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UNIVERSIDADE DE SANTA CRUZ DO SUL - UNISC

CURSO DE SERVIÇO SOCIAL EAD

A precarização do trabalho

Ana Emília Friedrich

Outubro de 2020
Precarização do trabalho

Para entender o mundo do trabalho, devemos entender quais conflitos


permeiam a vida produtiva e material, ou seja, o cotidiano do trabalho. Se de um
lado o empregador visa o aumento do lucro e a expansão de sua empresa, do
outro lado o trabalhador visa melhores salários e condições de trabalho. Visto
deste modo, verificamos o conflito entre empregador e empregado, e, de acordo
com Marx, tais classes tem interesses antagônicos (RIBEIRO, 2020).

A classe trabalhadora é formada, em grande parte, por indivíduos que


vendem a sua força de trabalho (não sendo esta, necessariamente, manual), que
tenham como finalidade a reprodução da mais-valia. Atualmente a força de
trabalho não é somente trabalho manual direto, mas também a prestação de
serviços, produção criativa, produção de conteúdo (principalmente virtual e
visual) entre tantas outras, que, com o desenvolvimento tecnológico,
modificaram-se e flexibilizaram o conceito anterior de trabalho. Vale ressaltar
que a ampliação tecnológica, ocasionalmente, leva a uma exclusão da mão de
obra humana, gerando um processo de desemprego estrutural.

Voltamos um pouco no tempo para entender a atual precarização do


trabalho. Partimos da Segunda Revolução Industrial (que surgiu após a I Guerra
Mundial), momento onde surgiu a crença na lucratividade advinda da ciência e
que muitas empresas adotaram o modelo criado por Frederik W. Taylor,
denominado taylorismo, onde o trabalhador era monitorado segundo o tempo
de produção, tendo que realizar determinada tarefa com maior produtividade
dentro do tempo padronizado, objetivando a nulidade do ócio, ou por assim dizer,
o desperdício de tempo com vagabundagem (o que era considerado um
desperdício de tempo, ou seja, perda de produtividade que leva à perda
monetária). Este modelo vem de acordo com as mudanças mundialmente
sofridas no pós guerra, onde o sistema capitalista fortaleceu-se e tomou conta
da economia mundial. Karl Marx chama este modelo de exploração de classe,
que, de acordo com seus manuscritos datados de 1988, falava sobre o processo
de alienação, bem como a luta de classes que vai de encontro aos anseios e
necessidades dos trabalhadores.
O modelo taylorista é um sistema de racionalização do trabalho concebido
sob aspectos científicos, cada configuração do trabalho deve ser estudada e
desenvolvida cientificamente. Logo, com a análise dos processos produtivos, foi
possível aperfeiçoar a capacidade de trabalho do operariado, dentro do tempo
estipulado e maximizando a produtividade. O foco era economizar o máximo em
termos de esforço produtivo, possibilitando o máximo de controle sobre a linha
de produção, tendo como consequência o aumento da lucratividade, o que
demostra a face capitalista do taylorismo.

Em seguida foi a vez do fordismo, modelo criado por Henry Ford, que
introduziu, em sua indústria automobilística, uma linha de montagem (criando a
produção em massa), onde cada funcionário (ou uma pequena equipe) é
responsável por uma determinada tarefa, atuando somente naquela ação,
maçante e repetitiva, que teoricamente o levaria à perfeição em tal tarefa (mas
que deixava o trabalhador bitolado a uma função específica).

Em 1919 foi assinado o Tratado de Versalhes (tratado de paz firmado


entre as principais potências europeias em virtude do encerramento da I Guerra
Mundial), do qual originou-se a OIT (Organização Internacional do Trabalho) que
foi o órgão propulsor do Direito do Trabalho. A OIT surgiu em decorrência dos
muitos conflitos, desajustes sociais e econômicos e o evidente
descontentamento do proletariado que eram latentes antes mesmo da I Guerra
Mundial.

