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Biologico
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RESUMO
O sistema de Lodos Ativados é um dos processos biológicos mais amplamente utilizados para
o tratamento de águas residuárias e tem sido a principal forma de tratamento na industria de
Papel e Celulose. O manuseio e acondicionamento final do lodo gerado neste sistema é um
problema ambiental e econômico. Em muitos casos as plantas de tratamento direcionam de
50% a 60% do orçamento anual dos custos de operação somente com o desaguamento,
transporte e disposição final do lodo produzido.
Um modelo de efluente de Industria Papel e Celulose Kraft foi utilizado com este processo para
uma possível aplicação em escala real dentro da Industria do setor Papele iro. Um equipamento
denominado KADY MILL, o qual utiliza elevada força de cisalhamento e calor foi utilizada
para a lise do lodo a ser recirculado de volta ao reator. O desempenho deste processo foi
comparado a um sistema convencional, em laboratório.
INTRODUÇÃO
Geralmente, grandes quantidades de lodo biológico são formados nos processos biológicos de
tratamento de águas residuárias e a separação, desaguamento e acondicionamento final deste
lodo representa investimentos e custos elevados para o seu tratamento. Dados fornecidos pela
US-EPA (Agência de Proteção Ambiental dos EUA), indicam que é gerado em média 0.1 kg
de lodo seco/habitante/dia. Este número é equivalente 9.6 milhões de toneladas métricas de
lodo seco por ano nos Estados Unidos (não levando em consideração o volume gerado no
setor industrial).
O conceito de aeração estendida como um processo para minimizar a geração de lodo, baseia-
se na teoria que a taxa de produção da biomassa, pode ser balanceada por taxas de destruição
devido a eventos digestivo e de autodigestão, em tempos de detenção celular elevados, de tal
forma que a taxa de crescimento da biomassa aproxima-se de zero (Lowe et al. 1992).
Em pesquisa realizada por Bush e Myrick no início da década de 60, foi estudado o processo
de oxidação total em experimentos de laboratório, concluindo-se que a recirculação total de
lodo em um sistema de lodos ativados era inviável, devido ao aumento crescente de sólidos no
sistema, a menos que o transporte de sólidos no efluente fosse suficiente para manter o
equilíbrio.
Washington e outros (Obayashi e Gaudy, 1973), reportaram que houve adaptação dos
microrganismos a uma massa de lodo acumulada bastante alta, onde a relação alimento por
microrganismos é extremamente baixa. Nesse estudo, reatores de batelada foram operados
durante um ano sem descarte de lodo. Sob essas condições, os sólidos biológicos mostraram
uma tendência cíclica de aumento de sólidos, seguido por um decréscimo. Os autores afirmaram
que não houve perda substancial de sólidos voláteis no efluente, e portanto, a redução na
quantidade de sólidos não poderia ser atribuída a perda de sólidos pelo efluente tratado.
Tratamentos por ultra-som e digestão físico-químico foram usados como tentativa de destruição
de lodo biológico antes do retorno deste ao reator, como opção visando melhorar a aeração
estendida. As modificações mostraram bons resultados e, em ambos os experimentos, os
reatores tiveram bom desempenho, mas os custos elevados no processo físico-químico e
elevado consumo de energia, os tornaram economicamente proibitivos. Em recente publicação,
Springer e colaboradores (1996) fizeram estudos comparativos entre a KADY MILL e outros
dispositivos também causadores de lise celular, e concluíram ser a KADY MILL adequada
tecnicamente para provocar a desintegração do lodo. Os autores mostraram também que o
equipamento apresenta custos competitivos de operação em relação a outros métodos.
METODOLOGIA DE ESTUDO
? OBJETIVO
Efluente sintético de uma indústria integrada de papel e celulose do tipo kraft, foi preparada
com compostos orgânicos clorados para avaliar uma futura aplicação deste sistema na indústria
do setor papeleiro. O equipamento utilizado neste experimento para provocar a lise do lodo é a
KADY MILL, que utiliza colisão de partículas em alta velocidade, cisalhamento e calor para
promover a quebra do lodo biológico, anterior ao seu retorno ao reator. O desempenho deste
processo foi comparado a um sistema convencional, em duas unidades de bio-oxidação, em
escala de bancada.
