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CIVILIZAGRO BRASIL Christopher Hill A Biblia inglesa e as revoluc6es do século XVII Traducao de Cynthia Marques S Rio de Janeiro 2008" opright © Chrtopher I, 1993 ‘TUL ORIGINAL Fear ond the SenzontCntery Revolution ora Evelyn Grumach pRoseTO.GRARICO Bithm Gnenach © Jodo de Souza Lete (APERASLCATALOGAGAONAFONTE SRoIeATO NACIONAL DOSEDITORES DELIVROS WJ Hill, Christopher, 1912-2003 Hsasb ‘A Bible inglesa ¢ as revolugSes do séoulo XVIL/ Christopher Hill tradugio de Cynthia Marques. ~ Rio Ge Janeiro: Civlizagao Brasileira, 2003. penile ISBN 85-200-0580-2 1. Biblia. Inglés ~ Versbes ~ Hsia. 2. Gr Brecanha ~ Historia ~ Seart, 1603-1712. 3. Gri Breaanha = Historia eclesdsdea ~ Séeulo XVI 1 Tiralo cpp - 220.094 03.1356 bu = 220.014 meio, sem previa “Todos os dieits reservados. Proibida a reproduc ‘Hansmissio de partes deste hvzo,atraves de quai futorizagio por eset Dirctos desta tradupio adquirdos pela EDITORA CIVILIZAGAO BRASILEIRA ‘Um selo da Pe PUIDORA RECORD DE SERVIGOS DE IMPRENSA S.A, DisTRIting 171 = 20921-380 Rio de Janeiro, RJ ~ Tel: 2585-2000 PEDIDOS PELO REEMBOLSO POSTAL Casa Postal 23:052 ~ Rio de Janeiro, R) - 20922-970 Impresso no Brasil 2003 criuo1 Uma cultura biblica [Nostos santos priores [diziam as palavras de Deus] causaram insurreig@es e ensinaram a0 povo a desobediéncia, ) ¢ levaram-no a rebelarse con- ‘tra os Principes, levaram & mediocridade e a desatar-se os bens uns 20s Willian! Tyndale, The Obedience of a Christian Man (1528), em Doctrinal ‘Treatises (org, H. Walter, Parker Soc., Cambridge U. B, 1848), p- 163. A Biblia; Bis 0 Livro. © verdadeiro Livro, (© Livro dos Livros; ‘Onde a verdade buscar Para onde o olhar se voltar EE se com tal retidio agires Jamais de melhor luz precisaris E mesmo na Escuridao caminharas (© Ministério santo de Deus em Assembléia Esta luz ao homem revelow E a todos ordenow Para que na boa ou mé sorte ‘Todos conhegam E Dele jamais se esquecam Porque é 0 Livro de Deus (© qué sem Ele eu posieria? (© que eu saberia? Christopher Harvey, Complete Poems (org, A. B. Grosart, 1874), pp. 19- 21. Fate poema foi publicad, pela primeira vez, em 1640. Ricardo, duque de Glocester — Eu suspiro, com um trecho da Bscritura, igo que Deus nos pede o bem em troca do mal «assim eu visto a vilania ‘Com farrapos que arranco & prépria Biblia. William Shakespeare, Ricardo Til, 1° Aro, cena 3° Ahist6ria € contada como um didlogo entre um lendirio historiador da eco- nomia, Jack Fisher, € 0 inoportuno aluno que © pressionava para que Ihe ddesse uma lista de leituras sobre a histéria econémica da Inglaterra nos séeu- Jos XVI e XVII. Ele the respondeu: “Se vocé realmente deseja compreender teste perfodo, v4 para casa e leiaa Biblia."? Tal conselho é, sem divida, espe- ‘ialmente adequado para historiadores da economia, mas também tem sua relevancia para os historiadores da politica e da literatura, A Biblia teve um papel central em toda a vida da sociedade: nés nos atriscamos ao ignoré-la. ‘A Biblia € um livro enorme, e entendi a miaioria dos inumeraveis comen- sdrios biblicos feitos naquele periodo, como pude constatar, parecem ser tio Jongos quanto a prdpria Biblia. Nao posso afirmar que tena ldo cada pala vvra de todos eles. Este livro focaliza certas areas nas quais a Biblia teve uma influéncia direta, j4 que, entdo, ela era determinante em assuntos que ndo se referiam —como acontece nos tempos modernos — ao mbito estritamente religioso. Mais do que uma monografia, é na verdade uma colerinea de en- saios, Meu objetivo analisar o impacto que a Biblia exerceu sobre a socie- dade do século XVII— a sua utilizagio com propésitos politicos ou de outra natureza e seus efeitos sobre a literatura, a teoria politica, as relagGes sociais, cultura e a colonizacio, entre outras tantas areas. 0 cies da Biblia tornou-se uma instituicio na Inglaterra dos Tudor —a base de uma autoridade monérquica da independéncia protestante na livro da moralidade ¢ da submissio social. Sua centralidade, jas — nacionalismo in- Inglaterra, o I torou-a um campo de batalha entre varias ideologi {les contra catolicismo romano, episcopado contra presbiterianismo ¢ sec- A BIBLIA INGLESA EAS REVOLUGOES 90 StcuLO XVI tarismo. A sociedade estava agitada e esperava-se que a Biblia oferecesse so- lugées para os problemas que a assolavam. A traducao da Biblia para o inglés tornou-a acessivel a grupos sociais novos ¢ mais amplos, incluindo artesfios © mulheres, que liam sobre seus prOprios problemas possiveis solucdes no texto sagrado. Conseqiientemente, ao analisar este livro, estou lidando nijo apenas com “fatos”, mas também com opinides e crencas. Assim, nao hesitei em utilizar evidéncias literdrias para a narrativa destas opiniGes e crencas. Tais evidéncias variam muito, e devem ser avaliadas criticamente, 0 que nao impede que sua existéncia seja um fato. A Biblia estd longe de ser monolitica. Ao contrério, seus c&nones foram erguidos a0 longo de varios séculos e incorporam idéias e atitudes diferentes ¢, 4s vezes, conflitantes, Os primeiros dois capitulos do Génesis contam duas hist6rias diferentes da criacdo ¢ queda do homem, 0 que colocou a prova a engenhosidade erudita em conciliar ambas as teorias; os livros de Moisés nio foram escritos por Moisés, como foi demonstrado por Thomas Hobbes no século XVI,’ nem os Salmos de Davi sto de fato de Davi. A profecia de Isafas € uma coletinea de trabalhos de pelo menos trés poetas. O texto é um pa- limpsesto que foi exaustivamente escrito ¢ reescrito de tantas maneiras que 08 estudiosos modernos encontram grande dificuldade em ordend-las. A reedigao do que conhecemos como Antigo Testamento quase certamente reflete 0s conflitos politico-sociais que existiam entre os Filhos de Israel; tal cinone foi estabelecido pelo clero judaico. © préprio texto mostra que os profetas ereis freqitentemente discordavam, ¢ 0 tributo atribuido pela Biblia, ‘a0s governantes individualmente espelha o valor que lhes € dado pelos edi- tores ligados a Igreja! A narrativa contida no Novo Testamento € 0 produto de uma convulsio social. © cinone, como jé sabemos, foi o produto final de acirradas contro- vérsias sobre 0 que era “herético” e, portanto, “apécrifo”, € 0 que era orto- doxo. Este canone evoluiu ao longo dos séculos medida que as doutrinas originais do cristianismo foram adaptadas, inicialmente no perfodo greco- romano do mundo gentio ¢, posteriormente, quando foi considerada reli gio oficial do Império Romano. As decisies tomadas quanto ao que deveria ser inclufdo e excluido foram penosas ¢ algumas vezes sangrentas. As con- cesses foram inevité Sera que a Epistola radical atribuida a Jaime deve- ria fazer parte do cinone? E quanto 4 explosiva Revelacio de Sio Joao, o Divino? A unidade dos dois Testamentos foi cuidadosamente elaborada por tedlogos da Idade Média, trabathando com seus palimpsestos. ‘A Biblia podia significar coisas diferentes para pessoas diferentes em di- ferentes épocas e circunstincias. Era um enorme quebra-cabeca a partir do qual qualquer coisa pudesse ser delineada. Fé algumas poucas idéias que nio ‘encontram apoio no texto bfblico. Muitas delas podem ser lidas apenas nas entrclinhas. Quando Lutero desafion a antoridade da Igreia Romana para ue definisse suas doutrinas e produzisse a sua prépria tradueao vernacular, le teve de aceitar que “o Evangelho nao pode ser verdadeiramente pregado sem ofensas e tumultos”. “A Palavra de Deus existe, em qualquer situagao, para mudar ¢ renovar 0 mundo.” © resultado foi desacordo e fragmenta- 40. Luteranos contra zwinglianos ¢ calvinistas, anabatistas libertinos contra tudo que era respeitavel — cada grupo de heréticos acreditava ter encontrado justificativa para suas posig6es no texto sagrado, ¢ quase todos proclama- vam a sua indiscutivel autoridade na interpretagéo da Biblia, Uma coisa é a Biblia em uma sociedade estavel, onde existe um mecanis- mo aceito para o controle de sua interpretacio. O controle jamais foi com- pleto em nenhum periodo, e certamente menos ainda depois do transtorno dda Reforma e da tradugio das Escrituras a partir de uma lingua que apenas alguns eruditus eonseguiam ler © entender para outra que podia ser lida por qualquer alfabetizado, compreendida por todos aqueles que ouvissem sua leitura em voz alta. Algumas heresias da Idade Média — freqilentemente baseadas em tradugdes néo autorizadas da Biblia — conseguiram sobreviver porque se associaram a unidades politicas que estabeleceram uma preciria continuidade: waldensianos, hussitas e lolardos na Inglaterra. Henrique VIII preocupava-se principalmente em assegurar a independén- cia politica da Inglaterra em relagio ao papado quando autorizou a traducio da Biblia para o inglés. Depois do trauma do reinado de Mary, algo parecido com um consenso parece ter existido sob 0 governo de Elizabeth. Mas no turbilhao do século XVIL, a Biblia tornou-se uma espada que servia para di- vidir, ou um arsenal do qual todos os partidos retiravam armas para satisfa- zer as suas necessidades. E que arsenal! A grande vantagem da Biblia é que cla podia ser citada em defesa de quest6es heterodoxas ou impopulares. Oc 26 A SIBLIA INGLESA EAS REVOLUGOES DO SECULO XVI cléssicos gregos € romanos também foram, algumas vezes, citados para cau- sar este mesmo efeito, porque éles eram reconhecidos como