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TCC Conrado Projeto Pgcav - Sobre Choques Futuristas
TCC Conrado Projeto Pgcav - Sobre Choques Futuristas
SÃO PAULO
2022
CONRADO ACCORSI DE ALBUQUERQUE
São Paulo
2022
Albuquerque, Conrado Accorsi de
Sobre choques futuristas : o maneirismo em Metrópolis e Blade
Runner / Conrado Accorsi de Albuquerque. - São Paulo, 2022.
161 f. : il., color.
Ficha catalográfica elaborada pelo autor por meio do Sistema de Geração Automático da
Biblioteca ESPM
AGRADECIMENTOS
The present monographic work intends to analyze if mannerism is present, and how it
is expressed in the mise-en-scène of the analyzed films, using as objects of study the
films: Metropolis (1927, dir. Fritz Lang) and Blade Runner (1982, dir. Ridley Scott).
Carrying out a historical overview of artistic movements and genre fiction, the concepts
of excess, sensationalism and spectacle are identified as being predominant in the
expression of these cultural matrices, among which are melodrama, fantastic literature,
decadence, horror and the detective novel, and two artistic avant-gardes — Gothic and
Futurism. Regarding cinema, German Expressionism, science fiction and film noir are
also points of interest, due to the characteristics and genres of the analyzed films.
Through bibliographic research, the concepts and definitions of excess, the matrix of
excess, sensationalism, spectacle and mannerism are analyzed, with the intention of
comprehending how they are manifested in the chosen films and in their respective
movements; contemplating its possibilities, applications, ruptures and contradictions.
From the film analysis of shots and scenes from the films Metropolis (1927) and Blade
Runner (1982), it is expected to understand how excess and mannerism appear in both
these works, performing a comparative analysis of them.
1 INTRODUÇÃO........................................................................................... 11
4 METRÓPOLIS ........................................................................................... 69
5 BLADE RUNNER....................................................................................... 86
1 INTRODUÇÃO
Rotwang tem planos próprios, mantendo Maria refém em seu esconderijo, enquanto
o robô — disfarçado de Maria — espalha ódio entre os operários, incitando uma
revolução e a destruição de todas as máquinas. Os operários conseguem parar o
funcionamento das máquinas, iniciando uma revolta.
A grande mensagem do filme é reiterada no intertítulo inicial e no final, “O
mediador entre a cabeça e as mãos deve ser o coração”, ao mostrar Freder
conciliando os operários e Joh Fredersen por um aperto de mão após a revolta.
2 Lista da revista Sight and Sound, do British Film Institute. Disponível em:
https://www.bfi.org.uk/sight-and-sound/greatest-films-all-time. Acesso em: 01 nov. 2022.
3 Em 2001, o filme Metropolis foi incluído no “Memory of the World” da UNESCO, por sua
relevância histórica para o cinema e a cultura. Disponível em:
https://en.unesco.org/memoryoftheworld/registry/280 Acesso em: 01 nov. 2022
13
4O efeito Schüfftan, cujo nome deriva de seu criador Eugen Schüfftan, é uma técnica que
combina o uso de espelhos e miniaturas para criar a ilusão de que os atores estão em determinados
cenários, para que estes não precisem ser construídos em tamanho real. O efeito chegou a ser utilizado
por muitos cineastas, como Alfred Hitchcock em seus filmes Chantagem e confissão (1929) e Os 39
Degraus (1935), e mais recentemente em O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei (2003), de Peter
Jackson. A técnica acabou caindo em desuso devido a outras inovações como as matte paintings e os
efeitos especiais computadorizados (CGI).
14
Fonte: Wikipedia
1.2 OBJETIVOS
Quando o autor fala sobre a forma interior e exterior, ele dá indícios de como
os filmes podem retrabalhar as convenções dos gêneros. Este ponto é de grande
importância na análise do maneirismo, em especial quando complementado com
outros conceitos como o de matriz de excesso, que será aprofundado ao longo desta
pesquisa.
No que diz respeito à hiperestilização, esse conceito pressupõe um excesso,
e para analisar esse processo utilizaremos a matriz de excesso, pautados na obra de
Mariana Baltar, em especial o artigo Moral deslizante – Releituras da matriz
melodramática em três movimentos (2006), e outros conceitos alinhados, como o
espetáculo e a dimensão do sensacional, que podem ser observados nos artigos O
sensacionalismo como processo cultural (2007) de Ana Lucia S. Enne e Spectacle,
Attractions and Visual Pleasure (2006) de Scott Bukatman, respectivamente. Em seu
artigo, Enne (2007) traz uma retrospectiva histórica sobre como o sensacional
percorreu diversas matrizes culturais, evidenciando construções parecidas no
jornalismo. Englobando o período do fim do século XVIII e o decorrer do século XIX,
as matrizes escolhidas por Anna Lúcia S. Enne no artigo são: a pornografia, o
melodrama, o folhetim, a literatura fantástica e de horror e o romance policial.
Dentre as outras referências utilizadas estão livros sobre a história do cinema,
História do Cinema - Dos clássicos mudos ao cinema moderno (2013) de Mark
Cousins, História do Cinema Mundial (2006) de Fernando Mascarello (org.), e História
do Cinema Mundial (2020) de Franthiesco Ballerini, foram fundamentais para fornecer
20
Com isso, a história do cinema como arqueologia das mídias teve que olhar
para além das genealogias usuais para explicar o “nascimento” do cinema,
como teatro de sombras, lanterna mágica, persistência da visão e invenção
da fotografia, que, no relato convencional, convergiram todos, de alguma
forma milagrosa, para o cinematógrafo - como se fosse o destino óbvio deles,
como afluentes para formar um único rio: o cinema. Como pode-se ver, não
existia esse rio, e sim uma paisagem estriada e estendida em camadas, mais
como um campo de batalha do que como formação natural, pacificada por
tréguas e acomodações, e não por convergência harmoniosa. (ELSAESSER,
2018, p. 36)
21
1.4 JUSTIFICATIVA
Lang contou como foi contatado por Joseph Goebbels para integrar o governo
comandando o departamento de cinema do Partido Nazista, Lang fugiria da Alemanha
no dia seguinte12 13.
Blade Runner foi realizado durante o controverso governo de Ronald Reagan
como Presidente dos Estados Unidos, dois mandatos presidenciais marcados pela
globalização, pelo consumismo exagerado e por uma crescente estratificação social.
Em seu universo diegético, Blade Runner apresenta um futuro desesperançoso e
opressivo, um planeta que sofreu uma catástrofe ambiental, um mundo muito
avançado tecnologicamente, mas altamente estratificado. As grandes corporações, a
fronteira espacial e os replicantes (a máquina tomando consciência própria), que são
elementos do universo do filme, são assuntos extremamente contemporâneos,
especialmente com o lançamento de sondas, foguetes e missões espaciais lideradas
por bilionários e grandes corporações14, o desenvolvimento de inteligências artificiais
e robôs cada vez mais avançados15, além do perigo cada vez mais iminente de uma
catástrofe ambiental global irreversível16 17.
Durante a pandemia de Covid-19 houve um crescimento significativo na
desigualdade, na miséria e na concentração de renda18. Nas atuais circunstâncias, o
futuro pessimista altamente tecnológico e desigual de Blade Runner já não parece tão
distante.
Além disso, a obra trabalha algumas das obsessões da carreira do escritor
Philip K. Dick, autor do romance que inspirou o filme. Suas histórias se preocupavam
com duas questões majoritariamente “como identificar o que é real?” e “como saber o
2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
[...] têm como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, com
vistas a torná-lo mais explícito ou a constituir hipóteses. Pode-se dizer que
estas pesquisas têm como objetivo principal o aprimoramento de idéias ou a
descoberta de intuições. Seu planejamento é, portanto, bastante flexível, de
modo que possibilite a consideração dos mais variados aspectos relativos ao
fato estudado. Na maioria dos casos, essas pesquisas envolvem: (a)
levantamento bibliográfico; (b) entrevistas com pessoas que tiveram
experiências práticas com o problema pesquisado; e (c) análise de exemplos
que "estimulem a compreensão" (Selltiz et al., 1967, p. 63). Embora o
planejamento da pesquisa exploratória seja bastante flexível, na maioria dos
casos assume a forma de pesquisa bibliográfica ou de estudo de caso [...]
(GIL, 2002, p. 41)
No trecho acima, é possível observar como a análise fílmica pode ser feita
dentro de uma cena. Primeiro, ao enumerar os tipos de planos, os elementos sonoros,
de montagem, de roteiro e direção e como cada um deles age sobre o espectador, os
autores partiram do processo de desconstrução da cena. Em seguida, ao realizar as
conexões entre esses elementos distintos, eles passam a fazer o processo de
reconstrução.
Dessa forma, a reconstrução está evidenciando como essa unidade geral é
percebida pelo espectador. Pode-se ver também se considera outras cenas e planos
do filme para reconhecer padrões e identificar como são produzidos significados no
filme. Esse exemplo da aplicação da metodologia indica como pode ser feita a análise
fílmica dos objetos desta monografia, dadas as peculiaridades de cada um deles —
como a ausência do som como elemento diegético20 em Metrópolis, um filme mudo —
narrativo de um filme.
30
3 REVISÃO DA LITERATURA
21 “Zeitgeist é um termo alemão cuja tradução significa espírito da época, espírito do tempo
ou sinal dos tempos. Significa, em suma, o conjunto do clima intelectual e cultural do mundo, numa
certa época, ou as características genéricas de um determinado período de tempo”. Disponível em:
https://www.meioemensagem.com.br/home/marketing/ponto_de_vista/2014/02/06/zeitgeist.html.
