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UNIVERSIDADE MANDUME YA NDEMUFAYO

FACULDADE DE DIREITO
LUBANGO

MANUAL DE DIREITO ECONÓMICO

FRANCISCO MÁRIO

(Docente Universitário -Advogado)

2020 -(3)
Manual de Direito Económico Francisco Mário

DEDICATÓRIA

Aos meus alunos, votos por me fazerem apreciar o lado simples e a verdade científica, e por
ajudarem fazer nascer este volume de escritos apenas uma como lembrança académica que,
sei bem, não abate em nada a dívida académica e científica que nos onera, mas como linhas
quebradas que se junta a uma prenda de ansiedade outorgada de vontades e sacrifícios de
pesquisas, mesmo assim, devo-lhes uma palavra de enorme gratidão.

Sempre com sagrada memória eterna dos meus pais que muito cedo partiram, mas que
antes ensinaram uma certa forma de olhar os valores e princípios da Justiça e o Direito. Este
estudo é-lhes, por isso dedicado.

A confessada estima e consideração do Professor Gabriel Tchitongo e, com assaz jovialidade


do Professor Msc. Manuel António Dias da Silva, pelos seus ensinamentos cobertos de
elegância e perfeição em observar, a interrogar e a confiar a justiça, e eu neste particular,
tomei o Direito o fio do prumo e a Justiça à ordem de igualdade.

Aos meus filhos por este trabalho e a minha formação, apesar de privar-lhes largamente o
prestimoso amor de fonte de carinho de um pai, mas sempre soltaram a paciência de
procurarem transmitir-me indulgentes ensinamentos dos valores da ternura do conceito
de família, – perdão.

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Manual de Direito Económico Francisco Mário

“As faculdades que presidem à conduta do homem são os desejos; a coragem e a razão. Elas
existem em todos homens, embora, em graus diferentes. Há uns nos quais o desejo, os apetites
grosseiros, prevalecem: são almas tumultuosas, inferior, ávidas de dinheiro, guiadas apenas
pelo interesse material: devem constituir a classe dos mercenários.

Noutros, é a coragem que domina, orientada pela razão: tem a ambição da glória, querem
triunfar e vencer, preferem ser fortes a ser ricos: forma a classe dos guerreiros.

Outros ainda, uma pequena minoria, são inspirados pela razão: os filósofos que procuram a
verdade, onde quer que se encontre, vivem absorvidos na contemplação pura das ideias, tem
por única aspiração a sabedoria e a virtude e não se deixam seduzir pela riqueza, nem pela
glória: constituem a classe dos magistrados”.

Platão – diálogo sobre a justiça cadernos culturais editorial INQUÉRITO Lda. Lisboa, 2ª
edição Tenacitas 2008, – tradução de LOBO VILELA, Pág. 16.

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Manual de Direito Económico Francisco Mário

“Há sistemas de coisas que nos ajudam amar (…), mas não há sistemas
que nos ensinam amar”1.

Não se pode ensinar alguma coisa alguém, pode-se apenas auxiliar a


descobrir por si mesmo.
Galileu Galilei

1Grafite da estação do metro de Lisboa – Saldanha (linha vermelha), visitado dia 4 de Fevereiro de 2018. As
14:50 min.
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Manual de Direito Económico Francisco Mário

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Manual de Direito Económico Francisco Mário
ÍNDICE

DEDICATÓRIA ..................................................................................................................................................... 2

ABREVIATURAS ................................................................................................................................................. 14

NOTA DE APRESENTAÇÃO ................................................................................................................................. 17

NORMAS CONSTITUCIONAIS COM MAIOR RELEVÂNCIA ECONÓMICA .............................................................. 20

CAPÍTULO I - INTRODUÇÃO AO DIREITO ECONÓMICO ................................................................................ 35

1.1. ORIGEM E EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO ECONÓMICO ................................................................ 45

1.2. NOÇÃO DO DIREITO ECONÓMICO ........................................................................................................ 48

1.2.1. DIREITO ECONÓMICO OU DIREITO DA ECONOMIA? ......................................................................... 48

1.2.2. NATUREZA E O OBJECTO DO ESTUDO DO DIREITO ECONÓMICO ........ ERRO! MARCADOR NÃO DEFINIDO.

1.3. O MÉTODO DO DIREITO ECONÓMICO. ................................................................................................. 57

1.4. SUJEITO DA RELAÇÃO JURÍDICA ECONÓMICA (JUS-ECONÓMICO) ........................................................ 59

1.5. CARACTERÍSTICAS DO DIREITO ECONÓMICO ........................................................................................ 61

1.6. O DIREITO ECONÓMICO FACE A OUTROS DIREITOS EM MATÉRIA ECONÓMICA ................................... 66

1.7. FUNDAMENTO DA AUTONOMIA DO DIREITO ECONÓMICO. ................................................................ 66

1.8. RELAÇÃO ENTRE O DIREITO E A ECONOMIA ......................................................................................... 68

1.9. FONTES DO DIREITO DA ECONOMIA..................................................................................................... 69

1.9.1. FONTES TRADICIONAIS: FONTES INTERNAS E INTERNACIONAIS. ...................................................... 69

1.9.1.1. FONTES INTERNAS............................................................................................................................ 69

1.9.1.2. FONTES INTERNACIONAIS: ............................................................................................................... 70

1.9.1.3. FONTES NÃO TRADICIONAIS ............................................................................................................ 71

1.9.1.4. NOVAS FONTES ................................................................................................................................ 71

CAPÍTULO II - CONSTITUIÇÃO ECONÓMICA .................................................................................................. 73

2.1. NOÇÃO DA CONSTITUIÇÃO ECONÓMICA ................................................................................................... 73

2.2. MODALIDADES DAS CONSTITUIÇÕES ECONÓMICAS ............................................................................. 77

2.2.3. QUANTO À ESTRUTURA .......................................................................................................................... 77

2.2.4.QUANTO À FORMA JURÍDICA ................................................................................................................... 77

2.2.5. QUANTO AO CONTEÚDO ECONÓMICO ................................................................................................... 78

2.2.6. QUANTO AO ENQUADRAMENTO POLÍTICO ............................................................................................. 81

2.2.7. QUANTO O MODO DE REGULAÇÃO DO SISTEMA .................................................................................... 81

2.3. FUNÇÃO DA CONSTITUIÇÃO ECONÓMICA .................................................................................................. 82

2.4. ÂMBITO E SENTIDO DA CONSTITUIÇÃO ECONÓMICA ................................................................................ 83

2.5. EVOLUÇÃO DA CONSTITUIÇÃO ECONÓMICA ANGOLANA .......................................................................... 84


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Manual de Direito Económico Francisco Mário
2.5.1. FONTES DA CONSTITUIÇÃO ECONÓMICA ANGOLANA ............................................................................. 84

2.6. AS REVISÕES CONSTITUCIONAIS DE 1975-1992 .......................................................................................... 85

2.6.1. CONSTITUIÇÃO ECONÓMICA ESTATUTÁRIA (1975-1991) ........................................................................ 85

2.7. CONSTITUIÇÃO ECONÓMICA DE 2010 ........................................................................................................ 85

2.7.1. CONSIDERAÇÕES GERAIS......................................................................................................................... 85

CAPITULO III - OS PRINCÍPIOS ECONÓMICAS FUNDAMENTAIS ESPECÍFICOS (REMISSÃO) ..................88


3.1. -SUPREMACIA DA CONSTITUIÇÃO E LEGALIDADE (ART. 6º, DA CRA); ......................................................... 88

3.2. - DEMOCRACIA ECONÓMICA (ART. 2º, DA CRA); ........................................................................................ 88

3.3. - COEXISTÊNCIA DE SECTORES DE TITULARIDADE (ART. 92º, DA CRA); ....................................................... 88

3.4.- LIVRE ACESSO E RESERVAS PÚBLICAS (ART. 38º, 93º E 95º, DA CRA);........................................................ 88

3.5.- EFICIÊNCIA E INTERVENÇÃO (ART. 89º E 91º, DA CRA); ............................................................................. 88

3.6.- MERCADO E PLANEAMENTO (ART. 89º E 91º, DA CRA); E ......................................................................... 88

3.7. - NACIONALIZAÇÕES E PRIVATIZAÇÕES (ART. 97º, DA CRA). ...................................................................... 88

CAPÍTULO IV - PRINCÍPIOS NORMATIVOS E ESTRUTURANTES NO SISTEMA CIENTÍFICO DE DIREITO


ECONÓMICO ................................................................................................................................................... 89
4.2. PRINCÍPIOS DA SUPREMACIA DA CONSTITUIÇÃO E LEGALIDADE.......................................................... 92

4.1.1. SUB - PRINCÍPIO DA SUPREMACIA OU PREVALÊNCIA DA LEI ................................................................ 93

4.1.2. SUB - PRINCÍPIO DA RESERVA DA LEI .................................................................................................... 93

4.2. PRINCÍPIO DA SUBORDINAÇÃO DO PODER ECONÓMICO AO PODER POLÍTICO DEMOCRÁTICO. .......... 94

4.3. PRINCÍPIO DA DEMOCRACIA ECONÓMICA ........................................................................................... 95

4.4. PRINCÍPIO DA IGUALDADE E DA JUSTIÇA SOCIAL.................................................................................. 97

4.5. PRINCÍPIO DE ACESSO A JUSTIÇA E DA TUTELA JURISDICIONAL EFECTIVA .......................................... 100

4.6. PRINCÍPIO DA GARANTIA DOS DIREITOS E LIBERDADES ECONÓMICAS FUNDAMENTAIS .................... 103

4.7. PRINCÍPIO DO RESPEITO PELOS DIREITOS FUNDAMENTAIS ................................................................ 105

4.7.1. SUB PRINCÍPIO DA RESERVA DO POSSÍVEL .......................................................................................... 107

4.8. PRINCÍPIO DE LIVRE INICIATIVA ECONÓMICA E LIVRE CONCORRÊNCIA .............................................. 108

4.8.1. A LIVRE INICIATIVA ECONÓMICA ........................................................................................................ 108

4.4. PRINCÍPIO DA DEFESA DO AMBIENTE ................................................................................................. 115

4.4.1. ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO URBANO E RURAL .......................................................................... 122

4.4.2. O TURISMO ........................................................................................................................................ 125

4.5. PRINCÍPIO DA DEFESA DO CONSUMIDOR ........................................................................................... 126

4.6. PRINCÍPIO DA DELIMITAÇÃO DA ACTIVIDADE ECONÓMICA E DAS RESERVAS PÚBLICAS .................... 128

4.7. PRINCÍPIO DA COEXISTÊNCIA DE SECTORES DE PROPRIEDADE ........................................................... 131

4.15. PRINCÍPIO DO MERCADO E DO PLANEAMENTO ................................................................................. 131

4.16.1. MERCADO ......................................................................................................................................... 132


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Manual de Direito Económico Francisco Mário
4.16.2. O MERCADO INFORMAL APRESENTA AS SEGUINTES CARACTERÍSTICAS ............................................ 133

4.16.3. O PLANO ............................................................................................................................................ 134

4.17. PRINCÍPIOS DA ECONOMICIDADE ....................................................................................................... 138

4.18. PRINCÍPIOS DA EFICIÊNCIA ................................................................................................................. 140

4.19. PRINCÍPIO DAS NACIONALIZAÇÕES E DAS PRIVATIZAÇÕES ................................................................ 140

4.19.1. NACIONALIZAÇÕES ............................................................................................................................. 141

4.19.2. PRIVATIZAÇÕES .................................................................................. ERRO! MARCADOR NÃO DEFINIDO.

4.20. PRINCÍPIO DA INTERVENÇÃO DO ESTADO NO DOMÍNIO ECONÓMICO ............................................... 141

4.20.1. SUB PRINCÍPIO DA SUBSIDIARIEDADE ................................................................................................ 143

4.20.2. SUB - PRINCÍPIO DA NECESSIDADE ECONÓMICA ............................................................................... 144

CAPÍTULO V - ADMINISTRAÇÃO ECONÓMICA E OS SEUS ORGÃOS........................................................ 145


5.1. ASPECTOS GERAIS SOBRE A ADMINISTRAÇÃO ECONÓMICA .................................................................... 145

5.1.1. ADMINISTRAÇÃO ECONÓMICA AO NIVEL CENTRAL .............................................................................. 147

5.1.2.ADMINISTRAÇÃO ECONOMIÇÃO AO NIVEL DESCONCENTRADO ............................................................ 148

5.3. REGULAÇÃO ECONÓMICA. TRANSFORMAÇÃO PARA O ESTADO REGULADOR ......................................... 148

5.3.1. O PAPEL DO ESTADO REGULADOR ........................................................................................................ 152

5.3.2. A APARELHAGEM INSTITUCIONAL NA REGULAÇÃO DOS MERCADOS .................................................... 153

5.3.3. OS INSTITUTOS PÚBLICOS ..................................................................................................................... 155

5.3.3.1. CASO ESPECIAL DO FUNDO SOBERANO DE ANGOLA (FSDEA) ............................................................. 157

CAPITULO VI - ECONOMIA PÚBLICA……………………………………...………………………………………………………156

6.1. ASPECTO GERAIS DA ECONOMIA PÚBLICA ……………………………………………………………………………………..164

6.2. ORDENAÇÃO DA ACTIVIDADE ECONÓMICA OU ORDENAÇÃO ECONÓMICA…………………………………….164

6.3. INTERVENÇÃO ECONÓMICA…………………………………………………………………………………………………………….164

6.4. ACTUAÇÃO ECONÓMICA………………………………………………………..……………………………………………………….164

6.1. AS RAZÕES DA INTERVENÇÃO DO ESTADO NO DOMÍNIO ECONÓMICO (NA VISÃO DE MUSGRAVE)…165

6.2. A FUNÇÃO DE AFECTAÇÃO…………………………………..………………………………………………………………………….166

6.4.1. A FUNÇÃO DE DISTRIBUIÇÃO…………………………………………………………………………………………………………..166

6.1.1. A FUNÇÃO DE ESTABILIZAÇÃO ECONÓMICA…………………………………………………………..……………………….166

6.6.1. QUANDO À DOUTRINA INSPIRADORA ............................................................................................ 170

6.6.2. INTERVENÇÃO DE FACTO E INTERVENÇÃO JURÍDICA ...................................................................... 171

6.6.3. INTERVENÇÃO DE FACTO ............................................................................................................... 171

6.6.4. INTERVENÇÃO JURÍDICA ................................................................................................................ 171

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6.7. INTERVENÇÃO LEGISLATIVA ............................................................................................................... 172

6.8. INTERVENÇÃO ADMINISTRATIVA ....................................................................................................... 172

6.9. INTERVENÇÃO JUDICIAL ..................................................................................................................... 175

6.17. O SECTOR EMPRESARIAL PÚBLICO ANGOLANO .................................................................................. 176

6.17.1. EMPRESAS PÚBLICAS ..................................................................................................................... 178

6.17.1.1. EMPRESAS COM DOMÍNIO PÚBLICO .......................................................................................... 184

6.17.2. AS PARTICIPAÇÕES PÚBLICAS ......................................................................................................... 189

6.17.3. SECTOR EMPRESARIAL DE ÂMBITO NACIONAL............................................................................... 189

6.17.4. SECTOR EMPRESARIAL REGIONAL .................................................................................................. 190

6.17.5. SECTOR EMPRESARIAL LOCAL ........................................................................................................ 190

CAPITULO VII - MICROS, PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS……………………………………………………………180

7.1.1. MICRO EMPRESAS .......................................................................................................................... 192

7.1.2. PEQUENAS EMPRESAS ................................................................................................................... 193

7.1.3. MÉDIAS EMPRESAS ........................................................................................................................ 193

7.1.4. EMPRESAS DE GRANDE DIMENSÃO OU ESTRATÉGICAS.................................................................. 193

CAPITULO VIII – NACIONALIZAÇÕES, CONFISCO E FIGURAS AFINS..……………………………………………….182

8.1. RAZÃO DE SER .................................................................................................................................... 194

8.2. DEFINIÇÕES DE NACIONALIZAÇÕES .................................................... ERRO! MARCADOR NÃO DEFINIDO.

8.4. EFEITOS JURÍDICOS DAS NACIONALIZAÇÕES ...................................................................................... 197

8.4.1. EFEITOS CENTRAIS .............................................................................................................................. 197

8.4.2. EFEITOS PERIFÉRICOS ........................................................................................................................ 198

8.4.3. EFEITOS EM RELAÇÃO À EX-EMPRESA PRIVADA ................................................................................ 198

8.4.4. EFEITOS EM RELAÇÃO AOS E EX-TITULARES; O DIREITO À INDEMNIZAÇÃO ....................................... 198

8.4.5. EFEITOS EM RELAÇÃO À NOVA EMPRESA ......................................................................................... 198

8.4.6. EFEITOS EM RELAÇÃO AOS TRABALHADORES .................................................................................. 199

8.5.1. CONFISCO ......................................................................................................................................... 199

8.5.2. EXPROPRIAÇÃO POR UTILIDADE PÚBLICA ....................................................................................... 200

8.5.3. REVERSÃO ...................................................................................................................................... 201

8.5.4. REQUISIÇÃO ADMINISTRATIVA ...................................................................................................... 201

CAPITULO IX - O SECTOR EMPRESARIAL PRIVADO DA ECONOMIA ........................................................ 204


9.2. TIPOLOGIA DAS SOCIEDADES COMERCIAIS......................................................................................... 204

9.2.1. SOCIEDADES POR COMANDITA.…………………………………………………………..………………….……………187

9.2.2. SOCIEDADES EM NOME COLECTIVO………………………………………………………………………………………189

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9.2.3. SOCIEDADES POR QUOTAS………………………………………………………………………………………………………190

9.2.4. SOCIEDADES ANÓNIMAS..……………………………………………………………………………………………………….191

CAPITULO X – SECTOR ECONÓMICO COOPERATIVO................................................................................ 208


10.4.1. SECTOR COOPERATIVO DO EMPRESARIADO DO SECTOR PRIMÁRIO DA ECONOMIA ..................... 212

10.4.2. SECTOR COOPERATIVO SOCIAL ...................................................................................................... 212

10.4.3. SECTOR COOPERATIVO DE COMÉRCIO, CONSTRUÇÃO, CRÉDITO, CONSUMO, TRANSPORTE,


SEGUROS E SERVIÇOS ..................................................................................................................................... 212

10.5. CLASSIFICAÇÃO DAS COOPERATIVAS.................................................................................................. 212

10.5.1. COOPERATIVISMO ESTIMULADO ................................................................................................... 212

10.5.2. COOPERATIVISMO ESPONTÂNEO ................................................................................................... 212

10.5.3. COOPERATIVISMO OBRIGATÓRIO .................................................................................................. 212

10.5.4. COOPERATIVAS DE PRIMEIRO GRAU .............................................................................................. 213

10.5.5. COOPERATIVAS DE SEGUNDO LUGAR OU DE GRAU SUPERIOR ...................................................... 213

10.5.6. COOPERATIVAS POLIVALENTES ...................................................................................................... 213

CAPITULO XI – ACESSO ACTIVIDADE ECONOMICA E DELIMITAÇAO, RESTRIÇOES E RESERVAS


PUBLICAS.…………………………………………………………………………………………………………………………………….197

11.1. INTRODUÇÃO………………………………………………………………………………………………………………………………………197

11.1.1. RESERVAS ABSOLUTAS………………………………………………………………………………………………………………………197

11.1.2. RESERVA DE CONTROLO……….…………………………………………………………………………………………………………..198

11.1.3. RESERVA RELATIVA ,,………………………………………………………………………………………………………………………..200

CAPITULO XII – FENOMENO DAS PRIVATIZAÇÕES ................................................................................... 220


12.6. FASES DO PROCESSO DA PRIVATIZAÇÃO ............................................................................................ 228
12.8. REPRIVATIZAÇÃO ............................................................................................................................... 230

12.9. DEVOLUÇÃO ....................................................................................................................................... 231

12.10. REDIMENSIONAMENTO ................................................................................................................. 231

CAPITULO XIII – DIREITO DE CONCORRENCIA E LIVRE INICIATIVA ECONOMICA……………………………..214

13.1. DIREITO DE CONCORRÊNCIA……………………………………………………………………………………………………………212

13.2. A LIVRE CONCORRÊNCIA………………………………………………………………………………………………………………….212

13.3. A CONCORRÊNCIA PERFEITA………………………………………………………………………………………………..………….214

13.4. A CONCORRÊNCIA IMPERFEITA……………………………………………………………………………………………………….216

13.4.1. DUMPING DE PREÇOS….…………………………………………………………………………………………………………………216

13.4.2. PREÇOS PREDATÓRIOS……………………………………………………………………………………………………………………217

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13.4.3. MONOPÓLIOS…..…………………………………………………………………………………………………………………………….218

13.4.4. OLIGOPÓLIOS.…………………………………………………………………………………………………………………………………220

13.4.5. DUOPÓLIOS…………………………………………………………………………………………………………………………………….220

13.4.6. CARTEL………………………………………………….………………………………………………………………………………………222

13.4.7. JOGOS…….………………………………………………………………………………………………………………………………………223

13.4.8. ABUSO DE POSIÇÃO DOMINANTE…………………………………………………………………………………………..……….223

13.4.9. ABUSO DE DEPENDENCIA ECONOMICA…………………………………………………………………………………………..227

13.4.10. ACORDOS RESTRITIVOS DA CONCORRÊNCIA……………………………….………………………………………………….227

13.4.11. VENDAS SUBORDINADAS………………………………………………………………………………………………………..………228

13.4.12. VENDAS AGRUPADAS……………………………………………………………………………………………………………………..230

13.4.13. AUXÍLIO DO ESTADO……………………………………………………………………………………………………………………….231

13.5. O SISTEMA DE CONCORRENCIA……………………………………………………………………………………………………….232

13.5.1. AUTORIDADES DA CONCORRENCIA……………………………………………………………………………………………,….233

13.5.2. DIREITO PENAL DE CONCORRENCIA COMO ULTIMO RÁCIO DA PROTECÇÃO DO MERCADO…………….234

13.5.3. O FUNDAMENTO JURIDICO - DOGMÁTICO PARA CRIMINALIZAÇÃO DAS OFENSAS A LIBERDADE DE


CONCORRÊNCIA…………………………………..…………..………………………………………………………………………………………….235

13.5.4. A CONCORRENCIA COMO BEM JURIDICO ECONÓMICO DIGNO DE TUTELA PENAL …...…………………….236

13.5.5. O TIPO OBJECTIVO DO ILICITO. OBJECTO DA CONDUTA….……………………………………………………………….237

13.5.6. SANÇÕES PENAIS ECONÓMICAS……………………………………………………………………………………………………..238

13.5.7. O TIPO LEGAL DO CRIME DE CONCORRÊNCIA. CRIME DE PERIGO E CRIME DE DANO……………………….239

13.6. BRAQUEAMENTO DE CAPITAIS ……………………………………………………………………………………………………………239

CAPITULO XIV – OS CONTRATOS ECONÓMICOS....................................................................................... 267


14.2. MODALIDADES DOS CONTRATOS ECONÓMICOS ................................................................................ 269

14.2.1. CONTRATOS-PROGRAMA ............................................................................................................... 269

14.2.2. CONTRATOS DE DESENVOLVIMENTO EM GERAL ............................................................................ 270

14.2.3. CONTRATOS FISCAIS....................................................................................................................... 270

14.2.4. CONTRATOS DE AUXÍLIO FINANCEIRO............................................................................................ 270

14.2.5. CONTRATO DE INCITAÇÃO ............................................................................................................. 270

14.2.6. AUXÍLIOS DE ESTADO ..................................................................................................................... 270

14.2.7. CONTRATOS DE CONCESSÃO .......................................................................................................... 272

14.2.8. CONTRATO DE CONCESSÃO DE EXPLORAÇÃO DE ACTIVIDADE ....................................................... 277


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Manual de Direito Económico Francisco Mário
14.3.8. CONTRATO DE CONCESSÃO DE GESTÃO DA EXPLORAÇÃO DE BENS ............................................... 277

14.3.9. CONTRATO DE CONCESSÃO DE GESTÃO DE EMPRESAS .................................................................. 278

14.3.10. CONTRATO ECONÓMICO OU CONCERTAÇÃO SOCIAL................................................................. 278

CAPITULO XV- PARCERIA PÚBLICO-PRIVADAS ......................................................................................... 280


15.2. CLASSIFICAÇÃO DAS PARCERIAS PÚBLICO-PRIVADAS NA ORDEM ECONÓMICA ANGOLANA .............. 283

15.4. O CONTRATO DE CONCESSÃO DE SERVIÇOS PÚBLICO ........................................................................ 283

15.6. O CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS ....................................................................................... 284

15.7. O CONTRATO DE GESTÃO ................................................................................................................... 284

15.8. O CONTRATO DE COLABORAÇÃO ....................................................................................................... 284

15.9. PRESSUPOSTOS PARA A FORMAÇÃO DE PPP ...................................................................................... 284

15.10. CLASSIFICAÇÃO DO RISCO DAS PPPS .............................................................................................. 286

15.11. INVESTIMENTO PRIVADO ............................................................................................................... 286

15.11.1. INVESTIMENTO PRIVADO EXTERNO ........................................................................................... 287

CAPITULO XVI – O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO………………………..…………………………………………263

16.1. ASPECTOS GERAIS DO SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO .................................................................. 288

16.2. INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS DO SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO .................................................. 290

16.2.1. INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS BANCÁRIAS........................................................................................ 290

16.2.2. INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NÃO BANCÁRIAS ............................................................................... 291

16.3. SUPERVISÃO, VERSUS, REGULAÇÃO FINANCEIRA NO SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO .................. 292

16.3.1. DEPARTAMENTO DE SUPERVISÃO DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS DO BNA (DSB)....................... 294

16.3.2. AGÊNCIA ANGOLANA DE REGULAÇÃO E SUPERVISÃO DE SEGUROS DE ANGOLA ........................... 296

16.3.3. ORGANISMO DE SUPERVISÃO DO MERCADO DE VALORES MOBILIÁRIOS ...................................... 298

16.3.4. INSTITUTO DE SUPERVISÃO DOS JOGOS......................................................................................... 301

