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1592428129ebook Covid
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LAVAGEM DE DINHEIRO
O autor é Desembargador Federal no TRF3, Doutor em Direito Penal pela USP e Especia-
lista em Processo Civil pela UnB. Recebeu distinção honrosa em International Law and Affairs
em 2016 da New York State Bar Association – NYSBA por ter sido considerado o magistrado-
-precursor das decisões atinentes à prevenção e ao combate da corrupção e da lavagem de
dinheiro no Brasil. Foi Procurador do Município de São Paulo, Procurador do Estado e Juiz de
Direito em São Paulo. Possui 31 obras publicadas no Brasil e no exterior, sendo 15 de autoria
individual, além de artigos diversos. É conferencista no Brasil e no exterior.
RESUMO:
PALAVRAS-CHAVE:
1. INTRODUÇÃO 4
3. DA LAVAGEM DE DINHEIRO 8
5. DAS CONCLUSÕES 20
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 21
01. INTRODUÇÃO
A luta contra o coronavírus (COVID-19) tem demandado uma compatibilidade entre dis-
posições transitórias e excepcionais e a restrição ou limitação dos direitos tomadas no contex-
to da aplicação do estado de emergência. Não resta dúvida que as circunstâncias atuais afetam
inevitavelmente a saúde e o exercício da liberdade individual, de movimento e residência, de
expatriação, de reunião, associação, de livre pensamento e expressão e de iniciativa econômi-
ca. Isto coloca em confronto quase todos os valores constitucionais.
Nesse contexto, releva observar que a luta contra a pandemia tem rompido também
serviços financeiros habituais, aumentando os riscos da prática de crimes porquanto as cir-
cunstâncias criaram perfeito ambiente (de pânico) para a prática de fraudes, delitos cibernéti-
cos e, notadamente, de lavagem de dinheiro. Importa aqui a atuação do compliance, que deve
estar atento e adequado aos desafios ora impostos.
Ela gerou e tem ainda gerado uma demanda significativa por suprimentos médicos,
como equipamentos de proteção individual, ventiladores e medicamentos, existindo uma es-
cassez de tais produtos devido à grande demanda. Bancos e instituições financeiras continuam
em operação, entretanto, restringindo serviços bancários presenciais. Além disso, o fechamen-
to de muitas empresas devido a medidas de quarentena, de lockdown e de outras restrições ao
comércio e às viagens levaram ao desemprego em massa ou à ausência do trabalho por parte
de trabalhadores informais, com perdas de receita do governo e uma recessão econômica, im-
pactando o comportamento financeiro e social de empresas e indivíduos.
Art. 4º Fica dispensada a licitação para aquisição de bens, serviços e insumos de saúde
destinados ao enfrentamento da emergência de saúde pública de importância internacional
decorrente do coronavírus de que trata esta Lei.
§ 1º A dispensa de licitação a que se refere o caput deste artigo é temporária e aplica-se apenas
enquanto perdurar a emergência de saúde pública de importância internacional decorrente
do coronavírus.
§ 2º Todas as contratações ou aquisições realizadas com fulcro nesta Lei serão imediatamente
disponibilizadas em sítio oficial específico na rede mundial de computadores (internet),
contendo, no que couber, além das informações previstas no § 3º do art. 8º da Lei nº 12.527,
de 18 de novembro de 2011,
2011, o nome do contratado, o número de sua inscrição na Receita
Federal do Brasil, o prazo contratual, o valor e o respectivo processo de contratação ou
aquisição.
Momento algum previu punição para os que, a pretexto de dispensarem licitações, agi-
rem com má-fé, desviando os limitados recursos públicos em seu benefício ou de terceiros.
§ 1º A obrigação a que se refere o caput deste artigo estende-se às pessoas jurídicas de direito
privado quando os dados forem solicitados por autoridade sanitária.
Se, por um lado, a lei emergencial não pode ser usada para atingir geograficamente mi-
norias, grupos ou pessoas específicas, deve ser invocada com cautela e com base em decisão
fundamentada e em base científica, com a responsabilidade de quem cuida dos recursos pú-
blicos, que são, por natureza, limitados.
Lian Buan, ao observar a paralização dos órgãos de controle nas Filipinas durante a
pandemia, revela que, de acordo com a Lei local Bayanihan de Heal As One, o governo de lá
também ficou isento de licitações públicas e as agências puderam recorrer a uma compra ne-
gociada para transações de emergência provocadas pela pandemia.