Acesso em: 01 nov. 2022
32
23O Romantismo foi um movimento intelectual e artístico, que compreende o final do século
18 até meados do século 19, tendo para si valores como o subjetivo, irracional, emocional, e o
transcendental, em reação a ordem, rigidez e racionalidade do Neoclassicismo. (BRITANNICA, 2021)
24 No original: “The sublime, he asserts, has only one cause, terror”.
25 No original: “[…] in order to inspire the sublime, one must be confronted with terrifying ideas”.
34
ser dividida em um lado belo e outro grotesco, ou um lado humano e outro monstruoso
— como as personas Dr. Jekyll e Mr. Hyde em O Médico e o Monstro.
O Conde Drácula no livro de Bram Stoker é uma figura extremamente grotesca
e, ao mesmo tempo, atraente e sedutora. Sua habilidade de assumir múltiplas formas,
incluindo a de um homem velho e outra de um homem aristocrata cheio de vitalidade,
também remete à temática da paranoia: o monstro pode estar disfarçado entre os
comuns.
Enquanto isso, nos Estados Unidos, Edgar Allan Poe (Figura 5) produzia uma
corrente do gótico especialmente estadunidense, o Gótico americano 28 (American
gothic), com características próprias (LIMA, 2017). Também foi responsável pela
consolidação do romance policial como um gênero literário — inspirando a criação de
Sherlock Holmes por Sir Arthur Conan Doyle — mesmo que as raízes das histórias
com esse tipo de mistério podem ser encontradas em obras anteriores de
Shakespeare, e até mais antigas, como Édipo Rei e As Mil e Uma Noites (ESCHNER,
2017).
Figura 5 – Edgar Allan Poe
28 “Já em Perverse Pilgrimage (1968), Frederick Frank havia sublinhado que uma das
diferenças principais entre o Gótico Inglês e o Americano é que, enquanto o primeiro se foca mais no
terror físico e no horror social, o segundo centra-se no terror mental e no horror moral. [...] Foi
necessário existir um grupo de escritores pioneiros que, como Edgar Allan Poe, Nathaniel Hawthorne,
Herman Melville e William Faulkner, se preocupassem igualmente em esculpir, no Gótico, uma
identidade nacional, nele deixando gravados terrores provindos de uma paisagem e carácter
especificamente americanos.” (LIMA, 2017, p.11)
29 Disponível em: https://providenceathenaeum.org/about/history/poe-whitman/ Acesso em:
01 Nov. 2022
37
Apesar disso, os trabalhos de Poe não foram muito aclamados em vida, assim
como algumas das matrizes culturais citadas anteriormente ele foi associado ao “mau
gosto das classes inferiores” (ENNE, 2006, p. 75). Foi só no decadentismo30 que
Edgar Allan Poe foi elevado a o posto de gênio da literatura pelos autointitulados
31 Le Décadent, fundada por Anatole Baju, com Paul Verlaine como contribuidor. Revista que
publicava os poemas, contos e histórias dos decadentistas. (BRITANNICA, 2021)
32 The Yellow Book foi uma revista cultural em circulação nos anos de 1894 até 1897, com o
nome inspirado na encadernação de capa amarela na qual romances controversos da França eram
publicados na época. (BRITISH LIBRARY, 2021)
33 O decadentismo atingiu seu ponto alto na obra de Joris-Karl Huysmans (1848-1907),
principalmente em seu romance À Rebours (“Às Avessas”, mais conhecido em inglês como Against the
Grains, “Contra a Natureza”, publicado em 1884). Muitos críticos acreditam que o “livro amarelo” que
tanto fascinou Dorian Gray, no romance de Wilde, era exatamente esse volume de Huysmans [...] O
horror que a literatura “amarela” francesa causava ao establishment anglo-saxão pode ser visto nesta
crítica do jornal Daily Chronicle à primeira edição de O Retrato de Dorian Gray, publicada em 1890,
cinco anos antes de O Rei de Amarelo: “Trata-se de um livro gerado pela literatura leprosa dos
decadentes franceses — um livro venenoso, cuja atmosfera está carregada dos odores mefíticos da
putrefação moral e espiritual.” (ORSI, 2014)
39
34 “Penny dreadful” era um termo pejorativo dado a revistas e livros, feitos com material
barato, para o consumo em massa. O nome penny dreadful se refere ao custo de apenas uma moeda,
o equivalente a um centavo da moeda britânica na Era Vitoriana. (SUMMERSCALE, 2016)
35 As revistas pulp eram publicações populares e baratas de ficção que eram lidas e
admiradas por milhares de leitores, tendo seu auge durante os anos de 1930. As revistas pulp foram
precedidas pelas edições semanais das periódicas “penny dreadfuls” que se popularizaram na
Inglaterra entre 1830 e 1890. (ILLUSTRATION HISTORY, 2021)
36 Disponível em: http://www.luminist.org/archives/PU/ Acesso em: 01 nov. 2022
40
37 “As histórias hard-boiled começaram a ser publicadas após a Primeira Guerra Mundial,
traçando um retrato realista da população urbana dos Estados Unidos. Dashiell Hammett é tido como
o mais bem-sucedido entre os autores da primeira geração desse novo tipo de literatura criminal, ao
passo que Raymond Chandler representa o melhor exemplo da geração seguinte. Os escritores de
ficção hard-boiled criaram o investigador particular e o detetive americano heroico, que tanto bate
quanto apanha, se abstém de relações pessoais e forma o seu próprio código moral, que, em geral, é
mais severo e inflexível do que o do resto da população. Sam Spade e Continental Op, de Hammett, e
Philip Marlowe, de Chandler, seguem a própria cabeça, mesmo quando ela vai contra a lei. Uma busca
inabalável pela verdade e a expulsão do indesejável são os princípios que guiam o detetive. O código
moral costuma implicar sofrimento físico, dificuldades e sacrifício para ele, ao isolá-lo de outras
pessoas, mas ele adere às suas regras ferrenhamente”. (JEHAI, 2011, p. 3)
41
carrega dentro de si características nobres, como pode ser visto nos detetives
particulares Sam Spade (Black Mask, 1930), de Dashiell Hammett, e Philip Marlowe
(Black Mask, 1939), do escritor Raymond Chandler38 (SVITAVSKY; CHAMBLISS,
2008, p.5-6).
Humphrey Bogart, em Relíquia Macabra (1941, dir. John Huston) e A Beira do Abismo (1946, dir.
Howard Hawks).
39 Disponível em: https://thepulp.net/ Acesso em: 01 nov. 2022
42
of what is possible or by confrontation with the vastness of space and time, as brought on by reading
science fiction.”
44
um filme noir propriamente dito — que foi uma classificação posterior dada cunhada por Nino Frank em
1946 ao visualizar um contexto e estética comum a vários filmes hollywoodianos — o mesmo ocorre
no maneirismo, quando cunhado por Bergala no dossiê da Cahiers du Cinéma.
46
Fonte: Wikipedia
42 Na segunda metade dos anos 1950, o cinema brasileiro começou a se redefinir, inspirado
no Neorrealismo italiano [...] Foi partindo desse engajamento político e social que um grupo de
cineastas saiu às ruas e começou a fazer o que hoje se conhece por Cinema Novo. (BALLERINI, 2020,
p.160)
47
A questão trazida pelo dossiê dos Cahiers, e que devemos frisar aqui, é que
o “momento maneirista”, isto é, o momento em que o maneirismo se torna a
tendência estética predominante se dá com o fim do classicismo, a partir dos
anos 1960, e se intensifica na virada da década de 1970 para a de 1980,
quando o cinema moderno também atinge um ponto de esgotamento.
(OLIVEIRA JR, 2014, p. 145-146)
Assim, na segunda metade dos anos 1970 e durante toda a década de 1980,
começa a se formar uma geração de cineastas que se encaixam nesse recorte,
cineastas como Brian De Palma, Dario Argento, Raul Ruiz, Rainer Werner Fassbinder,
Wim Wenders, dentre outros. Todos eles pareciam ter sido acometidos por uma
sensação de que o cinema havia se esgotado em sua forma clássica, e, portanto, que
era necessário retrabalhar a forma cinematográfica, explorar a imagem em outros
sentidos. Acerca dessas formas de retrabalhar a imagem:
O autor nos apresenta essas duas “maneiras”, uma que distorce a imagem
através da sobrecarga, e outra que encontra na retração a maneira de retrabalhar a
imagem cinematográfica. Em ambos os casos, a forma cinematográfica é levada aos
seus limites.
46 Comparação entre as duas cenas pode ser vista neste artigo. Disponível em:
https://nofilmschool.com/2014/05/shot-shot-breakdown-bloodiest-scene-brian-de-palmas-
untouchables. Acesso em: 01 nov. 2022.
47 Edward Hopper (1882 – 1967) foi um pintor americano conhecido por capturar momentos
além da imagem e também traz a música clássica e o jazz, refletindo sobre a forma
através do som.
Fonte: Jornal da Unicamp48, Prelúdio para Matar (1975), Edward Hopper (1942)
Quando Gary Cooper saca o revólver num filme dos anos 1940 ou 1950, ele
o faz dentro de uma certa inocência”, sem consciência por trás do gesto,
“como se fosse a primeira vez (para o ator, não para a personagem)”. Se, três
décadas depois, a inocência se prova impossível, é porque, “quando Clint
Eastwood saca o revólver, ele não faz o gesto, ele o refaz, enésima repetição
de um gesto visto mais de mil vezes no cinema. (…) A cada reprodução, há
uma perda de definição do referente, que vai se tornando mais e mais
‘espectral’. Cada cena é um lugar já visitado, um lugar ‘assombrado’” (ibid.).
