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Ana Carolina Santos

4.º debate
Visão das teorias pós-positivistas e crítica às teorias positivistas
Enquanto os neo-realistas e neo-liberais se debatem no terreno racionalista (3º debate das RI), os teóricos críticos
desafiam as fundações dessa mesma teoria positivista.
1. Os atores políticos são inerentemente sociais e as suas identidades e interesses são socialmente construídos, e
produto da intersubjetividade das estruturas sociais.
 Criticam a presunção racionalista de que os atores sociais são atomicamente egoístas e os interesses são
formados a priori das interações sociais, entrando nas relações sociais apenas com interesses estratégicos.
2. Todo o conhecimento assenta em interesses, e que as teorias deveriam estar comprometidas em desmantelar
estruturas de dominação e de opressão.
 Criticam a noção value-neutral da teorização positivista.
3. Procura desafiar os pré-determinismos do realismo e idealismo que manipulam e guiam o nosso pensamento numa
dada direção, porque isso não permite ver outras alternativas.
 Critica a forma como o positivismo naturaliza relações e estruturas de poder e toma conceitos como
soberania estatal e anarquia internacional como dados imutáveis que fazem parte do SI.
4. Focam-se nos processos. Trazem à equação questões como identidades, linguagem, perceber como os interesses
são produzidos, reproduzidos, reconfigurados, alterados.
 Criticam o foco excessivo dos positivistas nas interações estratégicas entre Estados no SI.

Construtivismo
Caracterizado pela ênfase na importância normativa das estruturas materiais, no papel da identidade na moldagem da
ação política e da relação mútua entre estruturas e agências. Chama à atenção de que vivemos num mundo social onde
há interação social dinâmica e de que ficar agarrado a ideias imutáveis não permite evoluir.
O surgimento do Construtivismo
1. No final da Guerra Fria, o sistema bipolar cai por terra e é difícil explicar e prever este fenómeno pelas teorias
dominantes, nomeadamente, o realismo. Este falhanço pode associar-se a alguns aspetos-chave das suas teorias:
 A convicção de que os Estados são atores egoístas e unitários que agem sempre da mesma maneira,
competindo pelo poder
 A falta de espaço conferida aos indivíduos → no final de contas, foram ações de pessoas individuais que
asseguraram o fim da Guerra Fria, e não Estados ou OIs. Os atores, muitas vezes líderes, moldam e são
moldados pelas suas interações nas RI que estabelecem.
2. Os construtivismos emergem como um grupo de académicos preocupados com a natureza social (e não apenas
material) das questões, a possibilidade e necessidade de explicar a mudança e a transformação social, pressupondo
que temos de ter em atenção contextos históricos e culturais específicos.
 O debate académico emerge das circunstâncias políticas, culturais e históricas
Abordagem ou teoria?
Alguns autores, como Onuf, consideram o construtivismo não uma teoria, mas uma forma de olhar para as relações
sociais. Comparando com outras teorias, podemos ver alguma falta de consistência no construtivismo. O realismo, por
exemplo, é uma teoria substantiva, que faz explicações sobre a forma como os atores operam no mundo.
O construtivismo como processo de interação e construção social
1. As RI são uma construção social
2. Estados, alianças ou instituições internacionais são exemplos de fenómenos sociais nas RI, realidades orgânicas que
se vão ajustando e reajustando. Não são atores atómicos isolados e racionais mas sim entidades sociais e relacionais,
pelo que os seus interesses também não são fixos nem instrumentais, mas dependentes da interação com outros
atores.
3. As RI e os Estados assumem formas históricas, culturais e políticas específicas, que são produto da interação humana
num mundo social. Há diferenciais importantes para melhor responder e intervir em cada situação.
4. Os fenómenos sociais não existem de forma independente da ação e significado humano
Ana Carolina Santos
5. Dá importância às referências ideacional dos processos (normas, interpretação, linguagem), mas não descura as
referências materiais. Só podemos entender as ações/reações por referência a uma dada estrutura de significados.
Ou seja, atribui importância não só ao material, mas também às ideias acerca do que é material.
