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2 GOVERNO DE SI, GOVERNO DOS OUTROS: UMA QUESTAO POLITICA E ANTROPOLOGICA Mest du tout nécessaire qu'tin homme scache se gouverner soy mesme devant que de commander aux autres, soit comme pere de famille, ce qui est de l'ceconomie, soit comme souverain, magistrat ou ministre d’Estat, ce qui regarde la politique. (La Mothe le Vayer, Lceconomigue du prince)! Norbert Elias faz da retengao, do controle de si, da moderacao, do autogoverno bem mais do que questdes psicoldgicas ou socioldgicas; trata-se, afirma, de temas eminentemente politicos.’ De fato, Elias nao faz senao recuperar uma tradicao ha muito esquecida, ou ao menos negli- genciada, pela filosofia politica. Uma tradic4o que insiste na necessidade de esclarecer idéias e teorias pela historia das praticas, das maneiras, dos comportamentos.” £ no Ambito de uma antropologia politica que se estudara aqui a questao da civilidade e do governo de si nas sociedades francesa e anglo-saxa dos séculos XVI e XVII; o que se busca é apreender o politico levando em consideragao seus aspectos mais negligenciados, seus com- 35 ponentes rituais e psicolégicos, o ave Processes ae nite mais completo da dindmica do politico, dos Pro Cio e de transformacao do poder’.! O governo de si € um componente €ssencig} do poder, o mais seguro entrave 4 desordem, um fundamento do Boverng dos outros, o complemento necessdrio da lei. A antropologia Politica revela que “o corpo é um verdadeiro operador politico e Social”, parte essencial constitutiva do poder.’ E preciso ainda aproximar as perspectivas da antropologia Aquelas mais propriamente historiograficas. Veja-se, por exemplo, o trabalho de Jean-Claude Schmitt quando sugere que é preciso perceber oo Signo de Poder na lentidao de um Passo ou na contengao de um movimento. Q historiador vé nesses 8estos a expressao de uma metdfora césmica que marca com vigor a reflexao filos6fica e cientifica durante 0 século XII, e conclui: “Entre a mobilidade e seus contrarios ha uma hierarquia que (...) contribui para modelar os julgamentos emitidos sobre OS gestos: O gesto Suspenso, a imobilidade da majestade divina ou real nao sao precisamen- te os signos da perfeicao e da soberania, diante dos quais todos os demais dao mostras de agitacao e configuram uma sujei¢ao moral ou social?"® A mobilidade descontrolada, a excitacao, o rebulico aparecem, entdo, como signos de uma despossessio, de uma Posi¢ao de inferioridade, ao Passo que o dominio de si representa a posicao de uma superioridade, um elemento central da dominacao: exatamente o que Norbert Elias sublinha- ta na Sociedade de corte, A governamentalidade Foucault e de Michael Walzer,’ diferentes ~ governo de si, j Foucault foi, a nosso ver ~ aij geral da racionalidade do governo (da: €sbocados d ic » quem melhor intuiu toda a dimensaig historicg ie due Politica do tema, Foucault tentou elucidar, Por meio dos atados q, Pad '€Stin: 36 dos a educacao de principes que Tespeito a arte de governar,” “o tendido no sentido mais mais cxalamente © conjunto de conceito de governo e: geral de conduta de vida, Procedimentos ¢ meios desenvolvidos pelos grupos € pelos organismos dirigentes para se assegurar, numa dada sociedade, da conduta de vida dos outros’. Colin Gordon sintetiza assim o que Foucault entendia por “gover- no": *O filsofo pensou o termo gove Fno em um sentido ao mesmo tempo amplo © restrito, Propés 5 uma definicao do termo “governo em geral” como 4 “conduta da conduta’, isto 6, uma forma de atividade que visa modelar, influir ou orientar a conduta de uma pessoa ou de um conjunto de pessoas O governo como atividade regulava a relacao de si a si, as relacoes €1 Ire pessoas privadas implicava uma certa forma de controle ou de influéncia, as relagoes no interior das instituigoes sociais e das finalmente, as relacées relativas ao exercicio da sobera- - Foucault estava fundamentalmente interessado nos vinculos estabelecidos entre as diversas formas e as diversas significagdes do governo.”” comunidad nia politi Ainda a propdsito das anilises de Foucault, Gordon nota que a cultura politica moderna se define por dois tragos caracteristicos: de um lado, a encia do Estado ¢, do outro, a existéncia de um estreito lago entre os principios da acao politica ¢ aqueles que guiam a conduta pessoal. Por que o tema da conduta ganha tal relevo ao longo dos séculos XVI ¢ XVII?" Sao esses tratados, que contém preceitos