DISCRIMINAÇÃO DO EQUIPAMENTO
O equipamento denominado KADY MILL, que foi utilizado neste trabalho consiste de um
modelo para uso em laboratórios, com um motor de 3 HP. É um equipamento muito utilizado
como dispersor em estudos e projetos relacionados a revestimentos e pigmentação de papel,
devido a sua propriedade de gerar cisalhamento e mistura ao fluído. O KADY MILL opera
pelo princípio de impacto e atrito mais propriamente do que o de cisalhamento. Evitando o
cisalhamento e utilizando colisão em alta velocidade, pode-se operar materiais com baixa
viscosidade, como aqueles cuja viscosidade é próxima à da água. A cabeça de dispersão da
KADY MILL consiste de um rotor com fendas e um estator girando no seu interior, isto é, são
duas peças de metal cilíndricas e anulares, uma estacionária e a outra giratória. O rotor atua
como uma bomba centrífuga e força o fluido a atravessar as fendas do rotor radial lançando-o
para fora das fendas a 16000 rpm contra a face perpendicular das fendas do estator. Portanto
essas forças mecânicas atuando junto ao calor gerado no sistema, que atinge temperaturas ao
redor de 700 C, atuam de forma sinérgica para a desintegração das células dos microrganismos,
solubilizando o lodo biológico para o seu retorno ao tanque de aeração.
Duas unidades de bio -oxidação da marca Horizon Ecology™ de 6,5 litros cada foram
utilizados como sistema de tratamento biológico com regime de operação contínuo, com Tempo
de Retenção Hidráulica de 8,7 horas e uma média de 7,0 dias para o Tempo de Detenção
Celular, que era mantido retirando-se diariamente 0,9L de Sólidos Suspensos do Tanque de
Aeração. Um volume de 18L de efluente, era preparado diariamente em batelada e bombeado
para cada reator em um período de 24 horas, fornecendo portanto uma vazão de 0,75 L/hr.
Para simular o efluente, foi utilizado licor preto trazido de uma indústria integrada de papel e
celulose em tanque de 100 litros antes dos experimentos terem início, e mantido até o final dos
estudos em refrigerador a 40C para melhor conservar suas propriedades originais. Um pequeno
volume deste licor preto era então utilizado diariamente com o amido solúvel, nutrientes e água
para a preparação do efluente simulado. O licor preto foi, portanto, a principal fonte de
carbono fornecida durante o estudo. O amido foi adicionado para simular perdas durante as
operações na fabricação do papel. O pH do efluente bruto foi ajustado para 7,0-8,0 com ácido
sulfúrico e hidróxido de sódio (quando necessário). Por último era adicionado um coquetel com
compostos clorofenólicos selecionados para fornecer a concentração desejada de
organoclorados.
Para documentar as condições dos bio-reatores várias medidas de controle do processo foram
efetuadas diariamente, a saber: pH, temperatura, Oxigênio Dissolvido, Sólidos Suspensos
Totais e Voláteis no Tanque de Aeração e efluente tratado. Os compostos clorofenólicos foram
analisados por Cromatografia Gasosa e Espectrometria de Massa no laboratório
Environmental Enterprises Inc. nos EUA, pelo método 625, desenvolvido pela US-EPA. A
Demanda Química de Oxigênio foi determinada utilizando os procedimentos e kits da Hach.
Amostras compostas de 24 horas dos efluentes brutos e tratados eram coletadas a cada 15 dias. As amostras
eram então mantidas em vidros âmbar à 40 C e pH 2 com ácido sulfúrico até o momento da análise
cromatográfica. Para as outras análises, as amostras eram coletadas diariamente.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os reatores foram operados por um período superior a seis meses, porém os resultados aqui descritos englobam
o período aproximado de três meses, cujo principal objetivo foi o de avaliar a capacidade dos reatores em se
manterem estáveis à concentrações crescentes de organoclorados.
