As expressões populares incluem inúmeros padrões de sons percussivos e
movimentos corporais reconhecidos pelas pessoas que os praticam como
ritmos afro brasileiros. Esses ritmos são sedimentados na cultura popular a partir de uma memória geracional e ancestral que as comunidades constantemente recriam. Seu aprendizado, nesses contextos, ocorre pela vivência pessoal, pela transmissão geracional e comunitária, empiricamente, com as crianças brincando de imitar a brincadeira dos mais velhos, tão naturalmente como aprendem a falar, em práticas nas quais a música não atua como linguagem exclusiva. A dança, em primeiro lugar, é a linguagem que tem um papel de representação espacial dos eventos sonoros, em especial os eventos rítmicos. O som e o corpo atuam lado a lado. Essa paridade, na cultura brasileira, com a reconhecida presença da matriz africana, é de grande relevância nos contextos populares. Portanto, quando falamos de ritmos afro brasileiros, estamos falando de música e dança ao mesmo tempo. Ijexá, Barra Vento, Congo de Ouro, Cabula, Arrebate, e inúmeros outros ritmos afro brasileiros são música e dança. Entendo como importante a inclusão de uma movimentação corporal característica no aprendizado dos ritmos afro brasileiros, objetivando um entendimento mais global do fenômeno rítmico de som e movimento. Foi ensinado que descobri maneiras de estimular, somar corpo e som, para um aproveitamento educativo e artístico.
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Moringa D´Xoroquê é percussionista e professor, formado em Licenciatura em Música e pós graduação na Área de Educação Musical e Música Popular. Estudou percussão Afro Peruana, Afro Cubana e Cubana na EMESP. Participou de vários grupos e Big Band de São Paulo, viaja pelo Brasil lecionando Workshop de ritmos afro brasileiros e Oficinas de Educação Musical. Gravou o CD Cantigas de Roda projeto da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo.” Atualmente coordena o Projeto TAMA – Centro de pesquisas e estudos dos Ritmos Afro Brasileiros pela Fundação Cultural Cassiano Ricardo e leciona aulas de percussão popular no Projeto Guri. Percussionista do Grupo Fuá Rabecado, grupo que pesquisa a cultura caipira do Vale do Paraíba.
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INTRODUÇÃO AO CURSO DE ATABAQUE SAGRADO:
O objetivo do curso é servir de ferramenta de pesquisa para aqueles que visam
a conhecer mais profundamente à música, afro-brasileira de origem Yoruba presente nos rituais religiosos do candomblé e umbanda. Além desse intuito primordial e, na medida em que descreveremos na linguagem musical a diversidade e complexidade dos toques, iremos questionar os modelos cristalizados ideológica e politicamente da arte, da música e da estética do belo. Ao investirmos em formulações práticas aliadas às teorias da antropologia, da história e da etnomusicologia, acreditamos potencializar os recursos da linguagem musical em associação da escrita musical para divulgar o complexo repertório da música sagrada tocada no Brasil há mais de quatrocentos anos, embora de forma bastante restrita aos espaços dos terreiros. É possível afirmar que a música vinda dos tambores rituais, fruto do conhecimento de iniciados no culto aos orixás, possui complexidade, riqueza semântica e indescritível poder de recriar-se na presença do mágico, do sagrado. Assim, podemos dizer que esse trabalho é uma forma de homenagear os músicos dos atabaques sagrados. Pois apenas aquele que experimenta a proximidade do orixá e sabe reinventar o mito por meio da música é dado o poder de provocar e preparar os corpos para a possessão, assim como de determinar a atmosfera ritual, os momentos de clímax na dança e o sucesso das oferendas. Os músicos dos atabaques sagrados narram o mundo a maneira antiga, são tradutores do ORUN, regentes dos ORI e os arranjadores do ÀSE. - Orun é uma palavra da língua yoruba que define na mitologia yoruba, o céu ou o mundo espiritual, paralelo ao Aiyê, mundo físico. Tudo que existe no Orun coexiste no Aiyê através da dupla existência Orun-Aiyê - Ori, palavra da língua yoruba que significa literalmente cabeça. - ÀSE – Termo de múltiplas acepções no universo dos cultos: designa principalmente o poder e a força vital. Além disso, refere-se ao local sagrado da fundação do terreiro, tanto quanto a determinadas porções dos animais sacrificiais, bem como ao lugar de recolhimento dos neófitos (Runko). É usado ainda para designar na sua totalidade a casa-de-santo e a sua linhagem. - ÀSE – poder, lei, ordem, força, maior, assim seja.