para instruir cada um sobre a conduta que convém observar em sociedade, que nos ocuparao em primeiro lugar aqui, quer se trate dos escritos humanistas do Renas- cimento, que tanto interesse mereceram de Elias, quer dos escritos puritanos que informaram as andlises de Walzer; quer se trate de Erasmo, de La Mothe le Vayer, de Fenelon, de Courtin ou, ainda, de Perkins, Baxter, Milton ou Gouge. Mesmo quando os destinatarios variam, quando sua inscrigao nas culturas religiosas e politicas nacionais diferem, os conselhos © regras em matéria do governo do corpo e do governo de si aj contidos sao por vezes idénticos." Veja-se a ilustragao em Erasmo ou em Courtin, em La Mothe le Vayer ou Fenelon. Conhece-se a analise de Elias a propésito: uma mudanga geral afeta o% costumes na Europa a partir do Renascimento, notoriamente com 37 — a mudanga dos imperativos da civilidade no conjunto da soci preciso doravante refrear suas paixOes, dissimular suas reacdes te costumes se civilizam, o governo dos corpos se intensifica, Bvocande y vida dos cavaleiros na corte, Elias sublinha que “o novo espaco ‘a Nova nova forma de integragao impodem aos homens uma autodisciping ea atitudes infinitamente mais contidas’.'* O governo de si, quet se ty nova, corpo quer dos sentimentos, exige conten¢ao: o bem-estar do ae respeito por ele exigem 0 exercicio constante de um controle Vigilante de si mesmo. Deixar falar 0 corpo e exprimir muito abertamente OS sentimentos em sociedade sao, portanto, atitudes a proscrever. E preciso lutar contra excesso de interesse por si mesmo e manifestar pelo outro atengio, deferéncia, respeito, consideragao. Aprender a se governar Elias imputa esse fendmeno global a novas estruturas sociais: 4 curializagdo dos cavaleiros, mas, sobretudo, 4 centralizacao do poder que impde ao Estado 0 monopélio da violéncia e lhe incumbe constran- ger os homens a viver em paz.’” As relages sociais se fazem assim mais reservadas. Tamanha retencao nas condutas produz certamente enormes efeitos nos costumes e nas estruturas sociais. E essa andlise que alimenta a interpretacdo que faz Elias do pequeno tratado de Erasmo publicado em 1530 e que tem por objeto a educagao de jovens de toda condicao." Desde o preambulo, trata-se de governo do corpo e de si mesmo: convém, escreve Erasmo, que o homem regre e regule seu aspecto, seus gestos, seu vestir, assim como sua inteligéncia. Capitulo apés capitulo, Erasmo mostra-se preocupado com a decéncia, a reserva, o decoro. Quer se trate da atitude pia no espaco da Igreja, do comportamento 4 mesa, dos encontros ou dos jogos juvenis, qualquer gesticulagao, qualquer gesto impulsivo deve ser proscrito: 0 recolhimento, a devocao, o respeito devem se expressar pela postura, pela contengiio e pelo controle das atitudes corporais: “(..) manifesta teu recolhimento pelo teu porte (..) eae se wa a Missa, mostra tua devocio pela tua atitude (...) enuflexo, o alto do corpo inclinad dizer o ‘Benedicite’, — uma ee ~ — bad te pedem part | : le recolhimento (...) Nao convém a uma crianga bem-educada agitar os bragos, gesticular com as maos, balangar os pés; enfim, nao convém falar menos do que com seu corpo (...) Uma crian tanto no jogo quanto a mesa.”” com sua lingua ca deve observar a mesma reserva Ninguém, sem dtivida, soube dar da reserva, da conten¢io, uma descrigao mais literal que Antoine de Courtin. Em seu Novo tratado da civilidade que se pratica na Franga e albures entre homens de bem, tratado de civilidade crista que conhece, desde a data de publicacgao em 1671, um vivo sucesso e imimeras reedicées, Courtin oferece uma defini¢do da contencao e da reserva que recorre quase explicitamente a etimologia: “A propria palavra contencao [contenance| o indica: vindo da palavra conter [contenir], uma pessoa é considerada contida porque contém, em primeiro lugar, suas paixdes e, depois, seus membros ou suas ages, sua lingua ou suas palavras nos limites em que todas essas coisas devem estar contidas (...) Nao se diz de um homem que ele possui a si mesmo senao porque ele possui seu interior, ou suas Paixdes; e, em seguida, porque, estando estas contidas, tudo o que vemos exteriormente desse homem parece pousado ou tranqiiilo.””” Possuir-se €, assim, ser guardiao do préprio corpo e, ainda, dos limites € das fronteiras desse corpo no espago, “conter-se” no interior de si proprio. Possuir a si mesmo é, portanto, conter-se, reservar-se, reter-se...”