova Iorque, com grupos de trabalhadores e militante de esquerda que se uniram focados nos problemas de desemprego causados pelas crises econômicas (cíclicas e próprias do capitalismo). A linha de montagem fordista, acompanhando esses movimentos sociais, foi recebida com resistência justamente pelos movimentos repetitivos, rigidez e pela forte presença da alienação em relação à participação integral no processo produtivo. Esse novo modelo implantado carregava consigo a moralização dos costumes com o conceito do "novo homem", o qual exigia disciplina, boa formação moral, equilíbrio familiar, consumo moderado de álcool, tudo isso para atender às expectativas do mundo corporativo. A situação apresentada é a demonstração da típica expressão da questão social, peculiar do capitalismo, de resistência dos trabalhadores em relação às condições de trabalho estabelecidas pelo capital, o qual é objeto de ação e a base de surgimento do Serviço Social. SERVIÇO SOCIAL NOS EUA E SUA EXPANSÃO A instituição do serviço social como profissão foi precedido por atividades caritativas e entidades filantrópicas, principalmente na Europa, que prestavam assistência às camadas mais pobres da sociedade, geralmente vinculados à igreja católica. Essas atividades contavam com uma equipe multidisciplinar que possuía gente da medicina social, economia, física social e da dinâmica de movimentos sociais que buscavam denunciar a exploração da mão de obra. Isso se tornou um suporte para o modelo de serviço social da era capitalista para "resolver" o problema da pobreza, ou seja, um mediador de conflitos. O ano de 1890 marcou o início do serviço social, através da criação da Women's University Settlements, de Londres que surgiu do movimento feminista da época. Procurava formar as pessoas para a ação social com os grupos afetados pelo pauperismo. Essa ação foi um movimento de especialização e racionalização da ação de assistência baseado em teorias sociológicas e psicológicas. Ele foi responsável por desconstruir a ideia de "utopia revolucionária" que era presente nos movimentos feministas e por significativas mudanças nos padrões humanistas e solidários da moral cristã interligada com os valores burgueses. O primeiro curso experimental de formação desse voluntariado especializado é então concretizado em 1893, através da Charity Organization Society de Londres (criada em 1869). O movimento chega no EUA em 1894 e é liderado pelas Charities inglesa e Norte - Americana e pela Women's para a qualificação adequada do pessoal. A Charity passa a utilizar as pessoas com formação qualificada e com remuneração para a realização de investigações sociais as quais designaram as formas de assistência social. As pesquisas realizadas buscavam conhecer as condições socioeconômicas para selecionar as famílias que precisavam de "ajuda". Pós análise da situação, uma orientação era entregue ao friendly visiting (o visitador) que cuidava do acompanhamento do caso e da mediação de prevenção dos conflitos através da compreensão dos "dois lados da moeda" (ricos e pobres). Assim o serviço social é entendido como profissão assalariada a partir do momento em que ocorre a institucionalização e as primeiras produções teóricas. Em 1897, Mary Richmond, membro da Charity norte-americana, propõe a criação da Escola de Filantropia Aplicada, que buscava a formação para o pessoal com essa finalidade. Posteriormente há a proliferação de outras escolas de assistentes sociais incorporados por instituições públicas e privadas, em várias parte da Europa e nos EUA. Entende - se a partir daí que a necessidade da profissão foi gerada a partir das condições sociais criadas na base econômica, com forte presença da desigualdade social peculiar do capitalismo "em uma sociedade caracterizada pela abundância dependia de instituições para prestação de serviços sociais com vistas a minimizar os problemas da pobreza e a insatisfação das classes trabalhadoras pauperizadas envolvidas no processo". Esse processo de expansão e institucionalização se estendeu até 1940. Chega então à preocupação de definir o caráter, a função, o objeto da ação e os métodos do procedimento profissional. Era vista como uma aproximação da ciência social que visa buscar fundamentos para a prática juntos aos indivíduos, trabalhadores, desempregados e de suas famílias que sofriam com as péssimas condições de vida resultante das desigualdades de classes própria do capitalismo. Suas bases teórico - Metodológicas provinham dos pensamentos da classe burguesa ascendente, gerado em meio às transformações no modo de produção da sociedade capitalista. No século XVII temos a mudança na base da ciência