Professional Documents
Culture Documents
Artigo - Teorias Do Desenvolvimento - Celso Maia VF - 09jan14
Artigo - Teorias Do Desenvolvimento - Celso Maia VF - 09jan14
Resumo
Este ensaio faz um breve traçado histórico das teorias que descreveram, discutiram
e influenciaram o direcionamento de economias rumo ao seu crescimento e
desenvolvimento. No núcleo destas teorias discute-se a importância das instituições,
sobretudo o Estado, as garantias e as condições e requerimentos para a
implantação de planos e programas de remodelação dos processos que integram as
diversas áreas da economia e da sociedade. O desenvolvimento das nações tem um
argumento bastante atrelado à evolução tecnológica e muitas vezes implica na
industrialização da economia, produção e eficiência, modificação e introdução de
processos e produtos para criar e atender necessidades, temas característicos da
economia da inovação. Esta conjunção, notadamente nos últimos 120 anos, período
de crescimento e evolução de técnicas, sem precedentes na história, está
fortemente modelada pelas regras de mercado e força do capitalismo, que traz no
seu discurso um elemento que nutre a polêmica, ou seja, a maximização e
acumulação do lucro, e suas ferramentas de fortalecimento da influência e domínio
elitistas. Uma polêmica que nasce em função de que a esperança de justiça,
igualdade e preservação, não são especialidades do capitalismo. O capitalismo que
resiste, sobretudo, porque um modelo alternativo parece distante da possibilidade de
surgimento como uma alternativa que domine todas as estruturas, e que não torne a
expectativa de bilhões de habitantes do planeta em relação ao futuro de suas vidas
e existência, uma expectativa vã de qualidade de vida e bem estar.
1 – Introdução
1
O Desenvolvimento Econômico como tema possui uma diversidade de teorias, teses
e opiniões. Possivelmente os pontos comuns de todas as abordagens sejam em
relação ao papel do Estado como agente ativo do desenvolvimento econômico e o
papel do Estado como planejador da economia e seus mecanismos de
regulamentação e em ambos os dois pontos, a influência das relações de poder.
A terra é uma arca de tesouros traduzidos nos mais diversos recursos. Seja do
ponto de vista capitalista seja do ponto de vista de qualquer outro modelo
econômico, a terra provê todos os meios para colocar em funcionamento a
economia humana. No entanto, a forma de interpretar a transformação da riqueza da
natureza em riqueza humana varia em função do que cada um entende sobre quais
são as variáveis das quais a prosperidade é dependente.
Nas últimas décadas, na forma demonstrada por Hans Rosling (Rosling, 2009) as
tendências estatísticas, mostram que houve significativos avanços, na erradicação
de doenças, na redução da mortalidade infantil, no aumento da expectativa de vida,
na expansão do bem estar e padrão de consumo, isto pode induzir a conclusão de
que há um projeto humano por trás do desenvolvimento das economias das nações.
2 - Metodologia
O estudo é uma abordagem com tratamento de um ensaio teórico-descritivo, a partir
da junção e compreensão de trabalhos de especialistas, teóricos e economistas
sobre a questão do desenvolvimento da economia das nações, o progresso humano
e o progresso tecnológico onde a inovação como sistema em um papel fundamental,
e todos estes elementos são partes determinantes da riqueza e promotores da
melhoria das condições de bem estar.
3
Thomas Malthus (1766-1834) em seu Ensaio sobre a população, trabalha com a
hipótese de que a pobreza assolaria a quase totalidade das pessoas, que o aumento
no padrão de vida da grande massa inevitavelmente causa um aumento da
população, fazendo com que a melhoria seja temporária. Malthus afirmava que
sempre que a produtividade aumenta, a população aumenta de forma
correlacionada e os recursos usados para produção tem seus retornos diminuídos à
medida em que mais trabalho precisa ser investido ou aplicado (Malthus, 1798,
1983).
O mundo está relativamente mais rico, mais saudável, mais longevo. Embora esta
seja uma afirmação generalista, ela é indutiva e pode conduzir a conclusões de que
existe um projeto envolvendo o capitalismo, e que está voltado para a humanidade e
seu bem estar (Harvey, 1990), um projeto que envolve o capitalismo no sentido claro
de que há uma criação e acúmulo de riqueza, há excessos, e o bem estar é relativo
à melhores condições de vida de acordo com a médias apresentadas pelo estudo de
Rosling. Mas para quem efetivamente, e qual o custo desta melhora?