16.3.5. CONSELHO NACIONAL DE ESTABILIDADE FINANCEIRO (CNEF)........................................................ 302

CAPITULO XVII – ANÁLISE ECONÓMICA DO DIREITO ............................................................................... 303


17.1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 303

17.2. TEORIA ECONÓMICA DO DIREITO CIVIL .............................................................................................. 304

17.3. TEORIA ECONÓMICA DO PROCESSO JUDICIAL .................................................................................... 305

17.4. TEORIA ECONÓMICA DA RESPONSABILIDADE CIVIL ........................................................................... 307

CAPITULO XVIII - DIREITO ECONÓMICO COMUNITÁRIO DA SADC ......................................................... 308


18.1. ORIGEM E CONSTITUIÇÃO DA SADC ................................................................................................... 308

18.2. ESTRUTURA INSTITUCIONAL DA SADC ................................................................................................ 309

18.3. MODELO DE INTEGRAÇÃO ECONÓMICA REGIONAL ........................................................................... 309

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18.5. OS POSSÍVEIS EFEITOS DA LIBERALIZAÇÃO SOBRE A SEGURANÇA ALIMENTAR E MEIOS DE
SUBSISTÊNCIA RURAL ..................................................................................................................................... 311

18.6. A AGENDA DA SADC ........................................................................................................................... 312

18.6.1. A INTEGRAÇÃO NEGATIVA ............................................................................................................. 313

18.6.2. A INTEGRAÇÃO POSITIVA ............................................................................................................... 313

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................................................................... 314

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ABREVIATURAS

AADIC Associação Angolana dos Direitos do Consumidor

AAFDL Associação Académica da Faculdade de Direito de Lisboa


AAVV Autores Vários

AED Análise Económica do Direito

AN Assembleia Nacional

Apud, Junto a; em… (citação de um autor ou de uma obra)

ARSEG Agência Angolana dos Seguros de Angola

Art. Artigo

BNA Banco Nacional de Angola

BODIVA Bolsa de Dívida de Valores de Angola

BPN Banco Português de Negócio

BUE Balcão Único do Empreendedor

CC Código Civil

CE Constituição Económica

CF Código de Família

CGT Código Geral Tributário

CMC Comissão de Mercado de Capitais

COTONANG Companhia Algodoeira de Angola

CP Código Penal

CP Constituição Política

CPC Código do Processo Civil

CPP Código do Processo Penal

CRA Constituição da República de Angola

CVM Código dos Valores Mobiliários

DP Decreto Presidencial

DUDH Declaração Universal dos Direitos do Homem


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E.P. Empresas Públicas

EMATEB Empresa de Materiais Escolares de Benguela

ENDIAMA Empresa Nacional de Diamantes de Angola

ENANA Empresa Nacional de Navegação Aérea

ENSA Empresa Nacional de Seguros de Angola

EU União Europeia

FDUL Faculdade De Direito da Universidade de Lisboa

FDUMN Faculdade de Direito da Universidade Mandume Ya Ndemufayo

FMI Fundo Monetário Internacional

FSDEA Fundo Soberano de Angola

GATT General Agreement on Tariffs and Trade (Acordo Geral sobre Tarifas e
Comércio)

Ibidem Na mesma Obra

IDEF Instituto de Direito Económico e Financeiro

INEFOP Instituto Nacional de Formação Profissional

INAPEM Instituto Nacional de Apoio Pequenas e Médias Empresas

LAC Lei das Associações Comerciais

LAJ Lei da Actividade de Jogos

LBNA Lei do Banco Nacional de Angola

LBSEP Lei de Bases do Sector Empresarial Público

LConc. Lei da Concorrência

LCGC Lei das Cláusulas Gerais dos Contractos

LCP Lei dos Contratos Públicos

LDC Lei da Defesa do Consumidor

LEFN Lei do Fomento ao Empresariado Nacional

LGT Lei Geral do Trabalho

LIF Lei das Instituições Financeiras


15
Manual de Direito Económico Francisco Mário
LIP Lei de Investimento Privado

LOPTC Lei Orgânica do Processo do Tribunal de Contas

LP Lei das Privatizações

LPN Lei do Plano Nacional

LPPs Lei das Parcerias Públicos Privado

LSC Lei das Sociedades Comerciais

LT Lei de Terras

Ob. Cit. Obra Citada

OGE Orçamento Geral do Estado

OMA Organização Mundial das Alfandegas

OMC Organização Mundial do Comércio

OPA Oferta Pública de Aquisição

PAC Política Agrícola Comum

Pág. Página

PAPAGRO Programa de Aquisição dos Produtos Agro-Pecuários

PGPPP Plano Geral das Parcerias Público-Privadas

PPP Parceria Pública Privado

PREI Programa de Reforma de Economia Informal

PROF Professor

SADC Comunidade de Desenvolvimento da África Austral

SEF Saneamento Económico Financeiro

SONANGOL Sociedade de Combustível de Angola

TAAG Transportes Aéreos de Angola

TFUE Tratado de Funcionamento da União Europeia

UEE União das Empresas Estatais

ZEE Zona Económica Exclusiva

16
Manual de Direito Económico Francisco Mário
NOTA DE APRESENTAÇÃO

O presente trabalho como Manual do Direito Económico, destina-se especialmente a


Comunidade Académica Universitária do 3º Ano Jurídico do Curso de Licenciatura em
Direito.

Neste passo, é evidente que em função do nosso pensamento este Manual contém uma
ilustre análise sistemática científica dos conceitos básicos do Direito Económico, todavia,
faz uma abordagem integradora de utilidade académica universitária na dupla vertente
científica e didáctica reputada na formação do jurista capaz de dar uma resposta jurídico-
económica dos problemas que oscilam em torno do instituto de Mercado e o papel
regulador do Estado duma nação que renasce na reconstrução económica, cujo desígnio é
o desenvolvimento económico e social sustentável de Angola coberto de justiça social, sob
vigilância do Direito através da Regulação e Supervisão genérica do processo económico.

Porque o impacto e a importância do Direito na determinação dos resultados económicos


vai oferecer ao aplicador do Direito ferramentas económicas na resolução de casos
judiciais, na criação de políticas públicas e em outras situações diversas, e, cujo único ponto
de convergência é o uso da Economia para a criação de Leis “melhores” e mais eficientes.
O jurista da actual sociedade global deve interpretar a Lei e enquadrar os fenómenos
económicos sociais para realização do bem-estar do homem, ou seja, um Direito eficiente
ao serviço da humanidade que procura soluções racionalizáveis em que a tutela da
confiança do sistema jurídico é o núcleo natural da liberdade económica.

Atento que, as sociedades democráticas a partir da penúltima metade do século XX até


actualmente assistiram uma crescente veneração pelo Estado, aceitação fatalista de
existência de tendências de inevitáveis intervencionistas de um “capitalismo organizado”,
“regulado ou guiado”2, e, “gerido” que, celebre KEYNES mestre de economia escocesa, sua
memoria considerava de economia de “casino planetário”3, que nos faz produzir um

2 Mais desenvolvimento, ver SHUMPTER, J. A. (1926-1996), na sua obra: Capitalism, Socialism,and Democracy
(1942), Pág. 43, apud, FREIRE, MARIA PAULA – “Eficiência Económica e Restrições Verticais” editora AAFDL
2008, Pág.21.
3 Tipos de Capitalismo:

i- Capitalismo Liberal - ADAM SMITH antes do século XX, liberdade individual, defesa da
propriedade privada, liberdade económica, livre concorrência, condições infra-humanas dos
trabalhadores.
ii- Capitalismo Pós-liberal - Início do século XX, Intervenção do Estado, hetero-regulação pública,
restrição das liberdades.
iii- Capitalismo Liberalismo com cariz social - Pós 1ª Guerra Mundial, auto-gestão, movimentos
sindicais, cooperativos, e sociais.
iv- Capitalismo do Estado Providência - As actividades produtivas de serviços aumentam em
detrimento da indústria, medicina, habitação, educação gratuita, etc.
v- Capitalismo Neo-liberalismo – da dama de ferro ex: primeira ministra da Inglaterra MARGARET
TATCHER começou nos anos 70 com as privatizações, liberalização das actividades económicas,
abertura, desregulamentação dos Mercados, teoria globalizante.
vi- Capitalismo de infra-estrutura ou terceira vai de 3ª Via (TONY BLAIR ex. primeiro ministro
britânico) Tentativa de conciliação entre a velha social-democracia e o movimento neo-liberal.
17
Manual de Direito Económico Francisco Mário
pensamento evidenciado de aproximação entre as grandes dicotomias de sistemas
económicos, ou modo de produção, designadamente: Sistema Socialista e Sistema
Capitalista e que ao nosso ver os dois sistemas sobrevivem algemados por termologia de
menor débito e não já pelos factores tradicionais da sua proclamação da competitividade
de um lado e, por outro da planificação.

Qualquer modo à primeira parte, previamente, dedica-se a um corpo normativo tipicizado


na “Lei Fundamental” com relevância jurídico – económica, e, a seguir, uma abordagem da
dogmática do Direito Económico, fontes do Direito Económico, na segunda parte referir-se-
á largamente aos princípios estruturantes e científicos do Direito Económico e alicerçados
na charneira da Constituição Económica como expressão máxima que representa de certo
modo um dos acabados objectivos de ordenação da economia, como emancipação da ordem
económica e do pensamento político constitucional e, na parte final do percurso, a
organização económica postulada nos órgãos da direcção da Administração Económica
directa e indirecta4, e, temas sobre o sistema financeiro, regulação, fundo soberano e
análise económica do direito, terminando com abordagem do Direito Económico
comunitário da SADC.

Sem ignorar a diversidade de contribuições das várias famílias e especialistas jurídicas que
subjazem para o desenvolvimento do Direito da Economia em Angola, sem para tal invadir
a fronteira do terreno do território alheio das disciplinas curriculares do ensino de Direito
leccionadas nas instituições académicas.

Mas contudo, importa assinalar que por questões obvias, seguramente vamos atravessar o
perímetro da fisionomia de diversas praças e avenidas de conhecimentos científicos
autorizadas da doutrina do Direito de outras áreas, para buscar e, em evidências
circunstâncias tomar de empréstimo algumas ferramentas jurídicas que servem de arrimo
do Direito Económico, por termos optado pela leitura das renomadas obras nacionais e
estrangeiras que patenteiam a absorção e reprodução do pensamento desses
doutrinadores, pois, o Direito não é estanque e ela é de construção nova, por isso, não temos
a pretensão de sermos originais, mas apenas a transmitir ao leitor, de forma resumida o
nosso pensamento. Aliás, como nota GOMES CANOTILHO, na perspectiva da economia
ambiental, “o jurista das ciências jurídico - económicas deve confessar a sua humildade e
reconhecer que sem o amparo de outros ramos do Direito não é possível edificar um corpus
teórico suficientemente autónomo para abarcar todas as multidimensionalidades dos
problemas económicos”5.

Apesar neste exame de estudo não se deve seguir uma via muito abrangente que conduza
a uma abordagem essencialmente informativa e descritiva do conjunto das matérias, mas

4 À luz dos princípios do Estado económico unitário e dos princípios de desconcentração e descentralização
administrativa económica, nos termos do proemio do art. 8º, da CRA.
5 Cfr. CANOTILHO, J.J. GOMES. - juridicização ou ecologização do Direito, In RJUA 1995, n º 4, Pág. 69 - 76.

18
Manual de Direito Económico Francisco Mário
antes operar uma selecção rigorosa que permita um estudo sistemático e com razoável
aprofundamento das matérias seleccionadas.

Portanto, acreditamos que estes pequenos escritos revistam – se de alguma utilidade como
guia de investigação, e, com esperança de que os leitores ao tomar contacto possam corrigir
e fazer nele as contribuições julgadas valiosas, porque entendemos que a semblante do
nosso texto apresenta imensas gralhas que precisam ser sufragadas por olhar de terceiros,
pois errar é humano, e, como é óbvio, ninguém é juiz da sua causa, só erra quem trabalha,
como diz aquele adágio popular “a água do rio para chegar até foz do rio junto ao mar onde
desagua atravessa o caminho sinuoso de pesar”.

Não queremos justificar com isso o nosso incipiente esforço e carestia de rigor técnico para
produzir um conhecimento científico adequado a este nível, porque as gralhas muitas delas
comprometem a nossa comunicação pretendida e requerida por esta academia e pelo leitor
avisado. Porém, nós reconhecemos que em Angola nem é tudo é fácil.

Francisco Mário

Março 2018

19
Manual de Direito Económico Francisco Mário
NORMAS CONSTITUCIONAIS COM MAIOR RELEVÂNCIA ECONÓMICA

A Constituição de 2010, também conhecida na lide doutrinária angolana como Constituição


Política de CARLOS MARIA FEIJÓ6, de modo geral ela sinaliza como sendo uma Constituição
largamente económica, pois que, nela estão inseridas normas constitucionais com
relevância jurídico-económicas, atento o conteúdo e o desiderato que visam granjear.

Neste passo, podemos indicar os conteúdos de preceitos de certas normas com relevância,
ou de interesse económico na Constituição promulgada, aos 5 dias de Fevereiro de 2010,
nomeadamente:

Artigo 1º

(República de Angola)

Angola é uma República soberana e independente baseada na dignidade da pessoa humana


e na vontade do povo angolano, que tem como objectivo fundamental a construção de uma
sociedade livre, justa, democrática, solidária, de paz, igualdade e progresso social.

Artigo 2º

(Estado Democrático de Direito)

1. A República de Angola é um Estado Democrático de Direito que tem como fundamentos


a soberania popular, o primado da Constituição e da Lei, a separação de poderes e
interdependência de funções, a unidade nacional, o pluralismo de expressão e de
organização política e a democracia representativa e participativa.

2. A República de Angola promove e defende os direitos e liberdades fundamentais do


Homem, quer como indivíduo, quer como membro de grupos sociais organizados, e
assegura o respeito e a garantia da sua efectivação pelos poderes legislativo, executivo e
judicial, seus órgãos e instituições, bem como por todas as pessoas singulares e colectivas.

Artigo 3º

(Soberania)

1. A soberania, una e indivisível, pertence ao povo que a exerce através do sufrágio


universal, livre, igual, directo, secreto e periódico, do referendo e das demais formas
estabelecidas pela Constituição, nomeadamente para a escolha dos seus representantes.

2. O Estado exerce a sua soberania sobre a totalidade do território angolano,


compreendendo este, nos termos da presente Constituição, da lei e do direito internacional,

6FEIJÓ, CARLOS MARIA, - Coordenador da Comissão Técnica da Elaboração da Constituição da República de


Angola de 2010.
20
Manual de Direito Económico Francisco Mário
a extensão do espaço terrestre, as águas interiores e o mar territorial, bem como o espaço
aéreo, o solo e o subsolo, o fundo marinho e os leitos correspondentes.

3. O Estado exerce jurisdição e direitos de soberania em matéria de conservação,


exploração e aproveitamento dos recursos naturais, biológicos e não biológicos na zona
contígua, na zona económica exclusiva e na plataforma continental, nos termos da Lei e do
direito internacional.

Artigo 5º

(Organização do Território)

1. O território da República de Angola é o historicamente definido pelos limites geográficos


de Angola tais como existentes a 11 de Novembro de 1975, data da Independência Nacional.

2. O disposto no número anterior não prejudica as adições que tenham sido ou que venham
a ser estabelecidas por tratados internacionais.

3. A República de Angola organiza-se territorialmente, para fins político- administrativos,


em Províncias e estas em Municípios, podendo ainda estruturar-se em Comunas e em entes
territoriais equivalentes, nos termos da Constituição e da Lei.

4. A definição dos limites e das características dos escalões territoriais, a sua criação,
modificação ou extinção no âmbito da organização político- administrativa, bem como a
organização territorial para fins especiais, tais como económicos, militares, estatísticos,
ecológicos ou similares, são fixados por Lei.

5. A Lei fixa a estruturação, a designação e a progressão das unidades urbanas e dos


aglomerados populacionais.

6. O território angolano é indivisível, inviolável e inalienável, sendo energicamente


combatida qualquer acção de desmembramento ou de separação de suas parcelas, não
podendo nenhuma parte do território nacional ou dos direitos de soberania que sobre ele
o Estado exerce, ser alienada.

Artigo 6º

(Supremacia da Constituição e Legalidade)

1. A Constituição é a Lei suprema da República de Angola.

2. O Estado subordina-se à Constituição e funda-se na legalidade, devendo respeitar e fazer


respeitar as leis.

3. As leis, os tratados e os demais actos do Estado, dos órgãos do poder local e dos entes
públicos em geral, só são válidos se forem conformes à Constituição.

21
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Artigo 8º

(Estado Unitário)

A República de Angola é um Estado unitário que respeita na sua organização os princípios


da autonomia dos órgãos do poder local e da desconcentração e descentralização
administrativas, nos termos da Constituição e da Lei.

Artigo 13º

(Direito Internacional)

1. O direito internacional geral ou comum faz parte integrante da ordem jurídica angolana.

2. Os tratados e acordos internacionais regularmente aprovados ou ratificados, vigoram na


ordem jurídica angolana após a sua publicação oficial e entrada em vigor na ordem jurídica
internacional e enquanto vincularem internacionalmente o Estado angolano.

3. Os actos jurídicos emanados dos órgãos competentes das organizações internacionais de


que Angola seja parte vigoram na ordem jurídica interna, desde que tal esteja estabelecido
nos respectivos tratados constitutivos.

Artigo 14º

(Propriedade Privada e Livre Iniciativa)

O Estado respeita e protege a propriedade privada das pessoas singulares ou colectivas e a


livre iniciativa económica e empresarial exercida nos termos da Constituição e da Lei.

Artigo 15º

(Terra)

1. A terra constitui propriedade originária do Estado que a gere e administra em nome do


povo angolano.

2. A terra pode ser transmitida às pessoas singulares ou colectivas, tendo em vista o seu
racional e efectivo aproveitamento, nos termos da Constituição e da Lei.

3. São reconhecidos, às comunidades locais, o acesso e o uso das terras, nos termos da Lei.

4. O disposto nos números anteriores não prejudica a possibilidade de expropriação por


utilidade pública mediante justa indemnização, nos termos da Lei.

Artigo 16º

(Recursos Naturais)

Os recursos naturais, sólidos, líquidos ou gasosos existentes no solo, subsolo, no mar


territorial, na zona económica exclusiva e na plataforma continental sob jurisdição de
22
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Angola são propriedade do Estado, que determina as condições para a sua concessão,
pesquisa e exploração, nos termos da Constituição, da Lei e do Direito Internacional.

Artigo 21º

(Tarefas Fundamentais do Estado)

Constituem tarefas fundamentais do Estado angolano:

a) Garantir a independência nacional, a integridade territorial e a soberania nacional;

b) Garantir os direitos, liberdades e garantias fundamentais;

c) Criar progressivamente as condições necessárias para tornar efectivos os direitos


económicos, sociais e culturais dos cidadãos;

d) Promover o bem-estar, a solidariedade social e a elevação da qualidade de vida do povo


angolano, designadamente dos grupos populacionais mais desfavorecidos;

e) Promover a erradicação da pobreza;

f) Promover políticas que permitam tornar universais e gratuitos os cuidados primários de


saúde;

g) Promover políticas que assegurem o acesso universal ao ensino obrigatório gratuito, nos
termos definidos por Lei;

h) Promover a igualdade de direitos e de oportunidades entre os angolanos, sem


preconceitos de origem, raça, filiação partidária, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas
de discriminação;

i) Efectuar investimentos estratégicos, massivos e permanentes no capital humano, com


destaque para o desenvolvimento integral das crianças e dos jovens, bem como na
educação, na saúde, na economia primária e secundária e noutros sectores estruturantes
para o desenvolvimento auto-sustentável;

j) Assegurar a paz e a segurança nacional;

k) Promover a igualdade entre o homem e a mulher;

l) Defender a democracia, assegurar e incentivar a participação democrática dos cidadãos


e da sociedade civil na resolução dos problemas nacionais;

m) Promover o desenvolvimento harmonioso e sustentado em todo o território nacional,


protegendo o ambiente, os recursos naturais e o património histórico, cultural e artístico
nacional;

23
Manual de Direito Económico Francisco Mário
n) Proteger, valorizar e dignificar as línguas angolanas de origem africana, como
património cultural e promover o seu desenvolvimento, como línguas de identidade
nacional e de comunicação;

o) Promover a melhoria sustentada dos índices de desenvolvimento humano dos


angolanos;

p) Promover a excelência, a qualidade, a inovação, o empreendedorismo, a eficiência e a


modernidade no desempenho dos cidadãos, das instituições e das empresas e serviços, nos
diversos aspectos da vida e sectores de actividade;

q) Outras previstas na Constituição e na Lei.

Artigo 23º

(Princípio da Igualdade)

1. Todos são iguais perante a Constituição e a Lei.

2. Ninguém pode ser prejudicado, privilegiado, privado de qualquer direito ou isento de


qualquer dever em razão da sua ascendência, sexo, raça, etnia, cor, deficiência, língua, local
de nascimento, religião, convicções políticas, ideológicas ou filosóficas, grau de instrução,
condição económica ou social ou profissão.

Artigo 27º

(Regime dos Direitos, Liberdades e Garantias)

Os princípios enunciados neste capítulo são aplicáveis aos direitos, liberdades e garantias
e aos direitos fundamentais de natureza análoga estabelecidos na Constituição,
consagrados por lei ou por convenção internacional.

Artigo 29º

(Acesso ao Direito e Tutela Jurisdicional Efectiva)

1. A todos é assegurado o acesso ao direito e aos tribunais para defesa dos seus direitos e
interesses legalmente protegidos, não podendo a justiça ser denegada por insuficiência dos
meios económicos.

2. Todos têm direito, nos termos da Lei, à informação e consulta jurídicas, ao patrocínio
judiciário e a fazer-se acompanhar por advogado perante qualquer autoridade.

3. A Lei define e assegura a adequada protecção do segredo de justiça.

4. Todos têm direito a que uma causa em que intervenham seja objecto de decisão em prazo
razoável e mediante processo equitativo.

24
Manual de Direito Económico Francisco Mário
5. Para defesa dos direitos, liberdades e garantias pessoais, a Lei assegura aos cidadãos
procedimentos judiciais caracterizados pela celeridade e prioridade, de modo a obter tutela
efectiva e em tempo útil contra ameaças ou violações desses direitos.

Artigo 37º

(Direito de Propriedade, Requisição e Expropriação)

1. 1. A todos é garantido o direito à propriedade privada, bem como à sua transmissão, nos
termos da Constituição e da Lei.

2. O Estado respeita e protege a propriedade e demais direitos reais das pessoas singulares,
colectivas e das comunidades locais, só sendo permitida a requisição civil temporária e a
expropriação por utilidade pública, mediante justa, pronta e adequada indemnização, nos
termos da Constituição e da Lei.

3. O pagamento da indemnização a que se refere o número anterior é condição de eficácia


da expropriação.

Artigo 38º

(Direito à Livre Iniciativa Económica)

1. A iniciativa económica privada é livre, sendo exercida com respeito pela Constituição e
pela Lei.

2. A todos é reconhecido o direito à livre iniciativa empresarial e cooperativa, a exercer nos


termos da Lei.

3. A Lei promove, disciplina e protege a actividade económica e os investimentos por parte


de pessoas singulares ou colectivas privadas, nacionais e estrangeiras, a fim de garantir a
sua contribuição para o desenvolvimento do país, defendendo a emancipação económica e
tecnológica dos angolanos e os interesses dos trabalhadores.

Artigo 39º

(Direito ao Ambiente)

1. Todos têm o direito de viver num ambiente sadio e não poluído, bem como o dever de o
defender e preservar.

2. O Estado adopta as medidas necessárias à protecção do ambiente e das espécies da flora


e da fauna em todo o território nacional, à manutenção do equilíbrio ecológico, à correcta
localização das actividades económicas e à exploração e utilização racional de todos os
recursos naturais, no quadro de um desenvolvimento sustentável e do respeito pelos
direitos das gerações futuras e da preservação das diferentes espécies.

3. A Lei pune os actos que ponham em perigo ou lesem a preservação do ambiente.

25
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Artigo 49º

(Liberdade de Associação Profissional e Empresarial)

1. É garantida a todos os profissionais liberais ou independentes e em geral a todos os


trabalhadores por conta própria, a liberdade de associação profissional para a defesa dos
seus direitos e interesses e para regular a disciplina deontológica de cada profissão.

2. As associações de profissionais liberais ou independentes regem-se pelos princípios da


organização e funcionamento democráticos e da independência em relação ao Estado, nos
termos da Lei.

3. As normas deontológicas das associações profissionais não podem contrariar a ordem


constitucional, os direitos fundamentais da pessoa humana e a Lei.

Artigo 50º

(Liberdade Sindical)

1. É reconhecida aos trabalhadores a liberdade de criação de associações sindicais para a


defesa dos seus interesses individuais e colectivos.

2. É reconhecido às associações sindicais o direito de defender os direitos e os interesses


dos trabalhadores e de exercer o direito de concertação social, os quais devem ter em
devida conta os direitos fundamentais da pessoa humana e das comunidades e as
capacidades reais da economia, nos termos da Lei.

3. A Lei regula a constituição, filiação, federação, organização e extinção das associações


sindicais e garante a sua autonomia e independência do patronato e do Estado.

Artigo 57º

(Restrição de Direitos, Liberdades e Garantias)

1. A Lei só pode restringir os direitos, liberdades e garantias nos casos expressamente


previstos na Constituição, devendo as restrições limitar-se ao necessário, proporcional e
razoável numa sociedade livre e democrática, para salvaguardar outros direitos ou
interesses constitucionalmente protegidos.

2. As leis restritivas de direitos, liberdades e garantias têm de revestir carácter geral e


abstracto e não podem ter efeito retroactivo nem diminuir a extensão e o alcance do
conteúdo essencial dos preceitos constitucionais.

