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GEOPOLÍTICA
Florianópolis – SC
Publicações AEROTD
2020
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Copyright © Faculdade de Tecnologia AEROTD 2020
Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer meio sem a prévia autorização desta
instituição.
Professor Conteudista
Álvaro Augusto Portella Trento Colle Casagrande
Design Instrucional
Sandra Mazutti
ISBN
000-00-0000-000-0
Diagramação
Marcos Elias
Revisão
Juçá Fialho Vazzata Dias
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SUMÁRIO
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APRESENTAÇÃO
Bons estudos!
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UNIDADE I - INTRODUÇÃO À GEOPOLÍTICA
Apresentação da Unidade I
Caro aluno,
Seja bem-vindo a nossa primeira unidade de estudos!
Nesta unidade, você inicia seu aprendizado com uma contextualização sobre a
Geopolítica, passando pelo conhecimento dos diversos conceitos, e história da interessante
relação entre a sociedade, o Estado e o poder.
Convido-te a me acompanhar nessa viagem pelo conhecimento.
Bons estudos!
Em nível de análise, Ratzel procurou elaborar uma teoria das relações entre a política e
o espaço e introduziu o conceito de sentido do espaço, o qual determina que certos povos
devem possuir maior capacidade de ordenar suas respectivas paisagens, de valorizar seus
recursos minerais/naturais e de se fortalecer a partir de sua própria fixação no território.
Assim como as ciências sociais da época, o modelo de Ratzel também foi inspirado na
biologia, a ponto de refletir e buscar responder os problemas que ocorriam na época, como
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as disputas territoriais e o fortalecimento e aparecimento do Estado nacional como detentor
do poder do povo e dos territórios dominados (RATZEL, 1990).
A geografia política, portanto, concentra os esforços nas relações externas e internas
entre os Estados. Todavia, ambas as categorias possuem suas respectivas problemáticas,
visto que a geografia política é um campo de estudos que explica e leva os pesquisadores e
interessados a encará-lo de duas formas: primeiro, da perspectiva da geografia e dos efeitos
dela na ação política, como visto anteriormente; e, em segundo lugar, da relevância da
geografia perante situações, problemas e atividades de ordem política.
Atreladas a esses conceitos, estão as questões referentes ao poder e às estratégias de
controle e dominação de um Estado, que ficaram implícitas na agenda da geografia política
nas primeiras décadas do século XX e desencadearam um nível de análise nacional e global
nas mais diversas áreas de estudos da disciplina. Isso pode ser expresso nos contextos
históricos do mundo pós Primeira Guerra Mundial, haja vista a nova redistribuição territorial
e a redefinição de fronteiras e a Segunda Guerra Mundial.
Fonte: https://www.slideshare.net/Veronica_Santos/geografia-poltica-e-geopoltica
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diferentes povos e estão nas origens política e econômica da sociedade moderna.
Entretanto, referente às relações entre comunidades distintas, tem-se, conforme Castro
(2001, p.7) que “[...] até o século XVII não havia um sistema de entidades políticas (estados)
exercendo autoridade suprema sobre territórios e detentoras do monopólio sobre assuntos
de guerra, o exercício da diplomacia e a celebração de tratados”.
Anterior ao surgimento do Estado nacional, as unidades governamentais existiam em
diferentes épocas sob a forma de comunas, cidades, estados e feudos, ao passo que “as
unidades econômicas formaram nesta ordem: a família, o feudo, a comunidade da vila, a
cidade e a liga das cidades”.
Até então, a política se estruturava por meios totalmente independentes do território,
tais como laço sanguíneo e comunhão de valores religiosos, ao passo que, na Idade Média, a
presença de uma comunidade em um dado território não representava a existência de uma
autoridade exercida sobre uma área geograficamente circunscrita. À época, não havia a
distinção entre as dimensões de autoridade interna e externa ou de público e privado. Nesse
sentido, o autor Spruyt (1994 apud CASTRO, 2001, p. 8) pondera:
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e métodos intelectuais que se ocupou em gerar materiais constitutivos do exercício da
autoridade referente a tais relacionamentos.
Conforme Castro (2001), em Roma, o chamado jus civile (direito civil) aplicava-se
somente aos romanos, não a estrangeiros. À medida que o Império Romano expandia-se
comercial e geograficamente, os problemas para solucionar disputas entre estrangeiros e
entre estes e os cidadãos romanos surgiam. Com a finalidade de estabelecer parâmetros de
mediação nas regiões sob o auspício de Roma, foi instituído, em 242 a.C., o praetor
peregrinus. Em sua atuação, o praetor peregrinus lançava mão de partes do direito romano e
de normas estrangeiras (principalmente gregas). Essa fusão foi baseada nos princípios de
equidade.
Esse modelo ficou conhecido como jus gentium, ou direito das gentes, pois, em todo o
período no qual “o direito romano que é apropriado e adaptado, e que se torna dominante,
adquire caráter universalista, de vocação “supranacional” e associado a valores cristãos,
sendo aplicável a toda cristandade” (CASTRO, 2001, p. 9-10), ele esteve voltado tão somente
para as relações entre pessoas, uma vez que não se tratava ainda de relações entre estados
soberanos.
Dentro dessa organização social, a existência das organizações internacionais não era
possível pelo fato de sua existência pressupor um acordo entre Estados iguais dispostos a
renunciar a alguns de seus diretos em prol da organização. Segundo Araújo (QUE ARAÚJO?
ANO, PÁGINA...), isso “era impossível naquela época em que as guerras de conquista se
sucediam e impérios se formavam e desapareciam na voragem do tempo e ao entrechoque
das ambições”.
Já nos séculos XVI e XVII, começa a tomar corpo uma nova configuração institucional,
resultado de dinâmicas políticas e econômicas estabelecidas entre grupos sociais na Europa a
partir do renascimento do comércio no século XXI e da competição política e econômica que
se estabeleceu desde então entre diversas possíveis trajetórias de desenvolvimento
institucional, tais como ligas urbanas, cidades-estados e estados soberanos. A partir dessa
competição política e econômica das tendências de desenvolvimento institucional,
consolidou-se uma organização em torno de governos capazes de garantir a vida dos
indivíduos de uma forma específica: a do Estado territorial soberano como responsável por
organizar, regular e constituir a vida social entre o conjunto de instituições (sociedade) que
habitasse determinado território, sendo elas parte de uma mesma nação.
Na segunda metade do século XVII, com a chamada Paz de Westphalia, o direito das
gentes se modificou para atender as novas realidades correspondentes ao surgimento dos
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estados territoriais soberanos: ele assumiu a condição de direito internacional. A Paz de
Westphalia é resultado de um conjunto de tratados diplomáticos firmados em 1648 entre as
principais potências europeias, que colocaram fim à Guerra dos Trinta Anos (1618-1648).
