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O Método nas Ciéncias Naturais e Sociais: Pesquisa Quantitativa e Qualitativa Alda Judith Alves-Mazzotti Fernando Gewandsznajder Ane 2 Edigao THOMSON —_. ‘pana Glades Unies Wc Reno as THOMISON, tONISON | Mavco Vout Revisso: LRM assessora Ealtorial Todos ot crits reservados, © Copyright 1998.1898 de e510, de 19 de fe 01998, Sumario Apresentagao PARTE I © METODO NaS CIENCIAS NATURAIS. Fernando Getenndsennjder CAPITULO 1 ~ Uma Visio Geral do Método nas Ciénci it de problemas 2. As hipdteses cientificas devem ser passiveis de teste 3. Os testes devem ser as mais severos possiveis 4. Leis cientfficas 5. Teorias cientificas CAPITULO 2 ~ Cigncia Natural: Os Pressupostos Filoséficos 1. O positivismo l6gi 11 Criticas 20 pi 2. As idéias de Popper 2.1 O métocio das conjecturas e refutagdes 2.2 A importncia da refutabilidade 23 Verdade e coroboragio 24 Critica das idéias de Popper 3. Afilosofia de Thomas Kuhn 3:1 O conceito de paradigma 32 Aciéncia normal 33 Crise e mudanga de paradigma 34 Atese da incomensurabilidade 35 A avaliagao das teorias 3.6 Conclusio 4. Lakatos, Feyerabend e a sociologia do conhecimento 41 As idéins de Lakatos 42 As idéias de Feyerabend 43 A sociologia do conhecimento 10 13 u 15 16 18 20 24 5 26 28 34 39 a vi [AUDA JUDITH ALVES: MAZZOTT fe FERNANDO GEWANDSZNAJDER 5, A defesa da objetividade: 0 racionalismo 5a A mudanga de significado 5.2 Verdadeiro até prova em contréio 5.3 Observacées e testes que depencem de teorias 5 Eliminando contradig6es 55 Os testes independentes 5.6 O objetivo da ciéncia ‘O empirismo de van Fraassen e a abordagem cognitiva 6.1 O empirismo de van Fraassen 62 Aabordagem cognitiva 7. Conclusio 0 hoje CAPETULO 3 ~ A Pesquisa Cientifica 1. Problemas 2. Respostas aos problemas: as explicesbies cient 2.1 Os lenémenos aleatrios ¢ as explicagbes AN oonasho de hipstenes ur espao para a tntidade do cientista 31 As qualidades de uma boa hipétese 4. Leis eteorin 441 Acomplexidade do mundo eal ea necessidade de umn modelo 5, Testando hipsteses 5:1 Os testes estatisticos 32 ‘Testes rigorosos e observagbes mais precisas ~ medidas CAPETULO 4~ A Ciéncia e Outras Formas de Conhecimento 1.4 Homeopatia Criticas & astrologia [por semelhanga ide com a ciéncia ¢ incoeréncias iciona na prética? 24 Os testes 25. Uma experiéncia controlada para testar a astrologia 43, Cigneia e senso comum PARTE IL O METODO NAS CIFNCTAS SOCIAIS Alla Ju Introdugito > CAPITULO 5 ~ As Ciéncias Sociais sio 1, Acritica radical da crenga na ciéneia: (© MitTODO AS CIENCIAS NATURAIS & SOCIAIS CAPITULO 6 ~ 0 Debate Contemporéneo Sobre os Paradigmas 1. O“paradigma qualitative” na déeada de 80" 4, Conclusao CAPITULO 7 ~ 0 Planejamento de Pesquisas Qu: 1. Focalizagao do problema 1 Introdugio 12 Objetivo e/ou questies do estudo “1.3 Quadro tedrico 24 Procedimentos e instrumentos de coleta de datos 24.1 Observagdo 242 Entrevistas 243 Documentos 25 Unidade de anslise 2.6 Anélise des dados confirmabilidade 3. Tipos de reviséo a serem evitados 4, Consideragoes finais Referéncins Apresentagdo Procuramos reunir neste livro as fundament estudante compreenda a natureza do método cie sociais, Esperamos com isso néo apenas ju pesquisas na graduacio e pés-gradu: ‘critica do método cientifico —jé que até mesmo no nivel universitério o ensino 6 feito, muitas vezes, de forma incompleta, concentrancio- necessirios para que 0 nas ciéncias naturals e teGriea sobre seus fundamentos filoséti cial, livre de preconceitos? Pod ‘uma teoria cientifica? Em que c O desconhecimento dessas: Seestas questdes precisam ser esclarecidas no 4 ‘0 problema se torna ainda mais complexo quando se trata das ci na medida em que, nestas, dliscute-se a prépria adequagio do modelo daquelas, ‘iéncias para o estudo dos fendémenos humanos e socials, Alguns autores defen- dem a utilizagio do modelo das ciéncias naturais, e mais do que isso, conside- zram que s6 neste caso as ciéncias socials podem ser propriamente chamadas de ““ciéncias". Entretanto, embora esse modelo tenha prevalecido por varias déce- das, muitos pesquisadores sociais vem questionando sua eficécia para e ‘ocomportamento humano, alegando que este deixa de lado justamente aguilo aque caracteriza as ages humanas: as intengBes, significados e finalidades que hes so inerentes. miétodo nas cigncias bisicos, como o de iscutidas as diversas ico. Esta discussao é relevante ‘A primeira parte do livzo discute te controlado. No segundo capitulo sii loséficas acerca da natureza do método cis x |ALDA JUDITH ALVESMAZZOTTI fe FERNANDO GEWANDSZNAJDER também para estudantes de cincias sociais,tuma vez que trata dos pressuposios flosdficos do método cienifico. No terceiro capitulo so discutidas as etapas da ientifica e 0s conceitos de le, teoria, medidas e testes controlados e Finalmente, no quazto capitulo a ciéncia & comparada a outras formas de conhecimento. ‘segundo capitulo ¢ umarversfo modifcaca de parte da tese ce doutora- do de um dos autores (Gewandsenajder, 1995), enquanto o primei 0 0 quarto capitulos sto versbes mocificadas do livro O que é 0 método (Gewandsznajder, 195 “A segunda parte dolivro discute a questio do método nas ciéneias socinis, focalizando especificamente a8 metodologias qualitatives, ima vez que as pes- quisas quantitativas seguer basicamente o mesmo modclo das ciéncias natu- tis, Esso opcio se justifca, ainda, pelo fato de que essas metodologias vem focupandlo espagos cada vez maiores nas pes fedueagio ¢, embora haja um niimero razodve ‘qualitativas, a analise de seus fundamentos cif © Capitulo 5 examina as raizes da chamac jcamente a discussio sobre a cientificidade das ciéncias socials. lisa o debate sobre o “paradigma qualitativo” na década de 80, pata clepois caracterizar seus prineipais desdobramentos atuais: 0 pés-positi- ‘ismo, 0 construtivismo sociale a teoria critica, O Capitulo 7 & dedicado 20 planejamento de pesquisas qualitativas. Af buscamos discutir alternatives € bferecer sugestdes, acompanhadas de exemplos, que possam ajudar o pesqui- sadoriniciante a planejar ea dese i 8 produgio de conhecimentos con revisao da bibliografis, um dos aspectos da pesquisa que al raduagao e de pés-graduagio, Cabe assinalar que 0s Capitulos 6,7 8 sho versbes ampliadas e atualizadas de artigos anteriormente puilicados nos Cademnos ce Pesquisa, da Fundagto Carlos Chagas (imeros 96, 77 ¢ 81, respectivamente). “erise dos paradigmas” para PARTE I O Método nas Ciéncias Naturais Fernando Gewandsznajder CAPITULO 1 Uma Viséo Geral do Método nas Ciéncias Naturais Em ciéncia muitas vezes construimos um modelo simplificado clo objeto dondsso estudo. Aos poucos, o modelo pode tornar-se mais complexo, passan= modelo simplificado clo métoclo cientifico. Nos capftulos seguintes, tornaremos ‘este modelo mais complexo. Veremos também que nfo hé uma concordancia completa entre 05 filésofos da ciéncia acerca des caracteristicas do método Poce-se discutir se hi uma unidade de método nas diversas ciéncias. A matemética ¢ a logica possuem certas caracteristices préprias, diferentes das aétodo que as ciéncias naturas, como a fs Um método pote ser definido como uma série d resolver iim problema. No exs0 do método cientific gerais, Nio sfo infalivels e nfo suprem o apelo d imaginacio e & Glentista, Assim, mesmo que nto haja um método para conceber idéias novas, descobrir problemas ou imagina les dependem da ctiatividade do eientista), muitos filésofos concordam que hi um método para ipoteses e teoriase é neste senticlo {estar criticamente e selecionar as melhores que poctemos dizer que hé um método cic ntifico é a tentativa de sblemas por meio de suposiebes, isto é, de hipéteses, que possam ser avés cle observagies ou experiéncias. Uma hipétese contém previ- s6es sobre o que devera acontecer em determinaclas condigies. Se 0 cientista fizer uma experiéncia, e obtiver 0s resultados previstos pela hipdtese, esta seré aceita, pelo menos provisoriamente. Se os resultados forem contrérios 20s 4 |ALDA JUDITH ALVES-MAZZOTTI ke FERNANDO GEWANDS2NAIDER previstos, ela sera consicerada ~ em principio ~falsa, ¢ outra hipétese teré dle ser buscada 1. A atividade cientifica desenvolve-se a partir de problemas Ainda € comum a crenga de que a atividade cientifica comega com uma coleta de dadios ou observagées puras, sem idéies preconcebidas por parte do cientista, "Na realidade, qualquer observagio pressupde um critério para escolher, entre as observagdes possiveis, aquelas que supostamente sejam relevantes para ‘o problema em questio. Isto quer dizer que a observaglo, a coleta de dados eas texperiéncias sto feitas de acordo com dleterminados interesses e segundo certas ‘preconcebiclas, Estas idéias e interesses correspondem, jeses ¢teorias que orientam a Observacio e 0s testes a serem do ajuda a compreender melhor este ponto. ‘Quando um médico examina um paciente, por exemplo, ele realiza certas observacdes especificas, guiadas por certos problemas, tessas idéias, o nvimero de observacbes possfveis seria pr poceria observar a cor ce cada peca de roupa do paciente, contar oniimero de fios de cabelo, perguntar o nome de toclos os seus parentes e assim por diante. Em vez disso, em fungio do probl ‘ente apresenta (a garganta déi, ‘© paciente escuta zumbido no 0 ye de acordo com as teorias da fisiologia e patologia humana, 0 médico ir4 concentrar sua investigagio em cortas observagdes ¢ exames especificos. "Ao observar ¢ escutar tm paciente, 0 médico jé est com a expectativa de encontrar um problema, Por isso, tanto na ciéncia como nas atividades do ai din, nossa atengio, curiosidade e raciocinio s20 estimulados quando algo ‘corre de acordo com nossas expectativas, quando nao sabemos explicar sum fenémeno, ou quando as explicacées tradicionais no funcionam — ou seje, ‘quando nos defrontamos com um problema, 2. As hipéteses cientificas devem ser passiveis de teste [Em ciéncia, temos de admitir, sempre, que podemos estar errados em nossos palpites. Por isso, ¢ fundamental que as hipsteses cientificas sejam testadas experimentalmente w Hipéteses s80 conjacturas, palpites, solugdes provisérias, que tentam re- solver um problema ou explicar um fato. Entetanto, 0 mesmo fato pode ser explicado por vérias hipoteses ou teorias diferentes. Do mesmo modo como ha tum sem-nuimero de expltacoes para uma simples cor de cabesa, por exemplo, (0 METODO NAS CIENCIAS NATURAIS SOCIAKS 5 a histéria da ciéncia nos mostra como os fatos foram explicados e problemas foram resolvidos de formes diferentes ao longo do tempo. ‘Uma das primeiras tentativas de explicar a evolugio dos seres vivos, por ‘exemplo, foi a feoria de Lamarck (que supunha haver uma heranga cas caracte- risticas adquiridas por um onganismo ao longo da vi iadepois pela teoria da evolugio por selegéo natural, de Darwi aracteristicas herdadas aleatoriamente so selecionadas pelo ambient planetas foi explicao inicialmente pela teoria geoc@ntrica (0s planetas e o Sol giravam ao recior de uma Terra imével), que foi depois substitufda pela teoria Hreliocéntria (a Terra eos