 Ex: perante o fenómeno da proliferação nuclear, se a entendermos como uma ameaça ou como uma
oportunidade de maior estabilidade estratégica ou de forma mais neutralizada em termos políticos, depende
dos contextos. Os construtivistas dizem que a nossa perceção de uma dada ação depende de quem somos,
onde estamos no SI, como nos definimos e nos percecionamos, como percecionamos os outros e quem está
a adquirir potencial nuclear. Se o Irão aumentar a proliferação nuclear, no ocidente sentimo-nos ameaçados,
mas se for o Reino Unido a fazê-lo, não nos sentiremos ameaçados. Este exemplo mostra que as armas
nucleares (estrutura material) por si só não têm grande significado, a não ser que entendamos o contexto
social e o tipo de relação entre os diversos Estados (estrutural ideacional).
Temas fundamentais
1. Mudança → ideia de construção social sugere diferenças nos contextos e inexistência de uma realidade objetiva. O
SI pode ser alterado perante determinadas dinâmicas. Ex: transformação da realidade bipolar numa nova realidade
unipolar
2. Dimensões sociais
a. Não é apenas a distribuição material de poder e riqueza que explicam o comportamento dos Estados, mas
também as suas ideias, identidades e interesses. Enfatiza normas, regras, princípios, bem como linguagem,
questões expressivas e fatores materiais e ideacionais que se combinam na construção de diferentes
possibilidades e resultados, pois a realidade não é fixa nem predefinida e está sujeita à mudança.
b. As normas têm um efeito profundo na forma como os atores se relacionam e na sua predisposição para um
conjunto de ações. Porquê? Porque se espera que um Estado com uma dada identidade se comporte de acordo
com certas normas. Estas promovem ou constrangem uma dada conduta. Ou seja, as normas são importantes
na forma como o Estado vai agir (lógica de apropriação) o que se distancia da lógica realista (lógica das
consequências). A identidade surge no momento em que me relaciono com o outro. Ex: Os EUA podem-se
sentir mais aproximados ao Reino Unido por ser uma democracia liberal e mais afastado da Coreia do Norte
por ser um regime totalitário de inspiração marxista.
c. Enquanto os racionalistas tinham reduzido o social à interação estratégica, os construtivistas “reimaginam”
o social como um elemento constitutivo, utilizam a dimensão histórica como matéria empírica e realçam o
papel da variabilidade da política.
3. Processos de interação → os atores fazem escolhas no processo de interação com outros possibilitando diferentes
realidades históricas, culturais e políticas.
Premissas fundamentais
1. Construção da realidade e refutação de pré-determinismos. Todos os objetos são construções sociais cuja forma é
moldada às normas sociais, valores e assunções. De igual forma, fenómenos sociais específicos, como Estados,
alianças ou OIs (sujeitos coletivos das RI), podem ser construídos materialmente pela natureza humana, mas são
um produto da sua interação num contexto histórico, cultural e político específico. Ex: “a anarquia é o que os
Estados fazem dela”
2. Distanciamento dos alinhamentos positivistas, de base materialista e com acentuação analítica na estrutura (não há
prevalência nem da estrutura nem do agente, são mutuamente interdependentes. A substância material não existe
sem uma substância ideacional que lhe atribua significado).
3. Mudança, sociabilidade e a questão identitária (tem a ver com como identificamos, definimos e percecionamos os
outros e nós próprios)
4. Análise discursiva e questão da linguagem
a. Poder das palavras
b. Os rótulos que usamos e o significado que damos aos acontecimentos
c. O domínio linguístico é essencial na (re)definição e (re)interpretação de acontecimentos internacionais e na
forma como lhes é dada resposta
Nicholas Onuf → World of Our Making (1989) → introduz construtivismo em 1989
1. Os estados, muito na linha dos indivíduos, vivem/agem num “mundo que construímos”
2. RI como construção social: o mundo não é predeterminado mas socialmente construído à medida que os atores agem
e interagem uns com os outros
Ana Carolina Santos
Alexander Wendt → Social Theory of International Politics (1999)
1. Contesta o materialismo, entendendo que as interações são mais culturais que materiais; e o racionalismo, dizendo
que a função dessas interações não é apenas reguladora de comportamento, mas também de construção de interesses
e identidades.
