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CORONAVÍRUS, COMPLIANCE E NOVAS FORMAS DE

LAVAGEM DE DINHEIRO

FAUSTO MARTIN DE SANCTIS

O autor é Desembargador Federal no TRF3, Doutor em Direito Penal pela USP e Especia-
lista em Processo Civil pela UnB. Recebeu distinção honrosa em International Law and Affairs
em 2016 da New York State Bar Association – NYSBA por ter sido considerado o magistrado-
-precursor das decisões atinentes à prevenção e ao combate da corrupção e da lavagem de
dinheiro no Brasil. Foi Procurador do Município de São Paulo, Procurador do Estado e Juiz de
Direito em São Paulo. Possui 31 obras publicadas no Brasil e no exterior, sendo 15 de autoria
individual, além de artigos diversos. É conferencista no Brasil e no exterior.

RESUMO:

A entrada em vigor da Lei nº 13.979, de 06.02.2020 (Lei de Emergência Sanitária), trouxe


expressiva inovação no âmbito jurídico nacional, notadamente na esfera da situação emergen-
cial do coronavírus (a COVID-19). O novo regramento disciplinou a quarentena, o isolamento, a
dispensa de licitações, sem contar que deixou de prever crimes no caso de violações ético-ju-
rídicas à boa administração do bem público. Devido ao largo espectro de incidência e ao certo
rearranjo criminoso (já que novas formas de lavar dinheiro têm sido observadas), desorgani-
zado e perplexo encontra-se novamente o Estado na investigação dos crimes econômico-fi-
nanceiros. Desafiados estão os órgãos de persecução penal para atuar com mais efetividade.
Importante lançar luzes sobre estas questões e neste esforço volta-se o presente estudo.

PALAVRAS-CHAVE:

Lei – Emergência Sanitária – Lavagem de Dinheiro – Novas Formas - Compliance –


Soluções
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO 4

2. DA LEI DE EMERGÊNCIA SANITÁRIA 4

3. DA LAVAGEM DE DINHEIRO 8

4. DAS NOVAS FORMAS DE LAVAGEM


DE DINHEIRO E DO COMPLIANCE 13

5. DAS CONCLUSÕES 20

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 21
01. INTRODUÇÃO

A luta contra o coronavírus (COVID-19) tem demandado uma compatibilidade entre dis-
posições transitórias e excepcionais e a restrição ou limitação dos direitos tomadas no contex-
to da aplicação do estado de emergência. Não resta dúvida que as circunstâncias atuais afetam
inevitavelmente a saúde e o exercício da liberdade individual, de movimento e residência, de
expatriação, de reunião, associação, de livre pensamento e expressão e de iniciativa econômi-
ca. Isto coloca em confronto quase todos os valores constitucionais.

A pretexto de proteção à saúde pública e a necessidade de redução da “curva de contá-


gio”, as limitações a direitos fundamentais geram sérias dúvidas constitucionais de molde que
uma aplicação agressiva das restrições de liberdades com mecanismos de vigilância ostensivos
não pode estar desassociada do estrito universo da proteção à higidez pública como um todo,
com distinção e proporcionalidade aos valores.

Nesse contexto, releva observar que a luta contra a pandemia tem rompido também
serviços financeiros habituais, aumentando os riscos da prática de crimes porquanto as cir-
cunstâncias criaram perfeito ambiente (de pânico) para a prática de fraudes, delitos cibernéti-
cos e, notadamente, de lavagem de dinheiro. Importa aqui a atuação do compliance, que deve
estar atento e adequado aos desafios ora impostos.

02. DA LEI DE EMERGÊNCIA SANITÁRIA

A pandemia da COVID-19 levou a desafios globais sem precedentes, sofrimento humano


e perturbação econômica.

Ela gerou e tem ainda gerado uma demanda significativa por suprimentos médicos,
como equipamentos de proteção individual, ventiladores e medicamentos, existindo uma es-
cassez de tais produtos devido à grande demanda. Bancos e instituições financeiras continuam
em operação, entretanto, restringindo serviços bancários presenciais. Além disso, o fechamen-
to de muitas empresas devido a medidas de quarentena, de lockdown e de outras restrições ao
comércio e às viagens levaram ao desemprego em massa ou à ausência do trabalho por parte
de trabalhadores informais, com perdas de receita do governo e uma recessão econômica, im-
pactando o comportamento financeiro e social de empresas e indivíduos.

Os recursos do governo foram priorizados para responder à COVID-19, retirando recur-


sos de outras áreas. Com os volumes de comércio global em declínio e as viagens individuais
quase paradas, esquemas transnacionais convencionais de crime organizado têm tirado pro-
veito da cadeia de suprimentos, impactando pela COVID-19 receita ilícita usual de organizações
criminosas.

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A entrada em vigor, no Brasil, da Lei nº 13.979, de 06.02.2020 (Lei de Emergência Sani-
tária), inovou o âmbito jurídico nacional, notadamente na esfera da situação emergencial da
COVID-19 e visou a proteção da saúde pública e da coletividade, determinando sua vigência
enquanto perdurar a pandemia, a situação de emergência, por ato do Ministro da Saúde, não
àquela declarada pela Organização Mundial de Saúde - OMS.

Estabeleceu, por exemplo, que, para o enfrentamento da emergência sanitária, será


possível o isolamento, a quarentena, determinação de realização compulsória de testes e exa-
mes médicos, importação de produtos sujeitos à vigilância sanitária sem autorização da ANVI-
SA (artigo 3º).

Porém, releva aqui pontuar o artigo 4º, a saber:

Art. 4º Fica dispensada a licitação para aquisição de bens, serviços e insumos de saúde
destinados ao enfrentamento da emergência de saúde pública de importância internacional
decorrente do coronavírus de que trata esta Lei.

§ 1º A dispensa de licitação a que se refere o caput deste artigo é temporária e aplica-se apenas
enquanto perdurar a emergência de saúde pública de importância internacional decorrente
do coronavírus.

§ 2º Todas as contratações ou aquisições realizadas com fulcro nesta Lei serão imediatamente
disponibilizadas em sítio oficial específico na rede mundial de computadores (internet),
contendo, no que couber, além das informações previstas no  § 3º do art. 8º da Lei nº 12.527,
de 18 de novembro de 2011,
2011, o nome do contratado, o número de sua inscrição na Receita
Federal do Brasil, o prazo contratual, o valor e o respectivo processo de contratação ou
aquisição.

Momento algum previu punição para os que, a pretexto de dispensarem licitações, agi-
rem com má-fé, desviando os limitados recursos públicos em seu benefício ou de terceiros.

Por sua vez, o artigo 6º estabelece:

Art. 6º É obrigatório o compartilhamento entre órgãos e entidades da administração pública


federal, estadual, distrital e municipal de dados essenciais à identificação de pessoas infectadas
ou com suspeita de infecção pelo coronavírus, com a finalidade exclusiva de evitar a sua
propagação.