autoridades impecdveis, dificeis de refutar e as quais ndo era sibio rejeitar. Mas 0 conhe- cimento dos classicos se restringia aos eruditos ou, em certa extensio, aos homens com alguma instrusao; a Biblia, no verndculo, estava aberta a todos, até mesmo as classes mais baixas, para ser pilhada e utilizada. Na Inglaterra do século XVI, um século de revolugao e guerra civil, to- dos 0s partidos recorriam ao apoio da Biblia. Cagadores de heréticos como ‘Thomas Edwards e Ephraim Pagitt assinalaram as semelhancas entre as here- sias de sua época e as dos primérdios da Igreja, mas tais semelhancas rara- mente eram conseqiiéncia de pesquisa por parte dos heréticos, embora algumas delas, Sem diivida, tenham sido uma heranca das tradigoes dos citaros, dos waldensianos dos lolardos. Os radicais do século XVII afirma- vam que suas idéias provinham da Biblia. E eles estavam certos. Todas as heresias tinham suas origens na Biblia, porque ela mesma é uma compilasio, um meio-termo; a ortodoxia muda na medida em que incorpora ou reage exageradamente & heresia — que s¢ origina no texto biblico. Milton, e muitos outros como ele, acreditava que — admitindo-se a livre discussio —a verdade consensual surgiria entre cristios honestos e de men- te aberta; ¢ passou muitos anos de sua vida dedicando-se & compilacio bibli- ca, De Doctrina Christiana (Sobre a Doutrina Cristd), que objetivava & reconciliagio de todos os protestantes. O trabalho que ele produziu foi tao radicalmente herético que nao pOde ser publicado na Inglaterra, nem mes- mo em latim, e quando se tentou publicé-lo depois de sua morte nos Paises Baixos, todo o poder da diplomacia britanica foi utilizado para evité-lo. Tra- tava-se de um trabalho que estragalhava a idéia de uma tinica verdade Bfblica {que fosse aceita por todos os governantes de seu pats. Sobre a Doutrina Crista de Milton,* sua “mais querida e melhor posse”, € simbélica. O texto latino definhou por 150 anos entre documentos de Es- tado no Departamento de Registros. Foi finalmente publicado em 1825, por ordem do rei da Inglaterra e traduzido por um bispo da Igreja anglicana; € sua publicago s6 despertou um leve interesse hist6rico. Aquela dinamite do século XVII havia se transformado em um pasquim enfraquecido. A Biblia no era mais a fonte de toda a verdade: o Iluminismo do século XVIII pra- ticamente a ignorava. Nem era mais 0 manuial dos revoluciondrios. Os revo- Juciondrios franceses basearam-se em filésofos leigos como Voltaire € Rousseau. Em certo sentido, meu livro trata do declinio e da queda do impé- rio politico e cultural da Biblia na Inglaterra do século XVI. 0 ‘A Biblia exerceu um importante papel na formagio do nacionalismo inglés € na afirmago da supremacia da lingua inglesa em uma sociedade na qual, entre ‘68 séculos XI e XIV, predominou o francés falado pelos normandos. A tra- ducho da Biblia para o inglés foi contempordnea a disseminagio da nova invengio da imprensa. A Biblia impressa foi algo muito diferente da Vulgata manuscrita, de propriedade privada do clero. Como afirmou George Hakewill, 08 livros enclausurados nas bibliotecas dos monastérios “foram resgatados de seu cércere, conseguiram se expandir e andavam livremente & luz do dia?.© A Biblia vernacular era propriedade de todos os leigos alfabeti- zados, e pregadores protestantes radicals tentaram estender seu conhecimento 1 todos os niveis da sociedade. No século XVI, a Biblia era accita como um lemento central a todas as esferas da vida intelectual: nao cra apenas um livro religioso”, no sentido moderno e restrito da palavra religido. A Iercia ¢ © Estado na Inglaterra dos Tudor eram um s6; a Biblia era, ou deveria ser, 0 fandamento de todos os aspectos da cultura inglesa. Quanto a este princi- pio, houve consenso entre a maioria dos protestantes. Se nao entendermos isto, caimos na cilada anacrénica de falarmos de uma “época mais religiosa” do que a nossa. Sob varios aspectos ela foi menos religiosa do que a nossa. (Os historiadores freqiientemente comentam 0 fato de que a Revolucio Inglesa nao teve antepassados ideolégicos. Nenhum dos participantes sabia aque aquilo pelo qual estavam passando era uma revolusio. A palavra veio a adguirir seu sentido moderno somente e por causa da Revolucio Inglesa’, a primeira grande revolucio européia. Os revolucionérios americanos cons- cientemente voltaram-se para a experiéncia inglesa do século XVI, descrita por Catharine Macaulay em sua hist6ria de oito volumes dedicada a Hampden, Milton, Marvell, Nedham e Sidney. Mirabeau organizou a tradu- A BIBLIA INGLESA EAS REVOLUGOES DO SécULO KVL so francesa da History de Catharine Macaulay, que também foi cuidadosa- mente estudada pelos Iideres da revolucio americana, muitos dos quais tro- cavam correspondéncia com ela.* Girondinos ¢ jacobinos, mencheviques € bolcheviques, monarquistas e republicanos, todos se enquadram nos padrées estabelecidos pela Revolucio Inglesa. Os revolucionérios franceses temiam oadvento de um Cromwell, e tiveram Napoledo; os revolucionétios russos se preocupavam com o bonapartismo ea ditadura militar, e nao perceberam que Stalin se aproximava Os ingleses tiveram de enfrentar situagdes revolucionérias inesperadas, durante 0s anos 1640 ¢ 1650, sem nenhuma orientagio teérica, como a que Rousseau e Marx deram a seus sucessores franceses e russos, e sem a experién- cia de acontecimentos anteriores que pudessem ser chamados de revolucdes. Eles tiveram de improvisar. A Biblia em inglés foi o livro ao qual natural- mente voltaram-se em busca de orientacao. Era a Palavra de Deus, cuja auto- Tidade ninguém podia rejeitar. E era o maior patriménio da nacéo inglesa rotestante. Sua edigao impressa encontrava-se disponivel apenas gracas aos conflitos e martitios da reforma inglesa, uma fase essencial da pré-histéria revolucionéria O primeiro registro de utilizagao da lingua inglesa na proclamacio de um governo ocorreu em 1258, quando Simon de Montfort controlava o rei Henrique 111. © nso oficial da Kngua morreu com Simon e a eua causa.’ En- tretanto, a lingua nao morreu. J4 em 1801 George Ellis percebeu uma liga- ‘sao entre o desenvolvimento da lingua inglesa eo erescimento das cidades."@ ‘© mais antigo documento parlamentar inglés conhecido é uma peti¢ao de uma companhia de comerciantes, datada de 1386, Nessa época, a gramética ensinada nas escolas comecara a abandonar o francés e a adotar 0 inglés. Os ‘avalheiros pararam de ensinar o francés a seus filhos. Documentos juridicos particulares em lingua inglesa também datam desse periodo e as peticdes documentos das guildas das cidades remontam & década de 1380. Henrique TV —um usurpador —falava inglés como sua primeira lingua, e Shakespeare estava certo ao retratar Henrique V como tendo apenas um leve sotaque fran- cts, Talvez Shakespeare estivesse reproduzindo algo que ouviu por acaso ‘quando fez com que seu personagem, Jack Cade, dissesse “Ele fala francés, ¢ portanto & um traidor™. Fle “usa a Kingua de um inimigo”.! 29 Richard Rolle, o primeiro poeta importante a escrever em uma lingua ‘que podia ser reconhecida como o inglés, morreu em 13495 as letras de can- cgées religiosas em inglés também proliferaram durante a segunda metade daquele século. A literatura inglesa apareceu como uma torrente, de uma s6 ‘vez — Chaucer, Langland e Gower, poeta de Gawain and the Green Knight ¢ Pearl. Da mesma época era também John Wyclif, um tedlogo que usow agres- sivamente o inglés quando o latim teria sido mais tradicional.!* A Guerra dos Cem Anos contra a Franca acelerou indiscutivelmente a passagem para 0 inglés. Nenhuma outra versio da Biblia em francés eirculou na Inglaterra, embora alguns exemplares continuassem a ser encontrados na Franca. A lei- ‘ura da Biblia estava associada & ascensio de uma classe urbana instrufda e de ‘uma classe média rural: encontramos comerciantes ¢ cavaleiros lollardos. Chaucer conhecia bem a sua Biblia. O lolardo Nicholas Hereford propés que a riqueza da Igreja fosse usada para criar 15 universidades e uma centena de instituig6es de caridade — uma esperanca educacional que foi revivida du- rante a Reforma do século XVI e novamente durante a Revolugio no século XVIL." John Rastell, em 1527, observou que Henrique VII havia determina do que “os estatutos e ordenancas (..) dirigidos 4 comunidade deste reino nos dias de hoje” fossem impressos de forma que “o povo (..) pudesse rapi- damente tomar conhecimento dos ditos estatutos ¢ ordenangas, a que cram obrigadas a ohedecer”. Henrique VIII seguiu a prética de seu pai. Rastell traduziu do francés 0 Sumério dos Estatutos, publicado antes do reinado de Henrique VIL Isto porque sabia que “todo 0 povo deste reino tinha grande prazer e entregava-se muito a leitura da lingua inglesa vulgar”, Se os estatu- tos podiam ser publicados de forma que o povo pudesse “evitar os crimes € as penalidades deles decorrentes”, por que nao a Brblia?** John Foxe atribuiu “o presente da escrita impressa” a intervencao direta de Deus, Ele citou 0 catéfico Rowland Philips durante o reinado de Henrique ‘VIN: “ou descobrimos a escrita impressa ou ela nos descobrir4”."