! © vinculo € significativo entre uma tal perspectiva e aquela que desenvolvem 4 mesma época os miroirs de princes, tratados destinados & educacao dos soberanos. No entanto, vale ressaltar aqui, evidentemente sem negar 4 civilidade pueril sua extensio, que Erasmo havia dedicado 0 De civilitate morum a um filho de principe, Henrique de Borgonha. Um século mais tarde, esse elo aparece ainda nos escritos pedag6- gicos que La Mothe le Vayer dedica ao Delfim.” A moral, que é a ciéncia dos costumes, ensina a maneira de governar a si mesmo pelas regras da raz4o. Mas ela rege ainda a economia e a politica. Logo, todo ser humano, pai de familia ou soberano, deve saber se disciplinar, regrar a si mesmo, subtrair-se aos impulsos do sentimento e submeter-se As regras da razio. * Em francés, bonnétes gens. O termo conhecerd mais tarde, com a critica aos costumes da corte, uma acepgio pejorativa. Cf. na Encyclopédie artigo assinado por Diderot, que opoe I'honnéte homme a "homme honnéte. A época de Courtin, honnéte homme, ou honnétes gens, referia-se tanto A posigio de superioridade ocupada na sociedade aristocritica quanto ao valor moral dessa posigio. (N.T.) 39 Saber conduzir una familia ou, em oulras palavras, sey um be ae 2 CEng © bem govern um povo proven Juncamentalmente de exigenei fiito de longo aprendizado ~, de um mes; omy, uma Mestny ANG Principio, de ber governar a si Meso. Que nag esereve oO fil6sofo, "que uma pessoa Incapaz de bem VnkE mesma quitlidade: 4 5 presuny ordenar Seu doméstico, possa levar a content o governo piiblica" Ha Mothe Je Vayer define ¢ savoir faire que o mo) ciéncia, esse saber, come um ‘a deve adquirir para cxercer a arte de Bovernay O tei deve saber se fazer amado, mas também respcitado © obedecide4 A arte de povernar repousa tanto sobre a habilidade quanto sobre a fora do monarea, Portanto, quer se trate de economia doméstica ou de Politica, ¢ A inaioria dos trata aqui de outra coisa no dos outros. nao se senao de amor, f preciso saber governar docilmente, ¢ nao apenas pelo uso ¢ pela manifestagio da forga, Eo autogoverno do principe é 4 condigao do amor que os stiditos Ihe dedicam.” Ser mestre de si mesmo governo de si indispensfivel ao gover mirotrs des princes nao cansa de repe para se fazer amar, ser mestre de si para ser mestre de outros. Um mesmo principio, uma mesma exigéncia ética ¢ politica de dominio de si permeia a vida de todo homem, chefe de familia ou monarca: 0 pai de familia, de cuja autoridade ¢ afeigao nao se duvide, no lar, é considerado um saber se principe; um juiz, um magistrado, ow o principe, que deve dominar para dominar — isto 6, impor a outrem a autoridade de sua ério que dela cmana ~, é consicerado um pai, o pai de majestade ¢ on) seus stiditos, 0 pai de seu reino. Eis-nos diante de uma maxima, de um principio de ordem ¢ de dominagio social ¢ politica: para bem governar, é preciso amar de um amor paternal.” , No fim do século XVI, 0 arcebispo de Cambrai, Francois de Salignac de La Mothe-Fenelon, publica suas Diregées para a consciéncia de um rei, redigidas para a instrucao de Luis de Franga, um dos filhos de Luis XIV, entio duque de Borgonha, de quem era Preceptor. Jé na introdugao, Fenelon acentua o cardter indissociavel do império de si ¢ do império sobre o préximo. O delfim 6 ainda crianga, e Fenelon dirige-se a cle nestes termos: “Ninguém deseja mais do que eu mesmo, Meu Senhor, que um grande ntimero de anos vos Proteja ainda la realeza. Eu o desejo por zelo de conservagao dos perigos insepardiveis 40 da pessoa sagrada do rei, tio necessari delfim. Eu 0 desejo por vés: pois un 1 ao teino, e de Meu Senhor, o 3 das maiores infelicidades que pode vos suceder, € a de ser mestre de outrem numa idade em que o sois tao mesmos.” pouco de v Tr adios de educacao dos principes ou manuais de civilidade, uma mesma exigéncia se impoe: saber control lar-se, posstiir-se, conter-se. Na tradi ) dos miroirs de prince, importa aprender a se dominar para dominar outros, ¢ conter suas paixdes para manter a ordem crista, social € preciso, numa palavra, possuir-se para possuir seus stiditos. Na tradigao das civilidades, importa aprender ¢ politica ase dominar para respeitar © proximo no espaco social: é a finalidade das civilidades erasminianas ou cristas. Importa também aprender, como na tradi lo das civilidades barrocas, a se possuir para se subtrairao poder dos outros e saber, quando convém, domina-los.” O dominio politico de si Os escritos € sermOes