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Catarina Ferreira

Teoria das Relações Internacionais


São Teorias que permitem avaliar as relações internacionais, ajudando a perceber certas atitudes e
comportamentos dos agentes internacionais. Assim sendo, a teoria serve para prever comportamentos, serve
para refletir sobre o processo em si de teorizar.

Teorias a abordar:

• Construtivismo,
• Teoria Crítica,
• Pós-colonialismo,
• Feminismo,
• Pós-Modernismo

Sobre a história e a historiografia das RI


As teorias são a base da forma como estruturamos a nossa argumentação e de como lemos e interpretamos as
questões internacionais. Qualquer tema das RI, com a exposição de uma opinião é baseado,
inconscientemente, numa teoria.

As teorias ajudam-nos a ler o mundo. À partida, o uso das teorias é sempre uma escolha, o que cria um
comprometimento perante a realidade internacional. Se se olhar a mesma questão através de diferentes teorias,
vamos obter resultados e conclusões diferentes. A partida, não há análises erradas, pois todas elas seguem um
caminho conforme a teoria e as posições do orador. o certo e o errado não existe, embora os factos tenham de
ser seguidos. Por isso, é importante conhecer as teorias para argumentar de forma sustentada.

Os desafios encontrados nos dias de hoje suscitam uma conjunto de narrativas em torno dos mesmos. Essas
narrativas são sustentadas pela teoria, contudo, existem as fake news da notícia em diversos meios, o que torna
importante escolher as fontes de informação. Basear-se apenas numa fonte é algo muito limitado nos dias de
hoje.

RI como disciplina autônoma


As RI nascem num contexto de pós-primeira guerra mundial, sendo um fenômeno do século XX (Universidade
de Aberystwyth, País de Gales). Pensa-se a Guerra e a Paz, sendo a base dos trabalhos dos primeiros
pensadores. Visava-se não repetir a Guerra e implementar a paz a nível global.

Em 1918, criou-se na Universidade de Aberystwyth, a primeira universidade de RI. Os pensadores das RI


foram apelidados de idealistas, pois queriam que não se voltasse a repetir a guerra. Estes autores são otimistas
e olham para a natureza humana positivamente, com capacidade de cooperação, diálogo, … a ideia na base
dos teóricos idealistas, é de que os humanos têm capacidade para acreditarem no progresso e porem em marcha
um caminho para uma ordem mais pacífica.

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As causas da guerra e da paz são o foco das teorias que depois vão entender que para percebermos a guerra e
a paz precisamos da ajuda de várias ferramentas. As questões econômicas são importantes, assim como as
dimensões culturais e sociais, para conhecer as dinâmicas da paz e da guerra. Vi haver uma certa evolução de
como se pensam a guerra e a paz e de como as RI vão evoluindo. É uma disciplina interdisciplinar e
heterogênea.

Com a segunda guerra mundial, os pensadores começam a posicionar-se numa postura mais assertiva e
começam a argumentar que a natureza humana é naturalmente conflituosa. que os seres humanos não olham
a meios para alcançar os fins. Nasce um grupo conhecido como realistas que dizem que a realidade
internacional é marcada por competição e egoísmo. Os estados competem por sobrevivência e preponderância.

Enquanto as instituições são importantes para os idealistas, pois ajudam a garantir a paz, os realistas acreditam
que estas são instituições que defendem os interesses dos países mais fortes. Os Estados fracos são reféns dos
estados mais fortes.

Primeiro surgem catedráticos, teóricos que abordam as questões de uma forma divergente, faz com que as
teorias surjam de forma a responder às questões, sendo fruto do contexto.