§ 1º A obrigação a que se refere o caput deste artigo estende-se às pessoas jurídicas de direito
privado quando os dados forem solicitados por autoridade sanitária.

§ 2º O Ministério da Saúde manterá dados públicos e atualizados sobre os casos confirmados,


suspeitos e em investigação, relativos à situação de emergência pública sanitária, resguardando
o direito ao sigilo das informações pessoais.

Apesar de prever o compartilhamento sobre pessoas infectadas ou com suspeitas de


infecção, o que poderia ajudar na apuração das ações públicas tendentes à aquisições, nada
teceu sobre o indispensável compartilhamento de informações contábeis do movimento, pa-
gamento e destino dos recursos públicos.

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O dever de motivar revela-se aqui insuperável, como bem advertem Thiago Amparo e
Juliana Palma.1 Embora as dificuldades enfrentadas sejam complexas e reais, desvios e abusos
devem ser tratados pelo Judiciário porquanto inadmissíveis e censuráveis condutas que explo-
rem situação de absoluta exceção e vulnerabilidade socioeconômicas.

Se, por um lado, a lei emergencial não pode ser usada para atingir geograficamente mi-
norias, grupos ou pessoas específicas, deve ser invocada com cautela e com base em decisão
fundamentada e em base científica, com a responsabilidade de quem cuida dos recursos pú-
blicos, que são, por natureza, limitados.

Lian Buan, ao observar a paralização dos órgãos de controle nas Filipinas durante a
pandemia, revela que, de acordo com a Lei local Bayanihan de Heal As One, o governo de lá
também ficou isento de licitações públicas e as agências puderam recorrer a uma compra ne-
gociada para transações de emergência provocadas pela pandemia.

Segundo ela, as aquisições negociadas ficaram sujeitas a abusos e puderam ser uma
fonte de corrupção porque isso deu à agência governamental de compras uma margem de ma-
nobra para escolher seus fornecedores. No caso das Filipinas, os senadores deram o alarme de
corrupção sobre equipamentos de proteção individual (EPI) e outros equipamentos de teste.2

Preocupado com esse panorama social e econômico perturbados pela COVID-19, o Gru-
po de Ação Financeira Internacional – GAFI publicou um documento intitulado “GAFI. COVID-
-19-related Money Laundering and Terrorist Financing. Risks and Policy Responses,” no qual
identifica desafios, boas práticas e respostas políticas a novas ameaças, bem ainda as vulnera-
bilidades de lavagem de dinheiro e financiamento ao terrorismo decorrentes, especificamente,
da crise do coronavírus.3

Os relatórios de membros, observadores e fontes abertas do GAFI indicam que os cri-


minosos tentaram lucrar com a pandemia da COVID-19 por meio do aumento de atividades
fraudulentas.

Detectou-se que delinquentes entraram em contato com indivíduos (em pessoa, e-mail
ou telefone) e personificaram funcionários do governo com a intenção de obter informações
bancárias pessoais ou dinheiro físico. Em alguns casos, personificaram funcionários de hospital
que alegaram que um parente estaria doente e exigiram pagamento pelo tratamento (Interpol,

1 AMPARO, Thiago; PALMA, Juliana. Medidas Emergenciais não violam a lei. Folha de São Paulo. https://www1.folha.
uol.com.br/cotidiano/2020/03/medidas-emergenciais-nao-violam-a-lei.shtml, publicado em 18.03.2020, acessado
em 04.06.2020.

2 BUAN, Lian. Pandemic limits Philippines’anticorruption work. In Rappler, https://www.rappler.com/nation/263181-co-


ronavirus-pandemic-limits-philippines-anti-corruption-work, publicado em 08.06.2020, acessado em 14.06.2020.

3 GAFI. COVID-19-related Money Laundering and Terrorist Financing. Risks and Policy Responses. May 2020, in ht-
tps://www.fatf-gafi.org/media/fatf/documents/COVID-19-AML-CFT.pdf, acessado em 14.06.2020.

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2020), ou, passando-se por funcionários do governo, solicitaram informações bancárias pesso-
ais “para fins de desoneração fiscal” (US Treasury, 2020).

Fraudes têm aumentado à medida que os governos em todo o mundo desembolsaram


doações e benefícios fiscais a seus cidadãos, com criminosos tentando lucrar com esses paga-
mentos.

Ainda existe a falsificação, inclusive de bens essenciais (como suprimentos médicos e


medicamentos): dada a alta demanda, houve um aumento significativo de fraudes on-line en-
volvendo certos suprimentos médicos, equipamentos de proteção individual e produtos far-
macêuticos. Nesses casos, os suspeitos afirmaram ser funcionários de empresas, instituições
de caridade e organizações internacionais que ofereciam máscaras, kits de teste e outros pro-
dutos, solicitando informações do cartão de crédito para pagamento ou remessa, mas nunca
entregaram as mercadorias (US FDA, 2020). Em alguns cenários, as vítimas eram solicitadas a
efetuar o pagamento antecipadamente via transferência bancária (Força policial de Cingapura,
2020). Em esquemas similares, os bens foram entregues ao consumidor, mas eram falsificados
ou ineficazes.

Os membros do GAFI também observaram um aumento nas reivindicações de trata-


mento COVID-19 falsas e enganosas e de vendedores que alienaram produtos ilegais comercia-
lizados como curas “milagrosas.”

Também foi detectada a captação de recursos para instituições de caridade falsas: os


membros do GAFI destacaram um aumento de golpes de angariação de fundos. Nesses casos,
criminosos que se apresentavam como organizações internacionais ou instituições de caridade
circularam e-mails solicitando doações para COVID-19. Os destinatários desses e-mails foram
então orientados a fornecer informações sobre cartão de crédito ou efetuar pagamentos por
meio da carteira digital segura do suspeito.

Cabe ainda mencionar os golpes fraudulentos de investimento: a crise econômica re-


sultante do COVID-19 levou a um aumento de golpes financeiros, como promoções nas quais
afirmavam falsamente que produtos ou serviços de empresas de capital aberto podem preve-
nir, detectar ou curar COVID-19 (Europol, 2020). Os relatórios dos membros do GAFI destaca-
ram que ações, normalmente emitidas por menores empresas, puderam ser particularmente
vulneráveis a esquemas fraudulentos de investimento, pois eram ações de baixo preço com
limitadas informações publicamente disponíveis. Isso facilitou a disseminação de informações
falsas.

Finalmente, como os muitos governos passaram a fornecer auxílios de estímulo para mi-
tigar o impacto econômico relacionado à COVID-19 (no Brasil, o chamado auxílio emergencial,
inicialmente em vigor por 3 meses, prorrogado por mais 2 meses), membros do GAFI detecta-

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ram que criminosos tentaram reivindicá-los de forma fraudulenta ou direcioná-los incorreta-
mente. A corrupção nos canais de suprimento ou fornecimento de ajuda pode ter impactado a
assistência financeira internacional.