Esta última consistiu num conflito generalizado entre países europeus (católicos versus
protestantes), no qual razões de ordem religiosa se misturavam com motivações políticas.
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que recorressem à guerra, pois, se o fizessem, estariam sujeitos a sanções decretadas pela
organização que, para esse fim, possuiria um exército próprio.
Fonte: http://ahistoriapresente.blogspot.com.br/2014/07/processo-de-formacao-da-sociedade-de.html
Mesmo gozando de uma relativa paz nesse período, a forma institucional da política
internacional, eminentemente moderna, apoiada no direito internacional e obtida a partir de
Westphalia – não foi capaz de evitar a eclosão da Primeira Guerra Mundial, em 1914. O
desastre da Primeira Guerra Mundial, o conflito mais destruidor até então, esboçou
mudanças na condução da política internacional. Um conjunto de propostas para adoção de
várias iniciativas e medidas cooperativas destinadas a prevenir a guerra e manter a paz foram
apresentadas em 1918 pelo presidente estadunidense Woodrow Wilson.
Para diversos pensadores das ciências sociais e da política, como Hobbes, Locke e
Rousseau, a sociedade era definida e associada à criação do Estado, visto que suas
concepções advinham do pensamento e reflexão da natureza humana. Com sua obra Leviatã,
Thomas Hobbes foi possivelmente um dos primeiros dentre os demais filósofos políticos a
enfatizar de uma maneira sistemática as questões relativas à origem da sociedade.
Entretanto, era fundamental distinguir o estado de natureza e a sociedade para que se
justificasse a livre associação entre os homens em uma espécie de “acordo artificial”.
No decorrer das décadas, nota-se que esses conceitos foram se adaptando à realidade
das nações e do mundo e deram origem à ideia de Estado-nação – apesar da diferença entre
esses dois conceitos e seu respectivo papel no ordenamento político, econômico e cultural
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na conjuntura global. Assim, segue-se ainda a premissa de que um Estado, para ser
reconhecido como tal, deve cumprir quatro condições básicas: ter uma base territorial, ter
fronteiras definidas geograficamente, ter uma população e ter um governo reconhecido por
essa população e pelos demais Estados independentes. A diferença crucial entre o conceito
de Estado e nação, portanto, recai sob o fato de que a nação é representada por um grupo
de indivíduos que compartilham do mesmo conjunto de características, ou seja, costumes,
língua e história.
Depois dos anos 1990, o mundo passou por uma era de conflitos ideológicos seguidos
de uma reafirmação do ideal liberal, aprofundando-se cada vez mais em debates que
envolvem, implícita ou explicitamente, temas como poder e manutenção do status quo e da
situação do sistema internacional. Portanto, o cenário global vivencia uma constante
redefinição e reposicionamento dos Players no contexto socioeconômico e torna-se
impossível compreender essas relações de poder sem ter conhecimento do real significado
da palavra poder e de sua aplicação na geopolítica contemporânea.
Dessa forma, deve-se ressaltar, a priori, a relevância dos pensadores clássicos e sua
abordagem no campo da ciência política, juntamente com o entendimento dos conceitos de
realismo e idealismo, utilizados constantemente para explicar os acontecimentos e a
dinâmica internacional. O estudo da geopolítica e das relações internacionais
inevitavelmente envolve o estudo das relações de poder entre os Estados. Todavia, poder é
uma palavra que pode ser usada em diversos contextos e de formas distintas. No campo
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geopolítico internacional, o mais importante a se compreender é que a quantidade de poder
que uma nação possui não representa, necessariamente, sua política ou comportamento no
cenário global.
Quando nações agem e fazem uso do poder para impor seus interesses – a exemplo de
medidas coercitivas – ou simplesmente se deixam ser influenciadas pelas outras, há uma
instabilidade e surgem descontinuidades na política entre os Estados. Há um confronto entre
a manutenção do poder e o uso efetivo da força. Uma das abordagens que define as
questões de poder nas relações internacionais é a descrita como realismo defensivo,
caracterizado por Kenneth Waltz como a tendência que as nações possuem de buscar o
equilíbrio, dando origem ao termo balança de poder.
Fonte: https://image.slidesharecdn.com/10hansmorgenthau-120301145450-phpapp02/95/10-hans-
morgenthau-17-728.jpg?cb=1330613910
Assim, a balança de poder, seja ela regional, global ou sistêmica, pode ser também
unipolar, bipolar, multipolar equilibrada ou multipolar desequilibrada:
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• Multipolaridade desequilibrada: há três ou mais Estados dentro da balança de
Poder, mas somente um deles possui mais poder que os demais.
Contudo, para John Mearsheimer, em sua obra The tragedy of great power politics
(2001), o poder ou a falta dele determina tanto a habilidade de influenciar quanto de ser
influenciado. Essas demonstrações de poder podem ser diferenciadas entre duas vertentes.
A primeira é relacionada ao poder potencial, que leva em conta os tamanhos da população e
da riqueza do Estado em questão, os fatores que sustentarão as forças. A segunda,
relacionada ao poder concreto, ilustra o panorama contemporâneo repleto de intervenções
militares e guerras regionais, no qual se destaca o poderio bélico. Aqui, a ênfase é dada às
forças armadas e às forças terrestres, navais e aeronáuticas, sendo a principal delas a
terrestre, visto que, no caso de uma conquista territorial, é ela que controlará e ocupará a
região.
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Logo, uma economia forte não investe necessariamente apenas em armamentos e
desenvolvimento de tecnologias bélicas, mas sim sustenta e expande sua indústria para
abranger e competir no mercado internacional. Ao valer-se dos recursos minerais e naturais,
do petróleo e da tecnologia, grande potencial e diferencial entre as nações que os detêm ou
não –, a economia se torna uma das principais fontes de poder e sinônimo de liderança
global.
Vídeo – Geopolítica
https://www.youtube.com/watch?v=XNjJru0cU3I
_________________________________________________________________
BACKHEUSER, Everardo. Geopolítica e Geografia Política. RBG. IV, n. 1. Rio de Janeiro: IBGE,
1942.
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CARVALHO, Marcos B. de. Ratzel: releituras contemporâneas. Uma reabilitação? São Paulo:
AGB, n. 13, 1997.
CASTRO, Iná Elia de. Geografia e Política. São Paulo: Bertrand Brasil, 2010.
COSTA, Wanderley Messias da. Geografia Política e Geopolítica. São Paulo: EDUSP, 2008.