2. Admite, contudo, que as forças materiais existem e que os indivíduos são atores com intencionalidade. MAS,
sublinha que estas forças e intencionalidade dependem das ideias onde estão inseridas.
3. Por isso, confere relevância às estruturas normativas, à identidade como fator que molda interesses e
comportamentos dos atores, e à interação agência-estrutura.
Em suma:
1. Temas da mudança, sociabilidade, e processos de interação apontam para o valor acrescentado do construtivismo
num campo onde as correntes dominantes têm enfatizado ao longo do tempo o materialismo e a escolha racional
2. Relação materialismo/idealismo: as ideias e valores, questões culturais e identitárias, referenciais para o agente são
relevantes na interpretação do mundo “lá fora”, que só faz sentido quando nos referimos a ele
3. Agente e estrutura são co-constitutivos: não é a estrutura, mas sim o processo que determina como os agentes
interagem
Contributos do Construtivismo para as RI:
Abre espaço a uma abordagem sociológica, histórica e normativa sobre os valores, as normas, as práticas e as ideias e a
forma como estes moldam a identidade e a formação de interesses dos atores internacionais e consequentemente a sua
ação política.

Pós-colonialismo
Origens do colonialismo
1. Nos séculos XIX e XX, os colonizadores produziam nos media imagens e discursos que naturalizavam o papel do
colonizador → traziam uma influência civilizadora
2. A ausência de imagens não-brancas nos media sugere o domínio branco e a sua superioridade de uma forma
naturalizada.
3. Ocidente passou a autopercecionar-se como “centro do mundo” e há uma projeção e difusão do seu poder
estabelecendo relações de dominação entre o Ocidente e o Resto.
Colonialismo e colonial encounter
1. Colonialismo como:
a. exploração material, física e económica
b. imperialismo cultural através da produção de um discurso cultural (ex: orientalismo e suas implicações)
 o colonialismo tem uma dimensão ideacional além de material (relação com construtivismo)
2. O termo “pós-colonial” reconhece agência ao colonizado → Há um hibridismo na forma como o colonizado se
submete ao poder do colono, pois esta não é uma relação top-down onde o colonizado absorve tudo de forma passiva.
Há dinâmicas de resistência e assimulação que dão para os dois lados. O colono também ajusta a sua presença pela
interação com os colonizados (colonial encounter). (relação com construtivismo)
Pós-colonialismo: características gerais
1. Estudo das relações de domínio e resistência norte-sul e que pretende recuperar a posição dos povos/grupos
marginalizados
2. Nas RI, mostra insatisfação com o foco internacional nas políticas das grandes potências, estados, equilíbrios de
poder, etc. que excluem aspetos como a cultura e a identidade
3. Enfatiza a importância do domínio económico, social, político, cultural, militar no passado e a necessidade de
desconstruir a realidade construída em torno de dinâmicas de dominação e subserviência
4. Vê o SI não como anárquico, mas sim como hierárquico. A hierarquização nas RI assenta na disparidade de poder
e riqueza.
5. As RI são o discurso dos poderosos → continuam a apresentar uma visão do mundo a partir do Ocidente. Assim, a
exposição do eurocentrismo, dos discursos e representações ocidentais é central → constituem formas de poder que
precisam de ser desafiadas para se alcançar a mudança política
6. Enfoque em dimensões subalternizadas ou negligenciadas pelas RI tradicionais
Ana Carolina Santos
a. Em termos ontológicos, de conteúdos (questão da etnia, raça, etc)
b. Em termos epistemológicos e de reação ao positivismo (agenda pós-positivista)
7. Analisa a centralidade do poder e o seu papel na formação da identidade e da subjetividade, bem como a relação
entre poder, conhecimento e práticas políticas.
Pós-colonialismo e neocolonialismo
1. “Pós” não significa rutura, mas continuidade, pois há estruturas e relações de poder que permanecem depois da
descolonização → a presença e história colonial e imperial continuam a moldar o pensamento sobre o mundo, e as
formas ocidentais de poder continuam a marginalizar o mundo não-ocidental.