Artigo 74º

(Direito de Acção Popular)

Qualquer cidadão, individualmente ou através de associações de interesses específicos, tem


direito à acção judicial, nos casos e termos estabelecidos por Lei, que vise anular actos
26
Manual de Direito Económico Francisco Mário
lesivos à saúde pública, ao património público, histórico e cultural, ao meio ambiente e à
qualidade de vida, à defesa dos consumidores, à legalidade dos actos da administração e
demais interesses colectivos.

Artigo 76º

(Direito ao Trabalho)

1. O trabalho é um direito e um dever para todos.

2. Todo o trabalhador tem direito à formação profissional, justa remuneração, descanso,


férias, protecção, higiene e segurança no trabalho, nos termos da Lei.

3. Para assegurar o direito ao trabalho, incumbe ao Estado promover:

a) A implementação de políticas geradoras de pleno emprego;

b) A igualdade de oportunidades na escolha da profissão ou género de trabalho e condições


para que não seja vedado ou limitado por qualquer tipo de discriminação;

c) A formação académica e o desenvolvimento científico e tecnológico, bem como a


valorização profissional dos trabalhadores.

4. É garantida aos trabalhadores a estabilidade no emprego, sendo proibidos os


despedimentos sem justa causa, nos termos da Constituição e da Lei.

Artigo 78º

(Direitos dos Consumidores)

1. O consumidor tem direito à qualidade dos bens e serviços, informação, esclarecimento,


garantia dos seus produtos e protecção na relação de consumo.

2. O consumidor tem direito a ser protegido no fabrico e fornecimento de bens e serviços


nocivos à saúde e à vida, devendo ser ressarcido pelos danos que lhe vier a causar.

3. A publicidade de bens e serviços de consumo é disciplinada por Lei, sendo proibidas


todas as formas de publicidade oculta, indirecta ou enganosa.

4. A lei protege os consumidores e garante a defesa dos seus interesses.

Artigo 85º

(Direito à Habitação e à Qualidade de Vida)

1. Todo o cidadão tem direito a habitação adequada e a qualidade de vida condigna.

2. Incumbe ao Estado promover as condições sociais e económicas para assegurar o direito


à habitação e à qualidade de vida.

27
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Artigo 89º

(Princípios Fundamentais)

1. A organização e a regulação das actividades económicas assentam na garantia geral dos


direitos, liberdades económicas em geral, na valorização do trabalho, na dignidade humana
e na justiça social e em conformidade com os seguintes princípios fundamentais:

a) Papel do Estado de regulador da economia e coordenador do desenvolvimento


económico nacional harmonioso, nos termos da Constituição e da Lei;

b) Livre iniciativa económica e empresarial, a exercer nos termos da Lei;

c) Livre mercado, na base dos princípios e valores da sã concorrência, da moralidade e da


ética, previstos e assegurados por Lei;

d) Respeito e protecção à propriedade e iniciativa privada;

e) Função social da propriedade;

f) Redução das assimetrias regionais e desigualdades sociais;

g) Concertação social;

h) Defesa do consumidor e do ambiente.

Artigo 90º

(Justiça Social)

O Estado promove o desenvolvimento social através de:

a) Adopção de critérios de redistribuição da riqueza que privilegiem os cidadãos e em


particular nos sectores mais vulneráveis e carenciados da sociedade;

b) Promoção da Justiça Social, enquanto incumbência do Estado, através de uma política


fiscal que assegure a justiça, a equidade e a solidariedade em todos os domínios da vida
nacional;

c) Fomento, apoio e regulação da intervenção do sector privado na realização dos direitos


sociais;

d) Remoção dos obstáculos de natureza económica, social, cultural que impeçam a real
igualdade de oportunidades entre os cidadãos;

e) A fruição por todos os cidadãos dos benefícios resultantes do esforço colectivo do


desenvolvimento nomeadamente na melhoria quantitativa e qualitativa do seu nível de
vida.

28
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Artigo 91º

(Planeamento)

1. O Estado coordena, regula e fomenta o desenvolvimento nacional, com base num sistema
de planeamento, nos termos da Constituição e da Lei e sem prejuízo do disposto no artigo
14.º da presente Constituição.

2. O planeamento tem por objectivo promover o desenvolvimento sustentado e


harmonioso do País, assegurando a justa repartição do rendimento nacional, a preservação
do ambiente e a qualidade de vida dos cidadãos.

3. A Lei define e regula o sistema de planeamento nacional.

Artigo 92º

(Sectores Económicos)

O Estado garante a coexistência dos sectores público, privado e cooperativo, assegurando


a todos tratamento e protecção nos termos da Lei.

O Estado reconhece e protege ao uso e fruição de meio de produção pelas comunidades


rurais, nos termos da constituição, da Lei e das normas consuetudinárias.

Artigo 93º

(Reservas Públicas)

1. Constitui reserva absoluta do Estado exercício de actividades de banco central e emissor.

2. A Lei determina e regula as actividades económicas de reserva relativa do Estado, bem


como as condições de acesso às demais actividades económicas.

Artigo 94º

(Bens do Estado)

Os bens do Estado e demais pessoas colectivas de direito público integram o domínio


público ou o domínio privado, de acordo com a Constituição e a Lei.

Artigo 95º

(Domínio Público)

1. São bens do domínio público:

a) As águas interiores, o mar territorial e os fundos marinhos contíguos, bem como os lagos,
lagoas e cursos de águas fluviais, incluindo os respectivos leitos;

29
Manual de Direito Económico Francisco Mário
b) Os recursos biológicos e não biológicos existentes nas águas interiores, no mar
territorial, na zona contígua, na zona económica exclusiva e na plataforma continental;

c) O espaço aéreo nacional;

d) Os jazigos minerais, as nascentes de água minero-medicinais, as cavidades naturais


subterrâneas existentes no subsolo e outros recursos naturais existentes no solo e subsolo
com excepção das rochas, terras comuns e outros materiais habitualmente utilizados como
matéria-prima na construção civil;

e) As estradas e os caminhos públicos, os portos, os aeroportos e as pontes e linhas férreas


públicas;

f) As praias e a zona marítimo-terrestre;

g) As zonas territoriais reservadas a defesa do ambiente, designadamente os parques e


reservas naturais de preservação da flora e fauna selvagens, incluindo as infra-estruturas;

h) As zonas territoriais reservadas aos portos e aeroportos, como tais classificados por lei;

i) As zonas territoriais reservadas para a defesa militar;

j) As zonas territoriais reservadas à defesa do ambiente;

k) Os monumentos e imóveis de interesse nacional, como tais classificados e integrados no


domínio público, nos termos da Lei;

l) Outros bens que forem determinados por lei ou reconhecidos pelo direito internacional.

2. Os bens do domínio público são inalienáveis, imprescritíveis e impenhoráveis.

3. A Lei regula o regime jurídico dos bens do domínio público e define os que integram o do
Estado e das pessoas colectivas de direito público, o regime e formas de concessão, bem
como o regime de desafectação dos referidos bens.

Artigo 96º

(Domínio Privado)

Os bens que não estejam expressamente previstos na Constituição e na Lei como fazendo
parte do domínio público do Estado e demais pessoas colectivas de direito público,
integram o domínio privado do Estado e encontram-se sujeitos ao regime de direito
privado ou a regime especial, sendo a sua administração regulada por Lei.

30
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Artigo 97º

(Irreversibilidade das Nacionalizações e dos Confiscos)

São considerados válidos e irreversíveis todos efeitos jurídicos dos actos de nacionalização
e confisco praticados ao abrigo da Lei competente, sem prejuízo do disposto em legislação
específica sobre reprivatizações.

Artigo 98º

(Direitos Fundiários)

1. A terra é propriedade originária do Estado e integra o seu domínio privado, com vista à
concessão e protecção de direitos fundiários a pessoas singulares ou colectivas, e
comunidades rurais, nos termos da Constituição e da Lei, sem prejuízo do disposto no n.º 3
do presente artigo.

2. O Estado reconhece e garante o direito de propriedade privada sobre a terra, constituído


nos termos da Lei.

3. A concessão pelo Estado de propriedade fundiária privada, bem como a sua transmissão,
apenas são permitidas a cidadãos nacionais, nos termos da Lei.

Artigo 99º

(Sistema Financeiro)

1. O sistema financeiro é organizado de forma a garantir a formação, a captação, a


capitalização e a segurança das poupanças, assim como a mobilização e a aplicação dos
recursos financeiros necessários ao desenvolvimento económico e social, em conformidade
com a Constituição e a Lei.

2. A organização, o funcionamento e a fiscalização das instituições financeiras são


regulados por Lei.

Artigo 100º

(Banco Nacional de Angola)

1. O Banco Nacional de Angola como banco central e emissor assegura a preservação do


valor da moeda nacional e participa na definição das políticas monetária, financeira e
cambial.

2. Lei própria dispõe sobre a organização, funcionamento e as atribuições do Banco


Nacional de Angola.

31
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Artigo 101º

(Sistema Fiscal)

O sistema fiscal visa satisfazer as necessidades financeiras do Estado e outras entidades


públicas, assegurar a realização da política económica e social do Estado e proceder a uma
justa repartição dos rendimentos e da riqueza nacional.

Artigo 102º

(Impostos)

1. Os impostos só podem ser criados por Lei que determina a sua incidência, taxa, benefícios
fiscais e garantias dos contribuintes.

2. As normas fiscais não têm efeito retroactivo, salvo as de carácter sancionatório, quando
sejam mais favoráveis aos contribuintes.

3. A criação de impostos de que sejam sujeitos activos os órgãos do poder local, bem como
a competência para a sua arrecadação, são determinados por Lei.

Artigo 104º

(Orçamento Geral do Estado)

1. O Orçamento Geral do Estado constitui o plano financeiro anual ou plurianual


consolidado do Estado e deve reflectir os objectivos, as metas e as acções contidos nos
instrumentos de planeamento nacional.

2. O Orçamento Geral do Estado é unitário, estima o nível de receitas a obter e fixa os limites
de despesas autorizadas para todos os serviços, institutos públicos, fundos autónomos, da
segurança social, bem como para as autarquias locais em cada ano fiscal e deve ser
elaborado de modo a que todas as despesas nele previstas estejam financiadas.

3. A Lei define as regras da sua elaboração, apresentação, adopção, execução e fiscalização,


bem como o processo a seguir quando não seja aprovado pela Assembleia Nacional nos
prazos definidos pela Constituição.

4. A execução do Orçamento Geral do Estado obedece ao princípio da transparência e da


boa governação e é fiscalizada pela Assembleia Nacional e pelo Tribunal de Contas, em
condições definidas por Lei.

Artigo 105º

(Órgãos de Soberania)

1. São órgãos de soberania o Presidente da República, a Assembleia Nacional e os Tribunais.

32
Manual de Direito Económico Francisco Mário
2. A formação, a composição, a competência e o funcionamento dos órgãos de soberania são
os definidos na Constituição.

3. Os órgãos de soberania devem respeitar a separação e interdependência de funções


estabelecidas na Constituição.

5. O Presidente da República respeita e defende a Constituição, assegura o cumprimento


das leis e dos acordos e tratados internacionais, promove e garante o regular
funcionamento dos órgãos do Estado.

Artigo 198º

(Objectivos e Princípios Fundamentais)

1. A administração pública prossegue, nos termos da Constituição e da Lei, o interesse


público, devendo no exercício das funções reger-se pelos princípios da igualdade,
legalidade, justiça, proporcionalidade, imparcialidade, responsabilização, probidade
administrativa e respeito pelo património público pelo agente público.

2. A prossecução do interesse público deve respeitar os direitos e interesses legalmente


protegidos dos particulares.

Artigo 200º

(Direitos e Garantias dos Administrados)

1. Os cidadãos têm direito de serem ouvidos pela administração pública nos processos
administrativos susceptíveis de afectarem os seus direitos e interesses legalmente
protegidos.

2. Os cidadãos têm direito de serem informados pela administração sobre o andamento dos
processos em que sejam directamente interessados, bem como o de conhecer as decisões
que sobre eles forem tomadas.

3. Os particulares interessados devem ser notificados dos actos administrativos, na forma


prevista por Lei, os quais carecem de fundamentação expressa quando afectem direitos ou
interesses legalmente protegidos.

4. É garantido aos particulares o direito de acesso aos arquivos e registos administrativos,


sem prejuízo do disposto na Lei em matérias relativas à segurança e defesa, o segredo de
Estado, à investigação criminal e à intimidade das pessoas.

33
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Artigo 223º

(Reconhecimento)

1. O Estado reconhece o estatuto, o papel e as funções das instituições do poder tradicional


constituídas de acordo com o direito consuetudinário e que não contrariam a Constituição
e a Lei.

2. O reconhecimento das instituições do poder tradicional obriga as entidades públicas e


privadas a respeitarem, nas suas relações com aquelas instituições, os valores e normas
consuetudinários que se observarem no seio das organizações político-comunitárias
tradicionais e que não sejam conflituantes com a Constituição, nem com a dignidade da
pessoa humana.

34
Manual de Direito Económico Francisco Mário
CAPÍTULO I

1. INTRODUÇÃO AO DIREITO ECONÓMICO

O Direito Económico molda-se à uma disciplina científica e jurídica considerada nova no


radioso do alvorecer da ciência jurídico - económica nascente no ramo do Direito. Seja
como for, tratar do Direito Económico como disciplina jurídica, e como ramo do Direito,
oferece, de início, dois problemas.

O primeiro é externo ao Direito, aquele que se refere à relação entre Economia e o Direito,
como fenómenos sociais. Porém, esses fenómenos sociais apresenta-se fundamentalmente,
sob três formas do padrão jurídico destinado validar as normas jurídicas que reflectem a
natureza económica da sua validade, designadamente: direito natural económico
cosmológico – ligado aos fenómenos de origem cósmica, do universo físico da natureza das
coisas; direito natural económico antropológico – ligado ao fenómeno do homem ser
humano, ou seja, gira em torno do homem como centro autónomo, fim último e seu limite;
e, o direito natural económico teológico – voltada as ideologias crenças religiosas, “máxime”
Deus7.

O segundo, interno ao Direito, envolve as razões pelas quais se criou este novo ramo, e quais
efeitos ele produz sobre o quadro da dogmática clássica.

O Direito Económico após de ter sido primeiramente desenvolvida na Alemanha e na


França, Países com idêntica cultura jurídica, hoje na zona euro marca presença tanto nos
Países de matriz romano - germânico como também influenciou os Países de matriz anglo-
saxónica através da União Europeia, por via do Direito Económico Comunitário8.

Ao mesmo tempo começa a ganhar fascínio nítido de cidadania nos Países lusófonos, sendo
Angola membro dessa comunidade, e, todavia, estas nótulas factológicas subjazem numa
disciplina pedagógica e científica com larga autonomia que vai ganhando o próprio Direito
Económico face a “summa divisio” da dicotomia dos grandes ramos do Direito (Direito
Público/Direito Privado), que vai ser um talhão destes conhecimentos e instruções
metodológicas científicas que contribuem decisivamente para lhe conferir uma relevância
incontornável ao nível nacional e internacional.

7 Cfr. FILHO, ROBERTO LYRA, - O que é o Direito? Editora brasiliense. SP. 20ª reemp. 2011, Pág. 44. No mesmo
sentido vide. LOCKE, JOHN – Dois Tratados do Governo Civil, texto filosófica 70, 2006. Pág.111.
8 Cfr. AZEVEDO, MARIA EDUARDA, – Temas de Direito da Economia, Almedina editora, 2013, Pág. 5.

35
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Pois que, o homem desde antiguidade procura na natureza os bens (recursos naturais) e na
sociedade (serviços) para satisfazer as necessidades vitais (Alimentação, Vestuário e
Habitação) através do processo produtivo, sem em prima facie a intervenção do Direito,
mas, devido o desequilíbrio da estrutura ecológica e mutações sociais foi mister a presença
do Direito no processo produtivo e na economia através da regulação ou intervenção nos
factores de produção, distribuição, comercialização e consumo dos bens e serviços. Pelo
que, importa assinalar que o estádio especial da economia angolana predicada como uma
das economias emergentes voltada no crescimento económico, até então no passado
recente há mais de 15 anos configurava-se numa taxa considerada olímpica no contexto
das economias suportadas pelos recursos naturais e indexadas nos altos preços de Petróleo
com impacto nos Mercados Internacionais, a destacar como não deveria de ser de outra
forma, notadamente a crise que começou atear-se na baixa do preço do Petróleo nos
Mercados Internacionais no último quarteto de 2014 e o mais caleidoscópico preço a
oscilar aos 20 dólares/barril do tipo “Brent” no primeiro trimestre de 2016, pondo o fim o
socialismo festivo (luxo faraónico das elites político-económicas e o povo numa miséria
franciscana)9.
Algumas pressões da comunidade internacional levou à corte dos poderes públicos da
economia angolana tomar colegiadas medidas com repercussões quase imediatas na
economia real e nas Finanças Públicas e Privadas com realce na balança de pagamentos de
transacções correntes (ou simplesmente conta corrente)10, e, nas economias das Finanças
Domésticas porque a balança global apresentava-se deficitária e a despesa nacional11, com
transacções de bens e serviços importados ser excessiva face às disponibilidades de
reservas cambiais e défices orçamentais sucessos pressionando a subida acima do limite
constitucional da dívida soberana e a dilacerar de uma forma espiral as reservas
internacionais liquidas.

Por conseguinte, manifestamente como era de esperar a sociedade exige das instituições
do poder político - económico e de ensino científico universitário alguma resposta
elaborada e adequada para resolução destes dois macrocefálicos problemas fadadas como:
a crise económica e financeira, de um lado; - pois que, “as economias não existem para
estarem em crise, nem para estarem em constante crescimento”12; e, por outro, da

9 Fala-se do Socialismo festivo - luxo faraónico das elites político-económicas e o povo numa miséria
franciscana, com assinalados baixos níveis sociais no sector da educação e saúde, em que os dois sectores
representam no PIB quase 9% do Orçamento ou investimento do Estado por ano, enquanto paradoxalmente
o sector da Defesa representa 21%, do PIB, evidencia aqui uma análise económico do Direito, porquanto na
lógica o País desenvolve a sua economia com sistema de educação e saúde (…), apesar ter sido propalado por
muitas agencias de rating sobre o crescimento económico exponencial, mas esse crescimento infraestrutural
foi desacompanhado pelo crescimento social, daí ser considerado como crescimento de alegoria da caverna.
10 Importa referir que, a Balança de Pagamentos – consiste no sistema de contas que permite registar todas

as operações reais (mercadorias e serviços) e todas as operações financeiras (créditos e investimentos) de


um País com o resto do mundo durante um certo período, e, está balança de pagamentos internacionais divide
– se: Balança de Transacções Correntes e Balança de Capitais.
11 A despesa nacional - consiste no conjunto de gastos ou despesas públicas do Estado e despesas das famílias

e Empresas Privadas.
12 Cfr. ROHA, ALVES, - Professor da Universidade Católica – Luanda, extrato da dissertação na conferência do

dia 31 de Março de 2016, organizada pela IMOGESTIN – imobiliária no Município do Lobito, sobre o tema
36
Manual de Direito Económico Francisco Mário
diversificação do risco, ou como queiram, da diversificação da economia como actualmente
é apelidado.

Entretanto, os novos ventos da política económica advento das eleições em Angola do novo
Presidente da República no último semestre de 2017, cristalizam e escoaram hino de nova
moral económica e a forma de actuação dos poderes económicos que estavam voltadas
numa indolência económica e financeira de aquisição da nobreza através da repugnância
das coisas significativamente luxuosas que encorajava todos a colocarem – se na posição
de chegar ao poder para acumulação primitiva do capital e da riqueza como preço da
nobreza da nova elite emergente13, agenciada pelo pseudo - decoro partidário de cartão de
militante, e que levou a nova corte económica tomar algumas medidas legislativas,
administrativas e judiciais, com sublinhada referencia da Lei do repatriamento de capitais
indevidamente transferido para o exterior, Lei da Concorrência que acabou com os
monopólios, e frenética diplomacia económica.

Porém, esta atmosfera de ambiente económico tende reabilitar audácia da esperança e


confiança dos credores nacionais e internacionais, entre outras notas aliadas a essa moral
económica são as renovadas relações económicas internacionais subjacentes, ao
empréstimo do FMI, à Angola através de um programa de assistência financeira avaliado
em USD: 3,7.000.000,00 (três virgula sete mil milhões de dólares norte americanos)14,
China USD: 21.000.000.000,00(vinte um mil milhões de dólares norte americanos), entre
outros factores a eleição do DONALD TRUMP da nação mais poderosa do mundo (EUA), a
subida no trono do JAIR BOLSOMARO no Brasil, a crise política – económica na Venezuela
de Presidente comunista NICOLAS MADURO e auto proclamado Presidente INTERINO
JUAN GUAIDÓ, “New Dual” na Europa, designadamente: Brexit (Inglaterra) e do
EMMANUEL MACRON (França) com aposição popular dos coletes amarelos nas ruas de
Paris, na Ásia abrandamento da tensão nuclear na península coreana devido as cimeiras da
Singapura (2018) e Vietname (2019) respectivamente entre os lideres das armas nucleares
dos EUA e Coreia do Norte, os jogos olímpicos do verão de 2018 e do Campeonato do Mundo
de Futebol na Rússia de 2018 e na África Austral o movimento diplomático de auto nível do
respigue da integração dos Países da SADC, sem descurar o afastamento do ROBERT
MUGABE, JACOB ZUMA, sucessão de JOSÉ EDUARDO DOS SANTOS e JOSEF CABILA, bem

“Contexto Económico-Social e o Impacto no Mercado Imobiliário em Angola”, fonte www.angonoticias.


Consultado dia 1 de Abril de 2016.
13 No mesmo sentido Cfr. MONTESQUIEU, JEAN STORBINSKI, - Do Espirito das Leis edições 70, tradução de

Miguel Morgado 2011, Pág. 509, e ss.


14 O FMI indica cinco desafios que Angola deve continuar empenhado em superar:

1- Diversificação económica
2- Estabilização do sistema financeiro.
3- Consolidação orçamental (isto é, melhoria da qualidade da despesa, a redução dos subsídios a preço e de
bens fixados e aplicação de medidas de diversificação da base das receitas não petrolíferas).
4- Redução dos riscos que se colocam à sustentabilidade da dívida.
5- Acelerar a reestruturação das empresas públicas (isto é, melhorar a gestão do risco de crédito nos bancos
públicos bem como o seu sistema de governação).

37
Manual de Direito Económico Francisco Mário
como recente escândalo de “Luanda Leacks”15, e, a crise económica ao nível global e
planetária da pandemia do Covid-19 que arrasou as economias mundiais com realce as
economias petrolíferas com barril de brent a oscilar nos mínimos históricos de 15 dólares
norte americano no Mercado internacional..

Dito isto, seguidamente, o novo poder económico ao encarar o quadro económico do País
apressa-se em tomar algumas medidas económicas para assegurar a reforma do Estado em
sede do cumprimento do mandato e do desiderato eleitoral através de aprimoramento dos
instrumentos de política económica, designadamente: instrumentos de política fiscal,
orçamental, monetária e cambial.

Qua tale, uma das reformas centrais foi de acabar com os monopólios e todas outras formas
de concorrência imperfeita na economia que atentavam fatalmente contra as traves
mestras das estruturas dos princípios de Estado democrático de direito e especialmente a
democracia económica, porquanto em Angola circulava três moedas, nomeadamente:
moeda fiduciária, moeda divisionária e moeda de conhecimento16. E, por via disso,
interpelou-se o poder legislativo para produzir uma Lei da Concorrência, Lei das
Privatizações e melhorar os instrumentos de contratação pública (…), de gestão financeira
e posição do Banco Central na supervisão financeira das instituições financeiras que
operam nos três Mercados (Bancário, Seguro e Capitais ou Valores Mobiliários), que
conduziu o encerramento de alguns Bancos e seguradoras menos avisados ao cumprimento
das suas obrigações, dentre outras medidas contam-se a desburocratização do sistema
económico, restruturação da Administração Púbica Central do Estado (fusão extinção dos
Ministérios governamentais, dos Institutos Púbicos e a nível da Administração Local do
Estado) e a restruturação da Administração indirecta do Estado - o sector empresarial
público do Estado (privatizações), determinação de sistema de câmbio flutuante, taxa de
juro e de inflação, abertura de processos judiciais de casos mediáticos em que são arguidos
figuras sonantes na gestão da coisa pública, pois a justiça e a política apresentam-se com
indicados conteúdos tradicionalmente divergentes17. Entre outros temas, fortalecer as

15 O Consórcio Internacional de Jornalismo de Investigação revelou em 19 de janeiro de 2020 mais de 715 mil
ficheiros, sob o nome de 'Luanda Leaks', que detalham alegados esquemas financeiros de ISABEL DOS
SANTOS e do marido que lhes terão permitido retirar dinheiro do erário público angolano através de paraísos
fiscais.
16 Classifica - se como moeda fiduciária a moeda soberana com curso legal o kwanza, já a moeda divisionária

é efectivamente a moeda cambial com realce o dólar norte-americano e o euro e, por seu turno a moeda de
conhecimento é entendido como ideia de conhecimento por nepotismo, tráfico de influência, bajulação, abuso
do poder, improbidade administrativa, troca de favores, clientelismo, cabritismo, peculato etc. A nossa análise
o conhecimento neste plano era moeda forte em Angola e valência para aquisição de bens e serviços no
Mercado e criar riqueza.
17 Cfr. AV. GIANARIA, FULVIO/MITTONE, ALBERTO – O Advogado Necessário, Almedina editora 2011, Pág.