que passa de dados empíricos para os princípios eternos que determinam as coisas como são para a apreensão da legalidade objetiva da realidade para transforma - lá conforme seus interesses econômicos e sociais, levou para a descoberta e explicação de fenômenos e de leis que constituem a natureza a partir da própria natureza, parte da "racionalidade humana como meio de captar o conhecimento dos dados observáveis, desenvolve - se os métodos científicos que irão conduzir a razão na busca pela verdade nas ciências. O empirismo foi de suma importância no campo da pesquisa científica, onde "aquilo que pode ser observado, testado e demonstrado empiricamente a partir da descoberta das leis internas que regem o objeto torna - se de grande importância para as descobertas científicas". Ocorre a separação da Filosofia e Ciência no embate entre o antigo regime e a classe burguesa que assumiu o poder que defendia a ciência para a dominação da natureza abolindo a ontologia (parte da metafísica e possui conceitos abstratos), isso se estende às ciências sociais que recorrem às ciências da natureza como modelo. Com forte influência do positivismo Durkheim cria a primeira metodologia para a Sociologia que foi proposta como ciência autônoma e segundo ele o objeto de estudo era o Fato Social como coisa e defendendo que deveria existir método e objetos de estudo particulares e autônomos das ciências sociais. Essa influência positivista é mais evidente na primeira produção teórica do Serviço Social, feito por Mary Richmond, auxiliada pela aproximação com as ciências sociais já estabelecidas como a sociologia e psicologia. SERVIÇO SOCIAL DE CASOS INDIVIDUAIS Retomando, a Mary Richmond é considerada a pioneira do Serviço Social como profissão justamente por ter sido a primeira a pensar e elaborar produções teóricas e por ter influenciado o Serviço Social em todo o mundo. As bases de seu pensamento e desse início teórico do serviço social de casos individuais estão reunidas nas suas obras Diagnóstico Social e Serviço Social de Casos. Seu pensamento se espalhou pelo mundo e acarretou que o serviço social foi institucionalizado como profissão. O Brasil teve a influência do Serviço Social estadunidense por volta de 1940, ocorreu um intercâmbio entre os dois países e isso possibilitou a ida de representantes brasileiros ao Estados Unidos. Voltando à Obra Diagnóstico Social, publicada em 1917, contou com uma vasta pesquisa de natureza documental, juntamente com suas colaboradoras que apresentaram o conteúdo e a forma das atividades desenvolvidas pelos agentes sociais. Falava da necessidade de reunir noções técnicas básicas e comuns de procedimentos Metodológicos aos assistentes sociais que fossem além daquelas que eram voltadas aos casos individuais. Ela buscava com isso dar um viés científico para o trabalho dos agentes sociais com um dos principais instrumentos: a elaboração do diagnóstico próprio de investigação e de ação. Em 1915 nos EUA já havia um número significativo de profissionais assalariados que iam além do serviço social de casos individuais. Os movimentos sociais de inquietação e propostas de reformas sociais entre 1900 e 1920, foi favorável aos ideais vigentes no Serviço Social. Os movimentos reformistas contavam principalmente com a população "em defesa ou contra a intervenção do setor público os programas sociais, o uso adequado dos fundos públicos e a luta por melhoria dos equipamentos, como creches, escolas, construção de playgrounds e ginásio de esportes, planejamento urbano e habitacional etc." Mary Richmond então, busca criar um método que fosse comum a toda ação profissional, apoiada na racionalidade científica vinda da sociologia, psicologia e ciências jurídicas. Nesse período ainda, o serviço social não possui um conjunto de ideias homogêneo e não comporta apenas a abordagem sobre os casos individuais. Richmond, porém, se ocupa teoricamente do chamado serviço social de casos individuais e elabora sua proposta de diagnóstico social que se dariam pelo método hipotético-dedutivo por meio do empirismo. O PENSAMENTO DE RICHMOND O Estados Unidos, ao contrário do Brasil, já possuía vasta rede de atendimento e encaminhamento de pessoas necessitadas de assistência dos mais diversos casos, tornando o encaminhamento uma das ferramentas do Serviço Social. Pela divergência de realidades entre Brasil e Estados Unidos, o país norte- americano não dispunha de conteúdo teórico que atendesse ao serviço social brasileiro. Desta forma o pensamento de Mary Richmond não foi objeto de estudos por seus fundamentos ainda que tenha exercido forte influência no Serviço Social de Casos no âmbito da formação