* Thomas Beard, amigo e mentor de Oliver Cromwell, defendera a mesma opiniéo de Foxe ao ver a Providéncia divina por trés da coincidéncia entre a época da invencio e o desenvolvimento da imprensa ¢ a tradugio da Biblia para o in- les." Para John Preston, a invengio da imprensa fora uma prova a mais da texistencia de Deus, de seu amor por suas criaturas. Segundo Henry Robson, 20 A BIDLIA INGLESA EAS REVOLUGOES DO SECULO XVI a liberdade de impressio tornou possiveis a Reforma ¢ as concepgées mais amplas de liberdade religiosa."” Por mais de um século antes do reinado de Henrique VII, 0s lolardos faziam circular verses manuscritas das Escritu- ras, Encontraram mensagens profundamente subversivas na Biblia. Elemen- tos socialmente inferiores reuniam-se furtivamente, em grupos ilegais, para ouvir e discutir a leitura da Biblia. Talvez a palavra de Deus tenha langado suas rafzes mais profundas entre eles. Wyclif justificou sua oposicio as posses temporais da Igreja utilizando 0 mandamento “no rouba1ds”." Para ele, a Biblia era a chave para a compre censio humana da verdade; por esta raz, todos os leigos possufam o direito 0 dever de estudé-la por si mesmos.'” No século XV 0 simples fato de pos- suir uma Biblia em ingles e lé-Ia era evidéncia presumivel de heresia. Na ver- dade a Igreja parecia preocupar-se mais com as tradugdes correntes da Biblia € era mais severa em erradicé-las na Inglaterra do que em qualquer outro lugar da Europa, exceto talvez a Boémia. Bale sabia que existiam tradugées da Biblia em Brabante, na Holanda, em Flandres, na Franca, na Espanha, na Ikilia € em outros paises.” i Muitos daqueles que se envolveram no trabalho perigoso de traduzir a Biblia no inicio do século XVI tornaram-se mértires — Tyndale, John Rogers Cranmer. Tyndale, cuja magnifica versio teria sido mais bem entendida se ele tivesse sobrevivido ¢ se tornado um bispo eduardiano, declarou que era *“impossivel iniciar os leigos em qualquer verdade, exceto nas Escrituras que apareciam diante de seus olhos em sua lingua-mae”2" Ele foi financiado por ‘mercadores enquanto traduzia a Biblia, e previu a oposicio do establishment clerical: “Mil livros eles usaram como alavanca para impor suas doutrinas € atos abomindveis, e € por isto que as Escrituras devem vir & luz." A andlise de Tyndale foi corroborada do ponto de vista contririo pelos rebeldes da Cornualha de 1549, que exigiam que a Biblia inglesa fosse retirada de circu- lagio “para que o clero nao pudesse continuar, por muito tempo, confun- dindo os heréticos”.® A Igreja Romana acabou reconhecendo que, uma vez que nao podia suprimir as traducdes inglesas, deveria competir com elas: 0 Novo Testamento de Rheims surgiu em 1582, porque “varias coisas eram vantajosas ¢ até recomendéveis agora, que, na paz da Igreja nfo eram muico necessérias nem porventura de todo tolerdveis”* A disponibilidade da Biblia em inglés foi um grande estimulo ao aprendi zado da leitura; ¢ isso por sua vez assistiu ao desenvolvimento de publica des baratas edistribuigdo de livros. Foi uma revolugio cultural de proporgoes sem precedentes, cujas conseqiiéncias nio podem ser superestimadas.¥ O ‘acesso direto ao texto sagrado deu aos leigos uma sensacao de seguranga que antes Ihes faltava, 0 que servi para fortalecer crfticas de longa data a Igreja a0 clero.* Henrique VIII logo percebeu que era necessario abolir “a diversi- dade de opiniGes” por um Ato do Parlamento, sem muito sucesso. As mulhe- res (exceto as nobres), 0s artesios, € aristocratas, os agricultores, os trabalhadores e 0s servos estavam proibidos de ler o Novo Testamento ou de discuti-lo em piblico. Reformadores pioneiros como Tyndale tinham plena consciéncia da importincia de expandir a area social da discussio teol6gica, —embora valha a pena lembrar que mesmo no final do século XVII Richard Baxter falava em uma “ralé” de “latociros, carregadores ¢ barqueiros” que nunca haviam lido a Biblia.” Podemos avaliar proveitosamente a economia da imprensa. O Novo Tes- tamento de Tyndale custava 3/-— néo era uma soma pequena. Entretanto, ‘08 textos biblicos manuscritos dos lollardos custavam de sete a 18 vezes mais.” Isso foi uma revolugao. E, uma vez que foi iniciada, tornou-se irrefredvel. A professora Eisenstein demonstrou brilhantemente 0 estimulo que a impren- 2a deu ao anticlericaliemo: o que antes era murmurado nas tabernas agora podia ser lido por qualquer um. As indulgéncias para os pecados passaram a ser impressas; o fato de que elas tivessem rendido lucros substanciais a em- preendedores chocou os crentes sérios. Os ataques dos luteranos as indul- géncias também foram impressos: uma controvérsia religiosa tornou-se impossivel de ser controlada. A quantidade de obras de Lutero que foram vendidas geraria inveja em nossos modernos escritores de romances po- pulares. , ‘A Reforma aconteceu simultaneamente com a ascensio das cidades vvres e foi a imprensa que interligou ambos os fatos. Os impressores, publ cando tanto para 0 mercado interno quanto para a exportacio, tiveram grandes — e novos — lucros: um exemplo é o impressor de Antuérpia que publicou o Novo Testamento de Tyndale. A principal mercadoria de expor- tayav de Genebra foram os livros, a maioria eccrita por refugiados religio 32 1A INGLESA EAS REVOLUGOES D0 SécuLO XVII sos, que assim pagaram caro por sua aceitagao. E nem os impressores eram muito seletivos agora que tinham liberdade para imprimir: Sarpi teve 0 seu livro, Histéria do Concilio de Trento (1621), impresso em Genebra reimpresso em outras regides protestantes. “Desde os tempos de Castellio a (.) Voltaire, a industria da impressao foi o principal aliado natural dos filé- sofos libertinos, heterodoxos ¢ ecuménicos.” Alguns pequenos paises pro- ‘estantes, ansiosos por expandir seus mercados, agora nfo tinham mais razbes para temer 0 poder repressor de Roma. A professora Eisenstein est correta ao ver nestes fatos uma revolucio cultural. Ela cita 0 panfleto utépico Macaria, publicado pelo efrculo Hartlib em 1641: “A arte da impressio vai expandir tanto 0 conhecimento que as pessoas comuns, conscientes de seus préprios direitos e liberdades, nio se- 0 mais governadas por meio da opressio €, por isto, aos poucos, todos os reinos serdo como a Macétia”, isto é, serdo ut6picos.” Esta foi uma previsio um tanto prematura em 1641. A longo prazo, houve conseqiiéncias também de carster econdmico para 1s escritores. Eisenstein assinala que Erasmo mostrou como os homens de letras podiam emancipar-se do status de dependente, embora fosse necessé- rio um século ¢ meio para que os menos eminentes desfrutassem essa liber- dade. Ela afirma ainda que gracas & impressio foram possiveis alguns -movimentoc reformistas, até mesmo entre o¢ cat6licor, que nio mais espera ‘vam a permissio papal para formar novas ordens ou reformar uma antiga, ¢ sequer freqiientavam mais as salas de espera das autoridades em Roma. A teologia abriu-se & laicidade, de Calvino a Bunyan, A impressio estimulou um academicismo apurado, inicialmente biblico e, depois, cientifico.”” A decisio do Coneilio de Trento de que a Vulgata fosse a tinica versio oficial nao mais poderia ser sustentada. As disputas entre protestantes ¢ cat6licos, e no seio dos préprios protes- tantes, intensificaram um retorno a Biblia que objetivava investigar a exati- dio de seu texto, o que estimulou uma grande onda de estudos biblicos. William Bradshaw, em seu livro English Puritanisme (1605), insistia em que (8 estudantes da biblia “deviam seguir estas regras somente se fosse itil para descobrir 0 significado de outros escritos”: sem interpretagdes aleg6ricas, nem interprctanlo v text & luz da wadigav eUlesidstiva.”® O Treatise of the Cornuptions of Scripture (1612), escrito por Thomas James, o primeiro biblio- tecirio de Bodley, foi, neste contexto, um marco. Uma vez que a Biblia te- nha se tornado o arbitro supremo, um texto oficial deveria ser estabelecido a partir dos mais rigorosos critérios de erudigio. A autoridade dos padres, para os quais os catGlicos apelavam, podia ser desprezada. James denunciow todos 0s “indices expurgatorii, e afirmou ter utilizado o Index pontificial para ajudé-lo a decidir que livros deveria comprar para a biblioteca de Bodley.” A andlise penetrante dos textos feita por James ¢ a sua exposicio ddas falsificag6es contribufram, em siltima andlise, para solapar a confianca na autoridade da Brblia. ‘Acste respeito, concordo com Elizabeth Eisenstein ¢ me oponho &s con- clusdes do artigo de Gillian Brennan “Patriotism, Language and power: English Translations of the Bible, 1520-1580”. Este tiltimo deseja nos fazer ‘acreditar em uma “ruptura na elite intelectual entre os conservadores, que queriam preservar seu monopélio de acesso a0 conhecimento através do uso das kinguas elissicas, eos pensadores progressistas, que compreenderam que poderia ser mais fécil controlar as idéias das massas usando a lingua corren- te”. Tal teoria me parece levar & recente ¢ absurda obsessdo com a existéncia de uma ligagao entre literatura e poder. Eu nio acredito que estes “pensado- res progressistas”, que arriscaram, ¢ freqiientemente sacrificaram, a propria vida para culocarem a Biblia verndcula a0 alcance de todos os compatrioras, estivessem preocupados principalmente com “a manipulagio da lingua como forma de poder”. Depois do acontecido, apés observarem 0 que as pessoas ‘comuns conseguiram extrair da Biblia em lingua verndcula, somente af, mui tos como Lutero chegaram & conclusio de que uma catequese feita pelos mi- ros da Igreja era mais segura do que a leitura irrestrta da Biblia. Porém, nao havia nenhuma intengio de traduzir a Biblia com 0 objetivo de obter 0 controle de uma populagao inquieta. O fato de que houvesse uma demanda por tuma Biblia em lingua inglesa é um dos aspectos deste caso que precisa ser explicado em termos de um desenvolvimento econdmico ¢ social que re- monta ao tempo de Wyclif. Tyndale, entretanto, dificilmente poderia ser definido como um politico calculista. Nés no devemos ler na mente dos primeiros reformadores consideragdes que ocorreram a alguns de seus su- Cessores somente depois de uma ou duas yeragies de experiéneia, BLIA INGLESA E AS REVOLUCOES DO StcuLO XVII Para os catélicos, as imagens serviam como os livros dos iletrados. Os pro- testantes ¢ 0s impressores demonstraram que mais pessoas podiam aprender a ler, 0 que criow uma nova cultura** ¢ um novo interesse pela educacio popular, tanto no que se refere aos educadores quanto no que concerne Aque- lesa serem educados. “N6s atraimos as pessoas para a leitura e para ouvirem a Palavra de Deus”, escreveu o bispo Jewel. “Apoiamos 0 conhecimento eles [cat6licos| a ignorancia.”