You are on page 1of 36
© desea egg, Boiempo, 2016 (© Stephen Gram e Veo (the imprint of New Left Book), 2011 “Tiel original ier Under Siege The New Mlitery Urbain inp editral van kings iyo ola Meat Condens de produao. Livia Campos ‘Acti elite Tie Baa Thudagto Alype Azuma Prarie Andet Albert Reino Cae Alter Cape Ronde Ales ‘Sie ft de San Led Py Saga ae - Urn ‘Shed Pla de Sngppers Des Uo, 2014 Dingnmepte Azonic Keb pipe opin ‘Allan Jones, Ava Yuri Kaji, Artur Reno, Bibiana Leme, Eduado Marques, line Ramos, Gil Porto, va Olivera, Kim Dol, Leonardo Fabs, Maslene Bp, ‘Maile Burbou, Renato Sous, Tals Banos, Tullo Candioa CCIP-BRASIL. CATALOGAGAO NA PUBLICAGAO SINDICATO NACIONAL. DOS EDITORES DE LIVROS, 8) G7 Gating (Cee hr ct eta iif Sees ans eh [Alyne Aasma~ ed S50 Pula: Bote, 2016 (Gs de So) Tradugo de: Cites unde sege the new aiary urbanism Incl indice gylios ISBN 978-45.7559-499-5, 1, Utbanismo, 2. Geog Til, I Sti 16.3595 cpp.7114 eu:7i4 edd a produ de qualquer pare deste livosem express autora d itor igo: goto de 206 BOITEMPO EDITORIAL ‘Thing Enesco Ld, Rea Pereira Let, 373. (05442000 Sie Paulo SP Teka: (1) 3875-7250 1 3875-7285 ctoraboitmpocitorial com br srorboiepostil tn bs | wir blegabosiemnpo comb srrrccbonccinl temp | wees roel edicts sreostube cial baienpo SUMARIO Apresentacio ~ Cidades e militarizagio, de “Norte” a “Si ‘Marcelo Lopes de Souza Agradecimentos Incroducio — “Alvo intercepeado. A guerra volta & cidade .. ‘Mundos maniquefstas novo urbanismo militar... Frontciras onipresentes Sonhos de um robé da guerra Argquipélago de parque temitico.. Ligdes de urbicidio.. Desligando cidades Guerras de carro 1. Contrageografas.. Fonte das imagens Indice remissivo.... Sobre o autor. Introdugao “ALVO INTERCEPTADO....” Hii 14 ce novembre de 2007, Jacqui Smith, entéo ministrado Interiordo Ji) Unido, anunciow uma das maisambiciosas tencativasjé empreendidas Wi) sto cle astrear evigiarsistemacicamente todas as pessoas que Wasp & sasem do teritério por ele controlado. O altamente contro- | jHotnma e-Borders procura fazer uso de sofisticados algoritmos de ior « encas de mineragdo de dados para idenifcar ind J ylides “ilegais” ou hosts antes que ameasassem as fronteiras do ver- Hi lo Reino Unido. O programa utiliza uma tecnologia desenvolvida 4 (oijOrvio Trusted Borders, liderado pela gigantesca corporagéo de bas Haythcon, () projet" e-Borders se baseia em-um sonho de onisciéncia tecno- Wier’ tustrear codos os que passem pelas frontciras do Reino Unido, Wile ieyisios de atividades-passadas e associagbes pata identificar Wg fiturasantes que se materializem. Smith promereu que, quando 4 finalmenteestivesz¢fimcionando, em 2014 ~ ainda que muitos ‘shiner que & impraticével -, 0 controle ea seguranga nas fronteras do Helin Unis seriam restabelecidos, em um mundo radi re mével € pe yin! “Tados os viajantes Que forem para a Inglavera passardo pela Tijajorn ce lists de pessoas barradas clistas de alvos a interceptar”, ela Wei. "Junto com vistos biométricos, isso vai ajudar a mancer os peo= bliin longe da nossa costa... Além da checagem dupla mais rigorosa na Inéro do Inetior do Reino Unido gatou pelo menos £ 890 millbes entre 10) © 2015. Mas as projetos foram um fracasso porque os sonhos de controle 1 eacesivamente ambiciosos ede fao,impraticives no contexto das W to complexase to tens ~ me Cidade siiadas fronteira, careiras de identidade para estrangeiros que vivem no pais logo fornecerio uma checagem tripla”, “vistos biomé- ‘A linguagem de Smith ~ “lista de alvos’, “filtragem tsicos” & assim por diante ~ € muito reveladora. A"gigantesca proliferagéo global de projetos de vigilincia governamental atamente tecnéfilos como © programa e-Borders € um sinal da impressionante milicatizagio da sociedade civil ~ a extensio das ideias militares de rastreamento, identi- ficagao ¢ selecao nos espagos & meios de-cireulacio da vida cotidiana, De fato, projetos como esse si mais do que Feagbes do Estado a ameagas & seguranga que esto em mutagio. Em um mundo marcado pela globaliza- «fo e pela crescente-urbanizagéo, eles representam tentativas dristicas de traduzir antigos sonhos militares de onisciénciae racionalidade altamente recnofégicas para o controle da sociedade civil urbana. Estando atualmente a seguranga ¢ a doutrina militar nos Estados ocidentais centradas na tarefa de entificar insurgentes, terroristas¢ uma vasta gama de ameacas ambientais no eaos da vida urbana, esse fato se toma ainda mais claro, Alm do mais, seja nas filas do aeroporto Hea- throw, nas estagées do metrd de Londres ou nas ruas de Cabul e Bagdé, adoutrina da vez enfatiza que 6 preciso encontrar maneiras de identficar cals pessa dado que elas hoje sio efetivamente impossiveis de distinguir em meio & populacao-trbana mais ampla. Portanto, hé um esforco nas cidades, tanto no coragko capitalista do Norte global quanto na periferia e nas frontciras coloniais do mundo, para estabelecer sistemas de monitora~ «¢ ameagas antes que seu. potencial letal seja concretizado, mento de alta tecnologia que vasculhem dados acumulados do passad™ para idencificar ameacas futuras. Nicole Kobe, “£650 million e borders contract to Raytheon group", JT Pro, 4 nox 2007. Dsponivel em: . Acesso em: 21 maio 2016, Em uma curios ron, out forma de vigilincia — um registro de farura de material pay-per-view ~ quate Forg Smich a renunciar 0 fin de margo de 2009, quando se descobriu que ela entou decara a despesas do hibito do marido de asistir a conteides pornogrSficos como um gasto parlamenta. No mesmo més, um excindalo posterior de membros do Paslamento busando desses gastos a colocou, erambbém a muitos de seus clegas, sob presi, ‘Sits acabou renunciando em janho de 2008, Introdugio ~“Alvo inereepead Os filhos deles contra 0 nosso silicio Na maiz dessas vsBes de guerra e seguranga no mundo pés-Guerra Fria ‘utio fantasias em que o Ocidente faz uso de seu incontestével poder tec- \voligico para estabelecer sua declinante supremacia militar, econdmica e Jpolltica, “Em nosso rerritério e ld fora’ escreveram os estudiosos de segu- {nga estado-unidenses Mark Mills e Peter Huber na publicagio de direita City Journal, um ano depois dos ataques de 11 de Setembro, “vio acabar endo os filhos deles contra o nosso silicio. Noss silicio vai ganhar™. Huber e Mills preveem um Futuro préximo saido diretamente do filme Minority Report— A nova lei. Para eles, toda uma sétie de sistemas de vigi Vincia erastreamento emerge na esteira de modos de consumo, comunic: > transporte de alta tecnologia para permear todos os aspectos da vida tus cidades ocidentais. Comparando constantemente o comportamento vival dos individuos com vastos bancos de dados que registram eventos «© asociagées passados, esses sistemas de rastreamento — de acordo com 0 vjyumento ~ vio sinalizar auromaticamente quando 0s corpos, espagos € sistemas de infraestrucura das cidades estiverem prestes a softer um araque \cirorista, Assim, © que Huber e Mills chamam de “alvos confidveis” ou ‘cooperativos”sio constancemente separados dos “no cooperativos” eseus «sforgos de usa sistemas postais, elétticos, de internet, financeitos, éreos ¢ dle transporte como meios de projetar resisténcia e violencia. Alissa visio ule Huber e Mills pede que sistemas de seguranca ¢ vigilancia em estilo ueroportudrio passem a abranger cidades € sociedades inteiras utilizando, «em sua base, 05 meias de consumo ¢ mobilidade de alta tecnologia que jé cstio estabelecidos nas cidades ocidentas Quanto sfronteiras coloniaisresistentes, os autores, como muitos tebricos nilcarese de seguranga éstado-unidenses, onham com um aparato de guerra contrainsurgente continuo;-auromatizado-e-robotizado, Usando sistemas semelhantes quele® empregados was cidades norte-amiericanas, mas desta vex.com 0 poder Soberano para matar com autonomia; eles imaginam que as Lwopas cstado-unidenses podem scr poupadas do trabalho sujo de lueare matar tcitigas em riprrurbaniagio- Eames de pequenos ados com sensors avangados ¢ em comunicagio uns cm solo nas zo hones amas, Mark Mills e Peer Huber, “How Technology Will Defeat Tetons’, Gi Journal, Nowa Yor 12. 