Muitos países tiveram uma necessidade imediata de assistência financeira de emergên-


cia para responder à COVID-19. No entanto, instituições financeiras internacionais relataram o
risco de que a ajuda financeira de emergência fornecida aos países poderia ser desviada por
funcionários corruptos, particularmente em países onde o estado de direito é fraco e existem
más medidas de transparência e responsabilidade.

Contratos do governo para comprar grandes quantidades de suprimentos médicos


oferecem, de fato, oportunidades para corrupção e apropriação indébita de fundos públicos.
Essa atividade pode se tornar mais prevalente se houver uma percepção de que estaria ha-
vendo uma diminuição da supervisão financeira de compras e gastos governamentais. Muitos
usaram a corrupção ou canais informais para obter contratos governamentais lucrativos fora
dos procedimentos tradicionais de licitações públicas.

Daí porque oportunistas podem se valer das vulnerabilidades sistêmicas para explo-
rá-las de molde ser possível ultrapassar medidas como Conheça seu cliente (Customer Due
Diligence) explorando circunstâncias temporais de redução ou desorientação de controles in-
ternos causadas por situações peculiares de supervisão, notadamente lastreadas no trabalho
remoto.

03. DA LAVAGEM DE DINHEIRO

O crime de lavagem de dinheiro está contido no art. 1º da Lei brasileira nº 9.613, de 03 de


março de 1998, dispositivo este alterado pela edição da Lei nº 12.683, de 09 de julho de 2012,
que acabou por findar com uma lista fixa de crimes subjacentes, de molde que atualmente
qualquer infração penal pode ensejar o reconhecimento de lavagem (ilação que deve ser com-
preendida em coerência com a aplicação dos postulados da fragmentariedade e da mínima
intervenção do Direito Penal).

Classicamente, no delito de lavagem, identificam-se três fases da conduta, a bem saber:


(a) ocultação, colocação ou placement: etapa em que se procura tirar a visibilidade dos bens
adquiridos criminosamente; (b) controle, dissimulação ou layering: etapa em que se busca afas-
tar o dinheiro de sua origem ilícita, dissimulando os vestígios de sua obtenção; e (c) integração
ou integration: etapa em que o dinheiro ilícito reintegra-se na economia sob uma aparência de
licitude. Soma-se a isto a fase de reciclagem ou recycling consistente no apagamento de todos
os registros de fases anteriores concretizadas.

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Destaque-se, ademais, que, para fins de consumação do delito, não há a necessidade
da ocorrência das fases anteriormente indicadas, dispensando-se a comprovação de que os
valores que foram ocultados, por exemplo, retornaram ao seu real proprietário (ainda que tal
contexto possa ocorrer no mundo fenomênico) – sinteticamente, cada uma das etapas declina-
das, isoladamente consideradas, tem o condão de configurar o crime de lavagem de dinheiro.

A teor da legislação afeta à lavagem de dinheiro (Lei nº 9.613, de 03 de março de 1998),


mostra-se necessário que os bens lavados sejam decorrentes de um crime subjacente não ne-
cessariamente pretérito ou antecedente, cronologicamente falando. Em outras palavras, basta
que o crime do qual decorre a lavagem seja a condição desta, que tenha uma antecedência
lógica.

A propósito, o art. 1º da Lei nº 9.613/1998, ao estatuir que constitui o delito de lavagem


“ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização, disposição, movimentação ou proprie-
dade de bens, direitos ou valores provenientes, direta ou indiretamente, de infração penal”,
exige apenas a proveniência de que o patrimônio lavado seja oriundo de crime, mas não que
este seja anterior àquele (anterioridade cronológica). Pode-se afirmar que sequer haveria a
necessidade propriamente dita de que houvesse uma procedência estritamente cronológica,
mas apenas jurídica, acerca do que se convencionou nominar crime antecedente, expressão que
seria melhor compreendida, na realidade, por meio da locução crime subjacente. O que impor-
ta, aqui, é que seja logicamente cronológico.

Dentro de tal contexto importante inovação existe, para além das disposições constan-
tes do Código Penal quanto aos bens apreendidos e objetos de confisco, no regramento espe-
cífico trazido à baila pelo art. 4º da Lei nº 9.613/1998 (na redação dada pela Lei nº 12.683/2012)
para a finalidade de se verificar a possibilidade de se decretar o sequestro de bens, de direitos
e de valores que estejam em nome de investigados que seriam instrumento, produto e/ou pro-
veito de eventuais delitos subjacentes.

Assim, tem-se a possibilidade de perda, em favor da União Federal, do produto do crime


ou de qualquer bem ou valor que constitua proveito auferido pelo agente com a prática do fato
criminoso (medida assecuratória de sequestro – art. 126 do Código de Processo Penal e art. 4º
da Lei nº 9.613/1998).

O ordenamento jurídico em vigor (por força da edição da Lei nº 12.694, de 24.07.2012)


permite a perda, em favor da União Federal, do produto do crime ou de qualquer bem ou valor
que constitua proveito auferido pelo agente com a prática do fato criminoso, o que pode ocor-
rer pelo importe equivalente quando o produto ou o proveito do crime não for encontrado (ou
quando localizado no exterior), inferência passível de ser constatada pela dicção do art. 91 do
Código Penal (especialmente de seus §§ 1º e 2º), a propósito:

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Art. 91. São efeitos da condenação: I - tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado
pelo crime; II - a perda em favor da União, ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-
fé: a) dos instrumentos do crime, desde que consistam em coisas cujo fabrico, alienação, uso,
porte ou detenção constitua fato ilícito; b) do produto do crime ou de qualquer bem ou valor
que constitua proveito auferido pelo agente com a prática do fato criminoso. § 1º. Poderá ser
decretada a perda de bens ou valores equivalentes ao produto ou proveito do crime quando
estes não forem encontrados ou quando se localizarem no exterior. § 2º. Na hipótese do §
1º, as medidas assecuratórias previstas na legislação processual poderão abranger bens ou
valores equivalentes do investigado ou acusado para posterior decretação de perda.

A alteração legislativa promovida pela Lei nº 12.694/2012 decorreu das disposições sobre
o tratamento de bens delineadas nas Convenções da Organização das Nações Unidas - ONU
sobre o Tráfico Ilícito de Entorpecentes e de Substâncias Psicotrópicas (Viena, promulgada pelo
Decreto nº 154, de 26 de junho de 1991), sobre o Crime Organizado Transnacional (Palermo, de
15 de novembro de 2000, promulgada pelo Decreto nº 5.015, de 12 de março de 2004, e apro-
vada pelo Decreto Legislativo nº 231, de 29 de setembro de 2003), e sobre Corrupção (Mérida,
promulgada pelo Decreto nº 5.687, de 31 de janeiro de 2006), sendo tais consideradas marcos
globais referenciais sobre o tema.