32. (…) a justiça e a politica a sua distinção configura-se nítida e a contiguidade pode funcionar sob a condição
de dois mundos institucionais e conceituais não emaranharem, por em quando, a jurisdição opera ao serviço
do poder político e quando o poder utiliza a via judicial como percurso de afirmação e conservação, o balanco
pode ressentir-se disso. E a construção prejudica-se irreparavelmente e se a confusão se verifica nos
momentos mais difíceis da luta política ou, após está ter acabado, quando os vencedores pretendem
transformar os vencidos em criminosos. Em tais situações o processo transforma-se em instrumentos de luta
38
Manual de Direito Económico Francisco Mário
relações económicas internacionais por via da diplomacia económica e apelar as fortunas
subterrâneas domiciliadas no exterior e exportadas indevidamente de Angola à custa do
erário público, através de uma política de clemência financeira de integração voluntário e
coercivo (repatriamento de capitais voluntario e coercivo) que veio animar e melhorar a
atmosfera do ambiente de negócio, apesar da recessão económica provocado pela
pandemia do Covid-19, mas tudo isso sob olhar do Direito.

Porquanto, se o interesse geral é de combate a crise e diversificação da economia só será


possível através de Lei-Medida ou Lei-Princípio Económico, por maioria da razão, ou sem
ela, entender-se-á que se deve distribuir, ou redistribuir os sacrifícios económicos e
financeiros para todos Agentes Económicos para evitar as economias subterrâneas ou
riquezas de boleia18, e, por conseguinte, seguramente constituir-se-á mais direitos
subjectivos e objectivos dos Agentes Económicos que antes inexistentes e agora
susceptíveis de nova Regulação do Direito.

Todavia, estes dois tenebrosos problemas bifurcam a nossa ordem económica,


consubstanciados no combate a crise e, outra, os mecanismos de diversificação da
economia rumo ao desenvolvimento económico e social sustentável, como de certo modo
se vê, as crises podem ser consideradas na fenomenologia jurídico-económica de cíclicas.
Porém, serão interessantes, estes arestos económicos serem discutidos em vários sectores
da sociedade e em última análise na Faculdade de Direito e dilucidar aquela dúvida criada
há anos, o porquê se estudava a Economia na Faculdade de Direito como ciências jurídico-
económicas arrumadas, no caso, como disciplina designada de Direito Económico ou
Direito da Economia.

Para examinarmos estas inquietações acima destacadas é natural que o nosso crescimento
científico permite-nos já com humildade ensaiar rapidamente uma proposta de resolução
ilustre, é pertinente pois antes citarmos algumas autoridades científicas que nunca
conviveram connosco por pertencerem o ponteiro do relógio jurídico do tempo da outra
senhora, más as suas ideias dogmáticas não foram tempestivamente afectados pela esta
temporalidade jurídica ou deterioradas pelo tempo, todavia, cristalizam a evidência do
nosso pensamento hodierno.

Desde logo, nas fileiras dos seus militantes científicos denota-se em primeiro lugar, o Prof.
TEIXEIRA RIBEIRO, por ter sido ele em Coimbra o renovador do ensino do Direito da
Economia, ou simplesmente Economia na década dos anos 30 do século passado, no
esplendor da crise de 1929, renovação essa, valorizada na década seguinte, em Lisboa, por

em que cada momento é destinado ao êxito: a condenação do culpado sobrepõe-se a derrota do vencido em
alguns processos políticos representa senão a continuação da guerra civil com meios diversos.
18 Como exemplo a Mercado Cambial informal que os operadores deste Mercado acumularam colossais

riquezas subterrâneas sob ilícito fiscal e ao arrepio a legalidade cambial e branqueamento de capitais, bem
como os monopólios e oligopólios até então existentes no sector das telecomunicações e favoritismo e,
manifeste improbidade administrativa de concessão de obras públicas, contratos económicos e Parcerias
Público-Privada com repercussões danosas e imediatas na economia real, lesivos aos interesses do Estado e
da democracia económica.
39
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Dr. PINTO BARBOSA, e, por conseguinte, a sua escola, porém o ilustríssimo Prof. TEIXEIRA
RIBEIRO (1966), exprimia as seguintes palavras:

(…) “Volto ao caso das ciências económicas há que estudar nas Faculdades (de Direito) uma
economia para juristas e nas Faculdades de Economia uma economia para economistas.
Sim que interessa aos juristas saber se a inflação tem a origem na alta dos custos ou no
aumento da procura…?

Mais do que a explicação dos fenómenos económicos, interessa aos juristas a sua
importância social e de justiça19, os quadros e as instituições que revelam”20.

Por outro lado indagar-se particularmente no caso de Angola, «se a crise financeira e, de
algum modo económica, esteve na origem mais sonante da baixa do preço do Petróleo ou
da inópia da diversificação da economia, sistema tributária deficiente, indisciplina
orçamental das despesas públicas e do controlo das contas públicas21, organização do
Estado, ou outro fenómeno social a ele associado?»22.

Como é óbvio nos parece que a resposta prospera no típico fenómeno dos Países cujos
orçamentos estão indexadas principalmente nos recursos naturais ou simplesmente
economias de petro-dólares que são dominadas por «Praga do Recursos Naturais» que tem
como ponto de partida a constatação de que alguns Países dotados de abundantes recursos
naturais, em especial minerais ou petróleos, ou de, pelo menos, um recurso natural cuja
extracção lhes proporciona receitas em divisas significativas, sem mais pestanejar
sublinha-se o caso da Venezuela, Iraque, Síria, Líbia, Nigéria, Iémen etc., por conseguinte,
não têm aproveitado devidamente os benefícios da exploração desses recursos para
promoverem o seu desenvolvimento económico e social, de um lado;

Por outro;

A organização do Estado, pois que, o Estado angolano, desde 1975 por altura do movimento
das nacionalizações e confisco, emocionalmente assenhorou-se de todo acervo patrimonial
e financeiro do sector privado com intenção de construir uma utópica sociedade socialista
baseada no regime de propriedade colectivista dos meios de produção que
prematuramente viu-se frustrado e depois degradado, o regime soltou a corda de bamba
para as privatizações ou simplesmente por abandono23.

19 O negrito e sublinhado nosso.


20 Cfr. NUNES, MANUEL JACINTO, – Temas Económicos – Imprensa Nacional – Casa da Moeda editora
Portugal, 1989, Pág. 14.
21 Cfr. MARIO, FRANCISCO, - Controlo Jurisdicional dos Dinheiros Públicos em Angola, (Teoria Contributiva

sobre as Finanças Públicas e Direito Financeiro) - Tese FDUL – Lisboa 2015, Pág. 14.
22 Nossa. No mesmo sentido e já no outro lugar em 2012/2013, em Lisboa já havia escrito, sobre o assunto

sobre a diversificação do risco em sede das recomendações do FMI, que outras economias já havia
experimentado nos choques cambiais, sobre o desígnio de “Doença Holandesa”, Cfr. MÁRIO, FRANCISCO, -
“Fundo Soberano” - Relatório do Mestrado Científico de Finanças Públicas – Privadas, FDUL 2013, Pág. 8.
23 É de realçar que no momento asténico da independência de Angola instalou-se um populismo negativo de

luta pelo poder, racismo, inveja, odio, tribalismo e regionalismo partidário e vandalismo e espoliação do
40
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Pelo que, os bens resultantes deste fenómeno de nacionalizações e confiscos
imediatamente passaram a integrar o monopólio do sector empresarial público designadas
de União das Empresas Estatais com sigla de “U.E.E.” uma das principais fontes de
financiamento do Orçamento Geral do Estado.

Nota-se, porém, que actualmente o sector empresarial público através das Empresas
constituídas pelos fundos públicos desenvolvem actividades nos principais sectores da
economia, designadamente:

Sector Primário – Indústria (pesada extrativa de recursos naturais)24, Agricultura e Pesca;

Sector Secundário – Indústria transformadora (Zona Económica Exclusiva de Viana em


Luanda), Transportes (Aéreos, Ferroviários, Porto, Aeroportos), Energia25.

Sector Terciário –, Banca, Seguros, Imobiliária, Transportes e Telecomunicações


(Rodoviários, Aviação Civil e Correios), Comércio e Serviços Públicos26.

Este quadro da economia pública e principal fonte de receitas públicas, afigura-se como
base do PIB (Produto Interno Bruto) tanto ele Potencial como o Real que notadamente
caracterizam as Finanças Públicas angolanas de “Finanças Patrimoniais”, por causa da sua
fonte de receita ser da feição monolítico – fiscais identitária do Estado empresário
totalitário mitigado e revelador do federalismo fiscal institucional hiperbólica, ou seja,
autarquia funcional e institucional empresarial que o Estado angolano ainda não conseguiu
distanciar-se.

Com efeito, alguns Países nestas condições, como Angola, tendem a especializar-se somente
de algum modo exportando quase apenas uma dada matéria-prima27, proveniente de
indústrias extractivas (monolítica indústria) através de Empresas Públicas, em detrimento
do desenvolvimento de actividades económicas diversificadas para variar as fontes de
receitas fiscais, para assim diversificar o risco.

Para além desse colossal problema de autarcização económica ou Estado Empresário,


retomado a questão da Praga dos Recursos Naturais, alguns autores de autoridade
considerados, como a Professora ANTONIETA COELHO28, da Universidade Agostinho Neto
de Luanda que têm estudado a relação entre esta situação e a qualidade da governação,

património colonial pelas populações com destaque as habitações urbanas e viaturas entre outros bens.
Razão pela qual fez abandonar o País a maioria dos quadros e empresários que asseguravam o funcionamento
da economia de Angola e o País entrou numa crise económica estrutural e para remediar começou com
nacionalizações e confisco.
24 Neste sector destaca-se como Empresas Públicas: SONANGOL, ENDIAMA, ANGOSSEMENTES e EDIPESCA.
25 Neste caso refere-se: ENDE, PRODENG, TAAG, CFL, CFB, CFM; PORTOS (Luanda, Lobito e Namibe).
26 Destaca-se as Empresas: SECIL MARITIMA, TCUL; BPC, BCI, BAI, BE, BDA; ENSA; IMOGESTIN;

ENTREPOSTO, NOSSO SUPER, CIAC, TPA, RADIO e CORREIOS.


27 Mono exportador de uma única matéria – prima, petróleo.
28 Cfr. COELHO, ANTONIETA, Lições de Direito de Recursos Naturais, 2006.

41
Manual de Direito Económico Francisco Mário
considera que tem efeitos negativos demonstrados por corrupção29, nepotismo30, tráfico
de influência31, desperdício de recursos32, degradação ambiental33 e conflitos armados34.

Mas, como argumenta, citando STEVENS, para que actue a “Praga dos Recursos Naturais”
numa certa economia é necessário que existam o que designa de “ (mecanismo de
transmissão) ” tais como:

A concentração da afectação de imputs maioritariamente às indústrias extractivas, em


detrimento de outras actividades económicas em especial da agricultura, o que tem como
consequência o aumento da pobreza, não criação significativa de emprego e a deficiente
prestação e outras actividades económicas.

A emergência de um grupo social de “rendistas” a tendência do Estado para adquirir ou


reforçar uma natureza rendista35, o que tem como consequência a concentração dos seus

29 Foi institucionazada a gasosa, ou comissões ilegais para pagar os favores prestados.


30 Os sectores da economia petrolífera ou de gestão da renda daí proveniente eram gerido pelos parentes
directos e próximos ao poder político máximo do País, ex. SONANGOL e FUNDO SOBERANO DE ANGOLA.
31 O Trafico de influência era e continua tal acentuado, tudo se faz por via de esquema principalmente nos

sectores de pressão permanente, sazonal e cíclico, até uma funcionária de base é chefe, todos são amigos,
famílias ou pretendem ser por causa disso.
32As Receitas dos recursos naturais do Petróleo e Diamantes, alguns foram desperdiçados em investimentos

públicos ineficientes para desenvolvimento da economia e social de Angola deixando escapar aqueles
sectores chaves com défices estruturais crónicos como a educação e saúde (…).
33 De certo modo onde há actividade de exploração de recursos naturais é evidente que o risco esteja sempre

a espreita sobre a degradação do ambiente e danos ambientais cruciais, focos assinaláveis no Golfo de
Cabinda, Lundas, Fauna e Flora e plataforma continental marítima e etc.
34 Angola é o exemplo disso, quase viveu uma prolongada guerra civil desde do ano de 1975 -2002, a cerca de

27 anos de conflito armado sem justificação aplausível, e, destruindo todo tecido social e da economia. A par
disso, em outros Países produtor de Petróleo o dilema é o mesmo: Líbia, Iémen, Venezuela, Sudão do Sul, Síria,
Iraque, Nigéria, Congo Democrático.
35 No caso angolano, veja os rendistas do petróleo do Fundo Soberano, pois que, os Fundos em Angola tiveram

a sua evolução com designações diversas mas sem carácter de uma reserva ou de investimento e poupança
geracional, neste caso, são Fundos de investimento público sectoriais, exemplo mais pragmático são,
nomeadamente: o Fundo de Reconstrução Nacional, Fundo de Desenvolvimento Social, Fundo de Apoio a
Pesca Artesanal, Fundo de Pensões, Fundo de Apoio Agricultura, Fundo Ambiental e etc.
Más, sobre o “Fundo Petrolífero”, nos anos de prosperidade de altos preços de crude nos mercados
internacionais, o superavit da conta corrente era designado de “Bónus de Petróleo” que eram aplicados nos
investimentos públicos sociais, educação, saúde, na reconstrução e construção de infra -estruturas do país, à
luz do política gizado pelo governo angolano para fins de gestão do excedente resultante da venda do petróleo
que o apelidaram de “Programa de Melhoramento e Aumento da Oferta de Serviços Sociais Básicos às
Populações” «PMAOSSBP».
Nesta época, como Angola já estava sendo monitorizado pelo FMI na base do SBA (Acordo de Stand By), e de
acordo as constatações dessa instituição monetária, Angola com essas despesas sociais, segundo alertava o
FMI que estaria a investir no elefante, por via disso, aquela instituição financeira internacional, recomendava
as autoridades angolanas no sentido da diversificação da sua economia.
Assim, em 2010 nos termos do n.º 1 e 2 do art. 6º da Lei do OGE para o exercício do ano de 2011, foi aprovada
uma receita por consignação da venda do barril de petróleo, no orçamento, como “Reserva Financeira
Estratégica de Petrolífero” (RFEP), com fins de realizar despesa de capital em infra-estruturas de base.
Cabendo a sua gestão o Presidente da República nas vestes do Titular do Poder Executivo.
E por conseguinte, com base a este instrumento legal compreendido como uma Lei de autorização financeira
do Poder Legislativo ao Titular do Poder Executivo para intervir na economia, deste modo, ficou habilitado
nos termos do exercício das suas funções e competências constitucionalmente consagrado (art. 120º, da CRA),
de intervir na ordem económica e financeira e institucionalizar o Fundo Soberano de Angola” através do
42
Manual de Direito Económico Francisco Mário
esforços na obtenção de renda do recurso e promoção das indústrias extractivas em
detrimento da prossecução de um desenvolvimento económico e social abrangente.

A dependência das receitas fiscais da indústria extractiva quase 90% das receitas do
Orçamento Geral do Estado depende da fonte de receita da produção de petróleo-receita
patrimonial (Estado patrimonial, state of produtive) e que torna o País muito vulnerável às
flutuações de preços de petróleo nos Mercados Internacionais e dos choques cambiais
(doença holandesa)36, é a chamada deterioração em termos de trocas comerciais, que pode,
inclusive, gerar inflação, e afectar a balança corrente de pagamentos das transacções
comerciais, por conseguinte, atinge com maior gravidade as grandezas macroeconómicas
negativas de falência em cadeia de pequenas e medias empresas dependentes de
importações e, por via disso, o desemprego, inflação, recessão económica, subida da taxa
de juro e cambial com fortes sintomas de pobreza na população de baixa renda.

A deficiente democracia e desenvolvimento político e institucional que pode levar a


tendências de regimes ditatoriais, fricções separatistas tribais nas regiões com recursos
significativos ou mesmo a conflitos armados, sob pretexte de pérfida distribuição da
riqueza.

Porém, não existem soluções para o problema da Praga dos Recursos Naturais, mas
considera-se em geral que a promoção de um desenvolvimento equilibrado da economia
diversificada (agricultura e indústria transformadora), a implementação de programas de
luta contra a pobreza, bem como educação, cultura e saúde, e, a melhoria progressiva do
quadro institucional e político podem contribuir para reduzir significativamente este
fenómeno.

Porque em verdade existem Países produtores de petróleo, diamantes e ouro, que


venceram, (apesar terem um nível civilizacional e cultural alto) este fenómeno como
Noruega, Canada, Rússia, Koweit. Emirados Árabes Unidos, e Botswana, pelo que ficaram
ainda ancorados na praga com menor ou maior nota a Síria, Venezuela, Nigéria, Congo
Democrático, Gabão e Congo Brazzaville, Iraque, Irão, Coreia do Norte, Iémen, Brasil e
Angola.

Mas qualquer modo, um outro ilustre Prof. de Direito de Lisboa, MARCELLO JOSÉ DAS
NEVES ALVES CAETANO ou simplesmente Prof. MARCELLO CAETANO, depois de analisar
os inconvenientes da formação de economistas nas Faculdades de Direito, também

Decreto Presidencial n º 48/11, de 9 de Março. Como instrumento financeiro com um capital inicial de cinco
(5) biliões de USD.
36 Período 1970-1980 – neoliberalismo, forte intervenção do Estado na economia, quando vários países

exportadores de petróleo criaram os seus Fundos com objectivos de estabilização, para proteger a economia
das consequências de excesso de recursos internacionais que ingressaram nestes países, como a pressão
inflacionária e depreciação cambial, esses efeitos colaterais eram chamados de “ doença holandesa” - Fundos
de Estabilização Monetária e Cambial. «Doença Holandesa», recebeu este nome porque só em 1960, foi
identificada na Holanda, quando seus economistas verificaram que a descoberta do gás natural e sua
exportação estavam a depreciar a taxa de câmbio e ameaçar a destruir toda a sua indústria. Cfr. MÁRIO,
FRANCISCO – Relatório do Mestrado FUL- Lisboa 2013. Pág. 7
43
Manual de Direito Económico Francisco Mário
quebrou o silêncio e escreveu (1966); “Nem deve uma Faculdade de Direito disputar as
Faculdades de Economia as funções próprias destes, pois com a mesma legitimidade com
que se arrogasse conferir graus de Licenciatura em ciências económicas, pretenderiam
estas conferir os Licenciados em Direito (…) ”37.

Se, como dissemos, este é um problema resolvido na seara jurídica há décadas em Portugal,
e, distintamente também em Angola, é importante sublinhar, o seu conhecimento,
principiado pelos pioneiros da academia do Direito Económico desta árdua actividade de
ensino em Angola que foi desencadeada no século XX na então única Faculdade de Direito
da Universidade Pública – Dr. Agostinho Neto, como ex: ilustrativo com alguma simpatia o
Prof. FRANCISCO QUEIRÓS e HELENA PRATA, mas sem preterir o mérito dos demais
cultores e arautos do Direito Económico, no caso Doutor OVIDIO PAHULA professor do
Lubango porque a história deixa sempre o seu registo para um futuro.

Entretanto, defende MANUEL JACINTO NUNES, no seu livro de Temas Económicos, ter-se-
ia posicionado e afirmando que “quem concebia há meio século que, na presidência dos
EUA, um actor de cinema - RONALDO REAGAN - sucederia um economista de formação –
GEORGE W. BUSH (…)38, ou recente polémico magnata e bilionário da indústria imobiliária
dos EUA, - DONALD TRUMP sucederia e um carismático jurista afro-americano – BARACO
OBAMA. E, em Angola poderá efectivamente no futuro próximo quiçá acontecer, como a
história recente já demonstrou os ex-Ministros das Finanças e Governador do BNA, e
Ministro de Estado junto do 1º Ministro e Chefe da Equipa Económica, ou Coordenação
Económica do Governo da II República de Angola o Dr. AGUINALDO JAIME, como dissemos,
tanto este como outros, foram os juristas económicos de formação e desempenharam estas
funções com brio assinalável39.

Contudo, para funcionamento harmonioso de um determinado sistema económico requer


um certo número de regras do Direito que asseguram apropriação e uso dos factores de
produção, distribuição, comercialização e consumo dos bens e serviços. Nas palavras
lapidares do Prof. MÁRIO EMÍLIO F. BIGOTTE CHORÃO (…) as relações económicas
suscitam, como é óbvio, questões de justiça que pertencem ao Direito Regular. Todavia, se
a distribuição das riquezas não se submeter à justiça não se realizam os fins da ordem
jurídica, nem, em definitivo, o bem comum. (…), no mesmo sentido se pronunciou Dr.
TEIXEIRA MARTINS, que, (…) qualquer sistema económico exige um dado regime jurídico
que assegure normativamente como sistema(…)40.

Um regime jurídico que desde logo normatize as suas relações típicas de produção bem
como de troca, de consumo, etc., que além disso, sirva as necessidades do funcionamento
garantido dos institutos e quadros jurídicos dentro dos quais as suas Leis económicas

37 Ibidem,
38 Ob. Cit. Pág. 14.
39 Mais recente passagem pelo BNA de um jurista de formação na área das ciências jurídico – económicas

WALTER FILIPE e Advogado de Profissão, demonstra a par das outras áreas do Direito o quão é importante
a formação nesta área do Direito.
40 Cfr. CHORÃO, MÁRIO EMÍLIO F. BIGOTTE, - Introdução ao Estudo do Direito, Lisboa 1984, Pág. 267.

44
Manual de Direito Económico Francisco Mário
possam desenvolver-se. A economia constitui portanto, a concreta realidade sobre a qual o
Direito vai actuar.

Trata-se, pois, de uma realidade já dada ao Direito e que este recebe com a estrutura que
lhe é própria. Cumpre ao Direito acatar as exigências orgânicas e funcionais basilares do
sistema económico que constitui o objecto da sua regulamentação.

O Direito na sua função normadora está em condições de reagir sobre a economia impondo
do seu próprio ponto de vista ou bloquear tendências espontâneas do sistema económico
que possam influenciar o normal funcionamento da economia.

Portanto em última análise, no limite, o Direito intervém com intenções correctivas no


domínio económico por si e na sua lógica de desenvolvimento facilmente produziria, no
caso angolano a Economia assenta na Constituição de 2010 e submete-se à ela e legalidade
estrita41.

1.1. Origem e Evolução Histórica do Direito Económico


O Direito, como método de regulação de condutas existe desde a antiguidade. Mas como
ciência e como forma pela qual o Estado e a sociedade se organizam, é fenômeno bem mais
recente. Da mesma forma, pode-se falar de economia desde que o primeiro indivíduo
superou a produção de subsistência e deu os primeiros passos de criação de excedentes,
destinados à troca. Por outro lado, é bem mais recente a economia no sentido de modo de
produção de uma colectividade organizada e ainda mais moderna concepção de economia
como ciência.

Numa visão resumida, a história económica de origem europeia, que resultou no modo de
produção capitalista vigente, passou por etapas como a do mercantilismo, da fisiocracia,
das corporações de ofício e do liberalismo, fases em que era o Estado, personificado na
figura do Rei que conduzia a economia, ou em que o Estado não era chamado para atender
questões económicas.

Assim, no mercantilismo (Portugal e Espanha) partia-se do pressuposto de que a riqueza


estava na aquisição de metais preciosos, os Reis e a nobreza financiavam as grandes
navegações com vistas no comércio com o oriente e na exploração das colônias africanas,
americanas e asiáticas.

Já para os fisiocratas (França) a riqueza era decorrente da agricultura e vigorava o princípio


do laissez-faire (deixar fazer), não permitia qualquer intervenção no processo produtivo.

Por seu turno, no regime das corporações de ofício (Alemanha, por exemplo), os grupos de
produtores, notadamente urbanos (sapateiros, ferreiros, tecelões) se auto-organizavam,
sem a interferência do Estado.

41 Cfr. Art.6º da CRA.


45
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Por fim, o liberalismo económico capitalista (surgido na Inglaterra no século XVIII e que se
espalhou por outros Países como França, Holanda e Alemanha), mantinha o mesmo
princípio do laissez-faire e não admitia a intervenção do Estado na economia, por entender
que o Mercado era capaz de se autorregular e de funcionar, sem qualquer intervenção, no
grau máximo de eficiência.

É oportuno aqui lembrar que o próprio liberalismo teve seu contexto histórico, por ter
surgido como reação ao poder estatal, que não reconhecia direitos individuais. De facto, sob
o ponto de vista da política e das liberdades individuais, os Estados, em conjunto com a
nobreza, concentravam todos os direitos, e quase nada subsistia para a classe emergente
dos comerciantes e industriais.

É bom recordar que o primeiro grande pensador desta época foi ADAM SMITH, autor de “A
Riqueza das Nações”, desenvolveu a ideia de mão-invisível que regula o Mercado, vale dizer,
a ideia de que as forças económicas encontram por si o equilíbrio necessário e a teoria das
vantagens absolutas que recomendava a especialização do trabalho, para que cada nação
obtivesse o máximo de proveito económico. Também merece destaque DAVID RICARDO,
autor de “Princípios de Política Económica e Tributação”, criador das teorias do valor
trabalho e das vantagens compectitivas, base teórica do comércio internacional.

Para o liberalismo partia de três postulados principais:

1- Teoria de Mão – Invisível - os agentes do Mercado, designadamente: produtores,


fornecedores e consumidores seriam capazes de se autorregulamentar (teoria da
“mão-invisível” do Mercado, de ADAM SMITH;

2 – Teoria de Say, - toda oferta geraria sua própria procura, situação em que o pleno
emprego era naturalmente mantido, chamada “Lei de Say”, economista JEAN
BAPTIST SAY; e,

3 - Teoria das Vantagens Comparativas - esta teoria exprimia a especialização


mundial do trabalho maximizaria o proveito económico de todas as nações (teoria
das vantagens comparativas de DAVID RICARDO).