** Mais tarde os bispos perderam esta confian- ga. “Os erros”, escreveu Joseph Hall durante o reinado de Carlos 1, “que naquela época podiam apenas rastejar fantes da Reforma], agora podem voar.” *Nés precisamos aprender com os nossos sibios adversérios, que adminis- tram o governo da Igreja Romana” e permanecer em completo siléncio.” ‘Ainda em 1643 Francis Cheynell penson que “teria sido melhor refutar 0 socinianismo em latim” do que em inglés. Mas em um segundo instante ele reconhecen que, aquela altura, era tarde demais para evitar que as pessoas ‘comuns lessem sobre as controvérsias teolégicas." Andrew Marvell, escte- vendo depois da experiéncia da Revolucio, ironicamente imaginou um fu- turo bispo dizendo a si mesmo que “a imprensa (..) causou tantos danos & disciplina de nossa Igreja que agora nem todas as doutrinas podem reparé- oti feliz aquele em que todo o aprendizado estava em manus- critos, € um funcion: subalterno, como nosso autor [Samuel Parker], guardava as chaves da biblioteca. (..) Mas agora (...) um homem nao pode escrever um livro, que em breve Ihe sera respondido, (...) Houve maneiras de descobrir como banir os ministros [e reunides das congregagdes popula- res], mas até agora nenhum estratagema foi capaz de evitar estes encontros sedutores com as letras”. O livro da época elisabetana Homily against Disobedience and Wilful Rebellion colocou em confronto a determinacao papal em manter “espe- cialmente a gente comum” na ignorancia com relacdo a0 acesso a Biblia verndcula na Inglaterra.” John Jewel afirmou: “a menos que se saiba que nio é possivel julgar; a menos que se ouga ambos os lados, nao € possivel saber”.*" “Quando Deus deu [a Adio] a razio, Ele lhe deu a liberdade de escolha, porque a razio é a capacidade de escolher”, disse Milton em as | ‘Areopagitica, quando pedia liberdade de imprensa nas questdes politicas € nas religiosas.* O bispo Jewel também declarou que a autoridade da Biblia estava acima do Concflio Geral da Igreja, era a intérprete maxima nas con- trovérsias doutrinais.” Ele, porém, nao disse quem deveria interpretar a Biblia. ‘A leitura popular da Biblia alarmou os conservadores. Thomas More disse, em 1530, que se tratava de uma “heresia pestilenta” supor que “nao deve- amos acreditar cm nada além da pura Escritura”. Henrique VIII se quei- xava com o Parlamento em 1546 de que a Biblia era “disputada, versejada, ‘cantada e tocada em todas as tabernas ¢ cervejarias”.** O epigrama de Ivan Roots de que a Reforma comegou nas cervejarias da Inglaterra expressa uma verdade fundamental.“* Onde mais as pessoas comuns poderiam se encon- ‘rar para uma discussio? Acexplosio da imprensa durante a relativa liberdade da regéncia de Eduar- do VI permitiu que 0 protestantismo e as discussdes religiosas se estabele- cessem na Inglaterra. Segundo Joseph Martin, “a imprensa colocou mais € ‘mais pessoas em contato direto com a Biblia”. A sofisticacio bfblica dos mértires marianos das classes baixas foi o seu trago mais marcante. Eles en- frentaram os bispos € os estudiosos, debateram e questionaram-nos. A lem- branca deste fato nao desapareceu comi facilidade. Martin demonstrou que, ‘a0 longo da breve reacao catolica romana da cra mmatiaua, os artifices publi- cavam suas opinides para que fossem lidas pelos outros.” Todavia, de forma geral, a defesa da velha religido foi deixada ao clero; e durante o reinado de ‘Mary, a repressio. Entretanto, ainda parecia possfvel que a imprensa pudes- se permanecer na Inglaterra. O livro de John Standish, Discourse where itis debated whether it be expedient that the Scriptures should be in English for all men to read at wyll (1554), enfatizava as conseqtiéncias sociais da leitura descontrolada da Biblia. Os pregadores leigos “nos hugares remotos ¢ reuniées secretas” iriam jogar os homens contra suas esposas, os senhores contra os ‘seus servos ¢ vice-versa. As mulheres “tomaram para si o dever de ensinar"s (08 servos tornaram-se “teimosos, voluntariosos ¢ desobedientes com seus se- mhores”.** Agora os soldados e servicais podiam falar tanto nas Escrituras, fato lamentado por Anthony Gilby em Pleasant Dialogue (1566), que nio havia mais respeito pelos superiores.” 36 LIA INGLESA EAS REVOLUGOES DO SEcuLO XVI {As objecées a Icitura popular da Biblia sobreviveram por muito tempo. A Igreja dos Tudor esforgou-se em construir uma rede nacional de pregadores capazes de ir ao encontro das novas demandas de pregacao. Sua existéncia também poderia servir aos propésitos da policia, j4 que através deles as au- toridades “podiam conhecer com certeza pelo nome, ¢ em um breve perfodo de tempo, quantos e quais eram os inimigos (..) da religito e da comunida- de”, O puritano Laurence Chaderton, pregando a passagem da Epistola aos Romanos Xl, enfatizou o potencial da espionagem de um clero leal a0 governo.!° A Biblia em inglés no pOde ser abolida; mas, durante o século apés a Reforma, a Igreja Anglicana fez o possivel para atenuar o contetido revolucio- nario que alguis ingleses ¢ inglesas percebiam nela. O arcebispo Whitgift, da época de Elizabeth, nfo ocultou o seu desagrado em relacio a pratica de ler ce explicar a Biblia em casa, especialmente quando estranhos estavam presen- tes, sem que os praticantes tivessem tido educacdo universitéria para inter- pretarem “passagens diffceis”.*! Sir John Coke, no reinado de Carlos I, declarou abertamente que “a principal utilidade” do clero “agora é a defesa da nossa Igreja do nosso Estado”.* Todas estas atitudes poderiam ter tido sucesso se 0 clero tivesse conseguido monopolizar 0 uso da imprensa. Toda- via, esta nova invencio nao podia se restringir aos defensores do status quo, apesar de o Governo té-lo tentado. Quando houvea guerra civil, Henry Oxin- den incitou a pequena nobreza a permanecer unida para manter o governo episcopal; jé que o presbiterianismo queria “igualar os homens de condigao inferior aos nobres” ¢ “instituir um professor superior a um bispo em cada ardquia”.” Ainda em 1672 Andrew Marvell exp0s ao ridiculo 0 bispo Sa- muel Parker por lamentar-se de que “pessoas desqualificadas pudessem ob- ter permiss6es indiscriminadas para a leitura das Escrituras”.** A hiierarquia anglicana desejava assegurar-se de que em cada paréquia houvesse um clérigo culto que interpretasse as Escrituras para 0s seus paro- quianos, resolvesse seus problemas e contivesse qualquer pensamento heré- tico. Alguém que, tendo sido educado em Oxford ou Cambridge, nao alimentasse, ele proprio, idéias perigosas. Como uma ajuda adicional para a ‘ortodoxia, a catequese tornou-se o método mais adequado para disseminar io do século XVII vie verdades aceitas ans ignorantes: 0 sécnlo XVI e 0 i ram a proliferagio do catecismo. Tudo isto demonstrou ser Pec nivel educacional do clero elevou-se significativamente durante os reinados ide Elizabeth e dos dois primeiros Stuart, mas ainda deixava muito a desejar, © patrocinio Ieigo evitou que grande parte dos paroquianos tivesse vor ativa ra escolha de seus sacerdotes. Havia sempre os “cies mudos” — uma ex: pressio Biblica que registramos (safas, 56.10). Beneficios eclesi estos ea avareza dos vigérios acabaram levando ao pluralismo; algumas ‘pardqnias eareciam de um sacerdote residente, ou Ihes era impingido um cura miseravelmente pago. Esta inabilidade do clero reforcou a énfase puritana na religiio cultivada dentro do lar, na leitura e discussao da Biblia presididas elo chefe da familia. a a qc ducer universe denon sr unas vaguarda insuficiente. No novo mundo competitive que os circundava, 08 jovens nas universidades descobriram na Biblia uma alternativa para a socie- dade hierarquizada € uma Igreja igualmente hierarquizada, As classes letra~ das produziram traidores em seu meio. A partir do momento em que as Escrituras foram traduzidas para a lingua corrente ¢ impressas, a “caixa de Pandora” havia sido aberta. A Igreja medieval tinha encontrado muitas difi- culdades para conrer a heresia; mas agora a unidade eS ipsameee a sempre. A Biblia se mostrou capaz de gerar divisoes em Se Se eset cia vats acon Ape da repressio durante o reinado de Mary Tudor e da falta de estimulo por parte de Elizabeth, a tradicio popular continuou a florescer. Os pantfletos espirituosos e irreverentes de Martin Marprelate (1588-89) citavam Wyclif apresentavam aos prelados os nomes de Judas e Simon Magus como exem- plos de nao residentes.