You are on page 1of 6
CORIADORA WINI Bloco B sala 103 MATERIAL P Tourn ms da Ny of O TEXTO NA SALA DE AULA Joao Wanderley Geraldi (organizador). Professor do Departamento de Linguistica do IEL Unicamp. Milton José de Almeida, Profesor do Departamento de Metodologia de Ensino da Faculdade de Educagio - Unicamp. Ligia Chiappini de Moraes Leite. Prfessora do Departamento de Teoria Literiia ¢ Literatura Comparada da Faculdade de Flosofa, Leuas ¢ Ciéncias Humanas — USP Haquira Osakabe, Professor do Departamento de Teoria Litera do Instituto de Escudos da Linguagem ~ Unicamp. Siro Possemti. Professor do Departamento de LingUstca do Tnsiuto de Estudos da Linguagem ~ Unicamp, Lilian Lopes Martin da Silva. Pofessora do Departamento de Metodotogia do Ensino da Faculdade de Educasio ~ Unicamp. Maria Nilma Goes da Fonseca Professora do Departamento de Letras da Univer- sidade Federal de Sergipe Liz Percival Leme Britt, Profesor do ensino secundaria em Campinas ¢aluno do programa de doutoramento em lingiistica do IEL - Unicamp. 3° edigaio 4 impressdo Nao az sentido ensinar nomenclatura se... O dominio efetivo ¢ ativo de uma lingua dispensa o dominio de tama metalinguagem técnica. Nao vale a pena recolocar a dscussi0 £16 ou Contra gramdtica, mas € preciso dstinguir seu papel no papel E perfeitamente possivel aprender uma lingua sem conhecer os fermos técnicos com os quais ela é analisada. A maior prova disso é due em muitos lugares do mundo se fala sem que haja gramaticas codlificadas © ensinadas. Mais importante: entre conhecidos noses ilustes, isso €0 normal os gregos escreveram muito antes de ereth Primeira gramatica grega, o mesmo valendo para os usudrios de latin portugués, espanhol, etc. , Do ponto de vista da histéria das linguas e das gramaticas, sabe- S€ que sG0 0s gramiticos que consultam os escritores para ver que regras eles seguem, e no os esctitores que consultam as graméticas Para ver que regras devem seguir. Nao faz sentido ensinar nomencls, furas a quem nao chegou a dominar habilidades de utilizacao coven. X¢ € nio traumética da lingua escrita. Iso nao significa que a escola no refletiré sobre a lingua, mesmo porque esta é uma das atividades suas dos falantes e nao ha razdo para reprimi-la. As tinicas pessoas em condigbes de encarar esse trabalho sio os Professores. Qualquer projeto que nao considere como ingredienee Prioritério os professores ~ desde que estes, por sua vez, facam o mes. ‘mo.com os alunos — certamente fracassard, Concercoes DE LINGUAGEM E ENSINO DE PORTUGUES* Joao Wanderley Geraldi [Na reaidade, toda palavra comporta dus fae. la ¢ determinada tanto pelo ato de que procede de alguém, como pelo fto de qu edie para alguém. la constitu justementeo produto da ineragio do locator do owvinte. Tada palava serve de expreséo a um em relagéo ao outro, ‘Mixstatt Baker O baixo nivel de utilizagao da lingua _ No inventério das deficiéncias que podem ser apontadas como resultados do que jd nos habituamos a chamar de “crise do sistema educacional brasileiro”, ocupa lugar privilegiado o baixo nivel de desempenho lingiiistico demonstrado por estudantes na utilizagio da lingua, quer na modalidade oral, quer na modalidade escrita. Nao falta quem diga que a juventude de hoje nao consegue ex- presser seu pensamento; que, estando a humanidade na “era da comunicagio”, hd incapacidade generalizada de articular um juizo estruturar lingtiisticamente uma sentenga. E, para comprovar tais afirmagées, os exemplos sio abundantes: as redagbes de vesti- bulandos, 0 vocabulério da giria jovem, 0 baixo nivel de leitura comprovavel facilmente pelas baixas tiragens de nossos jornais, revistas, obras de ficgio, etc. ‘Apesar do rango de muitas dessas afirmagGes ¢ dos equivocos de algumas explicagées, é necessério reconhecer um fracasso da escola e, no interior desta, do ensino de lingua portuguesa tal como vem sendo praticado na quase totalidade de nossas aulas Reconhecer e mesmo partilhar com os alunos tal fracasso no significa, em absoluto, responsabilizar o professor pelos resultados insatisfatérios de seu ensino. Sabemos ¢ vivemos as condigdes de ‘Fier eto desenvote ds expostas em “Susie meodoégieos para