4
A população cresce e com ela cresce um número quase incontável de combinações
entre alimentação, habitação, vestuário, transporte, educação, bens de consumo,
serviços, energia, etc. numa multiplicidade de escolhas que causam frustração
(Bauman, 2003), e que contam com a evolução tecnológica. Assim, o
desenvolvimento econômico, a ideia da necessidade de modernização constante e o
aperfeiçoamento da produção geram maior consumo numa combinação destes
vários fatores que culmina com a exploração crescente dos recursos providos pela
terra, criando um ciclo em espiral crescente de consumo de materiais, e serviços, e
energia (MAYUMI, 2001).
Dois economistas, Karl Marx e Joseph Alois Schumpeter, o primeiro, definido como
fundador de um movimento revolucionário, o segundo um banqueiro e professor de
Harvard, ambos os dois tinham duas formas de olhar para o mesmo objeto, o
capitalismo, e o ponto convergente em suas abordagens era o de que o capitalismo
é inerentemente um movimento que avança de forma instável. Esta afirmação
perdura até nossos dias.
Coase (1937) e De Soto (2000) defendem que o capitalismo depende dos governos,
das cortes de justiça e da formalização dos direitos de propriedade. Um dos
fundamentos da riqueza no mundo ocidental é a possibilidade de comercialização
dos direitos de propriedade. A residência onde se vive, desde que seja uma
propriedade com direitos, é um estoque de capital que pode ser usado como
colateral para dívidas pagáveis com ganhos futuros. Na visão destes economistas,
6
esse processo de capitalismo metabólico envolve o que há de mais identificado ao
capitalismo que é a prosperidade sustentável.
Realizar uma pesquisa sobre o termo aponta que não há um autor do que é o
capitalismo, Adam Smith não usava o termo, e assim como Hayek, Schumpeter e
outros economistas o entendiam, o capitalismo é capaz de se auto modificar através
do tempo, na perspectiva dos autores o capitalismo é um sistema orgânico que se
desenvolve com o tempo. No historicismo de Marx, o capitalismo converte-se em
monopólios, os lucros são diminutos, no seu auge a classe trabalhadora é uma
classe miserável, a revolução de sistemas avançados de capitalismo é inevitável, e a
classe trabalhadora passa a ser a única classe universal, inclusive sem o concurso
do estado.
7
contrário, a primeira condição para existência das primeiras classes
industriais.
A revolução constante dos meios de produção, a perturbação
ininterrupta das condições sociais, a incerteza duradoura e a agitação
distingue a época da burguesia de todas as suas precedentes.
A burguesia através da exploração do mercado mundial deu um
caráter cosmopolita à produção e ao consumo em todos os países.
Marx e Engels, 1948, p. 12.
8
e serviços representa um dispêndio muito superior ao básico necessário para uma
existência de bem estar em quase todos os sentidos e há uma inclinação natural,
embora não racional para consumir mais do que seria de fato necessário (Bauman,
2008; Scowen, 2002).
Retomando Adam Smith, temos a relação Estado, Propriedade, Capital. Para Smith,
o Estado que prioriza a lei e a ordem, o cumprimento dos contratos, o Estado que
torna possível a uma pessoa a ter direitos de propriedade, dispor sua propriedade
com fins de produzir bens, negociar sua propriedade, e obter receitas financeiras
pela via da satisfação de necessidades de outras pessoas, constituía-se num Estado
onde os fundamentos da obrigação de exigir os direitos de propriedade vigoram
(Smith, 1983). Este é um pré-requisito fundamental para a assunção de risco e a
promoção de desenvolvimento visando o sucesso nos empreendimentos.
4 – O sistema de nações.
9
associado ao progresso técnico. O mesmo processo, não foi aplicado por espanhóis,
portugueses, franceses, belgas, e holandeses, em suas colônias.
Ronald Coase criou um quadro de fatores do sistema de nações que pede um olhar
sobre como a transferência de tecnologia se relaciona com transparência, assim,
onde um segmento da sociedade tem um acesso diferenciado à tecnologia que
outros segmentos não tem, haverá grandes assimetrias na distribuição de
informação que distorcem o funcionamento da economia, o que justifica em parte a
provisão governamental para educação pública e prover o acesso mínimo
necessário à informação e métodos para obter informação que são fundamentais
para o exercício da cidadania numa sociedade democrática e de mercado(Coase,
1988).
O que Coase não menciona é que que a justiça ou simetria coexiste melhor e mais
eficientemente onde os direitos de propriedade caminham, entretanto, quem espera
justiça de uma economia de mercado vive uma expectativa vã, porque esta não é
uma especialidade da economia de mercado.