Surge um cinema de mortos-vivos, de fantasmas. O que assombra o cinema
maneirista não é o real (que assombrava, talvez, o cinema clássico, ficando à
espreita, nas bordas do filme, sempre ameaçando irromper de algum lugar
para quebrar o universo fechado da dramaturgia). O real já não lhe diz
respeito; o que assombra o maneirismo é o passado do próprio cinema – o
passado clássico. (OLIVEIRA JR, 2014, p.152)
Esses motivos apontam também para o uso do excesso como estratégia para
desencadear novas sensações no público (sejam eles leitores, ou no caso do cinema,
espectadores). Além disso, temáticas como sexo, drogas, o absurdo, o crime, por
exemplo, são motivos muito recorrentes no cinema maneirista e nas matrizes culturais
do sensacional, como visto no texto de Ana Lúcia S. Enne.
Após panorama acerca do conceito de maneirismo, da relação sua relação
com o excesso, podemos observar como o maneirismo se encaixa entre uma série de
matrizes culturais que trabalham a partir desse mesmo referencial, e como o
maneirismo foi expresso em alguns filmes da década de 1970 e 1980. Também é
importante ressaltar que, no contexto do maneirismo, uma revisão histórica de outros
processos culturais, movimentos e obras que trabalham a partir do excesso é
necessária para fazer uma análise mais profunda da relação entre uma obra e outra.
No subcapítulo a seguir, esses conceitos serão abordados a partir do
referencial cinematográfico, em algumas construções e movimentos da história do
cinema como expressão artística e indústria, contexto este que é extremamente
importante no que diz respeito aos objetos de pesquisa selecionados.
54
Mas a criação da atmosfera de pesadelo que lhe daria fama duradoura só foi
possível porque a cenografia produzida em painéis pintados ao estilo
expressionista conseguiu evocar a fisionomia de um mundo tortuoso e
imprevisível. Ao evitar as formas realistas, reforçando as curvas abruptas e a
pouca profundidade, esse cenário provocava sentimentos de inquietação e
desconforto adequados à história que estava sendo contada. A isso se
somavam a interpretação dos atores - repleta de exageros e de movimentos
de grande impacto visual, reforçada pela maquiagem pesada e igualmente
deformadora - e uma narrativa que envolvia personagens lidando com
sentimentos destrutivos e de revolta contra a autoridade. Tratava-se, afinal,
de uma obra que realizava a proposta expressionista de traduzir visualmente
conflitos emocionais. (MASCARELLO, 2006, p. 67)
50 A femme fatale (mulher fatal em francês) é um arquétipo feminino presente nos filmes noir.
É um elemento importante a ser observado sobre a representação feminina nesses filmes, dadas
algumas das suas características: “manipuladora, subversiva e gananciosa, personagem que faz sexo
sem remorso algum. O mundo surge como um local repleto de perigos, sendo a mulher fatal um dos
mais centrais. Ela toma de assalto os personagens masculinos dos filmes no estilo noir e promovem a
sua derrocada de maneira predatória.” (CAMPOS, 2019)
57
Mesmo que seja uma classificação um tanto incerta e moldada pela percepção
do público, ao analisar esse cânone eleito de filmes, é possível identificar que os filmes
noir utilizam estratégias comuns da matriz do excesso em sua mise-en-scène ou tem
momentos em que o espetáculo se sobressai à coerência narrativa.
No caso dos objetos desta monografia — Blade Runner e Metrópolis — são
filmes de ficção-científica, um gênero que já pressupõe uma quebra de realidade. As
duas obras têm uma proposta de mostrar uma realidade fantástica, que parte de uma
distorção da realidade como ela era na época em que foram produzidos.
Mais que uma narrativa complexa e profunda, ambos os filmes apontam para
o espetáculo, com novas imagens e sons nunca antes vistos ou ouvidos, assim como
era o trem chegando na estação em L'Arrivée d'un train à La Ciotat (1895) dos irmãos
Lumière. Com suas propostas estéticas e seus desenhos de produção, filmes estão
forçando a linguagem cinematográfica através do desenvolvimento de técnicas novas
(o efeito Schüfftan, por exemplo) e a produção de imagens nunca vistas antes.
Esses processos retomam o fato de que a matriz de excesso só passa a ser
reconhecida no cinema, quando os estudos do cinema passam a reconhecer algo
58
“além” do que era proposto na teoria narrativa — algo que não se encaixava nos
padrões propostos por essa linha de pensamento. Esse reconhecimento passa por
uma revisão tanto do pré-cinema, ou o “cinema de atrações”, quanto dos filmes da
Hollywood clássica que pendiam mais para o espetáculo, com o excesso manifestado
na forma desses filmes.
Em Spectacle, Attractions and Visual Pleasure (2006), Scott Bukatman
recupera uma questão que autores como Elsaesser e Gunning também abordaram
sobre a história do cinema: a hegemonia do cinema narrativo. Análises e estudos
sobre o cinema, pelo menos até o momento presente das publicações desses autores,
privilegiaram o cinema narrativo, em detrimento a filmes mais “espetaculares”.
“A história dos primeiros anos do cinema,” ele escreve, “assim como a história
do cinema em geral, tem sido escrita e teorizada under da hegemonia dos
filmes narrativos” o trabalho de Gunning, dentre outras coisas, tinha a
intenção de relembrar o mundo acadêmico sobre a história – a história
contínua – da prática alternativa. (BUKATMAN, 2006, p. 78, tradução nossa) 51
51 No original: “The history of early cinema,” he writes, “like the history of cinema generally,
has been written and theorized under the hegemony of narrative films.” Gunning’s work, among other
things, intended to remind the academy of the history – the continuing history – of alternative practice.”
52 No original: “Mulvey’s model recalls the more pervasive suspicion of excess which has
suffused the critique of spectacle throughout its history. Aristotle famously dismissed staged spectacle
as a cheap substitute for the true art of the poet, supplying effects that were unnecessary to effective
drama. This line of critique continues through to the present dismissal of Hollywood blockbusters as
empty spectacles (or attractions), nothing more than special effects, etcetera etcetera. Mulvey goes
further than Aristotle, however; in her model, spectacle (“visual pleasure”) becomes more than an
unnecessary supplement to narrative (“the poet’s art”).”
59
autora então mostra algumas das maneiras como a narrativa pode conter o espetáculo
pelo fim do filme, porém, a consequência desse tipo de análise é que a prioridade do
sistema narrativo acima do excesso e do espetáculo não é questionada.
Acerca disso, o que Bukatman afirma é que ao reconhecer a disrupção do
sistema narrativo, Mulvey está na verdade sinalizando os limites da teoria narrativa na
leitura da forma cinematográfica: “ela reconhece algo a mais, mas ainda vê esse algo
a mais como uma ameaça” (BUKATMAN, 2006, p. 76, tradução nossa)53.
Em Film Bodies: Gender, Genre, and Excess (1991) Linda Williams aborda a
matriz de excesso a partir dos estudos de gênero. Assim como Mulvey reconhecia em
sua obra algo além do sistema narrativo clássico, Williams aponta para um sistema —
uma matriz — que ordena o espetáculo e os excessos. Ela faz isso através de um
recorte que traz o horror, o melodrama e a pornografia, os quais ela chama de body
genres (gêneros do corpo, ou corporais, em uma tradução literal).
Esse nome se dá tanto por como o corpo (feminino, majoritariamente) é
exposto em tela, através dessa lente do excesso, quanto pelo fato que esses gêneros
podem ser capazes de provocar uma reação fisiológica nos corpos dos espectadores:
na pornografia, o gozo e o êxtase; no terror, o aumento dos batimentos cardíacos ou
o arrepio nos pelos do corpo; no melodrama, as lágrimas, o “nó na garganta”, dentre
outros efeitos fisiológicos possíveis.
53 No original: “It recognizes but still sees that something else as a threat.”
54 No original: “Altman writes: "Unmotivated events, rhythmic montage, highlighted parallelism,
overlong spectacles- these are the excesses in the classical narrative system that alert us to the
existence of a competing logic, a second voice." (345-6) Altman, whose own work on the movie musical
has necessarily relied upon analyses of seemingly "excessive" spectacles and parallel constructions,
thus makes a strong case for the need to recognize the possibility that excess may itself be organized
as a system (347) Yet analyses of systems of excess have been much slower to emerge in the genres
whose non-linear spectacles have centered more directly upon the gross display of the human body.
Pornography and horror films are two such systems of excess. Pornography is the lowest in cultural
esteem, gross-out horror is next to lowest.”
60
Além de Aristóteles, Carroll compara o projeto do livro aos dos teóricos como
Francis Hutcheson e Edmund Burke, que “procuraram definir coisas como o belo e o
sublime e quiseram isolar os desencadeantes causais que davam origem a esses
sentimentos” (CARROLL, 1999, p. 17).
No livro, o autor diz que ao analisar o horror se deparou com dois paradoxos.
Os paradoxos do coração de Carroll são intrinsecamente ligados à recepção do
público ao gênero e “podem ser resumidos nas duas perguntas seguintes: 1) como
pode alguém ficar apavorado com o que sabe não existir, e 2) por que alguém se
interessaria pelo horror, uma vez que ficar horrorizado é tão desagradável?”
(CARROLL, 1999, p. 16).
Durante o decorrer do livro Carroll formula hipóteses para responder essas
duas perguntas, mas nesse percurso, ele traz outras contribuições, como a forma que
o horror opera como gênero. Sobre isso:
Planejo analisar o horror como um gênero. Todavia, não se deve supor que
todos os gêneros possam ser analisados da mesma maneira. Os faroestes,
por exemplo, identificam-se em primeiro lugar por seus cenários. Os
romances, os filmes, as peças, as pinturas e outras obras classificadas com
o rótulo de "horror" são identificados de acordo com um tipo diferente de
critério. Como os romances de suspense ou de mistério, os romances são
chamados de horror de acordo com sua deliberada capacidade de provocar
certo afeto (affect). De fato, os gêneros do suspense, mistério e horror
derivam seus próprios nomes dos afetos (affects) que pretendem provocar -
um sentimento do suspense, um sentimento do mistério e um sentimento do
horror. O gênero do horror, que atravessa muitas formas de arte e muitas
mídias, recebe seu nome da emoção que provoca de modo característico ou,
antes, de modo ideal; essa emoção constitui a marca de identidade do horror.