1, 2002, +25 26 + Cidades sivas com 0s outros, serdo entéo empregados para vagar permanentemente sobre as ras, os desertos eas estrada. Huber ¢ Mills sonham com um faaro em aque esses enxames de guerreiros robotizados vio trabalhar sem descanso para “mitt poder de destruigio com precisi, critério ea patie de uma diseincia segura — semana apés semana, ano apés ano, enquanto for necessitio™: Essas fantasias de onipoténcia high-tech sio muito mais do que ficg0 cientifca, Além de desenvolver 0 programa e-Borders no Reino Unido, « Raytheon também é, por exemplo, lider na producio tanto de misseis de ‘ruzeito quanto de drones nao tripulados usados com regularidade pela CTA ‘para realizar incurs6es asassinas pelo Oriente Médio & pelo Paquistéo desde 2002, A Raytheon também esta no centro de uma série de projetosmilitates estado-unidenses bastante reais, nos quais softwares sio desenvolvides para programar armas robotizadas a mirar e mata inimigos de modo ausénomo, semi nenhum envolvimento huimano, Gomo Huber € Mills anceviram. O novo urbanismo militar A cransigao entre 0 uso militar ¢ civil de tecnologia avangada — entre a vigilincia eo controle da vida cotiiana nas cidades ocidentais eas agressivas sguciras de colonizagao e de recursos ~esté no cerme de um conjunto muito ‘mais amplo de tendéncias que caracterizao novo urbanismo milita. Claro, 0s efeitos observadas no cenério ocidental urbano sio muito diferentes daquiles vistos em zonas de guerra: Mas, fundamentalmente, seja qual for o ambiente, eSeratos-de-sioléncia de alta tcenologia tém por base um ‘mesmo conjunto de ideias: ‘A mudang-paradiginstica que torna os espacos comune privados das cidades, bem como sua infraestrutura = € suas populagées-civis ~, fonte de alvos e ameagas é fundamental para 0 ovo Urbanismo militar Isso se manifesta no uso da guerra como.metéfors-dominante para descrever a condicéo constante c irrestrita das sociedades-urbanas ~ em guerra contra as drogas, 0 crime, o terfor, contra a prépria inseguranca. Esse advento incorporwa militarizagio sub-tepticia de uma ampla gama de debates de politica interna, paisagens urbanase circuitos de infraestrurura urbana, além de universos inteiros de cultura popular e urbana. Leva & dfusio furtiva e Intradugio ~ “Alo itereeptado Invlliosa de debaces militarizados sobre “seguranga’ em todos os aspectos dh vida, Juntos, mais uma ver, eles lutam para trazer ideias essencialmente tnillares de guerra, e de sua preparacio, para 0 centro da vida citadina comum ¢ cotidiana, ‘ rnilcarizacéo insidiosa da vida nas cidades ocorre em uma época em jue bumanidade se rornou uma espécie predominantemente urbana pela Jvinieiea vez em seus 150 mil anos de historia. Ela gana forga a partir dos ‘iltiplos circuitos-de-miliearizagio-e-secusitizagio.que, até o momento, ho foram consderados em conjunto nem vicos como um todo, Fa esa Larefa que este livo se dedica ‘A guisa de intcoducio, e para oferecer uma amostra do impressionante leque de cieuicos politicos, sociais culuurais que atualmente esto endo ‘olonizados pelo novo urbanismo militar, vale a pena apresentar suas cinco ‘oractristicas principals Urbanizagao da seguranga Assim como as previsbes de Huber e Mills para 6 furuto, 0 novo ut- \nnisto militas em toda a sua complexidade e o seu alcance, se apoia em una ita central: técnicas miliarizadas de rastreamenco etriagem precisam colonizar permanentementea paisagem urbana e 0s espagos da vida cotidiana ‘unto na “patria”* quanto nas cidades do Ocidente, bem como nas fronteiras hpeseolorlals co mundo, Poracs mais echoes gurus reltancse de segicanca, \svo € considerado crucial, a nica maneira adequada de lidar com as novas realidades daquilo que chamam de guerra “assimeétria” ou “irregular” Essas guerra colocam terrorists ou insirgenTertnrernacTonais contra a « gutanga dealta tecnologia, as forgas militares ede inteligencia de Estados- nnagio e seus Teques cada vez maiores de aliados privados e corporativos. Sem Fardas, de modo geral indistinguiveis da populagio urbana, guerreiros ‘no catatais, milicianos, insurgentese terrorstasespreitam, invisiveis, gracas 10 anonimato oferecido peas cidades em desenvolvimento do mundo (em [Nooriginal homeland, que pode se tantoa terra naa de alguém quanto 0 testério 1 rea destimada ao povo de detcminada nagio, cultura, raga ou etna. Asim, ‘lependenda do contest, otermo foi traduzido ort como “pea ora como “in- ‘ctor, or come “interno”, ofa como “nacional” ou, quando nenhuma das opgbes ‘mm portugués diva conta da sentido completo, mantido no orginal. (N.T) 28 + Cidades sitiadas especial os distrtos informais em répido crescimento). Eles exploram ¢ ‘miram os condutos em espiral eas artéias que conectam as cidades moder- nas: a internet, 0 YouTube, a tecnologia de GPS, os celulares, as viagens de vito, 0 turismo global, a imigragéo internacional, os sistemas portuérios, as financas globais e até os servigos de correio ¢ as redes clétricas. (Os atentados tertoristas em Nova York, Washington, Madri, Londres ‘© Mumbai (para citar alguns alvos desses ataques), a0 lado das agressbes militares estatais a Bagdé, Gaza, Nablus, Beirute, Grozny, Mogadiscio Ossétia do Sul, demonstram que a guerra asimétrica & 0 vefculo para a violéncia politica que aeravessa espagos transnacionais. Cada vez mais, os conflits contemporineos ocorrem em supermercados, edificios, einets do rmetzb e distritos industiais, em ver de campos abertos, selvas ou desertos. “Tudo isso significa que, talvex pea primeira vez desde a Idade Médla, a sgeografialocalizada das cidades e os sistemas que as entrelagam comegam a dominar as discussbcs em torno da guerra, da geopolitica eda seguranca. Nanova doutrina militar da guerra assimétrica~ também rotulada de “con- flito de baixa intensidade”, “nenwar*, a “guerra longa” ou “guctra de quata geragio” -, locais prosaicos e cotidianos, éreas de circulacio e‘espagos da cidade esto se tornando o principal “campo de batalha tanto em teticério nacional quanto no exterior. Nesse contexto, a doutrina de seguranca ¢ militar ocidentalesté sendo rapidamente repensada de maneiras que obscurecem dramaticamente a se- paracio juridica eoperacional entre policiamento, inteligénciae miltarismos as distingSes entre guerra e paz; eentre operagées locas, nacionais e globais, Cada ver mais, guerase mobilizagées asociadas deixam de ser estrtas pelo tempo e pelo espaso e, em ver disso, se tornam, na mesma medida ilimitadas «¢ mais ou menos permanentes. Ao'mesmo tempo, centros de poder estatal ‘empregam cada vez mais recursos tentando separar figuras consideradas smalignas c ameasadoras daquelas consideradas valiosas ¢ ameagadas dentro dos espagos cotidianos ¢ das infraestruturas que as entrelagam. Em vex de direitos legais e humanos e de sistemas jutidicos bascados na cidadania universal, essas polticas de seguranca emergentes se fundamentam na elabo- ragfo de perfis de individuos, locas, comportamentos, associagées€ grupos. “Tais priticas atribuem a esses sujeitos eategorias de risco bascadas em suas Ver Tim Blackmore, Wir X: Hannan Extensions in Baslepace (Toronto, University of Toronto Press, 2005) Introdugio ~“Alvo interceprado. ty wsvociagies com violéncia, desordem ou resistencia contra as ordens Wiis dorninantes que sustentam o capitalismo neoliberal global. Wy Cuidence, essa mudanga ameaca reorganizar as concepgbes de Aiynine limites nacionais, fandamentais 20 conceito de Estado-nagio lil desule meados do século XVI. A obsessfo cada vez maior com fi ico pode usar as erramentas de seguranca nacional para desman Files que alimentam a concepeio de cidadania nacional universal. ‘eionplo, os norte-americanos jé estéo pressionando a Inglaterra para aulivir un novo sistema de vistos para cidadsos do Reino Unido com {los puiximos com o Paquistio que quiserem vistar os Estados Unidos twyiras palavras, esses Fatos ameagam estabelecer priticas de fronteira Jy ido espagos dos Estados-nacio ~ desafiando a definisso do “interior” Jl “exteriox” geogrdfico e social de comunidades politicas. O processo se Wulpur, por sua ver, & erupeao de pontos de frontera dentro dos Himes Jyoriais das nagbes, em aeroportos, portos de carga, terminais de internet W ioughcsFerovidrias de trens expressos. } mesino tempo, alcance dos bragos de policiamento, seguranga einte- Inca dos govenos também ests indo além dos limites terscorias nacionais, Flore sistemas de vigiléncia global si criados para monitorar os sistemas 0s, portudrios, comerciais, fnanceiros ¢ de comunicagio mundiais. Os joysannas eletronicos de frontiras, por exemplo ~ como o da Raytheon no lin Unido —, esto sendo integrados aos sistemas transnacionais para que Jinsagcros tenham seus dados de comportamento eassociagées minera- los nics mesmo de tentarem embarcar em avides para a Europa ¢ para 0s ualos Unidos. Os poderes de policiamento também estio se estendendo Jin al cas fronteias dos Estados-nacio. © Departamento de Policia de Nova York, por exemplo, estabeleceu recentemente uma rede de der escri- Lilos no exterior como parte de seus crescentes esforgos antitercorismo, O Julciamenco extranacional prolifera nos encontros de eipula politica eos fens esportvos internacionais. Em um movimento paralelo, campos de Joliiados ¢ exilados cada vez mais se constituem de forma “offhore", para Jjovoin mantides fora dos limits terrtorais das nagbes capitalistas ras, de Jhovlo que se armazene e lide de manera invsivel e a distancia com corpos Jnanos considerados malignos, indignos ou ameagadores. \ expansio dos poderes da policia para além das fronteiras nacionais sorte enquanto as forgas militares esto sendo alocadas com regularidade tua vex maior entre as nagbes ocidentas. Recentemente, os Estados Unidos on 30 + Cidadesstadas estabeleceram pela primeira ver um comando militar paraa América do Nor- te:0 Northern Command [Comando Norte. Antes disso, essa era. a tinica parte do mundo nao coberta dessa maneira. O governo estado-unidense tam- ‘bém reduziu de maneira gradual antigas barreras leais 20 posicionamento de militares dentro de cidades do pais. Hoje em dia, exercicios de treinamento