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METODOLOGIA DO

ENSINO DE
CIÊNCIAS

Adriana Fernandes
Gonçalves
M593 Metodologia do ensino de ciência [recurso
eletrônico] / Organizadora, Adriana Fernandes
Gonçalves. – Porto Alegre : SAGAH, 2016.

Editado como livro impresso em 2016.


ISBN 978-85-69726-29-6

1. Educação. 2. Metodologia de ensino - Ciências.


I. Gonçalves, Adriana Fernandes.
CDU 37.022

Catalogação na publicação: Poliana Sanchez de Araujo – CRB 10/2094


UNIDADE 2
A falta de motivação na
aprendizagem de ciências
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
„„ Identificar os problemas e as possíveis causas do desinteresse dos
alunos em aulas de ciências.
„„ Analisar a metodologia aplicada nas aulas de ciências.
„„ Construir ações de intervenção para solucionar o problema.

Introdução
Neste texto você estudará as possíveis causas do desinteresse
dos alunos nas aulas de ciências e desenvolverá algumas ações
interventivas para esse problema.

Os tipos de aprendizagem
Aprendizagem nada mais é do que uma mudança de comportamento de uma
pessoa a partir de um estímulo. Muitos pesquisadores tratam desse assunto, e
Moreira (1982) propõe três tipos de aprendizagem, baseado na teoria de Auzubel:

„„ Aprendizagem cognitiva: é aquela que resulta no armazenamento orga-


nizado de informações na mente da pessoa que aprende. E esse complexo
organizado é conhecido como estrutura cognitiva.
„„ Aprendizagem afetiva: é aquela que resulta de sinais internos ao indi-
víduo e pode ser identificada como experiências, como prazer e dor, sa-
tisfação ou descontentamento, alegria ou ansiedade. Algumas experiên-
cias afetivas sempre acompanham as experiências cognitivas, portanto, a
aprendizagem afetiva ocorre ao mesmo tempo da cognitiva. 
„„ Aprendizagem psicomotora: é aquela que envolve respostas musculares
adquiridas mediante treino e prática, mas alguma aprendizagem é geral-
mente importante na aquisição de habilidades psicomotoras, como apren-
der a tocar piano, jogar bola ou dançar.
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Os tipos de conteúdo
Os quatro suportes da educação são: aprender a ser, aprender a conhecer,
aprender a viver juntos e aprender a fazer. Mas você deve estar se pergun-
tando: ser o quê? Conhecer o quê? Viver junto com quem e para quê? Fazer o
quê? Para responder a esses questionamentos utilizamos os conteúdos concei-
tuais, procedimentais e atitudinais.
Conforme Zabala (1998), os conteúdos conceituais referem-se à constru-
ção ativa de capacidades intelectuais para operar símbolos, imagens, ideias e
representações que permitam organizar as realidades. Os conteúdos procedi-
mentais referem-se ao fazer com que os alunos construam instrumentos para
analisar, por si mesmos, os resultados que obtêm e os processos que colocam
em ação para atingir as metas que se propõem. Os conteúdos atitudinais re-
ferem-se à formação de atitudes e valores em relação à informação recebida,
tendo como objetivo a intervenção do aluno em sua realidade.
De acordo com Zabala (1998), podemos resumir os conteúdos da seguinte
maneira:

„„ Conteúdos conceituais: aprender a conhecer

Todos os conteúdos necessitam de uma base teórica, de denominados con-


ceitos. Os conceitos nos transportam pela vida, sejam esses científicos, inte-
lectuais, filosóficos, calculistas ou de outros parâmetros. Esses nos revelam a
verdadeira base da descoberta do saber, estimulando a curiosidade de apren-
der. Os conceitos passam a desenvolver a parte cognitiva da pessoa, fazendo
com que ela desenvolva o intelecto, o raciocínio, a dedução e a memória,
proporcionando a construção do conhecimento.