FONT, Joan Nogue; RUFI, Joan Vicente. Geopolítica, Identidade e Globalização. São Paulo:
Annablume, 2006.
HOBSBAWM, Eric J. Nações e nacionalismo desde 1780: programa, mito e realidade. São
Paulo: Paz e Terra, 2004.
MORAES, Antonio Carlos Robert. Geografia: pequena história crítica. 19. ed. São Paulo:
Annablume, 2003.
VIZENTINI, Paulo Fagundes. Relações internacionais do Brasil: de Vargas a Lula. São Paulo:
Ed. Fundação Perseu Abramo, 2003.
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unidade, passaremos a estudar as relações entre geopolítica e territórios, sob um enfoque
clássico e aplicado à estratégia militar.
Vamos juntos!
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UNIDADE II - GEOPOLÍTICA E TERRITÓRIOS – UMA
ABORDAGEM ESTRATÉGICA CLÁSSICA
Apresentação da Unidade II
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Figura 4 – Mapa mundial
Fonte: http://www.estadosecapitaisdobrasil.com/mapa-mundi/
Bons estudos!
Quanto à posse de uma ou mais saídas para o mar, a saída para o oceano é de extrema
importância para um Estado, pelo fato de proporcionar acesso às rotas oceânicas,
fundamentais para o seu maior desenvolvimento. Caso seja um Estado mediterrâneo, estará
sempre dependente de um vizinho. Os Estados não se satisfazem com as saídas para o mar
em um só sentido, normalmente procuram acesso também no sentido oposto, o que poderá
ser obtido através de ações políticas e pacíficas com Estados vizinhos, mediante “corredores
de exportação”. A situação ideal é a que o Estado possua acesso territorial aos mares
opostos.
Quanto ao acesso às costas opostas, o acesso contém alto grau de importância por
facilitar a projeção pacífica do Estado aos seus confrontantes, através dessa fronteira sem
grandes obstáculos, que são os mares. Desde a Antiguidade, a História constata a forte
atração pelo domínio físico das costas opostas, o que na atualidade serve para facilitar as
relações sócio-econômico-culturais entre os Estados. Quanto ao acesso às grandes rotas
marítimas de suprimento, tais acessos são altamente importantes para assegurar o progresso
dos Estados e, por vezes, a própria existência de alguns. O acesso direto a essas rotas facilita
a inserção do Estado no contexto mundial.
Quanto à forma e posição dos territórios dos Estados, esses dois fatores geográficos
exercem significativa influência nas decisões políticas dos Estados, tanto no aspecto
econômico quanto no social, e, ainda, com relação à sua segurança, chegando a refletir até
mesmo em suas relações internacionais.
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2.2 TERRITÓRIOS QUANTO ÀS FORMAS GEOGRÁFICAS.
A forma do território de um Estado é o espaço geográfico que ocupa, limitado por suas
fronteiras, existindo formas mais favoráveis à coesão e à defesa, outras menos favoráveis e,
outras, ainda, desfavoráveis, possibilitando cisão ou desarmonia, assim como dificultando a
defesa. Há dificuldade muito grande em se padronizar a classificação dos Estados pela sua
forma, tendo em vista as mais diversas formas territoriais existentes. Para facilitar esta
identificação em seus estudos de Geopolítica, estabeleceram-se quatro formas básicas, as
quais devem enquadrar todos os Estados, ainda que por aproximação. É uma metodologia
simples e plenamente aceita. São elas:
a) Forma compacta
Esta forma é a mais favorável à coesão do Estado pelo seu centripetismo cultural e
político-administrativo. Favorece, ainda, um crescimento econômico mais equilibrado pela
maior facilidade no intercâmbio comercial interno, facilitado pela circulação interna. Contém
uma maior área concentrada dentro de um mesmo perímetro, além de suas fronteiras
estarem também relativamente equidistantes do centro, favorecendo suas ações de defesa.
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Figura 5 – Forma Compacta (Espanha)
Fonte: http://slideplayer.com.br/slide/296785/
b) Forma alongada
Quanto maior for o alongamento, maior será sua vulnerabilidade pela distância de seus
pontos extremos. Esta forma possui duas direções básicas diferentes que proporcionam
efeitos diversos. A forma alongada na direção dos meridianos (norte-sul) normalmente
possibilita a desarmonia pela antropologia cultural diferenciada, influenciada principalmente
pelas características climáticas distintas, podendo ocasionar até antagonismos sociais e
políticos.
Além disso, suas extremidades (em relação ao maior eixo) criam dificuldades para a
administração central. Economicamente, é favorável pela complementaridade da produção
agrícola diversificada e, quanto à defesa, é muito vulnerável, podendo o território ser
dividido nas suas partes mais estreitas.
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Figura 6 – Forma Alongada (Itália)
Fonte: http://prati.com.br/genealogia/mapas-italiabrasil
c) Forma recortada
Esta forma também possui duas variantes que produzem efeitos diversos.
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Figura 7 – Forma Recortada (Grécia)
Fonte: http://profesorguillermoroca.blogspot.com.br/2015/
d) Forma fragmentada
Dentre todas as formas de território, esta é a mais desvantajosa, tanto no aspecto
cultural, político e econômico quanto no administrativo, na defesa de sua unidade e de sua
soberania. Essa descontinuidade territorial pode ser terrestre ou marítima. Na terrestre, há
possibilidade da criação de enclaves, causadores de problemas por vezes insolúveis.
Fonte: https://imagenseviagens.com.br/2017/02/16/um-toque-de-japaoein-hauch-von-japana-taste-of-
japan/comment-page-1/
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Concluindo, foram apresentados resumidamente aspectos quanto às formas territoriais
dos Estados, a serem consideradas no processo da análise geopolítica, juntamente com
outras variáveis.
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Continentalidade ou maritimidade – é a relação entre a extensão da fronteira terrestre
e a soma da extensão da fronteira terrestre com a extensão da fronteira marítima do Estado,
gerando um quociente de continentalidade (QC).
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• Mistos: quando existem tanto fronteiras terrestres quanto marítimas. Seu quociente
é que fornecerá a maior ou menor proporcionalidade de uma ou de outra. Ex.:
Brasil, Estados Unidos, Argentina.
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navegáveis, apresentando quedas ou saltos, são valiosas fontes de energia elétrica, fator de
crescimento econômico e desenvolvimento social.
Texto – Saiba um pouco mais sobre a larga fronteira marítima italiana e a crise
imigratória na Europa
https://oglobo.globo.com/mundo/italia-triplica-patrulha-maritima-desafia-ue-
evitar-novos-naufragios-de-imigrantes-10352378
_________________________________________________________________
BACKHEUSER, Everardo. Geopolítica e Geografia Política. RBG. IV, n. 1. Rio de Janeiro: IBGE,
1942.