de guerra urbanos ocorrem com regularidade em cidades dos Estados Unidos, simulando crises de “seguranga nacional”, bem como desafios de pacifcagio de rebelides nas cidades das periferias coloniais no Sul global. Além do mais, «em uma convergéncia expressiva de doutrina e tecnologia, satélites high-tech drones desenvolvidos para monitorar inimigos da distante Guerra Fria ou insurgentes estio sendo cada vez mais usados dentro das cidades ocidentas. © bumerangue de Foucault © novo urbanismo militar se alimenta de experiéncias com estilos de objetivos ¢ tecnologia em zonas de guerra coloniais, como Gaza ou Bagdé, ‘ow operages de seguranca em eventos esportives ou ciipulas paliticas inter nacionais. Essas operagées fancionam como um teste para a tecnologia eas, téenicas a serem vendidas pelos présperos mereados de seguranga nacional 20 redor do mundo. Por processos de imitagio, modelos explicitamente coloniais de pacificagio, militarizacéo e controle, aperfeicoados nas ruas do Sul do globo, se espalham pelas cidades dos centros capitalistas do Norte. ssa sinergia, entre operagoes de seguranga nacional e internacional, é a segunda caracteristica fundamental no novo urbanismo militar (O pesquisidor de estudos internacionis Lorenzo Veracini diagnosticou um dramético resurgimento contemporineo da importacio dealegoriaseténicas tipicamente coloniais para a administrago eo desenvolvimento de cidades nos centros metropolitanos da Europa e da América do Norte. Ele argumenta que esse process esta servindo para desfizer, de maneira gradual, uma “dist cléssica c antiga entre a faceta exterior ea interior da situagio de col6ni” , que o ressurgimento de estratégiase tfcni- entre Estados-nagio como os Estados Unidos, B importante destacay, et cas expliccamente colon ‘Ver ewwwwnorthcom mils. Acesso em: 21 malo 2016, Lorenzo Veracini, “Colonialism Brought Home: On the Colonization of the Met- ropoltan Space’, Borderlands 4, n. 1, 2005. Disponivel em: . Acesso em: 31 mar. 2016. Tarodusso —*Alvo interceprado, 1 vino Unido e Israel no periodo *pés-colonial” contemporinco* envolve {io apenas 0 uso de eéenicas do novo urbanismo militar em zonas de guerra iio esteior, mas sua difuséo e imitagéo por meio da securtizagio da vida ilenral. Assim como no séclo XIX as nagbes colonalistas europelas Ui)portaram o uso de impressbes digitais as prisdes panépticas ea construc th onievurds haussmannianos para implanta-los nos bait rebeldes de suas ‘lls depois de os terem experimentado em fronteirascolonizadas, as téc- Ica voloniais hoje funcionam por meio do que Michel Foucault chamou lp “cleito bumerangue™. “Jamais deve-se esquecer”, afirmou Foucault, «ques enquanco a colonizagéo, com suas tcnicase suas armas politicas¢ ju ridicas, obviamente ransportou modelos europeus para outros continentes, th também teve um considerivel efeico bumerangue nos mecanismos de pler do Ocidentee nos aparaos, nas insituigdes e nas tenicas de poder Tou uma série de modelos colons foi trzida de volta a0 Ocidente, 0 csultade foi que este pide praticaralgo que se parece com a colonizagio, ‘ow um colonialisma interno, em si mesmo." No periodo contemporineo,o novo urbanismo militar esté marcado por— «1a realidade, eonsiste em — uma mirade de chocantes casos de efeito bu- sncrangue foucaulkiano, elaborados detalhadamente em boa parce dest livro. Vor exemplo, drones istaelenses desenvolvidos para vericalmence subjugar «ter palestinos como alvo sio rotineiramente utilzados hoje em dia pelas forgas policiais na América do Norte, na Europa e na Asia Oriental. Opera- \lotes privados das prisbes de seguranca maxima nos Estados Unidos estio Instante envolvides na administragio do-arquipélago global que organiza 0 csicarceramentoe tortura, em franco crescimento desde o inicio da "Guerra Ver Derek Gregory, The Colonial Present (Oxford, Black, 2004); David Harvey, The New Inperation (Oxfon, Oxford University Press, 2005) [e. bras: O nove linprialiomo, cd, Adal Sobral e Mara Sicla Gonsalves, io Paul, Layole, 2005] Michel Foucaul,Soiny Must Be Defnded: Lecture athe Collie de ance, 1975-76 (Londres, Allen Lane, 2003), p. 103 fed. brass Fim def da sociedade: curso no Colige de France, ead. Maria Ermantna Galvio, io Pil, Martins Foates, 1999] Sobre panoptizagso, ver Tim Mitchel, “The Stage of Modernity”, em Tim Mitchell, (org), Question of Modernity (Minneapolis, University of Minnesota Press, 2000), . L34, Sobre planejamento haussmanaiano, ver Eyal Weiaman, entrevista com Phil Misslwita, "Miltary Operations ar Urban Planning", Mise Magazine, ago 2003, Disponivel em: . Acsso em: 22 maio 2016. F, sobre limpresiesdigtis, ver Chandak Sengoopta, print ofthe Raj: How Fingerprinting Was Born in Colonial Indie (Londes, Pan Books, 2003). Michel Foucault, Sociny Mus Be Defended ct. \ 32 + Cidades scadar 20’ Terror”. Cosporagdes militares privadascolonizam fortemente os contratos de reconstrusio tanto no Iraque quanto em Nova Orleans. A pericia istaclense zo controle populacional é buscada por aqueles que planejam operagées de seguranga para eventos internacionais no Ocidente. E politicas de “atirar para matar” desenvolvidas para combater homens-bomba em Tel-Aviv © Haifa foram adotadas por forgas poiciais na Europa e nos Estados Unidos — tum processo que resultou diretamente na morte de Jean Charles de Menezes pela polcia antterrorismo londrina em 22 de julho de 2005. Enquantoisso, 0 policiamento agressivo e militarizado em manifestagbes pablicas e mobilizagbes socais em Londres, Toronto, Pars e Nova York est comegando a usar as mesmas “armas ndo leis” que o Exército de Israel em Gaza ou Jenin, A construcio de “zonas de seguranca” a0 redot dos centros financeitos estratégicose distrcos governamentais de Londres e Nova York importa diretamente técnicas usadas em bases militares instaladas em outros pafses ccm dreas internacionais. Por fim, muitas das técnicas usadas para for- talecer enclaves em Bagd ou confinar permanentemente civis em Gaza ena CCsjordinia esti sendo vendidas mundo afora como “solug6es de seguranga* ‘de ponea, comprovadas em batalha, por coalizbes corporativas que conectam ‘empresas € governos israelenses, estado-unidenses ¢ de outros lugares. Essencialmente, esses casos de efeito bumerangue que fundem doutrinas de seguranga c militares nas cidades do Ocidente com aquelas das periferias coloniaissio reforgados pelas geografas culturais que sustentam a direita e extrema direita politica, junto com comentadores beligerantes dentro das préprias Forcas Armadas ocidentais. Eles tendem a considerar as cidades em siespagos intrinsecamente problemdticosos principais espasos de concen- tragio de atos de subversio, resistencia, mobilizagéo, dissenso e protestos, desafiando a seguranga nacional tanto dentro da pais quanto fora dele. Basties da politica etnonacionalsta, os movimentos da ascendente extrema dlireta em geral ttm forte representaco dentro da policiaedas Forgas Armadas statis, Eestendem a ver dreasruris ou os subirbios abastados como espagos auténticose puros de nacionalismo branco, asociados valores crstiosetradi- , Aceso em: 30 mat, 2016, ‘Ver Samaucl Huntington, Who Are We: The Challenges to Ameria National Identity (Nova York, Simon 8 Schuster, 2005)se, do mesmo aucor, The Clash of Cilizations and the Remain of World Onder, cit William Lind, “Understanding Fourth Generation Wat", Miltary Review, stout 2004, p. 16, Disponivel em: ewww. af mil/au/awelawcgatelilreview!lind pa ‘Acesso em 31 mar. 2016, 35 36 * Cidade siiadas alimentado pelo antiurbanismo instintivo dos Estados de seguranga na- cional, nao surpreende que cidades em ambos os dominios comecem a , Aceso em: 30 42» Cidadesstadas pPermitem que os usudtios matem terroristas em cidades ficticias e orienta- Tizadas usilizando estrururas baseadas diretamente naquelas dos sistemas de trsinamento das pprias Forgas Armadas estado-unidenses, Para fecha o ciclo entre cneretenimento virtual ¢assassinatos remotos, painéis de controle dos sistemas de armas norte-americanos mais recentes ~ como as mais modernas ‘stagées de controle para pilotos dos dronerarmados Predator, fibricados pelos ‘nossos velhos amigos da Raytheon —agora imitam os consoles do PlayStation, ‘que, afinal, so muito familiares para os soldados. Um tleime circuito veal de militarizagio conectando a cultura popular turban nas cidades nacionais& violencia colonial em cidades ocupadas se Concentra na bem estabelecida, mas cada vex. mais intensa, miliatizagdo da cultura do automével. O simbolo mais poderoso disso é a populatidade do explicitamente militar Sports Utility Vehicle, ou SUV, umm fendmeno notével nos Estados Unidos. A ascensio e queda do Hummer é um exen Plo especialmente marcante. Como veremos, veiculos para guerta urbana das Forgas Armadas estalo-unidenses foram convertidos em veiculos ci hiperagressivos, comercializados como a personificagio patriética da Guer- 3.0 Terror. SUVs modificados para civis, por sua ver, foramo vefculo cscolhido pelos mercendcios da Blackwater nas ruas do Iraque, bem como © foco recente das campanhas de recrutamento norte-americanas voltadas para minorias