*! Marprelate pode ser reprimido, mas nao foi esque- cido. Em 1641, alguns de seus panfletos foram reimpressos, ¢ muitos novos tratados, com base neles, foram publicados, alguns deles pelo fururo leveller Richard Overton. Eles eram populares até mesmo no Exército.** (Os protestantes radicais fizeram questo de publicar edi¢des baratas da Biblia, Durante reinado de Eduardo V1, tanto a Biblia quanto os Livros “Apéctifos foram publicados em seis in octavo.” A Biblia de Genebra era nor- malmente impressa em itilico, ¢ nfo no antigo estilo gético, Isto a tornava barata, relativamente pequena e portatil. Por outro lady, « umissio na publi 38 A WIDLIA INGLESA EAS REVOLUGOES DO SECULO XVI cagio de edigoes baratas da Biblia dos bispos de 1568 ajudou a fazer com que a Biblia de Genebra se tornasse a Biblia do povo."" O monopélio manti- nha o preco das Biblias alto demais para que os pobres pudessem comprar, embora cépias mais baratas fossem contrabandeadas da Holanda. Os mo- nopélios, porém, sofreram um colapso depois de 1640, e as Biblias baratas passaram a circular livremente.** Em 1640 as Biblias én octavo eram vendi- das a 2 shillings € 8 d, quando vinham com as notas a margem e, ainda me- nos, em formato “duodécimo”.® Em 1650 o Exército escocés podia adquirir Diblias a 1 shilling ¢ 8d, cauka uma, mas ao que parece o prego padrao naque- Te ano variava entre 2 shillings e 2 shillings e 4d.! Todos os religiosos das indias Orientais estavam sempre com uma Biblia como matéria de leitura, juntamente com a obra de Foxe, Book of Martyrs, e a de Hakluit, Voyages. O mimero de Biblias e Novos Testamentos publicados na Inglaterra entre a Reforma ¢ 1640 foi estimado em mais de um milhao de exemplares. Por esta razio, em meados do século XVII, homens € mulheres ingleses ja haviam vivido um quarto de milénio de énfase na soberania das Escrituras como a tinica fonte divina para tratar qualquer assunto, inclusive a politica, ¢ uma fonte que deveria ser aberta a todos. Henrique VIII havia previsto corretamente os perigos de se permitir que as classes mais baixas pudessem discutir os assuntos politicos que cabiam a seus superiores. O secretirio de Estado da rainha Elizabeth, Sir Thomas Smith, acreditava que a maioria dos homens ingleses (¢ é claro todas as mulheres inglesas) existiam apenas para seguir regras. Em 1628, Carlos I sentiu-se ultrajado quando a Camara dos ‘Comuns pediu que a Petigio de Direitos — a primeira mudanca significativa nas pretrogativas reais — fosse impressa, porque ele no queria que o povo ‘comum a lesse ou discutisse. Em 1641, a proposta de imprimir “O Grande Protesto”, uma lista das queixas da Cimara dos Comuns contra o governo de Carlos 1, levou a um tumulto no Parlamento, no qual as espadas foram desembainhadas na tinica vez em sua hist6ria. Foi o pressgio de uma guerra civil na qual o Parlamento tinha de recorrer ao povo se queria que Carlos, fosse derrotado. (O momento decisivo veio em 1640, quando a censura eas cortes eclesias- ticas sucumbiram e, com elas, as restrices quanto as discuss6es sobre a Bi- blia — ou, na verdade, sobre qualquer outra coisa. Grupos de homens € 29 mulheres podiam agora ouvir juntos qualquer “pregador improvisado” que possuisse talento ¢ acreditasse ter uma mensagem a transmitir. Nao havia a menor possibilidade de controlar as heresias que trouxessem tais pregagbes: a originalidade era um dos meios através dos quais quem se autodesignasse pregador poderia ganhar seguidores. Na década de 1650, a igreja estatal de Cromwell restaurou certa ordem e controle; mas estava longe da perfeigio: a igreja 8 qual Bunyan se juntou nos anos 1650 era, efetivamente, uma Igreja “congregada”, mas seus sacerdotes realizaram 0 que tecnicamente era um meio de vida em uma Igreja nacional. Esta congregagao, como qualquer outra, teve um papel importante na politica. ‘A porta que havia sido aberta no mais poderia ser fechada de novo. “Bm vio o Parlamento inglés permitiu que as Biblias escritas em inglés pudessem entrar nas casas mais pobres, € que os homens ¢ mulheres mais simples procurassem as Escrituras”, escreveu Roger Williams em 1644, jé que “eles eram forgados a acreditar no que a Igreja acreditasse”.° Depois de 1660, a existéncia de discordancias teve de ser accita, ainda que relu- tantemente, como nunca fora antes de 1640. Entretanto, o tempo dos “pre- gadores improvisados”, com seus ouvintes de passagem, havia terminado. Em 1672 0 governo de Carlos I insis dulgéncias” fossem registradas e autorizadas. Assim, algum controle havia sido instaurado: os elérigos dissidentes podiam ser considerados responsé- veis por suas congregagbes. Apenas em 1689 o Parlamento péde aprovar 0 Ato de Tolerancia. Francis Bacon acreditava que trés grandes invencies haviam sido in- troduzidas neste novo mundo em que vivia — a pélvora, a biissola e a im- prensa. A pélvora contribuin para o estabelecimento de Estados nacionais centralizados na Europa ¢ para o bom relacionamento entre eles; a pélvora, juntamente com a baissola, tornaram possivel a extensio do dominio euro- peu pelo mundo e o conseqiiente enriquecimento deste continente. Aimpren- ‘sa expandiu 0 conhecimento. Porém, vista em suas conseqiiéncias politicas, era ambivalente. Por um lado, ela tornou possivel que mais pessoas recebes- sem educacao, ampliando, assim, a chamada nagio politica; por outro, ela ofereceu novas possibilidades de manipulagio e controle da opiniéo publi ca. Em ambos os processos a Biblia teve un papel fundamental. Ela também que as Igrejas que concediam “in- A AINLIA INGLESA AS REVOLUCOES DO s€euLO XVII foi responsavel por modos de pensar que justificaram a expansio ¢ a supre- macia européias. wv A Biblia foi fundamental para toda a vida intelectual e moral dos séculos XVI ¢ XVII. A partir do reinado de Elizabeth, as controvérsias entre presbil rianos ¢ adeptos da Igteja episcopal passaram a girar em torno dos textos biblicos. Para Walter Travers, por exemplo, o relacionamento da Igreja com 0 Estado teria sido determinado pelo fato de que os profe- tas do Antigo Testamento acharam necessrio repreender até mesmo os governadores escolhidos por Deus, como Davi e Ezequias. Entretanto, no era somente em questoes religiosas que a biblia era considerada uma fonte de autoridade. O grande oréculo puritano, William Perkins, declarou que as Escrituras “abrangiam varias ciéncias Sagradas”, inclusive a ética, a economia, a politica, a academia (“a doutrina de dirigir bem as esco- las”). Tomemos a esfera aparentemente secular da teoria politica. Thomas Hobbes foi denunciado por seus contempordneos como um ateu, uma acusagio que ele negou enfaticamente. Ele declarou que o Leviata deri- vou dos “Principios da Razo”: mesmo nao tendo tido éxito neste senti- do, ele estava “certo de que eram Prinefpios provindos da Autoridade das Escrituras”, e que ele o havia demonstrado nas Partes III ¢ IV da obra — metade do livro — que tratam da “Comunidade Crista” e do “Reino das Trevas”. Em ambos os casos a discussio é preponderantemente biblica. “Nao ha que ter poder sobre a consciéncia humana”, declarou Hobbes, ‘mas sim 0 da Palavra em si.”* Calcula-se que haja 657 citagdes do texto biblico no Leviata, e que no total existam 1.327 citagdes em suas seis prin- cipais obras politicas.* Hobbes certamente nao utilizou de forma incomum a Biblia, contudo 0 alcance de sua obra foi, & primeira vista, surpreendente, Toda a argumenta- sao do escrito péstumo de Sir Robert Filmer, Patriarcha, e de seus trabalhos publicados em inicios das décadas de 1640 e 1650, esta baseada nas hist6- tae do Antigo Testamento, do livro do Génesis em diante. Filmer acreditava ‘que a Biblia deveria ter precedéncia sobre qualquer outra autoridade. Locke, em sua resposta a Filmer, em 1690, nao contestou tal pressuposto, mas con- centrou-se em mostrar que seu raciocinio ia “contra as palavras expressas das Escrituras”. Locke também acreditava que “A Biblia era a principal fonte historica para qualquer esforso de fornecer um relato ‘hist6rico” da existén- cia humana” * Algernon Sidney, na obra Discourses Concerning Government (1698), também debateu com Filmer em seu prOprio terreno, sem rejeitar que a Biblia possnisse sua autoridade. James Harrington, como Hobbes, é considcrado um teérico politico laico, mas cita a Biblia mais freqiiente ¢ extensamente do que qualquer outra fonte; a Biblia e a historia de Israel abrangem grande parte de seus escritos.”” Milton, em 1642, referiv-se 4 Biblia como “aquele Livro em ‘cujo contexto Sagrado toda a sabedoria se encontra’.”' Seus escritos polf- ticos, principalmente The Tenure of Kings and Magistrates (1648) e Ready and Easy Way to establish a free Commonwealth (1660), si0 completa- mente biblicos. J. H. Sims, @ propos das epopéias, fala de uma “saturagio iblica da mente de Milton”.”? Nao eramt certamente menos biblicos os escritos dos levellers, especialmente Liburne, os de Gerrard Winstanley, de Ranters , particularmente, os adeptos da Quinta Monarquia. O livro de Sexby, Killing Noe Murder (1657), possufa epégrafes extraidas do se- gundo Livro de Cronivas, descrevendo respectivamente of assassinatos de Atélia ¢ Amazias. Ambos tiveram a aprovacio das notas de margem da Biblia de Genebra.”’ A pritica politica prevalecia sobre a teoria politica. A histOrica alianga entre os parlamentos da Inglaterra e da Escécia contra Carlos I em 1643 tomou a forma de um Solene Pacto e Acordo, segundo fa tradicao do Antigo Testamento — voltando a um assunto jé discutido nos primeiros acordos nacionais com a Escécia. O povo de Deus era um povo de concérdia.”* ‘A Biblia também foi fundamental para varios cientistas. Richard Hakluyt afirmou ter-se interessado por cosmologia apés ter lido Salmo 107. O principal obstaculo para a aceitacio da teoria heliocéntrica era a descrigéo contida no Génesis 1.16 de que 0 sol ¢ a lua cram “dois grandes luzeiros”, ¢ 0 comando dado com sucesso por Josué para que 0 sol parasse, descrito em Josué 10.12, sobre o qual a Biblia de Genebra nao achou necessério 42 A IBLIA INGLESA E AS REVOLUGOES DO SEcULO XVI! tecer comentarios. O principio de Calvino da adaptasio, isto é, de que a Biblia foi escrita para a compreensio de seus leitores, girava em torno des- tac outras passagens semelhantes que pareciam ser contraditas pela obser- vagao cientifica. Tais posicoes adquiriram forca a partir do desprezo tradicional dos eruditos em relacio & ignorincia do povo, agora capaz de ler escritos antes limitados as pessoas instrufdas. Segundo Calvino, Moisés “nao era ignorante em geometria”, mas descrevew a construcio da arca de No€ “de uma forma simples, adequada a capacidade do povo”.” Galileu tetia sido avisado de que a teoria copernicana sé poderia ser defendida com base no pressuposto de que a Biblia fala “segundo a linguagem do povo comum”, Galileu concordou que “a mente superficial das pessoas comuns” deveria ser protegida da verdade sobre o Universo, jé que, no minimo, “clas ficariam confusas, obstinadas e contumazes” & submissa anuéncia “em rela- go a elementos cruciais que sio categoricamente questdes de f6". “Os co- mentaristas” sensatos devem “buscar 0 verdadeiro sentido dos textos das Escrituras”, deixando a linguagem comum biblica intacta para “os ja to ‘numerosos homens do povo”.”” Edward Wright, no prefacio ao livro pioneiro de William Gilbert, Of the Loadstone (1600), declarou que o sistema copernicano poderia conciliar-se ‘com as Escrituras. “Nao parece que Moisés ou os profetas tenham tido a intengio de proclamar disting6és fisicas ou mateméticas; © que fizeram foi, antes, adaptar-se a compreensio do povo comum ¢ ao estilo da linguagem.””* “A Biblia fala a Ifngua de todos os homens”, disse Kepler.” John Wilkins, futuro bispo, usou argumentos semelhantes para defender o sistema coper- nicano. Ele disse vivamente que “os redatores das Escrituras” poderiam até ser flagrantemente ignorantes, mas que, ndo obstante, “a astronomia dé pro- vas da existéncia de Deus e da Providéncia divina”, e confirma a verdade da Biblia. O matemético Thomas Hood concordou que, depois da Biblia, “a arte da astronomia deveria conduzir principalmente ao ensinamento do co- nhecimento de Deus”." Sir Isaac Newton acreditava que Moisés “ajustou suas palavras as concepgées toscas do homem comum”, traduzindo conccitos as- ‘tronémicos em linguagem cotidiana."? Em 1646 John Hall of Durham perguntou a Benjamin Worsley, “seriam as Escrituras um bom jutz para as controversias fisicas?” Worsley era contra- 42 rio construgio “de um axioma em fisica” baseado em “uma expressio Pro” Vavel das Escrituras”, preferindo “a evidéncia da razo ou a demonstrasio pela experiencia”? Tanto Napier de Merchiston, no comeso do século, .ximo ao seu final, estavam preocupados com as 10, baseados nos textos biblicos. O livro quanto Isaac Newton, jé pro previsdes referentes ao fim do mund te Newton, Chronology ofthe ancient nations amended, foi um esforco para Gesmentir as erfticas racionais da Bfblia ¢ unir a historia profana “aos cami- hnhos da narureza, & astronomia e & histéria sagrada”.™ Francis Bacon pro- estou contra o fato de se fazer do Génesis uma base para a astronomia; porém, consideragées milenares motivaram a sua prépria abordagem & cia! ‘Nao devemos pensar apenas no que hoje consideramos “ciéncia”. A alquimia, que preceden a nossa quimica, era profundamente biblica Donne, em seu livro The First Anniversary, escreveu sobre “a verdadeira alquimia religiosa”; ¢ em um sermio em 1622 citou Tsafas para ressalian Gque “Deus pode trabalhar com todos os metaise transmuté-los todos”.¥ Robert Fludd, em sua obra Mosaicall Philosophy, utilizou “os axiomas ¢ testemunhos das Escrituras (..) para provar ¢ manter a sua filosofia”, Para ele, a Biblia é 0 “suporte de todas as artes” — astronomia, meteorologia, fisiea, misica, aritmética, geometria, retérica, artes mecénicas, filosofia moral e politica!” Newton acredirava que fosse “um paradoxo novo € dmirdvel que a alquimia tenha cooperado com a antighidade ¢ a teolo- sia." Lyndy Abraham recentemente ilustrou ricamente @ alquimia cristianizada de Marvell.” ‘Aastrologia, predecessora da astronomia, era mais di Biblia, jé que muitas de suas afirmag6es pareciam rivalizar em vez de com- plementarocristianismo, Havia wma antipata especial entre a predestinagso F vinista e uma astrologia que parecia igualmente determinista. Calvino, em seu Commentary upon... Isaiah, embora insistisse que “as agbes dos homens tndo eram governadas pelas estrelas”, nfo condenava “aquela astrologia que ontemplava o caminho das estrelas”,¢ estava preparado para admitir que "as ones o homem pode vir a descobrir certas coisas” através da astrologia/as- Tronomia, e tomnar-se capaz de prever a fome, as pestes, os anos fértes € nferels "e cuisas deste tipo”. Os teélngos calvinistas John Preston, Joseph | de conciliar com LIA INGLESA EAS REVOLUGOES DO SécULO xv Caryl, Wil astrologia. iam Greenhill e © bispo Robert Sanderson tinham interesse n: Wither animadamente ap6ia ambos os lados: ‘Tanto pela razio como por bom senso Nos sabemos, ¢ freqientemente sentimos, que do alto __ Ot planetasexercem sobre nés certain luéncia E que nossos corpos variam segundo seus movimentos. ‘Além dso, a Sograda Escrcara confirma s8m este poder" ave ces © bispo Carleton, em 1624, publicou Astrologomania, uma refutagio esme- ee Durante a Revolugéo, Thomas Gataker, John Goodwin, John Ow liam Bridge, Philip Nye eouttoe menos importantes ataaram a sole fa Mlon reno cono vn thgoem 0 Ro omnis Ww, pipe anc area preparado para admitir que “existe uma parte ologia que nao é nem instil e nem ilegal”.”* Nas décadas de 1640 165, a hostidade ene ox presierianos es slopes era cars, im como 0 anticlericalismo de muitos escritores de alm: 7 Nicholas Fiske falou da “a m peuenscae eats 0s cia do clero” que havia impedi Ete Sac pea ig eh oe = dito em Leiden que “vocés, na Inglaterra, tém gvandes arlogor”?” Em feverciro de 1653, Thomas Scott, em um relat6rio ao Parlament > do Comi. ih Pela PropagncSo da Pelaven de Pk ea age «iis sso “a sbiomiatvel ancolopin lta gud mantel TRENA Seopa eee sea fee dependéncis da Providéacla Diisa?" jernard Capp produziu varios exemplos das tentativ otse XVI e XVI, Scolar» wig Se late coca eee milenarismo.”” Miles Coverdale, cuja tradugio da Biblia para gles surgi em 1535, aparentemente publicou um guia espiritual no ano som: ac apres it Ue am ag o> leo, 0 arcebispo Laud anorou observagdes astrolégicas em seu di forum serio feo ao Parlatento om 1628, fee neln aR cor Hod Sino com Mare © reed Jn Sy ator de Sci Mand 5), publicou mais tarde alguns almanaques e defendeu a astrologia.”* A as CHRISTOPHER Mitt rainha Elizabeth e seus dois sucessores consultaram astrélogos. Alguns favo- ritos da realeza, como o conde de Essex, durante o reinado de Elizabeth, ¢ 0 duque de Buckingham, possuiam seus préprios astrélogos. Politicos de rele- vo como Denzil Holles, Oliver Cromwell, John Lambert, Bulstrode Whitelocke, 0 lorde tesoureiro Clifford e Anthony Ashley-Cooper acredita- vam, ou pelo menos consultavam, em astrélogos. © presidente Reagan po- deria ter sido intelectualmente respeitado 350 anos atrés. ‘© mesmo acontecia com os radicais. Gerrard Winstanley e John Webster recomendavam que a astrologia fosse ensinada, ¢ a medicina astrol6gica foi ‘uma das muitas ocupacées a que se dedicou Laurence Clarkson: ele mencio- nou, ainda, o interesse de George Fox por este assunto. Apés a Restauraca0, ‘0 conde de Claredon citou astrélogos em um discurso ao primeiro Parla- mento de Carlos TI; 0 jovial monarca, a0 que se diz, teria usado um astrélo- go para o Newmarket a fim de reconhecer os vencedores. Robert Boyle € John Locke usaram célculos astrolégicos para estabelecer © momento mais favordvel para o plantio de pednias. Existia uma Sociedade dos Astrélogos que promovia festivais anuais em Londres antes que surgisse a Real Socieda- de Inglesa. O sermio preparado para eles em agosto de 1651 tinha referén- ¢ William Aspinwall afirmou nio haver nenhuma ‘mengio na Biblia com relagio a Quanto a questio crucial do dizimo, de que 10% da renda bruta de todo o inglés devesse servir para a manutengo da paréquia, Lilburne con- cluiu que tratava-se de um costume hebraico abolido pelo Evangelho.”> Winstanley acreditava que o dizimo havia sido doado aos padres por Gui- Iherme, o Conquistador, de forma a manter os pobres em situagio de sub- missfio € que, portanto, deveria ser abolido em conseqiiéncia da vitéria do Parlamento na Guerra Civil.!”