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waa ESL paixao : : de conhecer : z Q: me mundo~-. WCE Malle +" RELATORIO DE ATIVIDADES 1978 — Agosto, Setembro Nao sei se vou conseguir fazer 0 que me propus... Minha intengdo éa de fazer um relatério que sejafielao espirito das atividades que vém sendo vividas por mim ¢ pelas criangas. Pensei em estruturar a redagdo em pequenos “atos”. onde vou relatando nossa pratica, os didlogos entre as criangas e eu no decorrer do trabalho. Em algumas ocasides, quando necessdrio, vou abrindo parénteses, situando objetivos especificos, dando alguns esclarecimentos sobre a atividade, etc. J Iniciarei relatando o trabalho de pesquisa corporal, que surgiu de um interesse na hora da conversa na roda. — Hoje eu trouxe esse pintinho para a gente ver. De gue é feito esse pintinho? 2 de pelinho amarelo. — Nao é de lé amarela. Esse pintinho é igual ao de verdade? — Nao, o de verdade tem pena. No meu sitio tem uma galinha que teve pintinhos, com as penas branquinhas. — Ah, quer dizer que tem pinto que nasce com penas brancas ¢ outros com penas amarelas? Como esse de brinquedo? — Nao, quando ele nasce a pena é bem amarelinha, como esse (de brinquedo), depois é que fica branca. — Tem uns pintinhos no sitio que também é assim. Mas entao, como que tem uma galinha na minha casa que tem nas marron? — (Siléncio) — Ah! mas é que tem galinha branca e galinha de outra cor, uai! 39 —éE — E, sim... Todo 0 mundo aqui tem galinha?. — Nao! — Eu sé tenho no meu sitio. — Eu tenho ld na minha casa em Figueiras. = — Eundo, eu moronum prédio,o zelador ndo deixa, ele briga!... E de onde saiu estes pintinhos la do seu sitio? — Do ovo. Ela botou 0 ovo Id no ninho e dai ele saiu do ovo. Na mesma hora o pintinho saiu? — Nao, ela teve que ficar sentada muito tempo... Chocando.. — E, e ai foi esquecendo o ovo e ele saiu... ycés querem que eu traga uma galinha, amanhi, 14 da minha — Oba! Eu quero! — Eu também! GENOVEVA visita a escola Minha gente. esta (galinha) ¢ a Genoveva! — Olha... 0 bico dela! E fininho. — E pra ela pegar vs milhos do chao. E a gente tem bico? — Nao... a gente tem uma boca. — Mas pode virar (fazer) “bico” também... Nosso sapo tem bico? — Nao (risos). — Ele tem uma bocona que faz quach, quach... — A boca é como um buraco... A gente tem outros buracos no corpo da gente? — Tem sim! Tem 9 nariz... um buraco, dois buraco: — Eo ouvido, — Também tem dois buracos... — Eo cocd, Por onde sai 0 cocé? — E por onde sai o xixi Entdo quantos buracos s4o, vamos contar? — Um, dois, trés, quatro, cinco, seis, etc. — Ah. mas faltou um! Faltou? Qual? — E por onde sai o neném? Vové nao falou que néo era do mesmo buraco do xixi, lembra? 40 vagina. Entao na mulher sao quantos buracos? Vocé tem razio, faltou um mesmo, por onde sai o neném, a — Oito. E no homem? — Sete. (Aqui eu cantei alguns trechos da musica de Caetano Veloso “so sete buracos”, etc.) dente? — Que pena branquinha! — Ela tem uns buraquinhos aqui... 0 que é isso Madalena? O que é isso, minha gente? — Eo nariz! Eo nariz! — O olho dela é amarelo... Sera que ela também tem ouvido? — Tem sim! Sendo ela ndo escuta 0 galo! — Td aqui, 14 aqui! Achei: — Otha! Ela abriu o bico. E o que tem [a dentro? Sera que ¢ igual a gente? Elatambém tem. — Deixa eu ver... Ndo! Ela n@o tem é uma lingua! Uma lingua! Lingua? — Esim! Eu também vi! E o que é isso aqui? (abrindo as asas). — Ea asa dela. E igual (correspondente) 0 brago da gente. — S6é que ela nado tem mao, nem dedo... E pé, tem? — Tem si — Nao é pé, é pata. E a nossa cobra do museu tem pata? — Nao! Mas entdo, como que ela anda? — Se arrastando! Quem anda como cobra aqui? (Mais que depressa dezessete cobras arrastando-se pelo cho...) E como Genoveva, quem consegue andar? — Eu consigo, cé, c6, ¢6. — C6, c6, cb, €6, C6, 06, €1 (E cantamos a mtsica do “galo carijo”) Vamos fazer a marca da pata dela? — Vamos. — Eu vou pegar o papel. — Eu pego o lapis. 