planetas girando ao redor co Sol). Estes sf0 apenas dois exemplos, entre muitos, que mostram que uma teoria pode ser substitulda por outra que explica melhor os fats ou resolve melhor “ determinados problemas A partir das hipéteses, 0 cientista deduz uma série de conclusées ou previsdes que serao tesladas. Novamente, podemos utilizar a analogia com a pritica médica: se este paciente esta com uma infecgfo, pensa 0 médico, ele eslaré com febre. Além disso, exames de laboratério podem indicar a presenga debactérias. Eis af duas previsbes,feitas a partir da hip6tese inicial, que podem set testadas. Se os resultados dos testes forem positives, eles irdo fortalecer a hipotese de infeccao. embora 08 fatos possam apoiar uma hipétese, torna-se bastan- te problemtico afirmar de forma conclusiva que ela é verdadeira. A qualquer momento podemos descobrir novos fatos que entrem em conflito com a hipéte- se, Além disso, mesmo hip6teses falsas pociem dar origem a previsGes verda- deiras. A hipotese de infeccdo, por exemplo, prevé febre, que éconfirmada pela Teitura do termémetzo. Mas, outras causss também podem ter provocaclo a febre. Por isso, as hip6teses confirmadas experimentalmente sfo aceltas sempre com alguma reserva pelos cientistas: futuramente elas poderdo ser refutadas por novas experiéncias. Pode-se entéo dizer que uma hipétese sera aceita como possivel - ot: provisoriamente — verdadeira, ou ainds, como verdadeira até prova em contrario. © filésofo Karl Popper (1902-1994) enfatizou sempre que as hipdteses de caréter geral, como as leis cientificas, jamais podem ser comprovadas ou verifi- cadas. E facil compreender esta posicio examinando uma generalizacfo bem como “todos os cisnes sio brancos”: por mafor que seja 0 nuimero de cisnes observades, nfo pociemos demonstrar que o prximo cisne a ser obser vvado sera branco. Nossas observacées nos autorizam a afirmar apenas que totos os cisnes observados até fo io brancos, Mesmo que acreditemos que todos o so, nao conseg prové-lo, e poclemos perfeitamente estar enganacios, como, als, &0 caso ~ alguns cisnes sao negros Para Popper, no entanto, uma tinica observacao de um cisne negro pode, logicamente, refutar a hipétese de que todos os cisnes sio brancos. Assim, cembora as generalizagées cientificas ndo possam ser comprovacias, elas podem 6 [ALDA JUDITH ALVES-MAZZOTTI& FERNANDO GEWANDS2NATDER ser refutadas, Hipéteses cientificas, seriam, portanto, passveis de serem refuta- das, ou seja, seriam potencialmente falseaveis ou refutaveis. 3. Os testes devem ser_os mais severos possiveis Em ciéncia devemos procurartestar uma hipstese através dos testes mais severos possiveis Isto implica em ulilizar medidas ou testes estatisticos, se hhecesedtios e procurar, sempre que possivel, controlar 08 fatores que podem. Intervir nos resultados através de um teste controlado. Se, por exemplo, uma pessoa ingerir determinado produto e se sentir melhor de algum sintoma (dor de cabeca, dor de estémago, etc), ela pode supor ‘melhora deve-se & substincia ingerida. No entanto, & perfeitamente {que a melhora tenth ocorrido incependentemente do uso do produto, erika sido uma melhora esponténea, provocada pelas defesas do orga- rismo (em muites doengas ha sempre tum certo miimero de pessoas que ficam ‘boas sozinhas). Para eliminar a hipétese de melhora espontinea, é preciso que 6 produto passe por testes controlads. Neste caso, so utilizados dois grupos Ge doentes voluntitios: um dos dois grupos recebe o medicamento, enquanto 0 ‘utro recebe uma imitacio do remédio, chamada placebo, que é uma pilula ou preparado semelhante ao temédio, sem conter, no entanto, o medicamento em 70. Os camponentes de ambos os grupos ndo sfo informados se estavam Gu ngo tomando 0 remédio verdadero, é que o sinples fato dle uma pessoa Schar que est{ tomando o remédio pode ter um efeito psicol6gico e fazé-la ‘sentir-se melhor - mesmo que o medicamento no seja eficiente (¢ 0 chamado feito placebe). Alem disso, como a. pessoa que fornece o remédio podera, inconstientemente ou nfo, passar alguma inllugncia a quem o recebe, cla também nfo ¢ informada sobre qual dos dois grupos esté tomanclo o remédio. O mesmo se aplica aqueles que iro avaliar 0s efeitos do medicamento no ‘organismo: esta avaliaggo poder ser tencenciosa se eles souberem quem real- mente tomou o reméaio. Neste tipo de experimento, chamado duplo cego, os emédios so numerados e somente uma outra equipe de pesquisadores, nfo envalvida na aplicagao do medicamento, pode fazer a identificagio. Finalmente, nos dois grupos podem existir pessoas que melhoram da doenga, seja por efeito psicologico, seja pelas proprias defesas do organismo. ‘Mas, se um rimero significativamente maior de individuos (e aqui entram os testes estatistcos) do grupo que realmente tomou o medicamento ficar curado, podemos considerarrefutada a hipétese de que a cura deve-se exclusivamente Zo efeito placebo ou a uma melhora espontinea e supor que o medicamento fics, "Arepeticio de um teste serve para checi? se o resultado obtido pode ser repro = incase por outros pesusnores— 0 gue conta par 2 maior objetividadte do teste, na meclida em que permite que se cheque a inter- (0 METODO NAS CIENCIAS NATURAIS E SOCIAIS 7 feréncia de interesses pessoais de dleterminado cientista na avaliagio do resul- tado ~ entre outros fatores. liticada, pode-se dizer que as leis sf0 hip6teses gerais aque foram estas ereceberam apo experimental equ pretencem destrever _relagées ou regularicades encontracias em certos grupos de fendmenos. O ter gerade tima lei pode ser ilustraco por alguns exemplos. Alei da queda dhe plantas de evils amaels, cruzades entre sl podem prostate plan ee funciona para diversas outescracterstias e para aiversos outros sere vivos, permftindo previsOesinlisive para certesearateristicas humanas. A el da ica que temequnlquerreagio quimicaa massa dos prodtos tern de ser igual & massa das a que sempre que um Talo de (qualquer superice plana), luz (qualquer um) se refletir numa super co Angulo de reflexio serd igual a0 de inci ‘As explicagdes e as previsbes ci leis gerais combinadas a condigdes iniciais, que so as circunstancias particulares que acompanham 0s fatos a sei licados, Suponhamos que uum peso corresponclente A massa, de dez. quilogramas é pendurado em um fio de cobre de um milimetro de ‘espessura e 0 fio se rompe. A explicacdo para seu rompimento util ‘que permite calcular a resisténcia de qualquer fio em funglo do mi espessuira. As condigtes iniciais so 0 peso, a espessura do fio e 0 mat que ele 6 formado. Para outros tipos de fendmenos, como 0 movimento das moléculas de um. ‘84s, as proporobes relativas das caracteristicas hereditérias surgiclas nos cruza- ‘mentos ou a desintegragto radioal ‘quer modo, ha sempre a necessidade de se buscar leis para explicar 0s fatos. A ciéncia nao consiste em um mero actimulo de dads, mas sim numa busca da ordlem presente na natureza, de 5. Teorias cientificas A partir de corto estégio no desenvolvimento de uma citneia, as leis deixam de estar isoladas e passam a fazer parte ce teorias. Uma teoria 6 8 [AUDA [UDI ALVES MAZZOTTI& FERNANDO GEWANDSZNAJDER formada por uma reuniZo de leis, hipéteses, conceitos e definigées ecoerentes, As teorias tém um cardter ivo ainda mais ger ‘Ateoria da evolucio, por exemplo, explica a adaptagéo indivich Ge novas espécies, a seqiiéncia de fosseis, a semelhanga entre espécies aparen- fadas, e vale para todos os seres vivos do planeta. A mecinica newtoniana explica nio apenas o moviment5 dos planetas emt torno do Sol, ou de qualquer Dutta estrela, mas também a formacéo das marés, a queda dos corpos na superficie da Terra, as Grbitas de satélitese sspaciais, etc. (O grande poder de previsio das teorias cientificas pode ser & pela historia da descoberta do planeta Netuno, Observowse que as Gades da érbita de Uzano no podiam ser explicadas apenas pel exereida pelos outros planetas conhecidios. Levantou-se enti a hipétese de que hhaveria um outro planeta ainda nao observado, responsavel por essas izregula- ridades. Utilizando a teoria da gravitagio de Newton, os matematicos John C. ‘Adams e Urbain Le Verrier calcularam, em 1846, a massa e a posigao do suposto planeta, Um més depois da comunicagio de seu trabalho, um planeta com Jquelas caracteristicas ~ Netuno foi descoberto pelo telesedpio @ apenas um jau da posigho prevista por Le Verrier e Adams. Um processo semelhante fconteceu muitos anos depois, com a descaberta do planeta Plutio. ‘Vemos assim que a ciéncia no se contenta em formular generalizagSes como a lei da queda livre de Galileu, que se limita a descrever um fenémeno, ras procura incorporar estas generalizagbes a teorias. Esta incorporagio permi- te queasleis possam ser deduzidas e explicadas a partir da teoria. Assim, as leis de Charles e de Boyle-Mariotte (que relacionam o volume dos gases com [pressdo e a temperatura) podem ser formuladas com base na teoriacinética dos gases. A partir das teorias & possfvel inclusive deduzir novas leis a serem festadas. Além disso, enquanto as leis muitas vezes apenas descrevem uma reguleridade, as teoriascientificas procuram explicar estas regularidades, suge- indo um mecanismo oculto por tes dos fendmenos e apelando inclusive para ‘ntidedes que ngo podem ser observadas. fesse caso da teoria cindtica dos Gases, que propoe um modelo para estutura do ga (particulas muito peque- fas, moverdorse a0 acaso, etc.) “Apesar de todo &xito que a teoria possa ter em explicar a realidade,é importante reconhecer que ela 6sempre conjectural, sendo passivel de corregio uperfelgoamento, podendo ser substituida por outra teoria gue explique faulhor os fates Ft isto que ocorreu com a mecinica de Laplace — que procura~ ‘Vaexplicar os fendmenos isicos através de forgas centras atuando sobre part Lalas coma teoria de Lamarck da evolugéo, com a teoria do caldrico ee Mesmo @ teria de Darwin, embora superior & de Lamarck, continha sérias qacunas e somente a moderta teoria da evolu ~ 0 neodarwinismo ~ conse- (pal explicr satsitoriamente (através de nutag0es) o aparecimento de novi- Adis geneieas. Eni, a hstra da cncia contém um grande mimero de txemplos de teorig abandonadas e substituidas por outras (© METODO NAS CIENCIAS NATURAIS E SOCIAIS 9 A noes erin devn sr apa os de cot os fen explcos pel torn ang, co anbem de explicate novo asin tended ape dscns tase erdmonncapeaton ge tc new € sind fates see a cone ovens sere teeapordc erly cone sinclar pana cater se teeseos deans en riz quetoncvem velsidets ponies Solur thee tna probs da toa nentnen cnn clos deta coe limites. Quando trabalhamos com velocidac as comparadas coma da le meds podendo er dexprzadana pt [Gime ce lcs na mesa newoina sto mas fers oe stem estos a tora contin endo aplinges a engerbara civ ro lange mento ce foguietes e satélites, etc, cam aaa ‘Uma teorn lene fetes a bjs e mecanismos outs edesconhe a ea eee eee rn ah cna de mente, representa algo real, podemos realizar experimentos para test ee ee eee en eee a erecta ees -mesmo as teorias mais recentes devern ser encaradas como explicagdes apenas -parciais e hipotéticas da realidade. serem submetidas a criticas por parte de outtos cientistas; na disposicio de gn eet ¢ ean temple | Comte para a linha anglo-americana foi a combinacio de idéi CAPITULO 2 Ciéncia Natural: Os Pressupostos Filos6éficos ‘conhecimento cientifico. 