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CARVALHO, Marcos B. de. Ratzel: releituras contemporâneas. Uma reabilitação? São Paulo:
Terra Livre. São Paulo: AGB, n. 13, 1997.
CASTRO, Iná Elia de. Geografia e Política. São Paulo: Bertrand Brasil, 2010.
COSTA, Wanderley Messias da. Geografia Política e Geopolitica. São Paulo: EDUSP, 2008.
FONT, Joan Nogue; RUFI, Joan Vicente. Geopolítica, Identidade e Globalização. São Paulo:
Annablume, 2006.
HOBSBAWM, Eric J. Nações e nacionalismo desde 1780: programa, mito e realidade. São
Paulo: Paz e Terra, 2004.
MORAES, Antonio Carlos Robert. Geografia: pequena história crítica. 19. ed. São Paulo:
Annablume, 2003.
VIZENTINI, Paulo Fagundes. Relações internacionais do Brasil: de Vargas a Lula. São Paulo:
Ed. Fundação Perseu Abramo, 2003.
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Nesta unidade, estudamos as relações entre geopolítica e territórios, notadamente a
geopolítica aplicada ao campo da estratégia militar.
Vamos em frente!
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UNIDADE III - GEOPOLÍTICA E RELAÇÕES
INTERNACIONAIS – UMA ABORDAGEM
CONTEMPORÂNEA
Caro aluno,
Seja bem-vindo à nossa terceira unidade!
Na unidade anterior, vimos as relações entre geopolítica e territórios, especialmente a
geopolítica aplicada ao campo da estratégia militar.
Na unidade III, vamos estudar sobre a geopolítica e as relações internacionais, com
enfoque para a integração e regionalização, política externa e sistema internacional.
Bons estudos!
Contudo, é evidente que os resultados desse movimento não são percebidos de forma
equitativa entre os países. O sistema internacional é composto por países heterogêneos,
sobretudo no aspecto econômico. Logo, é notável que a capacidade de alguns Estados para
levar adiante seus interesses é diferente da capacidade de outros. Nota-se, portanto, que a
igualdade estabelecida pelo Direito Internacional – todos os Estados são iguais entre si – não
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se aplica a todas as arenas das relações internacionais, o que faz com que, dentro das
possibilidades e constrangimentos presentes no sistema internacional, cada Estado busque
ajustar adequada e estrategicamente suas ações.
Nesse sentido, o objetivo desta unidade, num primeiro momento, será o de analisar
sucintamente e a partir de uma abordagem histórica as bases sob as quais distintos
indivíduos, comunidades, cidades, cidades-estados e Estados interagiam e estabeleciam suas
relações em um período anterior ao desenvolvimento das teorias das relações internacionais
e da geopolítica moderna. Em seguida e a partir da consolidação das relações internacionais
como campo de estudo científico, veremos dentro de que contextos alguns dos principais
discursos teóricos dessa nova ciência se desenvolveram e, da mesma forma, observaremos
como esses discursos abordam as possibilidades de cooperação e o papel das organizações
internacionais nas relações internacionais contemporâneas.
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Quanto ao caráter e conceito das relações internacionais, como pode ser observado
nos veículos de comunicação, na sociedade em geral ou até mesmo nos meios acadêmicos, a
veiculação e o tratamento empreendidos à expressão relações internacionais nem sempre
produz um sentido claro ao que tal expressão deseja conferir. A dificuldade em empregar um
melhor significado à expressão é inerente, em parte, ao próprio termo internacional, que, na
evolução do modo de organização social, perdeu seu significado. Atualmente, a expressão
relações internacionais não significa interações entre nações, mas entre Estados, governos e
outros atores internacionais.
Esta última atribuição diz respeito à ciência das relações internacionais que, a exemplo
de outros campos do conhecimento, como a ciência política, a sociologia e a economia,
refere-se a um determinado conjunto de agentes (Estados, organizações internacionais,
organizações não governamentais, transnacionais etc.), instituições e processos específicos.
Ao desconsiderar o que aparentemente já está óbvio, ou seja, a gama de contatos e
interações de diversas naturezas que envolve tal conjunto de agentes, instituições e
processos específicos, a expressão relações internacionais pode ser traduzida de modo mais
simplista por questões transnacionais. Logo, são as questões transnacionais que compõem a
ampla agenda internacional que, por sua vez, é o alvo das ocupações dos estudiosos de
relações internacionais.
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Entretanto, por suas complexidades, interações e abrangências, já mencionadas
anteriormente, não temos a pretensão de analisar as relações internacionais em sua
totalidade. Faz-se necessário, tão somente, esclarecer para o leitor o que se pode entender
ou o que se pode explicar quanto ao emprego da expressão relações internacionais dentro
de diferentes contextos ou abordagens.
A consolidação das relações internacionais como ciência social é recente. Muito
embora haja traços na história da humanidade que apontam para uma preocupação com o
fundamento político de uma ordem social pacífica no mundo desde a Antiguidade 1, o estudo
das relações internacionais é relativamente recente se comparado a outros campos das
ciências sociais (CASTRO, 2001).
Numa perspectiva histórica dos fatos que antecedem a política internacional e sua
teoria, Marcus Faro de Castro argumenta que o estudo acadêmico das relações
internacionais ganhou corpo e identidade própria somente no século XX, a partir do período
entre guerras e com o desenvolvimento da teoria das relações internacionais (TRI) (CASTRO,
2001). Desse modo, podemos admitir que o surgimento dessa ciência tem as preocupações
de como estabelecer os modos de interação das diferentes sociedades ao longo dos séculos.
Isso significa dizer que tais interações, dados os interesses particulares de cada parte,
geravam e geram situações conflituosas ou de cooperação. Assim, será importante
entendermos aqui como se organizavam as interações entre diferentes sociedades ao longo
de alguns séculos, ou seja, precisamos entender os precedentes históricos das teorias das
relações internacionais.