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A CHEGADA DOS NEGROS AO BRASIL AS PRIMEIRAS CASAS BAIANAS E A VINDA DOS YORUBA PARA O RIO DE JANEIRO:
Segundo Yeda Pessoa de Castro é possível afirmar que, em termos culturais,
“o espaço africano é a matriz mais importante na configuração do perfil da nacionalidade brasileira”. Entre os séculos XVI e XIX, 3.600.000 escravos chegaram ao Brasil, vindos da Nigéria, do Daomé, de Angola, do Congo e de Moçambique. Contanto que, em 1822, existiam cerca de 5.000.000 de africanos vivendo no Brasil, podemos imaginar como o idioma, a religiosidade, a música, a estética, a ética, o modo de pensar e viver e os demais elementos da cultura material e simbólica dos negros iam tomando vulto na sociedade colonial. A mesma autora aponta para outros fenômenos ligados a presença dessa numerosa população, como a gradual desarticulação da fala tupi entre a população e sua substituição por vocabulário rico de palavras das línguas africanas. Para se ter uma ideia da diversidade de idiomas, e de dialetos aqui falados, podemos citar o caso dos bantos trazidos para o Brasil, sobressaindo-se, entre eles, principalmente, o quicongo (Congo), a cabinda (Angola), o quimbundo (Angola e Luanda) e o umbundo (Angola e Benguela). Outros elementos culturais africanos que marcaram a sociedade colonial foram: a preponderância da mulher negra como mãe preta, na criação de crianças brancas; a intermediação do negro ladinho nas negociações sociais; o desempenho sócio religiosode uma geração de sacerdotisas negras que sobreviveram a toda a sorte de perseguições e preconceitos, criando, ao longo de espinhoso caminho, estratégias de comunicação e de negociação com o mundo branco. Com a vinda da família real para o Brasil em 1808 os escravos negros se fixaram no Rio de Janeiro. A proibição de tráfico e a abolição, mais tarde, fazem com que haja um aumento do comércio interno de escravos e consequente aumento do contingente de negros no Rio de Janeiro.
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RITMOS, INSTRUMENTOS E MÚSICOS NOS RITUAIS:
O poder da música de provocar a presença dos deuses africanos na terra, o
poder de criação e recriação do tempo e do espaço, o poder de tornar sagrado o que era profano, o real sem forma, sem, em momento de lirismo e de delírio. Trata-se do poder da música, corporificado pelos OGANS, e adquirido por meio da reprodução constante das cerimônias. Esses conhecimentos são apreendidos de forma especial, iniciativa e mística. Os ritmos, por sua vez, têm estreia ligação com o canto e com a dança: o canto louva, enumera e qualifica os passos do orixá; o ritmo identifica, possibilitando a dramatização por intermédio da dança e das narrativas míticas. Existem variados tipos de ritmos e cada um tem funções específicas, às vezes invocatórias, anunciando a chegada de Iaôs, o começo de rituais ou o louvor a um Orixá específico. Quando precedidos de canto, objetivam louvar a determinado Orixá, identificando-o por meio da dança e da gestualidade que o qualifica e que impõe o andamento do ritmo. O Batá, Ijexá, Congo, Cabula, Opanijé, são alguns ritmos dedicados a orixás em momentos específicos. Cabe ao OGAN – ALAGBÊ conhecer cada um deles e o momento de tocá-los. Esse conhecimento é adquirido durante toda a vida e é transmitido oralmente até hoje. Não existem registros de escrita musical sistematizada com esses ritmos ou com essas cantigas. Alguns importantes estudos de etnomusicologia tem se desenvolvido no Brasil, porém não abarcam, ainda, a diversidade, nem a complexidade dos rituais. Esses ritmos continuam resistentes ao tempo e a modernidade tecnológica dos grandes estúdios digitais que permeiam o universo da MPB. É importante abordamos os instrumentos e suas particularidades. A maioria dos instrumentos utilizados nos rituais do candomblé é de tipologia membrafone, ou seja, de percussão, cujo som é provocado por meio da vibração de membranas distendidas. Abaixo apresentamos classificação amplamente dos membrafones: Tambores percutidos: instrumentos cuja membrana é posta em vibração ao ser batida ou percutida. Inclui quase todos os tambores. Tambores pinçados: São tambores que possuem uma corda fixada a membrana. Quando essa corda é pinçada, passa sua vibração para a membrana, que vibra solidariamente. Tambores friccionados: tambores cuja pele ou uma corda fixada ele é friccionada com as mãos, baquetas ou alguma outra coisa, tais como a cuíca.
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Além desses, podemos ainda assinalar os idiofones, que são instrumentos em que o som é provocado por sua vibração. É o próprio corpo do instrumento que vibra para produzir o som, sem a necessidade de qualquer tensão. Nessa tipologia incluímos os agogôs, os xequerês e os afoxés. Tambores já foram encontrados em escavações arqueológicas do período neolítico: na Moráiva. Encontraram-se tambores de 8000 anos e, na antiga Suméria, tambores de 5000 anos. Na Mesopotâmia, foram descobertos pequenos tambores datados de 3000 a.C. e descobertos dentre os artefatos egípcios, a 4000 a. C.
OS ATABAQUES SAGRADOS
Os atabaques são tambores utilizados nos cultos afro brasileiros, fabricados
com aduelas de madeiras retidas por aros de ferro. São abrangidos sobre um dos lados por pele de cabra ou de vitelo. Os atabaques são o rum, o rumpi e o lê, que agem como uma orquestra, com suas respectivas funções pré - definidas. Cada atabaque representa um orixá e por isso, tem obrigações específicas a serem feita.