2. Neocolonialismo → Há territórios politicamente autónomos mas há um conjunto de formas de poder económico e
social que se mantêm e perpetuam o domínio de uma cultura sobre as outras → favorecido pela globalização e
acordos de livre comércio
3. Crítica de práticas formais e informais de colonialismo que têm dado lugar a exploração, alienação, repressão de
áreas do globo por uma ordem imperialista, iluminada e racional europeia
Imperialismo cultural
1. A cultura serve de base ao imperialismo e permite a sua difusão
2. Há uma definição do “nós” e do “eles” com base em representações, e não na realidade: ocidente civilizado, justo,
industrializado, racional, democrático, masculino VS. oriente selvagem, preguiçoso, supersticioso, irracional,
despótico, frágil, feminino → Este binário reforça a identidade e legitimidade do ocidente como opressor porque o
ocidental convence-se que está a iluminar e a civilizar o local objeto de apropriação
3. As perceções ocidentais sobre os povos não-ocidentais são um resultado do legado da colonização e imperialismo
europeus
Edward Said e a dominação da produção do conhecimento → Argumento central de que o ocidente tentou situar,
idealizar e dirigir o “resto” do mundo através da produção de conhecimento. Nesta lógica, o conhecimento é uma
forma de poder e dominação, pois permite, ao definir o lugar do “outro” no mundo, impor-se sobre ele.
1. Genericamente o ocidente tem falado por todos, as representações ocidentais têm dominado outras vozes; estas
representações estereotipadas dizem-nos mais sobre crenças e visões desinformadas ocidentais do que refletem
qualquer realidade destes outros mundos, permitindo injustiças relativamente a formas de vida no mundo não
ocidental
Orientalismo
Disciplina sistemática através da qual a cultura europeia foi capaz de gerir o Oriente política, sociológica e militarmente,
bem como ideológica, científica e imaginativamente, durante o período pós-iluminista. O Oriente era resultado de um
binário de oposição entre o Ocidente e o resto do mundo. Neste sentido, o Oriente é visto como central para a
compreensão da identidade europeia.
O poder não é entendido em termos puramente materiais ou institucionais, nem como meramente repressivo. Está
intimamente ligado ao conceito de conhecimento e às relações binárias que este produz.

Poder é mais produtivo do que repressivo → é o poder que resulta de estarmos numa posição para dizermos aos outros
como o mundo funciona → poder que resulta do conhecimento.
Discurso colonial

Produção de conhecimento assente numa hierarquização entre quem faz parte do projeto modernizador do Iluminismo
e quem é excluído dessa narrativa + Produção de imagens e discursos que naturalizam e tornam inevitável o papel
civilizador do colonizador → Estabelece-se assim uma divisão entre o Eu civilizado, racional, virtuoso, maduro, normal
(Europa) e um outro selvagem, depravado, diferente, infantil e irracional (Oriente)
A linguagem que nos representa a nós e aos outros tem implicações perigosas no processo de construção identitária
porque se baseia em estereótipos e imagens negativas → produz “regimes de verdade” que silenciam ou marginalizam
outros discursos e normalizam o que se quer que seja o status quo, encapsulando as lógicas de dominação, hierarquia e
subalternidade.
O pós-colonialismo procura compreender as formas de representação hegemónicas da realidade social, e
desmistificar/politizar essas verdades.
Ana Carolina Santos
Exemplo: “Discurso do desenvolvimento”
1. A capacidade de os países ricos definirem os critérios do desenvolvimento e progresso é uma forma de poder que
condiciona escolhas.
2. Abordagem pós-colonial procura questionar as categorias aceites (como desenvolvimento e subdesenvolvimento) e
perceber os seus efeitos. Tomamos estes conceitos como adquiridos, mas é importante repensar como se criam
algumas categorias e conceitos determinantes nestas relações de dominação.
3. Desenvolvimento e subdesenvolvimento são construções discursivas que refletem as formas de poder e forças
políticas na sua base.
