METODOLOGIA DO

ENSINO DE
CIÊNCIAS

Adriana Fernandes
Gonçalves
 M593 Metodologia do ensino de ciência [recurso
eletrônico] / Organizadora, Adriana Fernandes
Gonçalves. – Porto Alegre : SAGAH, 2016.

Editado como livro impresso em 2016.

ISBN 978-85-69726-29-6

1. Educação. 2. Metodologia de ensino - Ciências.

I. Gonçalves, Adriana Fernandes.
CDU 37.022

Catalogação na publicação: Poliana Sanchez de Araujo – CRB 10/2094

Questões organizacionais
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
„„ Reconhecer a importância dos agrupamentos no processo de
ensino-aprendizagem de ciências.
„„ Identificar vantagens e desvantagens das formas de organização
da sala de aula.
„„ Listar os aspectos relacionados à segurança e à saúde dos usuários
do laboratório de ciências.

Introdução
Neste texto, você vai aprender as diversas formas de agrupamentos
de alunos em sala de aula, bem como as vantagens e desvantagens
dessas formas. Você ainda vai compreender os cuidados que deve
tomar em relação à saúde e à segurança dos alunos.

Organização da sala de aula

Assim como a dinâmica do professor e sua motivação influenciam os alunos,
a maneira como a sala de aula está organizada também é um ponto a ser con-
siderado. Uma sala de aula iluminada, ventilada e acolhedora é fundamental
para o bom andamento das atividades. Você deixar uma parede livre para
exposição de cartazes e trabalhos dos alunos, que também servirá de moti-
vação para que eles tragam para sala de aula informações que gostariam de
socializar com os colegas (p. ex., reportagens de jornais ou revistas). Junto
com os demais professores, você pode colocar um cronograma com as datas
de entrega de trabalhos e provas.

Fique atento

É importante que todos os alunos estejam dispostos de forma a conseguirem se lo-

comover entre as mesas e também ter uma boa visão do professor e da lousa. Muitas
vezes, a falta de concentração ou desinteresse estão relacionados a uma má distribui-
ção dos alunos.
 Questões organizacionais 61

Durante muito tempo os alunos sentaram-se em filas, exatamente um atrás

do outro. Hoje, você sabe que nem sempre esse modelo de organização da sala
de aula é o ideal para a realização de algumas atividades, como as atividades
em grupos. Quando você organiza seus alunos de forma adequada, eles são
capazes de trocar ideias, argumentar, trocar informações, construir conhe-
cimentos. A troca de informações entre os alunos é tanto ou mais benéfica
para o aprendizado quanto a realizada com o professor. O ideal é que você
organize os grupos (pois muitos têm afinidades que podem influenciar de
maneira negativa no trabalho, mudando o foco da atividade) de acordo com as
habilidades de cada aluno, promovendo uma troca de informações a partir de
pontos de vista diferentes. O agrupamento dos alunos depende dos objetivos
que você deseja atingir.
Conforme Loiola (2009), em seu artigo As trocas que fazem a turma avançar,

Divididos de forma adequada e sob supervisão, os jovens são confron-

tados com diferentes pontos de vista, criam e testam hipóteses, refazem
raciocínios e estabelecem correlações. E assim aprendem mais. Nesse per-
curso, o fundamental é descobrir o que cada um já sabe para alcançar os
objetivos.

A autora segue em seu artigo, comentando sobre o agrupamento dos alunos:

Trabalho individual
„„ Quando a atividade requer mais tempo para ser realizada.
„„ Se você quer que o aluno evolua em uma capacidade fazendo uma ativida-
de mais direcionada ao seu grau de aprendizagem específico.
„„ Quando a atividade serve apenas para avaliar o grau de aprendizagem
daquele aluno.

Trabalho em dupla
„„ Se é necessário aliar dois conhecimentos distintos para uma atividade,
pode-se juntar alunos que possuam cada um deles. 
„„ Você pode explorar as variações de níveis de aprendizagem para que os
alunos evoluam juntos.
62 Metodologia do ensino de ciências

„„ Quando as questões de gênero ou sociais geram atritos, o trabalho em dupla

ajuda alunos diferentes a se relacionarem para chegar a uma resposta comum.