Durante a guerra fria, com os vários acontecimentos (détente, descolonização, …), surgem muitas teorias.
Com o final da Guerra Fria, volta-se a questionar o pensamento, principalmente o realista. Nestas lógicas de
competição, o realismo prevaleceu durante a Guerra Fria, mas com o fim pacifico da Guerra Fria, o realismo
foi posto em causa pois não conseguia explicar o fim da guerra fria. Isto leva à necessidade de refletir sobre a
realidade. Assiste-se a uma abertura enorme, pois até então, as RI estavam abafadas por estas questões de
segurança. Começam-se a falar de outras questões que até então não eram priorizadas. Aqui assiste-se ao
surgimento do construtivismo, da teoria crítica a ganhar força, do pós-colonialismo, feminismos, … Tudo isto
tem haver com contextos.

Há diferentes formas de abordar as teorias.

1º debate (ontológico)
idealismo vs realismo

• Porque se quer perceber a essência, o porquê da guerra.


• Os idealistas (Wilson) dizem que o SI é anárquico, mas pode-se criar regras para organizar o SI mesmo
com a existência desse poder supranacional. Se existe um ator soberano, superior a todos e com toda
a hegemonia concentrada em si, poderia criar-se uma sistema totalitário.
• Os realistas estão focados em questões securitárias, com questões mais materialistas. O Soft Power
para os realistas não tem grande importância. O Hard Power é mais relevante e ajuda-nos a perceber
melhor as questões de poder. Os Estados continuam a ser o garante da soberania.

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• O dilema de Segurança/Equilíbrio de Poder são conceitos importantes. o equilíbrio de poder é


importante na lógica da própria anárquica. se se perguntar a um anarquista, se vivermos num constante
conflito, como se explica a paz? respondem que há mecanismos no SI em que a Potência A e a B se
aliam porque a potencia C estava a ficar demasiado poderosa. Ao aliar-se evitam que haja hegemonias
e se cria uma balança de poder de forma a manter o status quo. um exemplo claro, pode ser a época do
Concerto da Europa.

2º debate (epistemológico ou metodológico)


tradicionalismo vs behaviorismo

• Surge na década de 50, é muito forte da década de 70. tem haver com as metodologias, como fazer as
RI uma ciência. Esta questão vai ter a sua essência na discussão dos métodos a usar para que os estudos
que se fazem possam ser considerados científicos.
• Os tradicionalistas dizem que para sermos uma ciência não tem que se ter uma relação causa efeito e
pode-se beber um pouco de cada ciências sociais apoio, ajudando a legitimar. pode-se usar entrevistas,
surveys, … que ajudam e enriquecem os trabalhos, tornando os válidos cientificamente. Nós só
conseguimos compreender as RI em contexto. Não há critérios neutros pois vamos ter sempre algo que
informa a nossa leitura e nos leva a interpretar. Não há verdades absolutas, sendo isso que fomenta o
diálogo.
• A europa é mais tradicionalista, enquanto os EUA são mais behavioristas. Este debate é infindável.

3º debate (inter-paradigmático)
neorrealismo vs neoliberalismo (pluralismo) vs estruturalismo de origem marxista

• Atualização do 1º debate. O idealismo do primeiro corresponde ao neoliberalismo, o realismo ao


neorrealismo. este debate é uma atualização daquilo que pensamos do mundo. O debate da natureza
humana deixa de ser relevante e há uma maior aproximação entre os naturalistas e os neoliberais. O
neorrealismo vai dizer que os Estados são os atores predominantes do SI, e que há uma
interdependência econômica. Os neoliberais vão reconhecer que há limites à leitura do mundo e que
há conflitos e vão trazer à discussão a ideia de todos os mecanismos que existem que ajudam a mitigar
o conflito.
• Debates influenciados pela questão da ciência são teorias sistêmicas pois partem da análise do SI para
compreenderem a realidade internacional.

4º debate (pós positivismo | pós-racionalista)


• Tipicamente dos anos 90.
• Aqui estamos dentro do pós-positivismo. olha-se o mundo a partir do SI ou do indivíduo (político,
comunidade local, …). Fala-se da necessidade de pensar criticamente e derrubar as ideias mais
materialistas. Este debate ajuda-nos a pensar fora destas amarras. A identidade ganha um novo
destaque.