4. Truman (1949), ao falar em “subdesenvolvimento”, ordena a realidade social em categorias, que vai moldar e
influenciar as identidades, e definir países do “Terceiro Mundo” como objeto de intervenção → normaliza o direito
do Ocidente de intervir e controlar, adaptar e renovar as estruturas e práticas do sul. A ajuda ao desenvolvimento,
numa perspetiva pós-colonial, pode ser vista como a permanência de estruturas e relações coloniais.
Implicações do imperialismo cultural
1. Autonegação (complexo de inferioridade ou de autoaniquilação): ser branco esvazia o sujeito negro
a. Fanon: “o homem negro não é homem”; representações como vilões; estereótipos em filmes e representações
que exageram imagens e legitimam objetivos negativos de representações destes grupos
2. Resistência
a. Há uma adaptação, interpretação e transformação criativa dos símbolos e práticas culturais do Ocidente, que
mostra que as pessoas do Sul não são simplesmente vítimas passivas aos olhos da cultura ocidental
b. Posicionamento: rejeição do subalterno, intelectuais pós-coloniais, rejeição do passado, etc. → agência

Teoria Crítica
Finalidade da TC
1. Encontrar soluções alternativas aos constrangimentos de liberdade e justiça presentes na ordem dominante
2. Não podemos apenas ver o mundo como ele é (teorias tradicionais) ou como se constrói, interpretando-o
(construtivismo). É preciso olhar para a realidade, interpretá-la, ver como se transforma, perceber que papel temos
nessa transformação e procurar alternativas.
3. Ultrapassar a dominação subjacente à razão instrumental do projeto da modernidade e as contradições internas desse
projeto nas estruturas sociais que lhe estão subjacentes.
4. Propósito muito comprometido com a realidade e com a necessidade de se romper com formas de dominação e de
opressão no SI.
Características gerais
1. Questiona a ordem social e política moderna dominante que é inerentemente desigual → questiona como esta se
formou e apela à necessidade de lutar por uma sociedade alternativa mais justa e de analisar possibilidades de
emancipação
2. Critica o alastramento da dominação tecnológica, da racionalidade administrativa e burocrática da modernidade a
todos os aspetos da vida quotidiana → “organização racional da atividade humana”
3. Influência marxista em termos filosóficos:
a. Proposta para alterar a ordem hierárquica e de dominação vigente, numa lógica emancipatória (comum ao
pós-colonialismo)
b. O conhecimento é sempre condicionado pelas referências materiais e históricas
c. Foco nas desigualdades do sistema e interesse na questão da mudança
d. Da crítica da economia à crítica da ideologia e da política
e. MAS, em termos práticos, entendem a tentativa de operacionalizar este objetivo com a URSS de forma
diferente. Os pensadores da TC olham para a URSS com desencanto.
Dimensão normativa
1. “Theory is always for someone and for some purpose” (Cox, 1981) → Critica outras abordagens teóricas que se
dizem ser “neutras”. Enquanto as teorias tradicionais costumam ver o poder e os interesses como fatores a priori, a
TC defende que o poder e os interesses fazem parte da produção de conhecimento e, consequentemente, das próprias
teorias em si → não podemos teorizar de forma descontextualizada
2. Rejeição das distinções positivistas entre facto e valor, sujeito e objeto (rejeita a noção value-neutral)
Ana Carolina Santos
3. O conhecimento pode ser uma força motriz da mudança da sociedade e da emancipação
4. O próprio conhecimento produzido pela TC não é neutro → tem uma carga política e ética motivada pela
transformação social e política, criticando teorias que perpetuam a ordem existente marcada por formas de
dominação e injustiças
Emancipação e tendências contra-hegemónicas
1. As RI devem ser orientadas por uma política de emancipação em vez da legitimação da sociedade existente
2. Identifica movimentos contra-hegemónicos que desafiam princípios e estruturas dominantes → Ênfase nos
movimentos políticos que estão na vanguarda dos esforços para imaginar e criar estruturas mais justas
a. Marcuse: foco em movimentos subnacionais e transnacionais, afastando-se do enfoque no Estado
b. Habermas: Movimentos sociais trazem uma nova agenda para a política internacional e prometem uma nova
sociedade que substitui o esforço de controlo administrativo (“colonização da vida mundial”)
3. O conceito de emancipação promovido pela TC deriva do projeto iluminista, que estava preocupado com a quebra
das formas de injustiça para aumentar as condições necessárias à liberdade universal.