„„ Conteúdos procedimentais: aprender a fazer

Os conteúdos procedimentais resumem-se em colocar em prática o co-


nhecimento que adquirimos com os conteúdos conceituais. Seja em forma
de maquete utilizando-se de escala, reprodução de um ambiente visitado, ou
uma letra de música transformada em paródia. Toda produção ou reprodução
é determinada pelos conteúdos procedimentais. Como já foi dito, primeira-
mente se considera o conceito do assunto e depois o do fazer, e para fazer é
necessário que sejam praticados os procedimentos corretos para ter o resul-
tado esperado.
A falta de motivação na aprendizagem de ciências 47

„„ Conteúdos atitudinais: aprender a viver juntos, aprender a ser

Os conteúdos atitudinais são a vivência do ser com o mundo que o ro-


deia. O aprendizado de normas e valores torna-se alvo principal para que esse
conteúdo seja adquirido por quem quer que seja, e na sua proporção e qua-
lificação só é desenvolvido na prática e em seu uso contínuo. O indivíduo é
moldado de acordo com suas vivências, mas não é escravo delas, podendo
redimir-se ou simplesmente questionar-se.

Metodologia para o ensino de ciências


Em qualquer disciplina é fundamental o uso de novas estratégias de ensino
para motivar os alunos e facilitar o aprendizado. O professor deve ser criativo,
inovar no planejamento das aulas, deve colocar-se no lugar do aluno e perce-
ber qual a melhor estratégia para atingir o maior número de alunos possível.
É claro que cada um aprende de uma maneira, cada aluno tem seu ritmo e se
apropria de forma diferente do conhecimento.
A pesquisa bibliográfica é uma metodologia que liga a leitura ao enrique-
cimento científico. A partir de um determinado conteúdo, o professor ou o
grupo formado pelo professor e os alunos pode decidir quais temas deverão
ser pesquisados dentro do referido conteúdo. É válido utilizar diferentes am-
bientes dentro da escola, como a biblioteca, sala de estudos, sala de informá-
tica ou outro disponível. Ao final da pesquisa, sugira aos alunos a divulgação
das pesquisas através de cartazes, blog, site da escola, maquetes, etc.
O uso de imagens é fundamental no ensino de ciências. Ele enriquece o
processo de aprendizagem, explora sentidos, facilita a compreensão de sis-
temas e esquemas dentro dos conteúdos de ciências. Não há nada mais mo-
tivador do que a imagem de animais ou plantas exóticos, de sistemas dentro
do organismo humano ou animal, ecossistemas a serem descobertos, entre
outros. Estas imagens podem ser estáticas (fotos) ou em forma de vídeos (do-
cumentários ou filmes).
Em geral, no primeiro dia de aula de ciências do ano letivo os alunos ques-
tionam o professor: quando iremos ao laboratório? Mas nem sempre as aulas
práticas precisam acontecer dentro do laboratório. Até mesmo o pátio da esco-
la pode ser usado como local para observação de pássaros, vegetação, tipos de
solo, animais invertebrados. Dentro de sala de aula é possível realizar experi-
mentos simples, que não necessitem de equipamentos sofisticados, observar
folhas de plantas, flores, rochas, etc. Incluímos aí a realização de trabalhos
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em grupo, que facilita a socialização; o debate de temas polêmicos atuais,


deixando os alunos confiantes para argumentar, sempre com a supervisão do
professor; a produção textual, investindo na interdisciplinaridade e também
na análise de imagens e notícias de jornais e revistas; as saídas de campo (ou
saídas de estudo) planejadas para complementar os conteúdos abordados em
sala de aula, trilhas ecológicas, visita a museus, jardim botânico ou parques;
seminários apresentados pelos próprios alunos a partir de experimentos ou
pesquisas realizadas individualmente ou em grupos.

Fique atento

Alguns mitos pedagógicos no ensino de ciências:


„„ Todas as aulas devem ser experimentais: uma atividade prática não contempla todo
o conteúdo que deve ser abordado.
„„ Experiências só podem ser realizadas no laboratório: qualquer ambiente da escola
serve para a realização de uma experiência, desde que ela seja bem planejada pelo
professor. Nem sempre são necessários equipamentos sofisticados para realizá-las.
„„ Não é necessária a memorização de conteúdos: muitas vezes a memorização é ne-
cessária após a compreensão dos conteúdos. Não utilize somente uma lista de con-
ceitos, mas as terminologias utilizadas na disciplina não devem ser abandonadas.