(CARROLL, 1999, p. 29-30)
62
No trecho, Baltar traz uma visão parecida com a de Carroll e Williams sobre
como operam os gêneros sensacionais, utilizando expressões como uma “afetação
do público” e um “saber sensório-sentimental”. O excesso trabalha no melodrama e
em outras matrizes culturais semelhantes de forma a sobrecarregar a linguagem
audiovisual com signos que ativem as sensações e os sentimentos do espectador; um
exemplo que Baltar (2006, p. 5) usa é a trilha musical, que é usada no melodrama de
forma a reiterar constantemente os sentidos da imagem, ou também, o primeiro plano
para ilustrar os momentos máximos de tensão emocional. Sobre esses usos:
Essas três categorias que Baltar enumera são importantes, pois elas
“atuam em conjunto tomando formas de excesso na narrativa, seja porque são
reiteradas, e sobreutilizadas, seja porque tomam corpo na narrativa de maneira
excessiva em termos de expressividade.” (BALTAR, 2006, p. 5)
Figura 16 – Intricada construção dos planos em Tudo que o céu permite (1956)
Em alguns casos esses símbolos também acabam por representar algum fato
que ainda virá a acontecer na narrativa do filme, e acaba desencadeando em outra
das categorias propostas por Baltar que é “a antecipação”: “Os mecanismos de
65
antecipação levam à sensação de suspensão, pois nos colocam à espera do que está
para acontecer, como em uma crônica de uma morte anunciada; facilitando assim, a
comoção” (BALTAR, 2006, p. 7).
Acerca desse processo:
.
66
55 Dolly zoom, ou efeito Vertigo/Hitchcock, é uma técnica que combina o uso do zoom com o
movimento de um dolly (para frente ou para trás) para gerar um efeito de distorção de perspectiva. O
efeito foi criado para o filme Um Corpo que Cai (1958) de Alfred Hitchcock, e desde então foi utilizado
em vários filmes. A técnica pode ser vista no vídeo do canal Now You See Me. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=u5JBlwlnJX0. Acesso em: 16 de maio de 2022.
68
A encenação não está mais presa ao que era o espaço cênico no teatro até
então (o palco), mas sim para todo o universo que pode ser capturado pela câmera.
A mise-en-scène seria então esse olhar sobre o mundo. Oliveira Jr. pontua como o
cinema continua uma série de tradições do teatro popular como o fator do espetáculo
e do excesso. Havia no teatro melodramático uma “preocupação com o lado
propriamente espetacular da representação” (OLIVEIRA JR., 2014, p. 22). O ponto de
ruptura que causou essa preocupação foi o fato de que os teatros populares, onde o
melodrama fazia sucesso, eram restritos ao drama “mudo”.
Em Paris e Londres, poucos teatros legitimados pelo governo podiam realizar
o espetáculo falado, e foi dessa limitação que surgiram diversos dispositivos cênicos
a serem explorados pelos teatros populares, especialmente no melodrama.
4 METRÓPOLIS
de Karl Freund e Günther Rittau, e a trilha musical composta por Gottfried Huppertz.
O filme foi produzido por Erich Pommer com a produtora UFA, e distribuído pela
Parufamet — empresa formada em conjunto pela Paramount, UFA e Metro-Goldwyn-
Mayer para a distribuição de filmes em território alemão.
Com um orçamento estimado de 5 milhões de Reichsmark (moeda vigente em
território alemão na época), o filme foi um fracasso de bilheteria e quase levou a UFA
à falência. Os distribuidores americanos tinham controle sobre o corte do filme que
seria exibido nos Estados Unidos, e a versão de aproximadamente 154 minutos, que
fora exibida na estreia, foi recortada e reorganizada para o lançamento em solo
americano. Essa versão, montada por Channing Pollock, tem duração de
aproximadamente 116 minutos, apesar de uma divergência de relatos. Com o passar
dos anos, esporádicas aparições de cópias perdidas acabavam trazendo uma ou duas
novas cenas. Uma das mais famosas foi a versão lançada em 1984, organizada pelo
produtor musical Giorgio Moroder.
Em 2010, Metrópolis foi relançado, em sua versão mais completa desde o
lançamento inicial na Alemanha, com sequências inteiras recuperadas através da
restauração de cópias do filme que foram encontradas na Argentina e Nova Zelândia.
Essa versão é a mais próxima da original de Fritz Lang, entretanto, alguns dos
pedaços de filme que foram achados estavam além da restauração. Estas lacunas
são preenchidas com pequenas descrições elaboradas pelos restauradores, que
tiveram acesso ao registro de filmagem das cenas e aos pedaços do filme que não
puderam ser recuperados.
Por isso, essa última versão é a escolhida como objeto da análise, pois se
trata daquela que mais se aproxima da versão ideal de Fritz Lang para o lançamento
original, respeitando o autorismo do diretor e dos profissionais envolvidos.
Fonte: Wikipedia
Fonte: Wikipedia
Fonte: Wikipedia
58 O movimento impressionista foi uma vanguarda artística que surgiu em Paris, na França,
entre os anos 1860 e 1870, que desafiava convenções clássicas ao captar as impressões visuais
imediatas da luz na realidade sensível (Figura 23). O advento da fotografia foi fundamental para essa
mudança de paradigma, como comenta Giulio Carlo Argan: “[...] o que é certo, em todo caso, é que um
dos móveis da reformulação pictórica foi a necessidade de redefinir sua essência e finalidades frente
ao novo instrumento de apreensão mecânica da realidade” (2006, p. 75). O Impressionismo
caracterizou-se pelo seu uso das cores para representar a diferença da incidência de luz, pelas
paisagens pictóricas e por levar a pintura para fora do estúdio.
74
Esta crise foi algo essencial para o surgimento das demais vanguardas
artísticas europeias deste início de século XX, onde se questionam as formas e o
papel da arte, além da própria definição do que de fato é arte.
Assim como a literatura gótica foi uma reação à era da racionalidade, o
Expressionismo retoma a tradição romântica, centrado na experiência subjetiva e com
um forte apelo às emoções — à expressão — em contraste aos ideais extremamente
racionais e mecânicos do Iluminismo. A exemplo disso, a frase “o coração deve ser o
mediador entre o cérebro e as mãos” presente em Metrópolis carrega o que é o
principal tema narrativo do filme. Essa frase é um apelo a um ideal mais próximo do
romântico, que é contraposto ao racionalismo impessoal que causa os conflitos do
filme. Praticamente concomitante ao surgimento do Impressionismo francês no
cinema59, a forma expressionista passa a figurar nas produções cinematográficas
alemãs.
Dessa forma, os primeiros filmes do Expressionismo Alemão buscavam
temáticas com uma perspectiva além da razão, como as tramas sobrenaturais,
mágicas e folclóricas — a exemplo disso, Der Golem (1920, dir. Paul Wegener),
Nosferatu (1921, dir. F.W. Murnau) e A Morte Cansada (1921, dir. Fritz Lang) — ou
narrativas centradas em personagens com complexidades psicológicas e moralidade
duvidosa, como O Gabinete do Dr. Caligari (1920, dir. Robert Wiene) Dr. Mabuse
(1922, dir. Fritz Lang).
Em geral, com um estilo visual extremamente característico, o
Expressionismo Alemão transferiu essas complexidades para a interpretação dos
atores, para os cenários, iluminação, maquiagem, e demais aspectos da linguagem
cinematográfica. Essa complexidade pode ser vista em um dos filmes mais
importantes do movimento, O Gabinete do Dr. Caligari, cuja narrativa está
intimamente ligada ao psicológico de seu protagonista.
Também existe uma atmosfera de pessimismo, intrinsecamente ligada à
situação da Alemanha no período entreguerras (a República de Weimar) e que
59
Acerca do Impressionismo francês, uma das vanguardas estéticas do cinema, Mascarello
comenta: “Com o fim da Primeira Guerra, assiste-se na França ao surgimento de uma vanguarda
cinematográfica que é acima de tudo visual [...] agrupam-se Mareei L'Herbier, Abel Gance, Germaine
Dulac e Jean Epstein, ou seja, os cineastas formadores da escola impressionista francesa”
(MASCARELLO, 2006, p. 90). Os filmes impressionistas se caracterizaram por inovações técnicas no
uso da câmera e da montagem, como sobreposição de imagens, superexposição, deformações ópticas
e planos subjetivos, além de um foco maior dado aos cenários, objetos e paisagens em relação aos
personagens e a narrativa.
75
passaria a ser observado nos filmes de monstros feitos pelo estúdio a partir de então.
Mais do que se inspirar na obra original de Bram Stoker, o filme de Drácula se inspirou
principalmente no Nosferatu (1922) de Murnau. Freund ainda iria dirigir o filme A
Múmia (1932), parte da primeira leva de filmes de monstros da Universal, dessa
maneira, influenciando a linguagem do gênero de terror nos anos que seguiram
(MILLIKAN, 2021).
60Os Corruptos (Big Heat, 1953) Almas Perversas (Scarlet Street, 1945), Retrato de Mulher
(The Woman in the Window, 1944), Fúria (Fury, 1936), são alguns dos filmes mais relevantes de Lang
no gênero policial e no cinema noir.
77
hollywoodiano nos anos 195061, já Siodmak dirigiu alguns filmes noir cultuados como
Os Assassinos (The Killers, 1946) e Baixeza (Criss Cross, 1949) mas foi um cineasta
de filmes B na maior parte do tempo, sendo chamado pelos estúdios para “consertar”
filmes que passavam por problemas de produção.