1. 0 positivismo légico sno vern de Comte, que considerava a cigncia como 0 © terme fa conhecimento, No entanto, mais importante do que paradigma de (Mill, Hume, Mach é Russell) com 0 trabalhos em matemdtica e légica de Hil do Tractatus Logico-Phil do também de positivismo légico ou emy “influenciado ainda pelas novas descobertas em fh quntica e a teoria da relativida idéias e do desenvolvimento do ia logica mod ipaig file jeurath, emigraram para os Estados ‘Unidos ou Inglaterra com o suxgimento do nazismo, uma vez que alguns dos (0 MET000 NAS CIENCIAS NATURAIS E SOCIASS u membros do grupo eram judeus ou tinham idéias liberais ou socialistas incom- ppativeis com 0 nazismo. Para o positivismo, a Logica ea Matemética seriam vélidas porque estabe- Jecem as regras da linguagem, constituindo-se em um conhecimento a priari, ot seja, independente da experiéncia. Em contraste com a Logica e a Matemética, porém, 0 conhecimento factual ou empirico deveria ser obtido a partir da observacio, por um método conhecido como indusio, A pattir da observacdo de um grande mimero de cisnes brancos, por exemplo, conclufmes, por indugao, que 0 préximo cisne a ser observado seré branco. Do mesmo modo, a partir da observagao de que alguns metais se dilatam quando aquecidos, concluimos que todos o8 metais se dilatam quando aquecidos e assim por diante. A indugio, portanto, é 0 processo pelo qual’, podemos obter e confirmar hipéteses e enunciados gerais a partir da observa- e de um gés em fungdo de sua pre r exemplo, concluimos que o volume do gas é inversamente proporcional 8 pressio exerci- da sobre ele (lei de Boyle). Em te 1s condigdes BY. A associacio com o que chamamos de condicées iniciais permite prever e explicar \émenos: a lei de Boyle permite prever ‘que se dobrarmos a pressio de um gés com volume de um litto,em temperatura constante (condigdes iniciais), esse volume sera recluzido & metade, Embora o termo teoria tenha virios significado: simplesmente como sinénimo de uma hipétese ou estrito as teorias fo formadas por um conjunto di diretamente observéveis, como “tomo”, etc. Esses conceitos abstratos ou teéricos relacionados por regras de nte observéveis (0 pontelro do aps- relho deslocou-se em 1 centimetro, indicando uma corrente de 1 ampere, por ‘exemplo). As teorias geralmente utilizam modelos simplificados de uma situagio ais complexa, A teoria cinética dos gases, por exemplo, supde que um gés seja formado por particulas de tamanho despreaivel (étomos on moléculas), sem forcas de atracéo ou rep' esse modelo, podem Boyle, que relaciona a pressio com o volume do gés do gas diminuir, o niimero de choquies cas molé ‘te aumenta, aumentando a pressio do gas sobre a pared?) 2 [ALDA JUDITH ALVES MAZZOVTI&e FERNANDO GEWANDSZNAIDER (Os positivistas exigiam que cada conceito presente em uma teoria tivesse ‘como referéncla algo observavel. Isto explica a oposigio & teoria atémica no Snicio do século: embora esta teoria conseguisse explicar as leis da quimica, as ropriedades dos gases e a natureza do calor, Mach e seguidores nfo a acelta- Fare, uma ver que os étomos ndo podiam ser observados com qualquer técnica imaginavel da época. “n aceitacéo de uma lei ot teoria seria decidida exclusivamente pela obser- -vagio ou experimento, Uma lel ou teoria poderia ser testada direta ou indireta- mente com auxilio de sentencas observacionais que descreveriam o que uma ‘pessoa estaria experimentando\em determinado momento (seriam sentengas do tipo "um cubo vermelho esti sobre a mesa”). Estes entunciados forneceriam ‘uma base empirica sélida, a partir da qual poderia ser construido 0 conhect- menio cientifico, garantindo, ainda a objetividade da ciéncia. ‘Para o positivism, as sentencas que néo puderem ser verificadas empiri- ‘camente estariam fora da fronteira do conhecimento: seriam sentenges sem sentido. A tarefa da filosofia seria apenas a de an jcamente os conceitos Cientificos. A verificabilidade seria, portanto, o critério de significagao de wm fenunciade: para todo enunciado com sentido deveria ser passivel decidir se ele 6 falso ou verdadeiro. “AS leis e teorias poderiam ser formuladas e verificadas pelo método indu- fiyo, um processo pelo qual, a partir de um certo néimero de observacées recolhidas de um conjunto de objetos, fatos ou acontecimentos (a observagio de alguns cisnes brances), concluimos algo aplicavel a um conjanto mais amplo (todos os cisnes so brancos) ou a casos dos quais nao tivemos experiéncia (0 proximo cisne seré branco). Mesmo que no garantisse certeza, o método indutivo poderia conferir ‘probabilidade cada ver maior ao conhecimento cientifico, que se aproximaria Cada vez mais da verdade, Haveria um progresso cumulativo em ciéneia: novas Teise teorias seriam capazes de explicar e prever um niimero catia vez maior de fenmenos. ‘Muitos fildsofos positivistas admitiam que algumas hip6teses, leis ¢ teotias no podem ser obticas por indugo, mas sim parlir da imaginagéo fe criatividade do cientista. A hipétese de que a moléeula de benzeno teria a forma de um anel hexagonal, por exemplo, surgitt na mente do quimico Frederick Kekulé — quando ele imaginou uma cobra mordendo a propria cauda. Hié aqui uma idéia importante, antecipada pelo fildsofo John Herschel (1830) e depois reatirmada por Popper (1975a) ¢ Reichenbach (1961):a diferenga entre 0 “contexto da descoberta” eo “contexto da justificagao”. Isto quer dizer que 0 procedimento para for ‘ou descobrir uma teoria é itrelevante pata sta aceitaglo. No enfant, embora nto baja regras para a invengéo ou Feacoberta de novas hipéteses, sma vez formuladas, elas teriam de ser testadas experimentalmente. «~ (© METODO NAS CIENCIAS NATURA'S & SOCIAIS B Na realidade, os positivistas nao estavam interessadios exatamente em como o cientista pensava, em suas motivagbes ou mesmo em como ele agia na pprtica: isto seria uma tarefa para a psicologia e a sociologia. O que interessava cram as relagbes logicas entre enunciados cientificos. A l6gica da ciéncia forne- ceria um critério iden! de como o cientista ow a comunidade cientifica deveriaagir ‘ou pensar, tendo, um caréter normativo em vez de descritivo. O objetivo central nio era, portanto, o de explicar como a ciéncia funciona, mas justificar ou legitimar o conhecimento cientifico, estabelecendo seus fundamen- {08 logicos e empiricos. 1.1 Criticas ao po Popper e outros fildsofos questionaram o papel atsibuido A observagéo. : ido. no postvisto lic. Aiden sue fodn a beerago centfin ov mio imersa em teorias (ou expectativas, pontos de vista, etc). Assim, quando um Glntste ede corents lca sew reastncla deur cele uu observa uma eélula com 0 microsc6pio elete um terméanato, por exempo, depended eda dati do mecirlossim come a cheng aavee de um simples mrosc6pio Optic depend ds lls da refagto ‘ts, hoje amplament sci em losis dari, de qu toda obser ago & “impregrad” de tora (Heary-lafen fl defend J no inti do sécilo pelo oso Petre Duke, Diza cl, que “um expeimento em fsa nko ¢wimplesmente a observagto eum fendmeno; abn a interpreta tein dese fendmeno” (Duke, 195, ple) Tm rerumo, do momento om que as abeervagtes inc i fal an yporam tori fl lan podem ser consieradas come fntes segura ara se contri © Conhecimentoe nfo podem serve como ina bese sida pea conhecimento tne, ca pro ovis (a dele se leo ete bservagtoe conhecmnento esto em Gregory, 1972; Hanson, 1958; Musgrave, 1993; Popper, 1975b; a a tin indus id Hume questionava a validad racial ndtv, arg indus nfo un aumento ded toe, portant no login (Hume, 1972) Alem ds, ea também Io pode ser jstiinda pela cbecrvago:o ato de que todos os Cianes ver ‘adr at ager jn cs no gq prvi dee ja brat = em qe tacos ow cisnes seam roncon. A indugho no pode, portant, st justificada ~ nem pela logica, nem pela experiéncia. pmaaaaes ory [AUDA JUDITH ALVES: MAZZOTTI 4c FERNANDO GEWANDSZNAIDER ines para asks se pssrmos de gnerlzaées supericiicomoa dos cises pares teers Problema se complica mais alndn. Apart dt oservagio 6 ors cinta, Po, pnts enti diversi ele teorias cients dem tae gadon ects eo quer dae que 2 induct, por 6 cam ean decobimos ul ds geeralizaces 62 ve melhor Alem disso, mesmo que procedimentos indutives permitam reunir um conjunto de dados ¢ formar generalizagies superficais (do tipa eels Gilatam”), eles S80 insutficientes para originar teorias profundas, que tpelam p ‘de serem percebidos por observacio direta, sno tee entra Pe soli ere ene eee Perms tite er a oa oh dl oem pein oe ea rent pn con rar GP Er Sos em computadores para gerar € avaliar hipoteses (Holland eta, 1986). Se se eo ei srigeeumets hi ek ee neo fae as tentativas de atribuir probabilidade a : itosproblemas pote terns mid bastante ctcades eapresenta mites Pro ‘ioe «or ain que se pooon stb probablidade aerunciados ge, we erdo posse «apie probeblidades 3 feoras ra eens gtr doesn no cere ee ktve ao bayeianiomo © & busca de prinspios que js errs ver: Bazan, 1982; ilies, 193; Clymous, 1980 Lakates, 1968; ‘Hou Pellok 198; Popper 1972 1974, 1752, 2973b; Watkin, 1984) ler, 2. As idéias de Popper nétodd clentifico (e também acerca do conhectinento em geral) quenéo envolva f indugdo ~ que no saa, portanto, vuinerdvel aos argumentos de Hume. A {questo 6: como é possfvel que nosso conhecimento aumente a partir de hipé- (© METODO NAS CIENCIAS NATURAIS F SOCIAIS 1B teses, les ¢teorias que no podem ser comprovadas? (Mais sobre as ids de Popper em: Andersson, 1994; Gewandsznajer, 1989; Magee, 1989; Miller, 1994; NewtonSmith, 1981; O'Hear, 1980; Popper, 1972, 1975a, 1975b, 1979, 1982; Sehilpp, 1974; Watkins, 1984, : 2.1 0 Método das conjecturas e refutacdes Popper aceita a conelusto ce Hume de que a partir de observagoes e da Logica nto podemos verificar a verdade (ou aumentar a probabilidlade) de | enunciados gerais, como as leis ¢ teorias cientificas, No entanto, diz. Popper, @ observacio e a légica podem ser usadas part(refutat esses enunciados gerais: a observagio de um tinico cisne negro (se ele de fato for negro) pode, logicamen- te,refutara generalizacio de que tocos os cisnes so brancos. Hd, portanto, uma assimetra entre a refutacio icacio. ‘A partir dat, Popper constréi sua visdo do método cientifico ~ 0 racionalis- ‘mo cxitico~e também do conhecimento em geral: ambos progridem através do, qiie ete chama de conjecturas e refutagdes, Isto significa que a busca de conhe- Cimento se inicia com a formulacio de hip6teses que procuram resolver proble- ‘mas e continua com tentativas de refutacio dessas hipdteses, através de testes que envolvem observagées ou experimentos. Se a hipétese nZo resistir aos, testes, formulam-se novas hipsteses que, por sua vez, também sero testadas. Quando uma hipétese passar pelos testes, ela seré aceita como uma solugéo provis6ria para o problema, Considera-se, entao, que a hipétese foi corroborada ‘ou adquiriu algum grau de corroboracéo. Este grau 6 fungo da severidade dos testes a que foi submetida uma hipétese ou teoria © a0 sucesso com que @ hhipétese ou teoria passou por estes testes. O termo corroboracaa é preferivel & confirmagto para nfo dar a idéia de que as hipdteses, leis ou teorias so verdar deiras ou se tomam cada vez mais provéveis medida que passam pelos testes. Acconoboragio é uma medida que avalia apenas 0 sucesso passado de uma teoria e nio diz nada acerca de seu desempenho futuro, A qualquer momento, novos testes poderio refutar uma hipétese ou uma teoria que foi berm-sucedida ro passado, isto 6, que passou com sucesso pelos testes (como aconteceu com a hipdtese de que todos os cisnes sao brancos depois da descoberta de cisnes negros na Austria) [As hipéteses, leis e teorias que resistiram aos testes até o momento sf importantes porque passam a fazer parte de nosso conhecimento de base: podem ser usadas como “verdades provisérias”, como um conhecimento ndo problemético, que, no momento, n&o esté sendo contestacio, Mas a decisio de aceitar qualquer hip6tese como parte do conhecimento de base ¢ temporéiia ¢ pode sempre ser revista e revogada a partir de novas evidéncias. 