Nesse diapasão, o art. 5º, item 01, “a”, da Convenção de Viena, esclarece que:

Cada parte adotará as medidas necessárias para autorizar o confisco: a) do produto derivado
de delitos estabelecidos no parágrafo 1 do Artigo 3, ou de bens cujo valor seja equivalente ao
desse produto, bem como o seu item 2 testifica que cada Parte adotará também as medidas
necessárias para permitir que suas autoridades competentes identifiquem, detectem e
decretem a apreensão preventiva ou confisco do produto, dos bens, dos instrumentos ou de
quaisquer outros elementos a que se refere o parágrafo 1 deste Artigo, com o objetivo de seu
eventual confisco.

Por sua vez, os itens 02, 03 e 04 do art. 12 da Convenção de Palermo deixam assentado,
respectivamente, que:

Os Estados Partes tomarão as medidas necessárias para permitir a identificação, a localização,


o embargo ou a apreensão dos bens referidos no parágrafo 1 do presente Artigo, para efeitos
de eventual confisco; se o produto do crime tiver sido convertido, total ou parcialmente,
noutros bens, estes últimos podem ser objeto das medidas previstas no presente Artigo, em
substituição do referido produto e se o produto do crime tiver sido misturado com bens
adquiridos legalmente, estes bens poderão, sem prejuízo das competências de embargo ou
apreensão, ser confiscados até ao valor calculado do produto com que foram misturados.

A seu turno, o art. 31, item 05, da Convenção de Mérida, bem elucida que quando esse
produto do delito “se houver mesclado com bens adquiridos de fontes lícitas, esses bens serão
objeto de confisco até o valor estimado do produto mesclado, sem menosprezo de qualquer
outra faculdade de embargo preventivo ou apreensão.”

Também dentre as conhecidas Quarenta Recomendações do Grupo de Ação Financeira


(Groupe d’Action Financière sur le Blanchiment de Capitanx - GAFI ou Financial Action Task Force on
Money Laundering – FATF), do qual o Brasil é integrante desde setembro de 1999, há expressa

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determinação da perda visando “adotar medidas para prevenir ou evitar atos que prejudiquem
a capacidade do Estado para recuperar bens sujeitos à perda, obstando-se a transferência em
cessão dos referidos bens apreendidos” e alcançando, inclusive, valores correspondentes ao
montante lavado (Recomendação nº 04).

Nesse contexto, infere-se a plena possibilidade, com supedâneo tanto em convenções


internalizadas no país como no próprio ordenamento pátrio, de que constrição destinada a
fazer frente à obrigação de perda, em favor da União Federal, do produto do crime ou de qual-
quer bem ou valor que constitua proveito auferido pelo agente com a prática do fato criminoso
recaia sobre patrimônio até mesmo preexistente ao marco temporal tido como de perpetração
da infração penal, o que é comumente conhecido como sendo medida assecuratória pelo equi-
valente, expediente que encontra o beneplácito da jurisprudência tanto do C. Superior Tribunal
de Justiça como de Cortes Regionais, a saber: “Ademais, a Lei 12.694/2012 alargou o espectro
de incidência das medidas cautelares assecuratórias, ao inserir os §§ 1º e 2º do art. 91 do CP.” 4

Assim, o sequestro pode abarcar bens ou valores de origem lícita, equivalentes ao pro-
duto ou proveito da infração, se estes não forem encontrados ou se localizarem no exterior.
Bem ainda merece destaque o seguinte julgado de lavra do Egrégio Tribunal Regional Federal
da 3ª Região: “É possível que o sequestro abranja bens ou valores lícitos do criminoso, como
forma de compensação, quando não for possível localizar os bens ou valores desviados com a
prática do ilícito, a teor do art. 91, §§ 1º e 2º, do Código Penal.”5

A Lei Anticrime incluiu no Código Penal o artigo 91-A acrescendo como efeito da conde-
nação irrecorrível que possui como finalidade retirar do patrimônio do acusado valor que nele
ingressou de forma espúria, ainda que de forma velada, denominado pela doutrina confisco
alargado.

Admite-se “a perda, como produto ou proveito do crime, dos bens correspondentes à


diferença entre o valor do patrimônio do condenado e aquele que seja compatível com o seu
rendimento lícito”. Isto significa a possibilidade de confisco de bens quando o condenado os-
tentar patrimônio incompatível com sua fonte lícita de bens e rendimentos, sem que haja a ne-
cessidade de haver vinculação do patrimônio com a efetiva prática delitiva, tendo assim lugar
o confisco. Como testifica Renato Brasileiro de Lima:6

O confisco alargado não se confunde, portanto, com o confisco clássico (tradicional), nem
tampouco com o subsidiário (ou por equivalência). Diversamente do confisco clássico previsto

4 STJ, RMS 49.540/RS, Rel. Min. RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em 12/09/2017, DJe 22.09.2017.

5 TRF3, QUINTA TURMA, Ap. - APELAÇÃO CRIMINAL - 60509 - 0013288-86.2014.4.03.6181, Rel. Des. Fed. ANDRÉ
NEKATSCHALOW, julgado em 08.06.2015, e-DJF3 Judicial 1 DATA:16.06.2015.

6 In Pacote Anticrime: Comentários à Lei nº 13.964/1919 - Artigo por |Artigo. Salvador: JusPODIVM, 2020,
p.40/41.

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no art. 91, II, do CP, efeito genérico da condenação que recai sobre os instrumentos utilizados
na prática delituosa e sobre todos aqueles bens que foram obtidos direta (produto) ou
indiretamente (proveito) com a prática delituosa, no confisco por equivalência, a perda não
fica restrita aos bens direta ou indiretamente vinculados ao delito. De fato, na eventualidade
de tais bens não serem encontrados ou se localizarem no exterior, o Código Penal passa a
admitir que o confisco recaia sobre outros bens de propriedade do condenado, mesmo que de
origem lícita, guardada, porém, uma relação de proporcionalidade com os valores dos bens
originários.

(...)

Em sentido distinto, o confisco alargado permite ao Estado atingir todos os bens do criminoso
que não sejam compatíveis com a sua renda lícita. Preenchidos os requisitos legais (...) e
assegurados os direitos de terceiros, o art. 91-A, caput, do CP, incluído pela Lei n. 13.964/19,
estabelece a possibilidade de a perda recair sobre os bens correspondentes à diferença entre
o valor do patrimônio do condenado e aquele que seja compatível com o seu rendimento
lícito. É dizer, não há necessidade de a perda guardar qualquer relação de equivalência ou
proporcionalidade com o produto ou proveito do crime (confisco clássico), nem tampouco que
estes não sejam encontrados ou se localizem no exterior, como se exige no caso do confisco
por equivalência.