puritanos referem-se com freqiiéncia a maneira de governar uma familia ou, ainda, 4s maneiras da aristocracia, as maneiras de se comportar em sociedade, a arte de ser fidalgo.”” Nos modelos que incitam ao dominio e ao contole de si, Michael Walzer vé a afirmagao de um certo género de vida, uma resposta ao fim do mundo feudal e uma forma de expressio do “eu” adequada aos progressos da gentry. um modelo que pretende fazer do comportamento em sociedade e no mundo a expressao de novas normas de atividade social e politica. Tais atividades, que dizem respeito 4 vida profissional e sao também uma vocacao, exercem-se em nome da coisa ptiblica, do bem comum. A Propésito do Tratado das vocagées, de Perkins, Miegge observa que, para 0s puritanos, “a vocagao é um certo género de vida ordenado e imposto ao homem por Deus, em vista do bem comum (...), uma certa maneira de conduzir nossas vidas neste mundo.”” Tais escritos desenvolvem considerac6es éticas e religiosas — e As vezes politicas, como em Milton — sobre a contencao e a reserva, que Pouco ou nada diferem daquelas que formulava o tomismo e que, 4 mesma €poca, desenvolve o catolicismo.”' Assim, Richard Baxter, nos Preceitos concernentes a vida cotidiana de seu Christian directory, lemibra 4l a necessidade de reprimir sentimentos excessivos, descontrolag, tando assim cada um a “se deixar guiar nao pelo sentimento Fs kop razées ditadas pela razio”.”” 35 Dele E, no entanto, na relagao que o governo de si entretém Cor politico que os escritos puritanos diferem daqueles evocados a mente. La Mothe le Vayer percebia no governo de si uma exigéncia mona que dominava a economia e o politico; dirigia-se ao monarca ~e 564 eke, Os escritos puritanos — conjugando norma moral, preceito social e Tegra politica — pretendem estender a todos e a cada um o aprendizado do dominio de si para dele fazer uma “conduta de vida”, a “voca¢io” do Principe, do stidito, do magistrado, tanto quanto do chefe de familia: “Poy exemplo, a voca¢io (calling) do rei é Passar seu tempo a governar seus stiditos; e a do stidito consiste em obedecer aos magistrados. O estado e a condigao de pastor (minister) 6 conduzir sua vida na predicacao do Evangelho e da palavra de Deus. A do chefe (master) de familia, a de governar a casa. Eis suas respectivas vocacdes.”* Milton, em Tenure of kings and magistrates (1649), estima que um tal dominio de si € uma garantia contra o governo de um sé homem sobre todos os outros: “Se os homens fossem governados pela razao contida no interior deles préprios, se se abandonassem menos & tirania de costumes exteriores a eles e as paixdes cegas que trazem em seu intimo, discerniriam melhor o que encoraja ou, ao contrario, previne o tirano de AG 74 uma Nagao. A relagao que o governo de si entretém com o politico traduz-se ainda pela concep¢ao que tém os puritanos da familia. Walzer observa que o “pai é principe e mestre de escola, ministro e juiz em sua casa, mas cada um desses papéis € menos uma funcao de sua afeicao e mais um dever de seu oficio. Os sentimentos naturais dese: parte; devem, ao contrario, ser consciente e Ti; modo que as criancas nao se mimem pelo ex é 0 autogoverno e o autocontrole.”*® ‘mMpenham aj uma infima ‘80rosamente reprimidos, de Cesso de afeicao. Primordial Ser pai de familia, chefe da casa, tem assim uma finalidade Politica mais do que afetiva, como indica a leitura de Wi do q it iam Gouge: “Cumprir conscienciosamente seus deveres familiares Pode ser considerado uma fungao publica.” Miegge observa que o pater familias aparece-nos hoje come ure figura da vida privada. No entanto, sublinha apropriadamente que “Cal vino, jurista ¢ legislador, nao emprega as Palavras ao acaso, Sabe muito bem que, na legislagao romana, o pater familias é 6 sujeito eminente de direito privado ¢ piiblico, 0 ator dla vida priblica (...) Sua tarefa, ou melhor seu oficio, € 0 de ‘bem governar sua familia’”” Walzer vé na disciplina individual, no gover de si mesmo, uma forma espe aprendi: mo do proprio corpo © cifica da obediéncia politica, cujo lugar de ado e de exercicio é constituicde pela familia, “ um terreno de treino para a obediéncia politica’.” Mas, como sublinha também Walzer, essa educacao encoraj — ao lado da suj rebeliado, a politica em particular. lo ~ certas capacidades de “Uma familia € uma pequena igre} © uma pequena repdblica”, escreve Gouge, “onde se pode por 4 prova todo: aqucles aptos a ocupar uma posi¢ao de