micas urbanas, Além disso, tendéncias experimentais em direcao a carros civis computadorizados se misturam intensamente com 0s impacientes esforgos militares dos Estados Unidos de construit veiculos desolo totalmente robotizados voltados para a guerra urbana, Claro, todas ¢ssas conex6es se elacionam com as insegurangas ea violéncia perpewuadas Pelo desregramento petrolifero norte-americano, que esti forgando as For. sas Armadas dos Estados Unidos a uma cortida espalhafatosa pelo acesso ¢ controle de reservas ¢ estoques em ripida diminuigo. Objetivos Esse ¢ 0 comtexto em que Cidadessiiadas pretende apresentar uma ampla explorasio e critica dos contornos do novo urbanismo militar. Ao contririo dos debates convencionais dentro da politica internacional, da ciéncia politica ¢ da histéria, esta obra néo vé os espagos, a infiaestrutura 0s apeetos cultuais da vida na cidade como mero pano de fundo para a Jmaginacto © a propagagéo da violéncia ou da construgio da “segutanga”. Introdugso ~ “Alo iverceptado." + 43, Em ver diso, considera que a mancira como as cidades eos espagos urbanos sio produsidos e reestruturados de fato ajuda a formar essas estratégias © fantasia, além de seus efeitos (c vice-versa). Para que isso sej alcangado, Cidades stiadas, de modo proposital, taba- Jha com uma gamaatipicamente vasta de escalas geogréficas. Olivro enfatiza ‘como o novo urbanismo militar opera estabelecendo a vida urbana tanto nos centros metropolitanos do Ocidente quanto nas cidades em desenvolvimento das froncciras coloniais do Sul global. Ademais, ele revela como isso € feito por meio de procesoseconexses que exigem a observacio simulinea dos Abita tone tame pet 717 «ca obra tem como objetivo, em particular, unir dois discusos bastante tinue cn pa tase caine nvidia cada vex maior dentro dos estudos sobre seguranca e politica internacional sobre urbanizagio da seguranca; eos debates em geral mais criticos dentro do urbanismo, da geografa, da arquitecura, da antropologia e dos estudos ceulturas sobre como essas mudangas estio desafiando a politica das cidades da vida urbana em uma época de ripida urbanizagio. A cscrita deste livro foi motivada em parte pela falta de uma andlise acessivel € critica que explorasse como 0 imperialismo ressurgente e as rafias coloniais caracteristicas da era contemporinea conectam, de ‘ancina umbileal, cidades nos centos mewopolitans ¢ nas pesfras coloniais®. Tal negligéncia & resultado da rigida divisio do trabalho dentro dda academia. Isso significa que, em termos mais amplos, pesquisadores de politica externa, dos assuntos militares, do direito © de relagies interna- cionais tém se ocupado da tarefa de abordar as novas guerras imperiais na escala internacional. Ao mesmo tempo, um corpo totalmente separado de académicos nas drcas de urbanism, direito eeigncias socais tém eal lo para explorar as novas politicas das cidades ocidentais que envolvem a poblnagi agg mao ne een ana cna ea das nagbes do Ocidence. Mas eses debates se mantiveram tcimosamente afastados por suas diferengas de tradigao tedrica, ¢ pelas orientagoes geo- srficase escalares de ambas. ™ Ver Michael Pete Smith, Transnational Urbanism: Locating Globalisation (Nova York, Blackwell, 2001). © Ver Desek Gregory, The Colonial Prem, cit. 44 + Cidadessvadas do ath analitia cm pares expica pela manciracomo invetignges lominantes, conservadoras realistas sobre aligacio entre globalizagto fica’ do Norte rico e modemno ea civilizasao distinta do Sul, caracterizada Emrgrande pre pelo araso, plo pergo, pela paologiae pla anarqua" ity ome Wren, ts ies Imnigusts do mundo si, ms zmesmas, uma forga motriz do novo urbanismo militar. ais perspectivas tendem demonizar um Sul orientalizao como fone de olvatoonne fancacontemporine. ls também traalham atvament para negara ‘maneiras pelas quais a vida urbana e econdmica do Norte global : mica do Norte global depende fandanenalmentdevineulas com oSulpér elon naan neocolonial~¢ ¢ formada por eles. No proceso, ese discursestém np papel-chave na produgio da violéncia simbélica necessiria para permitit que os Estados lancem mio da guerra e da violéncia de fato Além do mais, a obsessio com as rvalidades geopoliticas dos Estados- «#0 ou dos movimentos ndo estataistransnacionais faz com que essas etspectivas realists € conservadoras ignorem por comple or completo como as . [Ese link, oiginalmens . Aceso em: 30 mar. 2016, UN-Habitat, State ofthe Worlds Cites 200617 (Naibi, UN-Habitat, 2007), p 4 A guerra volta cidade * 51 Enquanto centros de gravidade demogréficos, politicos, econdmicos « talvez tecnoligicos emergirem no Sul, enormes mudangas demogrificas © «conémicas inevitavelmente vio continua. Num passado tio recente quanto 1980, treze das crinta maiores cidades do mundo ficavam no “mundo de- senvolvido"; em 2010, esse niimero tinha diminutdo para oito. Em 2050, € provivel que apenas algumas das vinta principais megacidades estejam localizadas nas antigns nagoes “desenvolvidas” (Figura 1.1), ‘00 ‘000 00 Tae reo Tor ‘ate ‘Sioa ‘de do Dies oa ‘at (es hoes ‘ae aris een aga aie ‘Gand ania an Mio 52 + Cidades sicadas 2 va 50 nt es 7 30 | tigce ar [Teo 4 | Bangs 78 mn 2 | SioPaeaiop 46) Eom 4 [Tes 12 as 2 | Hengking 48 | gre 50 | oben 70 be ‘0 | tna 14 | ore 58 | Hongrang oe ar "+1 As ena maiorescidades do mundo em 1980, 1990, 2000 2010 (projego) A tabelailutao eescete predominio de “megaciades” no Sal gabal * Bombsim pasou ase chamar Mumbai cm 1995 Calalipasou ac cata Kola em 200 «Madras pasou ae chamar Chennai em 1996 Porm, par eee de compro, nance, ov atigas nome oss as cola. (NE) Mundo polarizado Estamos descobrindo o que paises de rodo.o mundo em desenvolvimento viveram no decorrer de ués décadas: economias neoliberais instdveis ¢ injstas leva a niveisinaceitéves de ruprura social eprivagées que s6 podem ser contidas por uma repressio brutal.® A ripida urbanizagéo do mundo importa muito. Como a ONU de- clarou, “1 maneira como as cidades se expandem e se organizam, tanto ‘no mundo desenvolvido quanto no em desenvolvimento, vai ser deci para a humanidade” Enquanto cidades de relativa igualdade, como as da Furopa ocidencal continental, endem a oferecer uma sensagao de seguranca, sociedades altamehte desiguais sio, com frequéncia, marcadas pelo medo, por altos niveis de crime ¢ violéncia ¢ pela militarizagio cada vee mais intensa, O Predominio de modelos neoliberais de administragio nas ilkimas trés décadas, combinado com a difusio de modelos punitivos e autoritérios de policiamento ¢ controle social, exacerbou as desigualdades urbanas, Como resultado, os pobres da cidade so muitas vezes confrontados com *Madkine Bunting Pith Beli Ths. This Economic Othodory Wis Bul on Superstition’, The Guardian, Londres, 6 out. 2008. Fundo de Populagio das Nagdcs Unidas (UNFPA), The State of Wold Population 2007: Unleashing the Potential of Urban Growth (Nova York, UNFPA, Rersslace Polycechnic Insitute, 2007). ‘A guerra volta cidade * 53 redugio nos servigos piblicos, de um lado, ¢ uma palpével demonizacio ¢ ctiminalizagio, do outro. (© neoliberalismo ~ a reorganizagio das sociedades pela imposigio slisseminada de relagées de mercado ~ fornece 2 atual ordem econdmica sominant, ainda que aura pla cri’. Nese contexco, as socedades, sen x eer pion es ng dev pilin, scam espagos bios) ¢ abrem os meteados domeéticos pars o capita cstrangeto. Esratégias de mercado para a distribuigio de servigo pblieos prsjudicam e suplantam programas sociais, de saide e bem-csta socal ‘Uma expansto extraordinéria de instrumentos financeiros e mecanis- sos especulativos também & fundamental para o neoliberalismo, Todas 28 reas da sociedade se tormam mercantilizadas e financeitizadas. Tanto Estados quanto consumidores acumulam dividas financeiras dristicas, securzaas por nsrumentos aranos des bolas de valores labs, Em 2006, poueo ants do inicio da crise financcia global, mereados fnanceitos negociavam mais em um més do que 0 produto interno brato anual do mundo todo’ 3 'Na pritca, os tio alarleados axiomas econbmicos de “privaizagio”, “ajuste estrutural” e 0 “Consenso de Washington” camuflam transforma- «6es preocupantes. Elesfuncionam como eufemismo para o que Gene Ray chamou de “coerg6es coordenadas de prisio dos devedores globais, para a pulverizagio da méo de obra local e das prorecbes ambientais,e para es- cancarar todos os mercados part's operages nfo reguladas do capital Ginn A qu fi arancads dsconomispbrs une ‘ i sizadas a partic de umas pelas predacdes flagrantes do capital global, orga pa poucas megacidades do Norte Politica de ajuste esirutural (SAPs, na sila y lo Moneritio em inglés) impostas As nagbes pobres do mundo pelo Fundo M Tnvernacioal (FMI) pda Banco Mundial ene im daddeaade 1970 “ rcloping, Wor”, Ver Michael Pryke, City Rhythms: Neoliberalism and che Developing ¢o John Alea, Doreen Maye Michal Pye ons), Unting Cha (Lone, Routledge, 1999), p. 229-70 . ulate, Financials”, Mate Mag (Chris Wright eSamancha Alvarer,“Txpropriate, Accumulate, F Mae ‘tine, 10 maio 2007. Dispontvel em: cwrwmetamute ong. Aceso en 8 ab. 2016. Randy Marcin, “Where Did The Future Go, Lagos 5, 1, 2006. Gene Ray, “Tactical Media and the End of che End of History", flerimage, x 34, 1. 