EFICIÊNCIA DE REMOÇÃO
Figura 3: Valores de DQO em mg/L, obtidos na entrada e saída dos reatores. Afluente
1 e Efluente 1: unidade controle; Afluente 2 e Efluente 2: unidade tratamento.
1200
1000
DQO mg/L
800 afluente 1
afluente 2
600
Efluente 1
400
Efluente 2
200
0
1 6 11 16 21 26 31 36 41 46 51 56 61 66 71 76 81 86
Tempo (Dias)
Observa-se que ambos os reatores se comportaram de forma semelhante quanto à remoção DQO (Figura 6). A
unidade tratamento, com recirculação total de lodo, após o mesmo ter sido desintegrado na KADY MILL,
apresentou índices de remoção próximos aos da unidade controle.
Figura 4: Correlação dos valores obtidos para
DQO (mg/L) para os efluentes das unidades
controle (E-1) e tratamento (E-2).
300
200
E-2
100
Seqüência
1
0
0 100 E-1 200 300
1000
Afluente 2
750
500
250
Seqüência1
0
0 250 500 750 100
0
Afluente 1
75
50
25
0
0 25 50 75 100
Unid. Contr.
portanto, são moléculas de tamanho relativamente pequeno, que possivelmente são transportadas para o interior
das células dos microrganismos.
Abreviações
2-CF: 2 Clorofenol
2-4 DCF: 2-4 Diclorofenol
2-6 DCF: 2-6 Diclorofenol
2-4-6 TCF: 2-4-6 Triclorofenol
4-5-6 TCG: 4-5-6 Tricloroguaiacol
TeCC: Tetraclorocatecol
U.Contr.: Unidade Controle (sistema convencional)
U.Trat.: Unidade Tratamento (sistema modificado)
Esperava-se que os organoclorados presentes nos efluentes brutos pudessem provocar reações
adversas em ambas os reatores, possivelmente levando as reatores a se tornarem instáveis,
principalmente a unidade tratamento, que tem o lodo recirculado de volta ao tanque de aeração,
sem ser descartado como no caso da unidade controle (sistema convencional). Devido a
hidrodinâmica dos reatores utilizados, foi necessário fornecer uma vazão elevada de ar à ambas
as unidades para que houvesse uma melhor mistura no tanque de aeração. Esse fator pôde de
alguma forma ter contribuído para aumentar a remoção dos compostos organoclorados e
também a DQO, por exemplo através do mecanismo de volatilização.
Os resultados levam a concluir que a biomassa microbiana pôde ser aclimatada a estas
dosagens crescentes de organoclorados a que os reatores eram submetidos. É importante citar
que, a primeira dosagem (~0,45 mg/L para cada composto) causou uma menor eficiência de
remoção destes compostos, devido provavelmente ao fato de os microrganismos não estarem
aclimatados a estes compostos. As dosagens mais elevadas (~3,35 mg/L para cada composto),
não provocaram reações adversas nos sistemas. Mesmo os valores de eficiência de remoção de
DQO se mantiveram elevados na presença destes compostos.
CONCLUSÕES
Ambos os sistemas operaram sem problemas de bulking (perda de lodo pelo efluente) durante
esta fase do experimento, mesmo com concentrações elevadas de organoclorados.
Nenhuma diferença significante nos desempenhos das unidades de bio-oxidação foi observada,
para os valores obtidos com a remoção de DQO e a remoção de organoclorados. A unidade
controle e a unidade tratamento apresentaram efluentes de qualidades semelhantes.
Em uma próxima etapa, será analisado os aspectos econômicos de instalação e operação deste
sistema em escala real, comparando-se os custos de outros processos já existentes e em
operação.