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200 MULHERES QUE CORREM COM OS LOBOS A rejeigao & crianca diferente Na hist6ria, as diversas criaturas da comunidade examinam o patinho jg» ede um modo ou de outro o declaram inaceitavel. Na realidade, ele nao ¢ feio. Sé nao combina com os outros. E tao diferente que parece um feijig preto num balde de ervilhas. A mae pata a principio tenta defender ese pa tinho, que ela acredita pertencer & sua prole. Afinal, porém, ela fica pro. fundamente dividida em termos emocionais ¢ deixa de se importar com o filhote estranho. Seus irmios e outros membros da comunidade atacam-no, bicam-no €0 atormentam. Sua intengio é a de fazer com que ele fuja. E 0 patinho feio sente um aperto no coracio, por ser rejeitado por sua propria gente Isso € terrivel, especialmente levando-se em consideracao que ele na reali. dade nao fez nada que justificasse esse tratamento a nao ser ter a aparéncia diferente ¢ agir um pouco diferente dos outros. Para dizer a verdade, te- ‘mos nesse caso, antes mesmo que a criatura chegue & adolescéncia, um patinho com um enorme complexo psicolégico. As meninas que demonstram ter uma forte natureza instintiva muitas vezes passam por softimentos significativos no inicio da vida. Desde a épo- caem que sao bebés, sao mantidas presas, domesticadas, e ouvem dizer que sao inconvenientes ou teimosas. Suas naturezas selvagens revelam-se bem cedo. Elas so curiosas, habilidosas ¢ possuem excentricidades leves de vi- rios tipos, caracteristicas estas que, se desenvolvidas, constituiriam a base Para sua criatividade para o resto das suas vidas. Considerando-se que a vida criativa ¢ 0 alimento e a 4gua para a alma, esse desenvolvimento bisi- co é de importincia dolorosamente critica. Geralmente, o isolamento precoce comeca sem que seja por nenhuma culpa da crianga e ¢ exacerbado pela incompreensao, pela crueldade da ig norancia ou pela perversidade proposital dos outros. Nesse caso, o self bisi- co da psique ¢ ferido desde cedo. Quando isso acontece, a menina comes a acreditar que as imagens negativas dela mesma, refletidas pela familia ¢ pela cultura em que vive, sao nao sé totalmente verdadeiras mas também totalmente isentas de preconceito, de influéncia da opiniao e de preferés- cias pessoais. A menina comega a acreditar que ela é fraca, feia, inaceitdvel, € que isso continuaré a ser verdade nao importa o esforgo que ela faga par reverter a situacio. H ‘A procura da nossa turma: A sensagéo da integragéo como uma béngo 20 Amenina ¢ rejeitada pelo mesmos motivos que vemos na histéria do tinho feio. Em muitas culturas, existe uma expectativa, quando nasce filha, de que ela ¢ ou sera um certo tipo de pessoa, que aja de um certo eric Sonaigmdo eld scampo,qiie sighitm cerun, conjunto de valores que, tr nfo forem idénticos aos da familia, pelo menos se baseiem nos valores dh fai, e que scja como for do abale os alicerces, Essa expectativas tém definigGes muito estritas quando um dos pais, ou ambos, sofre do de- sejo de ter um “anjo de filha’, a crianca “perfeita” e obedienve. Na fantasia dos pais, qualquer dos filhos que tenham seri perfeito ¢ tefletré apenas 0 jeito de ser dos pais. Se a crianga for rebelde, ela pode, infelizmente, ser alvo de repetidas tentativas dos pais no sentido de reali. raruma crurgiapsiquica, pois eles estaréo tentando remodelar a crianca e, mais do que isso, alterar 0 que a alma da crianca exige dela mesma, Embors sua alma exija vera cultura ao seu redor exige a cegueira, Embora sua alma deseje exprimir sua verdade, ela é forgada ao siléncio. Nema alma da crianga, nem sua psique, podem aceitar essa situagao. A pressao no sentido de se “adequar”, sej ja qual for a definicéo que a auto- tidade dé 20 padrio, pode perseguir a crianca até que cla fuja para longe, para um mundo oculto ou para vaguear muito tempo & procura de um lugar para se abrigar e viver em paz, Quando a cultura define detalhadamente no que consiste 0 sucesso ou aperfeigao desejdvel sob qualquer aspecto— na aparéncia, na altura, na forca, na forma fisica, no poder aquisitivo, na economia, na masculinidade, na feminilidade, na atitude de bom filho, no bom comportamento, na crenca ‘ligiosa ~ existem ditames correspondentes e tendéncia & avaliacio na psi- que de todos os seus membros. Portanto, as questées da mulher selvagem ‘ectada geralmente so duplas: a intima e pessoal, ea externa e cultural, Cuidemos aqui das questdes intimas da pessoa rejeitada, pois quando desenvolvemos uma forca adequada ~ nio uma forca perfeita, mas uma forca moderada ¢ prética — Para sermos nés mesmas e para descobrit a que Stupo pertencemos, podemos entio influenciar a comunidade exterior ¢ &onsciéncia cultural com pericia. O que é uma forca moderada? Ela é (Ne temos quando nossa mie interior no estd cem por cento confiante sterca do que fazer em seguida. Uma confianga de setenta e cinco por cento Petve. Setenta e cinco por cento é uma boa proporgio. Lembre-se, dize- Ms Que uma planta estd em flor, quer os botées estejam meio abertos, aber- ‘or até tés quartos, quer estejam totalmente abertos.

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