Fonte: http://jean-paulgblog4school.blogspot.com.br/2014/02/what-are-benefits-of-multiculturalism.html
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3.2 GEOPOLÍTICA E POLÍTICA EXTERNA
Em outras palavras e seguindo a mesma linha de análise, a política externa pode ser
definida como um conjunto de parâmetros, instrumentos, limites e procedimentos que
orientam a tomada de decisões de autoridades de um país, referentes às relações desse país
com o restante do mundo, quanto à sua inserção internacional e em função dos seus
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interesses. Diante dessas percepções, é possível reconhecer que as diferentes atitudes ou
posições de formulação das políticas implementadas pelos Estados são reflexos do interesse
nacional de cada Nação. Assim, tem-se que o interesse nacional encontra-se no âmago da
política externa dos estados e, por conseguinte, no centro das relações internacionais, que
por meio dele os chefes de estado tomam as decisões quanto às iniciativas diplomáticas, os
acordos comerciais, a constituição de blocos econômicos, os votos nas instâncias
multilaterais, as concessões de favores e a obtenção de vantagens entre os Estados.
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Em relação ao desenvolvimento, a pergunta que se faz é: como fazer das relações
internacionais de comércio uma agenda de inserção positiva? A resposta vem em linhas
gerais. A inserção internacional de um país e sua política externa devem considerar três
campos fundamentais de atuação nas relações internacionais:
Para que um Estado seja reconhecido, ele deve cumprir quatro condições essenciais.
São elas:
• O Estado deve ter uma base territorial e uma fronteira definida geograficamente;
De acordo com Mingst (2009), na visão liberal, o Estado é soberano, porém, ele não é
um protagonista autônomo. Os liberais enxergam o Estado como uma arena pluralista que
possui a função de manter as regras básicas do jogo. Muitas vezes, esses interesses
competem entre si dentro de uma estrutura pluralista. A visão liberal conceitua o Estado
como sendo: a) um processo que envolve interesses concorrentes; b) uma reflexão dos
interesses governamentais e da sociedade; c) o repertório de vários interesses nacionais que
estão sempre mudando; e d) o possuidor das fontes fungíveis de poder.
Muitas pessoas entendem que a definição de Estado é a mesma de nação. Mas isso é
um mero engano. Uma nação é composta pelo povo, ou seja, um grupo de pessoas que
possui um conjunto de características comuns. Aqui, leva-se em consideração o
conhecimento disseminado por novas tecnologias e pela educação. Na Nação, as pessoas
devem fidelidade ao seu representante legal, ou seja, o Estado. A imprensa é utilizada de
maneira a difundir a língua nacional e os meios de transporte podem colaborar para que se
visualize as similaridades e diferenças entre os povos in loco.
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A maior fonte de instabilidade e de conflito existente são as disputas de território por
Estados e o anseio de algumas nações de criarem seus próprios Estados. O conflito entre
judeus e árabes tem sido o mais intenso e rude nos últimos tempos. Assim, pode-se afirmar
que uma nação é mais do que uma entidade histórica e o Estado é mais do que uma
entidade jurídica. Diante disso, é possível conceituar o Estado de diversas formas: a) O
Estado é uma ordem normativa munida de um símbolo e de crenças que unem o povo que
vive dentro dele; b) é a entidade que detém exclusivamente poder para uso da violência
dentro da sociedade; e c) além de ser uma entidade funcional, centraliza e unifica várias
responsabilidades importantes.
A visão realista do Estado defende uma visão mais estatista, isto é, voltada para o
Estado, que passa a ser um protagonista autônomo restringido apenas pela monarquia
estrutural do sistema internacional. O Estado tem o poder para trabalhar com assuntos que
se referem a problemas internos que afetam sua população, sua forma de governo, sua
economia e sua segurança. Ele tem um conjunto consistente de metas, definido em termos
de poder (poderio militar). Na visão realista, o Estado é: a) um protagonista autônomo; b)
circundado por uma estrutura de permanente conflito e um sistema anárquico; c) é
soberano; d) é guiado por um interesse nacional que é definido em termos de poder.
Há ainda aqueles que identificam duas outras visões de Estado direcionadas a enfatizar
o papel do capitalismo e da classe capitalista em sua formação e funcionamento do Estado. A
visão marxista instrumental o considera como um agente executor da burguesia. A visão
marxista estrutural, por sua vez, o considera como aquele funciona dentro da estrutura do
sistema capitalista. Nesta, o Estado é levado a expandir-se por causa dos imperativos do
sistema em questão. A visão radical de Estado marca que este é: a) o agente executor da
burguesia; b) influenciado por pressões da classe capitalista; e c) restringido pela estrutura
do sistema capitalista internacional.
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este é: a) entidade construída socialmente; b) repositório de interesses nacionais que
mudam ao longo do tempo; c) moldado por normas nacionais que mudam as preferências;
d) influenciado por interesses nacionais que estão sempre mudando e que modelam e
remodelam as identidades; e e) socializado por OGIs e ONGs.
Ao mesmo tempo em que uma grande extensão geográfica oferece poder ao Estado,
ela pode trazer sérios problemas, como os relacionados à invasão territorial. Além disso, a
defesa de um território tem um custo muito alto e também pode trazer problemas ao país.
No final da década de 1890, surgiram duas visões distintas referentes à importância
geográfica em relações internacionais. A primeira visão foi escrita pelo oficial da marinha e
historiador Alfred Mahan (1840-1914), que destacou a importância de controlar o mar e
afirmou que o Estado que conseguia controlar as rotas consequentemente passaria a
controlar o mundo. Em 1904, o geógrafo Halford Mackinder (1861-1947) contradisse essa
versão e afirmou que o Estado que possuísse mais poder era aquele que conseguiria
controlar o “coração” geográfico da Eurásia.
Segundo Mingst (2009), o fato de um país possuir uma grande quantidade de recursos
naturais não significa que ele está livre de ameaças. Ao contrário, ele se torna alvo de ações
agressivas, como a que ocorreu no Kuwait na década de 1990. Além disso, o país que não
possui recursos naturais não pode ser visto como desprovido de potencial. O Japão, por mais
45
que não seja rico em recursos naturais, é um país com capacidade para negociar outros
elementos, que o tornam uma nação poderosa na comunidade mundial.
Outra fonte de poder é a população. Países como China, Índia, EUA e Rússia são
considerados grandes potências de poder. Mesmo se uma grande população produzir uma
vasta gama de bens e serviços, as características dessa população podem servir como
restrição ao poder do Estado, pois ela pode ter baixo nível educacional e de serviços sociais.
Em contrapartida, Estados que possuem alto nível educacional e população pequena, como a
Suíça, podem ocupar nichos econômicos e políticos diferenciados.
Os Estados permanecem como núcleos de ação política internacional, mas isso não
quer dizer que eles contêm somente os “requisitos de poder” – semelhante ao conceito
utilizado pela Europa. Independentemente de sua força, os núcleos são a forma dominante
de organização política dos povos e uma ferramenta para a expressão internacional. Dessa
forma, os Estados conseguem se relacionar e adquirir oportunidades ímpares entre eles,
além de manter as relações diplomáticas definidas pelo reconhecimento mútuo entre os
interlocutores.