o ensino de lingua portuguesa’, Caderas da Fidene, 18, 1981. As mesmasiias foram também pubicadas em Possitis alteatvas para o sino da lingua portuguesa, na revista Ande, 4, 1982, trabalho do professor, especialmente do professor de Primeiro e se- Bundo graus. Mais ainda, sabemos que a educagio “tem muitas ve- 25 sido relegada & inércia administrativa, a profenone mal pagos mal remunerados, a verbas escassas ¢ aplicadas com tal falta de racjonalidade que nem mesmo a ‘Iégica do sistem, poderia expli- car” (Mello, 1979), Accitamos, com a mesma autora citada, a “premissa de que dieses a Staldade social eecondmica garante a igualdade de con- digses para ter acesso aos beneficios educacionais". Mas acredita- mos também que, no interior das contradigoes que se presentificam ado dae aig devende de determinantes externos aos limiees ta ado dae na prépria escola, Ness sentido, as questdes aqui levantadas procuram fagir tanto da receita quanto da dentinca, buscando concen alguma alternati- ¥2 de asio, apesar dos perigos resultantes de complexidade do tema: ensino da lingua materna, Uma questa prévia: a pedo politica e asalade aula Antes de qualquer considerasio espectica sobre a atividade de sala de aula, € preciso que se tenha presente que toda e qualquer metodologia de ensino articula uma opeao politica que envolve uma ‘coria de compreensio einterpretagio da relidade Com 0s mecanis- ‘mos utilizados em sala de aula, Assim, os contetidos ensinados, o enfoque que se daa eles, as remateBias de trabalho com os akunos,a bibliogrfia utilizada, 0 sis- tema de avaliacao, o relacionamento com os alunos, tudo corres- Ponderd, nas nosasatividades coneretas de sala da aula, a0 caminho précis QPramos. Em geral, quando se fala em ensino, arog questio Prévia — para que ensinamos 0 que ensinamos?, ¢ sua correlata: para fico de dress sbrendem o que aprendem? ~ é esquecidaens bene- ficio de discussées sobre 0 como ensinan » quando ensinar, 0 que Mand ohegtS Parece-me, no entanto, que a resposta ae “para que” dard efetivamente as ditettizes bisiees lax respostas, Ora, no caso do ensino de lingua portuguesa, uma resposta a “para que” envolve tanto uma concepeao de linguagem ean um Posurarlatvamente&educagio. Uma eoutra se fazem rents articulagdo metodoldgica, Por isso sio questbes prévias. aho-me, aqui, a considerar a questao da concepgio de linguagem, aps riscos da generalizacio apressada. Concepgdes de linguagem Fundamentalmente, trés concepgées podem ser sponta: , * A linguagem éa expresso do peniamente: essa concep i a na, basicamente, os estudos tradicionais. Se concebemos a ei guagem como tal, somos levados a afirmagbes — correntes — de que pessoas que nao conseguem se expressar no pensar * Allnguagem éinsrmento de comunicag: esa concep ests tee da teora da comunicaso e véa lingua como obo (conjunto de signos que se combinam segundo regs) car de transmiir 20 receptor certa mensagem, Em livros didéticos, éa concep con- fessada nas instrugdes ao professor, nas introdugdes, nos titulos, em- bora em geralseja abandonada nos exercicios gramaticais, _ *+ A linguagem é wma forma de interagdo: mais do que possibilit ‘uma transmissio de informagées de um emissor a um receptor, a linguagem € vista como um lugar de interasao humana. Por meio dela, 0 sujeito que fala pratica agbes que nao consepita levar a cabo, a nao ser falando; com ela ofalante age sobre 0 ouvinte, constituindo compromissos ¢ vinculos que no existiam & fala, . Gree modo, esas tts concepgGes correspondem as trés grandes correntes dos estudos lingiisti + a gramética tradicionals ; * oestruturalismo eo transformacionalismos * a lingtifstica da enunciagio. ; ; ceira concepgao de linguagem. Acredito que ela implica wna pos: os i vez que situa a linguagem como ra educacional diferenciada, uma vez que situa a Sie de constituigao de relagdes sociais, onde os falantes se to! nam sujeitos, Ainteragao Ningiistica ___ A lingua s6 tem existéncia no jogo que se joga na sociedade, na interlocuséo. E é no interior de seu funcionamento que se pode pro. Curar estabelecer as regras de tal jogo. Tomo um exemplo. ne say, Dado que alguém (Pedro) dirja a outro José) uma pergunta