Segundo ela, as aquisições negociadas ficaram sujeitas a abusos e puderam ser uma
fonte de corrupção porque isso deu à agência governamental de compras uma margem de ma-
nobra para escolher seus fornecedores. No caso das Filipinas, os senadores deram o alarme de
corrupção sobre equipamentos de proteção individual (EPI) e outros equipamentos de teste.2
Preocupado com esse panorama social e econômico perturbados pela COVID-19, o Gru-
po de Ação Financeira Internacional – GAFI publicou um documento intitulado “GAFI. COVID-
-19-related Money Laundering and Terrorist Financing. Risks and Policy Responses,” no qual
identifica desafios, boas práticas e respostas políticas a novas ameaças, bem ainda as vulnera-
bilidades de lavagem de dinheiro e financiamento ao terrorismo decorrentes, especificamente,
da crise do coronavírus.3
Detectou-se que delinquentes entraram em contato com indivíduos (em pessoa, e-mail
ou telefone) e personificaram funcionários do governo com a intenção de obter informações
bancárias pessoais ou dinheiro físico. Em alguns casos, personificaram funcionários de hospital
que alegaram que um parente estaria doente e exigiram pagamento pelo tratamento (Interpol,
1 AMPARO, Thiago; PALMA, Juliana. Medidas Emergenciais não violam a lei. Folha de São Paulo. https://www1.folha.
uol.com.br/cotidiano/2020/03/medidas-emergenciais-nao-violam-a-lei.shtml, publicado em 18.03.2020, acessado
em 04.06.2020.
3 GAFI. COVID-19-related Money Laundering and Terrorist Financing. Risks and Policy Responses. May 2020, in ht-
tps://www.fatf-gafi.org/media/fatf/documents/COVID-19-AML-CFT.pdf, acessado em 14.06.2020.
Finalmente, como os muitos governos passaram a fornecer auxílios de estímulo para mi-
tigar o impacto econômico relacionado à COVID-19 (no Brasil, o chamado auxílio emergencial,
inicialmente em vigor por 3 meses, prorrogado por mais 2 meses), membros do GAFI detecta-
Daí porque oportunistas podem se valer das vulnerabilidades sistêmicas para explo-
rá-las de molde ser possível ultrapassar medidas como Conheça seu cliente (Customer Due
Diligence) explorando circunstâncias temporais de redução ou desorientação de controles in-
ternos causadas por situações peculiares de supervisão, notadamente lastreadas no trabalho
remoto.
Dentro de tal contexto importante inovação existe, para além das disposições constan-
tes do Código Penal quanto aos bens apreendidos e objetos de confisco, no regramento espe-
cífico trazido à baila pelo art. 4º da Lei nº 9.613/1998 (na redação dada pela Lei nº 12.683/2012)
para a finalidade de se verificar a possibilidade de se decretar o sequestro de bens, de direitos
e de valores que estejam em nome de investigados que seriam instrumento, produto e/ou pro-
veito de eventuais delitos subjacentes.
A alteração legislativa promovida pela Lei nº 12.694/2012 decorreu das disposições sobre
o tratamento de bens delineadas nas Convenções da Organização das Nações Unidas - ONU
sobre o Tráfico Ilícito de Entorpecentes e de Substâncias Psicotrópicas (Viena, promulgada pelo
Decreto nº 154, de 26 de junho de 1991), sobre o Crime Organizado Transnacional (Palermo, de
15 de novembro de 2000, promulgada pelo Decreto nº 5.015, de 12 de março de 2004, e apro-
vada pelo Decreto Legislativo nº 231, de 29 de setembro de 2003), e sobre Corrupção (Mérida,
promulgada pelo Decreto nº 5.687, de 31 de janeiro de 2006), sendo tais consideradas marcos
globais referenciais sobre o tema.
Nesse diapasão, o art. 5º, item 01, “a”, da Convenção de Viena, esclarece que:
Cada parte adotará as medidas necessárias para autorizar o confisco: a) do produto derivado
de delitos estabelecidos no parágrafo 1 do Artigo 3, ou de bens cujo valor seja equivalente ao
desse produto, bem como o seu item 2 testifica que cada Parte adotará também as medidas
necessárias para permitir que suas autoridades competentes identifiquem, detectem e
decretem a apreensão preventiva ou confisco do produto, dos bens, dos instrumentos ou de
quaisquer outros elementos a que se refere o parágrafo 1 deste Artigo, com o objetivo de seu
eventual confisco.
