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TRANSTORNO DE PANICO ‘ E O USO DE SUBSTANCIAS PSICOATIVAS ENTENDA COMO ESSES DOIS DISTURBIOS SE RELACIONAM. = 18 O HOMEM DESDE 0 INICIO DE SUA EXISTENCIA (RORIZ, 2011) E TRATA-SE DE UM FENOMENO QUE NAO E SO HUMANO, ACOMETENDO TAMBEM OUTROS ANIMAIS (SANTOS, 2006). SENTIDA E MANIFESTADA NO CORPO, TEM UMA FUNCAO ESSENCIAL PARA A PROTECAO E PREVENCAO DA ESPECIE, POIS E POR MEIO DE ESTADOS DE ANSIEDADE QUE NOSSO CORPO INDICA HAVER ALGUMA FORMA DE PERIGO, EXTERNO OU INTERNO, QUE PODERIA ESTAR NOS AMEACANDO. ‘Assim um cacador, por exemplo, sente uma rapida descarga de adrenalina ao ouvir © som de um grunhido animal aproximando-se rapidamente em sua ddiregn. Ou uma pessoa qualquer acorda sobressaliada durante a madrugada, ‘com 0 tipico sentimento de “frio na barriga’, acompanhada do pensamenta: “6 amanha a minha prova’, lembrando-se que no dia seguinte havera uma avalia~ ‘¢20 importante, cujo resultado poder mudar drasticamente a sua vida. Nesses A: MANIFESTACOES DE ANSIEDADE ACOMPANHAM FLICKRIEPSOS DE 19 Digitalizado com CamScanner 20 SINDROME DO PANICO - DROGAS exemplos, a manifestagiio de ansiedade cumpriu a fungao de colocar 0 organismo em alerta a fim de protegé-lo ou preveni-lo de possiveis prejuizos. Por outro lado, a persistencia ou a repeti lo continua de sentimentos de ansiedade po dem trazer ao organismo sensagdes extrema: mente desagradaveis, levando a consequencias indesejadas, como fadiga, esiresse. deficiéncia do sistema imunologico e inclusive pode levar a morte (Santos, 2006), PANICO X FOBIA Neste filtimo caso, estamos falando entao de manifestagées patol6gicas (doentias) de ansiedade, ou como se denomina no vocabulario psiquiat a, transtornos de ansiedade. Quem ja presenciou luma pessoa sofrendo um episodio de fobia ou um. ataque de panico dificihnente nao reconhecera tais manifestagdes como algo “fora do normal” No caso da fobia, em que ha diversas variagbes quanto ao seu objeto, 0 individuo é acometido por tum medo desproporcional de algo que pode ser completamente inofensiva, como por exemplo, 0 medo de insetos como borboletas, hesouros ¢ ara: nnhas. Se para quem observa parece algo irreal para quem sofre, essas sensagdes desagradaveis beiram o insuportavel. Ja 0 ataque de panico pode ser considerada a manifestagio mais extrema de ansiedade, embo. a no haja consenso enite os especialistas se 0 panico teria a mesma natureza da ansicdade e se aquele seria 0 mesmo fenomeno, porem elevado & maxima poténcia (Sanios, 2006), Fstima-se que entre L5% € 35% da populacio mundial venha a sofrer durante a vida com 6 transtorno de panico (IP) (Melo, 2004). A ocorrencia do ataque de panico é stbita geralmente imprevisivel, e caracteriza-se por “pal pitagées, dor no peito, sensagdes de choque, ton: Tura e sentimentas de irrealidade (.). Ha também. uum medo secundério de morrer, perder o controle ‘ou ficar Iouco™ (DSM-IV, 895), Além disso, 0 temor da ocorréncia de novos aiaques leva a um estado constante de tensio ¢ ansiedade. Por consequen: ia, o individuo que ja sofrea um ataque em de- terminado lugar passa a eviti-lo, desenvolvendo progressivamente 0 que se chama de agorafobia, que seria o medo de ficar sazinho em lugares com muitas pessoas. USO DE SUBSTANCIAS Embora as causas da doenga ainda nao se- jam bem conhecidas e definidas, ha situagtes que acabam por induzir ou, ao longo do tempo, pro: vocar ataques de panico, como no caso do uso Por consequencio indivdduo que ji sofreu um ate ‘que eim determinado lugar passa o evitérto,desenvo- {endo progressivamente e que se chama de agorafe- bia. que seria o medo de ficar sozinho em lugares com muita pessoas” de subsiancias psicoativas. Entende-se por “psi coativa’, “substancias que modificam 0 estado de consciéncia, humor ou sentimento de quem as usa joificagdes essas que podem variar de um es timulo leve, como 6 provocade por uma xicara de Digitalizado com CamScanner café, até alteragdes mais intensas na percepgaio do tempo, do espago ou do proprio corpo, coma as que podem ser desencadeadas por alicinégenos egetais, como a ayahuasca, ou sinteti (-) ecstasy” (Simbes, 2008). Ve-se que 0 leque de substincias que podem alerar 0 estado de consciéncia é amplo, assim ‘como os seus efeitos variam tanto na forma quan ensidade em que sto experimentados. 