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Positivismo
• Positivismo ou racionalismo – tem uma visão muito racional na realidade. É influenciado no
pensamento francês do século XIX e influenciou muitos países
• Baseado na filosofia de augusto comte
• Empirismo como modelo de estudo – precisam de analisar as coisas que se conseguem visualizar
• O mundo observável de onde podemos tirar conhecimento
• Traz o modelo das ciências naturais para o campo das RI
• Dominante no campo das RI até meados dos anos 80 – começa-se a mudar quando surge o pós-
positivismo

Preceitos do positivismo
• A natureza é governada oir regras gerais
• Unidade da ciência
• Distinção entre fator e valores
• Existência de regularidades entre o mundo social e natural
• Empirismo como ferramenta de investigação

O positivismo cria conceitos dados e imutáveis, tendo que o SI se adaptar às teorias. Se consideramos a
imutabilidade dos conceitos, não conseguimos pensar de forma diferente.

Pontos negativos do positivismo


Sujeito às Ciências Naturais

Modelo acaba por obedecer a preceitos de outra área, não estabelecendo um modelo para as RI

Generalização

Generalizações dos comportamentos

Falta de debate critico

Sendo o modelo dominante, torna a discussão pequena na maneira de ver as RI

Explicar o mundo

Tenta explicar o mundo como ele é, não como deveria ser

Ciência neutra

O conhecimento é um facto observável, sendo assim ele não é baseado em crenças ou posicionamentos

Poderia haver nas RI um conhecimento neutro?

Cox – A teoria é sempre para alguém e para algum propósito

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Pós-positivismo ou reflexismo
• Teoria critica, construtivismo, pos-estruturalismo, pos-modernismo ou feminismo
• Rejeição do modelo positivista
• Modelo baseado na perceção do autor
• Não apenas entender o mundo, mas principalmente critica-lo
• Questionamento da metodologia de formação de “teorias” científicas
• Procura argumentativa baseada na falseabilidade – os pós positivistas vao dizer qual é a falsidade/erro
do argumento e entender o que é real e o que não é

Premissas dos pós-positivistas


• Auto-consciente de duas premissas
• Enfatiza as dimensões normativas e políticas dos paradigmas e a sua abordagem na “Ciencia normal”
• Linguagem observativa neutra deve estar ausente para julgamentos fundamentados desses paradigmas

Problemas do pós-positivismo

O relativismo acaba por gerar um modelo anárquico nas conceções teorias, sendo o problema com o pos
positivismo.

Conhecimento

Falta de um modelo de pesquisa científica coeso.

Coesão

Diversas teorias pos-positivistas acabam se criticando em certos pontos.

Incoerência

Sem critério claro de escolha para as suas teorias.

Marginalização

Por não possuir um método, pode permanecer nas margens do debate público.

Construtivismo(s)
Construtivismo, uma teoria das relações internacionais?

Quatro debate:

1º debate – ontológico

2º debate – metodológico

3º debate – interparadigmático

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4º debate – debate pós-positivista

O construtivismo enquanto filosofia política ou social e enquanto teoria de Relações Internacionais. O


construtivismo vai olhar a necessidade de desconstruir pré-determinismos. Os construtivista vêm-nos dizer
que não podemos ter estes pré-determinismos a assumirem-se e a guiarem o nosso pensamento numa
determinada direção, sem que abramos as nossas janelas. Enquanto os autores realistas se focam muito nas
interações estratégicas entre os Estados, os construtivistas focam-se muito mais na questão dos processos,
trazendo questões como identidades, como linguagem, como perceber que os interesses de um determinado
ator são produzidos, etc., estando numa lógica muito mais dinâmica. Vivemos num mundo social e se ficarmos
presos a ideias fixas, não podemos evoluir.

O surgimento do construtivismo
Final da Guerra Fria e dificuldade das teorias dominantes na sua previsão e explicação (finais da década de
80, inícios dos anos 90)

Os construtivistas emergem como um grupo de académicos preocupados com a natureza social das questões,
a possibilidade e necessidade de explicar a mudança e o pressuposto de que temos de ter em atenção contextos
históricos e culturais.