Por sua vez, os itens 02, 03 e 04 do art. 12 da Convenção de Palermo deixam assentado,
respectivamente, que:
A seu turno, o art. 31, item 05, da Convenção de Mérida, bem elucida que quando esse
produto do delito “se houver mesclado com bens adquiridos de fontes lícitas, esses bens serão
objeto de confisco até o valor estimado do produto mesclado, sem menosprezo de qualquer
outra faculdade de embargo preventivo ou apreensão.”
Assim, o sequestro pode abarcar bens ou valores de origem lícita, equivalentes ao pro-
duto ou proveito da infração, se estes não forem encontrados ou se localizarem no exterior.
Bem ainda merece destaque o seguinte julgado de lavra do Egrégio Tribunal Regional Federal
da 3ª Região: “É possível que o sequestro abranja bens ou valores lícitos do criminoso, como
forma de compensação, quando não for possível localizar os bens ou valores desviados com a
prática do ilícito, a teor do art. 91, §§ 1º e 2º, do Código Penal.”5
A Lei Anticrime incluiu no Código Penal o artigo 91-A acrescendo como efeito da conde-
nação irrecorrível que possui como finalidade retirar do patrimônio do acusado valor que nele
ingressou de forma espúria, ainda que de forma velada, denominado pela doutrina confisco
alargado.
O confisco alargado não se confunde, portanto, com o confisco clássico (tradicional), nem
tampouco com o subsidiário (ou por equivalência). Diversamente do confisco clássico previsto
4 STJ, RMS 49.540/RS, Rel. Min. RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em 12/09/2017, DJe 22.09.2017.
5 TRF3, QUINTA TURMA, Ap. - APELAÇÃO CRIMINAL - 60509 - 0013288-86.2014.4.03.6181, Rel. Des. Fed. ANDRÉ
NEKATSCHALOW, julgado em 08.06.2015, e-DJF3 Judicial 1 DATA:16.06.2015.
6 In Pacote Anticrime: Comentários à Lei nº 13.964/1919 - Artigo por |Artigo. Salvador: JusPODIVM, 2020,
p.40/41.
(...)
Em sentido distinto, o confisco alargado permite ao Estado atingir todos os bens do criminoso
que não sejam compatíveis com a sua renda lícita. Preenchidos os requisitos legais (...) e
assegurados os direitos de terceiros, o art. 91-A, caput, do CP, incluído pela Lei n. 13.964/19,
estabelece a possibilidade de a perda recair sobre os bens correspondentes à diferença entre
o valor do patrimônio do condenado e aquele que seja compatível com o seu rendimento
lícito. É dizer, não há necessidade de a perda guardar qualquer relação de equivalência ou
proporcionalidade com o produto ou proveito do crime (confisco clássico), nem tampouco que
estes não sejam encontrados ou se localizem no exterior, como se exige no caso do confisco
por equivalência.
Cumpre trazer à colação, outrossim, a regra disposta no art. 4º da Lei nº 9.613/1998 (na
redação dada pela edição da Lei nº 12.683, de 09 de julho de 2012), aplicável especificamente
em sede de situação configuradora de lavagem de dinheiro, segundo a qual:
§ 1º. Proceder-se-á à alienação antecipada para preservação do valor dos bens sempre
que estiverem sujeitos a qualquer grau de deterioração ou depreciação, ou quando houver
dificuldade para sua manutenção.
§ 2º. O juiz determinará a liberação total ou parcial dos bens, direitos e valores quando
comprovada a licitude de sua origem, mantendo-se a constrição dos bens, direitos e valores
necessários e suficientes à reparação dos danos e ao pagamento de prestações pecuniárias,
multas e custas decorrentes da infração penal.
§ 3º. Nenhum pedido de liberação será conhecido sem o comparecimento pessoal do acusado
ou de interposta pessoa a que se refere o caput deste artigo, podendo o juiz determinar
a prática de atos necessários à conservação de bens, direitos ou valores, sem prejuízo do
disposto no § 1º.
§ 4º.Poderão ser decretadas medidas assecuratórias sobre bens, direitos ou valores para
reparação do dano decorrente da infração penal antecedente ou da prevista nesta Lei ou para
pagamento de prestação pecuniária, multa e custas.