1-2, 2006, 54 + Cidadessitiadas © fim da de 1990 rorganizaram economiasignorando qustbesde ber social eseguranga humana. O resultado f Saas a do foi uma rupeua enorme, inseguranga . Acewo em: I? abe 2016 Projeca de Desenvolvimento das Nagee Unidas, Harman Development Report 1999) (Nova York, ONU, 1999), p36. ' Braneo Milanovi, “True World Income Distribution, 1988 and 1993: Fst Cal culations Based on Household Surveys Alone’, The E:omamic Journal, ¥. 112, jan 2002, p. 88. "© idem, p. 51-92. Cidades sida 420 ano anterior, Cada individuo dentro desse grupo de elie tinha atives {us somavam, em média, mais de US$ 4 milhées. Esa “classe capitalist ttansnacional” hoje compe o que as pesquisidores do Citigroup chamaram de “forca motriz dominante da demanda” em muitas economias contem, Ppordneas. la atua para ficar com “anata das ondas de produtividade e dos ‘monopélios de tecnologia, para depois gastar [...] suas parcelas cada vex ‘maiores da iquera nacional o mais rpido possivel em produtose servos de luxo"Y. No processo, gera enormes pegadas ecolégicas e de carbon, Enquanto isso, em meio a0 turbilhio do colapso dos sistemas financeino, ‘maior parte do mundo observa o grande banquete pela televise” Por outro lado, ¢ néo é nenhuma surpresa, as desigualdades sociais também estéo aumentando com rapider no interior de nagées, rgioes ‘idades. Muitos economistas concordariam com Giovanni Andrea Comnia quando ele diz que “a maior parte da onda recente de polarizaco de renda {dentro das naoes) parece estar relacionada &tendénca politica em diverao £ desregulamentagao domésticaeliberalizagio externa", Isso tendewa con. entrar riqueza em classes sciais, coxporagbes locaiscapazes le hcrar com a Privaizagio ea extensio. secapil financeiro, enquanto prejudicou sitios, © patriménio e a seguranga de individuos e lugares mais marginalizados. Nos lstados Unidos, por exemplo, o coefciente de Gita melhor ‘medida de desigualdade social - aumentou do nivel alto de 0,394 em 1970 part 0,462 em 2000. (Um indice 0 indica igualdade perfita, em que todos ‘ém a mesma renda; um resultado igual a1 representa uma desigualdade perfeica, em que uma pessoa arrecada toda a renda ¢ todos os demais tém renda zero, Acima de 0,3 implica uma sociedade extremamentedesigual) Assiny a polarizagfo socal nos Fstados Unidos éhojecm dia excedida apenas Pr alguns paises muito pobres da Africa e da América Latina” Em 2007, a renda do um quinto mais rico da| populagio estado-unidense estava calculada em US$ 168.170 por ano, fenquanto o um quinto mais "Aad lagen de Mk Davie an ean Monk ns) Dremu of Niet (Nova New hem ON de "Gio Ane Can“ npc beta nd lla on Wie __ in Ione lei” P56 Sneek * Pa Map, “Pek Ama Our Tine Up? New Solo 9 008 Dipontel em: mncommunignonons hess ncaa A guerra volta cidade * 57 pobre sobrevivia com uma média de USS 11.352. Tem sido uma febre para algumas dizias de super-ricos: os Estados Unidos tinham 51 bilionsrios em 2003 e 313 no ano seguinte”. “Nos Estados Unidos, essas concentragbes cxtremas de riqueza sio combinadas com niveis extraordinariamente altos de tencarceramento entre os grupos mais pobres. Sendo a principal “democracia penal” do mundo, os Estados Unidos, com 5% da populagéo do mundo, contavam com 24% do total mundial de prisioneiros (mais de 2 milhées de pessoas) em 2007". Enquanto isso, o Reino Unido hoje éa nagio mais polarizada da Europa ‘ocidental com excegio da Itiia. Sua desigualdade de renda— mais uma ver, medida pelo coefciente de Gini —aumentou drasticamente desde o comeso ddosanos 1960, com a reforma da economia por uma radical reregulamen- tagio, privatizacao e neoliberlizagéo. Para os 10% mais rcos da populagéo do Reino Unido, as rendas aumentaram, em termos reais, em 68% entre 1979 ¢ 1995. Sua renda coletiva hoje equivale & dos 70% mais pobres da nagio. Durante 0 mesmo period, a renda domiciliar entre os 10% mais pobres do Reino Unido caiu efetivamente 8% (sem considerar os custos habitacionais) Iso rapidamente reverteu a redugio da desigualdade alcan- sada durante 0 boom keynesiano no Reino Unido. Considerando custos com habitasio, os 10% mais icos da nagéo aumen- ‘aram sua fatia de riqueza negocidvel do Reino Unido de 57% em 1976 para 71% em 2003. Ao mesmo tempo; de acordo com Phillip Blond, do jornal ‘The Independent, “o capital especulativo que poderia scr alocado ou investido pelos 50% da base da populagéo brtinica caiu de 1296 para apenas 196"™: A imposicio do fandamentalismo de mercado teve efeitos especial- mente espetaculares no bloco ex-comunista Conselho para Assisténcia Econdmica Mitua (Comecon, na sigla em inglés), depois do colapso do comunismo no fim dos anos 1980. Isso néo 86 gerou um punhado de "Holly Ska, "Boom Time or Billionaires", Net Commentary, 15 out. 2004 cade em. Henry Giroux, “The Conservative Assaulc on America: Cltutl Policies, Education and the New Authoritaranism, Gua! Polit, 1, 9.2, p. 143. ® Joy James (ong), Wire inthe American Homeland: Policing and Prism in a Penal Democracy (Durham [NC], Duke University Pres, 2007) ® Ashley Seager, ‘Development: US Fails co Measure Up on ‘Human Index”, The Guardian, Londees, 17 jul. 2008. % Phillip Blond, “Outside View: The End of Capitalism as We Know I", The Inde- pendent, Londres, 23 mat. 2008 58 + Cidadesstadas bilionstios eoligarcas, mas, a0 mesmo tempo, surmentou o miimero de pes- soas vivendo na pobreza ena profunda inseguranca: de 3 milhdes em 1988 para 170 milhées em 2004. Em sermos globais, em 2007, bem mais do que um bilhao de pessoas ~ tum ergo de toda a populagio urbana ~ tinham uma existéncia muito preciria em favelas © assentamentos informais de ripido crescimento™, Cada vez mais, o mundo em desenvolvimento esti sendo dominado por populasées empobrecidas de favelas cujas insegurangas dilrias favorecem idade a idcologias € movimentos radicais violemtamente antio- ‘identais. A maioria dos residentes de assentamentos informais leva uma Vida especialmente preciria porque constitui o que Mike Davis chama de “proletariado excluido": “Essa é uma massa da humanidade”, escreveu cle, “estrutural ebiologicamente redundante para o actimulo global [de capital] «a mattiz.corporativa"”. Nem consumidores nem produtores, nfo integea- dos ao sistema corporativo dominante da globalizasio; em vez disso, eles, tentam se benefciar de modo indireto por meio dos “mercados negros” e do trabalho informal — do centro urbano que literalmente cercam. Erbascanc ficil para as elites politica, corporativas ou militares rerata- rem os residentes de assentamentos informais como ameacas existenciais, acé sub-humanas, & economia neoliberal “formal” e seu arquipélago de enclaves urbanos prvilegiados de residéncia, produgio, especulagio, trans porte e turismo, Em toda parte, as fronteiras urbanas entre os “interiores” ‘€05 “exteriores” da orem econémica dominance do nosso planeta revelam «spagos de milicarizagdo palpével, na medida em que forgas de seguranas estatais e corporativas tentam no apenas poliiar, mas também, com fte- uénca, lncrar com as relagdes entre os dois ados™. Favelas com frequéncia sio demolidas por urbanistas estatais, forga policiais ou militares, seja para liberar a érea para a modernizagéo da infraestrutura ou para a expeculagio imobilidra, scja para lidar com supostas ameagas de crime ou doenga, seja simplesmente para afastar as populagées marginalizadas da vista dos enclaves. ® Mike Davis, “The Urbanization of Empire, ct, p. 12. ® dem, Planes of Sums (Londres, Verso, 2006) (ed, bras: Plane favela trad. Beats Medina, io Paulo, Boitempo, 2006), Mike Davis, “The Urbanization of Empire, ct, p. 11 ® Ver Loic Wacquant, "The Miltaiation of Usban Marginal: Leswons from the Brazilian Metropolis, Internationa Political Sociology, v2, 1, 2008, p. 56-74 ‘A guerra volta eidade + 59 Estd claro que, assim como politicas piblicas, sociais © de sade se pprovaram inadequadas para lidar com as insegurangas eriadas por enormes sssentamentos informais™, as polticase doutrinas de cumprimento das leis, «08 militares também estio mal preparados para lidar com o crescimento slesses assentamentos. Esses lugares criam 0 que Mike Davis chama de “problemas tnicos de ordem imperial ¢ controle social que a geopolitica convencional mal comegou a registrar. Ele fz previséo solene de que "se © objetivo da guerra contra 0 teror for perseguir o inimigo dentro de seu Labisinto sociolégico e cultural, entéo as periferis pobres das cidades em desenvolvimento serio os campos de batalha permanentes do século XXP™. ‘Ao mesmo tempo, as politcas de seguranca nacionais e internacionais se concentram em resguardar 0 arquipélago de enclaves urbanos em répida fusio organizados por e para os mesmos grupos que mais se beneficiam da neoliberalizagio. Mesmo assim, os ancoradouros dos super-ricos io sempre Frigeis, e essa classe emergente esti na proa do descnraizamento transna- ional. “As pessoas da ‘camada superior’ no aparentam pertencer a0 local onde vivem’, escreve Zygmunt Bauman. “Suas preocupagées se assentam (ou