As leis que os governos criam podem ser bem elaboradas ou serem pobremente
concebidas para criar riqueza, a teoria da maximização da riqueza e da participação
acionária nas corporações, pode propiciar uma boa reflexão. Trata-se de contrapor
aqueles que tomam riscos para maximizar sua riqueza em relação àqueles que
permanecem atrelados a uma fonte de troca de trabalho por garantia de salário e
condições mínimas de subsistência.
11
dependente, um caminho caracterizado pela interdependência e interação de uma
variedade de agentes heterogêneos, capazes de aprender e reagir criativamente
com subjetividade e racionalidade processual (OCDE, 2004).
12
uma oportunidade de industrialização, se a elite puder fazer investimentos sem ter
ameaçado o seu poder político, é possível que que a oportunidade seja aproveitada.
Primeira: As pessoas mais qualificadas para conduzir o processo, podem não fazer
parte da elite, e uma vez que não tenham garantias de propriedade, podem não
querer assumir o risco de fazer os investimentos necessários se tiverem que se
submeter aos interesses políticos da elite.
Segunda: Se o investimento depender de um grupo entrante, a elite pode bloquear
as iniciativas se isto significar que este novo grupo se beneficiará dos resultados da
nova atividade, significando perdas na força original da elite.
Terceira: Se houver uma ameaça de turbulência política ou receio de que a nova
tecnologia implicará em perda de poder político, a elite poder optar por bloquear
novas atividades industriais (Acemoglu, Johnson e Robinson, 2002).
13
A lógica e simplicidade dessas duas vertentes de pensamento, a utilidade de
injeções massivas de capital e os padrões históricos dos países agora
desenvolvidos, eram muito atraentes para serem refutados por estudiosos, políticos
e administradores em países ricos, para os quais os povos e as formas de vida no
mundo em desenvolvimento, muitas vezes não representava muito mais que dados
das estatísticas das Nações Unidas ou capítulos espalhados em livros de sociologia
e antropologia. Devido à sua ênfase no papel central da acumulação de capital
acelerada, esta abordagem é também conhecida como “Fundamentalismo
Capitalista" (Todaro e Smith, 2011).
14
sobressair com a aplicação de planejamento, matemática, controles e estatísticas.
Capital e investimento começam a desempenhar um papel importante, dado que o
pressuposto do retorno do investimento leva à ideia de que capital + investimento +
retorno seja o modelo e objetivo do gerenciamento da economia. O comércio se
expande, a infraestrutura entra na lista de necessidades, sobretudo a infraestrutura
logística, a moeda ocupa seu espaço, e a partir disso a acumulação de capital, o
sistema financeiro, a poupança e consequentemente, para os objetivos de
crescimento econômico, o investimento (Rostow, 1971).
15
Nessa fase a importação e a exportação começam a se destacar nos indicadores da
nova economia, e socialmente começa a concretizar os benefícios do aumento de
renda, da poupança e do investimento, retroalimentando os processos econômicos e
mudando radicalmente o padrão de vida da sociedade (Rostow, 1971).
A radicalização atinge seu ponto máximo quando a economia entra na sua quinta
fase, Consumo de Massa, nesta fase há necessidade de bens de capital, aumenta a
compra de bens duráveis, o consumo de bens não duráveis multiplica-se, o setor de
serviços assume uma força cada vez mais preponderante e necessária, e o
consumidor ganha uma nova atividade quando passa a se dedicar aos prazeres da
escolha para o consumo (Rostow, 1971).
16
Estes e outros objetivos igualitários devem ser atingidos dentro do contexto de uma
economia em crescimento, mas o crescimento econômico per se não é devido ao
status exaltado pelos modelos dos estágios lineares ou das mudanças estruturais
(Todaro e Smith, 2011).
Passando pelos anos 80 e 90. Uma quarta abordagem toma lugar e ganha força e
potência como direcionadora das economias, sobretudo nos países onde outros
modelos eram aplicados e que passaram a ser aderentes ao capitalismo. A contra
revolução neoclássica ou neoliberal do pensamento econômico enfatizou o papel
benéfico dos mercados livres, das economias abertas, desmontou o planejamento
central e criou classes de empresários e proprietários juntamente com o
investimento direto (Todaro e Smith, 2011).
7 - Considerações
Este ensaio teve o objetivo de fazer um breve traçado das dificuldades e desafios do
desenvolvimento econômico e tecnológicos e da necessária implementação de
medidas para sua consecução. As dificuldades são históricas e em muitos países as
políticas de desenvolvimento e inovação falham devido à falta de coesão de forças
da sociedade e ausência de planos apropriados para o curto, médio e longo prazos,
com destaque a falta de ênfase, senão o completo descaso quanto ao papel da
educação de qualidade na geração de externalidades e promoção da
competitividade.