profissional. O Principal caráter do pensamento de Mary Richmond é o progresso da especie humana e a melhoria das relações sociais, com função de ajuste entre o indivíduo e seu meio social, o qual não abrangia o sistema capitalista como um todo, que tinha por base um modo de produção exploratório (Ela não discutia o sistema), acreditava, portanto, que o capitalismo poderia ser melhorado no seu processo de desenvolvimento. Para isso, o Serviço Social seria um modo de realizar esse desenvolvimento através da conscientização dos indivíduos por meios materiais ou intelectivos. Como perceptível, a corrente positivista exerce forte influência no pensamento de Richmond com a ideia do progresso e do suporte da sociedade no indivíduo, mas ainda assim não é desvinculada de outras teorias de atividades sociais como medicina, direito, história, lógica e psicologia. Justamente por não debater o sistema capitalista, ela não cita em nenhum momento que as causas econômicas são a base do problema vivenciado pela parcela vulnerável da população, acreditando, portanto, que a sociedade melhoraria com a melhora do indivíduo. Pode se dizer com isso que o campo específico de atuação do serviço social de casos seria o "desenvolvimento da personalidade do indivíduo", ocupando - se de estabelecer melhores relações sociais, tratando o indivíduo um a um no círculo íntimo da família" (RICHMOND 1950). Por conta disso o campo de investigação sobre a situação do indivíduo trabalhador (suas dificuldades e os problemas que possa apresentar no âmbito do trabalho) é a Família. O conceito básico é "O serviço social de casos individuais é um conjunto de métodos que desenvolvem a personalidade, reajustando consciente e individualmente o homem em seu meio social" (RICHMOND 1950) Ela e alguns reformadores sociais da Europa e dos EUA criticavam ainda os serviços de assistência prestados com base em critérios exclusivamente econômicos e até repressivos e concordavam com aqueles que "estudavam e desenvolviam as capacidades latentes desses indivíduos" (Idem, p. 8) (imagem da Mary Richmond falando mimimi COMUNISTAH) Por esses reformadores nasce a ideia de transformação do inquérito social, o qual Mary Richmond considerou mais adequado denominar de diagnóstico social (inquérito social era aquele realizado junto aos pobres que qualificação sua necessidade à assistência social, bem como a proposta de sua realização "tendo como motivo e objetivo a reintegração social dos indivíduos (RICHMOND 1950, p. 8)) Resumindo, a reintegração social dos indivíduos nada mais era do que um ajuste comportamental para que os indivíduos se adaptassem às regras estabelecidas, evitando reações que ameacem a ordem/equilíbrio social. Surge brecha para a "moralização dos costumes", a criação de um estereótipo de hábitos e atitudes do "bom trabalhador", da "boa moça", ao equilíbrio nas relações familiares, que demonstram pra nós a função ideológica da profissão no "sentido da ação de uma consciência sobre outras consciências". A PROPOSTA METODOLÓGICA No Serviço Social de Casos, a proposta de interação entre profissional e "cliente" servia para viabilizar a prestação de certos serviços institucionais acompanhados de ação pedagógica, mas tendo "como objetivo imediato a melhoria dos indivíduos ou das famílias, uma a uma, independentemente da sua melhoria coletiva, no conjunto do agregado social" (RICHMOND, 1950, p. 4). Era, portanto uma ação focada no indivíduo e no seu crescimento, independentemente da coletividade. Tendo um caráter empirista, a proposta busca diagnosticar uma "dificuldade ou necessidade de natureza social" (RICHMOND, 1950, p. 4) de um indivíduo ou de uma família com base no maior número possível de fatos imediatos. Para esta finalidade, deveriam ser adotadas como fonte as realidades sociais "definidas como consistindo em todos os fatos, da história pessoal e familiar que, tomados em conjunto, indicam a natureza das dificuldades sociais dum necessitado e dos meios de removê - lá" (RICHMOND, 1950, p. 26), ou seja, conhecendo a trajetória de vida daquela pessoa seria possível identificar a raiz de suas dificuldades sociais e a solução para elas. (Como fatos entende - se não só as coisas visíveis ou tangíveis, como também os pensamentos e acontecimentos) Entra então o protagonismo do Fato Social que é tratado como coisa de viés objetivo e subjetivo e que através do método hipotético-dedutivo poderia chegar às causas dos problemas individuais. ("A Colheita desses fatos consistia na base para deduções obtidas através do raciocínio") Após a reunião dos fatos e de feita as deduções, parte - se para a comparação e interpretação de dados