Acerca da influência dos alemães no cinema noir, Thomas Elsaesser e Paul
Schrader apresentam visões distintas. Em Notes on film noir (1972), o diretor e
roteirista Paul Schrader retoma e ressignifica o noir, não como um gênero, mas como
um tom, focando sua análise e definição em aspectos culturais e, especialmente,
estilísticos e estéticos. Nesse quesito estilístico, portanto, a influência alemã é vital na
definição de Schrader, como pode ser visto no trecho a seguir:
Quando, no final dos anos 40, Hollywood decidiu pintá-la de preto, não havia
maiores mestres do claro-escuro do que os alemães. A influência da
iluminação expressionista sempre esteve logo abaixo da superfície dos filmes
de Hollywood, e não é surpreendente, no film noir, encontrá-la explodindo em
plena floração. [...] Na superfície, a influência expressionista alemã, com sua
dependência de iluminação artificial de estúdio, parece incompatível com o
realismo do pós-guerra, com seus exteriores rudes e sem adornos; mas é a
qualidade única do filme noir que foi capaz de soldar elementos
aparentemente contraditórios em um estilo uniforme. (SCHRADER, 1972, p.
3, tradução nossa)62
Por outro lado, Elsaesser pontua em seu livro Weimar cinema and after:
Germany's historical imaginary (2000) como essa ligação entre as duas histórias — a
do cinema expressionista alemão e a do cinema noir — pode ser no máximo
circunstancial, ou até “imaginária” (p. 420). O que o autor pontua é que, de fato, houve
um grande êxodo dos profissionais cinematográficos alemães e europeus para a
indústria americana, e existem temas narrativos (as femme fatales) e códigos estéticos
que se repetem: o chiaroscuro, as sombras longas e anguladas, o uso da iluminação
para criação de um ambiente subjetivo.
Entretanto, esses dois fatores não necessariamente implicam uma herança
tipicamente alemã no cinema noir. Os filmes expressionistas alemães foram sucesso
na Alemanha, mas foi a reação positiva das exibições em Paris que fez de O Gabinete
61 O filme Tudo que o céu permite (1956) de Douglas Sirk foi analisado em profundidade no
artigo de Mariana Baltar, Moral deslizante – Releituras da matriz melodramática em três movimentos
(2006), citado anteriormente nesta monografia.
62 No original: When, in the late forties, Hollywood decided to paint it black, there were no
greater masters of chiaroscuro than the Germans. The influence of expressionist lighting has always
been just beneath the surface of Hollywood films, and it is not surprising, in film noir, to find it bursting
out into full bloom. [...] On the surface the German expressionist influence, with its reliance on artificial
studio lighting, seems incompatible with postwar realism, with its harsh unadorned exteriors; but it is the
unique quality of film noir that it was able to weld seemingly contradictory elements into a uniform style.
78
Nos outros itens deste capítulo, foi apresentado o filme Metrópolis e sua
trajetória, o Expressionismo Alemão e o contexto histórico e social em que o filme foi
produzido, além de algumas repercussões possíveis da obra e do movimento que ela
pertence. Neste subcapítulo será abordado a relação da obra com o maneirismo no
cinema.
Dado as características do maneirismo como vistas nos capítulos anteriores
desta monografia, Metrópolis não poderia se enquadrar no conceito como proposto
por Bergala (1985) em seu texto para a Cahiers du Cinéma, por que os filmes
79
qualquer contexto no qual um cineasta invista nas maneiras” (OLIVEIRA JR., 2014, p.
145).
Mesmo que não desenvolva esse ponto de estresse do conceito, Oliveira Jr.
abre a possibilidade de analisar obras do passado pela perspectiva maneirista, citando
Arthur Penn, Robert Aldrich, os primeiros filmes de Orson Welles, a Hollywood
Clássica, e até algumas obras de Eisenstein — este que temporalmente se encontra
mais próximo de Metrópolis.
Essa possibilidade de tendência trans-histórica, pode ser validada pela
abordagem de Thomas Elsaesser em Cinema como Arqueologia das Mídias (2018),
onde a história — e mais especificamente para este trabalho: a história do cinema —
não é medida de forma estritamente contínua, mas sim a partir de uma série de
rupturas, descontinuidades e becos sem saída (2018, p. 42).
Uma estética, no caso maneirista, pode ser trabalhada em uma obra, mas
naquele momento específico, não ocasionar necessariamente o surgimento de uma
série de obras parecidas ou de um movimento maneirista (OLIVEIRA JR., 2014, p.
145-146). É possível que este ideal seja retomado de forma mais madura anos depois,
devido a outras causas, como é o caso do momento maneirista de Alain Bergala. A
partir dessa ótica, pode-se considerar então que Metrópolis seja um filme maneirista,
mas como o maneirismo se manifesta e opera na mise-en-scène do filme?
Os filmes do Expressionismo Alemão em geral tinham uma preocupação
muito grande com o décor: “aquilo que decora” – a decoração, a direção de arte dos
filmes. Eles se apoiaram, principalmente, em um décor gótico e medieval. Segundo
Mascarello, isto tem uma causa:
O diretor também foi reconhecido pela forma como filmava o vampiro nos
interiores do castelo através de portas e aberturas de luz que, anguladas como foram,
lembram o formato de um caixão (ELSAESSER, 2000, p. 227-228). Outro exemplo
desse detalhamento do décor, A Morte Cansada de Fritz Lang apresenta cenários
góticos e medievais; para o filme, Walter Schulze Mittendorf desenvolveu esculturas
que desempenham um papel importante na mise-en-scène63, se atentando a fazer
dos elementos plásticos mais que apenas decorativos, de forma a atuarem em cena.
O décor apresentado nos filmes expressionistas é dos mais detalhistas e construídos,
extremamente preocupado acerca da ornamentação.
Segundo Pevsner (2002, p. 1), a preocupação com a ornamentação é uma
importante característica da arquitetura gótica, complementando a verticalidade e
monumentalidade das construções do estilo. Por exemplo, as igrejas góticas, com
suas torres pontiagudas sustentadas por arcos e abóbadas, eram ornamentadas com
florões, vitrais, rosáceas, gárgulas, esculturas, etc. De fato, o retorno ao ideal
romântico do gótico nesse período fragilizado da Alemanha é uma das causas dessa
estética ter sido preponderante em muitos filmes, mas não é a única: a própria
classificação de muitos desses filmes tem caráter muito mais comercial que
necessariamente estético, a priori — como vimos anteriormente um dos grandes
64O Art-Déco foi um movimento artístico mais associado à arquitetura, design, artes gráficas
e decoração. Com suas raízes na Art Nouveau, no Futurismo e Cubismo. Foi caracterizado pelo uso
das formas geométricas, de cores vivas, dos detalhes e ornamentação, e de novos materiais de
construção como o alumínio, aço inoxidável, dentre outros. O estilo se tornou sinônimo com a Nova
York dos anos 1920-1940, principalmente pelos edifícios Empire State Building, Chrysler Building e
Rockefeller Plaza, tornando- se símbolo de luxo e progresso (DORMAN, 2016).
65 O Futurismo foi uma vanguarda artística italiana, inaugurada com o Manifesto Futurista
assinado por Filippo Marinetti em 1909. O movimento exaltava ciência, técnica, velocidade, dinamismo,
guerra e a violência, com uma ideologia altamente iconoclasta, assim, os futuristas foram influenciados
pelo desenvolvimento tecnológico dos automóveis, aviões e máquinas; naquele período, as indústrias
se fortaleceu na Itália, vide a construção da fábrica da FIAT em Turim. Dessa forma, Argan relata: “Nos
manifestos futuristas, pede-se a destruição de cidades históricas (por exemplo, Veneza) e dos museus;
exalta-se a cidade nova, concebida como imensa máquina em movimento” (2006, p. 313). Dois de seus
grandes representantes, o arquiteto Antonio Sant’Elia e Umberto Boccioni, morrem na Primeira Guerra.
Em 1914, Sant'Elia produziu uma série de desenhos arquitetônicos chamados Città Nuova (italiano
para “Cidade Nova”) que foram expostos na mostra do grupo Nuove Tendenze (italiano para “Novas
Tendências”) no mesmo ano. Mais tarde, Marinetti se filiaria ao fascismo, o movimento se tornaria
associado ao ultranacionalismo e às políticas de Benito Mussolini.
66 A Bauhaus (“casa de construção” em alemão) foi uma escola de design e arquitetura que
operou de 1919 a 1933, quando foi interrompida por pressão do nazismo. Fundada pelo arquiteto Walter
Gropius na Alemanha, a Bauhaus seguiu a tradição de William Morris e foi caracterizada pela ausência
de ornamentação, pela harmonia entre forma e função. Reuniu-se na escola um grupo de talentos de
design, da pintura e da arquitetura que inclui Wassily Kandinsky, Paul Klee e László Moholy-Nagy;
segundo Argan, Gropius: “obtém a colaboração deles, convence-os de que o lugar do artista é a escola,
sua tarefa social o ensino.” (2006, p. 269) Na Bauhaus houve grande intercâmbio entre alunos e
professores: “foi uma escola democrática no sentido pleno do termo [...] Fundava-se sobre o princípio
da colaboração, da pesquisa conjunta entre mestres e alunos, muitos dos quais logo se tornaram
docentes” (ARGAN, 2006, p. 269).
67 Acerca do Cubismo como parte da arquitetura funcionalista, Argan (2006, p. 305) comenta:
“O espaço cubista se tornará viável e habitável na arquitetura, contribuindo para a formação do princípio
estrutural do funcionalismo arquitetônico".
84
grego, obtemos, metro (deriva de metér, metrós) significa mãe, e polis significa cidade;
portanto, metrópole seria a “cidade-mãe”, a cidade para todas as cidades.
viagem para Nova York em 1924 que o horizonte de arranha-céus da cidade e suas
luzes inspiraram Fritz Lang quando ainda concebia Metrópolis (MCGILLIGAN, 1997,
p. 108). O diretor conceberia uma metrópole que seria a imagem em excesso dessa
Nova York — se os arranha-céus novaiorquinos eram grandes, altos e numerosos, os
de Metrópolis seriam ainda mais.