16 |ALDA JUDITS ALVESMAZZOTI de FERNANDO GEWANDS2NAIDER Por vérias veres, Popper protestou por ter sido confundido por seus por exemplo) com um "falsificacionista ingéntio” (Poppe, 1982). Para ele, isto acontece porgue esses criticos confunciem refuta- (glo em noel Ibgico com refulacEo ent noel experimental, Em nivel experimental Su empirico nunca pocemos provar conclusivamente que uma teora é false: {sto decorre do caréter conjectural’ do conhecimento. Mas a tentativa de refuta- {Gio conta com o apoio da logica dedutiva, que esté ausente na tentativa de confirmagio. “A decisdo de aceitar que uma hip6tese foi refutada é sempre conjectural: pode ter havido um erro na observacio ou no experimento que passou despet- Ecbido. No entanto, se a observacio ou 0 experimento forem bem realizacios & thao houver divides quanto a sta corresiio, podemos considerar que, em prin- pio, e provisoriamente, a hipétese foi refwlada. Quem duvidar do resultado pode “reabrir a questio", mas para isso deve apresentar evidéncias de que fouve um ero no experimento ou na observagio, No caso do cisne, isto cequivalea mostrar que o animal nao era um cisne ou que se tratava de wm cisne branco pintado de preto, par exemplo. “A refutagio conta com o apoio I6gico presente em argumentos do tipo: “Todos 0s cisnes sao brancos; este cisne é negro; logo, é falso que todos os cisnes sejam brancos”. Neste easo, estamos diante de um argumento dedutivamente valido. Este tipo apoio, porém, ndo esté presente na comprovagio indutiva. Popper use entfo a légica cedutiva nfo para provar teorias, mas para criticé-1as. Hip6tesese teorias funcionam como premissas de um argumento. A partir dessas premissas deduzimos previsbes que serdo testadas experimental- Tnente, Se uma previsdo for falsa, pelo menos uma das hip6teses ou teorias lutilizadas deve ser alsa. Desse modo, a légica dedutiva passa a ser um instru mento de critica. 2.2 A importancia da refutal Para que o conhecimento progrida através de refutagdes, é necessério que as leis eas teorias estejam abertas A refutagao, ou seja, que sejam potencialmente refutiveis, $6 assim, elas pocem ser testadas: a lei da teflexéo da luz, por ‘exemplo, que diz que 0 Angulo do rato incidente deve ser igual a0 angulo do. aio refletido em um espelho, seria refutada se observarmos Angulos de reflexzo diferentes cos angulos de incidéncia. As leis e teorias devem, portanto, “proi- bir” a ocorréncia de determinados eventos. (Os enunciados que relatam eventos quacontradizem uma let ou teoria {que Helatam acontecimentos "proibidos") sio chamados de falseadores poten ciais dalei ou teoria., (© METODO NAS CIENCIAS NATURAIS & SOCLAIS v ( conjunto de falseadores poten cempirico da teoria: quanto mais 2 mundo. Para compreender melhor de enunciados do tipo “vai chover deste tipo nio possuem fal ‘empitico ou informativo, do mand is nos dé uma medida do contetido fhe”, mais ela nos diz. acerca do colocacio, observe-se 0 caso oposto: 0 io vai chover amanha”. Enunciaclos anciais ¢, portanto, nao tem contetido is ou refutaveis ¢ nada dizem acerca contribuem para o progresso do conltecimento. Por outro lado, quanto mais geral for um enunciado ou lei, maior seu contetido empirico ou informativo (a generalizagdo "todos os metais se dilatam. uando aquceidos’ ros dz mals do qu“ chumbo se lila quando aquece io") e maior sua refutabilidade (a primeira afirmagio pode ser refutada algun metal inclusive 0 chumbo oS cnuanns copula so refutada caso o chumbo nio se di sca ver mais gels, wma ver que o rico de zefutasto 0 emativo aumentam com a amplitude da lei, aumentando assim a chance de aprendermos algo novo. " ‘Um raciocinio semethante pode ser feito com a busca de is t2m contedclo maior e arriscam-se mais A rel 6 dirotamente proporcio lade do que “os metaisse ‘ver que este tltimo enunciado somente seré refutado se on enquanto 0 primeiro enunciado seré-refut quando a dilatacio se csviar sgt tivamente dos valores previstos. A refulabilidade tamioém se aplica a busca de leis mais simples. Se medie- :mos a simplicidade de uma lei em fungao do niimero de paraiietros (0 crtério de Popper), veremos que leis mais simples sio também mais refutaveis (a hipétese de que os 6 sulares é mais simples do que a "pots de que ox planeta tm cites liptins que occu um pode elipse Partano, de acordo com Poppers ciéncia deve buscar ese tories cada ‘vez mais amples, precisas e sim; ue, desse modo, maior sexd a refutabi- Tidede ey conseqentemente, maior achat ‘c foe ‘No entanto, ndo se deve confundir refutabilidace com refutagio: a lei mais, precisa, simples ou geral pode nao ser bem-sucedida no teste terminar substi- tuida por uma Jei menos geral (ou menos simples ou precisa). A avaliagio das B importante a importante compreener, porém, dade ea corraboragaer quanto mir # rnimero de acontecimentos que € dog testes a que ela pode ser sub corroboragio adquirido sea feoria passer pelos tests. 18 [ALDA JUDITES ALVESMAZZOTTI & FERNANDO GEWANDS2NAIER ‘A conclusio 6 que teorins mais refutéveis possuem maior potencial de corroboracio ~ embora uma teoria $6 alcance de fato um alto grau de corrobo- fagho se, além de altamente refutével, ela também passar com sucesso por testes ade nos dé, entio, um crtéro ¢ priori para a evaliagdo de ts 0 progresid do conhecimeato, devemos buscar teorias eehn vee anal efutaveis (gers, preisas e simples) A seguir, devemos subme- {Elles ace testes mais rigorosos possiveis. Temos assim um cltério de pro- tress” tots mais reftvels representa um avango sobre teorias mens Srrauivels desde que as primeiras sejam corroboradas e no refutadas, Popper est na realidade, propondo um objetivo para cignci:a busca de seorias He maior refutabiidade e, consegjientemente, de maior contesdo empr- see Sats infosmativas e mais testaveis. Estas sfo, também, as teorias mais ‘eras, simples, precisas, com maior pcr explicativo e preditivo e, ainda, com Srtor potenelal de corroboragio.& através dessa busca que iremos aumentar & chance de aprendermos com nossos eros. Tinalmente, 0 conceite de refutabilidade pode ser usado também para resolver 0 problema da demarcasio, isto €, 0 problema de como potemos distinguizhipOteses clenificas de hipéteses nao cientiicas. ‘Eien o positvismo, uma hipstee seria cienifica se ela pudesse ser verifi cada experimentalmente. No entanto, as crftieas & inducRo mostram que essa Comprovagio ¢ problemtica, Popper sugere entio que tia hipotese ou teria Gir zonsiderade eientifica quando puder sex refutads. Teorias que podem se icare prover eventos ooservveis sto refutavels: se 0 evento ndo ocorze, 8 eels fake. Js teorasierefutaveis (do tipo “vai chover ou nfo aman”) nllo tea qualquer carder centico, uma ver que néo fazem previsOes, no tm poder explanatsrio, nem podem ser testadas experimentalmente. 2.3 Verdade e corroboracao sdadie tem, para Popper, um papel importante em sua meto~ pesquisa cienti- Logis, an vverdade objetiva fica, jé que “a propria idéia de erz0 que podemos deixar de alcangar” (Poppet, 1972, p. 252). "A definicao de verdade wsada por Popper € a de correspondéncia com os fatos, Este seria o sentido de vercade para o senso comum, para a ciéncia ou para um julgamento em um tibunal: quando uma testemunha jure que fala a Palade no ter visto 0 7éu cometer o crime, por exemplo, expera-se que ela tenkha, de fato, visto o rex cometer o crime. S ‘Nao se deve confundir, porém, a idéia ou a definicao de verdade com um citéro de verdade,Jettosidéla do que significa dizer que “é verdade que = (© METODO NAS CIENCIAS NATURAIS SOCtAIS 1» sacarina provoca cincer", embora os testes para determinar se isto de fato acontece (08 eritérios de verdacle) nto sejam conclusivos. "Em certos casos ¢ até possivel compreender a idiéia de verdade sem que seja possivel xealizar testes que funcionem como critérios de verdade. Pode-se compreender o enunciado "E verdace que exatamente oito mil anos atrés chovia sobre o local onde era a cidade do Rio de Janeiro”, embora mio seja possivel imaginar um teste ou observagio para descobrir se este enunciado é verdadeiro, ‘ss0 quer dizer que néo dispomos de um eritério para reconhecer a verda- de quando a encontramos, embora algumas de nossas teorias possam ser vverdadciras ~ no sentido cle correspondéncia com os fatos. Portanto, embora ‘uma teoria cientifica possa ter passado por testes severos cam sucesso, nao podemos descobrir se ela é veriadeira e, mesmo que ela ose, no temos como saber isso com certeza. ‘No entanto, segundo Popper (1972), na hist6ria da ciéncia hé varias situa «80s em que uma teoria parece se aproximar mais da verdade de que outta. Isto acontece quando uma teoria faz afirmacoes mais precisas (que sZ0 corrobors- das); Guando explica mais fatos; quando explica fatos com mais detalhes; quando resiste a testes que refutaram a outra teoria: quando sugere testes rRovos, nfo sugeridos pela outra teoria (e passa com sucesso por estes testes) ¢ quando permite relacionar problemas que antes estavam isoladios. Assim, mes- mo que consideremos a dindmica cle Newton refutada, ela permanece superior as tearias de Kepler ede Galileu, uma vez que a teoria le Newton explica mais fatos que as de Galilew e Kepler, além de ter maior preciso e de unir problemas (mecinica celeste e terreste) que antes eram tratados isoladamente. (© mesmo acontece quando comparamos a teoria da relatividade de Bins- tein com a dindmica de Newton; ou a teoria da combustio de Lavoisier ¢ a do flogisto; ou quando comparamos as diversas teorias atOmicas que se sucederam ao longo da historia da ciéncia o1, ainda, quando comparamos a sequiéncia de teorias propostas para explicara evolugio dis seres viv Em todos esses casos, 0 gra de corroboracio a ‘mos das teorias mais antigas para as mais recentes. ‘gra de corroboracZo poderia indicar que uma teoria se aproxima mais da verdade que outra ~ mesmo que amibas as teorins sejam falsas. Isto acontece ‘quando o contetico-verdace de uma teoria (a classe das conseqiiéncias légicas ‘everdadeiras da teoria) for maior que o da outra sem que o mesmo ocorza com o-cantetido falso (a classe de conseqiiéncias falsas de uma teoria). Isto € possivel, Isa podemos dediizir tanto enunciados falsos todos 0s cisnes so brancos" é falso, mas a snes clo 200l6gico do Rio de Janeiro sao bran- ima teoria falsa pode conter maior ntimero de afirmagbes verdadeir tea 20 [ALDA JUDITH ALVES MAZZOTTL & FERNANDO GEWANDS2NAIDER Se isto for possivel, a corroboragio passa a ser um indicador para uma aproximacio da verdade, ¢0 objetivo da ciéncia passa a ser o de buscar teorias ‘cada vez mais proximas & verciade ou, como diz, Popper, com um grau cada vez maior de verossimilhanga ou veross le (veri leou, truthlikeness,em inglés). 