Causas da falta de motivação


Muitos motivos podem causar a falta de motivação do aluno em relação à
disciplina de ciências. Até mesmo a falta de motivação do professor (por ques-
tões profissionais) pode influenciar na motivação dos alunos. Abaixo listamos
uma série de situações que podem acarretar na falta de motivação do aluno:

„„ Desmotivação do professor: um professor apático transfere esse senti-


mento aos alunos. É claro que ainda temos, no Brasil, diversos problemas
na área da educação, e um deles é a desvalorização do professor. Mas não
devemos permitir que isso influencie no trabalho pedagógico. Um profes-
sor motivado consegue transmitir os conteúdos com maior leveza, o que
facilita o aprendizado. A autoestima elevada estimula o aprendizado!
„„ Excesso de alunos em sala de aula: muito comum nas escolas, esse pro-
blema traz graves consequências, pois o professor não consegue atender a
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todos os alunos, que acabam se sentindo de lado, desamparados pelo pro-


fessor. Lembrando que nem todos aprendem da mesma maneira, é capaz
que o professor deixe aquele aluno com maior dificuldade sem resposta
aos seus questionamentos.
„„ Falta de conexão entre o conhecimento científico e conhecimento esco-
lar: estabelecer uma conexão entre o conhecimento científico e o conheci-
mento escolar é fundamental. O conhecimento escolar nada mais é do que
os conceitos científicos adaptados ao conteúdo, e nesse caso a realidade
do aluno e seu conhecimento prévio são fundamentais. O aluno precisa ver
um sentido naquele conteúdo que está sendo estudado. Alunos desmoti-
vados, que não veem sentido no conteúdo, costumam usar as afirmativas:
“não sei responder à atividade”, “não entendi o conteúdo”, “não sei fazer”,
“não vou conseguir”.
„„ Uso de metodologias inadequadas pelo professor: o uso de novas me-
todologias e novas tecnologias é fundamental para motivar os alunos. É
permitido errar, desde que o professor se autoavalie, perceba onde está
errando e modifique sua prática pedagógica. Muitas vezes a metodologia
usada em uma turma não funciona com outra ou então no mesmo nível em
escolas diferentes. É preciso se adequar e inovar. Ser criativo!
„„ Estrutura ruim da escola/sala de aula: ninguém gosta de frequentar um
local onde faltam lâmpadas, o reboco cai, a chuva pinga, os banheiros
são insalubres. Nem mesmo as crianças sentem-se a vontade em um local
assim. Infelizmente os baixos investimentos do poder público nas escolas
faz com que tenhamos estruturas precárias e desmotivadoras.
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Exercícios
1. Pozo e Crespo (2009), na obra A „„ Os cientistas são muito inteligen-
aprendizagem e o ensino de Ciências, tes, mas um pouco estranhos, e
fazem uma síntese de algumas vivem trancados em seus labo-
atitudes e crenças inadequadas ratórios.
mantidas pelos alunos, em „„ O conhecimento científico está
relação à matéria de ciências e sua na origem de todos os descobri-
aprendizagem. Entre elas: mentos tecnológicos e vai acabar
„„ Aprender ciências consiste em substituindo todas as outras
repetir da melhor maneira possí- formas do saber.
vel aquilo que o professor explica „„ O conhecimento científico sem-
durante a aula. pre traz consigo uma melhora na
„„ Para se aprender ciências é forma de vida das pessoas.
melhor não tentar encontrar suas Diante do exposto, marque a
próprias respostas, mas aceitar o alternativa que apresenta uma
que o professor e o livro didático interferência metodológica adequada
dizem, porque isso está baseado para mudar as concepções citadas.
no conhecimento científico. a) Apresentar o método científico
„„ O conhecimento científico é utilizado pelos cientistas.
muito útil para trabalhar no b) Apresentar várias pesquisas sobre
laboratório, para pesquisar e para o mesmo assunto.
inventar coisas novas, mas não c) Apresentar uma pesquisa
serve praticamente para nada na científica, suas vertentes,
vida cotidiana. reformulações, ligações com
„„ A matéria de ciências proporciona outras ciências, avanços e
um conhecimento verdadeiro e aplicabilidade dessa pesquisa
aceito por todos. na vida dos indivíduos e da
„„ Quando existem duas teorias sociedade.
sobre o mesmo fato, é porque d) Propor a repetição da pesquisa
uma delas é falsa. A ciência vai feita por um cientista para
acabar demostrando qual delas é comprovar sua tese.
a verdadeira. e) Explicar o que é conhecimento
„„ O conhecimento científico é científico.
sempre neutro e objetivo.
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2. Para se pensar sobre o ensino de afirmativas I, II, III e V.