0 uso de substancias psicoativas (ou “dro: gas", no linguajar popular) nao ¢ recente (Simdes, 2008), sendo que praticamente todas as culturas € ivilizagdes possuem em sua historia e costumes do alguma droga, seja associada a r tuais religiosos. 4 tradigo ou ao uso recreativa. E 0 consumidas, aceitas ou por isso a forma como no socialmente, variam de cultura para cultura Em nossa sociedade temos 0 alcool que utilizado em diversos contextos, de forma legal ertos grupos sociais chega 1e 05 seus efeitos mamente nocives (a longo prazo) podem ser piores do alorizado, sendo que de outtas substancias ilegais © rejeitadas socialmente. Mesmo assim, alguém consegue socted ss do qu d imaginar algum evento festive no Brasil que ‘ngo envolva o uso de alcool? Dessa forma, a questo do uso de drogas por si $6 no abarca toda a complexidade do tema Ja, quando se fala em abuso de substancias e e1 dependéncia quimica, entramos em questdes que ultrapassam a esfera cultural e envolvem a saide © a bem estar psicassocial Assim, para ficarmos, cam o exemplo do alcool, uma coisa é o individuo tomar uma taga de champanhe em uma comemo: ragio festiva, j4 outra & aquele sujeito que con segue parar de beber somente quando seu corpo praticamente entra em estado de coma alcodlico, causando diversos prejuizos tanto a nivel fisico como social A dependencia quimica ¢ considerada um transtorno psiquiatrica, e pode ser definida como uma relagdo patolégica entre um individuo € uma substancia psicoativa (Silva et af, 2009), “levando 2 comprometimento ou sofrimento clinicamens significative” (DSM-IV, 2005). Entre suas princi pals caracteristicas ou manifestagdes encontram: se, em primeiro lugar, a indugdo de tolerancia: seria a necessidade de aumento progressive da m diversos contextos, de fo tos 58 seus ef sondo que ng pra Digitalizado com CamScanner 2) “NO USO DO ALCOOL, O QUE POPULARMENTE SE CONHECE COMO ‘RESSACA’ E UM EXEMPLO CLARO DOS EFEITOS DA ABSTINENCIA: TREMORES, SUDORESE, DOR DE CABECA, SEDE, ETC. (...)” quantidade de substancia para se obter 0 efeito descjado, ou a reducdo do efeito com 0 uso pro Jongado da mesma substancia. No inicio, uma dose pequena satisfaz 0 usuario, que com 0 tempo pas sa a consumir doses cada yez maiores para obter 0 mesmo efeito, sendo extremamente perigoso no caso de drogas cujo uso em excesso causa intoxi cago e podem levar & morte, coma Aleol, cocatna ¢ heroina. Em segundo lugar, temos a sindrome da abstinencia:refere-se a um conjunto de sintomas desagradaveis decorrentes da falta fisiokgica que 4 substancia causa no organisme, sendo neces Siva a uilizaga0 de uma nova dose para aliviar ou evitar 08 sintomas de abstinéncia. No uso do ‘leool 0 que popularmente se conhece como "res- aca’ € um exemplo claro dos efeitos da abstinén~ cia: tremores, sudorese, dor de cabega, sede, ete sendo que “tomar uma" no dia seguinte @ a forma ‘usual com que 0 alcoolista encontra para cessar os efeitos desagradlaveis da ressaca Em terceiro lugar, hi a questio do descon trole: situagao em que © sujeto nao consegue objtivamente parar de utilizar a subsiancia ou reduzir 0 consumo, existindo um desejo persis- tente de procurar a droga, assim como passa a utilizar parte consideravel de seu tempo para bier a substincia. Finalmente, em quarto lugar temos 0s prejuizos psicossociais decorrentes dos abusos: uma série de efeitos desagradaveis © no desejados passam a prejudicar a Sade ea vida social do usuirio. Desde sintomas fisicos, como a, problemas neuroldgicos e comprometi- mentos de diversos érglos vitais, até o abandono de importantes atividades sociais, ocupaci recreativas, assim como 0 surgimento de confli- lamento social Alem dos prejulzos ja citados, 0 uso, abuso ‘ow a dependéncia de uma droga pode levar a desenvolvimento de outros transtornos psi Airieas, fenémeno que se denomina comorbi- dades psiquidtricas, que seria a existéncia em conjunto de dois ou mais transtornos, sendo que uum pode ser consequéncia do outro ou indepen: dentes entre si 0 fato de essas substincias