4 Gozado, a pata dela, tem quantos dedos? — Um, dois, trés. Tem trés. E a gente? Quantos dedos a gente tem? — Cinco. — Cinco numa mdo e cinco na outra. E o pé? A gente também tem dedo? — Tem sim, tem igual que na mdo! — Me dé o Idpis que eu vou fazer a marca da minha mao. Essa parte da galinha esta grudada aonde? — Na perna dela, uai! — Eu gosto de comer perna de galinha... — Nao é perna, é coxa de galinha! Onde que fica a coxa da galinha? (Siléncio). A gente tem coxa? — Tem! (risos) — A coxa é aqui neste mole (tocando a propria coxa). Depois da coxa vem o joelho e essa parte... ‘canela” — Canela? (risos) — ...Essa parte que gruda com o pé. O que é que tem embaixo dessas penas? (levantando e até puxando algumas penas) — Tem pele. Pele? E a gente também tem pele? — Tem sim! — Ela (a galinha) tem pena (grudada na pele) e @ gente tem cabelinho (passando a mao pelos cabelos e os pelos do brago). — Olha ela se equilibrando numa perna sé! — Ah, eu também sei fazer isso! — Eu também. — Eu consigo... Mas quem consegue andar com uma perna s6? — Igual ao saci... — Eu vou um pouco, mas caio logo... — Consegui, consegui!! — Descobri um jeito! Anda segurando na mesa que a gente consegue.... Boa! Quanto saci! Que equilibrio! A galinha voa? — Voa! — Voa néo, ela néo é passarinho... — Ela sé voa um pouquinho, no chéo... — Eu jé vi ld no meu sitio uma galinha dé uma voada e ficar ld em cima... Pois a Genoveva mesmo adora dormir em cima do puleiro dela, ela chega la em cima voando... com as asas. — E, ela faz assim 6...(fazendo movimentos de subir e baixar os bracos representando o ato de voar). Quem consegue fazer esse movimento de voar? — E facil... eu consigo. — Eu também 6, 6, 6. — Eu jd vium homem voando ld na televisdo; ele fez uma asa pra ele e ia puxando um corddozinho e voava! Puxa vida, ele mesmo construiu essa asa! Igual a gente na marcenaria, quando a gente faz, constréi, nossas espadas? — Ela mexeu a cabega igual 4 lagarta da estéria que vocé contou, Madalena. —E pra frente e pra tras... — Ela tava falando SIM! E onde que esta grudada a cabega dela? — No pescogo. E nossa cabega, também? — Também! — Meu pescogo é fino. — O teu é gordo... Vamos ver se a gente consegue cantar a misica do mexe, mexe, 1exedor com o pescogo? (para explorar o movimento circular e salientar bastante esta parte do corpo que antes era esquecida). Quem topa comer galinha assada amanha? — Eu! — Eu! — Eu também!!! . GALINHA ASSADA (Com a galinha assada pudemos trabalhar mais minuciosamente s partes do corpo, articulagGes e “o corpo por dentro” : ossos, sangue, jas, musculo € coracao.) — Vocé trouxe o que a gente combinou pra fazer hoje? 4B observando quais as diferencas do frango morto com a Genoveva.) como que era com a Genoveva (mostrando o pescogo juntamente com a cabega)? Onde ia a cabega? as partes do frango que ja estavam cortadas (cabega + pescogo + corpo + pés) um “quebra-cabega” onde as criangas fossem encontrando no corpo da galinha a parte correspondente que faltava. Ao mesmo tempo ir encontrando no proprio corpo suas partes; 0 que resultou num jogo muito gozado que relato no final). tronco) nessa parte. facil. proprio corpo e no da galinha). consegue dobrar a perna? Trouxe sim! — Ela trouxe! Ela trouxe a galinha! (Pusemos a galinha — o frango — no meio da roda e fomos — Onde esta a cabeca dela? Esta aqui, mas eu nao sei onde é o lugar dela, vocts lembram (Meu objetivo com este encaminhamento foi ir compondo com — fa grudada aqui (mostrando 0 correspondente ao nosso — Mas a Genoveva tinha pena... ¢ essa ndo tem. — Foi 0 homem, no acougue, que