fluruam) em outra parce”. Ainda assim, determinadas cidades ~ em especial Londres ~ estio se «ransformando radicalmente,sendo redesenhadas como espagos primordiais pata os iber-icos do mundo. Por meio de um urbanismo grandioso, outras cidades — notadamente Dubai ~ estéo emergindo como a materalizagio supercarregadae hiper-real de extremos globais, com 0 objetivo principal de atta os super-rcos para féiase tlver algo mais. Como escreveu Mike Davis, em Dubai as construcoras So cnvidadasaseconectara cues casa renologia, rons de entetenioen- covihasarilcias, “moncanhasde neve" cereadas por vide, subzbios no estilo de O Show de Truman, cidades dentro de cidades—0 que quer que ja grande o bastante vis do espace esc explodindo de eseroidesarquiterdnics:" ‘Ver Humansecuriey-. Aceso em: 30 mar 2016 ‘Mike Davis, "Sand, Fear and Money in Dubai”, em Mike Davis e Daniel Bertrand Mosk (orgs), Boi! Pande (Nova York, New Pres, 2007), p. 51 60 + Cidadesscadas Urbanismo do antigo militarismo Othando para as paisagens urbanas de Dubai, tas cidades do mundo surgiram, pelo menos em militares. A histéria da concepsdo, anes ndo pode ser conta sem levar em consieragioo papel reo ie como less primordias de poder e contol militar? Nos tempos pré-modemos no inicio da modernidade, cidades eck locrmes Agentesprimarios, bem como os principal jeans clades forifcads,junco com o assassinato de seus habtanien ras cera da gure irs om parte alegre dems ee ae pre dail em special no Live de emiaseavda aor fm como outros textos antigos eclssicas. “Mitos deruina urbure een 4a raz da nossa cultura’ firma Marshall Berman aneerescem Nos séulos XVI e XVII, os Estados-nag iam ~ “repositérios de poder cereados” den apitalismo imperial global ~comesaram a bus politica®, “Os Estados alcangaram 0 avan suerra’, escreve Femand Braudel” €fictlesquecee que mui- Parte, como construgées construcéo © ocupagio dos espagos isalvos, da guerra. A pilhagem de /europeus modemnos queemer- 10 dos primeitos sistemas de Serum monoptio da violencia 50 das cidades como agentes de As cidades metropolianase imperiais em arn 3 esses Estads-nacio nao mais organizavam Préptios extrcitas nem suas préprias defesas, mas mantinhan “slanc plc, Ha dgam avila ocommule carer aren ‘quisiao colonial de terri, matéiasprimas,riquersc ore tegen Desde eno, as cides se tomaram ageneccomras ones taba de aie mc es centrais nas mutas formas Hénciacausadas pelo imperialism capcalista. Um elemeneo crea Veer Wie Me Cp (ene (Gen) eos ‘in History (Nova York, MJF Books, 1961), ea * Ver Chsopher Genes = sg ie Se eon en Ox Ope ig I Berman, “ling Tower: Cy Life Aer Uc, om Dee ., 8) Gngupyad iden shngon Masons eg eae Re Anthony Giddens, The Nation -State and Violence (Los 4 isle g California Peess, 1987) fed, bras: O 1987) fed, brs: O Fitado-Nay ‘markes, So Paulo, Edusp, 2001), Lewis Mumfard, The City Angeles, The University of 4 violinci, ead, Beatin Cue Femand Braudel, Capitation an Fem Cap nf Material Life (Nova York, Harper Collins, 1973), ™ Ver Felix Driver e David Gilbert (gs), University Pee, 2008) Imperial Cries (Manchester, Manchester A guerra volt tem sido sua capacidade de “ceninalizar atividades militares, politica ccondmicas e, ao fazé-lo, atrair formagbes sociais de outra forma dispares para rlagoes estruturaishierirquicas e de explorago em escalas espaciais de sbrangéncias diversas”. Mas a violéncia repressora em grande escala nem. sempre foi necessria nas cidades coloniais que serviam para organizar 08 impétios das poténcias ocidentais; a classe média ¢ as mais baixas muitas vezes eram integradas &s economias coloniais de exploragio e dependiam dels, No entanto, a guerra, a eliminagio e a supressio violenta de re- voltas ~ contra guerrilhas revolucionérias rurais, contra movimentos de independéncia, contra indastras € comunidades nativas, contra minosias demonizadas ~ eram igualmente indispensveis para a conquista ¢ a ex- plorago colonial. Aliés, como Pierre Mesnard y Méndez escreve, a “base ‘econdmica para o triunfo do capitalismo foi a pilhagem da guerra colonial dlo século XV até o XVIII e XIX", Mais especificamente, a construgao dos impérios imperialistas da Europa foi sustentada por um amplo espectro de jgucrras urbanas que avangavam entre a exploragio € as persistentes lutas «que aconteciam nas colénias, de um lado, ca politica igualmente volétil das imetrépoles imperiais no “coracio do império", de outro”, “Técnicas e tecnologias de repressio e guerra colonial urbana fazem um percurso de mio dupla entre fronteiras coloniaise centros metropolitanos ceuropeus. (Foucault chamou esses vinculos de “efeito bumerangue”, como discutido na Introdugio deste volume.) ‘As poténcias europeias combateram rebelides ¢ insurgéncias nas cidades cezonas rurais nas franjas de seus impérios, 20 mesmo tempo que operavam para proteger “suas capitais em crescimento explosivo contra rebelides € alimencadas por lutas de classe. No process: revolugées domé "Kanishka Goonewardena e Stefn Kip, “Postcolonial Urbicide New Imperialism, Global Cites andthe Damned of the Earth, New Formation, v.59, 2006, . 23-33. © Ver Mike Davis, “The Urbanization of Empires cit p.9; Anthony King, Urbanism, (Colonialism and the World Economy (Londres, Routledge, 1991). “Pierre Mesnard y Ménde, "Capitalism Means!Needs Wat”, Socialism and Democracy, 16, a. 2, 2002, © Ver lensi Lefebree, The Critique of Exerday Lif | (Londees, Verso, 1991); Stefan Kipfere Kanishka Goonewardena, "Colonization and che New Imperialism: On the Meaning of Unbicide Today”, Theory and Event, v.10, n.2, 2007, p 1-39. © Eyal Weizman e Phil Miselwit, “Military Operations as Usban Planning’, Mute Magazine, 9g. 2003 62 + Cidadesscadae © campo de bata se mado dor descampados pa on murs da cidade © poscionou ainda mais no interior do crag urban, como us hat psa riche Sea hita grades seh oo de dade fi rompid envi, gut urbana comesou no momento de entrada na cidade. 7 Essas guerras urbanas coloniais ¢ efeitos bumerangue sio lembretes contemporaneos dos petigos de tentaraplacararesisténcia de guerrilha em cidades ocupadas por meio de poder militar superior, atos de brucalidade, violencia urbicida ow reestruturagao Fisica agressva, Experimentos espaciais 1 laboratério da cidade colonial muitas vezes prepararam o terreno para 0 replancjamento da metrépole colonial. Nos anos 1840, por exemplo, depois {que marechal Thomas Robert Bugeaud conseguiu reprimira insurreicio em Argel combinando atrocidades ea destruigéo de bairrosinteiros para abrir ‘aminho para esteadas modernas, suas téenicas de “planejamento urbano atravessaram 0 Meditersineo, do interior argelino, onde foram testaas, Para as ruas ¢ becos de Paris™, Para minar o fetmento revoluciondtio dos pobres de Pars, Bugeaud elaborou um plano p y i lano para a violenta reorganizagdo da cidade por meio da construcio de amplas rodovias militares —um plano ‘mais tarde implementado por um dvido leitor seu, o bardo Haussmann”. No final do século XIX e no século XX, cidades industriais no Norte slobal tinham erescido em sincronia com o poder de destruigio da tecno- logia. Eas forneciam os homens e equipamentos para sustentae as enormes guerras do século XX, enquanto seus bairros e suas indiistrias (muitas das uais com trabalhadoras mulheres) emergiam como os p r 100s prineipaisalvos para a guerra total Assim, a cidade industrial se tomou m [em sua totaidade um espago de guerra, Em poueos anos {...] 08 sonar fa dade wit delncivcae aoe ataques amplosa dreasurbanase, Finalmente, paraaaniguilago instannea de populagbese espagos urbane ineios “ns Tem. — Em 1847 Bugeaud escreveutlvero primi manual ocidental de sa z manual ocidenal de guerea urbana: La (Guerre des ues t des Maions (A gerade ruas cass (Pais, Jea-Pal Rochen, 1997), Eyal Wetzman, Introdugio, em Thomas Bugeaud, “The War of Strets and Houses, Cabin 2, 2006 Diente on cwrahnceapeine se hese mar, 2016. " ee * dem, ‘Marcin Shaw, War and Genocide (Cambridge, Polity Pes, 2003) A guerra volta cidade + 63 ‘As vezes, téplicas exatas da arquicetura vernacular das cidades eram conserufdas para serem bombardeadas, a fim de facilitar 0 aprimoramento do proceso, Em Dugway Proving Grounds, em Utah, por exemplo, Acrondutica estado-unidense construiu réplicas exatas dos prédios de apartamentos de Berlim ao lado de povoados japoneses de madeira e papel de arroz, ¢ os incendiou repetidas veves para aperfeigoar 0 projeto de suas bombas incendidvias® O olho do artilheiro Com a destruigio mutuamente garantida da Guerra Fria, taissutilezas se tornaram menos necessérias. Como escreveu Martin Shaw, “com os imisscisintercontinentais, a capacidade de destrur simultaneamente todos 0s principais centros de vida urbana se tornou um simbolo da degeneragio da guerra", Contudo, grandes esforgos foram feitos nos Estados Unidos durante a Guerra Fria para construir um bastifo para se contrapor tanto a0 Armagedom nuclear quanto 4 ameaga comunista”, Desses esforgos surgiram ‘nuclear, a casa no bairro resideneial suburbano co Estado nuclear, fandidos no bastio politico-cultural da vida estado-unidense [Até 0 comego do século XXI, a captura