autoridade (...); ou, antes, é uma escola onde se aprende os primeiros principios ¢ os primeiros fundamentos do governo © da sujeicao”. A mesma época, os tratados de educagao do principe exortam- no a amar seus stiditos de um amor paternal; se a tradicio puritana insiste na dimensao politica da familia, a tradicdo catélica busca ressaltar a dimensao familiar do politico. Assim, os tratados humani: de civilidade (séculos XVI a XVID), os escritos puritanos (séculos XVI e XVII), ¢ os manuais de educagao de principes reconhecem todos uma mesma exigénc © controle e o dominio de si entendidos como disposi¢des necessarias ao governo da familia e ao governo politico do Estado. Uns e outros contribujram para formar essa civilizagao dos costumes que marcou a Franga e€ os paises anglo-saxdes. Com diferengas, no entanto, que permitem entrever as especificidades das formas de sociabilidade e de culturas politicas no mundo anglo-sax4o e puritano, de um lado, francés e catdlico, de outro. Uma relacao a si mesmo, que insiste na parte de cada um na formagao de si, um espaco interior de autonomia e de responsabilidade e, além disso, um rigor moral relativo 4 vida privada e pUblica, uma injungao a transparéncia das condutas marcaria em especial a tradi¢ao anglo-saxa. A tomada de consciéncia da aceitac4o ou, ao menos, dla existéncia de regras que nao se aplicam sempre com o mesmo rigor aos comportamentos Privados e aos comportamentos piiblicos, um espago interior subordina- 43 do existéncia de uma hierarquia eclesiastic. entre comportamentos ptiblicos e condutas mais marcada de opacidade dos individuo. tradigao catélica. ‘a, un i divis, my; Privadas, , NA ne 7 Nec 1S Carat zatian, m ne A contengdao; Um modelo bsicol6gico, social e ‘Dolitico Norma social, exigéncia ética, imperativo Politico, o Precette, 4 contengao e de reten¢ao das atitudes e dos 8estos acompanha no a Processo o exercicio do governo de si, como dos outros. A conte; _ que estrutura em profundidade um certo tipo de economia Psiquica, Nar, Uma certa forma de subjetividade, exalta um modelo fundamental de repre. sentac4o do sujeito. Ela € sem dtivida um dos elementos essenciais de uma antropologia histérica e politica das formas do laco social nas sociedades ocidentais. O prdprio termo elucida certos funcionamentos cruciais. 0 que é de fato a “contengao”? Uma capacidade, no sentido proprio da palavra: 9 corpo é um recepticulo fechado, ameacado do interior e do exterior, pois © que coloca em risco a “contengio” sao os arroubos, os excessos, 0 que nao € controlado, o que em si nao é governado; mas também o ingovernavel no outro; sao ainda as trocas, percebidas como uma ameaca a integridade, 4 identidade, a virtude, enfim, de cada um. Trata-se de um modelo fundamentalmente psicoldgico.” Implica a consciéncia, 0 reconhecimento do Proximo e o respeito por ele, a0 mesmo tempo que constitui uma delimitacio de si; as disposigoes psicolégicas tais como a reserva, a moderagao, a retencao, o controle ea prudéncia véem-se literalmente requisitadas pela contengao. Nao se poderia ver, numa tal concep¢ao do eu, ao mesmo tempo uma condi¢do e um traco desse lento Processo de estruturacao psicold- gica do governo das condutas, que modelou a economia psiquica orientou os lagos sociais dos homens no Ocidente? Conter-se, reter-se em si mesmo, dominar-se tudes cruciais na representagao da pessoa, parecem assim — como tentamos mostrar — indissociaveis do politico. Simbolizando © realizando reitagdo de “ EAC constrangimentos que se exercem sobre o eu emt sociedade, a cont ngdo tele, i eng: 44 nao desempenharia o papel de um de A Sses “enunciados transversais” que discerne Alain Bourreau, ; referindo-se a uma “historia restrita das menta- lidades”, quando busca indicar com Precisdo a relacao entr e a historia e as ciéncias sociais? Estas tltimas, diz Bourreau, estudariam “a incorpora- a0 do real nesses momentos raros e estruturantes (...) os enunciados transversais que dao uma unidade forte a um tempo, a uma transforma- G40, nos campos mais diversos, nos registros sociais os mais distintos”."” Bourreau entrevé na “teoria dos dois corpos do rei”, formulada por Kantorowicz, um exemplo dessa transversalidade. Kantorowicz pdde, com efeito, “mostrar que um aspecto crucial da vida politica, o assenti- mento universal ao Estado, enraizava-se em um Processo metaférico que Propiciava uma estrutura forte e pouco visivel a linguagem social euro- péia entre