tirou. — Ndo, nao foi assim nao... Como foi entao? — Nao sei. (Siléncio) — Tem que dar um banho nela... eu vi ld no sitio. De agua quente ou fria? — Acho que é quentinha porque sendo ela sente friv. née? E, ela sente frio; também, com agua quente, as penas saem mais E essa parte aqui (os pés) aonde que vai? — Aqui na perna, junto da coxa. — Néo & na coxa, é aqui... (mostrando ao mesmo tempo no — Na canela {risos), néo é Madd? (Deste modo montamos 0 “quebra-cabega” da galinha. ) Vamos cortar as partes da galinha’ — Vamos! — Oba, oba! — Por que vocé dobra a perna dela pra partir? (cortar) Ah! Isso € uma coisa muito importante... por que a gente (Todos dobrando e esticando as pernas...) O que aparece quando a gente dobra a perna? — 0 joetho. E quando a gente dobra o braco? — Esse osso aqui pontudo... O cotovelo. E que outras partes a gente consegue dobrar? — 0 dedo... — A cabega. Pois se a gente nao tivesse essas partes (articulagGes), esses “ossos” meio moles que deixam a gente dobrar e esticar, como que a gente ia ficar? — Tudo duro. Igual a estdria do boneco de madeira... E por isso que eu tenho que cortar a galinha, justamente nessa Parte em que 0 osso dobra. — Chi! Olha, tem um pouco de sangue aqui, nesse pedaco... — “Nheco”, eu tenho nojo! — Pois eu ndo, eu até pego, 6... — E eu também, parece tinta... — E isso ai, azuzinho, o que é? O que é? — Ea veia! — Esim! E sim! — Olaha! Vem ver! Gatinha tambem tem veia!!! — Iguat a gente aqui no brago. — Eu jé tirei sangue da veia... Vale a pena abrir um parénteses aqui para falar da importancia das descobertas das criangas. E fundamental que as criancas tomem consciéncia de que elas estéo fazendo, conquistando, estéo se apoderando do seu processo de conhecimento. E que o professor, igualmente, com elas, os dois so sujeitos desse processo na busca do conhecimento. Dai que o papel do professor nao é o de “dono da verdade”, que chega e disserta sobre 0 “corpo e seu funcionamento”, mas sim o de quem, por maior experiéncia e maior sistematizacao, tema capacidade de devolver as criangas, de modo organizado, as informagées do objeto de conhecimento. No caso que descrevo: 0 corpo por dentro, a ser estudado. Quando digo que o professor também esta estudando, buscando o conhecimento juntamente com as criancas, digo isso concretamente, pelo que estou vivendo com as criangas nas descobertas do “corpo por dentro”. Realmente eu tive que parar e estudar anatomia para poder encaminhar, organizar nossas descobertas. Em que veia vocé tirou sangue? Em que lugar? — Aqui no meu braco. A gente tem veia em outro lugar? (Siléncio) 45 — Achei! Achei uma aqui na minha mao! — Eu também! Bem atrds do meu dedo... — Tem mais aqui pelo brago! Olha, otha Madalena! — Na cara dele! Eu 16 vendo uma veia. Puxa vida!!! Até na cara tem! Mas pra que tanta veia? — E pra passar o sangue! — Tem pela perna também!... — No pescogo! Tem em todo canto, veia, no corpo inteiro? — Como uns canos... E, pelo corpo inteiro tem veia levando sangue... mas eu nao sei pra onde... (Em certas ocasiées lango perguntas que ficam no ar, para depois retoma-las.) — Olha que osso mais pontudo! Pode até cortar! Um perigo perigoso.. — Mas esse aqui é pequenininho... eu até consigo quebrar. A gente tem osso? — Claro que tem! E se a gente n&o tivesse? (Siléncio) — A gente cata? — Era, cata sim, porque... Por qué? — Esqueci... — Porque o osso é duro, ele agiienta a gente (0 corpo). — E, agiienta sim, viu Madalena, agiienta sim... — Esse osso meu aqui da perna... é que segura (que liga) o meu pe. E no pé tem osso? — Tem, tem sim! — Até no dedo! E, até no dedo tem... — Na cara também, tem no nariz... — Olha esse osso de bola (tornozelo), parece um joelho pequeno! Quem consegue sentar com 0 pée a perna guardada (de pernas