Trabalho em trio
„„ Estimula o aluno a ter firmeza para eventualmente insistir em seu ponto
de vista, contra-argumentando com os colegas.
„„ Um estudante fraco se aproxima de outro que sabe mais com a ajuda de
um intermediário. 
„„ Na Educação Infantil, atividades com crianças de várias idades ganham
com essa diferença de maturidade.

Trabalho em grupo (quatro alunos ou mais)

„„ Quando a temática é abrangente, o trabalho vale para que os alunos apren-
dam de forma mais complexa a dividir tarefas. 
„„ Pode-se exigir mais da capacidade argumentativa, já que você consegue
montar grupos com alunos que tenham raciocínios bem diferentes. 
„„ Temas complexos e polêmicos se desenvolvem melhor quando o debate é
ampliado.

Ward et al. (2010, p. 176) diz que

A maioria dos alunos lembra mais e faz um número maior de conexões

quando discute ideias e debate questões. Quando as ideias e as visões
dentro do grupo diferem, há mais discussão e, como resultado, existem
mais oportunidades para aprendizagem. As escolhas de equipamen-
tos também terão um impacto sobre o agrupamento – por exemplo,
microscópios digitais possibilitam o compartilhamento da experiência e
um debate animado, enquanto os microscópios manuais somente po-
dem ser operados por uma pessoa de cada vez.”. E sobre a disposição dos
alunos em aula, “O trabalho individual é adequado para criar mapas
mentais, mapas conceituais livres ou para o desenvolvimento de certas
habilidades básicas. [...] O trabalho em duplas é necessário para ativida-
des que exijam mais de um par de mãos. Fazer circuitos, dissolver açúcar
ou testar paraquedas são atividades difíceis de fazer sozinho. [...] quando
os equipamentos e os recursos são limitados ou quando se planeja uma
 Questões organizacionais 63

investigação completa, grupos de três são mais adequados. O trabalho

em trios é muito bom para investigações completas, por causa das opor-
tunidades que proporciona para os alunos assumirem papéis diferentes.
[...] Os grupos com mais de quatro crianças raramente funcionam, a
menos que o foco seja em dramatização ou em discussão, [...] Um grupo
maior, de cinco ou seis alunos com níveis variados de capacidade, pode
funcionar com atividades de debate, quando se proporciona uma varie-
dade maior de ideias. O problema com os grupos maiores é a dominação
de um único aluno, com os outros se retraindo e assistindo, pois sobra
pouco para fazerem.

Em qualquer uma das situações, você é quem deve planejar e organizar

seus alunos, permitindo uma melhor interação entre eles. Ao colocar dois alu-
nos com maior domínio do conteúdo em um mesmo grupo pode haver confli-
to de dominância. Ao colocar apenas um aluno com menor conhecimento do
conteúdo ele pode se sentir desmotivado e deixado de lado, apenas observan-
do a realização das tarefas.

Fique atento

As atividades com maior troca de saberes entre os alunos e com menor interferência
pelo professor são as que trazem maior ganho com relação à aquisição do conteúdo.

Laboratório de ciências – segurança e saúde

Nem todas as escolas possuem um laboratório de ciências. Quando não há um
laboratório você pode adaptar alguns tipos de experimentos para conseguir
exemplificar os conteúdos. Eles podem ser realizados no pátio da escola, em
um saguão ou outro ambiente disponível. Quando há um laboratório são ne-
cessários alguns cuidados com materiais para que todos possam usufruir desse
local. O ideal é que você faça uma pasta ou um caderno contendo uma lista
com todos os materiais presentes na sala e o local onde podem ser encontrados
(p. ex., Placas de Petri – 10 unidades – balcão amarelo). Você pode organizar
materiais pequenos, como vidrarias, pilhas, pinças, em caixas plásticas rotula-
das e colocadas em um armário ou prateleiras. Os rótulos precisam ser claros e
64 Metodologia do ensino de ciências