Cumpre trazer à colação, outrossim, a regra disposta no art. 4º da Lei nº 9.613/1998 (na
redação dada pela edição da Lei nº 12.683, de 09 de julho de 2012), aplicável especificamente
em sede de situação configuradora de lavagem de dinheiro, segundo a qual:

Art. 4º. O juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Público ou mediante representação do


delegado de polícia, ouvido o Ministério Público em 24 (vinte e quatro) horas, havendo indícios
suficientes de infração penal, poderá decretar medidas assecuratórias de bens, direitos ou
valores do investigado ou acusado, ou existentes em nome de interpostas pessoas, que sejam
instrumento, produto ou proveito dos crimes previstos nesta Lei ou das infrações penais
antecedentes.

§ 1º. Proceder-se-á à alienação antecipada para preservação do valor dos bens sempre
que estiverem sujeitos a qualquer grau de deterioração ou depreciação, ou quando houver
dificuldade para sua manutenção.

§ 2º. O juiz determinará a liberação total ou parcial dos bens, direitos e valores quando
comprovada a licitude de sua origem, mantendo-se a constrição dos bens, direitos e valores
necessários e suficientes à reparação dos danos e ao pagamento de prestações pecuniárias,
multas e custas decorrentes da infração penal.

§ 3º. Nenhum pedido de liberação será conhecido sem o comparecimento pessoal do acusado
ou de interposta pessoa a que se refere o caput deste artigo, podendo o juiz determinar
a prática de atos necessários à conservação de bens, direitos ou valores, sem prejuízo do
disposto no § 1º.

§ 4º.Poderão ser decretadas medidas assecuratórias sobre bens, direitos ou valores para
reparação do dano decorrente da infração penal antecedente ou da prevista nesta Lei ou para
pagamento de prestação pecuniária, multa e custas.

A despeito deste regramento específico pode ter incidência também a norma contida
no artigo 133-A do Código Penal com a redação dada pela Lei nº 13.964, de 24 de dezembro de
2019 (Lei Anticrime) a saber:

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O juiz poderá autorizar, constatado o interesse público, a utilização de bem sequestrado,
apreendido ou sujeito a qualquer medida assecuratória pelos órgãos de segurança pública
previstos no art. 144 da Constituição Federal, do sistema prisional, do sistema socioeducativo,
da Força Nacional de Segurança Pública e do Instituto Geral de Perícia, para o desempenho
de suas atividades.

Esta inovação legislativa confere uma finalidade útil aos bens sequestrados, podendo
ser utilizados provisoriamente pelos órgãos de persecução em suas precípuas atividades, des-
de que observados os princípios regentes da responsabilidade da administração na guarda e
conservação de tais bens, e, na hipótese de uma sentença condenatória, o juiz poderá deter-
minar a transferência definitiva da propriedade ao órgão público então responsável por sua
utilização (artigo 133-A, §4º, CPP).

Este é um momento delicado para as autoridades reguladoras tomarem cuidado com as


atividades antilavagem de dinheiro. Aqueles que se encontrem no contexto do combate a esse
crime entenderão que os métodos de lavagem de dinheiro e crimes praticados estão em cons-
tante evolução e geralmente estão um passo à frente, o que se verá na sessão que se segue.

04. DAS NOVAS FORMAS DE LAVAGEM DE DINHEIRO


E DO COMPLIANCE

As Nações Unidas relatam que até US$ 2 trilhões em fundos7 são lavados anualmente
pelo sistema financeiro global, associados a uma série de atividades ilícitas, incluindo terrorismo,
tráfico de drogas, cybercrime, tráfico de seres humanos e muito mais. Como resultado, gover-
nos de todo o mundo implementaram uma variedade de leis e regulamentos contra a lavagem
de dinheiro: desde exigir que bancos e outras instituições financeiras conduzam processos de
conhecimento do cliente, monitorando e investigando transações suspeitas, relatando casos
de crime. Nestes tempos decorrentes da pandemia, têm se observado formas variadas de um
problema comum: a ousadia, perseverança e uso da tecnologia por parte de organizações cri-
minosas para o cometimento de crimes econômico-financeiros.

Em 1º de junho de 2020, a Divisão Criminal do Departamento de Justiça dos EUA (DOJ),


com pouco alarde, emitiu orientações atualizadas sobre a Avaliação de Programas de Confor-
midade Corporativa (Orientação 2020). O documento, que foi lançado sem qualquer anúncio
ou explicação pública, atualizou uma versão de 30 de abril de 2019 do documento (Orientação
2019).8

7 KAUFMAN, Alon. How Privacy-Enhanced Technologies Can Make Financial Crime Compliance More Effecti-
ve. In https://bankingjournal.aba.com/2020/06/how-privacy-enhanced-technologies-can-make-financial-crime-com-
pliance-more-effective/, publicado em 11.06.2020, acessado em 17.06.2020.

8 A Orientação (Guidance) 2019 atualizou a orientação original publicada pela Seção de Fraudes da Divisão em 8 de
fevereiro de 2017 (Guidance 2017).

CORONAVÍRUS, COMPLIANCE E NOVAS FORMAS DE LAVAGEM DE DINHEIRO 13


Para Lucinda A. Low, Brittany Prelogar, Patrick Linehan e Yasmin Almeida, a avaliação do
DOJ sobre a eficácia do programa de compliance de uma empresa continua a ser um fator rele-
vante para a cobrança de decisões sob os princípios do Ministério Público Federal norte-ame-
ricano de Organizações Empresariais do Manual de Justiça, bem como para a elegibilidade de
uma organização para receber uma redução das multas criminais calculadas sob as Diretrizes
de Sentença dos EUA (USSG).9

As atualizações mais significativas na Orientação (Guidance) 2020 são: (i) mudanças en-
fatizando a necessidade de um programa de conformidade dinâmico e refletindo expectativas
elevadas para o uso de análise e testes de dados; e (ii) esclarecimentos sobre as expectativas
do DOJ para uma abordagem baseada em riscos para a conformidade. Estes são descritos em
mais detalhes abaixo.

Dinâmico, no sentido de aplicar lições aprendidas com a própria experiência prévia da


empresa, bem como as de outras empresas; fazer uso de dados e testes à medida que revisa
e atualiza sua avaliação de riscos, políticas e procedimentos; e investir em mais treinamento e
desenvolvimento de compliance e outros controles individuais.

A expectativa de que as empresas incorporem lições experimentadas em seus pro-


gramas de compliance não é nova, em particular quando se trata de insights obtidos com os
próprios problemas da empresa e má conduta prévia. Embora considerar lições aprendidas
com outras empresas que operam no mesmo setor e/ou região geográfica tem sido uma boa
prática e uma característica dos programas de conformidade corporativa mais sofisticados, a
Orientação 2020 criou explicitamente a expectativa de que as empresas tenham um “proces-
so” em vigor “para rastrear e incorporar” em suas avaliações periódicas de risco, tanto as lições
aprendidas com as questões anteriores e más condutas da própria empresa, quanto “das de
outras empresas que operam no mesmo setor e/ou região geográfica.” Além disso, a Orienta-
ção 2020 sugeriu que o DOJ avalie se uma empresa realiza revisões periódicas de sua avaliação
de risco com base no acesso contínuo a dados e informações operacionais em todas as funções, e
não apenas com base em um “snapshot” no tempo.