2.4 Critica das idéias de Popper Boa parte das fies tas idéas de Popper foram feitas pelos repre sentanes No que pode ser chamado de "A nova filosofia da egnea”: Kuhn, Lakatos e Feyerabend. Para Andersson (1994), estas erfticas apGiam-se princi- palmente em dois problemas metodolégicos: o primeiro é que os enunciados Felatando 0s resiliados dos testes esto impregnados de teorias, O segundo, é {que usualmente testamos sistemas tedricos complexos e nao hip6teses soladas, lo tipo “todos os cisnes sao brancos”. ‘Suponhamos que queremos testar a teoria de Newton, formada pelas trés leis do movimento e pela lei da gravidade. Para deduzic uma conseqiéncia observavel da teoria (uma p wecisamos acrescentar& teoria uma série de hipéteses auxiliares, a respel smplo, da estrutura do sisterna solar € dle outros corpos celestes. Assim, para fazet a previsio a respeito da volta do Yamoso cometa ~ depois chamado cometa de Halley ~, Halley nao utilizow apenas as leis de Newton, mas também a posiglo e a velocidade do cometa, caleuladas quando de sua aparicéo no ano de 1682 (as chamadas condigGes {niciais). Além disso, ele desprezou certos dados considerados irrelevantes (a influéncia de |piter foi considerada pequena demais para influenciar de forma sensivel 0 movimento do cometa). Por iss0, sea previsio de Halley nfo tivesse Sido cumprida (0 cometa voltow no més e ano previsto), no se poceria afirmar que a tearia de Newton foi refuta: ter havido um erro nas condigdes {niciais ou nas chamadas big fs. Isto significa que, quando uma ‘provisio feita @ partir de uma teoria fracassa, podemos dizer apenas que pelo enos uma das hipéteses do conjunté formado pelas leis de Newton, condigoes iniciaise hipoteses auxiliares ¢falsa ~ mas ndo podemos apontar qual delas foi responsive pelo fracasso da previsto: pode ter havido um erro nas medidas ca Grbita do cometa ou entao a ifluéncia de Jipiter néo poderia ser desprezada. Feta critica também foi formulada pela primeira vez por Pierre Duhem, que diz: © fsico nanea pod sulbmeter ms hipotece isolada a um teste experimental, mas somente todo um conjuta de hipsteses. Quando 0 experimento se colocs em desecordo com a peodigf, o que ele arene € que pelo menos ima das hipsteses do grupo éinacltivel © Fem ce ser mexlfictda aso experimentondo indica qual delas deve ser mudada (1954, p.l8n. s (© METODO NAS CIENCIAS NATURAIS E SOCIAIS a Duhem resume entio 0 que € hoje esignado como tese de Duhem: “Um experimento em Fisica no pode nunca condenar uma hipétese isolada mas apenas todo um conjunto tebrico” (1954, p. 183) Na realidade, mais de uma teoria ~ até todo um sistema de teorias ~ pode estar envolvico no teste ce uma previséo. Isto porque, teorias cienificas gerais, com grancle amplitude, como a teoria de Newton, s6 podem ser testadas com auxilio de teor ‘As quatro leis de New! teoria (massa, graviade etc) formam o que se pode chamar de nicleo central ‘ou suposigGes fundamentais da teoria. Este ntcleo precisa ser enriquecido com ‘um conjunto de “miniteorias” acerca da estrutura do sistema solar. Este conjun- to constitui um modelo simplificado do sistema solar, onde se considera, por ‘exemplo, que somente forcas gravitacionais sio relevantes e que a atracio entre planetas é muito pequena comparada com a atracao do Sol Se levarmos em conta que os dadios cientificos so registrados com instru- rmentos construidos a partir de teorias, podemos compreender que o qu‘ fondo testa 6a ealidade uma tea complexe de teoras ehipoteses a res ¢ 4 refutagio pode indicar apenas que algo esti errado em todo esse conjunio, Isto significa que a teoria principal (no caso a teorin de Newton) nto precisa ser modificada, Podemos, em ver, disso, modificar uma das hipdteses _auxiliares. Um exemplo cléssico dessa situacio ocorreéu quando astronoros ealcularam a érbita do planeta Urano com auxilio da teoria de Newton descobriram que esta érbita néo concordlava com a Grbita observada. Havia, portanto, o que chamamos em filosofia a ciéncia, le uma anomalla, observacio que contradiz: uma previsao. _ ‘Como vimos, dois astrinomos, Adams e Le Verrier, maginaram, entéo, que poderia haver um planeta desconhecido que estivesse alterando a érbita de Urano. Eles modificaram, porta hipétese auxiliar—a de que Urano era o iltimo planeta do sistema solar, Calcularam entao a masta e a posigo que o planeta desconhecido ceveria ter para provocar as discrepancias entre a érbita prevista ea drbita observada. Um més depois da comunicagio de seu trabalho, em 23 de setembro de 1846, um planeta com as caracteristicas previstas ~ ‘mesma estratégia, postulando a existéncia de um planeta, Vuleano, mais proxi- ‘mo do Sol do que Meresirio. Mas nenhuum planeta com es caracteristicas previs: tas foi encontrado. Neste caso, 0 problema somente péde ser resolvicio com a | substtuigdo da teoria de Newton pela teoria da relatividede ~ nenhuma mu- dang mas hips aur fl capaz de resolver o problem, explicado x 2 |ALDA JUDITH ALVESMAZZOTT!& FERNANDO GEWANDSZNATDER ‘A pattie dai, véris filésofos da ciéncia ~ principalmente Kuhn, Lakatos Feyerabend ~ consideram que nem Popper nem os indutivistas resolveram _ adequadamente o problema de como testa um sistema complexo de teorias, fornado pela teoria principal e pelas teoriase hipéteses aunxiiares envolvidas, no teste, Para esses filésofos, é sempre possivel fazer alteragBes nas hipéteses & teorias auniliares quando uma previsio nao se realiza. Desse modo, podemos ‘sempre reconciliar uma teoria com a observagio, evitando assim que la seja refutada. Fica i car, dentro da metodologia falsificacionista de Popper quando uma teoria deve ser considerada refutada e substitulda por outra. Para apoiar essas criticas, Kuhn, Lakatos historia da cigncia, que, segundo eles, demonstrat idonam teorias relutadas, Em vez disso, eles modificam as hipdteses ¢ teorias auxiliares de forma a proteger a teoria principal contra refutagGes. “Outta exitica parte da idéia de que os enunciacios de testes (que selatam resuilados d¢ uma observacio ou experiéncia), estdo impregnados de teorias auniliares e, por isso, no podem servic como apoio para a para refutagio da teoria que est sendo testada, Se os testes dependem de teoria, eles sto faliveis fe sempre podem ser revistos ~ nfo conslituindo, portanto, uma base empirica s6lida para apoiar confirmagoes ou refutaces. Embora Popper admita a falibilidade cos re ‘nos diz quando um teste deve ser aceito como uma refutagao da t go teria resolvido, na prética, o chamado “problema da base empirica”: & ico, mas nao teria qualquer srabend buscam apoio na ue os cientistas nao aban- olugao de Popper seria valida apenas no nivel iilidade no nivel metodol6gico ‘Out tipo de cxtca envolve a ligagio entre as idéias de cortoboracto € verossiiltude. Para Popper, a corroboragio seria 0 indicador (conjectural) ‘da verossimilitude: teorias mais corroboradas seriam também mais proximas da_ verdade © problema éque a corrobaragio indica apenas o sucesso passado de uma teoria, enquanto a avaliacfo da verossimilhanca de duas teorias implica uma jrovisio aerea co sucesso futuro da teria se uma teoria esté mais préxima da Pendade do que vutra ea seria também mais confidvel, funcionando como wm. ula melhor para nosses previses. Nest cso, porémy a ligagio entre corrabo- Bicdo e veroseimilitude parece depender de um raciocinioincutivo:a partir do ‘Shkesco passado de uma teria estimamos seu sucesso futuro (Lakatos, 1970; Watkins’ 1984). Sendo assim, os argumentos ce Popper estariam sujeitos a cefticas 4 indugdo feitas por Hume. “além disso, para que uma teoria tena maior verossimilitude que outra, & snecessario que haja um aumento no conteiclo de verdade (0 conjunto de pre- Ticbes no vefutads), sem que haja também um aumento de contetido de Jalsidde (o conjunto de previsdes refutadas) No entanto, Miller (19748; 1974b) O hchy 1974) demongiraram que quando duas teotias sio falsas, tanto o (© METODO NAS CIENCIAS NATURAIS SOCIAIS 23 conteo de verdad como ode falsiade rescem com o conti ds tora (oo cae mm qu nen come cao cao er que deo Gus teovias€ verdad) Sensis impossve compar quanto verossin tang das eons que poem sr false ira slug pare eteprolena consis em proprio de de toring que nfo lependan da vercsinulhang, com fez Wah outta slug ¢ cori eveformulr o cnet ce verussimlnanga, de todo fur dlesirvacomoun ojatve ra clnia como pcr ar toe sor (brink rieicem, 1967, Barger eldetna, 1096; Kuiper, 1987, Nuit 1984, 1987; Oddie, 1986; para criticas a essa tentativa, ver Miller, 1994). " 3. A filosofia de Thomas Kuhn _ Ema Estrutura das Revougdes Ciena, publicado originalmente em 1962) 2 a visio da ciéncia proposta tanto pelos positivist logcos como pelo facionalism exticopoppeteno, demons frandg que o estudo da histria da cigncia dé uma visio da ciéneia e do seu :método diferente da que foi proposta por essas escolas. ‘Logo apés a primeira edigio de seu livro, Kuhn foi criticado por te dofendido uma visto relativista da ciénti i objetivos para a avaliagfo de teories e ao defender uma forte influéncia de Fatores pslcolbgicos e sociais nessa avaliagio. Na segunda edigéo do livro (19706) ~ no posfécio - eem outros trabalhos 1977, 197, 1987, 1990), Kuhn delentese das eens, fimando sus eitcos respondem as minhas opini6es com acusagbes de irracionalidadee elativisin [..] Todos sé0rétulos que rejeito categoricamente [..)”