Construtivismo como processo de interação e construção social


As relações internacionais são uma construção social, havendo uma ideia de dinamismo.

Algumas ideias centrais:

• Os atores das RI falamos de Estados, alianças, instituições internacionais, são unidades orgânicas que
se vão ajustando.
• Assumem estes formatos históricos, culturais e políticas, não sendo generalizável, tendo que ter em
atenção que não podemos pegar numa máxima e esperar que isso se aplique a todos.
• Estas formas são produto da interação humana num mundo social – tudo a que chegamos é fruto da
interação social, por isso nada é pré-adquirido ou pré-determinado.
• Os fenómenos sociais não existem de forma independente da ação e significado humano –tudo tem
que ter significado e quem dá significado são os sujeitos. A ideia das verdades objetivas e
generalizáveis cai por terra.

O construtivismo da muita importância às normas, mas não discura a dimensão material dos processos, sendo
igualmente importante. Por exemplo, a proliferação nuclear: nos só podemos entender as reações por
referência a uma determinada estrutura de significados, o que significa que, perante este fenómeno, se o
entendermos como uma ameaça ou se vamos entendê-lo como uma oportunidade de mais estabilidade
estratégica, vai depender dos contextos. se o Irão inicia um processo de nuclearização, no ocidente vai se
entender como uma ameaça, mas se o reino unido consolida o seu processo de nuclearização, os seus aliados

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ocidentais não se vão sentir ameaçados. Há referenciais não materiais que são importantes para conseguirmos
entender para onde isto nos está a levar.

Temas fundamentais
Mudança

Ideia de construção social sugere diferenças nos contextos e inexistência de uma realidade objetiva

Dimensões sociais

Enfatiza normas, regras, linguagem e como fatores materiais e ideacionais se combinam na construção de
diferentes possibilidades e resultados

As normas têm um efeito profundo de como os atores se vão relacionar. Tanto favorece os comportamentos,
como restringe os comportamentos. A forma de como os construtivistas leem isso é mais numa questão de
apropriação do que logica de consequência.

Processos de interação

Os atores fazem escolhas no processo de interação com outros possibilitando diferentes “realidades”
históricas, culturais e políticas.

Está na base da construção social

Premissas fundamentais do construtivismo


• Construção da realidade e refutação de pré-determinismos – na ausência do pré-determinismo está a
evolução, pois a interação vai-se fazendo e construindo relações e mudança. O neoliberalismo e o
neorrealismo são muito pré-determinados, dizem que o diálogo é difícil porque há muita competição.
Numa analise construtivista, numa tentativa de perceber contextos e analisar os atores, vão-se construir
a analise com base na intervenção, tendo em atenção a diversidade.
• Distanciamento dos alinhamentos positivistas, de base materialista e com acentuação analítica na
estrutura
• Mudança, sociabilidade e a questão identitária – a questão identitária tem haver com a forma como
nos identificamos e definimos e como definimos o outro.
• Análise discursiva

Nicholas Onuf
• World of our making (1989)
• Introduz o termo construtivismo em 1989 no livro World of our making. A anarquia é aquilo que os
Estados fizerem dela. Se se colaborar a anarquia internacional vai ser mais cor de rosa, de
competirmos, vai ser mais cinzenta.
• Ele explora a ideia de que os Estados, como os indivíduos (importância de atores para alem do
Estados), interagem e vão construindo o mundo. O mundo não é pré-determinado, mas construído à

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medida que os atores vão interagindo. O que se considera é que este tipo de leitura permite uma maior
inclusão de temas fora da agenda.