* © presbiteriano (e depois bispo) John Gauden, por outro lado, argumentou que, uma vez que o Novo Testamen- to nao mencionava o dizimo, isto queria dizer que ele nao tinha sido abo- lid.” Discutir a questio do dizimo conduzia a um debate sobre a possivel existéncia de uma Igreja do Estado, j que sem ele nao poderia haver ma- nutengdo regular do clero paroquial. Mas o dizimo também envolvia os direitos da propriedade leiga. Os dizimos “desapropriados” eram recolhi- dos por homens leigos cujos ancestrais estiveram em condigoes de arren- dar ou comprar as terras monésticas durante a Reforma. Isso afetou as Pregacbes, outra questio crucial. Onde os dizimos eram desapropriados, 0 desapropriador deveria manter uma cura com uma remuneracio irris inouficicnte para atrair um pregador instruido. Houve muitas desapropria- ‘ges no Norte e no Oeste: a familia Sidney, por exemplo, executou varias delas em Gales. Por esta razio, a expansio da pregagio “aos cantos mais obscuros da terra” entrava em conflito com os direitos de propriedade dos mais prosperos. Uma pregagao mais intensa parecia necesséria para com- pletar a conversio protestante da Inglaterra — fator indispensével para a seguranga nacional em um mundo onde © catolicismo militarizado encon- trava-se na ofensiva. Havia alguns paradoxos aqui. Os donos dos cultivos desapropriados formavam um valioso capital protestante, jé que a restau- Fagao do papado forcaria a devolucio das terras expropriadas; todavia, os Protestantes mais ardentes desejavam intensificar a pregacio — e abolit as desapropriagées. Como nos mostra o exemplo de Gauden, os argumentos podiam ser uusados em mais de um sentido. Hooker assinalou que nem a Santissima ‘Trindade nem o batismo na infancia foram diretamente autorizados pelas Escrituras, bem como nao 0 eram o casamento com alianga, 0 jejum, @ participacao das mulheres na Igreja, a necessidade de diplomas universit- Fios, bem como quase todas as fung6es, tftulos ¢ vocagbes da Igreja. Ele nao foi contestado.™ John Udall, com uma intengo mais hostil, demons- trou que a fungio de arcebispo era ilegal, porque inexistente nas Escritu- ras; da mesma forma as ordenagées, exceto para a cura de uma Igreja particular.” © arcebispo Bancroft opds-te, perguntando se seria ilegal ter magistrados cristios, jf que nfo havia nenhum no tempo dos Apésto- los.!° © bispo Sanderson, de forma ainda mais perigosa, acrescentou & lista das auséncias bfblicas 0 ajoelhar-se durante a comunhio, o sobrepe~ liz, os bispos lordes, a liturgia e os dias santos. Ele tentou diminuir os argumentos dos criticos da Igreja dizendo-Ihes que, se nés “seguirmos di- retamente a Palavra escrita de Deus” para cada ato, “toda a autoridade humana logo sera desprezada” — a autoridade dos principes, mas tam- bem a dos pais e a dos mestres.™ Laud também se manifestou contra 0 “desprezo e 0 desrespeito” & autoridade da Igreja, o que seria, a seu very resultado de uma atitude de exaltagio excessiva das Escrituras." “Se ndo ‘admitirmos nada além do que lemos na Biblia”, retrucou Selden, “o-que acontecerd com o Parlamento?™""* George Fox perguntou ao Dr. Cradock, {que viera visité-lo na cadeia em Scarborough, onde ele lera na Biblia que “nenhum padre jamais se casara?” Ele nfo registrou, porém, a resposta de Cradock.™ “Nao hé nada mais dura”, disse o sempre memoravel John Hales, “para um homem do que a sua prdpria cabeca, ¢ quando fortemente possufdo por uma opiniso, ¢ decidido a manté-la, cle encontra alguma passagem nas Escrituras onde, mesmo com a melhor das intengées, ele consiga corroboré-la.”"* ‘As estruturas politicas podiam, portanto, ser delineadas tanto pelos tex- 10s bfblicos quanto por seus siléncios. “Deixe-os entoarem as prerrogativas gue desejarem”, disse Milton em 1641, “n6s podemos thes falar das Es- crituras; dos costumes, nao das Escrituras; dos atos ¢ estatutos, ainda das Escrituras, até (..) a poderosa fragilidade da Palavra de Deus derrubar 0 fragil poder da razao humana”, e colocar um fim na “tirania ¢ na supers~ ticdo”.!¥ Outros nada encontraram na Biblia que justificasse as diterengas oa A BIBLIA INGLESA E AS REVOLUGOES Do SecuLO xvi de status ¢ riqueza. As distingdes entre nobres ¢ pessoas de bem sio “de natureza étnica e pagi”.**” Samuel Butler ridicularizou 0 que na sua época era tido como um argumento amplamente aceito: (© termo “tentagio do monsiro” £ carnal, e de eriagio do homer; Expressio que certamente nio existe Em nenhum registro das Escrituras. E assim ilegal e pecaminose.™ Henry Barrow falou de “este antigo termo papista do leigo” e os presbiterianos cescoceses niio encontraram nenhuma distineZo entre clérigos eleigos no Novo ‘Testamento. Eles contestavam o fato d ft fato de que os presbiteros fossem chamados de “presbiteros leigos’ Pare + eles também possuiam uma vocacii es -agio, como os pasto- es ee Oliver Cromwell, em janeiro de 1650, disse aos irlandeses que a distingao entre clérigos e leigos permanecia “desconhecida para a de- foxada Tprja antcrst esto para fzé-los dela derivarem, ab initio nom fut Entretanto, jé ultrapassamos os limites cronolégicos deste capit lo. Vol- temos aos anos anteriores a 1640. Notas 1. Beemplossimilares de so hips da Biba pest hp da iia fo abundant nas pegs de Marlowe 2. Negley Harte. “In Memory of F. J. Fisher”, em Fisher, London and the me glish . Lace gend (orgs. B. J. Corfield, N. B. Harte, 1990), p. 28. C - Lane Fox, The Unauthorized Versions Truth and Fiction in i mia ized Version: Truth and Pction inte ible (1991), 4, Selections from Lathrs Tbe Tl a Bell, 1892) le Talk (ers sell, »), p- 133; Luther and Era 7 Free Will and Salvation (orgs. E. G. Rupp ¢ outros, ie 5. Daqui por diante, far-s ee ea coe 4 referencia bra em ac al em portgu.(N 6 Halevi pot or Dect of be oe and rnc of ad to overament ofthe Word (ed revi, 163), p. 316, Priel publica pak Para Hakewill, ver tamby pp. 480-81. es fer meu “The World “Revolution”, em A Nation of Ch " ation of Change and Novel: Ra Pl, Relig and Literate tn Sevenientvcentary Bgland (330), eas revolugtes francesa € americana, assim como para falismo inglés, ver Bridget Hill, The Republican Virago: orian (Oxford U.. 1992)-Eudevo 8, Para Catharine Macaulay sua influéncia sobre o radi “The Life and Times of Catharine Macaulay, Hist muito a discusses com ela, 9, ame baseei aqui no valioso lvro de Basil Cotl, The Trivonph of English, 1350- 1400 (1968), p- 15. 40. Ellis, Specimens of the Early English Poets, L, pp. 76-81. 11, I Henry V1, segio ii; Cottle, op. cit. pp» 17-22, 1D. Cottle, op. eit, pp. 23-4, 169, 2215 ef. Anne Hudson, The Premature Reformation; SWyelfte Texts nd Loliard History (Oxford U. %, 1988), Capito 2 13. Cottle, op. cit., pp. 222, 226, 267. TE, Reastll av Abridgment of the Statutes, citado cm The Thought and Culture of the “English Renaissance: An Anthology of Tudor Prose, 1481-1555 (org E. M. Nugent ‘Cambridge, U. B, 1956), pp. 173°. 15. Foee, Act and Monuments (org J. Prat 14), 1, pp. 718-21; cf. 1, pp. 2523. Ver também W, Haller, Foxe’s Book of Martyrs and the Elect Nation (1963), p. 180. 16, Beard, Antichrist, the Pope of Rome (1625), pp. 181-2 17, Preston, Life Btemall (4° cd., 1634), pp. 10-135 [Robinson], John the Baptist, pre- ‘arson of Christ Jesus: Or, a necessity for liberty of conscience (1644), p. 74. 48. Ann Hudson, op. cit. p. 4. 15. M. Keen, “Wylif, che Bible and Transubstantiation”, ems Wyelif his Times (org. ‘A. Kenny, Oxford U. B, 1986), pp. 3-4. 120, Bale, The Image of Both Churches (1550), em Select Works (Parker Sot 1849), p. 336. 21, Gitado em The Bibl init Ancient and knlish Versions (org. H. Wheeler Rebinvony Oxford U. P, 1940), p. 156. 22, Tyndale, preficio a The Five Books of Moses (1530), em Doctrinal Treatises, pp. 393-4. 23, F Rose-Troup, The Western Rebellion of 1549 (1913), p.221; cf Foxe, op. cits IV pp. 225, 239, VI, pp. 723-4. 2A, Preficio a0 Nove Testamento de Rheims ctado em Records of the English Bible (org. A. W Pollard, Oxford U. R, 1911), p. 302. 25, Ver Elizabeth Eisenstein, The Printing Press as an agent of change (Cambridge U.P, 1979), « também S. Greenblact, Renaissance Self-Fashioning: From More to Shakespeare (1980), Capitulo Ils Joseph Martin, Religious Radicals in Tudor England (1989). 126, Martin, op. cits 71-33 ef. pp. 14-15 abaixo. 27, Basten, The Poor Hushandman’s Advocate to Rich Racking Landlords (org. F. J Powicke, Bulletin of the John Rylands Library, 10, 1926), p. 18: 28. D, Zaret, The Heavenly Contract: Ideology and Organization in Pre-Revolutionary Puritanism (Chicago U. B, 1985), p. 53. 66 A BISLIA INGLESA E AS REVOLUCOES DO sécuLo xviT 29, Eisenstein, op. city 1, pp. 404-19, Eu devo a referencia 3 impressora de Tyndale a David Daniel 30. Teds 1p 305. 1. bid 1 pp. 401-2; 1p, $68: Joan Simon, daca ye om and Society Tdor England ame refit tempresso de 1640p. 16, C.Joh : 15. Jon Jewel, An Apology ofthe Gre aa oft eS 1840, 8690p pan ot . A Seer pp. 1-74, 233-315, 327. Cf. William Whitaker isputation on Holy Scripture against the Papist (Parker Soc. a i feet Publicagao 1588. ie ces Opi, e History Workshop Journal 2 Bremen jo Journal 27 (1989), pp 3255 cf Esentin 35, Bresson. ct, vp 66-7. 