ciências naturais, o conhecimento c) Estão corretas apenas as
científico é importante, mas devemos afirmativas I, II e IV.
considerar que não é suficiente d) Estão corretas apenas as
quando usado como objetivo único afirmativas II, III, IV.
do ensino. Marque a alternativa que e) Estão corretas apenas as
melhor justifica essa afirmação. afirmativas I, II e III.
a) O conhecimento científico precisa 4. O enfoque construtivista a respeito
estar alinhado às tendências do que é aprender e ensinar implica
atuais de ensino. transformar a mente de quem
b) É preciso apresentar o aprende, que deve reconstruir e
conhecimento científico tal qual dar significado aos processos de
ele foi elaborado. aquisição de conhecimento. “Essa
c) O conhecimento científico é ideia não é, evidentemente, nova,
fundamental, mas não deve ser o uma vez que, de fato, tem uma
único objetivo do professor. Esse longa história cultural e filosófica.”
deve se preocupar em desenvolver (POZO; CRESPO, 2009, p. 20). Devido
em seus alunos várias habilidades às mudanças ocorridas na forma de
importantes para se chegar ao produzir conhecimentos em nossa
conhecimento científico. sociedade, entre eles os científicos,
d) O professor precisa desenvolver em faz-se necessário estender essa forma
seus alunos a crítica aos métodos de aprender e ensinar para quase
utilizados pelo pesquisador. todas as áreas da nossa vida, inclusive
e) Só se chega ao conhecimento para o ensino das ciências.
científico se o aluno tiver pré- Depois das discussões e conforme
requisitos para isso. a bibliografia estudada, veja os
3. Baseando-se nas discussões elementos que fazem parte da
levantadas acerca das possíveis elaboração do conhecimento
causas da desmotivação de alunos científico e que são responsáveis para
nas aulas de ciências, analise as se chegar à compreensão científica:
afirmativas a seguir: I. A aprendizagem de conceitos.
I. Os alunos não estão motivados II. O desenvolvimento de
porque não aprendem. habilidades cognitivas e de
II. Não está havendo interação entre raciocínio científico.
os alunos. III. O desenvolvimento de
III. Os alunos são indisciplinados. habilidades experimentais e de
IV. A metodologia está inadequada. resolução de problemas.
V. Há um excesso de trabalho do IV. O desenvolvimento de atitudes e
professor. valores.
Agora, marque a alternativa V. ___
CORRETA: Marque a alternativa que completa
a) Estão corretas apenas as CORRETAMENTE a lacuna acima:
afirmativas I, II, III. a) Compreensão do que trata a
b) Estão corretas apenas as disciplina de ciências.
52 Metodologia do ensino de ciências

b) Conhecimento da biografia de Identifique quais são os tipos de


cientistas renomados. conteúdo que contemplam os
c) Levantamento de problemas. três tipos de aprendizagem que se
d) Construção de hipóteses e pretendem construir.
elaboração de novas hipóteses. a) Conteúdos conceituais,
e) Divulgação de resultados. procedimentais e atitudinais.
5. Para desencadear o processo de b) Conteúdos conceituais e
construção do conhecimento específicos.
científico e garantir a compreensão c) Conteúdos específicos e gerais.
científica, o professor precisa priorizar d) Conteúdos atitudinais, conceituais
conteúdos e estabelecer objetivos e gerais.
específicos para garantir o sucesso e) Conteúdos gerais e
no seu trabalho. procedimentais.

Referências

MOREIRA. M. A. Aprendizagem significativa: a teoria de David Ausubel. São Paulo:


Moraes, 1982.

POZO, J. I.; CRESPO, M. A. G. A aprendizagem e o ensino de Ciências: do conhecimento


cotidiano ao conhecimento científico. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2009.

ZABALA, A. A prática educativa: como ensinar. Porto Alegre: Artmed, 1998.

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