A despeito deste regramento específico pode ter incidência também a norma contida
no artigo 133-A do Código Penal com a redação dada pela Lei nº 13.964, de 24 de dezembro de
2019 (Lei Anticrime) a saber:
Esta inovação legislativa confere uma finalidade útil aos bens sequestrados, podendo
ser utilizados provisoriamente pelos órgãos de persecução em suas precípuas atividades, des-
de que observados os princípios regentes da responsabilidade da administração na guarda e
conservação de tais bens, e, na hipótese de uma sentença condenatória, o juiz poderá deter-
minar a transferência definitiva da propriedade ao órgão público então responsável por sua
utilização (artigo 133-A, §4º, CPP).
As Nações Unidas relatam que até US$ 2 trilhões em fundos7 são lavados anualmente
pelo sistema financeiro global, associados a uma série de atividades ilícitas, incluindo terrorismo,
tráfico de drogas, cybercrime, tráfico de seres humanos e muito mais. Como resultado, gover-
nos de todo o mundo implementaram uma variedade de leis e regulamentos contra a lavagem
de dinheiro: desde exigir que bancos e outras instituições financeiras conduzam processos de
conhecimento do cliente, monitorando e investigando transações suspeitas, relatando casos
de crime. Nestes tempos decorrentes da pandemia, têm se observado formas variadas de um
problema comum: a ousadia, perseverança e uso da tecnologia por parte de organizações cri-
minosas para o cometimento de crimes econômico-financeiros.
7 KAUFMAN, Alon. How Privacy-Enhanced Technologies Can Make Financial Crime Compliance More Effecti-
ve. In https://bankingjournal.aba.com/2020/06/how-privacy-enhanced-technologies-can-make-financial-crime-com-
pliance-more-effective/, publicado em 11.06.2020, acessado em 17.06.2020.
8 A Orientação (Guidance) 2019 atualizou a orientação original publicada pela Seção de Fraudes da Divisão em 8 de
fevereiro de 2017 (Guidance 2017).
As atualizações mais significativas na Orientação (Guidance) 2020 são: (i) mudanças en-
fatizando a necessidade de um programa de conformidade dinâmico e refletindo expectativas
elevadas para o uso de análise e testes de dados; e (ii) esclarecimentos sobre as expectativas
do DOJ para uma abordagem baseada em riscos para a conformidade. Estes são descritos em
mais detalhes abaixo.
O Grupo de Ação Financeira Internacional – GAFI (Financial Action Task Force - FATF), que
realiza avaliações mútuas para a base de suas nações membros, tem destacado os requisitos
específicos das suas 40 Recomendações, notadamente como uma nação-membro as relaciona
9 LOW, Lucinda A.; PRELOGAR, Brittany; LINEHAN, Patrick F; ALMEIDA, Yasmin. DOJ Updates Corporate Complian-
ce Program Guidance, Emphasizes Role of Data. In https://www.steptoe.com/en/news-publications/doj-updates-
-corporate-compliance-program-guidance-emphasizes-role-of-data.html, publicado em 04.06.2020, acessado em
15.06.2020.
Para Dnyanesh Pandit, quando um país não atinge um alto nível de eficácia, os avalia-
dores fornecem as razões pelas quais ele caiu abaixo do padrão e recomendam medidas que
devam ser tomadas para melhoria de sua capacidade de alcançar o resultado. O GAFI publica
a lista “Call for action” de países que possuem “deficiências estratégicas significativas em seus
regimes para combater a lavagem de dinheiro e o financiamento do terrorismo.10
O referido autor destaca a inovação financeira que tem propiciado progresso e evolu-
ção em ritmo excepcional às instituições financeiras. Novas tecnologias introduziram todo um
novo espectro de oportunidades de lavagem de dinheiro. Ao mesmo tempo, essas tecnologias
proporcionaram uma oportunidade de desenvolver uma resposta sofisticada a esse problema.
Inovações como inteligência artificial e machine learning poderiam facilitar o processamento de
grandes volumes de dados para detectar padrões e anomalias que um humano pode perder.
Assim, esforços mais coordenados devem ser empregados em 2020, a par das dificulda-
des decorrentes da COVID-19, para empregar padrões de segurança nessas tecnologias para
garantir que o controle seja aplicado às suas implementações em ambientes regulados.