causarem uma série de modificagSes psiquicas no estado de cons: ciencia ou humor de quem as usa, pode trazer Digitalizado com CamScanner No a do muito 0 tratamento da dependencia (Silva et al alem de efeitos prazerosos (como euforia, bem-es: ar momentaneo. sensagdes de plenitude e gran deza), algumas manifestages sintomaticas, como ansiedade, mal-estar e humor deprimido, Em geral, 0 aparecimento de sintomas psi guiatricos ocorre apés o uso, sendo mais comum 1 pessoas que frequentemente abusam da subs- tancia ou ja desenvolveram dependéncia, Porém hha casos em que, dependenda da_predisposi Gio do individuo em desenvolver determinados transtornos psiquidtricos, pode ocorrer, a partir de um co uso, que 0 sujeto venhia a safrer algum episodio sintomitico ou até mesmo venha desencadear o inicio de um transtorno. Como, por exempla, 0 uso de substancias alucinégenas extre ‘mamente potentes que provocam sensagées muito parecidas Com um surto psicoric (alveinagdes at ditivas e visuais, confustio mental. impulsividade f sensagao de descontrole), em que ha relatos de pessoas que apts uma Gnica ulizagao acabaram desenvolvendo algum transtorno psicdico No abuso e dependencia de drogas. a ocor réncia de comorbidade psiqutrica & frequente dificutando muito o tratamento da dependencia (Silva t af, 2008). muito comum no pertoo de abstinéncia (quando 0 dependente interrompe 0 {iso} o srgimento ou a intensificagao de sintomas 1 @ na dependoncia de drogas, a ocorrencia dé 2009), psiquiatricos, levando o individuo a buscar a dro: ga novamente. Isso cria um circulo vicios®, pois 6s sintomas voltam a ocorrer quando se cessa 0 efeito da droga, iazendo novamente as sensacdes desagradaveis dos sintomas, e por consequéncia, a necessidade de buscar a droga Ha duas hipéteses principais para a relagdo transtornos psiquidtricos x dependénci de substancias: 0 surgimento secundario de um transtorno psiquiatrico devido aos efeitos nocivos da dependencia quimica e; 6 sujeito com transtor no psiquidtvice que passa a fazer uso de substan. as quimicas para aliviar-se dos sintomas, ou soja, ‘comegou a automedicar-se. No primeiro caso, podemos citar © surgi mento de transtornos de ansiedade com 0 uso continuo de anfetaminas (remédios para e grecer, por exempla). No segundo, o sujeito que tem fobia social (dificuldades em relacionar-se socialmente) que busca o Aleool para conse; interagir com outras pessoas, ¢ avs poucos vai adquirindo dependéncia, pois sem o alcool nao contra recursos internos para conseguir re lacionar-se com os demais. Segundo Silva et af. (2009) alguns esta os indicam que um terco dos alcoolistas apre senta um quadro significative de ansiedade. Ha 23 Digitalizado com CamScanner SiNDROME DO PAN ROC evidencias de que 50 a 67% dos alcoolistas © 80% dos dependentes de outras drogas passuem sin tomas semelhantes ao transtorno do panico, dos transtornos fobicos ou do transtorno de ansie ide generalizada, DROGAS E TRANSTORNO DO PANICO No caso da relagdo transtorno de panica e abuso x dependéncia de substancias, Terra, Fi gueira e Athayde (2003) apontam que ha diver ‘gencias nos resultados de estudos sobre o assunt, velando que os ataques de panico tanto podem da utilizagio da substancia como surgir a pal podem sera causa da busca por automedicaca do citado pelos autores que demonstrou uma diferenca de genero na questio de qual transtorno desenvolve Se primeira. Segundo Chignon e Lépine (993, apud Terra ef al, 2003), entre as mulheres é mais frequente 0 transtorno de pinico comesar antes da dependéncia, quimica. E ja entre homens o alcoolismo ¢ 0 uso de ‘outras drogas tendem a ser primarios, desencadean do ataques de panico, Como seria possivel entender esta diferenca’? Uma hipetese ser Porém houve um est cultural envohwrdo as E je possivel entend: drogas tendem a ser p diferengas de género. Embora 0 consumo de dlcoo! outras drogas entre as mulheres vem aumentando Progressivamente a cada ano, ainda a proporgo de homens alcoolistas ou usuarios de outras drogas ¢ muito maior do que de mulheres com as mestnas pri ticas (em torno de cinco homens para cada mulher), Assim as homens teriam uma prevalencia maior na proporyio de