Assim, a teoria que explicava e justificava o novo modo de produção capitalista, também
procurasse defender os direitos políticos e sociais dos seus principais artífices, os
empresários. Porém, até finais do século XIX, o liberalismo serviu para explicar o
funcionamento da economia e prever seus rumos, sem qualquer participação estatal.
Deveras, o modelo liberal havia experimentado crescimento substancial, tornando os
primeiros Países capitalistas nas maiores economias do mundo (inicialmente Inglaterra e
França e posteriormente as regiões da actual Alemanha, a Holanda, o Japão e os Estados
Unidos), chegando ao estágio do capitalismo imperialista.

Neste modelo, a economia dos Países, especialmente os europeus, se baseava na produção


industrial local e na conquista constante de Mercados: as colônias, que se espalhavam pelas
Américas, pela África, pela Ásia e pela Oceânia, enriquecendo cada vez mais Países como a
46
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Inglaterra e a França, onde o papel do Estado estava mais virado à conquista de novas
colônias, não lhe cabendo intervir no processo produtivo interno.

As primeiras preocupações com a regulação sistemática da economia começaram à surgir


com o declínio do liberalismo no final do século XIX e no início do século XX, nos Estados
Unidos, em virtude do surgimento de grandes monopólios (que tiveram como efeito
negativo a exploração dos trabalhadores) e, mais tarde, em função do colapso da economia
americana (quebra da bolsa de Nova Iorque) e na Europa, com a crise do sistema económico
(que viria a contribuir decisivamente com a deflagração da I Guerra Mundial)42.

Entretanto, diante deste cenário económico e político de dimensão mundial, começou-se


um novo ciclo de discussão em torno da temática das matérias de intervenção do Estado no
domínio da economia. Todavia, surgiram alguns estudos e políticas económicas sobre a
economia do bem-estar (welfare economy), sobre a relação entre moeda e preços, sobre a
estabilidade e o desenvolvimento económicos.

Grosso modo, os Países se uniram no sentido de erigir princípios e práticas que evitassem
crises internas e conflitos mundiais, criados em volta de alguns problemas da economia.
Por conseguinte, no plano acadêmico, surgiam novas teorias económicas e novas obras que
apontavam os defeitos do Mercado e procuravam corrigi-los pela regulação do Estado43.

42 No final do século XIX, nomes que se tornaram conhecidos e ainda estão presentes na política e na economia

americana instituíram verdadeiros impérios.


JOHN ROCKFELLER dominava a extração de petróleo, a produção, a venda e a distribuição de querosene
(Standard Oil), e posteriormente da gasolina.
ANDREW CARNEGIE fez fortuna com a produção de aço, material que passou a ser utilizado para a construção
de todo o País, incluindo pontes e os arranha-céus de Nova Iorque.
J.P. MORGAN, a seu turno, se destacava no setor financeiro e passou a dominar, também, a produção de
energia elétrica, com a empresa que veio a ser denominada General Electric.
Diante dos efeitos danosos dos monopólios, surgiu o Sherman Act de 1890, a lei antitruste, que visava garantir
a concorrência, no sentido de combater elevação abusiva de preços, exploração dos trabalhadores e
submissão dos fornecedores.
Na mesma época, a Europa via seu sistema produtivo cada vez mais dependente das colônias espalhadas por
todo o mundo, como fornecedores de matéria - prima barata e especialmente como consumidores de
produtos finais, para fazer face ao desemprego crescente.
Contudo, não havia mais territórios a ser conquistados e o modelo chegava a seu limite e começava a ruir a
teoria do liberalismo econômico. A situação, contudo, iria se agravar.
A dissolução dos monopólios nos Estados Unidos proporcionou a circulação de papéis representativos das
empresas (acções) mediante oferta pública, fazendo surgir um grande mercado financeiro de captação da
poupança popular, sem regulamentação, permitindo, assim, a realização de negócios temerários, dissociados
da riqueza efetivamente gerada pelas empresas o que causou, por sua vez, crises econômicas sérias, a mais
conhecida delas a crise de 1929. Na Europa também surgia um mercado financeiro a pedir regulamentação,
mas ainda se destacavam os defeitos do sistema de produção. Como não havia mais novos Mercados a ser
conquistados, países com elevada produção e que não possuíam colônias fornecedoras de matéria - prima e
consumidoras de produtos finais se viam na dependência dos países que as detinham. Esta situação gerava
um delicado equilíbrio, que veio a se romper por duas vezes, causando a I e a II Grandes Guerras.
Após os colapsos, mostrou-se evidente que o Mercado não era autorregulatório e que a intervenção do Estado
na economia, ainda que regulatória, era essencial.

Dentre as obras académicas se destacam a “Teoria geral do emprego, do juro e da moeda”, de JOHN
43

MAYNARD KEYNES e o estudo dos ciclos econômicos de MICHAEL KALECKI, autor da “Teoria dinâmica da
47
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Por seu turno, nos Países menos desenvolvidos, além destas preocupações, surgiram
normas de combate à inflação, produção e de promoção do abastecimento interno, de
substituição de importações, bem como teorias desenvolvimento sustentável e
diversificação da economia.

No plano jurídico, denota-se e evidencia-se que direito privado não era capaz de regular os
novos fenômenos da sociedade, como o crescente desemprego e as crises económicas. A
concepção absoluta do direito da propriedade perdia forças, face à ideia de função social da
propriedade.

A liberdade contratual plena deixava espaço para os contratos dirigidos, cabendo ao Estado
proteger as partes mais fracas das relações, bem como impedir que os contratos surtissem
efeitos danosos de contratos relevantes e dos consumidores.

Ao nível internacional, foram criadas instituições para fomentar o desenvolvimento (Banco


Mundial), para socorrer nações em dificuldades financeiras (Fundo Monetário
Internacional) e para regular o comércio mundial (Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio).

Além deste percurso histórico e do contexto de intervenção do Estado, criaram premissas


nas relações económicas, foram editadas a Constituição Mexicana de 1917 e a Constituição
do Império Alemão de 1919 (Constituição de Weimar), ambas com forte conotação social e
interventiva, preocupadas com questões económicas gerais refletiu-se no surgir do Direito
Económico.

1.2. Noção do Direito Económico

1.2.1. Direito Económico ou Direito da Economia?

Sendo que o Direito Económico é um ramo de formação recente, distingue-se amplamente


o seu posicionamento perante a fisionomia da bifurcação das grandes famílias tradicionais
do Direito (Direito Público/Direito Privado), bem como, a sua natureza face o seu objecto
de estudo.

Daí, vislumbrar a problematicidade da sua distinta denominação movediça na indústria


académica que gravita em torno do edifício jurídico da sua designação - Direito Económico,
ou Direito da Economia?

Ora bem, perante o imbróglio meramente académico da etimologia do léxico jurídico-


económico, foram avançadas várias ideias antagónicas para tentar a superação da tal
situação, dito de outro modo, o consenso não tem sido pacífico porque o problema coloca-
se no vértice jurídico das costumadas disciplinas do curso de Direito com relevância
económica, designadamente; Direito Civil Patrimonial, o Direito das Obrigações, o Direito

economia”. Inegável que a obra de KARL MARX também contribuiu, tanto pela implementação do socialismo
na Rússia, quanto pelos reflexos de seus trabalhos no próprio entendimento da sociedade sobre a economia.
48
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Comercial, o Direito Administrativo da Economia, o Direito Financeiro, o Direito
Constitucional, o Direito Fiscal, e não tradicionais, o Direito Económico Penal, ou
simplesmente o Direito Penal Secundário, o Direito do Ambiente e Ordenamento do
Território, o Direito Agrário, o Direito do Consumidor, o Direito de Concorrência, Direito
de Regulação Económica, Direito das Empresas, Direito das Sociedades Comerciais, o
Direito do Trabalho, o Direito Bancário, etc. para resolver a “vexata quaestio” sub judice,
temos antes viajar no tempo do seu surgimento na órbita da academia das ciências jurídico-
económicas, ou ciências jurídico-empresariais como certo sector da doutrina apelida.

Assim sendo, para o surgimento do estudo das questões jurídico - económicas foi devido as
crises económicas e sociais verificadas na Europa a partir do século XIX, que muitos deles,
resultaram na radical mudança política, ou seja, Revolução Política contra o Capitalismo
Liberal e de abolição do poder absoluto das monarquias (onde não havia separação de
poderes) e que esta luta contra os desníveis sociais resultou na proclamação das doutrinas
económicas e do Estado democrático de direito que permitiu a intervenção do Estado no
domínio económico, no plano regulatório e no plano organizatório da economia44.

No entanto, de ponto de vista do conhecimento da história da humanidade que tivemos


acesso, as expressões idiomáticas jurídico-económicas45, designadamente: Direito
Económico e o Direito da Economia; tiveram a sua construção na escola alemã e francesa.

Cabendo a escola alemã a paternidade à expressão do designativo do Direito da Economia,


pois que, traduziria uma inclusão deste âmbito do Direito Público, ou Direito Público da
Economia, enquanto o designativo, ou seja, a expressão de Direito Económico, tem a sua
origem na escola francesa, verteria no Direito Público-Privado, ou seja, dupla natureza que
é mais abrangente e misto com predomino do Direito Público, tendo em conta as funções
do Estado regulatório organizatório por via do Direito Administrativo da Economia46.

“Brevitatis causa”, podemos asseverar que as expressões acima destacadas, à luz da


unidade do sistema jurídico económico angolano e o carácter da ciência do Direito
Económico presidida pela dupla natureza (Público-Privada), aliás, como dizia JORGE
MIRANDA, a expressão “Direito da Economia” poderia ser usada para recobrir um vasto

44 México-Constituição de 1917, aborda aspectos da vida económica; Alemanha-Foi sob a Constituição de


Weimar de 1919, que teve início a sistematização doutrinal e científica do Direito Económico. Esta foi a 1ª
Constituição a inserir a vida económica como objecto da lei fundamental; França - Surge depois da 2ª Guerra
Mundial como outro pólo de desenvolvimento do Direito Económico, sendo considerado como direito da
intervenção económica do Estado. E.U.A. - Floresce a análise económica do Direito. Portugal - As primeiras
abordagens do direito económico foram tardias, devido à ideologia do direito corporativo do Estado Novo de
OLIVEIRA SALAZAR, que impedia a sua afirmação autónoma. Após 1974, (25 de Abril) verifica-se um certo
desenvolvimento, que se traduz pela introdução da disciplina de Direito Económico nas Universidades.
Angola – depois da Constituição de 1992.
45 Porque é uma preciosidade linguística do que há uma verdadeira diferença de conteúdo, mais

desenvolvimento ver, PRATA, HELENA, - Lições de Direito Económico, Casa das Ideias. 2008, Pág. 13 e 55.
46 O Direito Económico Administrativo, é aquele que é constituído pelas normas de Direito Administrativo

que regula as formas de intervenção do Estado na Economia, quando actua sob formas administrativa,
dispondo de poderes especiais de autoridade. - FRANCO, SOUSA citado por FERREIRA, EDUARDO PAZ, –
Direito da Economia, Lisboa, AAFDL-2003. Pág. 43.
49
Manual de Direito Económico Francisco Mário
conjunto de sectores da ordem jurídica que versam sobre economia, uma vez que poucos
deixarão de ter algumas implicações nesta matéria47. Pois que, o Direito não é estanque,
dentro do seu escopo final, que é decerto, de ordenação jurídica para cunhagem de um
modelo económico adequado aos anseios do povo angolano no contexto global emanado
na Constituição de 2010; somos em síntese de preferir, à luz das ideias já trilhadas pela
doutrina, o designativo do Direito Económico, daí também inferir-se a sua natureza como
Direito híbrido de dupla natureza com predomínio público, atento a forte intervenção do
Estado na economia e sobre a economia que se realiza e concretiza-se por via do Direito
Administrativo.

O Direito Económico no cômputo geral orienta o desenvolvimento económico e social


harmonioso para satisfação social da colectividade através dos instrumentos de regulação
jurídico-económico de aspectos macro-económicos (produção, distribuição de bens e
serviços, política fiscal, monetária e cambial e, o combate a inflação pleno emprego etc.) e
aspectos micro-económicas (preços, concorrência, defesa do consumidor, ambiente e etc.).

Em sede destas duas realidades acima destacadas – o Direito Económico consiste, pois, num
sistema de disposições jurídicas, ou na disciplina que as estuda, elaboradas pelos poderes
públicos, privados e de natureza mista, no âmbito de uma função normativa de
enquadramento global da actividade económica, ordenando-a e regulando-a para garantir
o interesse económico geral48.

É o ramo do direito que disciplina a condução da vida económica do País, tendo como
finalidade o estudo e a harmonização das relações jurídicas entre os entes públicos e os
agentes privados, detentores dos factores de produção, nos limites estabelecidos para a
intervenção do Estado na ordem económica.

Por conseguinte, para concretização desses objectivos, exige do Estado49, uma particular
actuação activa no campo económico, assumindo posições relevantes na dimensão dos três
poderes, nomeadamente:

- Poder Executivo - criação de Empresa Públicas e Institutos de natureza económica, bem


como produzir legislação específica ou geral sob autorização da AN;

47 Apud. SANCHES, SALDANHA, – Direito Económico, um Projecto de Reconstrução, Pág. 21.


48 Nosso
49 O Estado para sua compreensão organização jurídica, comporta várias acepções, nomeadamente:

a) Estado - na acepção Internacional, trata-se do Estado soberano, titular de direitos e obrigações na


esfera internacional.
b) Estado - na acepção constitucional - surge-nos o Estado como comunidade de cidadãos que, nos
termos do poder Constitucional que a si próprio se atribui, assume uma determinada forma política para
prosseguir os seus fins nacionais.
c) Estado - na acepção administrativa - o Estado é a pessoa colectiva pública que no seio da
comunidade nacional, desempenha sob a direcção do governo, a actividade administrativa, Cfr. In Curso
Direito Administrativo - Vol. I - DIOGO FREITAS DO AMARAL, Almedina editora 2ª edição 2001. Pág. 210-212.
50
Manual de Direito Económico Francisco Mário
- Poder Legislativo - legislar no sentido de concretizar os objectivos constitucionais,
impondo severas limitações e restrições à actividade económica privada, sem excluir a
possibilidade das futuras nacionalizações e confiscos, e;

- Poder Judicial – na aplicação da Constituição Económica e da Lei, sancionando os ilícitos


ou delitos económicos através das medidas penais.

Mas de todo modo é interessante saber nesta sede, o que é o Direito Económico?

Vários autores tentaram trilhar e dar uma noção com a meritória aos doutrinadores
económicos brasileiros e portugueses que, desde logo, vamos privilegiar e seguir de perto
o somatório das definições por eles desenvolvidos.

Assim sendo, Prof. PAZ FERREIRA - define que, “o Direito da Economia em sentido próprio
constituiria um ramo autónomo que regula, segundo princípios próprios, a ordem
económica e as suas instituições”50.

Já os autores ANTÓNIO CARLOS, MARIA EDUARDA GONCALVES e MARIA MANUELA L.


MARQUES - definem o Direito Económico “como sendo um direito específico da ordenação
da Economia, ou seja, é o estudo da ordenação (ou regulação) jurídica específica da
organização e direcção da actividade económica pelos poderes públicos e (ou) pelos
poderes privados, quando dotados de capacidade de editar ou contribuir para a edição de
regras com carácter geral, vinculativas dos agentes económicos”51.

Por seu turno, Prof. MENEZES CORDEIRO - define o Direito Económico “como sistema
resultante da ordenação de normas e princípios jurídicos, em função da organização e
direcção da economia52.

Já PAULAO OLAVO CUNHA, entende que o Direito Económico – regula aspectos da


actividade económica produtiva – máxime a defesa da concorrência, a regulação dos
intervenientes no Mercado e a tutela dos interesses dos consumidores - e o regime da
intervenção do Estado na economia, como agente económico, nomeadamente sob a forma
de Empresas Públicas. Segundo este autor, trata-se de um complexo normativo – composto
de por regras extraídas de outros ramos de Direito, tais como Direito Civil, Comercial,
Constitucional, Administrativo, Penal e Tributário53.

Para o saudoso Prof. SOUSA FRANCO - o Direito Económico “como o ramo normativo do
Direito que disciplina, segundo princípios específicos e autónomos, a organização e a
actividade económica”54.

50 FERREIRA, EDUARDO PAZ, – Direito da Economia, Lisboa, AAFDL-2003. Pág. 43.


51 Apud, PRATA, HELENA, - Lições de Direito Económico, Pág. 41.
52 Cfr. MENEZES, CORDEIRO, - Direito da Economia, Pág. 5.
53 Cfr. CUNHA, PAULO OLAVO, - Direito Empresarial – para economistas e gestores, 2ª edição Almedina 2016,

Pag.39.
54 Apud, FERREIRA, EDUARDO PAZ, – Direito da Economia, L4isboa AAFDL-2003. Pág. 24.

51
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Há vozes que soaram da outra margem do oceano atlântico, Brasil pelo professor
WASHINGTON PELUSO ALBINO DE SOUSA mobilizou o tecido científico do Direito na
dimensão da teoria do Direito Económico, ao tributar-lhe como um conjunto de normas de
conteúdo econômico que pelo princípio da economicidade assegura a defesa e a harmonia
dos interesses individuais e coletivos, bem como regulamenta a actividade dos respectivos
sujeitos na efectivação da política económica definida na ordem jurídica55.

Do mesmo sentido escreveu MODESTO CARVALHOSA, que o Direito Económico é o


conjunto de normas que, com o conteúdo de economicidade, vincula as entidades
económicas, privadas e públicas, aos fins cometidos à Ordem Económica56. GERALDO
VIDIGAL compreende o Direito Económico como uma disciplina jurídica de actividades
desenvolvidas nos Mercados, visando a organizá-los sob a inspiração dominante do
interesse social57.

Grosso modo, algumas definições de acordo a exposição do seu conteúdo granjearam


grande prestígio na doutrina portuguesa e brasileira, sem lograr, contudo, aceitação geral.

Assim, para nós, a noção do Direito Económico – deve ser entendida como «um ramo
autónomo (de predominância do Direito Público), constituído por um conjunto de princípios,
normas e regras jurídicas que regulam, segundo regime próprio, a actividade económica dos
agentes económicos através da organização e direcção dos poderes públicos/privados da
economia com vista a tutela do interesse público»58.

Dito isto, vamos em seguida examinar a sua natureza e o objecto do seu estudo.

1.2.2. Natureza e o Objecto do Estudo do Direito Económico


A ciência jurídica do Direito no plano económico, com o alargamento das funções do Estado
e de certo modo com o desenvolvimento da ciência e da técnica, levou o desenvolvimento
de algumas instituições económicas e a ciência do Direito adaptar-se a essas novas figuras
que a própria sociedade foi criando ao longo dos anos.

Nesta perspectiva, tem sido um dilema a classificação do Direito Económico como ramo do
Direito Público ou do Direito Privado de acordo as habituais distinções tradicionais
formulado pelo EMILE ULPIANO no seu Digesto em Roma, porquanto em boa razão, não
desenvolveram na época romana de justiniano o Direito Público. Mas no Direito moderno
denota-se que no Direito Privado há manifestação de um princípio de igualdade dos

55 Cfr. WASHINGTON PELUSO ALBINO DE SOUSA Professor da Faculdade de Direito da UFMG, Pág.4. Apud.
Manual de Direito Econômico – FÁBIO GUIMARÃES BENSOUSSAN/MARCUS DE FREITAS GOUVÊA.
56 Cfr. CARVALHOSA, MODESTO, - Direito Econômico. São Paulo: RT, 1973, Pág. 361. Apud. Manual de Direito

Econômico – FÁBIO GUIMARÃES BENSOUSSAN/MARCUS DE FREITAS GOUVÊA.


57 Cfr. VIDIGAL, GERALDO DE CAMARGO, - Teoria do Direito Econômico. São Paulo: RT, 1977, Pág. 44. Apud.

Manual de Direito Econômico – FÁBIO GUIMARÃES BENSOUSSAN/MARCUS DE FREITAS GOUVÊA.


58 A nossa construção.

52
Manual de Direito Económico Francisco Mário
sujeitos por via de autonomia da vontade, e, por seu turno, no Direito Público identifica-se
com a realidade da manifestação da Ius Imperi59, por via da legalidade.

Dizer que, com a superação do liberalismo económico por via de intervenção estatal fez
desta um dado fundamental da vida económica, seja ela no sistema económico de modo
coordenado, planificado ou de economia de Mercado mais ou menos puro ou misto, vai
constituindo -a em critérios de diferenciação e unidade do Direito Económico cujo objecto
são as regras jurídicas que disciplinam a intervenção do Estado no domínio económico.

Pelo que, nesta gradação o Direito Económico reduz-se numa concepção restrita de direito
de intervenção do Estado na vida económica.

Todavia, é importante nesta sede afirmar a qualificação do Direito Económico como Direito
misto com predominância do Direito Público, não só pelas finalidades que perseguem as
normas que corporizam, mas também pelos instrumentos ou meios jurídicos em que se
concretizam (expressão de ius imperii)60.

Porquanto que abarca no seio uma amálgama de normas de fonte de produção privatística
e de fonte produção pública, pois, visam proteger o interesse geral das instituições
jurídicas, designadamente: Estado, Personalidade, Família, Propriedade, Posse, Obrigações
e Sucessões.

Ora bem, passemos rapidamente tecer algumas considerações para sua compreensão
jurídica.

O Estado, seja como for a sua acepção, entretanto, como pessoa colectivo soberana de
Direito Público persegue um interesse público, para alcance deste desiderato necessita de
recursos financeiros de uma economia organizada por via de regulação.

Personalidade, qualquer modo para assegurar o desenvolvimento da personalidade


integral da pessoa humana desde ao nascimento até à morte (art. 66º, do CC e 2024º do
CC), bem como da personalidade das pessoas colectivas do direito público ou privada (art.
157º, do CC), substancia-se no Direito Económico, só para recordar aquela ideia
personalista dos direitos reais modernas ou personalista, que constrói a noção de direitos
reais, partindo da ideia de relação jurídica.

Esta teoria também é designada por obrigacionista e define o direito real como o poder que
tem o seu titular de excluir todas as pessoas de qualquer ingerência na coisa, incompatível
com o seu direito. De acordo com esta teoria, existe um vínculo pessoal entre o titular do
direito real e todas as pessoas (sujeito passivo) que têm a obrigação de se abster de violar
ou perturbar o titular do direito (obrigação negativa). Porém, nos direitos de crédito, o
dever de prestar recai sobre um sujeito determinado ou determinável.

59 Cfr. AAVV. – DOS SANTOS, ANTÓNIO CARLOS/GONÇALVES, MARIA EDUARDA/MARQUES, MARIA MANUEL

LEITÃO, - Direito Económico – Almedina 5ª edição, 2004, Pág. 19.


60 Cfr. MONCADA, LUÍS CABRAL DE, - Lições de Direito Económico, U.L. Porto Pág. 14.

53
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Entretanto, o homem busca na natureza bens e desencadeia um conjunto de actividades
económicas para satisfazer as necessidades vitais como alimentação, vestuário, habitação
e informação para tal o Estado serve-se do Direito Económico para regular actividade
económica dos agentes económicos na produção, distribuição e consumo de bens e
serviços. (art. 21º e 89º, da CRA). Portanto, tudo isso para assegurar a personalidade
através da economia regulado e organizado conforme a ideia do Direito (Direito
Económico).

Família, a família constitui o núcleo fundamental da organização da sociedade angolana


nos termos do disposto no art. 35º, da CRA. Entretanto, a família como agente económico
vai ser um elemento fundamental do desenvolvimento da economia.

Portanto, a regulação da economia pelo Direito visa o interesse geral da sociedade fundada
na família.

A Propriedade é considerada um direito subjectivo real económico fundamental pleno


digno de protecção legal pelo Estado, seja ela pública ou privada (art. 38º, da CRA e art.
1305º, do CC). Expropriação por utilidade pública, (Cfr. art. 38º, da CRA e art. 1308º e art.
1536.º, n.º 1, al. f), do CC) que consiste numa declaração feita pelo Estado, em que este
declara à necessidade de utilizar determinado bem para um fim específico de utilidade
pública, que faz extinguir o direito real constituído sobre tal bem e, determina a sua
transferência para o património da pessoa cujo cargo está a prossecução desse fim (direito
novo independentemente do anterior).

O nosso Código Civil não fornece uma definição de direito de propriedade, porém o art.
1305º, do CC, enumera alguns poderes que integram o conteúdo do direito de propriedade.

Refira-se que o direito de propriedade não se esgota nos poderes enumerados no art.
1305º, do CC., pelo que, se conclui que tal enumeração é meramente exemplificativa e não
taxativa.

O direito de propriedade permite todos os poderes susceptíveis de se referirem a uma


coisa, incluindo o poder de destruí-la, desde que, não colidam com os limites impostos pela
Lei, limitações essas que podem ser de Direito Público ou de Direito Privado sob regulação
da ordem económica. Pois de acordo com o art. 1305º, do CC., o proprietário tem poderes
de usar, fruir e dispor, de modo pleno, no sentido de que, permitem ao seu titular, retirar
do objecto de que é proprietário, tudo aquilo que ele é susceptível de dar.

Além dos poderes de usar e fruir, o titular do direito de propriedade tem o poder de
disposição, que compreende quer o poder de praticar actos jurídicos de alienação ou
oneração da coisa, quer o de realizar actos materiais de transformação, incluindo o de
poder destruir o objecto do seu direito.

A plenitude é a possibilidade de aproveitamento, que o direito de propriedade permite,


tendo apenas como limite as previsões normativas de restrição e limitações pública e
privadas. Este poder de aproveitamento, tanto significa aproveitamento económico da
54
Manual de Direito Económico Francisco Mário
coisa sob vigilância do Direito, susceptível de algumas restrições e limitações impostas pela
Lei, que são as mais comuns, mas o direito de propriedade também sofre restrições e
limitações resultantes de cláusulas gerais, como é o caso, (do abuso de direito art. 334º e ss
do CC).