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mostra mais tênue, o que naturalmente obriga os analistas a redobrarem sua atenção para o
nível interno de cada Estado.
Aliado a isso, existem formatos utilizados pelos Estados para fazerem prevalecer suas
respectivas soberanias no plano externo. Certamente, há casos em que a soberania de um
Estado é como uma ficção jurídico-política, do mesmo modo como há casos em que os
Estados desfrutam de preponderâncias incontrastáveis. Ainda há quem visualize Estados
fortes e fracos, causados pelo fenômeno da interdependência, que é igualmente
característico de outros níveis da interação dos Estados e opera em três níveis diferentes:
• Entre iguais ou quase iguais: existe uma teia de interesses de diversas ordens que
tem como base o sistema capitalista de produção e a democracia liberal como forma
de organização política;
O processo de desenvolvimento dos países menos avançados não pode ser uma
barreira para a interdependência ou uma forma de prendê-los a um insolúvel círculo vicioso
socioeconômico. Tal interdependência é caracterizada pela subordinação principalmente dos
países menos desenvolvidos, que acabam como fornecedores de matérias-primas para os
mais desenvolvidos e consequentes clientes de uma produção de maior densidade
tecnológica, o que os impede de ascender para uma genuína independência econômica.
Busca-se, enfim, substituir a interdependência vertical por uma interdependência
horizontal, baseada nos princípios de cooperação e de oportunidades econômicas iguais.
Entretanto, com a crescente interconexão tanto nos níveis interno como externo da
ação estatal, os Estados têm a oportunidade de intervir diretamente nos processos
decisórios de outro, o que leva a conflitos externos entre eles, já que todos os Estados são
soberanos, ou seja, nenhum Estado tem o direito de interferir na soberania de outro. Aliado
a isso, outros fatores que exercem grande influência nas relações entre as nações foram
48
difundidos no contexto internacional, tais como entidades transnacionais, partidos políticos
com ramificações além das fronteiras de seu país, empresas multinacionais e grupos de
pressão econômica ou ideológica.
Fonte: https://www.slideshare.net/gibiteca/a-guerra-fria-parte-i-63340727
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As empresas multinacionais buscam regular suas operações mediante políticas de
unificação de mercados. Essas políticas não se limitam apenas às fronteiras nacionais, elas
ultrapassam essas barreiras com vistas à expansão dos negócios. As multinacionais contam
com a tecnologia, uma importante ferramenta que nos últimos tempos tem avançado cada
vez mais. O aprimoramento da tecnologia no campo da comunicação, por exemplo,
proporcionou um rápido crescimento na difusão das informações e das ideias, o que facilitou
ainda mais a ação do Estado em determinadas áreas.
Os Estados podem ser uma organização social muito resistente, com tendência a
subsistir inclusive em condições desfavoráveis. A Rússia soviética, por exemplo, depois da
Revolução Vermelha (1917), conseguiu adaptar sua diplomacia e estratégia de acordo com as
necessidades de convivência interestatal, eliminando traços de uma revolução que havia
definido o início de sua existência. Foram criados um estabelecimento diplomático
tradicional e um exército regular no intuito de se suprir os anseios estatais do regime
revolucionário. Após 1945, essa forma estatal continuou a existir na União Soviética.
Outro assunto pertinente à ação e interação dos Estados é a diplomacia. Por meio dela
e da estratégia, dão-se todos os negócios que envolvem os Estados. A diplomacia e a
estratégia se complementam e estão subordinadas à política externa. Em termos mais claros,
a estratégia poderia ser definida como a arte de vencer e, a diplomacia, como a arte de
convencer.
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• Um setor do serviço público, destinado às relações políticas entre governos ou com
organizações intergovernamentais (excluídos os serviços consulares);
Tais conceitos estão firmados num tipo histórico particular de organização das
sociedades humanas, o Estado moderno, que se refere ao “serviço público”, ou seja, às
pessoas que ocupam funções e executam tarefas em nome do Estado.
Num primeiro sentido, diplomacia seria sinônimo do conjunto das relações que uma
comunidade humana relativamente homogênea e diferenciada de outras mantém com
outras comunidades de idênticas características. Numa perspectiva filosófica, seria um
fenômeno ligado à “alteridade” de uma sociedade, ou seja, ao relacionamento de uma
“unidade política” com outras unidades políticas. A diplomacia nada mais seria do que o
conjunto das relações exteriores dessas entidades, seus relacionamentos com o outro (a
alteridade), por oposição conceitual às relações internas e humanas, presentes num universo
totalmente fechado e unicamente nele considerado.
Figura 11 – Diplomacia
Fonte: http://keywordsuggest.org/gallery/796739.html
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de natureza bélica, em algum momento houve a necessidade de tréguas, mesmo que
fracassadas. Isso já era indício da manifestação primitiva da arte da diplomacia.
Por meio da Paz de Westphalia, em 1648, houve uma nova era na política
internacional. A ordem mundial passou a ser regida pelo Papa e pelo Império, o que
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consagrou um sistema internacional baseado na coordenação dos Estados, cada um com seu
território definido. Consequentemente, começou a se generalizar no continente a política do
equilíbrio e a diplomacia passou para um estágio mais moderno, com práticas protocolares
provocadas por sucessivos congressos que reuniam representantes das principais potências.
Durante os séculos XVII e XVIII, ficou consagrado o equilíbrio entre as potências no que
diz respeito à defesa da ordem internacional então vigente, isso mesmo com o cataclisma
provocado pelos avanços de Napoleão (França) – aqui, o equilíbrio internacional foi
restabelecido pelo Congresso de Viena (1815). O século XIX foi marcado por uma diplomacia
que confrontou os ensinamentos da Santa Aliança e do Concerto Europeu. O espírito de
nacionalidade tomou conta principalmente de nações como Alemanha e Itália. Devido à
impotência do Concerto Europeu em assimilar as ambições da Alemanha unificada, deu-se
início a Primeira Guerra Mundial.
Diante desses fatos, pode-se afirmar que a diplomacia nada mais é do que a síntese
das atividades do Estado no plano externo. Para se tornar eficaz, ela depende de um
caminhar unificado na formulação e na condução das relações exteriores da instituição que
se ocupa delas profissionalmente. A multiplicidade de representantes (porta-vozes) na área
externa pode certamente produzir descoordenação e redução da capacidade de negociação,
o que interfere inclusive no âmbito exterior do país.