Alexander Wendt
• Social theory of international politics (1999)
• Contesta o materialismo, entendendo que as interações são mais culturais que materiais, e o
racionalismo, suja função não é apenas reguladora de comportamento, mas também de construção de
interesses e identidades. Admite, contudo, que as forças materiais existem e que os indivíduos são
atores com intencionalidade.
• Sublinha que estas forças e intencionalidades dependem das ideias onde estão inseridas. Relevância
de estruturas normativas, da identidade como fator que moída interesses e comportamentos dos atores
e da interação agencia-estrutura. A estrutura-agência pode ser amovível de acordo com o contexto de
analise.

O construtivismo é…
Um ato de criação humana. Uma vez que construído um objeto assume um significado particular num
determinado contexto. O construtivismo chama a atenção à necessidade de estarmos atentos aos contextos, às
situações. Podemos ter diferentes leituras, dar diferentes significados àquilo que nós vemos.

Análise discursiva
Analise discursiva e a questão da linguagem

• “Poder das palavras” – as palavras têm um significado e são poderosas. A forma como construímos
uma narrativa pode ter diferentes impactos nas pessoas. A partir do momento que se rotula alguém
como terrorista, a verdade é que depois a forma como se trata esse alguém pode ser diferente, por
exemplo. A forma como se coloca o discurso e como se rotula determinado fenómeno vai ser
importante no momento de agir.
• Os rótulos que usamos e o significado que damos aos acontecimentos
• O domínio linguístico enquanto essencial na definição e redefinição, na interpretação e reinterpretação
de acontecimentos internacionais e da forma como lhes é dada resposta

Exemplo prático
Como podemos explicar a permanência e expensão da NATO após o fim da Guerra Fria?

Construtivistas:

• Importância de valores e interesses materiais


• Valores partilhados na NATO e normas da democracia liberal a promoverem a expansão
• Identidade liberal democrática da NATO como motor do processo – sugere valores e normas como
mais importantes

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O que é que é tão aglutinador que permita que a aliança permaneça no tempo? Olha a partilha de valores
que permitem que haja a ideia de que podemos permanecer e podemos tentar usá-los nesta nova
reconfiguração da ordem internacional em função dos princípios da democracia, que norteiam a aliança
transatlântica. Foi a defesa dos valores e das normas que permitiu que a aliança permanecesse.

Dois problemas:

Porque é a expansão de valores mais importante?

Relutância inicial da NATO em expandir

Construtivismo:

• Diálogo – importância para todos os participantes


• Speech acts (atos de fala) – atuar de forma consistente com os ideais apresentados ao longo da
Guerra Fria
• Reconhecimento – identidade dependia da consistência entre palavras e ações. Isto ditou o
alargamento a leste

Em suma

• Temas da mudança, sociabilidade e processos de interação apontam para o valor acrescentado do


construtivismo num campo que tem enfatizado ao longo do tempo o materialismo e a escolha
racional – como sublinhado pelas correntes dominantes.
• Relação materialismo/idealismo: as ideias e valores, questões culturais e identitárias, referencias
para o agente são relevantes na interpretação do mundo “lá fora”, que só faz sentido quando nos
referimos a ele.
• Agente e estrutura são co-construtivos: não é a estrutura, mas sim o processo que determina como
os agentes interagem.

Teoria Crítica
Influencias
• Principais autores: Gramsi, Robert Cox, Andrew Linklater, Ken Booth e Escola de Frankfurt (estudos
de segurança)
o Robert Cox é um dos autores atuais de grande relevância da teoria critica.
o Ideia de há um conjunto de teorizadores que vão ser a inspiração para autores mais recentes.
• Marxismo como ponto de partida importante – produção torna-se elemento central na análise do social
o Interesse na mudança – enfoque na desigualdade do sistema
o Necessidade de olhar para alem da luta de classes
o Da critica da economia à critica da ideologia e da política, havendo uma importação da sideias
de marx, atualizando-as para questões como a politica e da ideologia.

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o Necessidade do proletariado encontrasse formas de poder que quebrasse as injustiças do


capitalismo, estando assente na luta de classes.
o Marx propunha uma construção de uma sociedade socialista em evolução para o comunista, de
modo a acontecer uma transformação da sociedade. Os meios de produção iriam para o
proletariado, havendo uma distribuição mais justa.