Por sua vez, a identificação biométrica, sendo biometria as características físicas e bio-
lógicas únicas e intrínsecas de uma pessoa que verifica a identidade da pessoa, pode ajudar
na política Conheça o Seu Cliente (Know Your Customer – KYC). Esta constitui na checagem obri-
gatória que as instituições financeiras precisam verificar e autenticar a identidade do cliente
durante o processo de onboarding e para realizar a due diligence do cliente. Isso é fundamental
para combater fraudes digitais, roubo de identidade, crimes financeiros e lavagem de dinheiro.
Tal qual foi feito na Índia, onde o Reserve Bank of India (RBI) aprovou a autenticação re-
mota baseada em vídeo para as práticas de e-KYC. A Índia é um dos primeiros países a lançar
vídeo-KYC para instituições financeiras. Integrando verificações de identificação biométrica, as
organizações podem agilizar o processo de KYC tornando-o mais rápido e eficiente.
Por isso que, precipitada pela COVID-19, em 2020, os reguladores devem insistir em mé-
todos mais rápidos para detectar comportamentos suspeitos, especificamente no campo do
monitoramento de transações. A tecnologia inteligente será a chave aqui. As empresas preci-
sarão ser capazes de definir seu raio de risco e trabalhar com ferramentas que reduzam falsos
positivos.
Cabe, outrossim, um olhar atento aos ativos virtuais, cujo anonimato, velocidade e al-
cance global proporcionaram eficiências significativas e mudaram drasticamente o mercado
financeiro. No passado, existiram ataques de ransomware e financiamento de terroristas por
meio desses ativos (moedas virtuais). A colcha de retalhos das respostas regulatórias, as quais
respondem de forma diferente para evitar o uso indevido, vai desde uma regulamentação ro-
busta até a proibição completa de ativos virtuais, necessitando de política globalizada para o
enfrentamento da questão.
Para Michèle Landtwing, o primeiro passo para mitigar os riscos associados à lavagem
de dinheiro e ao financiamento do terrorismo começa com a identificação de riscos potenciais.
Como indicadores, cita, o fato de que os relacionamentos e/ou a estrutura das empresas “são
extraordinariamente complexos ou difíceis de entender, por exemplo, empresas domiciliares
estrangeiras, trusts ou fundações usadas para ocultar o beneficiário final, que pode ser uma
pessoa sancionada ou politicamente exposta (por exemplo, documentos do Panamá)”, bem
Ora, dificultada a prova de que uma determinada pessoa seria o beneficiário efetivo de
ativos virtuais.
Vivendo-se momento único, em que existe ausência física de empregados que traba-
lham remotamente, o operacional é impactado fazendo que a supervisão física humana torne-
-se mais difícil. Assim, o uso de tecnologias digitais para suplementar esforços manuais pode
ser uma solução. Por exemplo, robôs devem complementar tarefas tediosas, como validação
de informação de clientes em face de dados primários e dessa forma agem de maneira mais
ágil e precisa. Com isto, os empregados podem se concentrar naquilo que realmente seja mais
complexo em que exige julgamento ou o experiente olhar humano.
Por outro lado, um treinamento deve ser intensificado ao setor de compliance, estabele-
cendo benefícios aos que, ainda que trabalhem remotamente, mormente durante e por conta
da pandemia, empenharam-se e empenham-se na detecção de fatos ilícitos, seu julgamento e
12 LANDTWING, Michèle. How to mitigate your KYC/Anti Money Laundering (AML) compliance risks. In ht-
tps://www.mme.ch/en/magazine/magazine-detail/url_magazine/how_to_mitigate_your_kyc_anti_money_laundering_
aml_compliance_risks/, publicado em junho/2020, acessado em 15.06.2020.
13 CHOPRA. Manish. The Coronavirus requires a new way to fight laundering. In https://www.paymentssource.
com/opinion/the-coronavirus-requires-a-new-way-to-fight-laundering, publicado em 30.04.2020, acessado em
14.06.2020.
A tecnologia permite o compliance ser mais efetivo. Segundo Alon Kaufman, falando so-
bre os Estados Unidos, revela que “os reguladores financeiros e especialistas como a Força-
-Tarefa de Ação Financeira multilateral endossam o compartilhamento rápido, significativo e
abrangente de informações de uma ampla variedade de fontes, em escala nacional e global. 14
O que o setor financeiro precisa é, de fato, possuir uma estrutura modernizada e viável
para colocar em prática as orientações, sem se descuidar da proteção e privacidade dos dados.
14 KAUFMAN, Alon. How Privacy-Enhanced Technologies Can Make Financial Crime Compliance More Ef-
fective. In https://bankingjournal.aba.com/2020/06/how-privacy-enhanced-technologies-can-make-financial-crime-
-compliance-more-effective/, publicado em 11.06.2020, acessado em 17.06.2020.