(1970a,p.234) 'Noentanto, medida que procurava se explicar melhor, Kubn foi também reformulando muitas de suas posicdes originais, Para alguns fild - co substituiu o sistema geacéntrico cle Ptolomeu. Para Kuhn, 0 fato de que teorias apazentemente bem confirmacias so periodicamente substitufdas por’ utras refuta a tese positivista de um desenvolvimento indutivo e cumulativo 6—e nfo poderia ser - t somo a légica fal porque uma observacio nunca € absolutamente incompativel com uma teoria. | 20 negar a existéncia de critérios 4 |ALDA JUDITES ALVES-MAZZOTN & FERNANDO GEWANDSZNAIDER jficada” no precisa ser abandonada, mas pode ‘ser modificacla de forma a se reconciliar com a suposta refutagio. Mas, neste caso, por que 05 cientistas As vezes tentam modificar a teoria e, outras vezes, Comoro caso de Copérico, introduzem uma nova teoria completamente dife- fente? © objetivo central de Kuhn é, portanto, 0 de explicar por que “os Glantistas mantém teorias apesat-das discrepancias e, tendo aderido a ela, por que eles as abandonam?" (Kuhn, 1957, p. 76). Em outras palavras, Kuhn vai tentar explicar como a comunidade cientifica chega a tm consenso e como esse consenso pore ser quebrado. (Além de livros e artigos do préprio Kuhn, podem Ser consultados, entre muitos outros, os seguintes trabalhos: Andersson, 1994; Chalmers, 1982; Gutting, 1980; Hoyningen-Huene, 1995; Kitcher, 1993; Lakatos & Musgrave, 1970; Laudan, 1984, 1990; Newton-Smith, 1981; Oldroyd, 1986; Scheffler, 1967; Siegel, 1987; Stegmiiller, 1983; Watkins, 1984.) Na realidade, w 3.1 0 conceito de paradigma Para Kuhn, a pesqitsa cientifica ¢ orientacla no apenas por teorias, no sentido tradicional deste termo (o de uma colegio de leis e conceitos), mas por algo mais amplo, o paradigr Tels, conceitos, modelos, analogias, valores, regras para @ formaulagio de problemas, principios metafisicos (sobre a natureza xitima dos verdadeiros constituintes do universo, por exemplo) e ainda pelo queele chara de “exemplares", que sio “solucdes concreias de problemas que os estudantes tencontram desde 0 infcio cle sua educacéo cientifica, seja nos labor “ gxames ou no fim dos capitulos dos manuais cientiicos” (Kuhn, 1970b, ‘Kuhn cita como exemplos de paradigmas, a mecinica newtoniana, que cexplica #attagao e o movimento dos corpos pelas leis de Newton, a astronomia pptolomaica e copernicana, com seus modelos de planetas girando em tozno da Terra ou doSol eas teorias do flogisto e do oxigénio, qu sma combustio ea calcinagio de substincias pela eliminagao de um principio inflamével ~ 0 flogisto — ou pela absorgio de oxigénio, respectivamente. Todas essas realiza- ‘bes cientificas serviram como modelos para a pesquisa cientitice ce sua época, funcionando também, como uma espécie de “visio do mundo” para a comuni- dade cientifica, determinando que tipo de leis sio validas; que tipo de questoes devem ser levantadas e investigadas; que tipos de solugdes devem ser propos- fas; que métodos de pesquisa devem ser usaclos e que tipo de constituintes formam o mundo (étomos, elétrons,flogisto ete). ‘queele eterminaria até mesmo como um fendmeno é percebido pelos: quando Lavoisier descobriu 0 oxigénio, cle passou a "ver" oxigénio once, nos mesmog experimentos, Priestley e outros Gientistas defensores da teoria do flogisto viam “ar deflogistado”. Enquanto ‘Arist6teles olhava para wma pedra balancando amazrada ez um fioe “via” um (0 METODO NAS CIENCIAS NATURAIS E SOCLAIS 25 corpo pesado tentando alcangar seu lugar natural, Galileu “via” um movimento pendular (Kuhn, 1970b). Para Kulm, forga de um paracligma viria mais de seus exemplares do que de suas leis e conceitos. Isto porque 0s exemplares influenciam fortemente 0 ensino da ciéncia arecem nos livros-texto de cada disciplina como “exercicios resolvidos’, ilustrando como a teoria porte ser aplicada para resol- ver problemas (mostrando, por exemplo, como as leis de Newton so usadas para calcular a atracio gravitacional que a Terra exerce sobre um corpo em sua superficie). S80, comumente, as_primeiras aplicagSes desenvolvidas a partit dla teoria, passando a servir entao como modelos para a aplicagio e o desen- volvimento da pesquisa cientffica. Os estudiantes sfo estimuladtos a aplieflos na solucio de problemas ¢ também a modificar ¢ estender 0s modelos para a solugio de novos problemas, ‘Os exemplares sao, portanto, a parte mais importante de um paradi paras aprecnsio dos concoscentficose para extabelecer que problemas 80 relevantes e de que modo cievem ser resolvido: ‘modo, eles determinam © que pode ser considerado uma solugéo cientificamente aceitével de um problema, ajudancdo ainda a estabelecer um consenso entre os cientistas e servindo como guias para a pesquise. ‘Ap6s ter sido eriticado por usar o termo paracligma democdo bastante vago (Masterman, 1970), Kuln afirmou, no posficio de A Estrutura das Revolugdes ientfficas (1970b), que ele preferia usar o termo paradigma nos sentido mais, estrto, de exemplares. Apesar disso, 0 termo paradigma continuou a ser usado tem sentido amplo pela maioria dos flésofos da citncia e o proprio Kuhn reconhecet ter perclico o controle sobre este termo. ‘Além disso, como durante as mudangas de paradigma (otermo sera usado aqui em sentido amplo, salvo observacio em contratio) hé também mucanges jgma, Kuhn muitas vezes fala indistintamente em 3.2 A ciéncia normal A forga de um paradigma explicaria por que as revolugSes cientificas so rrarasi em vez de abandonar tearias refuitadas, os cientistas se ocupam, na mator pparte do fempo, com o que Kuhn chama “cigncia normal”, que & a pesquisa iene orfentaa por um paradigmae basen em um corsenso entre espe Nos periods de ciéncia not 1dos os problemas e solucdes encontra- das tém de estar contidos dentro do paradigma adotado. Os cientistas se Este termo é usado para indicar que, na resultados discrepantes) que surgem na pes- ‘ou quebra-cabecas (puzzles), do tipo encontra- quisa sio tratados como enig 26 AUDA JUDITH ALVES MAZZOTT de FERNANDO GEWANDSZNAIDER ddo°nos jogos de encaixar figuras ou nas palavras cruzadas: a diffculdade de char ® palavra ou a pegt certa devese & nossa falta de habilidade e nfo {Grovavelmente) ¢ um ervo na construgfo ou mas regras do jogo. Do mesmo (TEGO, 0s problemas nao resolvidos eos resultados discrepantes nfo ameacam 2B ora ou paredigme: o maximo que o cientista poderé fazer & contest e { Inodifcaralguma hipétese auxin, mas nioateora principal ou o paradi Na ciéncia normal néo hi, portanto, experiéncias r nem grandes mudangas no paredigma. Bsa adesio 20 ‘nfo impede que haja descoberts importantes na ciéncia mentos quimicos previstos pela porém, que deixa as regres Essa adesao set ‘paradigma fosse abandonado rapidamente, na primeira experiencia refutadora, pPerderfamos a chance de explorar todas as sugestées que ele abre para desen Volver a pesquisa. Uma forte adesio ao paradigma permite a pratica de uma ‘pesquisa detalhada, eficiente e cooperativa, 3.3 Crise e mudanga de paradigma rocios na histéria da ciéncia em que teorias cientificas de grande ampli ‘ubstituidas por outras, com ocorreu na passagem da teoria do flogisto para a teoria do oxigénio de Lavoisier, do sistema de Ptolomeu para 0 de Copémi a fisica de Aristételes para a de Galil s", ocorre uma mu- danga de pari ‘onhecimentos antigos “$o abandonados e ha uma mucianca radical na pratica cientifica ena “visto de Yembora o mundo nfo mucle com a ita passa a trabalhar em um mundo diferente” (1970b, p. 121). ara Kubin, a ciéncia s6 tem acesso a um mundo interpretado por uma linguagem ou por paradigmas: nada podemos saber a respeito do mundo independentemente de nossas teorias. Ele rejeita a idéia de que possamos ssmo cada vez mais préximas & verdade 97). tivo, seria impossivel estabelecer uma distingto entre conceitas observaveis — que se fenomenos observaveis, nao influen- iados por teorias ~ © conceitos , que se referem a fendmenos nto observaveis (como campo ou el trufdos com auxilio de teorias. ‘Kuhn compara as mudangas no modo de observar um fenémeno durante as revolucées cientificas a muclangas de Geslalt, que ocorrem holisticamente: por exemplo, quando egrias figuras ambiguas podem ser vistas de modos ‘© METODO NAS CIENCIAS NATURA'S & SOCIAS 27 diferentes, como um coelho ou um pato (fi do cientista antes da revolugéo passam a p- int). Figura 1. Cosiho ou pate? Como nenhuma teoria ou paradigma resolve todos os problemas, ha sempre anomalias que, aparentemente, poceriam ser solucionacias pelo para- dligma, mas que nenhum cientista consegue resol ‘Um exemplo cle anomalia ocorreut quando He ¢ melhor telesc6pio, observou que Urano ~ con: untiforme, como uma e longo do dia entre ackou que Urano de resolver seus 1979). problema Igo mais do que um novo quebra-cabecas da ciéncia normal” (1970b, p. 81) 28 [AUDA JUDITH ALVESMAZZOTTI& FERNANDO GEWANDS2NAIDEit Tudo o que Kuhn apresenta (1970b, 1977, 1978), porém, sto indicios de alguns fatores que poderiam estimular os cientistas a considerar uma ou mais, Gromalias como significativas: uma discrepincia quantitativamente significati- ‘va entre o previsto eo esperado; um actimulo de anomalias sem resolugSo; uma fanomalia que, apesar de parecer sem importancia, impeca uma aplicagio préti- ‘ca (a elaboracio de tum calenclatio, por exemplo, no caso da astronomin ptolo~ naica); uma anomalia que resiste por muito tempo, mesmo quando atacada ‘pelos melhores especalistas da érea (como as anomalias na rbita de Urano, {que levaram & descoberta de Netuno ou as discrepancias residuais na astrono™ ania de Ptolomeu); ou ainda um tipo de anomalia que aparece repetidas vezes em varios tipos de teste. ‘Do momento em que a ciéncia normal produziu uma ou mais anomalias significativas, alguns cientistas podem comegar a questionar os faundamentos a teoria aceita no momento. Eles comegam a achar que “algo esta exrado com fo conhecimento e as crengas existentes” (1977, p. 235), Surge uma desconfianga nas técnicas utilizadas e uma sensacio cl ‘ofissional. Neste pon- ‘Acrtise € gerada se 0 ci ‘paradi ra Kuhn, a revolugdo copernicana aconteceu porque problemas ‘alvidos levaram Copérnico a perder a fé na teoria ptolomaica (Kuhn, “Actise pode ser resolvida de tr@s formas: as anomalias sio resolvidas sem grandes alteragées na teoria ou no paradigma; as anomalies néo interferem na Tesoluggo de outros problemas e, por isso, podem sex deixadas de lado; ateoria ‘oto paradigma em crise é substituido por outro capaz de resolver as anomalias ‘A tinica explicagdo para 0 que ira acontecer parece ser psicol6gica: se 0 cientista acredlita no paradigma, ele tenta resolver a anomalia sem alteré-lo, ima hipétese auxiliar. Se “perden a fé" no para- jutro paradigma capaz de resolver a anomalia. ions, Kuhn parece defender a tese de que impossivel justificar racionalmente nossa preferéneia por uma entre ‘varias teorias: éa tese da incomensurabilidade. ‘A incomensurabilidade decorre das muclangas radicais que ocorrem dut- ‘ante uma revolugio cientffica: mudanges no significado do conceito; de ver o mundo ou de interpretar os fenémepos e nos critérios para ‘os problemas relevantes, nas téenicas para resolvé-los e nos critérios para avaliar teorias. © |S (© METODO NAS CIENCIAS NATURAIS& SOCtAIS 29 Assim, como comparar teorias ou paradigmas, se os cientistas que aderem 1 paradigmas ou teorias diferentes tém vis6es diferentes clo mesmo fen6meno (oncie um vé 0 flogisto 0 outro vé oxiga colocando de forma ainda mais radical, se o mundo muda com o paradigma (antes da descoberta de Herschel havia uma estrela onde agora hé um planeta)? (Qutra questa, é que os problemas que exigiam solugses dentro de um pparacligma podem ser abandonados como obsoletos na viséo de outro paradig- ‘ma~o mesmo acontecendo com o tipo de solugdo