Temos que olhar para a realidade de forma critica e normativa, idealizando o que poderia ser a realidade.

É importante para a TC a alteração de uma sociedade de cheia de problemas e muito centrada no privilégio de
uma minoria.

Escola de Frankfurt
• Desencanto com o autoritarismo que vigorava na URSS e falhanço para travar o crescimento do
fascismo na europa ocidental. Viva-se um regime na URSS de grande autoritarismo que não era aquilo
que tinha sido idealizado na teoria marxista, onde todos poderiam participar na sociedade de forma
mais emancipada. Havia uma elite com uma serie de privilégios que se destava da grande massa que
vivia de forma muito pobre. Era uma sociedade com muito controlo.
• Questiona a ordem social e política moderna que prevalece como dominante. Consideram que é
inerentemente injusta e desigual, havendo uma necessidade de lutarmos por uma sociedade alternativa
mais justa.
• Autores de referência: Horkhelmer, Adorno, Walter Benjamin, …
• Influencia do Marxismo, é importante em termos de espirito mas em termos de praticabilidade eles
percebem que este vai ser um processo que a escola de Frankfurt considera que não é um exemplo a
seguir.
• Adorno e Horkheimer – visão pessimista informada pelo contexto histórico
o Parece lhes muito claro que a centralidade da luta de classes e da questão da produção no centro
da luta de classes é insuficiente. Eles olham para os nacionalismo violentos que se estão a
desenvolver e surge a ideia de que se etão a criar condições que não dão voz aqueles que são
os mais oprimidos. Neste cenário a emancipação e praticamente impossível de acontecer. O
contexto, para eles, está imbuído num pessimismo.
• Marcuse: reconhece que o capitalismo domina as sociedades, postura mais otimista
o Movimento estudantil dos anos 70 e lutas pela libertação nacional no terceiro mundo
o Esforço de criação de uma sociedade mais livre.
o O capitalismo domina e dita uma serie de regras contra as quais temos dificuldades de remar,
mas mesmo assim há movimentos ao nível da sociedade civil, seja ao nível do contexto europeu
(mov estudantil) ou internacional (descolonização) são exemplos que devemos ter em atenção
e que afinal há espaço para a emancipação.
o Tem que se quebrar a hegemonia do estado, olhar para baixo e para cima para vermos eventuais
linhas de alternativas.
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• Habermas
o Movimentos sociais que promovem segurança humana, igualdade das mulheres, proteção
ambiental, prometem uma nova sociedade que substitui o esforço de controlo administrativo.
(colonização da vida mundial, no sentido em que há uma estrutura que é apoiada pelo
capitalismo o que impede que a sociedade flua).
Não se excluem as formas mais tradicionais da segurança, mas trazem para agendas novas
formas de segurança que permitem explicar as dinâmicas da sociedade.
Segurança humana – tirar o enfoque do estado e trazê-lo para uma realidade infraestatal,
fazendo repensar a agenda.
o Olha para as comunidades europeias como comunidades pós-nacional (mobilidade das
pessoas, globalização)
Basicamente deixa de haver um enfoque tao claro na questão da soberania e das fronteiras,
apesar deste permanecer, mas com os acordos que se vão fazer, a mobilidade permite retirar
alguma prevalência ao estado enquanto formação política que cria barreiras e estamos a criar
uma comunidade pós-nacional.
Linklater pega nesta ideia e fala da questão da cidadania: acaba por haver uma tensão. Por um
lado, há a cidadania nacional, mas por outro lado há um sentimento de pertença a um coletivo
mais alargado. A cidadania representa a ligação a uma entidade (Estado) com deveres e direitos
associados e fala da questão da humanidade, aspirando a uma sociedade global cosmopolita,
onde sejamos capazes de quebrar as fronteiras.
o Democracia cosmopolita
→ Esfera de trabalho mais esfera da interação (comunicação)
→ Necessidade de termos estas liberdades, direitos e deveres contra os regimes mais
autoritários, e almeja sistemas mais participativos e democráticos que incluam uma
sociedade cosmopolita.
→ Dimensão de interação é essencial para percebermos como vamos avançando em
direção à sociedade democrática cosmopolita.
o Ambição: fundações éticas e compromissos morais universais para a Teoria Crítica
Aqui vai ser criticado pois como se começa a pensar em criar um compromisso universal,
pode-se estar a cair numa logica de imposição.
• Horkheimer: Teoria tradicional vs teoria critica
o Teoria tradicional:
→ objeto separado do sujeito;
→ mundo externo para o investigador; a ciência é positivista;
→ emulação das ciências naturais
o Teoria critica:
→ teorias são parte da vida social e política;