de cidades estratégicas politi- camente importantes continuou sendo “o simbolo maior da conquista ¢ da sobrevivéncia nacional", Ademais, desde a faléncia dos sistemas dbvios de fortficagbes urbanas,o desenho, o planejamento e organizacio das cidades foram moldados por questées estratégicase geopoltcas um tpiconegligen- ado nos estudos urbanos mainstream’. Além de forecera famosa “méquina para a vida" etrazer luz ear para as massas urbanas, urbanistas e arquitetos ‘modemistas imaginavam que situar torres residenciais dentro de parques seria ‘Ver Mike Davis, Dad Citi, ad Other Tales (Nova York, New Press, 2003), cap. 3 ‘Martin Shaw "New Wars ofthe City Relationships of Usbicide’ and "Genocide™ em ‘Seephen Grabam (or), Cites, War and Terri (Oxford, Blackwell, 2004), p. 143. Laura McEnaney, Civ Define Begins at Home (Princeton, Princeton University Pres, 2000). “Martin Shaw, "New Wars ofthe Cit”, manuscito no publicado, 2001. Disponivel em; . Aceso em: 30 mat. 2016 Ryan Bishop e Greg Clancey, “The City-as-Target, ox expetuaion and Death”, em. Stephen Graharn (org), Citi, War and Tororo, cit p. 54-73 64 + Cidadesstadas uma forma de reduair a vulnerabilidade das cidades a bombardeios aércos. Essas torres também foram projetadas para colocar os urbanoides acima do gis mortal que a época se esperava que houvesse dentro das bombas, Junto com o “éxodo branco” para os subiirbios residenciais, o urbanism do comeco da Guerra Fria nos Estados Unidos tentou enxergars clades do pals ‘pelo olhar do aritheito™ ¢ ativamente estimulou a descentrilizacio € 0 espraiamento como maneira de reduzi a vulnerabilidade da nagao a lum ataque nuclear sovitico precedente™. E costuma-se esquecer que 0 enorme sistema de rodovias interestaduais norte-americano foi inicialmente cchamado de um sistema “de rodovias de defesa” ccm parte desenhado para auniliar a mobilizagio militar ea evacuagio no caso de uma guerra nuclear global. Anunciando o plano em 1954, 0 vice-presidente Richard Nixon aegumentou que a maior razdo de ser do projeo era “atender as demandas de uma catéstrofe ou defes, caso ocorra uma guetta atdmicd”™”. Enquanto isso, novas cidades e novascaptas luminosas e modernistas foram erguidas ‘mundo afora, tanto por urbanistassovietics e ocidentais quanto por pro- ‘gramas de auxilio estrangciros, como forma de manter 0 apoio geopolitico nas fronceiras mundialmente alargadas da Guerra Fria, Enquanto iso, de volta aos Estados Unidos, gigantescos novos distitos de alta tecnologia, como o Vale do Silicio, na Califérnia, foram forjados como ‘morores de uma nova “economia do conhecimento” voltada para as cidades “globais" emergentes, como é bastante sabido, Muito menos reconhecido & © Fato de que esses “tecnopolos" também eram farjs-chave das tecnologias de controle militar que sustentaram a Guetta Fria e, mais tarde, foram mo- bilizadas como base paraa transformacio das forgasestado-unidenses através ™ Ver Jose Lis Serte CongresosIntrnacionais de Arquiterura Moderna, Can Our Cities ‘Survive An ABC of Urban Problns ter Analisi Solutions Based on eProps armada bythe CLAM. (Cambridge [MAl, Harvard Univenity res, 1942) Pate Galson, “War against the Cents", Gey Rm, n. 4 2001, p. 29, Ibidem, p. 533: Michael Quinn Dudley “Sprawl as Strategy: Cry Phnners Face the Bomb’, ownalf Planning Eduction and Racerch v.21, 1, 2001, 9. 52-63, Mag thew Farish, “Another Anxious Usbanisme Simulating Defense and Dsarer in Cold ‘War America, em Stephen Graham (org), Cities, War and Teor, ce, p 93-109. Grado em Dan MeNichol, Te Rad That Baile Ameria: The Ineradibe Ser ofthe US Inaersate Stem (Nova York, Sesing Publishing, 2006), p. 103 Michelle Provoost, “New Towns on the Cold War Frontier”, Eurosing, jun, 2006 Disponivel em: , Acsso eth: 30 mar 2016 Agerta vole & cidade © 65 sh Reraetnn Alon ei do aan Mie Ao mesmo tempo, 0s imperativos que se apresentaram & nova ciéneia militar cial og aitplitaaTds eine xan deepak al «leorganizar novas maneias de reconsteuir cidades norte-americanas durante cs anos de eliminagio em massa das “favelas” nas décadas de 1950 e 1960, them como construir as primeira redes de TV a cabo" Também no podemos esquecer as implicagbes geopoliticas e de se- suranga internacional mais indiretas das geografias © arquitecuras de urbanizagio da Guerra Fria. A suburbanizago subsidiada pelo Estado, por cxemplo, foi oaxioma central do “keynesianismo militar” que sustentou os Estados Unidos durante o periodo da Guerra Fra, Juntas, como argu- smencou Andrew Ross, a acelerada suburbanizacio subsidiada pelo Estado 2 militarizagio ea pesquisa tecnolégica no bojo da Guerra Fria podem, de fato, ser consideradas = crs contin nts do Ps Amica ato pont em gue a cabe, eprestam um perigo cao e presente para qualquer um que suas necesidades energicas” Nas fronteiras coloniais e imperiai, enquanto isso, a Guerra Fria foi cae racterizada por um complexo conjunto formado de guerrlhas urbanas bem “esquentadas”, guerras por independéncia ¢ por procuragéo. Guerras brutais «em plenaescala ou batathas urbanas de basa intensidade em Seul (1950), Argel (1954-1962), Hué (1968), Praga (1968), na Ielanda do Norte (1968-1998), nna Africa do Sul (1948-1990), em Istac-Palestina (1948) e em toda parte se fandiram com lutas dentro dos centros metropolitanos imperais do Norte pelo “dircio cidade” ~ 0 movimento pelos direitos cvis; movimentos sociais antirracismo, antiguerra, ambientalistas e pés-coloniais revoltas urbanas®., c he Urban Welfte ‘Ver Manuel Castell, “High Technology and the Transition from the U State to the Suburban Warfare State", em The Informational Ciy(Oxford, Blackwell, 1989); Anne Markusen etal, Te Rise of the Gunbel: The Miliary Remapping of Industrial America (Onford, Oxford University Press, 1991) Jennifer Light, From Warfare ro Welfare: Defense Intellectual and Urban Problems in (Cold War America (Balinore, The Johns Hopkins University Pres, 2003). Andrew Ress, "Duct Tape Nation’, Hanund Daign Magazine, . 20, 2004, p. 2. Ver Stefan Kipfer¢ Kanishka Goonewardena, als’ ci 66 + Cidadessviadas Para te6ricos do militarismo ocidental, no entanto, eles sempre foram ‘istos como espeticulos secundlérios bastante rrelevantes diante da preocu- ppagio principal: planos para o “exterminismo” nuclear planctdtio®, «liminasio instantinea de sistemas interos de cdades da face da Tes batalhas massifcadas asda Orga para a 7, € para “Air-Land” (aéreo-terrestres) entre as forgas soviticase izagio do Tratado do Atlintico Norte (Otan) pelo solo europe Assim, entende-se que o legado fisico do urbanismo militar da Guetra Fria no Norte global sea dominado por extraordinérios tineis subterrincos criados Para garantir a sobrevivéncia das elites politica e de amostras da populasio mais ampla nos mundos ‘strangelovianos™ do futuro pés-apocaliptico™, Implosées globais ‘A guerra adentrou a cidade de novo —a esfera do eotidiano. Nas “novas” guerras da era pés-Guerra Fria — guerras que cada vez mais atravessam 0s “vos tecnoldgicos” que separan nagdes industriais avanga ‘das de combatences informais -, as cidades em crescimento do mundo sso espagos-chave, Ali, dreas urbanas se tornaram os para-raios da violencia politica do nosso planeta. A guerra, como todo 0 resto, -geopoliticas — ori «st sendlo urbanizada, As grandes dispuras dde mudanca cultural, conflto éenico © mistura social dias de rerregulamentagéo e liberalizasso eeondmieas informatizagio e exploragio de recursos; fem um grau cada vex maior, de miltarieagio, de mudanga ecoldgica ~ esto, ¢ se reduzindo a conflitosviolentos nos espasos estrarégicos da nossa era: a cidades contemporineas. As luta geopoliticas Ver EB Thompson, “Notes on Esterminism: The Last Stage of Civilization”, ean EB thompson (org), Esterminsm and Cold War (Londres, NLB, 1982) [ed hese ‘ESterminisna Guern Fria, tad. Denise Bateman, Si Paul, Beasinse, 1985) Referéncia xo filme Dr. Sirmngeloe or: How I Lead Stop Worrying and Love the ‘Bomb, de 1964, diigo por Stanley Kubrick eexclado por Peter Seller. No Beas, foi langado como Dr Bentéstica.(N. E) ‘Ver, por exemplo, Tam Vandebil, Atomic America (Nova Yok, P Surooal Citys Adveneures Among the Rains of rinceton Archiceeiral Press, 2002) Philip Miselwit Eyal Wetzman, “Military Operations as Urban Plannin’, em Anselm Franke e Eyal Weizman (orgs), Tevtaris: lands. Camps and Orher See of Uiopia (Bedi, KM, Instituto de Arte Contemporines), p. 272, Js nad atl eda ver maisem vols de coninos viento sobre pars arbanos en .as sociedades, a violéncia em torno naar ena emma imac i stain ras dno de aes ucras entre mags se tora No proce stn lnm rans xo peiiovia i De t,o qu tino chama de novo bani til ee menos tee, De fo, ue mo tin lis ou em potencial, terroristas ou insurgentes, alvos legitimos. 