como: Voce foi ao cinema ontem?”, tal fala de Pedro modifica suas rela- Ses com José, estabelecendo um jogo de compromissos. Para José 56 ha duas possibilidades: responder (sim ou no) ou por em ques. to o direito de Pedro em Ihe dirigr tal pergunta (fazendo de cones ny e me a a respondendo “o que vocé tem a ver com isso?”) No pam to dirfamos que José acsitou 0 jogo proposto por » No segundo caso, José nao aceitou o jogo e pds em questa Préprio direito de jogar assumido por Pedro. meee Eseudar a lingua é entdo,tentar detectat 0s compromissos que se cram por meio i fala eas condigoes que devem ser preenchidas por ose Bt de certa forma em determinada situagao concre- Dentro de tal concepgio, jé ¢ insuficiente fazer uma tipol gntte frases afirmativas,interrogaivas, imperativas e optativas acne Framer habinuads,seguindo manuais didéticos ou gramaticas exces ay Noam dal ingua, nessa perspectiva, € muito mais importan- cong Ae Ae se consttuem enti os ujitos no momento m que falam do que simplesmente estabelecer classificagées ¢ dy minar os tipos de sentencas meso A democratizapao da escola — oa es Perspective, 20 jogar-nos diretamente no estudo da lin age em mento, também nos obriga a uma posicao, lc aula, em relagao as variedades lingiiisticas. Refit Broblema, enfrentado cotidianamente pelo professor, das varied, Fey ter Socials, quer regionais. Afinal ~ dadas as diferengas dia ‘ado que sabemos, hoje, por menor que seja nossa forma, 40, que tais variedades . les correspondem a disti amdti como agir no ensino? nen gemises Farece-me que um pouco da resposta & perplexidade de todos aqueles que, de uma forma ou de outra, estdo envolvidos com 0 siste- ma escolar, em relagiio ao baixo nivel do ensino contemporineo, pode ser buscado no fato de que a escola hoje nao recebe apenas alunos provenientes das camadas mais beneficiadas da populagao. A democratizagio da escola, ainda que falsa, trouxe em seu bojo outra clientela e com ela diferencas dialetais bastante acentuadas. De repente, no damos aulas s6 para aqueles que pertencem a nosso gru- po social, Representantes de outros grupos estio sentados nos bancos escolares. E eles falam diferente. Sabemos que a forma de fala que foi clevada & categoria de lingua nada tem a ver com a qualidade intrinseca dessa forma. Fatos hist6ri- cos (econdmicos e politicos) determinaram a “eleigao” de uma forma como a lingua portuguesa. As demais formas de falar, que ndo correspondem 2 forma “eleita’, sio todas postas num mesmo saco ¢ qualificadas como “erréneas”, “deselegantes", “inadequadas para a ocasiéo”, ete. Entretanto, uma “variedade lingiistica ‘vale’ 0 que ‘valem’ na so- ciedade os seus falantes, isto &, vale como reflexo do poder e da auto-. ridade que eles tém nas relagées econdmicas e sociais. Essa afirmagao é valida, evidentemente, em termos internos quando confrontamos vatiedades de uma mesma lingua, ¢ em termos externos pelo prestigio das linguas no plano internacional” (Gnerre, 1978). ‘A transformagio de uma variedade lingiifstica em variedade “culte” ou “padrio” estd associada a varios fatores, entre os quais Gnerre aponta: *+ a associagio dessa variedade & modalidade escrita; + a.associagao dessa variedade & tradigao gramatical; * a dicionarizacio dos signos dessa variedades + aconsideragio dessa variedade como portadora legitima de uma tradigio cultural e de uma identidade nacional ‘Agora, dada a situagao de fato em que estamos, qual poderia sera atitude do professor de lingua portuguesa? A separagio entre a forma de fala de seus alunos e a variedade lingtifstica considerada “padrao” é evidente. Sabendo-se que tais diferengas sao reveladoras de outras di- ferencas e sabendo-se que a “lingua padrio” resulta de uma imposicao social que desclassifica os demais dialetos, qual a posturaa ser adotada pelo professor? Dominar que forma de falar? _—_ ee Como aponta Magda Soares (1983), “de um lado hd os Pretendem que a escola deva respeitar ¢ preservin 4 variedade lin. sientica das classes populares, e sua peculiar relacto com sine Bem consideradas tao valida eeficientes, para comuniencsy oe ood feide lingiistca socialmente privilegiada, Nene

You might also like