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→ emancipação em vez de legitimação da sociedade existente – abolir as injustiças;


→ exercer agência face a estruturas constrangedoras, e nas lutas políticas encontrar uma
sociedade alternativa.
o Conhecimento pode ser uma força para moldar a sociedade no sentido de emancipação.
→ O conhecimento vai ser essencial para que a sociedade se possa emancipar. Uma
sociedade que enão seja culta, é uma sociedade que sempre terá dificuldade em se
emancipar. Só uma sociedade informada pode promover a agenda radical de
transformação da ordem vigente.
→ Aqui a sociedade esta organizada de forma estratificada, sendo essencial que a elite que
está no poder seja uma elite educada e que tenha visão e capacidade para encetar as
transformações. O poder económico por si só é insuficiente.

Antonio Gramsi
• As escolas e a educação são fontes de conhecimento
• Gramsi é um neomarxista.
• Base económica da sociedade (estrutura) é importante, mas fundamentais são a política, a ideologia e
a cultura (superestrutura)

Superestrutura Estrutura

Política, ideologia, cultura Economia

Ele diz que temos de olhar para a superestrutura, considerando que é fundamental na forma como
vamos ler a organização social e o potencial de a mudar.
• Hegemonia
o Questão importante associada aquilo que considera a função social da cultura, entendida como
conhecimento, formação, educação. Cultura e política podem constituir um obstáculo à
mudança ou ser um motor à mudança. – enfoque nos elementos políticos e culturais do poder
e da dominação.
o Estado como instrumento de dominação que representa os interesses do capital e da classe no
poder.
o Hegemonia cultural: ideologia dominante expressa e, instituições sociais que levam ao
consentimento das regras do grupo dominante. As classes que têm acessos à cultura alimentam
as formas de poder.
o Hegemonia: Situação na qual os grupos socias dominantes asseguram o seu poder, ao garantir
que grupos sociais subordinados subscrevem a sua vida ideológica, dessa forma consentindo
efetivamente com o poder social dominante.

Consentimento (vs coerção)

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• Sociedade civil:
o Redes formais e informais, instituições e práticas culturais que medeiam entre o individuo e o
Estado.
→ Escolas, igrejas, organizações de apoio social, sindicatos, família, meios de
comunicação, … que vao criar as logicas de consentimento que permitem ou não a
manutenção das estruturas existentes.
o Consentimento é recreado através da hegemonia das instituições da sociedade civil
o Sociedade civil como a arena onde movimentos hegemónicos e contra-hegemónicos competem

Em síntese:

• Relevância da economia política (Marx): filosofia da praxis (consciência de classe)


• Superestrutura, hegemonia e sociedade civil (Gramsci) -> elevação cultural das massas:
o Papel central da cultura e dos intelectuais nos processos de transformação histórica
o Sociedade civil como terreno de luta das hegemonias, ora reproduzindo mecânicas da ideologia
de Estado, ora assumindo papel transformador.
o Mudança no poder implica mudança nas mentalidades.