Observa-se que, mesmo no curso da pandemia, o grau de exigência das autoridades


americanas quanto a um efetivo compliance apresenta-se tão efetivo quanto antes.

O Grupo de Ação Financeira Internacional – GAFI (Financial Action Task Force - FATF), que
realiza avaliações mútuas para a base de suas nações membros, tem destacado os requisitos
específicos das suas 40 Recomendações, notadamente como uma nação-membro as relaciona

9 LOW, Lucinda A.; PRELOGAR, Brittany; LINEHAN, Patrick F; ALMEIDA, Yasmin. DOJ Updates Corporate Complian-
ce Program Guidance, Emphasizes Role of Data. In https://www.steptoe.com/en/news-publications/doj-updates-
-corporate-compliance-program-guidance-emphasizes-role-of-data.html, publicado em 04.06.2020, acessado em
15.06.2020.

CORONAVÍRUS, COMPLIANCE E NOVAS FORMAS DE LAVAGEM DE DINHEIRO 14


com seu quadro jurídico e institucional relevante, e os poderes e procedimentos das autorida-
des competentes. O foco está nos blocos fundamentais de construção de um sistema de com-
bate à lavagem de dinheiro e ao financiamento do terrorismo (AML/CFT).

É fato que a COVID-19 tem impactado os serviços financeiros, tornando o ambiente


maduro e perfeito para a prática de fraudes, crimes cibernéticos e lavagem de dinheiro. Assim,
para tratar tal situação, que agravou um ambiente já marcado por profundas e rápidas mu-
danças que o mundo tecnológico vem impondo, as autoridades regulatórias devem fazer mo-
vimentos precisos e proporcionais.

Para Dnyanesh Pandit, quando um país não atinge um alto nível de eficácia, os avalia-
dores fornecem as razões pelas quais ele caiu abaixo do padrão e recomendam medidas que
devam ser tomadas para melhoria de sua capacidade de alcançar o resultado. O GAFI publica
a lista “Call for action” de países que possuem “deficiências estratégicas significativas em seus
regimes para combater a lavagem de dinheiro e o financiamento do terrorismo.10

O referido autor destaca a inovação financeira que tem propiciado progresso e evolu-
ção em ritmo excepcional às instituições financeiras. Novas tecnologias introduziram todo um
novo espectro de oportunidades de lavagem de dinheiro. Ao mesmo tempo, essas tecnologias
proporcionaram uma oportunidade de desenvolver uma resposta sofisticada a esse problema.
Inovações como inteligência artificial e machine learning poderiam facilitar o processamento de
grandes volumes de dados para detectar padrões e anomalias que um humano pode perder.

Assim, esforços mais coordenados devem ser empregados em 2020, a par das dificulda-
des decorrentes da COVID-19, para empregar padrões de segurança nessas tecnologias para
garantir que o controle seja aplicado às suas implementações em ambientes regulados.

Por sua vez, a identificação biométrica, sendo biometria as características físicas e bio-
lógicas únicas e intrínsecas de uma pessoa que verifica a identidade da pessoa, pode ajudar
na política Conheça o Seu Cliente (Know Your Customer – KYC). Esta constitui na checagem obri-
gatória que as instituições financeiras precisam verificar e autenticar a identidade do cliente
durante o processo de onboarding e para realizar a due diligence do cliente. Isso é fundamental
para combater fraudes digitais, roubo de identidade, crimes financeiros e lavagem de dinheiro.

Tal qual foi feito na Índia, onde o Reserve Bank of India (RBI) aprovou a autenticação re-
mota baseada em vídeo para as práticas de e-KYC. A Índia é um dos primeiros países a lançar
vídeo-KYC para instituições financeiras. Integrando verificações de identificação biométrica, as
organizações podem agilizar o processo de KYC tornando-o mais rápido e eficiente.

10 PANDIT, Dnyanesh. 5 Anti-money laundering trends to look out for. In https://www.moneycontrol.com/news/bu-


siness/companies/five-anti-money-laundering-trends-to-look-out-for-5359311.html, publicado em 04.06.2020, aces-
sado em 10.06.2020.

CORONAVÍRUS, COMPLIANCE E NOVAS FORMAS DE LAVAGEM DE DINHEIRO 15


De outro lado, urge o monitoramento robusto de transações, a partir da possível exis-
tência de casos em que os fundos ilícitos sejam, como já foram, transferidos secretamente
por anos e o ambiente de controle de tecnologia das instituições financeiras não seja ainda
suficiente.

Por isso que, precipitada pela COVID-19, em 2020, os reguladores devem insistir em mé-
todos mais rápidos para detectar comportamentos suspeitos, especificamente no campo do
monitoramento de transações. A tecnologia inteligente será a chave aqui. As empresas preci-
sarão ser capazes de definir seu raio de risco e trabalhar com ferramentas que reduzam falsos
positivos.

Cabe, outrossim, um olhar atento aos ativos virtuais, cujo anonimato, velocidade e al-
cance global proporcionaram eficiências significativas e mudaram drasticamente o mercado
financeiro. No passado, existiram ataques de ransomware e financiamento de terroristas por
meio desses ativos (moedas virtuais). A colcha de retalhos das respostas regulatórias, as quais
respondem de forma diferente para evitar o uso indevido, vai desde uma regulamentação ro-
busta até a proibição completa de ativos virtuais, necessitando de política globalizada para o
enfrentamento da questão.

A revisão retrospectiva dos dados de importação e exportação, atividades financeiras


suspeitas, padrões e anomalias com ferramentas otimizadas e com coordenação do setor pú-
blico e privado será a chave para combater o delito econômico-financeiro no e-commerce.

Quanto ao financiamento do terrorismo, em que organizações terroristas visam bus-


car um fluxo robusto e contínuo de fundos de várias fontes até o ponto de distribuição, as
agências governamentais necessitam criar métodos para detecção de tais fontes, já que estes
têm evoluído com muita rapidez. Embora doações privadas, abuso de organizações sem fins
lucrativos e patrocínio estatal ao terrorismo estejam em jogo há muitos anos, testemunha-se
novas tendências no financiamento de atividades terroristas, devendo-se citar os exemplos
de Dnyanesh Pandit, como captação de recursos por meio de mídias sociais, moedas virtuais,
cartões pré-pagos, exploração de recursos naturais, ou seja, petróleo & gás e mineração.11

Para Michèle Landtwing, o primeiro passo para mitigar os riscos associados à lavagem
de dinheiro e ao financiamento do terrorismo começa com a identificação de riscos potenciais.
Como indicadores, cita, o fato de que os relacionamentos e/ou a estrutura das empresas “são
extraordinariamente complexos ou difíceis de entender, por exemplo, empresas domiciliares
estrangeiras, trusts ou fundações usadas para ocultar o beneficiário final, que pode ser uma
pessoa sancionada ou politicamente exposta (por exemplo, documentos do Panamá)”, bem

11 Ob. cit. 5 Anti-money laundering trends to look out for. In https://www.moneycontrol.com/news/business/com-


panies/five-anti-money-laundering-trends-to-look-out-for-5359311.html, publicado em 04.06.2020, acessado em
10.06.2020.