É dessa forma que se apresenta o maneirismo no filme Metrópolis: pela
linguagem do excesso, através da distorção das formas cinematográficas, e da
ressignificação hiperbólica da forma arquitetônica. No próximo capítulo examinaremos
o outro objeto da pesquisa, o filme Blade Runner - O Caçador de Andróides (1982) a
partir dos mesmos parâmetros, realizando uma avaliação do contexto social e
histórico em que o filme foi feito, além de questões estéticas e narrativas relacionadas
a matriz de excesso e ao maneirismo no filme.
86
5 BLADE RUNNER
Reagan, por sua vez, redefiniu o “senso comum”, reproduzindo uma retórica
política que ainda vigora durante a era Clinton: o governo deve ser limitado,
e os impostos devem ser reduzidos; os negócios devem ser fortalecidos para
criarem empregos e aumentarem a riqueza nacional; a burocracia
governamental (portanto, a política reguladora) deve ser eliminada; a
iniciativa privada é o melhor caminho para o sucesso e para a produção de
uma sociedade forte, e por isso o governo deve fazer tudo o que for possível
para incentivar esse tipo de empresa; a vida é dura, e só os mais preparados
sobrevivem e prosperam. (KELLNER, 2001, p. 80)
Fonte: History72
71 Vale notar que os termos “liberais” e “conservadores” são comumente usados nos EUA
para definir, respectivamente, os Democratas (ou pessoas de ideologia mais à esquerda no espectro
político) e os Republicanos (ou pessoas que se identificavam mais com a direita), independentemente
de como esses termos são usados em outros países.
72 Disponível em: https://www.history.com/topics/us-presidents/ronald-reagan. Acesso em: 01
nov. 2022
89
As distopias cyberpunk, como Blade Runner, seguem uma linha mais liberal
nas suas críticas à sociedade, apresentando um futuro em que a economia e o modo
de governo regentes produziram uma sociedade decadente. O crescimento expansivo
do capitalismo e da tecnologia não foram benéficos, apenas produziram novas formas
de exploração e opressão. Essas distopias da época transformam pela linguagem do
excesso os principais indicadores sociais e econômicos da Era Reagan.
Na sequência de abertura de Blade Runner (Figura 30) vemos um mundo
totalmente industrializado: fumaça, camadas de poluição, labaredas de fogo e as luzes
néon vermelhas fazem com que a cidade remeta ao Inferno (KELLNER, LEIBOWITZ,
RYAN, 1984, p. 6).
90
produções começaram a se apropriar da estética e das narrativas do cyberpunk; no fim dos anos 1980
e durante toda a década de 1990 e 2000, foram lançados diversos filmes, animações e videogames,
como Robocop (1987, dir. Paul Verhoeven), Akira (1988, dir. Katsuhiro Otomo), Johnny Mnemonic
(1995, dir. Robert Longo), Ghost in the Shell (1995, dir. Mamoru Oshii), Cowboy Bebop (1997-1998,
Shinichirō Watanabe), New Rose Hotel (1998, dir. Abel Ferrara), , Minority Report - A Nova Lei (2002,
dir. Steven Spielberg) e na trilogia Matrix, Matrix Reloaded e Matrix Revolutions (1999, 2003, 2003, dir.
Lana e Lilly Wachowski).
94
Scott e a equipe do filme misturam essa reverência ao passado com uma estética
propriamente oitentista, trabalhando principalmente a partir do excesso.
Em diversos elementos da mise-en-scène, existe um esforço da equipe
criativa para atualizar ou distorcer de alguma maneira a forma do noir: “Você tem um
filme de um gênero futurista, ficção-científica, entrecruzado com um [gênero] histórico,
o film noir [...]. Existem alguns tropos específicos do noir dos anos 40 que são
retrabalhados em um cenário futurista” (BROOKES, 201775, tradução nossa)76. Certa
vez, Dennis Hopper referiu-se ao cinema noir como o “gênero favorito de todo diretor”,
e acerca disso, Elsaesser (2000, p. 425) afirma que essa noção evidencia o noir como
um metacinema, o cinema feito do próprio cinema.
Quando se leva em conta como o noir nunca foi definido de forma
contundente, algo que pode ser percebido já nas raízes do termo, é que se trata de
uma classificação que parte muito mais da esfera da cinefilia do que de uma esfera
funcional e prática. O uso do termo é muito instável, se apoiando muito em um cânone
de filmes que seriam considerados noir. Com isso em vista, este seria um dos
“gêneros” a serem retrabalhados pelos diretores pós-modernos, e certamente, pelos
maneiristas.
O filme de Ridley Scott é produzido em um momento em que diversos outros
longas-metragens estavam revisitando as convenções do noir, em atmosfera e estilo
– elementos como os anti-heróis, detetives particulares, as femme fatales, cenas
noturnas e chuvosas com iluminação contrastada (iluminação low-key, ou
chiaroscuro) [Figura 33], os cenários urbanos decadentes, carregados do pessimismo
pós-Depressão77, foram reutilizados e transformados para se encaixarem nesse novo
momento, as décadas de 1970 e 1980.
noir […] are sometimes specific reworkings of some of the tropes from 1940s noir projected onto a future
setting.”
77 A Grande Depressão, ou o crash de 1929, foi quando a bolsa dos Estados Unidos quebrou
e desencadeou uma crise econômica sem precedentes, que deixou milhares de americanos
desempregados.
95
78 Em um artigo publicado na revista Film Comment ‘Life Après Noir’, Larry Gross (1976)
identifica uma série de filmes, dentre eles Alphaville (1965, dir. Jean Luc Godard), Point Blank (1967,
dir. John Boorman), The Long Goodbye (1973, dir. Robert Altman) e Chinatown (1974, dir. Roman
Polanski), como representantes de uma nova onda de filmes noir, chamando-os de filmes neo-noir (neo
significando “novo”).
79 Além de “Profissão: Ladrão” (1981), “Caçador de Assassinos” (1986) também de Michael
Mann, “Blow Out - Um Tiro na Noite” (1981) e “Dublê de Corpo” (1984) de Brian DePalma, “Veludo
Azul” (1986) de David Lynch, “A Morte de um Bookmaker Chinês” (1976) de John Cassavetes, “O Amigo
Americano” (1977) de Wim Wenders, "Gigolô Americano” (1980) de Paul Schrader e “Caçador de
Morte” (1978) de Walter Hill são alguns filmes desse período que apresentam ou revitalizam
características do noir clássico.
96
80 Fugere urbem é o lema adotado pelos poetas no Arcadismo, significa “fugir da cidade” e
representa a fuga do poeta em direção ao ambiente bucólico, o campo. (ELEUTÉRIO, 2020)
97
Neste capítulo, será realizada uma análise de alguns planos dos objetos dos
objetos de pesquisa, os filmes Metrópolis e Blade Runner. Tendo em vista as
conceituações apresentadas anteriormente acerca do maneirismo e da matriz de
excesso e suas aplicações nos objetos, os planos e algumas cenas serão examinadas
através da metodologia da análise fílmica, como vista em Vanoye e Goliot-Lété (2012),
e de uma análise comparativa entre o que for observado em ambos os objetos.
Nestes processos, será dada atenção a alguns aspectos, por exemplo como
o excesso é evidenciado na construção da mise-en-scène dessas cenas, observando
a direção, fotografia, iluminação, os cenários e efeitos especiais, a trilha musical e o
som — exceto no caso de Metrópolis, que é um filme mudo — e como as cidades são
construídas e como se expressam nesses dois filmes.
Em A Babel do Futuro: Por uma tradução da architecture parlante de
Metropolis e Blade Runner (2012), Alfredo Suppia (2012, p. 355) fala sobre como a
arquitetura é fator preponderante para a mise-en-scène em ambos os filmes: “a cidade
abandona o caráter de mero palco da ação, tornando-se um componente
preponderante da narrativa. Tanto em Metropolis quanto em Blade Runner, a cidade
reclama o status de protagonista e personagem onipresente.”
Portanto, uma breve análise da forma arquitetônica dos filmes estará presente
neste pedaço, para observar de maneira mais concreta como estas formas expressam
o excesso e a relação maneirista, pois como também observa Suppia: “[...] as formas
e estilos que alimentam o design de Metropolis e Blade Runner podem ser tratados
como signos suplementares inscritos na diegese, sendo, portanto, passíveis de uma
leitura e interpretação mais detalhadas [...]” (2012, p. 336). Será abordada as relações
do décor dos filmes-objetos com as formas e características de alguns movimentos da
arquitetura.
Fonte: Wikipedia
103
Dessa mesma forma, o Jardim dos Prazeres (Figura 39) apresenta uma
combinação de algumas características Art-Déco com a arquitetura neoclássica, a
pista de corrida e as estátuas sendo óbvias indicações de uma ligação com o ideal
grego de beleza, estética e corpo. As formas harmônicas, a beleza quase asséptica e
a natureza idílica, como um Jardim do Éden privado.
Figura 41 – Catacumbas
que estão pequenos em relação tanto ao edifício no quadro quanto aos vitrais nas
paredes abaixo deles.
Enquanto isso, Joh Fredersen (Alfred Abel) e seu mão direita (Fritz Rasp)
recebem de Josaphat (Theodor Loos) uma notícia urgente — Freder está em perigo.
Os atores gesticulam de maneira efusiva e suas reações são exageradas, como por
exemplo, o desespero de Joh na conversa, os olhos arregalados de Rasp, e a forma
como os personagens correm para fora do plano, em direção a Catedral. Os rostos
são iluminados de forma suave pela frente e com uma luz dura por trás, criando um
halo luminoso em volta dos atores e aumentando a dramaticidade das reações dos
personagens.