e com isso obtém - se um conjunto de referências da pessoa e de seu problema. Depois disso, o material encontrado era passado às instituições para que se processasse o acesso à bens e serviços aí necessitando, formando, portanto, uma rede de controle dos membros vulneráveis da sociedade. Fazia parte do processo de interação entre profissional e necessitado, a interferência da instituição na privacidade interna e externa da pessoa vulnerável que, mesmo contrariada, não tinha opção a não ser aceitar, ou seja, ela era exposta ao processo de garantia de ajuda. Na categorização da pobreza do período (depois de um diagnóstico social e comportamental) estavam "os trabalhadores em dificuldades, desempregados, crianças em situação de abandono ou delinquência, viúvas, doentes ou todos aqueles que não disponham de meios próprios para resolução de suas dificuldades materiais ou pessoais" Tratando - se de uma atividade realizada por um grupo específico de agentes sociais, José Paulo Neto (1991) reconhece como objeto de intervenção estatal as expressões da questão social sob a "nova roupagem" do período capitalista monopolista consolidado. O diagnóstico social por outro lado, por se formar em bases empíricas, oferece uma investigação sobre a vida do indivíduo, traços os imediatos da vida social, das condições de sua existência e de suas relações interpessoais, mas não discutindo amplamente a vida social em si, não discutindo o sistema capitalista produtor de desigualdades, do sistema de classes e que apresentava o caráter essencial da sociedade: a exploração do "homem pelo homem". Considerava o indivíduo com um fim em si mesmo, sendo ele o causador, mas também a solução do problema (entende - se por imediato aquilo que é próximo ao indivíduo e não aquilo no qual ele se insere como um todo). Para Mary Richmond, a ação profissional deveria guiar o indivíduo à uma expansão da sua própria personalidade visando seu aprimoramento, mas ao mesmo tempo escondendo o caráter "ajustador" da profissão, naquele período. Outro ponto a se ressaltar de sua obra é os conceitos básicos originados da psicologia que explicam a razão da necessidade de o Serviço Social de Casos subsistir para sempre. Seriam eles: a diferença entre os indivíduos e a teoria da expansão da personalidade. O primeiro baseia - se em Edward E. Thorndike, que considera que existe inúmeras variedades de características individuais que constituem um traço originário do indivíduo (considerado uma variante do neobehaviorismo, ramo da psicologia experimental). Richmond (1959, p. 314) observa primariamente que "socialmente as semelhanças entre os homens tem muita importância, sendo elas que tornaram possíveis a melhoria das massas (o progresso), tendo a individualidade necessariamente de se ler adaptar", ou seja, o que importa são as semelhanças e o que é particular de cada indivíduo precisa adaptar - se para que ocorra o progresso. Após isso, ao utilizar a teoria de Thorndike e constatar que os homens são originalmente diferentes ela relaciona essa proposta ao problema da administração democrática, já que nos primórdios da democracia a melhor maneira de manter a ordem e administrar a sociedade seria aquela que atendesse a todos de maneira exatamente igual, o que depois foi desconstruído por ela ao pensar que o necessário mesmo seria atender cada pessoa em sua individualidade, "de modo diferente para com indivíduos diferentes" sendo assim direcionado à ele o benefício social mais proveitoso. Para ela bastou entender que as diferenças eram naturais do homem e que esse era o critério dominante entres os reformadores, para que fosse constatado que a organização social descrita anteriormente, era o modelo de administração socioinstitucional que mais atendia às necessidades da população, um pensamento regado de referenciais liberais e de ideias individualistas predominantes na sociedade. E sobre a expansão da personalidade, busca pesquisar o "homem em seu conjunto", trata-se de entender que os elementos externos ao indivíduo exercem influência sobre a expansão da personalidade, porque ela seria o resultado do meio social. Mas ao contrário do que parece a teoria de entender o homem em seu conjunto, não é compreendê-lo em sua totalidade social, mas sim idealmente como somatório das suas relações, e acrescenta: Sabemos que a personalidade se dilata e se expande quando lhe surgem novos direitos, novos interesses, novas ligações de amizade, e sabemos também como ela é afetada quando a esfera de nossa atividade é reduzida ou quando a morte nos rouba uma amizade [...] (RICHMOND, 1950, p. 315) (realmente a descrição do fato social) Ela compreende como