cruzadas, como em posic¢do de ioga, para explorar a posicdo correta de alinhamento da espinha)? — Eu consigo! — Eu também... Pois vamos balangar pra ca ¢ pra ld, pra ca, pra la. — Como uma cadeira de balango... Isso mesmo! — Eu tenho dois ossos nobum-bum aqui... que quando a gente ‘a chega dé: _ E mesmo! Eu também estou sentindo! _ — Eu também, tenho! — E mesmo... Como sera o nome dele? — E osso tem nome? (risos) Tem!.., mas eu nao sei o nome desse... — Vocé nao sabe? Nao, nao sei. Eu tenho que estudar para descobrir (descobrir igual a vocés) 0 ¢ desse sso... Quem descobrir vem e conta na hora da roda, né? — O que é essa bolinha vermetha? — Ah! E 0 coragao! — Laem casa eu sempre como o coracao da galinh — E tao pequenininho! euadoro! Todo mundo aqui tem coragao? — Tem! Se nao tiver, morre... — O meu esta batendo! — O coracdo bate 0 tempo todo. — E, porque se pdra, a gente morre, meu pai que falou, ele é — O meu também é! — Minha mée é que é... — Um dia eu escutei meu coragao... Como é que a gente escuta o coragio? — Com aquela coisa... — O estetoscdpio. oa E... que pée no ouvido e no coragao e dai a gente escuta: tac, tac. Ah... se a gente tivesse um estetoscdpio pra gente escutar nosso io.:. sera que teu pai empresta? — Manda um bithete pro pai (todos) pedindo... _ Boa idéia!! Vamos fazer isso mesmo! (Foi nessa hora que me deu 0 estalo! E aqui que os pais entram. ravés do trabalho do dia-a-dia, do agora; pois os pais também estao mesmo processo — como educadores que sdo — de busca do 1ecimento juntamente com as criangas.) — Eu pego a caneta. — Vou pegar o papel. — Néo, vocé nao, toda vez é sé vocé; agora sou eu... a7 Como que a gente vai dizer no bilhete? — A gente precisa do testocdpio (estetoscapio). — Para a gente escutar os sons do coracao — E do corpo por dentro. (E assim fomos redigindo: “Estamos precisando de um estetoscépio para a gente escutar... etc”.) Numa altura alguém falou: — Mas meu pat ndo vai emprestar porque quebra. A gente vai deixar quebrar? — Nao! A gente cuida bem direitinho... Entao precisamos dizer isso no bilhete: “Nés vamos cuidar muito bem dele, ndo se preocupem...” Vale a pena ressaltar a alegria e a importancia que deram a redagao do bilhete, ao cuidado que tiveram em guarda-lo na Jancheira, para nao perderem: é pro pai e pra mde... nao pode perder. Cortadas todas as partes da galinha e temperada, levamos ao forno, e quando ficou pronta, enquanto comiamos, fomos relembrando tudo que fizemos, como cortamos, qual as partes da galinha, etc. Foi aqui que surgi 0 jogo de “cortar as partes da galinha”, que consistiu em cada crianga ir “cortando” — gesto simbolico de cortar com a faca as partes da galinha. Cada crianca era uma galinha. — Vou cortar a asa (o brago) e agora a outra asa.. — A coxa... a canela... 0 pé. — A cabega, 0 pescogo... S64 ficou o tronco... (¢ ia passando a mao pelo tronco de cada um. para ressaltar, de modo mais forte, o tronco, a espinha como cixo central do nosso corpo). (No dia seguinte, da remessa do nosso bilhete, foi uma “chuva™ de estetoscépios na sala...) — Eu trouxe! Meu pai deixou trazer! — Eu também trouxe! Olha o meu! (Para uma crianga de quatro anos o seu “corpo por dentro” éum mundo magico, cheio de mistérios que ela nao consegue entender corretamente. Foi partindo de um ruido real, dando umas batidi- nhas no estetoscépio ou pondo-o na mesa e batendo com o lapis, que comecgamos a trabalhar com ele. Pois, caso contrario, escutar os sons do corpo, sem entender o funcionamento causa-efeito do estetoscépio, reforgaria essa visio magica do mundo.) — Nao dd pra escutar assim... Té muito barulho! — Faz siléncio! — Eo “mundo do siléncio” agora... (“O mundo do siléncio” vem do trabalho de miasica, onde toda: as portas ¢ janelas sao fechadas, onde