A diplomacia de qualquer país tem por objetivo justamente influir, tanto quanto lhe é
possível, na evolução da realidade internacional. O diplomata tem como uma de suas
principais atribuições incorporar o conhecimento intelectual recebido na universidade com
as informações por ele acumuladas em seu trabalho teórico e prático. Aliado a isso, deve-se
considerar sempre todo o vínculo com as ciências sociais e políticas.
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A diplomacia sempre será uma tarefa complexa tanto no plano operacional quanto no
cognitivo, afinal, não é fácil medi-la e ela poderá por diversas vezes depender do empenho,
da disciplina e do talento individual do agente diplomático. É claro que há ainda
circunstâncias aleatórias que influenciam de forma decisiva, pois não são raros tanto os
problemas que se acumulam e se reforçam como os êxitos alcançados além do que se podia
esperar.
Conforme Soares (2001), a diplomacia bilateral é definida como a forma de ação dos
países para a adesão a seus relacionamentos com os demais países ou com outras entidades
a eles vinculadas, como é o caso das organizações internacionais intergovernamentais (OIGs).
Os Estados podem receber em seus territórios três tipos de representações estrangeiras
permanentes: as repartições consulares, as missões diplomáticas e as delegações de OIGs.
Durante toda a Antiguidade, o homem passou a enviar agentes para cuidar de assuntos
pertinentes a seus grupos societários. Já o envio de missões de representantes de
governantes a outras nações ou de exércitos sempre esteve presente na história da
humanidade. Essas missões eram chamadas de embaixadas.
O surgimento dos Estados modernos fez com que os Estados enviassem representantes
pessoais dos monarcas para outros Estados. Aos poucos, as normatizações que passariam a
regulamentar o trabalho diplomático foram instauradas: estabelecimento de uma missão,
recebimento de embaixadores e de seus privilégios e imunidades, princípios de boa-fé e
cessações dos Estados que os recebia.
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Nos dias de hoje, as atividades da diplomacia exercida nas missões diplomáticas
permanentes são: a) representar o Estado de maneira a comprometer o próprio Estado, pois
este possui todos os direitos e deveres decorrentes de acordo com o Direito Internacional
Público; b) informar o Estado que os envia de todos os fatos que possam lhe interessar, isto
é, cabe ao Estado formular sua política exterior de acordo com os dados e informações
fornecidos pelos agentes; c) negociar, pois a missão se torna o único agente em nome do
Estado legitimado pelo Direto Internacional; d) promover relações amistosas, comerciais,
culturais, econômicas e cientificas e, dessa forma, fortalecer a relação entre o Estado
acreditante e o Estado acreditado (SOARES, 2001).
Outra diplomacia usada pelos Estados é a multilateral. Nela, são praticadas relações de
reciprocidade em situações coletivas. Assim, esse tipo de diplomacia pode se dar em
encontros multilaterais nos quais são discutidos assuntos de interesse comum dos Estados
participantes. As pautas das reuniões não seguem uma regra rígida e são essencialmente
determinadas pelos Estados ou OIGs que as convocam.
De acordo com Soares (2001), o traço mais forte das relações internacionais do século
XX (e provavelmente do século XXI também) é o valor crescente da diplomacia multilateral
parlamentar. Nas palavras de Mingst (2009, p. 105):
Uma diplomacia normalmente se inicia com uma barganha por comunicação direta ou
indireta com o intuito de obter um acordo sobre determinada questão. A barganha pode
surgir de maneira clara em negociações formais, afinal, os Estados, além de não perderem o
foco em suas próprias metas, possuem informações sobre seus “oponentes” e também sobre
seu potencial de poder. Os países usam cada vez mais a diplomacia pública, que está
conectada à comunicação. Essa diplomacia visa criar uma imagem global que realce a
capacidade de um Estado em alcançar seus objetivos diplomáticos.
Mingst (2009) destaca que os Estados recorrem ao poder econômico para influenciar
os demais. As sanções podem ser usadas positiva ou negativamente. A sanção positiva
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direciona o Estado de modo a se obter um determinado rumo desejado. Geralmente, as
sanções negativas são as mais utilizadas pelos Estados. Por meio dela, os países buscam se
resguardar e punir o Estado que se desloca em posições não desejadas. Na década de 1990,
os Estados passaram a congelar ativos e impor sanções a produtos primários. Eles tinham na
força uma arma para obrigar um Estado a fazer sanções.
Em nível geral e com uma programação específica, fica claro que um planejamento
constante é intrínseco quando nos referimos à interação dos Estados e aos diferentes planos
da diplomacia. Mesmo sendo um objetivo de difícil consecução, não é necessário que todos
os momentos do programa sejam elaborados formalmente. A permanente mutação das
realidades dificulta em especial a formalização constante.
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A seguir, analisaremos como o sistema internacional se estabelece após a identificação
da ação e da interação dos Estados.
Mas o que significa o termo sistema quando aplicado às relações internacionais? Nesse
contexto, sistema é uma união de algum modo regular que se dá por meio do agrupamento
de unidades, objetos ou partes. Os sistemas reagem de modo constante e têm fronteiras
separadas um do outro, sendo que pode haver permuta de fronteiras (MINGST, 2009).
Fonte: https://www.10emtudo.com.br/artigo/a-organizacao-das-nacoes-unidas/
O criador da teoria geral dos sistemas, Von Bertallanfy, definiu o termo sistema como
um conjunto de elementos que mantêm interação. Outros cientistas classificam sistema
como um conjunto de objetos e das relações entre esses objetos e entre seus atributos. Além
dessas definições, alguns especialistas consideram como sistema todo grupo de objetos que
mantiverem relacionamento estrutural característico e que interajam à base de processos
característicos. Dessa forma, todas essas definições formam uma ideia de grandeza
metodológica do termo sistema, que pode ser aplicado tanto no campo social quanto no das
ciências naturais.
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• Primeiro conceito: o sistema internacional não é uma estrutura, mas um processo
que determina diversas frentes de interação entre diferentes partes e vários protagonistas
que interagem. Além dos Estados, também estão entre os protagonistas as organizações
governamentais internacionais (OIGs) (como as Nações Unidas), as organizações não
governamentais (como a Human Rights Watch), as corporações multinacionais e os
protagonistas subestatais (parlamentos e burocracias);
• Segundo conceito: está relacionado à tradição inglesa de sociedade internacional.
Os eruditos Hedley Bull e Adam Watson, dois dos principais mentores dessa tradição,
afirmavam que o sistema internacional era compreendido por comunidades políticas
independentes, enquanto uma sociedade internacional, composta por vários protagonistas,
define-se pela comunicação, pelos interesses e pelas regras comuns. Os liberais enxergam o
sistema internacional como um processo para interações positivas;
• Terceiro conceito: é o do institucionalismo neoliberal, que visualiza o sistema
internacional como anárquico. Aqui, o Estado se comporta de acordo com seu próprio
interesse. A interação entre protagonistas é algo positivo para os liberais, pois instituições
fundadas por interesses próprios modelam o comportamento dos Estados de acordo com a
percepção que obtêm por meio das futuras interações com outros protagonistas.