Com a situação tensa e cada vez mais conflitante entre empregadores e


o proletariado (que já não aceitava mais ser simplesmente massa de manobra)
surgiu a ideia da entidade sindical, que seria encarregada de mediar as
negociações entre as classes, bem como lutar por melhores condições de
trabalho, remuneração e, consequentemente, a diminuição na desigualdade
social latente entre as classes. Esta organização do movimento operário através
do sindicalismo agregou muitas conquistas em relação aos direitos trabalhistas
ao longo do século XX, das quais podemos exemplificar alterações benéficas
nas questões salariais e na jornada de trabalho, planos de carreira (com
participação nos lucros da empresa em alguns casos) a geração de novos
empregos, entre tantas outras conquistas no campo dos direitos trabalhistas. No
entanto, não podemos esquecer-nos que há muito ainda a ser conquistado nesta
seara trabalhista, visto que atualmente estamos vivenciando um verdadeiro
desmonte dos direitos já adquiridos no âmbito trabalhista.

A questão trabalhista é um assunto de suma importância na


contemporaneidade, tendo em vista a crescente desigualdade social que assola
o nosso país, com o avanço cada vez mais acelerado do capitalismo. O
crescimento da terceirização da mão de obra trabalhista muito contribui para as
mazelas do proletariado, com a perda de direitos trabalhistas e a precarização
das condições de trabalho, bem como a diminuição da base salarial e demais
benefícios anteriormente adquiridos, decorrente do desmonte da leis e da
reforma trabalhista que desfavorece o trabalhador.
Perspectivas de trabalho e renda no município de Capão da Canoa

No município de Capão da Canoa a economia gira basicamente em torno


da área da construção civil (durante o ano) e do turismo (durante a temporada
de verão), visto que é um município litorâneo do sul do Brasil, onde a
sazonalidade regra a capacidade de empregabilidade e renda dos habitantes,
bem como, os trabalhadores itinerantes que migram em busca de oportunidades
de trabalho (migração sazonal). Ademais, temos alguns órgãos públicos federais
que impulsionam a economia (na questão de renda).

A desigualdade social neste município é muito grande, visto que, de um


lado temos as grandes empresas da construção civil, os empreiteiros e
investidores e de outro lado, os trabalhadores que fomentam esta atividade,
porém a baixo custo, precarizando a economia do município, bem como os
trabalhadores sazonais, que trabalham de 3 a 4 meses por ano e tem de manter-
se com esta renda o ano todo. Outra classe importante, também ligada à
construção civil é a de corretores de imóveis, a qual é abundante no município,
logo, a concorrência entre eles faz com que a renda média seja puxada para
baixo, sendo aquecida, principalmente, nos períodos da temporada de veraneio.

No entanto, estamos vivenciando um novo momento nas relações em


geral, por conta da pandemia da COVID – 19, com uma mudança significativa
na forma de trabalho de algumas pessoas, que estão realizando suas atividades
laborativas através do teletrabalho (ou Home-office). A partir deste novo método
de trabalho, as pessoas passaram a ficar muito tempo em seus lares, o que
gerou uma procura por mais espaço. Com a facilidade de poder trabalhar de
qualquer lugar que tenha internet, algumas pessoas estão migrando para
cidades afastadas dos grandes centros em busca de qualidade de vida, com
menos poluição e violência.

Notou-se desde o início da pandemia, um aumento na população das


cidades litorâneas do Rio Grande do Sul. Segundo dados divulgados pela
Prefeitura de Capão da Canoa 80% das casas de veranistas estão ocupadas e,
conforme as companhias de abastecimento de água e energia elétrica, o
consumo destes insumos está quase igual ao consumo dos meses de alta
temporada. Outro fator importante é o crescimento na procura por imóveis para
locação anual e venda, o que indica que as pessoas estão migrando para o
litoral, fomentando em um primeiro momento o mercado imobiliário e em seguida
o comércio local, visto que muitos trabalhadores seguirão trabalhando na
modalidade de teletrabalho.