casos de panico causads por uso de Substancias, ja que havesia mais uswiios homens. Do outro lado, muitas mulheres que tem trans: torno de panicn acaham procurando o Acool e ouiras ddrogas com o fim de alviar os terriveis sintomas, ser do que, caso nao tivessem o transtorno,talvez nunca chegassem a desenvolver a dependéncia quimica A maior parte dos estudos que investigam 0 uso de substancias psicoativas em pacientes com © transtorno concentra-se no uso do alcool ~ até pelo fato de ser a droga mais utilizada mundial mente, junto da nicotina. Melo (2004) cita ainda que 08 ataques de panico podem estar dos a substancias como as anfetaminas ¢ o haxixe (extrato de maconha concentrada) De modo geral, tem se encontrado com mais frequencia que os ataques de panico sao secundrios, precedidos pela dependéncia quimica de uma subs: ‘ancia, ocorrendo tanto durante a intoxicago quanto no pertexlo de abstinéncia, Digitalizado com CamScanner Hos aind doenga o indivtduo difi DIAGNOSTICO Um fato interessante € que 0 transtorno es esta associado a nsiedade, Um estudo sobce a relacdo de outras comarhidades com 0 panico demonstrou que 46% dos pacientes com TP apresentavam também outros transtornos de ansiedade (ansiedade generalizada ¢ ansie dade social) (Levitan ¢? al_, 2012) Esses dads se associados com outros 1 prevalencia de transtornos de ansiedade fancia revelam um importante fator de risco para 0 desenvolvimento de TP. Em uma amostra brasileira, observou-se que as transiornos de ansiedade na in fncia parecem estar presentes em 59% dos adultos ‘com TP (Levitan et al, 202), 0 que levanta a hipotese de que a presenga de sinais de ansiedade ainda na infancia podem ser importantes indicadores para 0 desenvolvimento de transtornos mais graves pos teriormente, como o pinico e dependéncia quimica F extremamente importante que o diognostica de transtorno de piinico soja realizado o mais cedo Ppossivel, pois muitos pacientes com TP demoram ‘muito tempo para terem um diagnéstico preciso, A propria natureza do transtorno, com manifestagbes Ccorporais, acaba levando esses pacientes a outros profissionais de sade anteriormente, como car iologistas © pneumologistas. adiando o inicio do de panico (TP) muitas outros transiornos de a ranstorne proveca, ja que e casa e ir a outros lugares, estados avancados tratamento, Da mesma forma os médicos acabam tendo dificuldade em realizar a distingao entre TP & ‘outros transtornos psiquidtricas ou doengas clinicas. Hi ainda a questio do isolamento social que 6 transtorno proveca, j4 que em estados avangados da docnga o individuo dificilmente consegue sair de casa e ir a outros lugares. Como foi visto, outras comorbidades po dem ocorrer em conjunto com © transtorno, dificultande ainda mais o tratamento. Levanta: mentos comunitarios evidenciaram alta frequ éncia depressao e tentativas de suicidio nesses além da questio do alto Indice de consumo de substancias psicoativas (Levitan e¢ 4l., 2012), que ao serem utilizadas concomitan: femente com o quatro de TP acabam trazendo riscos gravissimos para 0 paciente, diminuin: do a possibilidade de sucesso no tratamento de ambas as desordens, * LuizFernando Stacechen ¢ psicélogo emestreem Sociologia pela Unwvorsidado Fodoral do Parara (UFPR), Curtiba-PR iam especiaizagdo em Psicandlise pela Faculdade Dom Bosco, Curtba-PR;& professor do Curso de Especialzageo fem Saide Mental ¢ Alengao Biopsicossocial do_inituio Sul-Paranaenso de Alls Estudos das Faculdades intagradas do Vale do Iguagu (ISPAE-Uniguacu), Unido da Vitéria-PR € psieblogo juriico do Parané (TJPA). e-mail is ibunal de Justiga do Estado oo pr us br 25 Digitalizdo com | GRANDES TEMAS DO CONHECIMENTO. | | | PSICOLOGI OQUEEA SINDROME DO PANICO? A terrivel sensacao de que algo simplesmente vai dar muito errado foloe ese OUU-IMULUNO cle Ke esc.00 0) eC MMU Ne cusoe=0-0() COMO LIDAR COM OS SINTOMAS? Hoje em dia existem medicamentos Pee M oe MoMN Le es go (iA SY) a terapia é essencial no processo.de each eu ace oleic) ESTOU COM MEDO OU COM PANICO? MUM CAO n ef e medo natural de TRATAMENTO Conhega as principais terapias feed eawoniney ee ur aes

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