Em um plano aberto de um pedaço do topo da Catedral, Freder e Rotwang se
rodeiam, testando um ao outro. Eles lutam, se empurrando e agarrando, com as
gárgulas e o parapeito ao lado. Enquanto no pátio e avenida em frente à catedral, a
multidão assiste a luta enquanto a fogueira continua a queimar. A iluminação desse
cenário provém da fogueira, manifestando a população em forma de silhuetas
escuras. Rotwang coloca Freder contra o parapeito.
Rotwang, a gárgula e um pedaço do parapeito quebrado ficam de frente para
a câmera, enquanto Freder está de costas. As sombras fortes são projetadas contra
a parede atrás de Rotwang. São intercalados dois planos da população, que assiste
a luta entre os dois (Figura 45). No segundo, eles abrem caminho para um
desesperado Fredersen, que toma o centro do plano, chegando para observar a luta.
Freder consegue se desvencilhar, e Rotwang é jogado contra a parede. Os dois lutam
110
Enquanto isso, a população, que havia aberto espaço para eles se aproxima
de Fredersen de maneira ensandecida. Há um plano lateral de Josaphat onde ele
informa ao líder dos trabalhadores, Grot (Heinrich George), que as crianças estão
salvas. A população comemora, entrando em júbilos de alegria expressivos.
Antecedido por um primeiro plano de Fredersen com as mãos na cabeça, Freder é
derrubado por Rotwang e se contorce de maneira exagerada até conseguir se
levantar.
Quando vê que Rotwang está subindo uma escada e carregando Maria mais
para cima, ele dá um salto e sai em escalada atrás dos dois. Enquanto escalam, o
rosto de Maria é iluminado suavemente e o de Rotwang é obscurecido. A cena é
filmada de um ângulo agudo, indicando o perigo da situação. Chegando na cumeira
do telhado, Rotwang solta Maria para continuar a lutar. Esta fica pendurada por uma
111
Fredersen. Esse pequeno detalhe do fim da cena é mais uma das várias
demonstrações da ação do excesso na narrativa visual do filme.
Acerca dessa cena em geral, quando Eisenstein escreveu sobre a “montagem
de atrações” (the montage of attractions) em 1924, ele fala de uma atração que se
foca em capturar a atenção e que não pode ser naturalizada pela narrativa, mas que
tem um caráter tipicamente espetacular (BUKATMAN, 2006, p. 81). É assim que opera
a montagem de Metrópolis, através da atração.
Pela criação de imagens tipicamente espetaculares, ela funciona com gatilhos
de atração para o espectador, dispositivos de superexcitação dos sentidos. Nessa
cena, a aceleração da velocidade dos movimentos, os cortes rápidos que trocam entre
os dois espaços cênicos — o topo e o pátio da Catedral — a diminuição da quantidade
de letreiros de diálogos para não interromper a dinâmica caótica e tensa do conflito
são algumas das estratégias utilizadas para maximizar as atrações na cena.
Segue-se a resolução final do filme, onde Freder assume seu papel como
mediador, unindo Grot, líder dos trabalhadores, e Joh Fredersen, criador da cidade,
em um aperto de mão. Essa cena reitera a sensibilidade romântica de Metrópolis ao
fazer um apelo às emoções — o mediador é, afinal, o coração. A luta que acontece
nos telhados da Catedral não se trata apenas de uma luta pela vida de Maria, mas
também uma luta pela alma de Metrópolis:
Do mesmo modo, que não surpreende que na luta final, o badalar dos sinos
da Catedral venha cumprir o seu papel de advertência que leva à salvação
da boa Maria das mãos de Rotwang e à vitória do Bem. Esta, não por acaso,
é celebrada na praça que condensa os resíduos da ordem espiritual da Idade
Média na cidade-máquina do futuro, ponto final da fábula que traz a Catedral
ao centro e redime Metropolis de sua vocação ao desastre. (XAVIER, 2007,
p. 21)
No que diz respeito à cinematografia, Blade Runner traz o noir para o futuro,
mas o futuro como era imaginado em 1982 (Figura 48). As fontes de luz dura se tornam
faróis de xênon e lâmpadas neon, criando composições muito distintas, mas que ainda
remetem a iluminação contrastada do noir clássico. As ruas e vielas estreitas e
escuras da cidade baixa são regadas por diferentes cores de néon — muito parecido
com os distritos comerciais de Hong Kong, Coréia do Sul e Japão na década de 1980
— que ajudam a criar composições de luz únicas e complexas, como observado na
Figura 49.
115
pelas calçadas. Essa junção produz uma cena impactante carregada de informação,
que ajuda a amplificar a superexcitação dos sentidos e o caráter espetacular que a
cena quer atingir. Scott, como maneirista, ressignifica a atmosfera noir a partir da
distorção e do excesso.
Figura 51 – Zhora morre
Nesta cena um detalhe importante fica bastante evidente, o uso do som para
amplificar o excesso. O tema Blade Runner Blues é tocado em cena, adicionando um
tom trágico e fatalista para o momento e, combinado com a câmera lenta e aos sons
ritmados que lembram batimentos cardíacos, complementa a sensação de que o
tempo foi congelado para capturar aquele momento em que a vida de Zhora se esvai.
Em geral, a trilha musical de Vangelis mistura sintetizadores — instrumento que era
sua marca e de outros músicos e bandas de música eletrônica ou new wave — e
instrumentos tradicionais do Oriente-médio com o jazz de filmes noir em uma trilha
etérea, futurista e misteriosa.
Em One More Kiss Dear e Love’s Theme fica mais evidente essa referência
ao passado: a primeira é uma música com vocais de Don Percival que remete a
118
fotografia temos as luzes de xênon invadindo o espaço através das janelas; uma breve
câmera lenta no momento do primeiro tiro de Deckard; na cenografia, temos um
espaço decadente, lotado de bugigangas velhas e sinistras; e na atuação, as
expressões exageradas de dor (Deckard) e raiva (Pris) durante sua briga.
Sobre a iluminação dessa cena, Bukatman (1997, p. 29) conta como
Cronemweth se inspirou nas luzes de prisão para criar os raios de luz que
constantemente invadem os apartamentos e as ruas durante as cenas do filme (Figura
53).
ainda estava relutante em relação ao filme, mas a forma como sua visão do futuro foi
transposta visualmente encorajaram-no a participar mais dos bastidores da
produção82.
Figura 55 – A paisagem de fumaça
82 Entrevista com um relato de Philip K. Dick, antes dele vir a falecer, sobre esse momento.
Disponível em:
https://web.archive.org/web/20130528112644/http://www.philipkdick.com/media_twilightzone.html
Acesso em: 15 out. 2022.
122
83 No original: “[...] but to the city as cinematic environment, an industrial space poeticized and
narrated by cinema”.
123
Acima de tudo, Blade Runner mostra uma cidade com história, com edifícios
que têm estado ali por muito tempo e têm sobrevivido sob modernos arranha-
céus gargantuescos. [...] Na Los Angeles decadente do futuro, encontramos
o Yukon Hotel, a Union Station (1931-39), o Bradburry Building (1893) e a
Ennis Brown House (1923), de Frank Lloyd Wright. (SUPPIA, 2012, p. 10)
84 Slasher é um subgênero do horror, que se inicia formalmente na década de 1970, mas que
se consolida como fenômeno cultural durante a década seguinte. As histórias muitas vezes envolvem
um assassino monstruoso em uma comunidade suburbana (PETRIDIS, 2014, p. 1).
125
Michael Myers (Figura 59), Jason Voorhees, Leatherface, dentre outros — que
passam a sensação de onipresença, de serem impossíveis de matar independente
dos esforços dos personagens, e que gostam de torturar as vítimas física e
psicologicamente ao invés de matá-las diretamente. Uma mudança brusca na trilha,
acompanhada de um uivo do replicante que ecoa pelo ambiente da cena, indica que
ali se inicia um jogo de gato e rato entre os dois.
Quando Deckard observa o teto, ele está se desfazendo, a estante que ele
escala para chegar ao andar superior é uma que está decaindo. Deckard se refugia
em um banheiro sujo, decrépito e inundado pela água que escorre incessantemente
pelos azulejos branco e pretos do banheiro.
127
A trilha sonora nesse momento fica bem aguda, ríspida, gritante, contribuindo
para essa sensação. Roy sorri enquanto o humano se esforça para se manter vivo, e
salva Deckard quando esse está prestes a cair, segurando seu braço em um rápido
reflexo. O braço de Deckard treme e o esforço de Roy para levantá-lo faz seu rosto
também tremer. O replicante o coloca no telhado e Deckard se arrasta até um apoio,
cansado e assustado. Ele encosta nesse apoio enquanto Roy se aproxima e se
ajoelha em frente a ele em um plano aberto. A chuva inunda o telhado e os neons
iluminam o fundo dos planos (Figura 64).
Essa sequência de cenas é longa e mostra como os esforços monumentais
de Deckard para sobreviver parecem sempre inúteis frente à inevitabilidade e
onipresença de Roy Batty, este que é sempre filmado como alguém imponente, que
age como um predador ou um antagonista de slasher.
É importante notar que a vontade e as ações de Roy para prolongar sua vida
ao máximo também parecem inúteis frente a inevitabilidade e onipresença da Morte.
Ambos parecem estar lutando contra o impossível, seus esforços parecem fúteis,
como no mito grego de Sísifo: “Os deuses condenaram Sísifo a rolar incessantemente
uma rocha até o alto de uma montanha, de onde tornava a cair por seu próprio peso.
Pensaram, com certa razão, que não há castigo mais terrível que o trabalho inútil e
sem esperança” (CAMUS, 2018, p.137).