Porém, não podemos esquecer que, salvo algumas exceções, a


precarização do trabalho e empregabilidade no município de Capão da Canoa
ainda é latente e tende a piorar com a reforma trabalhista e o incentivo à
terceirização da mão de obra humana. Mesmo que haja um incremento na
economia devido ao aumento da população residente no município, deve-se
atentar para a qualidade das vagas de trabalho oferecidas, bem como atuar
constantemente na luta por melhoria nas relações entre patrão e empregado.
Trabalho do assistente social e possibilidades de trabalho frente ao
contexto apresentado anteriormente

De acordo com os fatos apresentados acima, podemos afirmar a


importância do trabalho do assistente social no município de Capão da Canoa,
uma vez que os habitantes do município sofrem com as mazelas decorrentes da
proeminente desigualdade social existente em decorrência da atividade laboral
predominante, bem como da sazonalidade das atividades laborais dependentes
do turismo. Em alguns meses do ano, onde a atividade turística e de veraneio
não está presente devido ao clima (no caso o inverno), a necessidade de buscar
benefícios assistenciais, de transferência de renda e distribuição de cestas
básicas, entre outros, é de extrema importância para a garantia do mínimo da
dignidade humana.

Os assistentes sociais estão inseridos nos órgãos municipais de


assistência, na área da saúde, iniciativa privada (mesmo que em pequeno
número) bem como em algumas escolas (particulares).

No âmbito do serviço público municipal o profissional do serviço social


está inserido nos órgãos assistenciais ligados à Secretaria de Assistência e
Inclusão Social, onde desenvolve suas atividades com indivíduos em
vulnerabilidade social, que estão à margem da sociedade. As atividades
pertinentes ao assistente social estão subdivididas em setores, são eles: - CRAS
– Centro de referência de Asistência Social (CRAS Arco-íris, CRAS Santa Luzia
e CRAS Zona Norte); - CREAS – Centro de Referência Especializado em
Assistência Social; - SCFV – Serviço de Convivência e Fortalecimento de
Vínculos; - Cadastro único /Programa Bolsa Família; - Serviço de vigilância
socioassistencial; - Programa ACESSUAS Trabalho.

Outro mercado de trabalho para o assistente social no município de Capão


da Canoa são as ONGs, entre elas temos a CEACRIA (Centro de Apoio à
Criança e ao Adolescente) que trabalha com jovens no turno inverso ao da
escola, propiciando ambiente seguro e diversas atividades educativas como
apoio aos pais e à família, escola e sociedade, visando a formação de cidadãos
de bem. Outra ONG presente no município é a Aldeias Infantis SOS, a qual
acolhe crianças em situação de extrema vulnerabilidade e que, por determinação
da justiça, estão afastadas de suas famílias (muitas destas em processo de
destituição familiar), entre outras ONGs presentes no município.

Ademais, algumas escolas contam com o serviço do assistente social,


como o Instituto Divina Providência (escola particular).

Diante ao exposto, podemos vislumbrar uma perspectiva de crescimento


na área de atuação do profissional de serviço social, considerando o potencial
aumento populacional do município em questão, bem como as consequências
que acarretam tal mudança nas expressões da questão social.
Referências bibliográficas:

SCHEIFLER, Anderson Barbosa, Trabalho e sociabilidade: Trabalho e


relações sociais na sociedade contenporânea. Sagah
KALAKUN, Jacqueline, Trabalho e sociabilidade: O processo evolutivo do
trabalho. Sagah
FERREIRA, Adriana A., Trabalho e sociabilidade: Trabalho, classes sociais e
luta política. Sagah
RIBEIRO, Paulo Silvino. Conflitos e precarização no mundo do
trabalho; Brasil Escola. Disponível em:
https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/conflitos-precarizacao-no-mundo-
trabalho.htm. Acesso em setembro de 2020.

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