os séculos XIII e XVII”. Esse “processo metaf6rico”, retirando seus fundamentos de uma diversidade de campos heterogéneos, quer se trate do direito, da teologia, da poesia ou do mito, acaba por “invadir pouco a pouco a totalidade do campo do pensamento politico”. A questao da contengao situa-se certamente em um registro dife- rente: ela concerne o eu em companhia, o individuo em sociedade, e o vinculo estabelecido com o outro, mais do que a relacao com o Estado. Constitui, no entanto, um forte nunciado transversal”, que atravessa e unifica um conjunto de campos distintos (0 religioso, o antropolégico, o politico) e materiais heterogéneos (maneiras 4 mesa, preceitos para 0 uso de clérigos, de religiosos, de principes; regras de cortesia e de civilidade em acao nas miltiplas situacdes que podem em jogo o laco social na vida cotidiana: conversa¢ao, igreja, mesa, danca). Poderia tratar-se aqui de um desses esquemas coletivos fundamentais na hist6ria do Ocidente, susce- tivel de dar conta de aspectos cruciais da vida psicoldgica, social e Politica, tendendo 4 estruturar pouco a pouco o campo de uma antropo- logia politica ocidental. Pelo exame dessas formas de governo de si, quisemos elucidar 0 significado de uma racionalidade nas condutas. E mostrar assim como as Normas, os preceitos e as idéias de uma época podem ser incorporados Nos gestos, nas posturas, nos movimentos; mostrar ainda como certos comportamentos dao nascimento a rituais, mas também refletem usos e costumes. 45 histéricas dessa contengao que se trady no corpo social; localizar assim Os ele; relacdes entre disposicdes psicoldgica. € comportamentos politicos. Notas 1 won a aw Quisemos retracar os fundamentos ANtropoldy; ZNO corpo te Bees * © cada um, 9, Bem ‘Mentos Passiveis dg e ‘ 1h 'S, qualicdades Morais lacos » flog “E absolutamente necessario que um homem saiba governar a sj mesmo any : i 4 comandar outros, seja como pai de familia, o que diz respeito A Economia, sea cme ai 7 0 soberano, magistrado ou ministro de Estado, o que € préprio da politica,” ™ Ver Norbert Elias par lui-méme. Paris: Fayard, 1991. Em certa medida, tal é a perspectiva dos trabalhos Contemporaneos de M, Ozouf 3 Chartier, G. Noiriel, K. Baker, bem como os de J.G.A. Pocock, na fronteira ente historia, ciéncias sociais € politica; CF. ainda L. Boltanski € L. Thévenot que, a0 examinar as grandes obras da filosofia politica, articulam-nas como “obras de gana ticos do lago politico" (De la justification. Les Economies de la grandeur. Pais Gallimard, 1991). G. Balandier, “Le politique des anthropologues”, in: M. Grawitz e J. Leca, Traté de Sciences politiques. Paris: PUF, 1985, tomo I Ibid., p. 311-312 O historiador examina nas etimologias (de motus e gestus em particular) os efeitos complexos dessas metiforas sobre a concepgao dos gestos e dos movimentos do corpo: “(...) 0 movimento dos astros e, mais amplamente o do cosmos, constitui par ©s gestos um modelo dos mais valorizados, Porque celeste. Mas motus evoca também a mobilidade que, ligada ao compo, tem, a0 contririo, uma conotagao pejorativa. Com efeito, para a cultura crista da Idade Média, a mobilidade participa do transitério, do instavel.” A propdsito do dominio dos gestos, Schmitt sublinha ainda o medo da desordem que reveste o termo gesticulatio. “Na cultura letrada da Idade Média, “gesticulagdes” sito todos os gestos percebidos como excessivos, conturbados, em desordem. O par inimigo gestus-gesticulatio€é uma das grandes figuras do antagonismo da ordem e da desordem na cena medieval dos estos” (J.C. Schmitt, La raison des gestes. Paris: Gallimard, 1989, p. 29 ¢ 30). Ver, adiante, o capitulo 7, 7. Max Weber, Ethique du protestantisme et esprit du capitalisme. Paris: Plon, 1955; Michael Walzer, La révolution des saints (Ethique protestante et radicalisme politique). Paris: Belin. 1987; Michel Foucault, Le souct de sot e l usage des plaisir. Paris: Gallimand, 1984 “O que eu queria fazer, € qualquer coisa como uma historia ca governamentablele” M, Foucault, "La gouvernamentalité’, Actes, “Foucault hors les mrs” (1980), p. 1 Foucault nota que o problema do governo explode no século XVI 4 proposito de questoes muito diferentes, referindo-se slinultaneamente 4 questoes etias, rlggooss pedagoégicas €, enfim, politicas. 