CORONAVÍRUS, COMPLIANCE E NOVAS FORMAS DE LAVAGEM DE DINHEIRO 16


ainda o fato de o proprietário beneficiário final de ativos de uma transação ser originários de
mercados emergentes e o intermediário financeiro não ter experiência com essas relações co-
merciais e o envolvimento ou a proximidade de atividades ilícitas ou de alto risco, como tráfico
de drogas e armas, tráfico de seres humanos ou mesmo financiamento ao terrorismo.12

Ora, dificultada a prova de que uma determinada pessoa seria o beneficiário efetivo de
ativos virtuais.

Doutra parte, para um compliance adequado e proporcional, evitando insatisfações jus-


tificadas de clientes de bancos e de instituições financeiras, deve haver equilíbrio entre estar
em conformidade com todas as normas regulamentares e a qualidade do serviço do cliente,
impedindo o incremento desnecessário de documentação.

Simplificar os detalhes buscados e a frequência desses requisitos pode ser um passo


para reduzir eventual descontentamento do cliente. Para isso, as instituições financeiras de-
vem investir mais na equipagem de melhores instalações de armazenamento e recuperação
de informações dos clientes. Além disso, a verificação independente, identificação biométrica,
robótica e automação em filiais ou modelos de raios podem reduzir muito a insatisfação dos
clientes e o tempo gasto em viagens digitais matrizes e de filiais. Claro que tudo isso impacta a
jornada digital.

Logo, as instituições financeiras têm verificado um aumento de fraudes e cybercrimes,


como phishing e-mails, devendo ficar alertas pelas transações maliciosas e conscientizar os in-
vestidores para também serem cautelosos. Doutra parte, existe mudança comportamental de
clientes que têm reforçado o saque de moeda em caixas eletrônicos, o aumento do uso online
dos serviços financeiros e o uso de atividades ou serviços de criptoativos.

Vivendo-se momento único, em que existe ausência física de empregados que traba-
lham remotamente, o operacional é impactado fazendo que a supervisão física humana torne-
-se mais difícil. Assim, o uso de tecnologias digitais para suplementar esforços manuais pode
ser uma solução. Por exemplo, robôs devem complementar tarefas tediosas, como validação
de informação de clientes em face de dados primários e dessa forma agem de maneira mais
ágil e precisa. Com isto, os empregados podem se concentrar naquilo que realmente seja mais
complexo em que exige julgamento ou o experiente olhar humano.

Por outro lado, um treinamento deve ser intensificado ao setor de compliance, estabele-
cendo benefícios aos que, ainda que trabalhem remotamente, mormente durante e por conta
da pandemia, empenharam-se e empenham-se na detecção de fatos ilícitos, seu julgamento e

12 LANDTWING, Michèle. How to mitigate your KYC/Anti Money Laundering (AML) compliance risks. In ht-
tps://www.mme.ch/en/magazine/magazine-detail/url_magazine/how_to_mitigate_your_kyc_anti_money_laundering_
aml_compliance_risks/, publicado em junho/2020, acessado em 15.06.2020.

CORONAVÍRUS, COMPLIANCE E NOVAS FORMAS DE LAVAGEM DE DINHEIRO 17


correspondente sancionamento.

Para Manish Chopra, o uso da robótica e da inteligência artificial é incrivelmente efetiva


para funções de Conheça Seu Cliente (Know Your Customer – KYC) e processo de monitoramen-
to de transações financeiras. Bancos podem, ainda, fazer uso do escaneamento a partir do
olhar (eye-scanning) para validar a identificação do cliente de forma rápida, pontual e remota.13

Devem, pois, as instituições financeiras e as empresas reforçar o seu compliance consis-


tentemente (com maior produtividade e eficiência) e fazer uso de avançada análise em tempo
real das transações, e revisão de benefícios e incentivos concedidos. A fragmentação de dados
diante dos trabalhos remotos, notadamente reforçados dada a COVID-19, dificulta uma análise
global das informações. Para tanto, dados devem ser agregados e democratizados quanto a
seu acesso, revendo-se políticas, práticas e controles, e ajustando-os ao atual ambiente, sem
se descurar da segurança das informações pessoais dos clientes mediante fluxos criptografa-
dos, o que permitirá, finalmente, a continuidade salutar dos negócios.

O compliance transmudou-se para situações de inspeções remotas, mas que podem e


devem valer-se de vídeos-conferências, restringindo análises físicas a setores de alto risco, tra-
balho esse dificultado quando se constata a terceirização ou a existência de clientes no exte-
rior realizando negócios no estrangeiro. Releva aqui o reforço da comunicação no setor privado
para que continuem vigilantes na detecção de transações suspeitas, notadamente no que toca
os fluxos transnacionais.

Sugere-se, basicamente o seguinte checklist de políticas voltadas ao:

1. Conheça o Seu Cliente: se possui real conhecimento atual, completo e documentado de


clientes e de seus relacionamentos, sendo que, para clientes de alto risco, contatos e
revisões frequentes são recomendados;

2. Monitoramento Contínuo e Efetivo do Beneficiário Final e das Transações: triagem pe-


riódica da pessoa que controla ou de seus procuradores, mediante o uso de fontes pú-
blicas e consolidadores de dados, como Google, KYC Spider, LexisNexis ou World-Check,
bem ainda a comparação entre a atividade e o perfil do cliente, seus limites normais;

3. Origens e Propriedade de Ativos Virtuais: bens ou fundos provenientes de carteiras ou


endereços virtuais podem se beneficiar de uma duediligence aprimorada na forma de
classificação de risco do endereço e da transação anterior e a prova por meios técnicos,
como assinaturas virtuais que exigem chave privada, da propriedade de tais ativos;

13 CHOPRA. Manish. The Coronavirus requires a new way to fight laundering. In https://www.paymentssource.
com/opinion/the-coronavirus-requires-a-new-way-to-fight-laundering, publicado em 30.04.2020, acessado em
14.06.2020.