A Posse, constitui um direito real pleno económico, ou seja, detenção de uma coisa (art.
1251º a 1301º, do CC), a ideia de posse sugere imediatamente uma situação de poder sobre
uma coisa e, por outro lado, sugere também a existência de uma relação material entre uma
pessoa e uma coisa. No Direito Económico identifica-se com monopólio, pois que o agente
está na posse de uma posição dominante do Mercado que lhe permite manipular ou
inquinar os factores de produção, distribuição e preço nos Mercados a montante e a jusante
que o Direito sanciona nos termos do art. 21º e 89º, da CRA.

Obrigações, as obrigações são vínculos jurídicos que é adstrito um sujeito de direito. Na


economia os agentes económicos são centro de imputação jurídica, assumindo direitos e
deveres que constitui um liame jurídico, cuja inobservância do seu cumprimento
desencadeia um conjunto de mecanismos jurídicos para fazer cumprir as obrigações
assumidas, quer que sejam obrigações contratuais ou extracontratuais, pelo que,
normalmente todas as obrigações de facto, ou de entrega de uma coisa com perfeitas
condições ou de prestações pecuniárias tem identidade económica e financeira.

Portanto, onde há um direito também há uma obrigação económica.

Sucessões, sucessão um fenómeno especial de transmissão que, em razão dos seus traços
particulares, por força da Lei, a posição do possuidor falecido e, recebe a sua posse tal qual
ele a tinha dos bens económicos, todavia existem ilustrações assinaláveis como na
economia ambiental, a presente geração tem obrigação de preservar o ambiente para que
as gerações futuras possam viver num ambiente sadio, por outro como se vê, no caso das
Finanças Públicas relativas à Dívida Soberana e Fundo Soberano, dizer em especial que os
Fundos de Poupança Intergeracional são aqueles Fundos desenvolvidos para garantir a
transferência de poupança para as gerações futuras, em Países cuja riqueza é
extremamente dependente da exploração de recursos naturais não-renováveis.

Como escreve o Prof. PAZ FERREIRA, (…) qualquer decisão financeira e económicas, é
possível encontrar uma concepção de justiça em que as gerações podem cooperar entre
si61, mas esta cooperação vaticinada nesta concepção encontra um rosário de dificuldades
evidentes de modo que não é possível se desenvolver a cooperação no sentido recíproco62.

Porque, a poupança ou sacrifício da actual geração ou aumento do bem-estar não é


recíproco às futuras gerações, o que pode acontecer na lógica, é desenvolver num sentido63,

61 FERREIRA, EDUARDO PAZ. Ob.Cit.Pág.84.


62BECK, ULRICH.- Diz que “ quem apela à cooperação esconde, frequentemente, por detrás da oferta de
reconhecimento, os seus próprios interesses de controlo e de domínio (…) “Europa Alemã de Maquiavel a
«Merkievel» Estratégias do Poder na Crise da Euro” edições 70. 2013, Pág. 77.
63 FERREIRA, EDUARDO PAZ. Ob. Cit. Pág.83.

55
Manual de Direito Económico Francisco Mário
é assim que funcionam as coisas na lógica da lei da vida, que novo sucede o velho já o
inverso não é, pois trate-se de uma escolha de quais as necessidades de satisfazer por forma
pública, quer dos meios à utilizar para satisfação tem, necessariamente, reflexos sobre às
gerações futuras, não só porque altera a distribuição dos recursos disponível entre o sector
público e o sector privado, como também pelas modificações que pode determinar no
comportamento dos agentes económicos e que são susceptíveis que esses agentes irão
transmitir aos seus herdeiros64. Ou é uma forma astuciosa de desvio de meios financeiros
e económicos para proveito exclusivo das actuais elites dominantes a custa do sacrifício da
actual geração em transportar a miséria sob pretexto de beneficiar as futuras gerações?65

Dito isto, relativamente o objecto do Estudo do Direito Económico no essencial sem mais
tivergersões tem como propósito de Estudar as formas de manifestação jurídica da relação
que existe entre o fenómeno político e o fenómeno económico na sociedade angolana.
Apesar de ser uma disciplina com identidade própria e autonomia científica, traduz-se na
justaposição ou reconfiguração de sectores de diversas disciplinas tradicionais
conglobadas por razões de afinidade e autonomizações por entendimentos de convivência
prática ou pedagógica66.

Conclusão: O DIREITO ECONÓMICO – funda-se no ramo do Direito Público, que tem por
objecto o estudo das relações entre os entes públicos e os conjuntos privados, na

64 FERREIRA, EDUARDO PAZ. - «Da Divida Pública e da Garantia dos Credores do Estado», Almedina, Coimbra
1995. Pág.71.
65 Pois que é paradoxal, mas é possível como uma gradeza social positiva coberto de virtude humanista, como

uma mãe gostaria sempre ver os seus filhos a viver melhor à custa do seu sacrifício, mesmo que consinta na
lesão grave da sua personalidade como contrapartida o futuro melhor dos seus filhos. É assim que as lutas
revolucionarias perduram anos e sacrificaram gerações inteiras cujo objectivo é ver os filhos na liberdade,
política económica etc. de tal sorte como hoje as gerações presentes tentam preservar à natureza e prevenir
uma gestão prudente de questões ambientais para benefício das futuras gerações da humanidade, ou seja,
para continuidade da vida humana sadia. Mas por vezes o pensamento curva-se numa grandeza social
negativa, de as gerações futuras suportarem sacrifícios sozinhos as despesas já realizadas pelas actuais
gerações que constitui hoje dívidas soberanas dos países da zona euro como Portugal. Como diz o Prof. PAZ
FERREIRA (…) a questão que parece mais interessante é a pergunta que se tem colocado, em torno de saber,
como exemplo paradigmático dos EUA, se a geração actual não deve compensar aqueles que foram
prejudicados por actuações injustas por parte das gerações passadas (…). Comentário da nota nº 33, Pág. 83.
É neste caso vamos dar o exemplo se calhar é mau em recordar, mas como recordar é viver neste tempo da
harmonia e de paz é relembrar o caso histórico: A Alemanha tem uma "dívida histórica" com os judeus, por
causa do Holocausto praticado pelos nazistas na II guerra mundial de 1939 - 1945.
O Brasil tem uma "dívida histórica" com os negros, por causa da escravidão negra que existiu no Brasil até
1888.
A Europa tem uma "dívida histórica" com a África, devido a exploração dos Recursos Naturais e do tráfico da
escravatura e consequentes protectorados europeus do passado na África.
Os norte-americanos tem uma "dívida histórica" com os índios apaches, devido a colonização das terras
desses índios no passado.
- Do mesmo sentido mais estrambólico, meditando num dos seus poemas o seguinte «uma antiga oração, de
muitos conhecidos, diz “ senhor, dá-me coragem para mudar aquilo que pode ser mudado, dá-me humildade,
fortaleza e serenidade para aceitar o que não se pode mudar e dá-me sabedoria para distinguir uma coisa da
outra” assim seja. Quem vive assim, repetindo estes três desejos, encontra o caminho da liberdade e da paz
num mundo sem sabedoria para saber o bom e em que a ganância de possuir justifica tudo.» MAGALHÃES,
VASCO PINTO DE, «Onde há crise, há esperança» 14.Mar. Pág.48.
66 Ibidem. Pág. 13.

56
Manual de Direito Económico Francisco Mário
perspectiva da intervenção do Estado na vida económica nos diversos sistemas económicos
designadamente:

SISTEMA ECONÓMICO PLANIFICADO

SISTEMA ECONÓMICO DE DIRECÇÃO CENTRAL

SISTEMA ECONÓMICO DA ECONOMIA DE MERCADO

O DIREITO ECONÓMICO passa a ser predominantemente de Direito Público pelas


finalidades que prosseguem, que é a materialização da política económica do Estado assim,
configura-se como DIREITO PÚBLICO DA ECONOMIA.

1.3. O Método do Direito Económico.

O Direito Económico surge no momento histórico impar da humanidade, por via disso, com
o alargamento das funções do Estado e de certo modo com o desenvolvimento da ciência e
da técnica, levou o desenvolvimento de algumas instituições económicas e a ciência do
Direito adaptar-se a essas novas figuras que a própria sociedade foi criando ao longo dos
anos.

Grosso modo, a interpretação do Direito Económico pode ser efectivada por qualquer
método da hermenêutica jurídica da teoria geral do Direito, designadamente o método
literal, sistemático e teológico.

Porém, como notadamente se observa, no de Direito Económico e qualquer ramo de Direito


procura-se as vias mais simples para chegar um resultado eficiente com menos custos, ou
seja, no Direito Económico buscaria aproximação dos fenómenos económicos e jurídicos,
para fornecer os elementos de eficiência e maximização do bem-estar dos cidadãos.

Algumas escolas procuram desenvolver o método ou modo de actuação directa ou indirecta


do Estado no domínio económico cujo fim último é proteger o interesse geral das
instituições jurídicas, designadamente: Estado, Personalidade, Família, Propriedade, Posse,
Obrigações e Sucessões.

Todavia, a escola de Chicago (doutrinadores RONALD HARRY COASE, RICARD ALLEN


POSNER) desenvolveu o método de eficiência normativa do sistema jurídico através da
análise económica do direito dos negócios e transações de bens e serviços no tráfego do
comércio jurídico no sistema económico.

Ora bem, qualquer sistema económico, diz que é desenvolvido porque o sistema judicial é
eficiente e garante à justiça económica com celeridade requerida, daí ser uma das fontes de
investimento estrangeiro.

57
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Já Escola Europeia (autores ANDRÉ LAUBADÈRÉ da França, VITAL MOREIRA, CABRAL DE
MONCADA, AFONSO VAZ, ANTUNES VARELA, SOUSA FRANCO, EDUARDO PAZ FERREIRA
e FERNANDO ARAÚJO - Portugal e OTTO MAYER, SAVINGNY, BUEHLER - Alemanha )
desenvolveu o método ou modo de actuação do Estado regulador através da intervenção
directa ou indirecta do Estado através do Direito Administrativo no sistema económico
para regular, ou corrigir os desníveis sociais, as falhas do Mercado de bens e serviços e
influenciar os factores de produção, distribuição, comercialização e consumo.

Uma questão que se levante qual é o método adoptado no ordenamento jurídico angolano?
Antes de responder esta “vexata quaestio”, importa convocar o que exprime o legislador
angolano para compreender o quadro do edifício jurídico-legal neste plano. Pois que
desenvolveram alguma doutrina como JOSÉ ARMANDO MORAIS GUERRA, FRANCISCO
QUEIROZ, OVÍDIO PAHULA, HELENA PRATA, FRANCISCO DOMINGOS JOÃO, ANTONIETA
COELHO, LAZARINO POULSON, ELISA RANGEL NUNES, FRANCISCO MÁRIO) que
contribuíram para desenvolvimento do Método do Direito Económico.

Todavia, o legislador angolano atento os sinais da globalização planetária da economia nos


ajuizados desígnios constitucionais e primeiramente por questões de tradição e fidelidade
à matriz romano- germânico, perfilhou o método regulatório europeia por situações de
predomínio de conexão económica, académica e do sistema constitucional português.
Assim, consagrou no título III sob epigrafe Organização Económica, Financeira e Fiscal e,
por seu turno no art. 89º, da CRA, o papel do Estado regulador da economia e remeteu ao
legislador ordinário a definição das formas e o regime de intervenção do Estado, nº2, do
art. 89º, da CRA.

Já no segundo momento apesar ser uma das primeiras normas da Constituição Económica
consagra no art. 21º, al. p), da CRA, a eficiência, mas, infelizmente faz pouca menção do
método de eficiência como bandeira da actuação do Estado no domínio económico, ou seja,
não dedica com maior cuidado por pecado da ignorância das matérias de análise económica
do direito.

Podemos assim inferir que a nossa Constituição consagra o método eclético ou misto
(jurídico e económico) com predominância regulatório por via de intervenção (método
Jurídico). Pois que, o método do Direito Económico é o método “analítico substancial “por
empregar análise do fenómeno económico a partir dos factores de produção, distribuição,
comercialização e consumo de bens e serviços do Mercado, ou a inflação, emprego, taxa de
juro e cambio (política económica) para no final alcançar à justiça (jurídico) que é o bem-
estar do homem.

Portanto, como asseveramos (infra), o jurista da actual sociedade global deve interpretar à
Lei e enquadrar os fenómenos económicos sociais para realização do bem-estar do homem,
através de um Direito eficiente ao serviço da humanidade que procura soluções
racionalizáveis em que a tutela da confiança do sistema jurídica é o núcleo natural da
liberdade económica.

58
Manual de Direito Económico Francisco Mário
1.4. Sujeito da Relação Jurídica Económica (jus-económico)
A relação jurídica tem a sua origem, em termos conceptuais no Direito Romano, como na
generalidade de outras ideias comuns ao sistema jurídico ocidental, portanto já os
Romanos falavam no conceito de “vinculum iuris” para exprimir a ideia de uma relação com
relevância para o Direito e que colocavam em conexão duas ou mais pessoas relativamente
à um objecto ou coisa do comércio jurídico67. Entretanto, a construção da relação jurídica
deveu-se essencialmente à escola dos Pandectas dos alemães no pleno século XX, com o
SAVIGNY em frente da doutrina.

Posto isto, para aferirmos o sujeito da relação jurídica económica devemos em primeiro
lugar dar noção da relação jurídica e em seguida os sujeitos da relação jurídica. Porém, as
normas e princípios jurídicos que constituem qualquer ramo de Direito tem sempre como
centro as pessoas (singulares e colectivas), isto é, pessoas colectivas de Direito Público ou
de Direito Privado, como sendo os seus destinatários.

Contudo, para o Direito moderno dos nossos dias nos ordenamentos jurídicos, todo
individuo é pessoa para todos efeitos jurídicos e outras entidades, as pessoas não humanas
também são pessoas jurídicas próprio da construção do Direito, pois que, vêm
reconhecidas a personalidade jurídica nos termos da ex vi lege; (art. 2º, da CRA, art. 66º e
157º, do CC).

Daí resulta uma categoria geral, enquanto qualidade particular imputável à certas
realidades que tem uma vasta utilidade plena no Direito Económico, porque no espaço
jurídico-económico, as pessoas operam como centro de imputação das normas jurídicas
nos termos gerais no plano de desenvolvimento do labor económico, enquanto sujeitos que
asseguram as forças produtivas que constituem os instrumentos das actividades relativas
à produção, distribuição e consumo do Mercado dos bens escassos na sociedade.

Esta actividade projecta-se na actividade económica assumida pelos Agentes Económicos


(Família68, Empresas, as Associações Económicas, o Consumidor, o Agrupamento de
Empresas, ou seja, as Famílias, Estado, Empresas e o Resto do Mundo).

Importa sublinhar nesta sede com particular delicadeza sobre a instituição da família e,
dizer desde logo, que, a família no ordenamento jurídico angolano, em sentido jurídico é
uma comunidade social, ou seja, o grupo constituído por duas pessoas (relação
matrimonial), por pais e filhos (relação de parentesco), por sogros, genros cunhados
(relação de afinidade), ou por adoptado e adoptante (relação de adopção), por via disso,
afigura-se uma relação de família conjugal, parental, de afinidade e adoptiva69.

67 Cfr. AAVV, DIOGO, LUÍS DA COSTA, - Noções e Conceitos Fundamentais de Direito, Quid Juris editora 2007,
Pág. 195.
68 As famílias no Direito Económico como instituição social não é sujeito jus económico por lhe escapar aquele

substrato jurídico de personalidade e capacidade jurídicas, ou seja, de ser centro de imputação autónoma de
direitos e obrigações (nosso).
69 Cfr. PINHEIRO, JORGE DUARTE, - O Direito da família Contemporânea 3º edição 2ª reemp. AAFDL 2012,

Pág. 36-37.
59
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Queremos deixar desde já claro que a família não é em si uma pessoa jurídica, colectiva,
portadora de interesses diferentes da comunidade dos seus membros. Quando a Lei alude
“bens da família”, ou de “interesses morais da família” está a referir-se aos bens, ou aos
interesses de todos e de cada um dos seus membros.

O que significa dizer, os interesses económicos da comunidade familiar não podem levar o
sacrifício dos interesses económicos de um, ou mais dos seus membros. Pelo que, não há
sacrifício económicos que sejam quando a pessoa perspectiva-se no grupo e quando se
atende aos interesses económicos de cada um e de todos70.

Todavia, a Lei não confere ao grupo a personalidade jurídica nem personalidade judiciária.
As fórmulas legais de bens económicos e interesses da família, não traduzem o
reconhecimento de um interesse autónomo de uma entidade colectiva, refere-se
necessariamente aos interesses dos próprios membros da família, não está em causa os
interesses económicos individuais ou exclusivos das pessoas singulares que compõem o
grupo.

Portanto, dizer que, os termos bens económicos e interesses económicos, designam


seguramente os interesses dos membros do grupo familiar enquanto tais, os interesses
comuns das pessoas singulares que integram a família71.

Neste sentido a personalidade do jus-económico define-se como conjunto de direitos e


deveres atribuídos em função da organização e direcção económica; e será sujeito ius-
económico, todo centro de imputação das normas ius-económicas, atribuídos em função do
papel que cada um desempenha no seio do sistema económico72.

Relativamente a teoria da relação jurídica pode-se definir segundo a doutrina de MANUEL


DOMINGUES DE ANDRADE, - é uma relação da vida social disciplinada pelo direito,
mediante atribuição à uma pessoa (em sentido jurídico) de um direito subjectivo e a
correspondente imposição à outra pessoa de um dever ou de uma sujeição73.

O que será, no caso particular a relação jurídica económica?

Vamos tentar dar noção da relação jurídica económica atento as construções já


predefinidas pela doutrina civil e de algum modo do Direito Administrativo, para todos
efeitos da construção do conceito sub judice, vamos convocar algumas noções já vergadas
pelo Direito Administrativo, que é, identitário com o Direito Público da Economia.

70 Cfr. AAVV: CAMPOS, DIOGO LEITE DE / CAMPOS, MÓNICA MARTÍNEZ DE. – Texto do Direito da Família –
imprensa da Universidade de Coimbra 2016. Pág.9.
71 Cfr. PINHEIRO, JORGE DUARTE, - O Direito da família Contemporânea 3º edição 2ª reemp. AAFDL 2012,

Pág. 36-37.
72Cfr. PRATA, HELENA, – Lições de Direito Económico, casa das ideias Pág. 138.
73 Cfr. ANDRADE, MANUEL A. DOMINGUES, – Teoria Geral da Relação Jurídica – vol. I, Sujeito e Objecto,

Coimbra 2003, Reimpressão, Pág. 2.


60
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Assim sendo, a relação jurídica administrativa segundo o conceito que nos foi facultado
pelo um dos expoentes deste entendimento, LUÍS CABRAL DE MONCADA, diz que, - “A
relação jurídica administrativa é, desde modo, vínculo abstracto e geral ou individual e
concreto constituído entre dois ou mais sujeitos de direito por uma norma de direito
administrativo ou por um acto individual concreto, mediante o qual cada um dos
intervenientes pode exigir de outro certa conduta positiva ou negativa”74.

Assim, a noção da relação jurídica administrativa exprime o contacto jurídico disciplinado


entre sujeitos de direito. Neste contexto, ela pode ser considerada como uma categoria
geral do Direito. No âmbito do Direito Privado, o modelo da relação jurídica é a paridade
entre sujeitos de direito intervenientes, manifestando cada um e à sua maneira a respectiva
autonomia negocial (art. 38º, da CRA e art. 405º, do CC).

Todo caso, não é muito alheio este conceito quanto à relação jurídica económica, pois que,
o Direito Administrativo mantém uma relação umbilical com o Direito Económico, ou seja,
o Direito Económico era considerado no antanho como Direito Administrativo Económico,
desde logo, portanto, nos termos desse percurso, afigura-se que as duas noções da relação
jurídica administrativa e da teoria da relação jurídica (Direito Civil), têm como
denominadores comuns de qualquer ensaio que evidencia a relação jurídica económica.

Assim sendo, para nós, como mostrou GASTON BECHELARD, - “um conceito científico se
modifica em função do avanço das teorias e que na sua «última» acepção pode chegar a
negar a dialecticamente a sua acepção inicial”75.

Portanto, podemos inferir a partir da compreensão das contribuições dogmáticas acima


referenciadas e escrutinadas que, neste passo, a relação jurídica económica pode ser
axiomada na seguinte definição: - “um o vínculo geral e concreto que se estabelece entre dois
sujeitos ou mais Agentes Económicos disciplinado por uma norma de Direito Público ou
Privado, contrato ou por um acto individual concreto, mediante atribuição de um direito
subjectivo ao um dos intervenientes, do qual pode-se exigir de outrem certa conduta positiva
ou negativa”76.

1.5. Características do Direito Económico


O Direito Económico é assinalado na ciência jurídica como sendo um Direito específico da
ordenação da economia, ou seja, é o estudo da ordenação (ou regulação) jurídica especifica
da organização e direcção da actividade económica pelos poderes públicos e (ou) pelos
poderes privados, quando dotados de capacidade de editar ou contribuir para a edificação
de regras com carácter geral e vinculativas dos Agentes Económicos77.

74 Cfr. MONCADA, LUÍS CABRAL DE, – Relação Jurídica Administrativa, Coimbra editora 2009, Pág. 13.
75 Cfr. AVV, DUROZOI, G, - Dicionário de Filosofia, dicionário temático, Porto Editora Lda. 2000, Pág. 82-83.
76 Definição nossa.
77 Cfr. PRATA, HELENA, – Pág. 41.

61
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Qualquer modo, as características mais marcantes do Direito Económico são consideradas
as seguintes:

1- Recenticidade: Tanto no Direito angolano como noutros ordenamentos jurídicos do


Direito comparado, é sempre considerado como nova disciplina em relação as
disciplinas tradicionais, ou seja, mais antigas do Direito, designadamente: Direito
Civil, Direito das Obrigações, Direitos Reais e etc., pois ela é uma construção do
século XX, precisamente depois da 1ª Guerra Mundial que marca o fim do
capitalismo liberal e o início do capitalismo social cujos objectivos do capitalismo é
essencialmente a procura do lucro. Assim, aparecem regras jurídicas para reformar,
ou mesmo, substituir a ordem económica existente que até então era regulado pelo
Mercado através da lei da oferta e da procura. Pelo que, o Mercado funcionava como
principal e um grande instrumento coordenador e organizador da actividade
económica consubstanciado na liberdade económica do capitalismo liberal, que
levou a economia daquela época ao pico da falha no domínio da justiça social78.
Todavia, o Estado passa assim à intervir directamente e indirectamente79.

2- Singularidade: é um ramo jurídico próprio para o facto económico característico


de cada País, não havendo, comummente um conjunto de regras para norteá-lo,
como ocorre com outros ramos do Direito tais como civil e o penal.

3- Mobilidade acentuada das normas jurídicas: esta característica afigura-se na falta


de codificação, consistindo numa soma de preceitos dispersos e alheados uns dos
outros, um leque de mensagens normativas avulsas dada ao carácter extravagante
e da dispersão das suas normas ius económicos contidas em diversos diplomas legais
(heterogeneidade) e quer pela sua evidente subordinação as políticas económicas e
sociais. Portanto é um direito disperso, disciplina a vida das empresas, a
propriedade dos meios de produção, a actividade económica pública, etc.

4- Eclectismo: a heterogeneidade do Direito Público da economia, é uma consequência


do recurso simultâneo a regras e instituições de Direito Pública e de Direito Privado,
donde que o Direito Económico mescla valores e princípios do Direito Privado. Isto
porque, dentro de um posicionamento estatal regulador ante a ordem económica, o
Poder Público assume postura mais direcionadara, normalizadora e fiscalizadora da
ordem e dos agentes económicos, procurando abster-se de empreender dentro da
actividade económica. Destarte, deve orientar a sua normatização não somente

78 O pico ou o esplendor da falha no domínio económico-social verificou-se em 1929 - A Grande Crise, do


desemprego, da inflação, da fome, da bancarrota, etc.
79 KEYNES, apareceu neste momento para defender pela 1ª vez a intervenção do Estado, no sentido do

investimento público em tempos de recessão.

62
Manual de Direito Económico Francisco Mário
dentro dos princípios de Direito Público, mas também no Direito Privado, de
maneira a viabilizar a actividade económica do agente privado80.

5- Mutabilidade: suas normas são sujeitas a constantes mudanças de ordem politica


e económica, havendo tendência de curta vigência no que se refere a seus diplomas
legais. Daí decorre uma produção normativa abundante e constante, sendo mister
não se sujeitar o seu ordenamento apenas ao crivo do poder legislativo, outorgando
– se grande parcela de competências normativas ao Executivo, ante a espeficidade
do tema e a celeridade de soluções que seus conflitos exigem81.

6- Maleabilidade: Dada a necessidade de farta produção normativa, os estatutos do


Direito Económico não devem ficar presos e atados unicamente as espécies
normativas próprias do legislativo para terem vigência e eficácia. Muitas das suas
normas, em que pese embora retirarem fundamentos de validade da Lei devem ser
produzidos por mecanismos mais céleres, próprios do Executivo, a fim de
disciplinar os factos económicos e a dinâmica de Mercado82.

7- Concretismo: o Direito Económico disciplina os fenómenos socioeconómicos


concretos, Disto resulta o seu carácter de permeabilidade às estratégias políticas e
neutralidade axiológica. Pois disciplina os fenómenos socioeconómicos concretos,
visceralmente vinculados aos factos históricos relevantes ao Estado e aos agentes
económicos. O Direito Económico é sensível às estratégias e orientações políticas do
legislador e da administração, doente as entidades encarregadas do respectivo
desenvolvimento, juízes, procuradores advogados e agentes administrativos,
interpretá-las de acordo com a estratégia nelas vazadas83. Diferente da generalidade
e abstracção típica da característica das normas jurídicas, as normas jurídicas do
Direito Económico visam disciplinar uma situação concreta da economia, ou seja, as
normas de ius económicos são concretas porque o Estado regula por meio de órgãos
administrativos, os conflitos e situações concretas, pelo uso de actos legislativo
concreto, ex.: nacionalizações, confisco, privatizações, regime de preços, regime do
sector empresarial do Estado e etc.