No trecho, presente em O Mito de Sísifo (2018), Albert Camus traz o mito
grego do homem que foi condenado a rolar uma rocha até o alto de uma montanha
apenas para que quando essa chegue ao topo, ela role até o sopé da montanha
131
novamente. Embora esse esforço pareça inútil, uma condenação infinita sem sentido,
é a própria vida que dá sentido a ela mesma, como diz Camus:
Sísifo é o herói absurdo. Tanto por causa de suas paixões como por seu
tormento. Seu desprezo pelos deuses, seu ódio à morte e sua paixão pela
vida lhe valeram esse suplício indizível no qual todo ser se empenha em não
terminar coisa alguma. É o preço que se paga pelas paixões dessa terra.
(CAMUS, 2018, p.138)
No fim, Roy sorri e diz “Hora de morrer” (time to die), e abaixa a cabeça, como
se tivesse sido desligado. Embora sua morte seja inevitável e tudo pareça ter sido
132
inútil, no final, Roy Batty relembra os momentos que viveu, e como ter vivido esses
momentos valeu a pena.
Em uma câmera lenta, a chuva escorre em seu rosto, camuflando as lágrimas,
e a pomba branca voa de sua mão, em direção aos céus chuvosos e escuros. A trilha
musical nesse momento, intitulada “Tears in Rain", combina um delicado piano com
os sintetizadores para produzir uma sensação empática para com Roy e sua morte.
Aqui ela adquire um tom de sacrifício santificado, principalmente junto da pomba
branca e do prego na mão de Roy, elementos que fazem parte da iconografia cristã
(Figura 66).
Nos seus momentos finais, Blade Runner rejeita a violência e visualiza com
esperança a relação entre replicantes e humanos. Roy e Deckard rejeitam seus papéis
como instrumentos de violência, Roy poupa a vida de Deckard, e ele, por outro lado,
empatiza com os replicantes, decidindo não entregar a vida de Rachael, abandonando
seu cargo e fugindo com ela. Assim como em Metrópolis, a emoção humana acaba
por superar a frieza do capitalismo e da tecnologia.
Também pode ser identificada uma relação especial entre os replicantes e o
visual. Para os espectadores, os replicantes são identificados pelo brilho dos olhos. É
através da iluminação nos olhos dos replicantes – que possuem um brilho especial
alaranjado em certos momentos – que os espectadores os identificam no filme, algo
que já é indicado pelos olhos da coruja artificial de Tyrell no início da película (Figura
68).
No filme, muitas cenas são filmadas com primeiríssimos planos focando nos
olhos dos replicantes, seja para dar essa indicação visual ou para que os atores
possam usá-los para transmitir as emoções da cena. Além disso, para chegar até J.F.
Sebastian e, depois, a Eldon Tyrell, primeiro os replicantes vão atrás do homem
responsável pelos olhos dos replicantes.
Quando Roy Batty faz seu icônico discurso sobre as lágrimas na chuva, ele
faz um destaque especial para suas memórias visuais e espetáculos espaciais que
ele vivenciou. Os replicantes, especialmente Leon e Rachael, possuem um apego
especial às fotografias, já que elas são as chaves de seus passados e memórias
(implantadas).
134
É a partir principalmente desse aspecto que eles formam laços uns com os
outros: uma das fotografias que Leon guardava era da replicante Zhora. Essas
fotografias, e a noção de um passado, também são algo que lhes dá a sensação de
possuírem humanidade. Juntamente a isso, o medo da morte e da finitude são
mostrados como traços dessa humanidade (KELLNER, RYAN, LEIBOWITZ, 1984, p
7). Após descobrir que não é possível reverter o processo que causa a morte dos
replicantes em quatro anos, Roy passa a agir de forma impulsiva e irracional. Primeiro
assassinando seu criador (Tyrell) e J.F. Sebastian, e depois ao descobrir o corpo de
Pris, é possível ver nele sentimentos humanos como amor, perda e raiva. A visão é
um dos aspectos que humaniza os androides do filme.
135
Tendo sido feito uma análise tanto de Metrópolis quanto de Blade Runner,
pelo aspecto da matriz de excesso e do maneirismo, inicia-se neste subcapítulo uma
análise comparativa desses filmes.
Os dois filmes são, primariamente, espetáculos visuais. Complexas
construções de mise-en-scène que promovem uma experiência de espetáculo. Vale
lembrar que: “ambos são essencialmente filmes de estúdio” (SUPPIA, 2012, p. 4), que
só poderiam ser produzidos em um esquema industrial pois requerem a criação de
cenários reais, cenários miniaturizados, e sua junção com o aparato dos efeitos
especiais — elementos esses que requerem um custo alto de investimento ou uma
inovação tecnológica custosa — que ajudam a produzir uma realidade além do
possível pelo próprio real.
A partir das ideias de Baudrillard em seu livro Simulacros e Simulação (1991),
existem perspectivas interessantes pelo qual pode-se analisar a relação do real com
o cinema, principalmente a partir de uma perspectiva maneirista:
Como visto no trecho acima, foi o filme que ditou o rumo do visual de ficção-
científica e, mais especificamente, cyberpunk, por anos. Sua estética pode ser vista
em uma série de produções da década de 1980, de 1990, e em produções recentes
como a sequência Blade Runner 2049 (2017, dir. Denis Villeneuve), a série Altered
Carbon (2018) ou o video-game Cyberpunk 2077 (2020). Dessa forma, é possível
dizer que os filmes acabaram sendo bem-sucedidos na criação de um imaginário
visual e estético, mais do que narrativo. Segundo o próprio Fritz Lang, a história de
Metropolis é ingênua, politicamente falando, e tem um caráter mais fabular:
O argumento central foi da sra. Von Harbou, mas sou ao menos 50%
responsável, porque rodei o filme. Não se pode fazer um filme socialmente
consciente dizendo que o mediador entre a mão e o cérebro é o coração -
quero dizer, esta é uma fábula, na verdade. Mas eu me interessava por
máquinas… (Editora Aleph, 2019)
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
8 MEMORIAL INDIVIDUAL
versões que serão lançadas, assim como o paradoxo sobre o cinema de autor dentro
dos grandes estúdios. A partir disso é possível discutir sobre a questão do autor no
cinema, e sobre a preservação dessa visão em um ambiente altamente industrializado
e voltado para o mercado como o cinema de estúdios e Hollywood. É evidente também
como a preservação da cultura se torna algo cada vez mais importante no momento
atual, em tempos de extremismo religioso, político e social, e com a ascensão de
políticas públicas que visam sufocar a cultura, como a dissolução do Ministério da
Cultura, o bloqueio de editais, o veto de leis de incentivo à cultura, dentre outros.
Durante o processo de pesquisa e escrita para o oitavo semestre, muitas novas
perspectivas foram atreladas ao emaranhado de conhecimentos que já constituíam a
monografia. Através do orientador Prof. Lucas Procópio de Oliveira Tolotti, o trabalho
adquiriu uma nova dimensão: a inclusão da arquitetura e arte moderna como pontos
de interesse na análise dos filmes. Como os diferentes movimentos da arte moderna
integram a história em que os filmes estão inseridos, e quais os efeitos que esses
movimentos imprimem nessas obras, como as cidades são fundamentais e como a
arquitetura é expressa no décor em ambos os filmes. Nesses aspectos, Giulio Carlo
Argan foi um autor proposto pelo orientador que se tornou fundamental na monografia.
Ademais, as metodologias da análise cultural e fílmica que foram utilizadas na
monografia se tratam de atividades árduas e complexas, demandando muito tempo,
esforço e paciência para serem realizadas corretamente. Exigiram muita pesquisa,
uma decupagem extremamente detalhista dos filmes, e uma escrita que consiga
transmitir todas as informações e os resultados da análise de forma efetiva. Para isso,
a leitura de outros projetos monográficos ajudou a entender como utilizar e aplicar
essas metodologias de análise, dentre a qual a monografia A PAISAGEM DISTÓPICA
BRASILEIRA: Um estudo sobre a exposição da identidade nacional nos filmes Terra
em Transe e Bacurau (2020) foi a mais influente. Acerca da análise cultural, Kellner e
Elsaesser foram autores fundamentais no que tange a esfera social, econômica e
política que envolve os filmes, elucidando complexas trocas culturais entre diferentes
movimentos e as conexões desses com outros conceitos e autores, como a análise
de Kellner acerca de Baudrillard e cyberpunk.
Com a monografia finalizada, resta agradecer a todos que colaboraram com
o processo de realização dela: os coordenadores e professores do curso,
orientadores, meus amigos e família.
149
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A MORTE CANSADA. Direção de Fritz Lang. Decla-Bioscop AG, 1921. DVD, 99 min.
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DR. MABUSE. Direção de Fritz Lang. Uco-Film GmbH, 1922. DVD, 154 min.
FUGA DE NOVA YORK. Direção de John Carpenter. AVCO Embassy Pictures, 1981.
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FUGA PARA O PASSADO. Direção de Jacques Torneur. RKO Radio Pictures, 1947.
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GHOST IN THE SHELL. Direção de Mamoru Oshii. Bandai Visual, 1995. DVD, 82 min.
HOMEM MORTO. Direção de Jim Jarmusch. Miramax Films, 1995. DVD, 120 min.
LONGE DO PARAÍSO. Direção de Todd Haynes. TF1 Cinema, 2002. DVD, 107 min
JANELA INDISCRETA. Direção de Alfred Hitchcock. Patron Inc, 1954. DVD, 112 min.
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MEU ÓDIO SERÁ TUA HERANÇA. Direção de Sam Peckinpah. Warner Bros.-Seven
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O QUINTO ELEMENTO. Direção de Luc Besson, Gaumont, 1997. DVD, 126 min.
O ILUMINADO. Direção de Stanley Kubrick. The Producer Circle Company, 1980. Blu-
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