CORONAVÍRUS, COMPLIANCE E NOVAS FORMAS DE LAVAGEM DE DINHEIRO 18


4. Aplicação Remota da Biometria ou Eye-scanning: a partir da COVID-19 muitas atividades
presenciais exigiram limitação presencial, o trabalho remoto tem se imposto e a utiliza-
ção da biometria ou eye-scanning, também pela precisão e facilitação de acesso de seu
uso, permite oescaneamento da identidade já que as pessoas usam seus smartphones
ou outros scanners especializados para tirar fotos de documentos, como carteiras de
motorista ou identidades, emitidos com digitalização de seus rostos, impressões digitais
ou íris, enviando tais imagens para um banco de dados. Empresas e entidades governa-
mentais podem então usar dados biométricos para combiná-los com seus documentos
oficiais em seus bancos de dados e verificar suas identidades. Esse processo elimina a
necessidade de enviar documentos pessoalmente e também resulta em uma maneira
mais rápida, automatizada e segura de verificar as identidades dos usuários, e

5. Reforço do Treinamento e Estímulos ao Compliance: mantendo-os engajados.

A tecnologia permite o compliance ser mais efetivo. Segundo Alon Kaufman, falando so-
bre os Estados Unidos, revela que “os reguladores financeiros e especialistas como a Força-
-Tarefa de Ação Financeira multilateral endossam o compartilhamento rápido, significativo e
abrangente de informações de uma ampla variedade de fontes, em escala nacional e global. 14

O que o setor financeiro precisa é, de fato, possuir uma estrutura modernizada e viável
para colocar em prática as orientações, sem se descuidar da proteção e privacidade dos dados.

Quanto às doações decorrentes da COVID-19, as pessoas jurídicas devem, se possível,


evitar as em espécie, priorizando as in natura, porquanto facilitaria o controle do destino e
evitaria desvios. Entretanto, em havendo doações em espécie, o compliance deve continuar o
trabalho de controle e destino dos recursos, mesmo após a doação, evitando-se o desvio de
recursos e o comprometimento das políticas anticorrupção e lavagem de dinheiro.

Importante é a ação das autoridades, desenvolvendo estratégias baseadas na revisão de


big data adaptando sua análise e com a priorização das Comunicações de Operações Suspeitas
voltadas a determinadas delitos. Para tanto, forças-tarefas especiais e bem estruturadas, em
níveis municipais, estaduais e federal, devem ser colocadas em marcha para a coordenação de
medidas que tratem da situação emergencial provocada pela pandemia, particularmente em
relação a fraudes, lavagem de dinheiro e crimes contra a administração pública, com prioriza-
ção de investigações e evitando-se duplas investigações em níveis variados e perdas de tempo.

14 KAUFMAN, Alon. How Privacy-Enhanced Technologies Can Make Financial Crime Compliance More Ef-
fective. In https://bankingjournal.aba.com/2020/06/how-privacy-enhanced-technologies-can-make-financial-crime-
-compliance-more-effective/, publicado em 11.06.2020, acessado em 17.06.2020.

CORONAVÍRUS, COMPLIANCE E NOVAS FORMAS DE LAVAGEM DE DINHEIRO 19


05. DAS CONCLUSÕES

As alterações legislativas havidas no contexto da pandemia COVID-19 e a nova realidade


do trabalho remoto difundido não devem reduzir a atenção merecida aos que aproveitam de
ambiente vulnerável para a prática de antigos crimes e de novos, possibilitados diante de bre-
chas alinhavadas pela legislação de emergência.

Tanto o compliance quanto as autoridades públicas devem atentar para a crescente e


facilitada criminalidade de ocasião, notadamente aquela havida no seio de organizações crimi-
nosas voltadas à lavagem de dinheiro, aos crimes contra a administração pública, aos crimes
contra a ordem tributária e contra o sistema financeiro nacional.

Não há dúvidas de que o Brasil tradicionalmente dispõe de instrumentos legislativos


e políticas públicas para o enfrentamento destes crimes, notadamente pela coesão entre os
órgãos de persecução penal, todavia, a engenharia criminosa entabulada a partir da COVID-19
evidencia, por si só, a premente necessidade de ações que possam dar efetividade e consis-
tência à atuação estatal. Logo, as deficiências e vulnerabilidades até existentes acrescidas pelo
fato do distanciamento social (via trabalho remoto, utilização de moeda em espécie e virtual,
simplificação e dispensa de licitações) devem ser corrigidas para que os órgãos de controle,
fiscalização e persecução penal possam bem desenvolver seus misteres, já que as investiga-
ções vão encontrar um ambiente de pouco contato físico reduzindo ainda mais a eficiência das
técnicas tradicionais de investigação. A cooperação mediante forças-tarefas e entre os setores
público e privado mostra-se, agora, mais do que evidente.

De tal modo, que se desmedidas forem as ações ao largo da realidade social, criada es-
taria uma situação humanitária calamitosa.

Por isso que o compliance e as autoridades competentes devem se acautelar ao usa-


rem o “estado de emergência” com o propósito único de dar ênfase teórica a seus próprios
discursos, acabando por desestruturar o trabalho realizado antes da pandemia. O real estado
de necessidade exige respostas rápidas, adequadas e coordenadas, com execução de políticas
efetivas na direção de todos afetados pela crise.

O Departamento de Justiça dos Estados Unidos continua a dar uma ênfase contínua na
necessidade de que os programas sejam devidamente adaptados e dinâmicos para serem efi-
cazes. No Brasil, não poderia ser diferente. Com isso, as empresas devem continuar a ser guia-
das pelo princípio de que seus programas de conformidade podem ser baseados em riscos. A
chave é ser capaz de explicar como a organização projetou e implementou razoavelmente um
programa adequadamente robusto que é adaptado às suas características e riscos particula-
res, e como o programa foi adaptado ao longo do tempo em resposta aos riscos e lições em
evolução aprendidos, notadamente pela pandemia.

CORONAVÍRUS, COMPLIANCE E NOVAS FORMAS DE LAVAGEM DE DINHEIRO 20


Se há algum reclamo por um compliance simplificado, este não pode ser menos eficaz,
de molde a ser permitida a redução de eventual descontentamento dos clientes, com relação a
detalhes buscados e a frequência com que esses requisitos são demandados, com equipagem
de melhores instalações de armazenamento e recuperação das informações dos clientes, veri-
ficação independente mediante identificação biométrica, robótica e automação nas matrizes e
também nas filiais.

O novo regramento que disciplinou a quarentena, o isolamento e a dispensa de licita-


ções deixaram de prever crimes no caso de violações ético-jurídicas à boa administração do
bem público. O largo espectro de incidência e de certo rearranjo criminoso propiciado pela
legislação de emergência tem potencial de desorganizar os controles existentes e dificultar a
investigação dos crimes econômico-financeiros.

Embora existam desafios maiores em face da crise econômica que constitui consequ-
ência da COVID-19, importante permanecer com similares expectativas no combate à lavagem
de dinheiro, incluindo ao financiamento ao terrorismo, sendo ainda mais proativo no monito-
ramento e na investigação.

O ano de 2020 constitui uma transição. Para combater a lavagem de dinheiro, as autori-
dades reguladoras e os organismos globais devem orientar o setor econômico-financeiro para
continuar seguindo as normas tradicionais de combate ao crime econômico-financeiro, não
deixando à margem as 40 recomendações do GAFI.

06. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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