De tal modo, que se desmedidas forem as ações ao largo da realidade social, criada es-
taria uma situação humanitária calamitosa.
O Departamento de Justiça dos Estados Unidos continua a dar uma ênfase contínua na
necessidade de que os programas sejam devidamente adaptados e dinâmicos para serem efi-
cazes. No Brasil, não poderia ser diferente. Com isso, as empresas devem continuar a ser guia-
das pelo princípio de que seus programas de conformidade podem ser baseados em riscos. A
chave é ser capaz de explicar como a organização projetou e implementou razoavelmente um
programa adequadamente robusto que é adaptado às suas características e riscos particula-
res, e como o programa foi adaptado ao longo do tempo em resposta aos riscos e lições em
evolução aprendidos, notadamente pela pandemia.
Embora existam desafios maiores em face da crise econômica que constitui consequ-
ência da COVID-19, importante permanecer com similares expectativas no combate à lavagem
de dinheiro, incluindo ao financiamento ao terrorismo, sendo ainda mais proativo no monito-
ramento e na investigação.
O ano de 2020 constitui uma transição. Para combater a lavagem de dinheiro, as autori-
dades reguladoras e os organismos globais devem orientar o setor econômico-financeiro para
continuar seguindo as normas tradicionais de combate ao crime econômico-financeiro, não
deixando à margem as 40 recomendações do GAFI.
AMPARO, Thiago; PALMA, Juliana. Medidas Emergenciais não violam a lei. Folha de São Paulo. https://www1.
folha.uol.com.br/cotidiano/2020/03/medidas-emergenciais-nao-violam-a-lei.shtml, publicado em 18.03.2020, aces-
sado em 04.06.2020.
BITENCOURT, Cezar Roberto; BUSATO, Paulo César. Comentários à Lei de Organização Criminosa: Lei
12.850/2013. São Paulo: Saraiva, 2014.
CHOPRA. Manish. The Coronavirus requires a new way to fight laundering. In https://www.paymentssource.
com/opinion/the-coronavirus-requires-a-new-way-to-fight-laundering, publicado em 30.04.2020, acessado em
14.06.2020.
DE SANCTIS, Fausto Martin. Delinquência Econômica e Financeira. Rio de Janeiro: Forense, 2015.
GAFI. COVID-19-related Money Laundering and Terrorist Financing. Risks and Policy Responses. May
2020, in https://www.fatf-gafi.org/media/fatf/documents/COVID-19-AML-CFT.pdf, acessado em 14.06.2020.
KAUFMAN, Alon. How Privacy-Enhanced Technologies Can Make Financial Crime Compliance More
Effective. In https://bankingjournal.aba.com/2020/06/how-privacy-enhanced-technologies-can-make-financial-cri-
me-compliance-more-effective/, publicado em 11.06.2020, acessado em 17.06.2020.
LANDTWING, Michèle. How to mitigate your KYC/Anti Money Laundering (AML) compliance risks. In
https://www.mme.ch/en/magazine/magazine-detail/url_magazine/how_to_mitigate_your_kyc_anti_money_launde-
ring_aml_compliance_risks/, publicado em junho/2020, acessado em 15.06.2020.
LIMA, Renato Brasileiro de. Pacote Anticrime: Comentários à Lei nº 13.964/1919 - Artigo por |Artigo. Salva-
dor: JusPODIVM, 2020.
Legislação criminal especial comentada: volume único. 7ª. ed. rev. atual. e ampl. Salvador: JusPODIVM,
2019.
LOW, Lucinda A.; PRELOGAR, Brittany; LINEHAN, Patrick F; ALMEIDA, Yasmin. DOJ Updates Corporate Com-
pliance Program Guidance, Emphasizes Role of Data. In https://www.steptoe.com/en/news-publications/
doj-updates-corporate-compliance-program-guidance-emphasizes-role-of-data.html, publicado em 04.06.2020,
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MASSON, Cleber; MARÇAL, Vinícius. Crime organizado. 3ª ed., rev., atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense; São
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PACHECO, Denilson Feitoza. Direito processual penal – teoria, crítica e práxis. 3ª ed., rev., ampl. e com Emen-
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SOUZA, Renee do Ó. Os efeitos transversais da colaboração premiada e o acordo de leniência. Belo Ho-
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