identificar os tipos de material que contém na embalagem. Você pode organizar

equipamentos maiores, como microscópios, lentes de aumento, bicos de Bun-
sen, peças anatômicas, em bancadas ou dentro de armários de fácil acesso. Já
os reagentes, produtos químicos utilizados em experimentos, devem ficar em
local seguro, como em um armário com chave para evitar acidentes. Você não
precisar comprar materiais ou equipamentos que não são usados com frequên-
cia e com custo elevado, pois eles podem ser emprestados de outras instituições,
evitando o desperdício de verbas e o desgaste devido ao pouco uso.
Oriente os alunos antes da utilização do laboratório de ciências, com dicas
de segurança, visando o conforto de todos e evitando acidentes. Vidrarias de-
vem ser manipuladas com orientação e cuidado, pois podem causar ferimen-
tos, se quebradas. Dentro do ambiente escolar, a limpeza de vidro quebrado
não deve ser feita pelos alunos, mas por você ou pelo profissional da limpeza,
se houver. Mesmo o uso de pilhas comuns, muito usadas em experimentos
de física, deve ser orientado por você, pois podem causar choques elétricos
se usados de forma indevida. Por exemplo, água quente e experimentos que
utilizem fogo devem ser manipulados apenas por você.

Fique atento

Você pode fazer uma seleção de monitores (auxiliares) dentro das turmas mais avança-
das (8º ou 9º anos do ensino fundamental ou alunos do ensino médio) para que auxi-
liem nas aulas práticas em laboratório. A presença de um aluno comprometido com o
conteúdo e a segurança dos demais alunos faz com que os demais sintam-se parte do
ambiente, esperando a sua vez de ser o monitor.

Conforme Ward et al. (2010, p. 194),

O objetivo não é preocupar os alunos, fazendo-os pensar que viver é algo

totalmente inseguro, mas até mesmo cortar papel com a tesoura tem al-
gum risco associado, se perdermos a concentração, ou se o fizermos cor-
rendo no pátio. Isso possibilita que os alunos entendam que têm um grau
de controle e que podem tomar decisões que influenciam as coisas que
acontecem em suas vidas.

Exercícios
1. “Embora seja prática comum em
modelos conteudísticos usar repetição
e folhas de exercícios, os alunos têm
mais oportunidade para aprender
sobre a ciência quando trabalham em
atividades interessantes em pares ou
em grupos cooperativos.” (WARD et
al., 2010, p. 176).
Levando em conta a importância
do trabalho em grupo, relacione as
colunas:
I. Agrupamento de quatro alunos
II. Trabalho individual
III. Trabalho em duplas
IV. Trabalho em trios
V. Agrupamentos de seis alunos
( ) O trabalho com níveis variados
de capacidade permite que um
aluno com menor conhecimento
se concentre na atividade, em
vez de tomar notas ou de ler
instruções.
( ) Adequado para criar mapas
mentais, mapas conceituais livres
ou para desenvolvimento de
certas habilidades básicas.
( ) Deve-se ter cuidado, pois podem
se formar duplas ou um grupo de
três, com uma criança solitária.
( ) Funciona em atividades de debate
ou dramatização. Apresenta
um número limitado de papéis
possíveis. Pode haver dominação de
um aluno, com outros se retraindo.
( ) Muito bom para investigações
completas, por causa das
oportunidades que proporciona
para os alunos assumirem papéis
diferentes.
Questões organizacionais 65
Assinale a alternativa que apresenta a
sequência CORRETA:
a) III, II, I, V, IV.
b) II, III, I, V, IV.
c) III, I, II, IV, V.
d) II, V, I, III, IV.
e) II, III, V, I, IV.
2. Segundo Ward et al. (2010), embora
o número de alunos no grupo seja
importante, a composição ou os
termos do gênero e da capacidade
também devem ser pensados.
As afirmativas abaixo têm relação
com a citação acima, mas uma está
INCORRETA. Assinale-a:
a) Muitas vezes, os grupos de amigos
têm capacidades variadas e
proporcionam apoio, em alguns
casos, e ajudam a concentração nas
tarefas.
b) Para o trabalho investigativo,
grupos com capacidades variadas,
divididos pelo gênero, ajudam
todos os alunos. Quando alunos
de dois gêneros com o mesmo
nível de capacidade são reunidos,
os resultados para os alunos e
professores não são efetivos.
c) A formação de grupos é uma habi-
lidade do professor, que pode ter
que alterar os grupos até encontrar
grupos que trabalhem bem.
d) Os mais capazes, colocados
juntos, brigam e não conseguem
decidir o foco a seguir, enquanto
os menos capazes apresentam
padrões claros de “desamparo
aprendido”.
e) “Em grupos de gênero misto,
os garotos coletam todo
66 Metodologia do ensino de ciências
o equipamento, mas não
conseguem/querem fazer o
trabalho com as garotas, que se
tornam as secretárias.” (WARD et
al., 2010, p. 178).
3. Segundo Ward et al. (2010), existem
muitos tipos de organizações
possíveis para o ensino de
ciências, e todos têm vantagens e
desvantagens. A escolha da forma
de organização deve se adequar
primeiramente às necessidades
de aprendizagens dos alunos, mas
pode ser selecionada por limitações
práticas, reais ou percebidas.
Analise as afirmativas e classifique-as
como verdadeiras ou falsas.
( ) I. Um aspecto aborrecidamente
comum é o professor fazer
demonstrações com o apoio de
poucos alunos, escolhidos por ele.
As desvantagens desse método
superam em muito quaisquer
vantagens, pois as demonstrações
às oportunidades são limitadas,
além de ser difícil avaliar o
desempenho dos alunos.
( ) II. “Hoje em dia, com o
desenvolvimento da tecnologia
da informática, os programas
de aprendizagem individual são
viáveis. Esses programas permitem
que os alunos trabalhem através
dos níveis e experimentem
atividades ‘virtuais’ de Ciências, e
alguns sistemas também permitem
armazenar as avaliações.” (WARD et
al., 2010, p. 184).
( ) III. A aprendizagem virtual
oferece oportunidades ilimitadas
para compartilhar ideias e para
manipular recursos.
( ) IV. A abordagem do ensino
no uso das tecnologias não
desenvolve habilidades básicas
de ciências. Todos os alunos
aprendem efetivamente usando
sua aprendizagem associada
a atividades geradas no
computador.
Assinale a alternativa que apresenta a
sequência CORRETA:
a) F, V, V, F.
b) V, V, F, F.
c) F, F, V, F.
d) V, F, F, V.
e) V, V, V, F.
4. “O uso de uma variedade de
abordagens organizacionais no
ensino de ciências é a maneira mais
efetiva de manter o interesse e de
promover a aprendizagem.” (WARD,
2010, p. 184).
A respeito da citação acima, pode-se
sugerir:
I. Começar algumas aulas com um
formato com toda turma, em
que as ideias dos alunos sejam
evocadas, anotadas. A partir disso,
seguir com práticas em grupos,
voltadas para levantar, coletar
evidências. Após isso, seguir com
discussão, testagens de hipóteses
e avaliação.
II. Mudar o estilo e o formato da aula
com pequenas aberturas, práticas
e avaliações deixa os alunos
inseguros.
III. Independentemente do método
de organização escolhido, o
bom ensino de ciências deve
ter oportunidades para discutir
resultados e as conclusões tiradas.
IV. “O uso de uma mistura de dança,
teatro, gravações ou dramatizações
de telejornais juntamente com
os métodos mais tradicionais
proporciona que o trabalho
 Questões organizacionais 67