relações sociais a ideia de interação entre o homem e suas companhias ao longo da vida, diz: "um homem é, na verdade mais influenciado pelas suas companhias do que pelas que os seus antepassados tiveram" Teve como base para suas interpretações acerca de personalidade, pelo que avaliou como os melhores psicólogos da época como a Psicologia Social de James Mark Baldwin, que relaciona os interesses da pessoa ao seu meio imediato, e ela complementa que esses interesses são variáveis e contínuos e que podem tanto elevá-los como rebaixá - los, é a forma com a qual se relacionam entre si e no meio social. Assim, equilibra - se em tendências empiristas e objetivistas da psicologia tendo como duas pontas principais, o que pôde ser observado nas constatações que, por um lado se ressalta a pessoa em sua individualidade e diferenças próprias e, por outro lado, acentuam o valor dos elementos externos para a soma do indivíduo com os mesmos e da influência que exercem sob o homem e sua atividade psíquica. Comportamento dos indivíduos em suas relações interpessoais e suas influências X a necessidade de aprimoramento pessoal com auxílio do serviço social, para a resolução dos problemas por ele enfrentados. A atuação sobre o indivíduo seria a ferramenta para modificar o meio social. CONSIDERAÇÕES FINAIS O pensamento de Richmond, aquele que como foi falado, deu origem às produções teóricas do Serviço Social, oferece uma proposta investigativa e a metodologia para se executar frente às realidades sociais em que se apresenta situação de vida e de saúde das pessoas que vão receber o serviço prestado. Por mais que apresente um amplo conhecimento em formulações que se voltam para a compreensão das condições de vida dos indivíduos na família, trabalho e relações imediatas, e que possua elementos empíricos e bases na sociologia e no comportamento e ações dos indivíduos, ele não busca integrar isso tudo com as relações sociais nas quais o indivíduo se insere, apenas em estudar, analisar e investigar o indivíduo unitariamente. Portanto a Obra estudada pela Revista, de Mary Richmond O Diagnóstico Social, que trata do tema da individualidade, atua como fundamento à atuação profissional na proposta de elaborar uma técnica comum do diagnóstico social para o conjunto dos assistentes sociais. Bebe das fontes do funcionalismo e behaviorismo duas correntes do campo da psicologia, sendo o primeiro um movimento que se concentra no funcionamento dos processos mentais, principalmente em situações de perigo e o segundo estudando e destrinchando as características do indivíduo e a expansão de personalidade. (Personalidade que no conceito da obra Diagnóstico Social tem a concepção do homem como somatório das suas relações). No capitalismo o indivíduo surge como portador de uma liberdade que não encontra precedentes na história da sociedade de classes e a sua personalidade foi pautada como objeto de investigação científica e filosófica sempre desconectado da totalidade social. É no capitalismo que os indivíduos vão surgir como individualidades, sendo objetos de estudos e teorizações do ponto de vista econômico, político e filosófico. Marx (1983, p. 4) diz: " a época que produz esse ponto de vista, o do indivíduo isolado, é precisamente aquela na qual as relações sociais gerais alcançaram o mais alto grau de desenvolvimento”, ou seja, responsabiliza - se o indivíduo por seus problemas sem considerar o meio social geral que vive, mesmo na época em que mais tem se desenvolvido as relações sociais gerais. Portanto, a concepção de personalidade no serviço social tem caráter atemporal, a-histórico, não é construído ao longo da história. Uma concepção de personalidade geral que coexiste com a de um indivíduo abstrato. As instituições e os grupos firmam - se com meios para desenvolvimento pessoal/individual, enquanto os indivíduos (que são a causa e a solução de seus problemas) em suas singularidades, são as forças que impulsionam o desenvolvimento da sociedade. A história dos indivíduos só é levada em conta para descoberta dos problemas que comprometem sua vida social ativa e adequada à convivência no trabalho, na família e no meio social. Não há nenhuma ligação entre relação a personalidade e a essência da sociedade no seu desdobramento histórico-concreto. O serviço social de casos não só atuou na prestação de serviços de natureza material como também através da interpretação de sintomas patológicos no comportamento das pessoas. Todas as expressões da questão social são vistas como uma inadaptação do indivíduo à realidade social, quando na verdade as bases econômicas e a alienação dos indivíduos deveriam ser questionadas.