Teoria critica nos dias de hoje


• Extensão da critica social ao domínio internacional

• “Theory is always for someone and for some purpose” – COX


A lente teórica que colocamos para ver a sociedade internacional, vai condicionar o que vamos ver.
Cox diz que estamos ao serviço, sempre, de algum interesse.
• Teorias do mundo social não existem sem política, têm a ver com a distribuição do poder, recursos
materiais, etc. (teorias tendem a favorecer alguns interesses em detrimento.
Quando falamos de recursos materiais que os teóricos mais tradicionais também falam, nunca podemos
descontextualizar dos momentos em que elas ocorrem.
• COX: olhar as formas de hegemonia e domínio que a economia política mundial gera
• Enfase não nos atores políticos das grandes potenciais, mas nos movimentos políticos que estão na
vanguarda dos esforços para imaginar e criar estruturas políticas globais.
• Problema-solving vs. critical theories: mundo como adquirido vs. como arranjos globais se formam e
transformam fruto da luta política; identificar movimentos contra-hegemónicos que desafiam
princípios e estruturas dominantes.

Teorias críticas: síntese


• Questiona a unidade do Estado – estado condicionado social e historicamente

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• Foco em dinâmicas de inclusão/exclusão – a nível estatal e internacional


• Rejeição da imutabilidade das estruturas – possibilidades da mudança.
• Sublinha a existência de tendências contra-hegemónicas.
• Emancipação (resultado da contra-hegemonia): “freeing people from those constraints that stop them
carrying out what freely they would choose to do”

O problema da teoria critica


• Mundo desigual, injusto, estruturado em torno de uma ordem neoliberal com um discurso hegemónico
universalizante
• O que é novo?
Não podemos focar so nos estados como atores predominantes, tendo que olhar as questões da
hegemonia do sistema internacional como problemas globais.

Instrumentos teóricos
• Onde e como são a hegemonia e a contra-hegemonia produzidas
• Quais são as dinâmicas da relação entre estrutura e superestrutura dentro de cada contexto histórico
específico
• Transferência destes instrumentos para o nível global

Onde encontramos a hegemonia e a contra-hegemonia?


• Hegemonia: em movimentos e grupos como o G7, o G20, estes fóruns económicos mundiais onde os
principais liberes tentam traçar aquilo que são as prioridades e objetivos da governação global.
• Contra-hegemonia: fórum social mundial, por ex. é uma estrutura onde as pessoas se juntam e fazem
propostas em termos da governação global.

Que alternativas temos?


• Defesa de uma globalização alternativa
• Sociedade civil global para responder à governação global

• Formas alternativas de organização política baseadas nos cidadãos, não no estado – cidadania
cosmopolita.
o Deve focar-se nos indivíduos, nos cidadãos do mundo. Se se conseguisse criar uma sociedade
civil global desatarraxada das estruturas centralizadas do estado, poderíamos pensar numa
sociedade descentralizada.

Resumindo: Teoria Critica


• Coloca-se à parte da ordem mundial prevalecente e questiona como essa ordem se formou.
• Inclui uma teoria da história, entendendo história como um processo de mudança e transformação
continua.

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• Questiona as origens e legitimidade das instituições sociais e políticas e como, e de que modo, estas
se estão a alterar.
• Contém uma dimensão normativa, favorável a uma ordem política e social diferente daquela que
vigora.

Mervyn Frost
• Normative theory: “that body of world which addresses the moral dimension of international relations
and the wider questions of meaning and interpretation by the discipline” Chris Brown
• Questões de legitimidade da guerra e da agressão, de justiça social, conceções de justiça e moralidade
ao longo da história, justificação de intervenções humanitárias – ética.
o Ideia da ética do que deve ser, ideia da sociedade alternativa que devemos aspirar. Ideia do
normativo da ética.
• Teoria é constitutiva da realidade e ajuda a moldá-la, logo além de ‘o quê’ devemos preocupar-nos
com ‘o que deve ser’. Teoria normativa toca no modo de como o mundo deveria ser, daí a questão
central da interpretação e da ética, referidos acima.

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