com o grande grupo seja mais seguintes características [:..]” (WARD,

significativo e prazeroso para os
alunos.” (WARD et al., 2010, p. 186).
Assinale a alternativa CORRETA:
a) Estão corretas as opções I, II, III.
b) Estão corretas as opções I, III, IV.
c) Estão corretas as opções I, II, IV.
d) Estão corretas as opções II, III, IV.
e) Estão corretas apenas as opções
I e III.
5. “A administração dos recursos difere
de escola para escola. As decisões
tomadas dependem do orçamento,
do número de classes e do status da
ciência como disciplina na escola.
Embora não haja um modo único
de organizar os recursos de ciências,
parece haver certas maneiras que
são mais eficientes. Os sistemas
bem-sucedidos geralmente têm as
2010, p. 187).
Abaixo estão descritas as
características. Encontre a que NÃO
se adequa ao fragmento acima:
a) Há uma lista de recursos
atualizados, incluindo fotografias e
o número de cada item.
b) Existe um sistema claro de
armazenamento, com algum tipo
de codificação.
c) Existe um método para comunicar
a falta de recursos entre a equipe.
d) O armazenamento é organizado
tanto centralmente quanto na sala
de aula.
e) Obter emprestados alguns
equipamentos que sejam usados
apenas uma ou duas vezes por ano.

Referências

LOIOLA, R. As trocas que fazem a turma avançar. Revista Nova Escola, ed especial sobre
planejamento, jan. 2009. Disponível em: <http://novaescola.org.br/formacao/trabalho-
-grupo-427856.shtml>. Acesso em: 09 jun. 2016.

WARD, H. et al. Ensino de ciências. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2010.