5 vn auatéglas para o ataque deliberado a sistemas e locas que servem de fina me 0 iltiplas ¢ paralelas sinua acelerada, Ela é alimentada por transformagées miltiplas e ps g -colonial ¢ pés-Guerra Fria. ‘dios tnicos antetiormente contidos; a proliferacdo de grupos religiosos e de geograi: © acesso cada vex mais amplo a armas pesadas; a crise da polarizasio social crescente em todas as escalas geogrificas ji discutidas; e ‘Na Aftica, por exemplo, tem havido uma ripida nae a 1gas radi fe sa economia plc dos Exaos nos mes 25 ans Som muitos Estados perdendo seu monopélio tanto da violencia q : a5 cea se torna uma commodity a ser comprada ¢ vendida. ju ppl, arf Smal oon aon te Gry of rer Ds [NC], Dake University Pres, 2006), p. 1 eds bras: O mado ao pe trad, Ana Goldberger, Sto Paulo, Iuminurss, 2009}. tale © tee 31 erin Deck Grego "trl The Dah fh Cin” Envivonment and Planning D: Society and Space, v.24, 1.5, p. 633+ A guerra volta cidade + 67 (68 + Cidadesstiadas “A mio de obra militar € comprada e vendida em um mercado em que a identidade dos fornecedores ¢ compradores nao significa quase nada’, es- ‘reve Achille Mbembe. “Milicias urbanas, exércitos privados, exércitos de ‘comandantes regionais, empresas de seguranca privada c exécitos stata, todos reivindicam 0 direito de exercer a violéncia ou de mata” A.csse coquetelletal precisamos acrescentar os efeitos desestabilizadores das politicas de ajuste estrutural, as intervengées cada vez mais agressiva e violentas dos Estados Unidos em um leque cada vez mais amplo de nagies, « seu apoio de longo prazo a muitos regimes brutais. Somada a isso, a dissolugéo de Estados comunistas ou autoritétios desencadeou mutitas veres aspiragées e édios etnonacionalistas hd muito reprimidos, que com frequéncia se manifestam na deliberacio de tomar como alvo os espacos ¢ simbolos da mistura cosmopolita: as cidades e suas materializagbes ar- uiterdnicas da meméria coletiva. Assim como nos Bales no comeso dos anos 1990, a violencia genocida contemporiinea ¢ muitas vezes atacada com tentativas dliberadas de urbicidio: a matanga de cidades ea devastacao de seus simbolos earquiteturas de pluralismo e cosmopolitismo®. Entéo, com ‘muita frequéncia, as heterogencidades ea fluidea inerentes& vida da cidade ‘contemporinea entram na mira de um amplo espectro de Fundamentalismos culturais que buscam alvos, bodes expiatsrios, certeras e objetos passiveis de climinag4o cultural ou arquitetdnica. De fato, os préprios chamados & viokéncia contra cidades devem ser vistos como tentativas de formar comt- ides politcas baseadas na certeza e na simplicidade. Criar estereétipos «imagens de alteridade para a imensa complexidade da cidade, a fim de torné-la uma tinea identidade pura, constitui um prelidio fundamental do chamado para a violéncia contra ela Coletivamente, hoje em dia, esses fatores estéo forgando 0 que 0 antropélogo Arjun Appadurai chamou de uma ‘implosio de polticas slobais e nacionais no mundo'urbano”” — um processo que levou a uma © Achille Mbembe, "Necropolies",Puble Culture, v.15, n. 1, 2003, p. 32 (© Ner Robers Bevan, The Destruction of Memory: Architecture at War Londres, Reaktion Books, 2006) Arjun Appadurai Fear of Small Numbers cep. 7. Ver também Jenn-Lue Nancy, “ln Pras of the Melee, em A Finite Thinking (Stanford, Stanford University res, 2003), ”Anjun Appadurs, Modernity at Lage: Caltnl Dimensonsof Globalization (Minneapolis, [MN], University of Minnesota Pres, 1996), p. 152. A guerra volta cidade * 69 jolfragio de guetrassangrentas e predominantemente urbanas, Muitas ‘hls, por sua ver estimularam no apenas vastas migragbes, mas também 1 construgéo de campos de refugiados em escala equivalente & de cida- dle» para acomodar as populagées desalojadas, que jé somavam cerca de W0 milhdes de pessoas em 2002”. Wpormeao da viléna pln oganirada dentro eps cidade jlos sistemas citadinos & complicada pelo fato de que muitas mudancas \wbanas “plangjadas”, mesmo em tempos de relativa paz, envolvem em si mesmas niveis béicos de violencia, desestabilizaglo, ruptura, expul- wo forgada e aniquilacio de locais”. Em particular nos picos © quedas vertiginosos do urbanismo capitalist neoliberal ou na implementagio Ale programas de “renovagio”, “regeneragio” ou “renascimento” urbano can grande excl, o plansjamentoestatal muita vees resulta na limpera legitimada de vastas reas das cidades em nome da remogio de entulho, «la modernizagio, das melhorias, ou da organizagio, da concorténcia cconémica, ou da facilitagéo da mudanga tecnolégica ¢ da acumulagéo dle capital e da especulagio”. por especulagdes desenvolvidas pelo Estado, as muitas cidades que esto tncelbendo por caus dadesindasaizato, da relocate industri global ¢ do evnmento demogefcnambm eio vrei m9 whanismo dlc limpeza total. “Os processos de destruigio criativa movidos econdmica, pier sodlnent pa mde sandon ones ap re David Harvey, “muitas vezs sio atos de guerra tio destrutivos quanto urbititios. Boa parte da Baltimore contemporines, com suas 40 mil casas abandonadas, parece uma zona de guerra comparsvel a Sarajevo"”. 7 TR Ag Bees Wiad Gy on Ui Athol rant Aman De Urbano, 1990145 Cl sy 21,2086, aie chneider e Ida Susser (orgs), » Dn ney te iy as alli mie Sie Se Moone ix Deaton end Ronson Cond Wr ov Yok oo ap 70 + Cidadesstadas Guerra & solta Nesse contexto, e considerando as desigualdades sociais cada vez mais exttemas, ndo surpreende que os teéricos e pesquisadores do militarismo cident estejam hoje especialmente preocupados em relagioa como as goo. srafias das cdades, em particular das cidades do Sul global, estio comogando a influenciar tanto a geopolitica quanto a tecnociéncia da violencia politica 'P6s-Guerra Fria, Depois de longos periodos pregando que o conflto urbane fesse evitado ou, pelo conto, que os centros urbanos fossem aniguilados 2 distancia por meio de bombardeios estratégicos, a doutrina militar voleda a0s desafios das operagées militares dentro das cidades estérapidamente surgindo de baixo do que um coronel eanadense, Jean Servelle, chamou hd ouco tempo de “a pocira da histériaeo (..] peso da dissuaséo mucleat”, Aliés, um sistema paralelo de pesquisa urbana militar, quasedespercebide nas ciéncias sociais urbanas “civis",estd se stabelecendo rapidamente, sub. sidiado por orgamentos de pesquisa militar ocidentais. Como afirma Keith Dickson, um teérco miltarestado-unidense de guerra urbana, a percpgao «ada vex mas comum dentro dos exécitos do Ocidente éa de que, para as foras militares ocidentais, as guerra assimécticas em reas urbanas serio 0 maior desafio da sécule prvilegiada ~ mundo, 1A cidade se torna uma dea extratégica ‘quem 2 controlar vai ditar o curso dos eventos fututos no. Oconseno eno tericosqu defndem es mudang que - css mdanga que “oper ‘ges de combate urbano modern: ne ias¥ao se tornar um dos principais desafos do século XI", Nessa vertente, o major Kelly Houlgate, analista dos Funileiros Navais estado-unidenses, nota que, entre 1984 e 2004, “dos 26 conflites em que as forgas estado-tnidenses lutaram J, 21 envolveram ‘reas urbanas, e dex foram exclusivamente urbanos””. Wid ian Ted on te Pes if es ce a the Sctegic High Ground”, artigo A guerra volta cidade * 71 \ ampla adogio da doutrina de guerra urbana vem depois de séculos fu que plangjadores militares ocidentaispregaram umm manta aricula ilo cm 1500 a.C. pelo filésofo chinés Sun Tzu, de que “a piot politica & yc cidades”. Ela sucede uma Guerra Fria marcada por uma obsesso com ¢ventos Air-Land gigantescosliderados pelassuperpoténcias e centrados no norte da Europa, dentro eacima dos espagns entre cidades-regides curopeias Invencionalmente evitadas. Ainda que as forgas ocidentais tenham lutado numerosas guertas em cidades do mundo em desenvolvimento durante a (Guerra Fria, como parte de lutas maiores contra movimentos de independén- ‘la, movimentos terrorists e guerras por procuragéo, como jd mencionado, esses conflitos eram vistos por tebricos do militarismo no Ocidente como cspeticulos secundrios atipicos em relagio aos eventos aéreo-terrestres © snicleares, as supostas atragées principais. ‘Além da catistrofe militar e gcopolitica que é a guerra esmagadoramen- we urbana no Traque, existem operagées militares emblematicas, como as Ihumilhagées estado-unidenses com os Faledes Negros™ em Moga em 1993, as operagdes nort-americanas em Kosovo em 1999 e em Beiruce hos anos 1980, e diversas operagées também estado-unidenses no Caribe ccna América Central: Cidade do Panamé (1989), Granada (1983), Porto Principe (1994). Conflits urbanos como os ocortides em Grozny, na Chechénia (1994), em Sarajevo (1992-1995), na Gedrgia e na Ossétia do Sul (2008), ¢ em Istael-Palestina (1947-) também pairam sobre os atusis dcbates militares sobre a urbanizagao da guerra etek foco das Forgas Armadas estado-unidenses em operagdes na esfera wats oo “Tertor™, que designa cidades ~ nos Estados Unidos ou estrangeiras ~ e suas principais infraestruturas como “campos de batalla. Vistos sob esse prisma, as protestos de Los Angeles de 1992; as diversas tentativas de securtzar os centtos urbanos durante grandes eventos esportivos ou cipulas politicas; a reagdo militar ao furacio Katrina em Nova Orleans em 2005; 0s desafios de "ecg ld Hat Dn. Taldolvo ojos Maik Bonen bids 9x edge nc hain de Ride Sen, lag 201 Svar ne Sonia No Bole was nome de Re Ne por Ht Hat, do ool bpere 8) w Ser Naan Canes, "Hamelnd Dele: Ate: Nai in th Cai fo oe Sts Wn len orn of a Pn 2208 9.9.1

You might also like