escolhida. Conseqiientemen- te, durante uma revolugio cientifica ha, ganhos mas também ha perdas na ‘eapacicade de explicagio e previsio: & teoria nova explica alguns fatos que a teorla antiga no explica, mas esta continua a explicar fatos que a teoria nova no é capaz de explicar: Nesta situacio, tora-se problemstico afirmar que uma é 3 a outra, Esta tese & conhecida como "a perda de Kuhn” também devido a uma dificuldade de + ados de paradigmas diferentes. Nas revo- iicas ocorrem mudangas no significado de alguns conceitos funda- de modo que cacn cominidacle cientiica passa a usar concetos dife- rentes ~ mesmo que as palaveassejam as mesma. Isto quer dizer que, embora os conceitos do paradligma antigo contintem ‘adquirem um significado diferente: 0 conceito cle massa na {tracgo entre 05 co jana. O mesmo acontece com o conceito de planeta na teoria de Ptolomeu e na teoria de Copéznico. (Os enunciados (leis e hip6teses) teriam entao de ser traduzidos de um ma para outro, Mas, na auséncia de uma linguagem neutra (inde- - te de teorias ou paradligmas) a tradugio nao pode ser feita sem perda de Finalmente, como veremos dep bbém do fato de que cada cientista pod cxitérios para a avaliagho de toorias (poder preditivo, te) Ou entdo interpreté-os de forma diferente ~ sem que se possa dizer qual 0 peso ot interpretacio correta. Além disso, a propria ex 850s critérios ‘io pode ser justificaca objetivamente ~ por algum algoritmo I6gico ou mate- mético, por exemple Diante da dificuldade ~ ou mesmo da impossibilidade ~ de uma escolha entre teorias ou paradigmas, nfo é de estranhar que Kuhn dé a entender que a aceitacio do novo paradigma niose deva—ou, pelo menos, nfo se deva apenas, ~a recursos ldgicos ou a evidéncias experimentais, mas capacicade de persua- sio ow a “propagand sndem o novo paradigma, Nafalta de argumentos e citérios objetivos de avaliacio esta aceitagao ocorreria através de uma espécie de “conversio” de novos adeptos ~ ou entiio A medida ‘cada umdos lade, amplitude 30 [ALDA JUDITH ALVES-MAZZOTTI fe FERNANDO GEWANDSZNAJDER que aqueles que se recusam & aceitar 0 novo patsdigma fossem morrendo 9706 (097 cor posterior, port, (3970, 1977 1988) eno poficio 3 obra original (19700), ele passou a afirmar que nem todos os conceitos mudam de Sentido durante as muciangas de teorias ou paradigmas: hé apenas uma “inco- nensutabilidade local”, em qué mucianca de seitido afeta “apenas um peque- rho subgrupo de termos” (1983, pp. 670-671). ‘Neste caso, haveria uma incomunicabilidade apenas parcial entre os de- fensores de paradigmas diferentes e 0 potencial empirico de teorias “incomen- “ poderia ser comparado, uma vez que essas teories tim interseccoes empiticas que podem ser mutuamente incompativeis, Asim, embora o.concei- fo dle planeta fenha mudado na passagem da teoria de Ptolomet para a de Copéchigo, as previsdes de cada teoria sobre as posicdes planetéries podem ser felts com insteurnentos apropriados, que medem os Angulos entre os planetas as esttelas fixas. O resultado dessas mectidas pode se revelar incompativel ‘Com alguma dessas previsdes. Neste caso, a comparagio entre teorias pode ser felta porque algumas das previsbes empiricas nfo se valem dos conceitos incomensurveis. 3.5 A avaliagao das teorlas [As razbes fornecidas por Kulhn para escolher a melhor entre dus teorias rio diferem, segurido ele proprio, cns linhastradicionais da filosofia da ciéncia. Sem pretender dar uma linha completa, Kuhn seleciona “cinco caractristicas ‘dentifica[.]: exatiddo, conssténcia,alcance,simplicidade e fecundidade” (1977, p.32)). ‘pata Kuhn, significa que as previs6es deduzidas da teoria Riva e quantitativamente exatas, isto 6, as “conseqtiéncias da feoria devem estar em concordincia demonstrada com os resultados das expe- Himentagbes e observagies existentes” (1977, p. 32), "A exigencia de consisténcia significa que a teoria deve estar Lie de contradigbes internas e ser considerada compativel com outras teorias aceitas hho momento, ‘Quanto ao alcance, édlesejavel que ela fenha um amplo dominio de gées, isto €, que sues conseqtléncias estendamse “além das observa Subtecrias et . 321), Isso significa que uma teoria deve explicar fatos ou les diferentes aqueles para os quais oi construfda “Asimplicdade pode ser caracterizada como a capacidace que a teria tem dle unificar fenémenos que, aparentemente, nfo tinham relaglo entre si. Uma bos teoria deve ser capaz. le organizar fendmenos que, sem ela, permaneceriam isolados uns dos outro3> (0 METODO NAS CIENCIAS NATURAIS F SOCIAIS a1 A fecundidacle implica que a teoria deve “desvendar novos fendmenos ou relagbes anteriormente nko verificadas entre fendmenos jé conhecidos” (1977, 1p-322). Hla deve ser uma fonte de novas descobertas; deve ser capaz de orientar 4 pesquisa clentfica de forma produtiva! ‘Além dessas raz8es, Kuhn cita, ocasionalmente, 0 poder explanatério (outro conceito comumna filosofia tr |, plausibilidade ea capacidace da teoria de definire resolver 0 maior ntimero possivel de problemas fedricos e experimentas, especialmente do tipo quantitativo (1977) ~*" Aplausibilidade significa, para Kuhn, que as teorias devem ser “compat » veis com outras teorias disseminadas no momento” (1970b, . 185). ‘é Em relacio A capacidade de resolver problemas, Kuhn é mais explicit: além de resolver os problemas que deflagraram a crise com mais preciso que 6 paradigma anterior, “o novo paradigma deve garantir a preservagio de uma parte selativamente grande da eapacidace objetiva de resolver problemas con- uistacla pela cigneia com o audio dos paradigmas anteriores” (Kuhn, 19706, 169) ‘Além disso, Kun inclu também na capacitlade de resolver problemas, a hhubilidade de uma teoria de prover fendmenos que, da perspectiva da teoria antiga, sfo inesperacos (Kuhn, 1970b, 1977). “Kuhn reconhece que o poder explanat6rio, a plausibilidade e, principal- mente, a capacidade de resolver problemas, podem ser deduzidos dos valores aiteriores. Mas ndo tem a preocupagao de avaliar a coeréncia ou a redundancia esses critéios, uma ver que atribui um peso muito menor a eles do que os fil6sofos tradicionais. ara Kuhn, esses critérios nio so conclusivos, para forcar uma decisfo undnime por parte da como 6 nio sto suficientes lace cientfica, Por isso, tle prefere usar otermo “valores em vez de “crtérios”.Is0 acontece por vérios rmolivos. Em primeiro lugar, valores como a simplicidade, por exempio, podem Ser interpretados de formas diferentes, provocando uma discardancia entre {ual cas feorias 6 de fato mais simples. Além disso, um valor pode se opor a utr: tuma teoria pode ser superior em relagso a determinado valot, mas inferior em relagdo'a outro: “uma teoria pode ser mais simples ¢ outra mais precisa” (Kulu, 1970a,p, 258) Neste caso seria necessrioatibuir pesos relati- ‘Vos enda valor ~ mas esta atribuigto nso fez parte dos valores compartilhados pela comunidade, Na relidade, cada cietista pode atsbuir um peso diferente ‘cada valor. ‘Alem disso, emibora esses valores possam servir para persuadir a comuni- dade cietfica a acetar wm paradigms, eles néo serve para justificar a teoria~ no sentido de que ela serin mais verdacieira que outra. Para Kuhn, n8o hf Tigacio entre os valores ea verdade de uma teoria (ou de sus verossimilitude). Finalmente, Kufinnio vé como justficar estes valores, ni ser pelo fato die que esses sto of valores compartithados pela comunidade cientifica: “Que melhor eritéio podria exstir do que a desiaio de.um grupo de cientistas?” 32 |ALDA JUDITH ALVES: MAZZOTTI de FERNANDO GEWANDSZNATDER (2970, p. 170). A justificativa para a accitaglo desses eritrios passa a Ser portant, a opinido da comunicee centifca que rabalha como paradigms em esto. # ‘Kuhn sustenta que, do momento em que a escolha de teorias nao é com- pletamente leterminada pelos valores compartilhados da comunidede cientif- ee Ginplicidade, precisio ete.)-hem pode ser determinada (provada ou refuta- sha base empicica, outros fatores, que variam de individuo para uo influem nessa escolha: experiéncia profissional, convicgbes religio= “ifs, ceztos rages da personalidade (\imidez, espirito de aventura ote) (19708, 1970, 1977). Para Kuhn esta indeterminagio é util para o desenvolvimento da déncias como nenluuma teoria é comprovada ou refutada conclusivamente, Gqualguer decsio de escolha implica umm sco. Por iss, essante que Site centistas no abandonassem una teoria prematuramente. B impor qante que alguns escolham a feoria nova e outros mantenham a adesfo 3 teoria stig somente assim o potencal das das teorins poderé ser desenvotvido & exaustio, “Apartr dossasconclusBes, Kuhn ataa outa teseadmitca por postvistas rogicos¢ acionalistas eriticos —a de que hé uma diferenca entre o contexto da seccberta eo da justificativa de uma teoria, Para Kuhn, uma vez que fatores RSividuais« paicol6gicos ~ que poderiam participar apenas do contexto da escoberta pata 08 filésofos tradicionais ~ podem edevem participar da avalis- (Go de teorias, a diferenga entre os dois contextos se dissolve. ‘No eatanto, ao mesmo tempo que chama a atengfo para fatores subjetivos de avaliagio, Kuhn acha que na “cotversto” de toda uma comunidade aonovo paracigma 9s argumentos baseados na caprcidade da nova teoria de resolver Pfoblemas sto decsivos, Assim, anova teota somente seré aceita pela comuni- ead, se ela for capaz de resolver as anomaliassignificativas que levaram crise Gav forcapaz, também, de resolver uma grande parte dos problemas esolvides pla teoria antiga (19702). ‘A medida que os cientistas trabslham para corrigic e desenvolver a8 Jas empitiease argumentos tedricos em favor de progressivamente, a ponto deconvencer umatimero até que, eventaimente, toda a comunidade passa aradigma: 0 Novo consenso restabelece ento @ wworas,omimero de ev tia tora pode aumen cada ver mnor de ie S ncellar uma nia eo ‘oF volta de uma ciéncia nor 1, 1970b). NS enont Kalu arpumenta que, embora em alguns esos a resistencia & mud panto para ezaavel, no se “encontrar um ponto onde a resisténci rear e gna cigene] teres gia ou nto conte” (170b, p. 159) Paar pote cloca novamnteem questo a objetvidade dae se poe vance um cents por argumentos que sa resist sere ca, ent, pra que eaclher entre das ox mais teoras? Porque nfo | i (© MIETODO NAS CIENCIAS NATURAIS SOCtAIS 33 ficar com todas elas ~ possibilitanclo o desenvolvimento & exaustio de todos os paradigmas? 