36 Jeo op 38 Josep Hal, Works (Onford U , 1837), VI, pp 9 18579), Vl, pp 90, 3 Cet Te i Cet and Danger Scontoetac.). a = ere Rovere nee, eed (Oxford U. B, 1951), pp. 106- Be Mana Te Reba aupe or. Sh Oxo UB 1970 p45 {2 Homes Ox 8, 1800, 508 Jewel A Defence ofthe polo o the Cacho Jw De hel 5 Erland (1567) em Works Parker 42, MOPW Mp. 527 43, Jewel, Works, I, pp. 93,173 44. More Disope inst Luter and ym Moree Lathe and Td inom Thon ad Claro te 45. Chad por i. Wheeler Robinson, Th clr Robinson, The Bible in its Ancient “is iawn ‘ULB, 1940), p. 180. ee Ean ful capa de loicar ea refertcie Root das entoa ten cco nasties nn Pn oe se me ate 47. Marinoni p45, 123 cn i “Mes Hogarth: Aan and Ap Aor in Scent ery Egan Roe Que, XXRIV (98 48, Gia por Main Rin Radel». 118, . Ciad por David Norbrook, Poetry and Poiisin Cras ryan Politics in the EnglihRenaiesance 1986), $0. Maco pcp. 73,222 | Orgs Hi Gove We), Harty, Docent Hust om "i Msratvof English Chach Hisar (1896), BMS ofthe Ea Couper Comino de Nanos Harn. 1p, 90 $8 St D Guns Onn ad Mtn Late 16816701937). 367. 67 158. Maret An Epitome 1585 iD 4x Fay ny worker Cooper (1585 be té, Justice! La Vie et oeuvre de ie Gimelfarb-Brack, Liberté, Egalité Fraternité, Js ee fe wie cd Ovarian, Nveleur Berm, 1979), Parte I, Capita 3, Reliquse Baste 1690s P38 a 7 oO Se nafrmation Leer: Th Ter Orig ofthe Proto oe Genet et f sno sp Aldon in em 17 fort Bos oe Contalamepnto3 : Soc rillbieg or MBE AIRE EET AIS Coe. Mactan, cord U i p. 173; cf. Collectanea Curiosa (org. J. Gutch, 1781), l, pp. 275-6. dt Rtas vandal Simbrg7S4 RP ee ero se Pre: om Cant to Crm Se eee Gree (cool do Nore U2, 19), » 584) roe ieee ar Reig and Getes Ceoerre i Peels ree Be emt frome aera Sc 245) p°9 Wea Canales ae ae rms eis end Engh Confront Thong Pet are ter sen ss 7a Life 987 fs. feline Werks (1616-1) bps 10 ote etn gC Map, engin p. 378711 Bete occa ck wast alee, oo tae fe Mls Pret es ence Halts acindng Nance deer 69, Richard Asal, Locke's Two Treatises of Government (1987), pp. 63-66, 147, 4, E tilstoirb cohol e150 2780, Rac ebb 71. MCPW, np. 747, CL'TS, A Disine ictonaie. Or, The Bible Abevisted (3615), 2 o za Sn Te ee ars pc (ib UB, 1960, p- 250. pci yestlek bys Ai Peer aii CHER SSN tho Tice Hating Gate cies LV, 195) pp. 3962 76: Cala enue el ork Pk: d. Vin, (86S. ps 887.2 77, Gallen, ctado por Margaret Jacob, The Cultural Meaning ofthe Scientific Reokaion Bom ne 188) 7p 213 1976), 79. Keplet, Nova Astronomia, citada por F. E. Manuel, The Religion of Isaac Newton (Oxford U. B, 1974), p. 36, 80. Wilkins, A Discourse Concerning a New Planet (1640), pp. 10-4, 171-2. Arnold Williams, The Common Expositor: An Account of Commentaries on Genesis, 1527- 1633 (Carolina do Norte U. B, 1948), pp. 176-7. Nem sempre Wilkins teve tanta ccerteza quanto & verdade literal da Biblia, ver p. 307. 81. Hood, citado por Margot Heinemann, “Rebel Lords, Popular Playwrights and Political Culture. Notes on the Jacobean Patronage of the Earl of Southampton”, em The Yearbook of English Studies, 21 (1991), p. 81. 82, Newton, Correspondence (org. W. H. Turnbull, Cambridge U. P, 1959-77), 1, pp. 529-4, 83. Stephen Clucas (1991), p. 42. 84, M. Hodgen, Early Anthropology in the 16! and the 17% U.P, 1964), p. 319, 85. Arnold Williams, The Common Expositor, p. 176, 86. Eugene R. Cunnar, “Donne's “Samuel Hartlib's Ephemerides™, The Seventeenth Century, VI ‘centuries (Pennsylvania ‘Valediction forbidding mourning’ and the golden compasses of alchemical creation”, em Literature and the Occult: Essays in Comparative Literature (org. Luanne Frank, Texas U. B, 1977), pp. 74, 72. 87, Fludd, op. cit. para “Judicious and Discreet Reader”, e pp. 17-25. Primeira publi- agio em latim em 1638. Minhas citagdes foram retiradas da traduéio inglesa de 1653. 88. Newton, citado por C. Webster, From Paracelsus to Newton of Modern Science (Cambridge U.P, 1982), p. 10, 89. Abraham, Marvell and Alchemy (1990); c. Davenant, Gondibert (org. D. E. Gladish, Oxford UB, 1971), 90. Calvino, op. cit. traduzido por Clement Cotton, 1609), pp. 191-2 (comentando Isafas, 19.12) € 473 (Isaias, 11; 7.12-13). 91. Wither, Fair Virtue: The Mistress of Phi'arte, selecionados de A Collection of Emblems (1634, segunda paginacio), p. 177. 92, Milton, Of Christian Doctrine, MCPW, VI, p. 696. 93. Capp, Astrology and the Popular Press: English Almanacs, 1500-1800 (1979), pp. 32, 143, 153-6. Ver especialmente pp. 164-79 para astrologia e milenarismo. 94. Fiske, An Astrological Discourse with Mathematical Demonstrations, Prefic 95. Mercuains Politicus, 33, 16-23 de janeiro de 1651, p. 545. 96. C. H. Simpkinson, Thomas Harrison, Regicide and Major-General (1905), p. 151. 97. Capp, op. cits ef. 0 seu Cromwell's Navy: The Fleet and the English Revolution, 1648-1660 (Oxford U. B, 1989), pp. vi, 327-8. Ver pp. 417-18, 98. Capp, Astrology and the Popular Press, pp. 140,143, 3335 ef. TRDM, pp. 283- 385. 99. {Anon}, The New Jerusaiem (1652), sig A-4v; Robert Gell, Stella Nov. OFA Sermon Preached ta. the learned Society of Astrologers, 1" de uguswu de 16495 A Sermon lagic and the Making ese for th rad hing Gos Goverment of he Word by Angel Presch aa a ooops 8b agora 1650. Vex IDM, pp. 3045. a ee ctr pry and owe aon Eat Nodr Hn 149), dsc ee ein, sel abl pein gland (inn Pat de lgns slog durante x ced r= iment um “ah afta de hind ane dos padres cess sa mre concordan om cle ua 20 fa de gue aR aa aol pic cmervalon eae guar Se ec editing cies mods de Boye Ho Seis acme do oo enor ops incre pl ade ay ating coer par bene a human Se a ee parece ofrecer om eng melo: CFRDM, Se nee a apy Aatolgy and the Pople Pres). Fo ee ioe llc arts hot em rag aos “alogs, © 28 ” adivinhadores”; ¢ a magia de Daniel foi imensamente superior Aquela de todos os ae ae tdvanes Jo rime de Nabocodonnor ase! 120, cane et Magus 512 © Zcaria 102) fea cetlogs and te Poplar Pes, pp. 1334 ck p-ACA 2 ee tad 182, 197°. > er. 108 a ee (GAO Joye Rasher, “The Secretion Tone of care tori 30 (1981) 1. ec al alate 105, Yer. 106 1 eo sbre Wikis confer do pofeor SF Maton em Fa nem Note and Rack ofthe Rayel Soci, 6 207, Ere oF mo the Whole Wold (160 Exposition won the : Prophet Jones (1613), pp- 219-20. Estas 600 paginas, publicadas pela primeira vez ee sea dbe menor ono Aig examen. Pesan ra to, 133), 16-0 aloo tein ened abn a ia 10 niker Bowen The Lon ond the Throne The Life ond Tins of Sr " ‘Edward Coke, 1552-1634 (1957), p. 417, Coke, II Institutes, pp. 120-9- ae fart des Report (S007, ; : 111, Coke a Sis rt det or a Law of God Sc Henry Fach (15581625), 1 aR Pr vais: Esso SevententhContry History (or D. ea a oman, Onford U. fy 1978) pp. 98-102 a a Compe ors rg AB-Grou 1880 1p. 329; nl ” “Williams, op. cit. pp. 144-5. pari 99) 70 A INGLESA EAS REVOLUGOES D0 SécuLo XVII 116. Prideaux, An Easy and Compendious Introduction for Reading all Sorts of Histories (1648), p. 33. Este livro, que em 1682 jd possua seis edges, fi editado pelo pai dde Matthias, John Prideaux, bispo de Worcester (1578-1650). Este bispo era um pluralista antiarminiano, autor de The doctrine ofthe Sabbath (1634). Ele foi indi- cado para Worcester en) 1641, quando Carlos I estava tentando apaziguar os pur tanos. Foi indicado para a Assemblia Divina de Westminster, mas no obteve uma cadeira. Nao temos como saber quantas edigies ele fez. Vejo~me obrigado a citar ‘com freqineia Mathias Prideaux. 117. Amold Wiliams, op. city pp. 140, 155. 118. Prideaux, op. cit, p. 10; Verstegan, A Restitution of Decayed Intelligence (Antuér- pia, 1605), pp. 190-1. Em The Alchemist (1610 — Avo Tl, cena D) de Jonson, Sit Epicure Mammon dizia que eles falavam um alemio moderno, mas errado. 119. MCPW, VI, p. 106. Cf. pp. §47-55 adiante. 120. Ver pp. 256-60, adiante. 121. Hooker, Laws of Ecclesiastical Polity, Livro 1, xis I. 122, Sermons of Master Samuel Hieron (1624), pp.72-3. Publicado postumamente. Hieron morreu em 1617. 123. FS, VILL, p. 205; ef. XX, pp. 202-3 XXX, pp. 197-202. 124. Hooker, The Laws of Ecclesiastical Polity, Preficio, ° parsgrafo, Livro I, vi 425, William Chillingworth, The Religion of Protestants (1637). 126. J. D. Spikes, “The Jacobean History Play and the Myth of the Elect Nation”. Renaissance Drama, New Series, VII (1971), pp. 136-9. 127. G. Davies, The Restoration of Charles I, 1658-1660 (San Matino, 1955), p. 353. 128, Ruth Spalding, Contemporaries of Bulstrode Whitelocke, 1605-1675 (Oxford U. B, 1990), p. 39, 129. Orgs. A. Peel e LH. Carlson, The Wi (1953), p. $30. 130. Taylor, A Commentarie upon the Epistle of St Paul to Titus (1619). 131. TRDM, pp. 45-6, 118, 214. Ci. Mercurius Poiticus, 24 de feverciro a 3 de marco dde 1653, p. 2.262: numa prece questionando o Triumph perguntava-se onde se cencontrava a frota holandess, “ea resposta x6 foi decfrada em 2 Crénicas, 20.16", 132. Org, WH. D. Longstafe, Memoirs of the Life of Mr. Ambrose Barnes Surtees Soc, 1, 1866), p. 107, 133. §. R. Gardiner, History of Eland from the Accession of James Ito the Outbreak of the Civil War (1883-4), VI, p. 354. Ver pp. 61-62, mais adiante. 134, 1 Reis 12.10-19; ver também 2 Crénicas 10.16, ef. 2 Samuel 20.1. CEC. Russell, “The Theory of Treason in the Trial of Strafford”, EHR, LXXX (1965), pp. 41-2. 135, Sabine, p. 623. 136. Abbott, Writings and Speeches of Oliver Cromwell (Harvard U. B, 1937-47), 1, p. 576. Cromwell provavelmente utiizou uma nota de margem da Biblia de Ge- nebra inscrida no Livro de J6. “0 hipécrita nio deve reinar” — tiranos si0 hipécritas. sgs of Robert Harrison and Robert Browne

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