8- Declínio da coercibilidade e imperatividade: o Estado recorre aos meios técnicos


económicos para penalizar, estimular e incentivar os agentes económicos, tomemos
de exemplos pragmáticos: O aumento de carga fiscal dos produtos importados (nova
pauta aduaneira de Angola), ou estimular a economia através de concessão de

80 Cfr. JOÃO, DOMINGOS FRANCISCO, com participação e orientação de QUEIROZ, FRANCISCO, - Lições de
Direito Económico de Angola. Zoe editora 2018, Pág. 97.
81 Ibidem.
82 Cfr. JOÃO, DOMINGOS FRANCISCO, Ob. Cit. Pág. 97.
83 Ibidem.

63
Manual de Direito Económico Francisco Mário
empréstimos, auxílio do Estado, Protecção das Micro, Pequenas e Médias Empresas,
(fomento), ou como diria, promover determinadas actividades económicas pelo
recurso à normas-programáticas, designadas “Lei-quadro, Leis-medidas” como as de
proibição das importação das viaturas com volante a direita, ou usadas há mais de
(3) três anos, determinação das quotas de importação de certos produtos como a
batata rena, franco, cimento e etc., restrições e limitações ao acesso as divisas no
Mercado Cambial pelo sistema financeiro bancário e cambial, “Lei-princípio”,
contratos económicos e etc.

As normas de Direito Económico funcionam como instrumentos de coordenação e de


subordinação.

Coordenação dos sistemas econômicos que são modelados de forma a funcionarem na


busca de alguns resultados determinados.

Subordinação, pois as leis económicas são dirigidas a todos que exercem actividade
económica, ainda que de forma não profissional.

Em suma as características das normas de direito económico podem ser apontadas como:

É conjunto de normas de um direito disperso que disciplina a vida das Empresas, a


propriedade dos meios de produção, a actividade económica pública, etc.

É um direito quadro que enquadra a actividade económica, através de normas que ao serem
cumpridas, se realizam, deixando depois um espaço jurídico para outros ramos de direito.

Exige uma interdisciplinaridade interna, necessidade de grande conhecimento dos outros


ramos de direito, designadamente o Direito Civil, (Direito das Obrigações, Direitos Reais,
Direito Processual, Direito Internacional Privado, Direito Penal, Direito Comercial); Direito
Público (Direito Constitucional, Direito Administrativo, Direito Financeiro e Finanças
Públicas, Direito Fiscal, Direito Processual Fiscal e Tributário, Direito dos Recursos
Naturais, Ordenamento do Território e Ambiente).

Exige uma interdisciplinaridade externa, necessidade de outros conhecimentos que de


Direito utiliza conceitos puros de economia (Economia Política, Macroeconomia,
Econometria, Contabilidade e Finanças, Micro-Economia, História Económica e Social,
Sociologia, Relações Económicas Internacionais, Economia da Banca e Seguros), o que não
acontece com os outros ramos de Direito ministradas como disciplinas jurídicas nos cursos
de licenciatura em Direito.

As normas do Direito Económico são mais concretas do que as dos outros ramos de Direito,
pois criam normas para regular certas situações em determinadas áreas ou sector da
economia, num determinado momento económico, com o fim de realizar o interesse
económico público ou geral.

64
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Tem um amplo poder discricionário, pois certas Leis podem contrariar a Lei da livre
concorrência, se apesar de essa restrição surgirem algumas consequências positivas
exemplo o caso do Auxilio do Estado através do Aval do Estado ou despesa fiscal e de
perdão ou amnistia fiscal, que são poderes discricionários conferidos ao Titular do Poder
Executivo em Angola nos termos da CRA e da Lei84.

É mutável, segundo as épocas e as opções políticas, as normas do Direito Económico


mudam. (ex: em 1976 nacionaliza-se e confiscou-se e, a partir dos anos 90 privatiza-se).
Porém, o Direito Económico também pode evoluir com o avanço das tecnologias e a
realidade que o próprio Direito tem que regular é o caso do comércio electrónico, as
operações bancarias electrónicas, pagamentos electrónico, as offshore de publicidade
como: OLX, Google, que constituem as cibernéticas económicas e financeiras de produtos.

É maleável não se muda tudo por Lei ou Decreto-Lei. Há grandes mudanças que são
consequências de conceitos indeterminados. Casos em que o legislador só intervém quando
for possível compreender melhor a realidade em toda a sua extensão. (Ex: Leis que proíbem
a abertura dos comércios ao domingo e feriados).

Poderá questionar-se se o Direito Económico é um Direito diferente?

Pelo que, propendemos pela resposta positiva, atento que o Direito Económico como
instrumento face ao poder político dominante, disciplina a actividade económica no seu
conjunto. Pois que, visa edificar e organizar uma ordem económica única do sistema
jurídico, porquanto, regula esta ordem económica, através da criação de normas, para que
o sistema funcione de uma maneira harmoniosa, garantindo assim o interesse económico
geral.

Mas entretanto, naqueles aspectos que seja necessário a criação de normas jurídicas, para
garantir o bom funcionamento dessas áreas cujo fim é efectivamente, como já dessemos,
repita-se, o bom e harmonioso funcionamento da economia, satisfazendo assim o interesse
económico geral.

Disto resulta o seu caracter de permeabilidade às estratégias políticas e neutralidade


axiológica. Pois disciplina os fenómenos socioeconómicos concretos, visceralmente
vinculados aos factos históricos relevantes ao Estado e aos agentes económicos.

Portanto, o Direito Económico é sensível às estratégias e orientações políticas do legislador


e da administração, doente as entidades encarregadas do respectivos desenvolvimento,
juízes, procuradores advogados e agentes administrativos, interpretá-las de acordo com a
estratégia nelas vazadas85.

84 Vide art. 119 º e 120º da CRA., é caso do Estado através do Decreto Presidencial que concedeu o AVAL de
garantia soberana do crédito mal parado do BESA (Banco Espírito Santo Angola) no valor de Euros: 5,7 mil
milhões.
85 Cfr. JOÃO, DOMINGOS FRANCISCO, com participação e orientação de QUEIROZ, FRANCISCO, - Lições de

Direito Económico de Angola. Zoe editora 2018, Pág. 97.


65
Manual de Direito Económico Francisco Mário

1.6. O Direito Económico face a outros Direitos em Matéria Económica

O Direito Económico como ciência jurídica que tem vindo autonomizar-se face os ramos de
Direito já existentes como Direito Comercial, certas áreas do Direito Civil, o Direito
Administrativo e o Direito Constitucional, mas sem perder de vista uma relação de
interdisciplinaridade, mas sem descurar, como é natural as dificuldades existentes nas
zonas de fronteira mal definidas no âmbito interno, internacional e recentemente o nível
comunitário. Pois bem, conhece-se largamente as afinidades com o Direito Comercial,
Direito Administrativo, Direito Processual, Direito Penal, Direito das Obrigações, Direitos
Reais, e o Direito Constitucional uma vez que é a Constituição que fixa as balizas da
organização económica86.

1.7. Fundamento da Autonomia do Direito Económico.

A questão da autonomia do Direito Público da Economia tem sido analisado na base dos
recortes que delimitam as suas características específicas atento a sua dupla designação
como Direito e como a Economia.

Segundo CABRAL DE MONCADA, entende que, o problema da autonomia do Direito


Económico nos obrigará a perspectivá-los, no seguinte:
- Como ramo do Direito autónomo, a semelhança do Direito de Trabalho, Direito Fiscal,
Direito Financeiro, Direito do Ambiente e etc., ou;

- Como disciplina científica dotada de autonomia, afigurando-se no curriculum de forma


individualizada, a par de outras disciplinas científicas87.

Ora, autonomia do Direito Económico como ramo do Direito Público é uma questão
complexa e convencional, na medida que surgem dificuldades na noção vaga e imprecisa.

No entendimento de CABRAL DE MONCADA, o ramo do Direito autónomo seria aquela cujas


normas, pelas suas características peculiares, lhe imprimem um centro específico
afirmando-o como corpo próprio de regras de direito individualizados e separados,
orientadas por preocupações específicas e reciprocamente relacionadas88.

O Direito Económico e a sua autonomia funda-se na intervenção do Estado na vida


económica, neste sentido, o Direito Económico vai ganhando características específicas,
normas e princípios próprios construído de direito que dá autonomia tanto científica e
pedagógica.

86Cfr. FERREIRA, EDUARDO PAZ, – Direito da Economia, Lisboa AAFDL-2003. Pág. 46.
87 Cfr. MONCADA, LUÍS CABRAL DE, – Direito Económico, Pág. 113.
88 Ob. Cit. Pág. 113.

66
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Mas, fala-se de uma interdisciplinaridade no estudo do Direito Económico que ultrapassa
o campo jurídico, querendo com isto sublinhar-se o especial peso que os temas económicos
assumem no objecto desta disciplina. Por vezes, chega mesmo a ser visto numa óptica
funcionalista, como mero instrumento da economia, portanto essas meias verdades nos
mobiliza para enfatizarmos que é, pois um Direito ao serviço dos ditames económicos, que
apenas vê justificada a sua existência na medida em que cumpre esses objectivos.

O Direito é assim um produto cultural por excelência, surge como uma instância reguladora
dotada de uma racionalidade que não se reduz à pura racionalidade económica. No entanto
essa autonomia é relativa, mas de todo modo, evolução económica e tecnológica influencia
a profundidade do Direito, obrigando-o a um processo de contínua adaptação89.

Daí que se justifica o recurso aos conceitos indeterminados e cláusulas gerais, abdica dos
conceitos indetermináveis, outorga o menor peso do formalismo e conceptualismo jurídico,
e a importância da interpretação sistemática e teleológica (…). Porém, procura-se a
pluralidade de métodos, mostrando a parcialidade das várias “ciências”.

Todavia, o estudo do Direito Económico vai-se consolidando por via da


interdisciplinaridade, isto é, normalmente pode ser entendida no sentido de compreender
alguns fenómenos jurídicos como responsabilidade civil do produtor, ou na formação de
contratos, sem antes ter uma compreensão razoável de ideias como eficiência (que não é o
mesmo que eficácia), ou assimetria de informação, de fenómenos como a economia do risco
e dos seguros e, com o concurso dos recursos intelectuais de uma e de outra janela científica
das ciências socias.

Tome-se como exemplo meramente ilustrativo à questão da compra e venda. Tanto é


regulada pelo Direito Civil, quanto pelo Direito Económico.

Pelo primeiro sentido é de se estabelecerem normas regentes da relação contratual


privatística entre comprador e vendedor.

Pelo segundo e último, na medida em que se dispõem regras determinadas da relação de


consumo, tendo em vista a protecção dos direitos e interesses económicos dos
consumidores90.

Note-se que o Direito Económico tem como característica marcante de efemeridade e a


flexibilidade das suas normas, pelo que;

Efemeridade – a transitoriedade (efemeridade) que se afere é devido ao facto de que elas


estão, necessariamente, adstritas à ideologia de determinada Constituição. Revogada ou
reformada esta, acrescentando-se palpáveis modificações em termos ideológicos,

89 Cfr. PRATA, HELENA, - Lições de Direito Económico, Pág. 15.


90 Ibidem. Pág. 22.
67
Manual de Direito Económico Francisco Mário
consequentemente, muda-se aquela, para que, novamente, se adeque à nova ordem91. Ou
seja são mutáveis.

E, flexíveis porque as normas jurídicas do Direito Económico no plano sancionatório


apresentam-se como normas sancionatórias mitigadas, ou fracas devido a tolerância que
lhes é característica atento que os agentes económicos, ou seja, os sujeitos das actividades
económicas são os indivíduos particulares, o Estado, as Empresas os órgãos nacionais,
internacionais e comunitários, bem como os titulares de direitos difusos e colectivos.

Portanto, o Direito Económico mais do que um ramo de Direito autónomo, é uma diagonal
– uma transversal – que corta as várias normas dos ramos de Direito que regulam a matéria
de dimensão económica92.

1.8. Relação entre o Direito e a Economia


A Economia como uma ciência da escassez e das escolhas fica espelhada numa lapidar
formulação de LIENEL ROBINS, que nos reporta de que, “a economia é uma ciência que
estuda o comportamento humano como uma relação entre fins e os meios escassos
susceptíveis de aplicação alternativas”93.

As relações entre a Economia e o Direito não são uniformes e tem variado ao longo do
tempo, assim para o pensamento liberal, aliás, que lançou as bases da ciência económica, a
actividade económica é um dado natural, que é o prolongamento das liberdades individuais
e geradoras da riqueza94.

Rege-se por uma lógica própria, totalmente racional e desenvolve-se num meio
institucional próprio designado de Mercado.

Neste sistema económico, à regra jurídica competiria assim favorecer o produto de giro
dos capitais, fornecendo a actividade económica um suporte normativo sistemático e
transparente dando assim a primazia da economia sobre o Direito.

Por seu turno no pensamento marxista também evidencia-se a primazia da actividade


económica sobre a regra jurídica, pois o sistema social próprio do capital baseado na
apropriação privada dos meios de produção caracteriza-se pela determinação da
superestrutura jurídica sobre infra-estrutura económica, aqui o jurista actua com a
neutralidade do Estado no terreno económico devido o peso ideológico do sistema, que
substitui de modo assinalável a justiça das prestações pela justiça formal.

“Inter alia” o pensamento liberal clássico, bem como o pensamento marxismo, a economia
era a rainha (alter-ego) e o direito seu servo obediente95.

91 Ibidem Pág. 23.


92 Vide a nota nº1 Comentários de MONCADA, LUÍS CABRAL DE, – Direito Económico, Pág. 116.
93 Apud, ARAÚJO, FERNANDO, - Introdução a Economia, Vol. I, 2ª edição, 2004, Pág. 26.
94 Ob. Cit. Pág. 7.
95 Ob. Cit. Pág. 8.

68
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Mas, contudo, foi E.U.A no séc. XIX em que o liberalismo aos poucos quebrou-se a confiança
dos Mercados como instrumento da riqueza, dando lugar a disciplina da concorrência, por
ter-se apercebido que o Mercado não podia funcionar de per si.

Por conseguinte, a relação entre a Economia e o Direito inventou-se o Direito com base os
valores de justiça, e, estranhos a actividade económica que vai reagir sobre a Economia
para tutelar os interesses públicos por via de intervenção do Estado na economia ou sobre
a economia (Regulação Social)96.

Portanto, a relação entre o Direito e a Economia é efectivamente uma relação de


subordinação as regras do Direito emanadas pela corte do poder político nos motes do
normativo da CRA, - o Direito estabelece regras jurídicas para o são funcionamento e
harmonioso da Economia.

1.9. Fontes do Direito da Economia


Por fontes do Direito entende-se os modos de produção e revelação das normas jurídicas.
Em matéria de Direito Económico podemos encontrar as fontes tradicionais (a
Constituição, actos normativos, regulamentos) e as fontes não tradicionais (os acordos de
concertação económica; as varias formas contratualistas estabelecidas entre o Estado e os
particulares)97.

1.9.1. Fontes Tradicionais: Fontes Internas e Internacionais.

1.9.1.1. Fontes Internas


a) Constituição

Naturalmente, é a primeira e a mais importante fonte do Direito, porque é a Lei


fundamental é a carta magna, portanto fixa as grandes balizas de toda actividade económica
como por exemplo os artigos: 2º, 8º, 12º, 14º, 15º, 16º, 38º, 78º, 89º, e ss da CRA.

b)Actos Normativos

Constituem actos normativos como fontes de Direito Económico as Leis, Decretos-lei,


Decretos, conforme o desposto nos artigos: 125º, 126º, 167º da CRA.

c)Regulamentos

São um conjuntos de normas e princípios Jurídicos que regulam uma determinada


actividade económica art. 201º, da CRA.

96 Cfr. AZEVEDO, MARIA EDUARDO DE, – Temas de Direito de Economia, Almedina 2013, Pág. 44.
97 Cfr. AAVV. – DOS SANTOS, ANTÓNIO CARLOS/GONÇALVES, MARIA EDUARDA/MARQUES, MARIA MANUEL

LEITÃO, - Direito Económico – Almedina 5ª edição, 2004, Pág. 21-25.


69
Manual de Direito Económico Francisco Mário
1.9.1.2. Fontes Internacionais:
São fontes do Direito Económico Internacional os tratados Internacionais98 e regionais,
efectivamente são numerosas as convenções Internacionais que vinculam o Estado em
matéria económica que ingressam na ordem económico através da transposição semi-
plena e plena nos termos densificado no corpo do art. 13º, da CRA, que prescreve o
seguinte:

Artigo 13º

(Direito Internacional)

1. O direito internacional geral ou comum faz parte integrante da ordem jurídica angolana.

2. Os tratados e acordos internacionais regularmente aprovados ou ratificados, vigoram na


ordem jurídica angolana após a sua publicação oficial e entrada em vigor na ordem jurídica
internacional e enquanto vincularem internacionalmente o Estado angolano.

3. Os actos jurídicos emanados dos órgãos competentes das organizações internacionais de


que Angola seja parte vigoram na ordem jurídica interna, desde que tal esteja estabelecido
nos respectivos tratados constitutivos.

Por outro lado confluem para efeitos das fontes do Direito Económico no plano
internacional a Lei nº 4/011, de 14 de Janeiro, Lei sobre os Tratados Internacionais ex.:
GATT, SADC, OMA, OMC etc99.

98 O Tratado de METHUEN, também referido como Tratado dos Panos e Vinhos, foi um tratado assinado entre

a Inglaterra e Portugal, em 17 de Dezembro de 1703. Foram seus negociadores o embaixador extraordinário


britânico JOHN METHUEN, por parte da Rainha ANA da Inglaterra, e D. MANUEL TELES DA SILVA, - MARQUÊS
DE ALEGRETE – Portugal. Pelos termos, os portugueses se comprometiam a consumir os têxteis britânicos e,
em contrapartida, os britânicos, os vinhos de Portugal. - Que levou Inglaterra a desenvolver a indústria e
Portugal ficou no vinho e no fado até hoje.
Em Angola lembra dos célebres tratados de pesca entre Angola e União Soviéticas de pescar nas águas
soviéticas e angolanas vice-versa -, de melhoramento da produção de cana-de-açúcar em Benguela e das
videiras com os cubanos e italianos respectivamente, o mais recente tratado (cambial) entre Angola-Namíbia
de 2015 sobre a circulação da moeda Kwanza e Dólar Namibiano, que de algum modo foram negócios de
Estado ilustrativamente ruinosos para Agentes Económicos Angolanos e para o Estado de Angola.
99 São as seguintes fontes de Direito Internacional Público:

1- Convenção (Tratado) Internacional - é um acordo resultante da convergência das vontades de dois ou mais
sujeitos do direito internacional, traduzida num documento escrito, com o intuito de produzir efeitos
jurídicos no plano internacional. Esta é a fonte cujo maior uso se tem feito no campo internacional nos dias
que correm, tendo todos os seus aspectos e minúcias abordados em qualquer Manual de Direito Público
Internacional, sejam estas gerais ou especiais, desde que observem as normas fixadas pelos Estados em
conflito. Devem ser registados na ONU para que tenham validade internacional.

2- Costume Internacional - é uma prática reiterada dos sujeitos no Direito Internacional, geralmente aceite
como sendo o Direito. É a fonte de maior uso pela comunidade internacional até à Segunda Guerra Mundial,
e resulta da prova de prática geral entre Estados que possa ser aceite como Direito. O costume serve como
norma jurídica para fixar algumas soluções, mas nos dias de hoje, perde terreno face à ascensão da utilização
preferencial dos Tratados pela comunidade internacional.

3- Princípios Gerais do Direito - são aqueles aceites por todos os ordenamentos jurídicos, como por exemplo:
70
Manual de Direito Económico Francisco Mário
1.9.1.3. Fontes não Tradicionais
Em consequência da evolução que se verifica no mundo actual tende ganhar uma
importância crescente no Direito da Economia, pois a regulação da actividade económica
tem origem pública, particular ou mista ex.: Acordos de concertação económica.

1.9.1.4. Novas Fontes


No Direito Económico além das fontes tradicionais hodiernamente inclui-se as fontes novas
de produção pública e privada por causa da dinâmica da economia que vai tendo ao longo
dos anos, assim, temos:

- Normas de origem contratual e profissional (Ex: Códigos de boa conduta);

- Decisões emanadas das autoridades administrativas independentes resultantes do


funcionamento de organismos consultivos (comités de ética);

- Jurisprudência - é da maior importância a apreciação da forma como os tribunais


interpretam as normas de direito económico, nomeadamente o Tribunal Constitucional e o
Tribunais de 1ª Instância, daí ser importante a jurisprudência; e,

- Os Usos e Costumes100 - os usos e costumes são fontes mediatas desde que não estejam
em oposição com a ordem económica.

a boa-fé, respeito à coisa julgada, principio do direito adquirido e do “pacta sunt servanda” (“princípio da força
obrigatória que abrange os contratos firmados entre duas ou mais partes. Consiste na ideia de que aquilo que
está estabelecido no contrato e assinado pelas partes deve ser cumprido. Esta é uma expressão em latim e
significa "pactos devem ser respeitados" ou "acordos devem ser mantidos", em português.
O princípio-base do “pacta sunt servanda” diz que aquilo que está escrito se torna lei entre as partes que
assinaram tal documento. Desta forma, não se pode obrigar alguém a cumprir um contrato do qual não é
signatário.
O “pacta sunt Servanda é também princípio-base do Direito Civil e Direito Internacional. Esta condição garante
a segurança jurídica e a autonomia das partes ao firmarem tal contrato”).
Os princípios gerais do direito vigoram dos sistemas jurídicos dos Estados, mesmo que seja apenas um
número restrito de países a adoptar, para que ela seja possível de gerar lei.
Encontramos ainda outras fontes tidas como secundárias, mas também consideradas fontes geradores de
direito internacional. Referimo-nos à jurisprudência, e, menos consensual, a doutrina formada por reputados
especialistas em DIP, de determinados países, sobretudo de língua inglesa.
O Tribunal Internacional de Justiça, quando há conflitos de interpretação de normas entre Estados, pode
decidir “ex aequo et bono”, ou seja, se entende justo pela comunidade internacional caso as partes concordem
em levar o caso à sua jurisdição, e não se encontre em nenhuma convenção a solução que resolva a questão.
100 O costume e os usos económicos são fontes de Direito Económica na medida em que impera ainda a

tradição africana angolana com assento constitucional art. 7º e 223º, da CRA, art. 348º, do CC., todavia, os
usos no ordenamento jurídico económico angolano pode-se observar com alguma frequência nas práticas do
comércio como nos padrões de medida de peso, de volume, capacidade e de cumprimento – porquanto os
comerciantes usam os recipientes como canecas ou “ganja”, “Eholo”, “Omacuila” ou Npaquelo, “Tchibala” ou
Oshimbale (na língua nacional bantu da região sul de Angola) balde ou recipientes feitos de madeira para
medir a quantidade de produtos tais como milho, batata, massango, massambala, jinguba, tomate, sal, açúcar,
etc., bem como para medir a capacidade de líquidos, ainda para medir o cumprimento dos terrenos ou tecidos
de pano, marcam passos dos pés para determinar a demarcação das léguas dos terrenos das lavras e dos
quimbos, por outro a compra e venda do gado bovino não é feito mediante a pesagem dos animais, mas sim
determina-se o preço virtualmente de acordo a convicção de usos e costumes do Mercado, pois que
desconhecem os padrões convencionais modernos de origem europeia a sua escrita do alfabeto fenício.
71
Manual de Direito Económico Francisco Mário

Entretanto estes usos e costumes tradicionais de nações dos Reinos do Nhanecas, Ambós e da Comunidade
dos Ovahelelos do Tate Mussungo Bitoto (então vassalo ou protectorado do Reino dos Nhanecas do Jau-
Mpata), influenciou a economia angolana, precisamente a economia informal, o preço da corrida de taxa (sem
taxímetro) a venda de frutas e hortícolas (sem balança), pois neste Mercado não usam as medidas
convencionais nas transacções que acabamos a referenciar. Daí ser considerado os usos e costumes como
fontes do Direito Económico no actual contexto.
72
Manual de Direito Económico Francisco Mário
CAPÍTULO II

2. CONSTITUIÇÃO ECONÓMICA

2.1. Noção da Constituição Económica


A noção da Constituição Económica ocupa um lugar central para o estudo do Direito
Económico, havendo mesmo quem estruture a partir dessa noção fundadora do Direito
Económico, que represente a expressão mais acabada do objectivo da ordenação da
economia, aliás, JORGE REIS NOVAIS entende que a Constituição é o Direito, é uma norma
jurídica vinculativa, é a Lei, é a Lei fundamental que regula o funcionamento dos órgãos do
Estado e dos poderes públicos e que acima de tudo, lhes impõe todo um conjunto de
deveres relativos à garantia dos direitos constitucionais101.