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Outra escola teórica dominante de relações internacionais é a escola realista, que
acredita que a política é governada por leis objetivas enraizadas na natureza humana. O
conceito de realismo é o do interesse definido como poder e não possui um significado
inalterável. O realismo tem o conhecimento do significado moral da ação política, mas não
reconhece as aspirações morais de um Estado como as leis morais que governam o universo.
A escola leva em conta a política, uma esfera autônoma da atividade humana.
A terceira escola teórica é a escola radical, que busca definir a estrutura em termos de
estratificação. Assim, o sistema internacional seria estratificado conforme os recursos que
cada Estado possui, como poder econômico ou petróleo. A estratificação do poder e os
recursos formam a divisão entre aqueles que têm (Norte) e aqueles que não têm (Sul). Para
se ter uma noção, as principais potências (EUA, Japão, Alemanha, França, Rússia e Inglaterra)
foram responsáveis por aproximadamente metade do PIB mundial.
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do Estado. Independentemente disso, realistas visualizam essas restrições como positivas, de
acordo com a distribuição do poder, já os radicais as veem como negativas ou mais neutras,
como uma arena e um processo de interação. Os construtivistas, por sua vez, abordam uma
teoria mais evolucionária, vinculada às mudanças de normas e ideias que modelam o
sistema. Eles não enxergam diferenças bruscas entre o sistema internacional e o sistema
interno e desprezam a importância dada à estrutura do sistema internacional.
Na medida em que o poder é tido como único para definição do sistema internacional,
não haveria como objetar as pressões exercidas pelos Estados mais fortes no intuito de
constranger os mais fracos a determinados comportamentos. Pressões são normais e fazem
parte do cotidiano. As pressões podem surgir como forma de ameaça, no intuito de
persuadir ou até mesmo de compelir sem usar a força como ferramenta, ou seja, se valer de
estratégias para evitar ser enganado ou aterrorizado. É importante ressaltar que a força não
está ligada apenas à violência, ela também pode ser definida como o poder de barganha que
um determinado país possui. Como exemplo, podemos citar o Brasil e a África do Sul,
grandes emergentes dos Brics que possuem essa força de negociação mediante as grandes
potências.
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territorial, ajudam a garantir a integridade do Estado. Entender a realidade do contexto
internacional requer uma análise profunda e apurada por parte do analista. É importante ter
uma visão macroglobal aliada à realidade interna dos países em questão.
A balança de poder é o modelo mais clássico da teoria das relações internacionais. Ela
passou a ser utilizada no momento do surgimento das cidades-estados italianas, no século
XIX (período do Renascimento), e com a política de equilíbrio nas relações intraeuropeias. O
equilíbrio de poder é delimitado pela renúncia da possibilidade de um governo mundial –
definido pelas ciências políticas como uma monarquia – e pela pluralidade de atores. A
balança de poder tem uma grande densidade política e estratégica que chega ao ponto de a
própria noção de diplomacia ser confundida com a prática mais restrita da diplomacia do
equilíbrio. Essa confusão provém de uma notória preferência dos governos e dos teóricos das
relações internacionais em difundir suas opiniões relativas ao mundo em termos de
equilíbrio ou de balança de poder, em especial quando se beneficiam de situações de
hegemonia ou preponderância.
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crise estratégica apresentados no bipolarismo durante a Guerra Fria, a bipolaridade
manifestava a existência de um grande risco à sobrevivência da própria humanidade.
Muitos especialistas viam o bipolarismo dessa época como frouxo, já que logo em seu
início muitos blocos que participavam dele entraram em processo de divisão e muitos
Estados não quiseram ao menos participar. Além disso, a ONU (Organização das Nações
Unidas) substituiu o foro multilateral, mesmo representando uma filosofia de organização
internacional que pouco ou praticamente nada tem em comum com o bipolarismo. Diversos
processos políticos contribuíram para a matização do bipolarismo e para a gradual afirmação
de certa multipolaridade política. Um desses processos políticos foi a descolonização, que
despertou em diversos países o interesse de preservar sua independência e enfrentar as
tendências neocolonialistas. Amplamente, o anticolonialista gerará um não alinhamento,
direcionado inicialmente para a medição entre dois blocos e, posteriormente, para a defesa
dos interesses dos países do Terceiro Mundo.
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Mesmo com as evidências do fim da Guerra Fria ao longo dos anos, os Estados
demoraram para rever suas políticas externa e de defesa, assim como houve o retardamento
no fortalecimento das organizações de segurança regionais e internacionais. Após o episódio
no Iraque, pode-se afirmar que o mundo futuro não será sem conflitos, que poderão ser
internos (grupos diferentes dentro de um mesmo país) ou por meio das fronteiras nacionais.
Além disso, as questões raciais e étnicas também continuarão em pauta. À medida que a
sociedades progredirem, as revoluções políticas irromperão e as disputas históricas sobre
fronteiras certamente continuarão, com diferenças econômicas incrementadas de acordo
com o crescimento da revolução tecnológica neste século XXI.
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BACKHEUSER, Everardo. Geopolítica e Geografia Política. RBG. IV, n. 1. Rio de Janeiro: IBGE,
1942.
CASTRO, Iná Elia de. Geografia e Política. São Paulo: Bertrand Brasil, 2010.
COSTA, Wanderley Messias da. Geografia Política e Geopolítica. São Paulo: EDUSP, 2008.
FONT, Joan Nogue; RUFI, Joan Vicente. Geopolítica, Identidade e Globalização. São Paulo:
Annablume, 2006.
HOBSBAWM, Eric J. Nações e nacionalismo desde 1780: programa, mito e realidade. São
Paulo: Paz e Terra, 2004.
VIZENTINI, Paulo Fagundes. Relações internacionais do Brasil: de Vargas a Lula. São Paulo:
Ed. Fundação Perseu Abramo, 2003.
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Bem, chegamos ao final da disciplina. Espero que os conhecimentos de Geopolítica, nos
seus enfoques conceituais, clássico e contemporâneo, tenham servido como instrumentos
para ampliar os seus conhecimentos e que estes possam ser aplicados em sua carreira
profissional no setor aeronáutico.
Desejo que tenha sido um período proveitoso para você e externo meus votos de
sucesso em sua carreira.
Saudações,
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