MANTRAS RÍTMICOS
Os ritmos sagrados possuem um caráter sacro, e assim como toda música
sacra, são voltados para a liturgia específica. O que poderíamos chamar de grupo instrumental é formado pelos seguintes instrumentos. Gan: de uma campânula e o Agogô de duas, de tamanho e sonoridade diferentes, geralmente percutidas por varetas de metal. A sonoridade metálica desse instrumento simboliza o poder criador da forja mítica de Ogún. Dentro da hierarquia é o velho, ele sempre começa. Lé e rumpi: nos ritmos executados com as baquetas Aguidavis, tocam esses atabaques as mesmas células rítmicas. Já nos ritmos executados sem baquetas, eles tocam diferentes configurações sendo: o LÉ faz a marcação rítmica enquanto o RUMPI faz a condução rítmica. Rum: é o atabaque de sonoridade mais grave, executado com uma mão livre e uma baqueta aguidavi. É o solista do grupo. Sua sonoridade inquieta, dentro dos padrões rítmicos repetitivos, simboliza a ebulição energética emocional e
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espiritual mais profunda da força mítica dos ritmos nas pessoas enquanto elas dançam o que é o principal fator que conduz ao transe. Xequerê: cabe a esse instrumento a representação da cabaça de ossain. Ossain é o orixá regente de toda natureza vegetal e da medicina. Em seus mitos, fala-se de sua cabaça, que guarda todos os segredos medicinais e o poder místico das folhas. Sua sonoridade expressa o som de passos sobre as folhas secas na floresta.
MÚSICO DOS ATABAQUES SAGRADOS: OGÃ
A palavra Ogã vem do Yorubá e significa Senhor da Minha Casa. O Ogã –
médium responsável pelo canto e pelo toque. Ocupa um cargo de suma importância e de responsabilidade dentro dos rituais de Umbanda e Candomblé. O conjunto de vozes e toques dos atabaques e ferro (Gã) faz a sustentação dos trabalhos espirituais para que possam ser fortes e bonitos. O conjunto de atabaques e vozes é parte fundamental da sustentação da casa e dos trabalhos, a desarmonia na Curimba, pode tornar fragilizados os trabalhos e as energias da casa em dia de gira, toque ou como vocês irmãos estão acostumados a chamar em suas casas. O responsável pelo toque, o Ogã, tem de ser bem preparado, coroado ou iniciado como Ogã para exercer tal função em um terreiro, pois além de serem médiuns intuitivos, são sacerdotes natos, aqueles que nascem com a função de falar por um orixá, e de ser um instrumento puro dos orixás e fazem isso através de suas mãos e cantos. O Ogã é um canal aberto para muitas linhas de orixás ou entidades espirituais que trabalham ativamente através dele. Na Umbanda são linhas de caboclos, exus, pomba gira, boiadeiros, etc. Que por motivos próprios trabalham nos bastidores sem incorporarem ou tomarem a linha de frente dos trabalhos espirituais. Formam uma corrente de espíritos que auxiliam nos toques e cantos, são mestres na música, verdadeiros guardiões dos mistérios do “som”. Muitas são as funções que os pontos cantados têm. Primeiramente uma função ritualística, onde os ritmos e pontos marcam todas as partes do ritual da casa. Assim temos pontos para a defumação, abertura, bater cabeça, etc. A Curimba é um verdadeiro polo irradiador de energia dentro do terreiro, potencializando ainda mais as vibrações dos Orixás e entidades, ajudando os médiuns tanto na hora das incorporações, desincorporações e da firmeza de um trabalho. A
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Curimba por si só, emite energia suficiente capaz de descarregar um médium ou uma casa. O Ogã deve estar sempre pronto e procurando aprender mais e mais. Infelizmente, não temos vistos nos templos uma preocupação com a qualidade da curimba, ou seja, com o conjunto de vozes e dos atabaques (LÉ- RUMPI- RUM). Há casas em que os atabaques são tocados com tanta força que não é possível ouvir os cantos e a suas melodias. O Ogã é um SACERDOTE escolhido pelos Orixás. Um médium passa por diversas etapas para quem sabe um dia se TORNAR um sacerdote de Umbanda, estuda a vida toda para obter conhecimentos necessários para alcançar tal efeito. Um Ogã já nasce com a responsabilidade de ser sacerdote e por isso deve sempre estudar. Deve aprender corretamente os toques, cantos e fundamentos.
TÉCNICA DE TAMBORES DE MÃO
A técnica aqui sugerida pode ser aplicada a atabaques, timbaus, congas,
djembês e outros membranofones verticais. Trabalharemos com quatro sons básicos, que denominaremos: Borda, Tapa e miolo. Pratique os exercícios buscando igualar a capacidade das mãos na realização de cada som e para tanto é importante igualar: - a postura das mãos; - o ponto de contato das mãos com o instrumento; - a altura das articulações, ou seja, o tamanho do movimento realizado para se extrair o som. Lembrando que o mesmo determina o nível de dinâmica desejada. Varie o andamento e a dinâmica.
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