Outras características
1. Cox: olhar as formas de hegemonia e domínio que a economia política mundial gera
2. Questiona a unidade do Estado → condicionado social e historicamente
3. Foco em dinâmicas de inclusão/exclusão a nível estatal e internacional
4. Rejeição da imutabilidade das estruturas → possibilidade de mudança e transformação contínua
5. Conceções pós-nacionais de comunidade → oferece alternativas à ideia de Estado i.e cosmopolitismo (organização
política baseada no cidadão e não no Estado, cidadania focada não na nacionalidade mas na transnacionalidade.
Procura chegar ao ideal de “comunidade humana” e a uma forma mais inclusiva de sociedade)
a. Habermas: CE (mais tarde EU) como comunidade pós-nacional onde os povos estão ligados por uma
cidadania supranacional e uma lei cosmopolita → menos enfoque na soberania/ fronteiras e retira
prevalência ao Estado enquanto formação política que cria barreiras.
Marcuse: Admite que o capitalismo domina as sociedades, mas mantém postura otimista → reconhece algum espaço
para a emancipação e criação de uma sociedade mais livre
Antonio Gramsci
1. Mais importante que a base económica da sociedade (estrutura) são a política, a ideologia e a cultura
(superestrutura).
2. Estado = instrumento de dominação ao serviço dos interesses do capital e da classe no poder
3. Hegemonia cultural: ideologia dominante expressa em instituições sociais leva ao consentimento das regras do
grupo social dominante pelos grupos sociais subordinados. Há cumplicidade entre estruturas de poder económico e
político e a sociedade civil por meio das escolas, igrejas, famílias, meios de comunicação, sindicatos, etc, que
subscrevem a sua visão ideológica.
4. Sociedade civil: arena onde movimentos hegemónicos e contra-hegemónicos competem, ora reproduzindo
mecânicas da ideologia de Estado ora assumindo um papel transformador → As escolas, educação e cultura são
importantes para a mudança de mentalidades e só assim podemos conseguir mudanças revolucionárias no poder
Alternativas da TC à ordem dominante
1. Defesa de uma globalização alternativa (sem ser dominada pela lógica neoliberal capitalista)
2. Sociedade civil global para responder à governação global
3. Formas alternativas de organização política baseada nos cidadãos, não no estado → cidadania cosmopolita
Semelhanças com o Construtivismo
1. Rejeição do determinismo sistémico e da imutabilidade da realidade – o construtivismo olha ela como algo em
constante mudança; a teoria crítica pensa que ela tem mesmo de ser mudada
2. Lançar um olhar novo para aquilo que já nos é tão familiar que parece natural e permanente e desconstrói-o
Diferenças do Construtivismo
1. Para a TC, a tarefa não é só interpretar o mundo → propósito fortíssimo de também transformar o mundo
2. Deslegitimação do poder que sustenta formas de dominação social e política → o construtivismo não contesta
Ana Carolina Santos
habitualmente as estruturas de poder
Contribuições da Teoria Crítica
1. Rejeita a ideia de que o teórico é apenas um observador distante. → O teórico é, pelo contrário, imerso na vida
social e política. Todas as TRI estão informadas por interesses e convicções, não sendo neutras.
2. Repensa o Estado moderno e a comunidade política. As teorias tradicionais têm tendência em tomar o Estado como
garantido. A teoria crítica, por sua vez, procura analisar a forma como as comunidades políticas são formadas,
mantidas e transformadas.
3. O objetivo da TC é, em suma, alcançar uma alternativa à teoria e à prática das RI, de modo a ultrapassar as dinâmicas
de exclusão associadas ao sistema moderno de Estados soberanos, estabelecendo um sistema cosmopolita cujas
estruturas promovam a liberdade, a justiça e a equidade por todo o globo.

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