19
colonizadores passando pelo interesses de grupos e elites, até as barreiras de
inserção adequada e favorecedora no sistema de nações.
20
Referências bibliográficas
ACEMOGLU, D.; JOHNSON, S.; ROBINSON, J. A. Reversal of Fortune: Geography
and Institutions in the Making of the Modern World Income Distribution. Quarterly
journal of economics 118. Boston: 2002. p.1231–1294.
ARRIGHI, G. Globalização e desenvolvimento desigual. Revista de estudos e
pesquisas sobre as Américas, Vol. 1, Nº 1, Ago-Dez (2007).
BAUMAN, Z. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2003.
BAUMAN, Z. Vida para consumo – A transformação das pessoas em
mercadoria. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.
BAUMAN, Z. Does the richness of the few benefit us all? World Bank, WIDER-
UNU e CATO Institute – Maio 2013.
CAPGEMINI; RBC. Relatório sobre a riqueza mundial 2013. Capgemini e RBC
Wealth Management. Disponivel em wealth@capgemini.com. Acesso em Dezembro
2013.
COASE, R. The nature of the firm. Economica. London.1937.
COASE, R. The Firm, the market, and the law. University of Chicago Press.
Chicago.1988.
COLLIER, P. The bottom billion. Why the poorest countries are failing and what
can be done about it. Oxford University Press. New York. 2007.
DE SOTO, H.The Mystery of Capital: Why Capitalism Triumphs in the West and Fails
Everywhere Else. London: Black Swam, 2000.
ESPINOSA A. G. ¿Hay alternativas al sistema occidental imperante? Revista
Éxodo; 107 enero-febrero. 2011. Disponível em
http://www.economiacritica.net/?p=238. Acesso Outubro 2013.
FURTADO, C. O mito do desenvolvimento econômico. São Paulo: Paz e
Terra,1996.
HARVEY, D. The Condition of postmodernity. An enquiry into the origins of
cultural change. Cambridge: Blackwell Publishers, 1990.
HAYEK, F.A. Law, legislation and liberty: a new statement of the liberal
principles of justice and political economy. London: Routledge Classics, 1982.
IPEA-I – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Sociedade e economia:
estratégias de crescimento e desenvolvimento. Org. João Sicsú; Armando
Castelar. Brasilia: IPEA, 2009.
IPEA-II – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Trajetórias recentes de
desenvolvimento: estudos de experiências internacionais selecionadas.
Organizadores José Celso Cardoso Jr.; Luciana Acioly; Milko Matijascic. Brasilia:
IPEA, 2009
MALTHUS, K. T. FLEW, Antony. An essay on the principle of population. London:
Penguin English Library, 1983.
MARX, K. (1859) Para a crítica da economia política. In: MARX. São Paulo: Abril
Cultural, 1982.
MARX, K.; ENGELS, F. 1848. Manifesto of the communist party. New York:
International Publishers, 1948.
21
MAYUMI, K. The origins of ecological economics the bioeconomics of
georgescu-roegen. Routledge Research in Environmental Economics. London:
Routledge, 2001.
OCDE. The Oslo manual. The measurement of scientific and technological
activities. Proposed guidelines for collecting and interpreting technological
innovation data. Organization for economic cooperation and development. Paris:
OCDE, 992.
OCDE. Manual de Oslo: proposta de diretrizes para coleta e interpretação de
dados sobre inovação tecnológica. Paris: OCDE, 2004.
PORTER, M.E. Estratégia competitiva: técnicas para análise de indústrias e da
concorrência. Rio de Janeiro: Campus, 1991.
ROSLING, H. The joy of stats. Estocolmo. 2009. Disponível em
http://www.gapminder.org/. Acesso em Outubro de 2013.
ROSTOW, W. W. Politics and the stages of growth. Cambridge: Cambridge
University Press, 1971.
SCHUMPETER, J. (1911) A teoria do desenvolvimento econômico. São Paulo:
Nova Cultural, 1985.
SCOWEN, P. O livro negro dos Estados Unidos. São Paulo: Record, 2002.
SMITH, A. A Riqueza das nações: investigação sobre sua natureza e sua
causas. São Paulo: Abril Cultural, 1983.
TODARO, M. P.; SMITH S. C. Economic development. Boston: Addison-Wesley,
2012
UNDP – United Nations Development Program. The millennium development
goals. Eight goals for 2015. United Nations Development Program, 2000.
Disponível em http://www.undp.org/content/undp/en/home.html. Acesso em
Outubro de 2013.
WALLERSTEIN, Immanuel. Historical capitalism. London: Verso Editions, 1983.
22