ficamos na penumbra dado do pensamento pré-operatorio, onde 0 mundo é 48 concretamente, Fazer siléncio total, apoiado numa situacao concreta de fazer siléncio: fechar todas as portas ¢ janelas, simbolizando a noite, quando se faz siléncio, para “fazer o mundo do siléncio”.) — Agora, escutei... bate igual (tem sempre o mesmo ritmo). — Escutei, faz, tac, tac, ioe, to (E os olhos brilhando assim que escutavam as primeiras batidas!) — O meu bate baixo... (Nos dias que se seguiram levei um osso de boi enorme, parte da perna, para comparar com os da galinha que guardamos no museu, e com os que sentiamos no nosso corpo. Trouxe também um coracao de ‘boi, que causou espanto ¢ admiracao a todos...) — Que osséo grande! — Esse boi era grandéo... — O osso de galinha era bem pequenininho. De gue parte do boi sera esse osso? — E do joetho! Otha a bolona aqui. — Ele fica assim, 6... (ficando de quatro e pondo o osso, correspondendo a uma das pernas). Sera que tem alguma coisa, dentro desse osso? — Serd. — Meda aqui que eu quebro ele no chao. — Chi! S6 serrando com serrote. (Depois de um grande esforgo por parte de todos, cada um serrou um pouco e€ 0 osso ficou dividido no meio...) — Olha tem uma massinha... Tem feito uma massinha branca! — Feito um farelo de pio... — Ai, eu ndo gosto... Com esse farelinho, essa massinha, se faz uma sopa deliciosa...se chama tutano. (Enquanto observavamos o coragdo de boi, comparamos com 0 coragao da galinha, redigimos mais um bilhete “pro pai pra mae”...) — Que grande! — Ele (o coragao) deve fazer um baruthdo... — O da galinha faz baixinho... — O que é essas coisas feito um canudo? (artérias) O que é? — Ea veia! E a veia do coragdo. — EF por onde vem o sangu Ab! Entao 0 sangue do corpo da gente vem atéaqui,o coragao? sina, vent e entra aqui nessa veiona... E como sera © nosso coragao? Sera que é igual a esse? — Nao sei... — Ah! Nao é grande assim, nao... 49 Sera que em casa tem algum retrato do coragao? Vamos mandar um bilhete perguntando? — Vamos! E redigimos 0 nosso segundo bilhete: Nds escutamos nosso coragéo e jd vimos o coragdo da galinha e do boi, mas a gente nao save como é nosso coracao; quem tem uma fotografia do nosso coragado que @ gente possa ver? Aas poucos foram chegando fotos, de revistas, radiografias com bilhetes do pai explicando, o que provocou grande respeito, livros sobre 0 coragdo e o funcionamento do corpo em geral. Atualmente estamos vendo, “estudando”, estes materiais, mas 0 que ja pude observar muito claramente em todos, como reflexo deste trabalho que estamos vivendo, é uma forte consciéncia do proprio corpo, suas partes, seus membros, que se revelam por exemplo no desenho da figura humana, com todas as partes do corpo bem salientes. Surgiu, inclusive, uma construgao na areia, por um grupo de cinco criangas, de uma figura humana gigantesca. A construgao foi feita salientando o contorno do corpo com todas as suas partes. Voltando a sala relembrei o que vi no parque, dei uma folha de papel bastante comprida, e pedi para irem mostrando o que tinhamos visto na areia. Isto porque penso que é importante que as criangas documentem concretamente, ¢ no caso, através do desenho, suas experiéncias, suas vivéncias, seu trabalho. Este é um dado que o professor sempre desenvolveu para que elas préprias se organizassem. E assim surgiu “nosso gigante”: cada crianga desenhou uma parte do gigante. Concluindo, o que tenho observado, sentido nas crian- gas (e em mim), como reflexo do nosso trabalho, é um gran- de entusiasmo, os desafios sen- do enfrentados com alegria e prazer. O que nos da a certeza de que a busca do conhecimen- to nao é, para as criangas, pre- paracdo para nada, e sim vida aqui e agora.

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