10. LL 12, B 4 Go 16, Ao contritio, vale relembrar, das anilises empreendidas sobre © governo de sina Antiguidade greco-latina. Colin Gordon desta : ° 1.0 titulo que Foucault dew as conferén- cias que proferiv nos dois tiltimos ‘ Anos de vida, bem como 0 do proto de trabalhe que inha entdo em mente: “O governo de sie dos outros”, C. Gordon, “Governmental rationality. An introduction”, in: Burchell (org), The Foucault effect: Studies tn gorernmental rationality. Chicago Press, 1991 p.2 Entre outros, aqueles dos chamados e Vayer. Ver sobre e: tuditos libertino: “Se pont, H. Méchoukan (org.), L'état by Cf. P. Pasquino, “La problématique “Foucault hors les murs", pp.17-18, harron, Naudé, La Mothe le aroque. Paris: Vrin, 1985. du gouvernement et de la vérldiction", Actes, C, Gordon, art. cit., pp. 2:3, Beers oa eee ce POC Ue nuinct nemtuesean enone aaa govemno tena sido percebida como tio fundan nentalmente dependente do governo de si, tanto da parte dos governante: S quanto da parte dos governados.” C. Gordon, af. cit, p, 22, Lembre-se, no entanto, de que a tradigio dos miroirs «le princes ¢ dos tratados de educacio dos principes remonta muito longe no tempo, muito antes dee séculos XVI © XVII. (Wer J.C. Schmitt, op. cite J. Krynen, Idéal du prince et pouvoir royal a fa fin duu Moyen Age (1380-1440). Ede sur la litérature politique dia temps. Paris: A. et. Picard, 1981. Sobre 0 contexto no qual se manifesta esse interesse pelas condutas, cf. 0 proprio Gordon, que sublinha a influéncia da filosofia neo-estoica: “Os conflitos que agitaram a Roma Antiga foram tidos como semelhantes aqueles que agitam a Europa desses séculos. Forma de conhecimento ‘pritico’, © neo-estoicismo surge entio como um meio de restaurar a ordem, de reafirmar uma ética diante dos conflitos que atravessam a sociedade € que provocam em cada homem uma enorme perturbagao” (art. cit, pp. 12-13). Sobre esse ponto, ver M. Gueissaz, Le voyage des pélerins puritains, Du gouvernement de soi au gouvernement des autres (Grande Bretagne, XVleéme-XVIléme siécles), Mémoire de maitrise de sociologie. Universidade de Paris VII, 1990 O problema do governo do corpo coloca-se, com efeito, muito antes do Renascimento. a) na tradigio dos miroirs des princes, que, vinda da Antiguidade, conhece uma significativa renovagio no século XIII: essas obras se ocupam do comportamento e dos gestos reais, da educagao do principe cristao, da formagio moral € politica dos reis. J.C. Schmitt evoca Gilles de Paris e a obra que oferece ao futuro Luis VII, em que apresenta Carlos Magno como um “modelo de temperanga no comer ¢ no beber, um homem cujo gesto jamais foi relapso” (J.C. Schmitt, op. cit, p. 192); b) em toda Uterarura enderecada aos monges: Guibert de Nogent, no inicio do século XII, reconhece a gratidao que deve ao futuro arcebispo de Canterbury por ter-lhe mostrado nao somente “como eu devia conduzir o homem interior, [mas ainda] como era conveniente, em vista do govermo do meu jovem corpo, transportar-me aos direitos da razio” (citado em J.C. Schmitt, op. cit, p. 28); c) na tradigao da etiqueta de mesa que se desenvolve a partir do século XII (em particular com a constituigao das cortes feudais) e que, stendensle mer as canes de mesa”, convidam ao controle de si e A moderagio. (ver S. Glixelli, “Les contenances " VII, 1921). / a cere Paris: Calmann-Lévy, 1973. Ver também Edmund Leite, e puritan conscience and modern sexuality. Yale University Press, 1986, em particu a capitulo 3, “Os fins sociais da constincit”, Deixamos de lado, aqui, 0 movimento 47 18. 19. 21, 48 . Outras formas de violéncia, in} barroco que, opondo-se ao espirito da Renascenga, de medida, a seus ideais de conhecimento de si also, . : € de dominig 4.12 Crige Oposi¢ao, as aparéncias e a exterioridade. n° de si, Valo » Por aseu Tacion; finitamente mais filtra da reserva, do dominio de si, da igualdade nos das, que fazem uso dam, ’ humores, vam 3 luz tompe Renascimento. Ver, adiante, capitulo 8. ‘amb % Erasmo, La civilité ‘pueérile. Paris: Ramsay, 1977, p. 57. Ibid., pp. 75, 77, 79, 98 & 104. , este de Counin nacional — e nao mais cosmopolita, centralizador, nado mais emancipador -, + Opdese em muitos aspectos aquele do século XVI e de Erasmo em particular. Ver JJ. Courtine e C. Haroche, Histoire du visage. Exprimer et taire ses émotions (XVE -débutXI®), Paris Rivages, 1988, em particular capitulo 5, "Calar-se, possuirse Uma arqueologia do siléncio”. La politique du prince, L’ceconom ique du prince (1653) € uma obra que se inscreve na tradicao ancestral dos miroirs des ‘princes, dos tratados de educacio do