3.6 Conclusio Para Kuhn, o progresso em ciéncia consiste, principalmente, na maion. capacidade de resol sorias apresentam em relagio as antigas teorias i precisas e maior ntimero de“ pravisdes de dacios empiticos. Kuhn parece de objetivo de progresso, Ao mesmo tempo, porém, afirma que, durante uma mudanga de paradigma, hé perdas na capacidade de explicar certos fenémenos e na capaci- dade de reconhecer certas problemas como legitimos—além le um estreitamen- tomo campo da pesquisa (Kuhn, 1977). Mas, se hd percias e ganhos, como aferir ‘o progresso? O conceito de progresso pode ser avaliado de forma objetiva, se aceitarmos dda verdade. Mas Kuhn considera essa snclo no apenas aquele que defende 0, 3 clentificas, mas também uma visio, Faia inaceltivele desneceisia, aumento da verossimilitude das relist da cel. “Kuhn defence agua posgio ndo-ealista de que & sem sentido falar de ima ver que nfo fers acesso nessa realdede. Ee considera que esta supongio nto € necessria pare explcar sucesso da cléncia. * parson! ‘A posigio de Kuhn & instrumentalista: uma teoria é apenas precisas, nio tendo qualquer relagao de, Teorias nfo sio verdadeiras nem falsas, mas eficientes ou nfo eficientes. E dentro desta visio que Kuhn concebe 0 progresso cientifico. Restam ainda duas questies importantes: Kuhn apresenta boas razGes pasa avaliagio de torts? Ald que onto a ils de Kuhn podem ser Em sentido amp! iviemo € a tese de que a verdade ou a avaliagio de uma teorie, de uma hipétese ou de algo mais amplo (paradigm, sistema conceitual ow mesmo todo a canhecimento) é determinada por (ou é fungao de) _ dos seguintes fatores ou variAveis: petiodo hist6rico, interesse de classe, linguagem, rac2, sexo, nacionalidade, cultura, conviegbes pessoais, para- digma, pontos de vista~ enfim, por qualquer fator psicossocial, cultural ou pelo sistema de conceitos utilizacios. Para o relativismo, todos esses fatores seriam. ‘uma barreira intrans} #8 a abjetivicacle. No caso especifico da filosofia, dda ciéncia, a tese relativista afirma que nio ha critérios ou padsdes objetivos para avaliar as teorias, uma vez que esses critérios dependem de um ou mais, dos fatores acima, 34 [ALDA JUDITH ALVES: MAZZOTTE de FERNANDO GEWANDSZNATDER Se a tese for verdadeira, nés estamos, de certa maneita, aprisionados dentro de nosso sistema de concsitas (ou dentro cle paradigmas, classes sociais, Epocas histércas, inguagem etc) e,simplesmente, nfo ha um sistema superior objedvo ou neutro para avaliar nossas idéias. Neste caso, fica comprometida ‘nao apenas a possibilidade de avaliagio de teorias, mas também a propria idéia fe progresso do conhecimento'Gu da cineis final, que extéro texfamos para afirmar que uma teoria é melhor que oultra ou que hé progress0 ao longo de ‘uma seqiléncia de teorias? Emtbora Kuhn tenha rejeitado o rétulo de relativista, virios fil6sofos con- sideram que ele nao consegue apresentar boas raz0es p (Andersson, 1994 Bunge, 1985a, 1985b; Lakatos, 1970, 1978; Laudan, 1990; Popper, 1979; Shapere, 1984; Scheffler, 1967; Siegel, 1987; Thagard, 1992; Tou! ‘min, 1970; Thigg, 1980, entre muitos outro: ‘Como pode, por exemplo, haver progresso, do momento em que a capaci- dade de resolver problemas é avaliada de forma diferente pelos defensores do paradligma antigo e do nove (para os primeiros pode ter havido mais perclas do {gue ganhos, enquanto os itimos fazem a avaliagio inversa) eclo momento em. due fatores psicol6gicos esociais necessariamente infuenciam essa escolha ~ 0 que vem ser justamente a tese relativista? VAs teses de Kuhn, principalmente na interpretagéo mais radical estimula- ramum intenso debate. Os flésofos que acreditam que os critérios de avaliagto de teorias devem sero} ‘sto 6 devem ser independentes das crengas dos Cientistas ou das circunstincias sociais do momento, procuraram rebater stas feses relativistas, de forma a defender 0 uso de critérios objetivos para a avaliagio das teorias, como fizeram, os seguidares do racionalismo crtico (Andersson, 1994; Bartley, 1984; Milles, 1994; Musgrave, 1993; Radnitzky, 1976, 1987; Watkins, 1984) ‘Outro grupo patte para a posic%o oposta, levando as teses relativistas As \dltimas conseqiiéncias, como fizeram Paul Feyerabend (1978, 1988) ¢ a Escola de Edimburgo (Barnes, 1974; Bloor, 1976; Collins, 1982; Latous & Woolgas, 1986). ‘Finalmente, hé aqueles que, como Imre Lakatos e Larry Laudan, incorpo- ramem sua filosofia algumas idéias de Kuhn, procurando, no entanto, construit ‘ritérios abjetivos para a avaliacio de teorias (Lakatos, 1970, 1978; Laudan, 1977, 1981, 1984, 1990) 4. Lakatos, Feyerabend e a sociologia do conhecimento ‘Do mesmo moto que Kuhn, Imre Lakatos (1922-1974) acha que é sempre possvel eviter que-uma feoria sia refitada fazendorse mocificagbes nas hipo- feaes auniliares. A partir dai, Lakatos proctra reformulas a metodologia de Pogper de forma a preservar aidéia de objetvidade e racionalidade da ciéncie Ja boul Byerdbench(1924-1994) segue uma inka ainda mais radical do que a de (0 METODO NAS CIENCIAS NATURAIS SOCIAIS 35 Kuhn, ao afirmar que néo existem normas que garantam o progresso da ciéncia, ‘ot que a diferenciem de outras formas de conhecimento. Finalmente, a sociolo- gin do conhecimento procura demonstrar que a avalingao das teorias cientificas 6determinada por fatores sociais. 4.1 As idéias de Lakatos Para ilustrar a tese de que & sempre possive refutada fazendo modificagdes nas hipéteses au planeta hipotético que se desvia da érbita calculada pela teoria de Newton. De ‘um ponto de vista l6gico, isso seria uma falsficacao da teoria, Mas em vez de abandonar a teoria, o cientista pocle imaginar que um planeta desconhecido esteja causando o desvio. Mesmo que este planeta nfo seja encontrado, a teoria de Newton nfo precisa ser rejeitada. Podlemos supor, por exemplo, que 0 planeta é muito pequeno e nfo pode ser observado com os telesc6pios utiliza os. Mas vamos supor que o planeta niio seja observado com telesc6pios muito poterites, Podemos supor que uma nuvem de poeira césmica tenha impediido ‘sua observagio. E mesmo que sejam enviacos satélites e que estes nao consigam i lum campo magnético esse modo, sempre se jo a teoria da refutacdo, racias em anomalias, atribuidas a hipsteses auxiliares incorretas (Lakatos, 1970) Com exemplos como esse, Lakatos mostra também que, contra Poppers teorias cientfcassfo irefutaves: xm proibir qualquer estado abservavel de coisas” (Laketos, 1970, p. 100), ara Lakatos, a histéria da citncia demonstra a tese de que as so abandonaclas, mesmo quando cincosanos ae passaram entrea aceitacao do pe ‘sua aceitagdo como falseamento da teoria de Newton" (1970, p. 115). ‘Além disso, para Lakatos as teorias nao s80 modifcadas ao longo do tempo de forma completamente livre: certas leis e p: resistem por muito tempo 48 modificagées (como aconteceu com as leis de Newton, por exemplo). Por isso cle acha que deve haver regras com poder heuristco, que orientain as modificagdes e servem de guia para a pesquisa cientifica, Se for assim, « pesquisa cientifca poderia ser melhor explicade através de uma sucessio de teorias com sm comum: o cientista trabalha fazendo pequenas comesdes na teoriaesubstituindova por outrateoria ligeiramente mocdificadn. Esta sucess30 de teorias 6 chamada por Lakatos de * programa de pesquisa cientitic”. 36 [ALDA JUDITH ALVES-MAZZOTTT de FERNANDO GEWANDSZNAIDER parte quenfo muda em um programa de pesquisa échamada de “miileo, rigido do. programa” (Lakatos, 1970). O nscleo rigitlo é formado por um con- junto de leis consideradas ierefutiveis por uma deciséo metodol6gice, uma vonvensio compartilhada por todos os cientistas que trabalham no programa, \fiste decisto metodoldgica € necesséria devido ao problema de Duhem: a falsificagao atinge o sistema de Ripéteses como um todo, sem indicar qual delas deve set substtaida, Logo, € necessério estabelecer por convengéo que certas feis ndo podem ser mudadas em face de uma anomali. Bsta conven impede também que os pesquisadores fiquem confusos,“submersos em um oceano de anomalias” (Lakatos, 1970, p. 133). ‘No caso da meednica newtoniana,o niicleorigido é formado pelas tes Leis de Newton ¢ pela let da gravitagio’ universal; na genética de populagdes, Gnconiramos no nucleo a afirmagio de que a evolugio é uma alteracto na ffoquncia dos genes de uma poptilagao; na teoria do logsto a tese de que a corsbustio envolve sempre a liberagio de flogisto; na astronomia copernicana Gnieleo é formaclo pelas hipsteses de que a Terra € os planetas giramem torn Ge um Sol estacionario, com a Terra girando em torno de seu eixo no perfodlo de tum dia (Lakatos, 1970, 1978). ‘O ncleo rigido & formado, portanto, pelos principios fundamentais de ‘uma teoia, Fle que se mantém constant em todo o programa de pesquisa, & Jnedida que as teorias s40 modificadas e substitufdas por outras. Se houver Tnudangas no miceo, estaremos, automaticamente, diante de um novo progra- tna de pesquisa, Foi sso que ocorreu, por exemplo, na pessagem da astronomia Dlolomaica para a copernicana ou na mudarga da teoria do flogisto para a feoria da combustio pelo oxigénio. ara resolver as anomalis, isto é, as inadequagdes entre as previsbes da teoria eas observacdes ou experimentos,o pesquisadortenta sempre modificat tima hipétese aunciiar ou uma condicéo iniial, em lugar de promover altera- ges no nicleo, As hipéteses auxiliares ¢ as 5 iniciais formam 0 que Tankatos chama de “einto de protegio” (1970, p. 139), j4 que elas funcionam pprotegendo o nicleo contra refutagbes. Quando alguma anomalia era observa- Ep no sistema de Plolomeu, por exemplo, procurava-se construir um novo tpiciclo para explicar a anomalia, O mesmo teria ocorrido emrelagio & suposi- Gho da existencia de um novo planeta (Netuno), com o fim dle proteger 05, rincipios bésicos da teoria newtoniana “A regra metodolégica de manter istacto 0 nicleo rigido é chamada “heu- sfatica negativa” do programa. [a “heuritica positiva” constitui oconjunto de * sugestdes ou palpites sobre como [..] modificare sofisticar 0 cinto de protegio refutével” (1970, p. 135). Na heuristica positiva estariam, por exemplo, as técnicas matemétieas para a construgto clos epiciclos ptolomaicos, as técnicas die observagdo astrondmicas ea construcio dé modelos, cada vex mais compli- adios, que simula a realidade” (1970, p. 135) Todos esses recursos orientam a pesquisa cienifica, fomécendo sugestbes sobre como mudar as hipoteses auxi- (© METODO NAS CIENCIAS NATURASS & SOCIAIS 37 linzes, até que a observacko esteja em concordancia com 0 niicleo rigido do programa. ‘Para explicar as mudangas mais radicais, que ocorrem nas revolugbes cientificas, Lakatos prope critéios pars avaliar todo um programa de pesquisa, (Lakatos, 1970, 1978). Para ele, um programa pode ser progressivo ow degene- sativo. O programa de pesquisa ¢ progressivo, se: (1) usa sua heuristica positiva para mudar as hipéteses auxiliares de modo a gerar provistes novas e inespe- radas; (2) se pelo menos algumas destas previsbes sfo corroboradas. Se somente 1 primeira exigéncia for atendida, ele € teoricamente progressivo; se a segunda também for satisfeta, cle sera empiricamente progressive. ‘Um programa sera degenerativo se as modificagées das hipéteses auxilia- resstorealizndas apenas par xl endmenos|t confecids ou desoberon ppor outros programas de pesquisa. As modificacbes ficam sempre “a reboque” dos fatos, servindo apenas para preservar o nicleo rigido do programa, em vez de prever fatos novos. Neste caso, 0 programa degenerativo poderé ser aban- dnado por um programa progresivo (ona progres) gue etiver ipo vel __ Lakatos concorda aqui com Popper em dois pontos: © primeiro 6 que a

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