Principe cristio. L'eeconomique du prince, op. cit, p. 3. Ja politique du prince, op. cit, pp. 136-137. Ver, neste volume, “As ceriménias e os tituais de corte: Os instrumentos de uma politica de comunicagio”. . La Mothe le Vayer alerta 0 delfim contra as. tentagdes do poder, que nascem, no mais das vezes, da impoténcia para dominar a si mesmo: “(..) acontece ordinariamente que mais [os soberanos] se mostram Poderosos, mais so impotentes para moderar suas vontades e, As vezes, os transportes do espirito que nao conseguem evitar nem submeter a um exame razodvel” (Za politique du prince, op. cit, p. 136). . La Mothe le Vayer funda, enfim, a soberania que 0 monarca exerce sobre seus stiditos em matéria de amor: “Pode-se dizer que um rei é ainda mestre da vida e dos bens de seus sujeitos, porque, amando-os de um amor paternal, ele os conserva” (Ja politique du prince, op. cit, p. 132-133). Ver também R. Filmer, Patriarcha ou du pouvoir naturel des rois (1680). Paris: L’Harmattan, 1991. - Francois de Salignac de la Mothe-Fénelon, Directions pour la conscience d'un roi (composées pour l’instruction de Louis de France, duc de Bourgogne). Introdugio, pp. 12. Ver, em particular, os tratados de corte italianos: B. Castiglione, Le courtisan (1528); S. Guazzo, La civile conversation (1592); G. della Casa, Le galatée (1558); B. Gracin , Lhomme de cour (1647) e Le héros (1637). Sobre os tratados de civilidade - erasminianos, cristéos e barrocos ~, ver R. Chartier, OP. cit, ¢ JJ. Courtine e C. Haroche, op. ctl. (... pode-se conceber os cem anos que precederam 1640 como a époc ; do fidalgo: nas ‘antes da cidade’, na ‘arte nova das manetras cla aristocetas nema h da santidade e, finalmente, na ‘ante parlamentar’. (...) os manuals de searoureievetreny Parte de sua formacao tanto quanto os sermées puritanos” (M. Walzer, Op. Cit, p, 273). Al. Bf preciso, no CHEUNG, NotAL que on tt vo que, ne puritanbane, inet forann redigiclos pats ous da new ye A eontengag WY pot puritinos da segunda ou terceira geri@o. De fate, @ primetia Metitin puritina se caraeterizs violéneia politica, Sobre esse ponto, ver M. Walzer, os et men’s fictions. Wnty por uina grande Damiorcl, God's plotand Perkins, Le traité des eocations O03), p75 50, citido em M. Miegge, Vocation et travail rssat sur Pétbique purttatie, Genelia: Labor et Vides, 1989, pp. 35, © que preeisamente lembra W. Sombart: “Or * preceltos do puritantane tratam dos mesmos objet via aqueles do tomismo (..); 45 8 (00) nos livtos sobre © governo da funilia protestante teve apenas de se apropriar de que o tonismo criou" Ue bourgeois, Contribution a Ubistotre morale et intellectuelle de Uhomme économique moderne, Paris: Payot, 1966, pp. 244, 247 assemelham-se quase pra virtudles burgess (...) desertias © expe de Alberti (.). A me R. Baxter, Christian directory (1698), 1, citado em Sombart, op. ctl, p. 243. Perkins, Le traité des vocations, citado em M. Mlegge, op. clt., p. 35.°A vocagdo € um certo género de vida (...) imposto ao homem por Deus in vista do bem-comum (..,), uma certa mancira de conduzir nossas vidas no munde |. Esmor Jones (org.), Blackie, 1977, p. 34. M. Walzer, op. cit, p. 207. . W. Gouge, Of domestical duties, Londres, 1622, pp. 48 ¢ 442. Citado em M. Walzer, op. cit, p. 207 . M. Miegge, op. cit., p. 13. M. Walzer, op. cit., p. 208. . Ver D'Anzieu, Le moi-peau. Paris: Dunod, 1991. Essa referéncia, vinda de um campo de saber bastante distinto, parece-me aqui esclarecedora: os trabalhos psicanaliticos que Anzieu consagrou ao “eu-pele”, Vendo na pele “o interior o bom e o chei co que contém ¢ retém no ", mas ainda “a interface que marca o limite com o de fora e mantém-no exterior (...) a barreita que protege da penetragao (...), das agressoes vindas dos outros, seres ou objetos’ (p. 39). Anzicu faz da possibilidade e da necessidade de contengao um elemento central do funcionamento do eu, fundando-se em particular sobre esse principio essencial cia psicandlise que pretende que o que é psiquico desenvolve-se em rekigho a experiéncia corporal (p. 82). "O eu & explicita- mente designado como ‘envelope psiquico’. Com efeito, é esse ‘envelope contingente” (que contém), que faz com que o aparelho psiquico seja suscetivel de possuir contetidos” (pp. 81, 83). A. Bourreau, “Propositions pour une histoire restreinte des mentalités", Annales ESC 6 (novembro-dezembro de 1989), p. 1498. Ibid. 49

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