Porém, a ideia de Constituição Económica tem uma origem considerada como recente
tributado pela doutrina alemã, confundindo-se praticamente com a origem do Direito
Económico e ecos a preocupação demonstrada pela Constituição de WEIMAR (de 1919)102,

101Cfr. NOVAIS, REIS JORGE – Em Defesa do Tribunal Constitucional, Almedina editora, 2014, Pág. 26.
102 A estrutura da Constituição de WEIMAR é claramente dualista: a primeira parte tem por objectivo a
organização do Estado, enquanto a segunda parte apresenta a declaração dos direitos e deveres
fundamentais, acrescentando às clássicas liberdades individuais os novos direitos de conteúdo social.
Essa estrutura dualista não teria minimamente chocado os juristas de formação conservadora, caso a segunda
parte da Constituição de WEIMAR se tivesse limitado à clássica declaração de direitos e garantias individuais.
Estes, com efeito, são instrumentos de defesa contra o Estado, delimitações do campo bem demarcado da
liberdade individual, que os Poderes Públicos não estavam autorizados a invadir. Os direitos sociais, ao
contrário, têm por objecto não uma abstenção, mas uma actividade positiva do Estado, pois o direito à
educação, à saúde, ao trabalho, à previdência social e outros do mesmo género só se realizam por meio de
políticas públicas, isto é, programas de acção governamental. Aqui, são grupos sociais inteiros, e não apenas
indivíduos, que passam a exigir dos Poderes Públicos uma orientação determinada na política de
investimentos e de distribuição de bens; o que implica uma intervenção estatal no livre jogo do mercado uma
redistribuirão de renda pela via tributária.
Essa orientação marcadamente social e não individualista aparece até mesmo nas disposições que o
constituinte classificou como se referindo a pessoas individuais. Assim é que o art. 113º, de modo pioneiro,
atribuiu a grupos sociais de expressão não alemã o direito de conservarem o seu idioma, mesmo em processos
judiciais, ou em suas relações com a Administração Pública. Marcou-se, desta forma, a necessária distinção
entre diferenças e desigualdades. As diferenças são biológicas ou culturais, e não implicam a superioridade
de alguns em relação a outros. As desigualdades, ao contrário, são criações arbitrárias, que estabelecem uma
relação de inferioridade ou superioridade de pessoas ou grupos em relação a outros. Assim, enquanto as
desigualdades devem ser rigorosamente prescritas, em razão do princípio da fisionomia, as diferenças devem
ser respeitadas ou protegidas, conforme signifiquem uma deficiência natural ou de uma riqueza cultural.
Mas foi, sem dúvida, pelo conjunto das disposições sobre a educação pública e o direito de trabalho que a
Constituição de WEIMAR organizou as bases da democracia social.
A secção sobre a vida económica abre-se com uma disposição de princípio, que estabelece como limite à
liberdade de mercado a preservação de um nível de existência conforme à dignidade humana (art. 151º).
A função social da propriedade foi marcada por uma fórmula que se tornou célebre: “a propriedade obriga”
(art. 153º, al. a). O Projecto para a Constituição foi redigido por HUGO PREUSS, discípulo do historiador do
direito e teórico do antigo comunitarismo germânico, OTTO V. GIERKE. Desde a sua concepção, portanto, a
Constituição de WEIMAR se estruturava contraditoriamente, procurando conciliar ideias pré-medievais com
exigências socialistas ou liberais-capitalistas da civilização industrial.
A Constituição de WEIMAR e o Estado Social - A Constituição de WEIMAR formulou alguns dispositivos em
relação à ordem económica e social em texto por si só esclarecedor. Se ela reconhece a propriedade como tal,
por um lado, por outro diz no artigo 153º, que a propriedade impõe obrigações. Seu uso deve estar a serviço
73
Manual de Direito Económico Francisco Mário
com certa antecipação, a Constituição Mexicana (1917) e a Lei Fundamental Russa (de
1918), perante as questões económicas e sociais103, que de certo modo iniciaram a
consagração explicita de normas e princípios sobre matérias económicas e sociais,
quebrando com aquela tradição do modelo seguido pelas constituições politicas e, por
conseguinte, obviando o seu declínio consubstanciado no abandono da matriz do Estado
Liberal puro, abstencionista quanto à coisa “económica”, para salvaguardar a legitimação
dos poderes do Estado ao intervir na vida económica104.

Neste sentido, segundo o Prof. EDUARDO PAZ FERREIRA, a Constituição Económica surge
como uma consequência (ou instrumento) da passagem do Estado Liberal Clássico para o
Estado Intervencionista105. Hoje em dia podemos verificar que todos sistemas económicos
tem a Constituição Económica.

Ora bem, a Constituição Económica corresponde aos princípios fundamentais que


determinam as relações entre o poder político e a economia, ou mais amplamente, aos

do mais alto interesse comum. Quanto à propriedade da terra, o artigo 155º diz que o Reich (este nome foi
mantido!) será responsável pela inspecção do aproveitamento do solo, visando a coibição de abusos e a
garantia de que cada alemão tenha uma habitação saudável e que as famílias tenham um pedaço de terra
suficiente para a exploração económica de acordo com suas necessidades. O texto constitucional weimariano
abre, inclusive, a possibilidade de expropriação ao bem do interesse comum e sob certas condições tornando
a propriedade colectiva (artigo 156º).
Instalada em 6 de Fevereiro de 1919, na cidade de WEIMAR a assembleia nacional constituinte encerrou seus
trabalhos em 31 de Julho seguinte, quando foi aprovada a nova Constituição por 272 votos contra 75 e várias
abstenções. Pouco antes, porém, em 9 de Julho, a assembleia havia ratificado o tratado de Versalhes, que
impôs à Alemanha indemnizações de guerra em montante desproporcional e insuportável. Como advertiu
KEYNES, as potências vencedoras criavam com isso as condições predisponentes de um futuro colapso
financeiro da República Alemã, tornando impossível a sua normal integração no concerto europeu do pós-
guerra. O factor desencadeante da bancarrota adveio dez anos após, com o colapso da Bolsa de Nova York e a
grande depressão mundial que se lhe seguiu. Abria-se, assim, o palco para a entrada em cena da barbárie
nazista, que destruiu a República de WEIMAR em poucas semanas, no início de 1933.
Importância histórica. Apesar das fraquezas e ambiguidades assinaladas, e malgrado sua breve vigência, a
Constituição de WEIMAR exerceu decisiva influência sobre a evolução das instituições políticas em todo o
Ocidente. O Estado da democracia social, cujas linhas-mestras já haviam sido traçadas pela Constituição
mexicana de 1917, adquiriu na Alemanha de 1919 uma estrutura mais elaborada, que veio a ser retomada em
vários países após o trágico interregno Nazi-Fascista e a 2ª Guerra Mundial DE 1939-1945. A democracia
social representou efectivamente, até o final do século XX, a melhor defesa da dignidade humana, ao
complementar os direitos civis e políticos - que o sistema comunista negava - com os direitos económicos e
sociais, ignorados pelo liberal-capitalismo. De certa forma, os dois grandes pactos internacionais de direitos
humanos, votados pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 1966, foram o desfecho do processo de
institucionalização da democracia social, iniciado por aquelas duas Constituições no início do século.
Mas pergunta-se por vezes quem foi WEIMAR?
R/WEIMAR, não é uma pessoa física, é uma pessoa jurídica colectiva territorial germânica, ou seja, foi e é uma,
pequena e pacata cidade clássica germânica de intelectuais próximas de Gotha, de Erfurt e de Leipizig, mas
longe de Berlim, onde se realizou Assembleia Constituinte da Constituição de 1919, conhecida Como
Constituição de WEIMAR o jeito de enaltecer a cidade.
103 Apud, FERREIRA, EDUARDO PAZ, – Direito da Economia, Pág. 57; MENEZES, CORDEIRO – Direito da

Economia.
104 Mas desenvolvimento ver também JOÃO, DOMINGOS FRANCISCO, -Temas Essenciais do Direito da

Economia Angolana, escolar editora Lobito 2014 Pág.38 e ss,


105 FERREIRA, EDUARDO PAZ, – Direito da Economia, Pág. 57.

74
Manual de Direito Económico Francisco Mário
princípios que regulam a relação entre a economia e o Estado e o quadro geral em que se
desenvolvem as actividades económicas de sujeitos de Direito Público e Privado106.

VITAL MOREIRA, define a Constituição Económica como um conjunto de preceitos e


instituições jurídicas que, garantindo os elementos definidores de um determinado sistema
económico (…)107.

Para HELENA PRATA, a Constituição Económica pode ser definida como um conjunto de
princípios, critérios, valores e regras fundamentais que presidem a vida económico e
social108.

Pelo seu turno, OVÍDIO PAHULA, defende que o “ a Constituição Económica é o conjunto de
bases fundamentais da ordem jurídica da economia onde se define as normas e princípios
constitucionais atinentes aos direitos fundamentais de índole económico, (…)109.

Todavia, a Constituição Económica é uma parte da Constituição Política e o seu objecto não
se confunde com a ordenação total, global e acabada da sociedade. Porque a Constituição
Económica, não se pode separar da democracia nem das exigências de um Estado de
Direito. Por conseguinte a Constituição Económica é, repete-se, no entanto, um conceito
central desde a Constituição de WEIMAR (Alemã) em qualquer estudo do Direito
Económico…110.

Portanto, a expressão Constituição Económica é susceptível de reparos, por estar sempre


subjacente a ideológica política da partidocracia como uma forma mais latente de
organização do Estado Económico das sociedades actuais e de algum modo, como forma de
participação da cidadania económica, por outro lado, a Constituição Económica vai
significar os princípios jurídicos fundamentais de organização económica de uma
determinada comunidade política, ou seja, equivale a ordem económica fundamental, onde
o Estado exerce a sua plena soberania económica de acordo o interesse público. Pois que a
ordem económica está subordinada ao Estado e está ao seu serviço.

Por conseguinte, vincula-se aos poderes do Estado, porque o soberano é Estado cuja
soberania reside no povo como plaina aquele dispositivo normativo constitucional “ex vi
lege”, art. 6º, da CRA, e não ordenamento económico que constitui um conjunto de Leis e
instituições jurídicas mutáveis.

Entretanto, o Estado é imutável em regra, salvo por uma questão que se prende com
revolução, golpe de Estado, invasão ou ocupação por forças militares estrangeiras que
possam alterar a forma do Estado e consequentemente a sua economia. Daí, é mister

106 Ob. Cit. Pág. 59.


107 Apud, VAZ, MANUEL AFONSO, – Direito Económico, 3ª edição, Coimbra Editora 1994. Pág. 113.
108 Cfr. PRATA, HELENA, - Lições de Direito Económico, Pág. 47.
109Cfr. PAHULA, OVÍDIO, - Evolução da Constituição Económica Angolana, casa das ideias, 2009, Pág. 104.
110 Ob. Cit. Pág. 117.

75
Manual de Direito Económico Francisco Mário
entretanto distinguir, o conceito ou expressão de Constituição Económica e a Ordem
Económica.

Hoc sensu, segundo VITAL MOREIRA, entende que a CONSTITUIÇÃO ECONÓMICA - é o


seguimento normativo da Constituição que trata dos princípios e regras fundamentais da
ordem económica.

Importa aquilatar alguns conceitos de mote jurídico económico para substanciar o nosso
estudo nesta sede da Constituição Económica que por vezes esses conceitos tem sido
utilizados indevidamente mesmos pelos académicos, assim sendo elencamos a seguir:

ORDEM ECONÓMICA - antes de deferir uma noção de ordem económica vamos saber o que
é a ordem? Ordem – etimologicamente como disposição metódica dos componentes de um
conjunto. Entretanto, a ordem económica pode ser definida como um conjunto de normas,
ou instituições jurídicas que tem por objecto as relações económicas111.

A ORDEM ECONÓMICA PÚBLICA – conjunto de instituições públicas que dedicam


actividade económica lucrativa no caso as Empresas Públicas como o regime e a Lei do
sector empresarial público em Angola.

A ORDEM ECONÓMICA PRIVADA – é a organização económica privada sob a regulação


pública.

ORDENAMENTO ECONÓMICO – é conjunto de princípios, normas e regras e instituições


jurídicas vigente no determinado pais.

REGIME JURÍDICO ECONÓMICO – conjunto de Leis e demais instrumentos reguladores das


relações entre sujeitos de Direito.

SISTEMA JURÍDICO ECONÓMICO – é o conjunto coerente de instituições, de normas gerais


e de princípios destinados a realização da prática económica ou de justo económico nas
relações entre sujeitos de Direito.

MODELO JURÍDICO ECONÓMICO – é um conjunto de normas que correspondem ao de tipo


de funcionamento das relações que se desejam ver realizadas.

POLÍTICA ECONÓMICA - consiste num conjunto de medidas micro e macroeconômicas,


emanadas pelo poder executivo, no domínio fiscal, monetária, cambial e creditícias
voltadas à regulação da economia e a consecução de determinados fins.

111 Apud, PRATA, HELENA, - Lições de Direito Económico. Pág. 46.


76
Manual de Direito Económico Francisco Mário
2.1. Modalidades das Constituições Económicas

2.2.3. Quanto à Estrutura


A Constituição Económica levanta alguns pontos de vista que divide a doutrina em duas
teorias, ou concepções que podem ser designadas de “Teorias da Constituição Formalista”
e “Teoria da Constituição Materialista”. Que em seguida vamos-lhe dar assento
pormenorizado.

a) Constituição Económica Formal


A Constituição Económica é uma parte da Constituição Política que trata de matérias de
natureza económica, desde logo, está inserido no texto legal único que lhe confere uma
magnitude Constitucional no sentido formal. Pois que, a Constituição Formal segundo a
doutrina da Teoria Formalista, é alicerçada pelas normas (formais) que balizam o sistema
económico e é tida como fonte primária do Direito Económico, isto significa dizer que, sua
validade e eficácia não se fundamentam em qualquer outra norma do ordenamento
jurídico.

Porém, a Constituição Económica Formal- compreende apenas as normas integradas no


texto constitucional com objectivo de definir um quadro legal genérico de actividades
económicas ou outras que acabam produzir igualmente com efeito ordenador112.

Portanto, podemos concluir que a Constituição Económica Formal – pode ser lida como um
conjunto de normas jurídicas contidas no texto da Constituição Política que versam sobre
a matéria económica113.

b) Constituição Económica Material


Diversamente, em conformidade com a doutrina da Teoria Materialista a Constituição
Económica Material, integra o núcleo essencial de normas jurídicas que regem o sistema e
os princípios básicos das instituições económicas, quer constem, ou não no texto
Constitucional114. Dito de outro modo – a Constituição Económica Material – é o conjunto
de normas inseridas ou não no texto legal da Constituição Política.

2.2.4. Quanto à Forma Jurídica


A Constituição como texto legal constituído por um conjunto de normas jurídicas poder ser
classificadas:

a) Explicitas

Aquela que é plasmada no texto Constitucional115, ou seja, configura-se no conjunto de


normas e princípios constitucionais relativos à economia, ordem Constitucional da
economia inseridas no texto legal da CRA.

112Cfr. FERREIRA, EDUARDO PAZ, – Direito Económico. Pág. 62.


113 Nossa Definição.
114 Cfr. FRANCO, ANTÓNIO SOUSA, – Direito da Economia, 1º Volume. Pág. 93.
115Cfr. PAHULA, OVÍDIO, – Evolução da Constituição Económica Angolana. Pág. 34.

77
Manual de Direito Económico Francisco Mário
b) Implícitas

São aquelas que, embora não elenquem no texto legal (Constituição) duma forma aberta e
clara a ordem jurídica da economia, o seu conteúdo encerra sempre, ainda de forma oculta
(um sinal, luz) repete-se, ainda de forma oculta a ordem jurídica económica está sempre
em consonância com a Constituição Política e Económica116.

2.2.5. Quanto ao Conteúdo Económico


a) Constituição Económica Capitalista117

Consiste na livre Empresa e do ponto de vista jurídico – económico pode ser identificado
com a existência de instituições jurídico-económicas típicas, tais como: Mercado, Empresa
e o Capital, Iniciativa e Propriedade Privada, também e identifica-se com a produção
dinâmica fundado numa técnica muito avançada, bem como o lucro e o ganho sendo como
o seu escopo fundamental no quadro das actividades económicas118.

No sistema capitalista podemos distinguir três modelos principais:

1- Reduzido peso do poder político e actividade económica desenvolvida essencialmente


com base na liberdade dos múltiplos sujeitos individuais e libertação do Estado -
abstencionismo (liberal).

2 - Acentuado peso e diversidade de funções económicas do poder político, embora com


respeito pelos princípios fundamentais da propriedade privada e da liberdade individual;
o Estado intervém apenas para corrigir e defender o funcionamento do sistema, mas não
para o orientar ou dirigir – intervencionismo (com diversas inspirações).

3 - O Estado propõe fins económicos próprios e procura dirigir ou orientar o funcionamento


da economia, embora sem suprimir de raiz as instituições e princípios básicos da economia
de Mercado – dirigismo (socialista ou não)119.

116 O exemplo flagrante as Constituições liberais do século. XIX ver PAHULA, OVÍDIO. Pág. 33.
117 O Capitalismo é um sistema que integra, como essencial padrão cultural, científica e tecnológica que
corresponde um elevado índice de civilização, e a um tipo de civilização que busca o progresso constante, que
se radica no espírito de competição ou concorrência, o dinamismo e a inovação constante da economia, isto
é, busca incessante de novos produtos, novos mecanismos e novas técnicas. Entretanto, evolução histórica
permite distinguir fases ou tipos ou formas principais no sistema capitalista, designadamente:
- Capitalismo nascente, ou pré-capitalismo, ou capitalismo comercial e financeiro que nasceu na economia
urbana da europa no século XV-XIX, actividade financeiro de moeda e crédito vai se destacar e
institucionalização dos bancos e bolsa de valores.
- Capitalismo industrial – deu-se na Inglaterra e norte da América na XVIII (revolução industrial) na sua
primeira fase a maquinofactura que vai substituir a manufactura na sua segunda fase do capitalismo
industrial acorre no século XX, com utilização tecnológico mais sofisticado a descoberta do computador.
- Capitalismo de Maturidade – capitalismo tardio, social ou amadurecido, (capitalismo guiado) que vai
consistir na intervenção do Estado na economia para superar os desníveis ideológico, desemprego, saúde
segurança social e bem-estar. Mais desenvolvimento ver o prof. FRANCO, ANTÓNIO SOUSA, - Noções de
Direito da Economia, vol. I, AAFDL, 1982-1983, Pág. 118-120.
118 Ob. Cit. Pág. 35.
119Cfr. FRANCO, ANTÓNIO SOUSA, – Direito da Economia. Pág. 122.

78
Manual de Direito Económico Francisco Mário
b) Constituição Económica Liberal

É aquela em que o Estado desempenha funções mínimas, ou seja, Estado mínimo


caracterizado pelo abstencionismo económico, limita-se a proteger e a privilegiar as
correcções ligeiras da economia, propriedade privada dos meios de produção como sua
pedra angular e regulação da economia através da espontaneidade do Mercado tendo como
base as suas diversas formas de correcção120.

c) Constituição Económica Intervencionista

São aquelas que caracterizam com o intervencionalismo do Estado nos vários domínios da
Economia na defesa do interesse público.

d) Constituição Económica Dirigista

O Estado propõe-se aos objectivos económicos próprios e procura dirigir ou orientar o


funcionamento da economia, embora sem suprimir no essencial as instituições e princípios
básicos da economia de Mercado121.

O Dirigismo que se afere aqui, desdobra-se em:

1-Dirigismo Burocrático - aquela que a Administração Pública condiciona casuisticamente


o comportamento dos agentes económicos de direito privado, ou fazendo depender de
autorização prévia os seus actos económicos mais significativos, ou ainda fixando os termos
em que outros actos podem ser praticados fiscalizando, ou punindo estritamente o
afastamento de critérios gerais minuciosamente estabelecidos122.

Assim, o Estado passa interferir na actividade económica de diversas formas


designadamente: orientações administrativas, autorizações, alvarás, licenciamentos,
licenças, escrituras públicas para constituição de Empresas, etc. Incentivos, fiscais, fixação
da tabela de preços e marquem de lucro bem como a limitação de importação e exportação
de certos produtos através de manipulação de pauta aduaneira123. Este tipo de dirigismo é

120 Ibidem.
121 Ibidem. 265.
122 Ibidem. Pág. 269.
123 Em conformidade com a rectificação nº 1/14, sobre o Decreto Legislativo Presidencial nº 10/13, de 22 de

Novembro publicado no Diário da República nº 225, I Série que aprovou a “Pauta Aduaneira dos Direitos de
Importação e Exportação” que vai regular a cobrança do imposto de consumo na importação.
Mas contudo, segundo o pensamento do Dr. DIGÉNESES DE OLIVEIRA, entende que este documento veio para
proteger a indústria nacional da concorrência externa, e aponta algumas vantagens e desvantagens:
a) Desvantagens
- Aumento dos preços.
- Especulação dos preços.
- A procura de bens e serviço no Mercado Informal.
- Aumento de produtos sem qualidade de produção e fabrico (pirateados ou contrabandeados).
- Aumento de situações que comprometa à saúde e a integridade pública do Consumidor.
- Outras.

b) Vantagens
- Protecção da Industria Nacional.
79
Manual de Direito Económico Francisco Mário
identificado como um dirigismo administrativo, porque se realiza através do Direito
Administrativo da Economia.

2-Dirigismo Produtivo – consiste na interferência do Estado na produção de bens e serviços


que em certa medida não são tradicionalmente produzido pela Administração Pública, isto
é, o Estado passa a produzir bens e serviços do Mercado, através das suas Empresas
Públicas desburocratizados e sujeitos a gestão empresarial, cujo regime de funcionamento
e disciplinar dos trabalhadores é do direito privado124, ex.: SONANGOL, ENDE, PAPAGRO125,
TAAG, SECIL-MARÍTIMA, ANGOLA-TELECOM, EMUTRAC- E.P. (Lubango), PORTO DO
NAMIBE-E.P., CFM-CAMINHO DE FERRO DE MOÇÂMEDES, E.P.

A Constituição Económica Capitalista Dirigista - resume-se essencialmente pelo coabitação


com o modelo da economia de Mercado privilegiando o Estado a exercer o seu papel de
dirigente e regulador da economia, tendo como objectivo manter o bem-estar e o equilíbrio
máxime das outras vertentes vitais do sistema económico126.

Constituição Económica Socialista


A Constituição Económica Socialista127, - funda-se na apropriação de meios de produção
pela colectividade, ou seja, caracteriza-se pela propriedade colectiva, bem como
planeamento económico, cujo plano é vinculativo a todas entidades em detrimento as leis
de procura e oferta-económica de Mercado.

- Aumento de receitas através da tributação.


- Atrair o investidor estrangeiro a produzir os seus produtos no País.
- Incentivar o mercado de pesquisa tecnológica.
- Passar para o consumidor angolano o que é produzido localmente.
- Outras.

Portanto, a nova pauta aduaneira apresenta isenções de alguns produtos como o arroz, óleo, massa etc.. Está
medida é tomada para que certos produtos (básicos) cheguem às mãos do Consumidor final a preços baixos
(cesta básica). É necessário que esses preços estejam fiscalizados conforme estabelece o Decreto Presidencial
nº 206/11, de 29 de Julho que aprova as “Bases Gerais Para Organização do Sistema Nacional de Preços”,
respeitando ainda outros pressupostos inerentes nesta Lei de forma estancarmos a especulação dos preços
destes bens. Associação Angolana dos Direitos do Consumidor (AADIC), Site: www.aadic.org. consultado em
28 de Novembro de 2014.
124 As Empesas Públicas (E.P.) regem no seu funcionamento pelo Estatuto das Empresas Públicas nº 2/2013,

de 3 de Setembro, Lei de Bases do Sector Empresarial Público, e de algum modo pela Lei nº 1/04, de 13 de
Fevereiro, Lei das Sociedades Comerciais.
Por conseguinte, os trabalhadores vinculadas as empresas públicas (E.P), regem-se pela disciplina laboral
prevista na Lei nº 7/2015, de 7 de Junho e diferentemente os funcionários e agentes administrativos
vinculados à Administração Pública, regem pela disciplina laboral do Estatuto disciplinar dos funcionários
públicos, Decreto nº 33/91, de 26 de Julho.
125 Programa de Aquisição dos Produtos Agro-pecuários (PAPAGRO).
126 Cfr. PAHULA, OVÍDIO, – Pág. 35-36.
127 As experiencias históricas de socialismo se apresentam em três fluxos principais – Doutrinas socialista do

séc. XVI – XIX Socialismo utópico de TOMÁS MORE; Socialismo tecnocrático de SAINT-SIMON; o socialismo
cooperativo de ROBERT OWEN e de FOURIER, o socialismo de PROUDHON; o socialismo catedrático Alemão;
o socialismo científico de KARL MARX - Alemão) Por outro (socialismo revolucionário, igualitário colectivista,
nacionalista, e comunista). FRANCO, ANTÓNIO SOUSA, – Direito da Economia. Pág. 125 e ss.
80
Manual de Direito Económico Francisco Mário
e) Constituição Económica Mista

A Constituição Económica mista, vai construir na combinação dos elementos do sistema


económico da economia central, ou planificada como do sistema económico da economia
de Mercado que enraizada no Mercado e no plano, esta Constituição aproxima-se ao
sistema colhido pelo legislador angolano.

2.2.6. Quanto ao Enquadramento Político


a) Democráticos

São aquelas que consagram no seu texto, o princípio de Estado Democrático de Direito
(exemplo ilustrativo o art. 2º, da CRA) como regime político.

b) Autoritárias

São aquelas em que o sistema económico combina com o regime político totalitário da
economia, é pois o monopólio do regime político no poder e caracterizado pela inexistência
de direitos fundamentais económicos sociais e culturais128.

2.2.7. Quanto o Modo de Regulação do Sistema


a) Constituição Económica Programática (Directiva)

Aquela que é constituído por conjunto de normas jurídicas alicerçado na alteração da


estrutura económica através da acção política dos órgãos do Estado. No Estado social as
normas constitucionais programáticos ou directivas consagram disposições como
consequência directa da Constituição Política no seu todo e na preservação de valores da
sua natureza específica129.

Portanto, as normas contidas na Constituição Programáticos são aquelas normas tarefas do


Estado por ex.: 21º; 23º; 35º e 89º, da CRA.

b) Constituição Económica Estatutária


Segundo LUÍS CABRAL DE MONCADA, – defende que a Constituição Económica Estatutária,
como aquela que é composta pelo um conjunto de normas que disciplinam uma
determinada forma económica que justamente identificam como tal130. Dito numa outra
feição, diria que são normas jurídicas contidas na Constituição Económica que definem o
estatuto do ius económico ex.: a Propriedade; (art. 37º, da CRA)131, Banco Nacional de
Angola; (art. 100º, da CRA) e etc.

128 Regimes totalitários vigorou em Portugal antes 25 de Abril e nos demais Países como Coreia do Norte e
Cuba.
129 Ob. Cit. Pág. 37.
130 Ob. Cit. Pág. 38.
131 Vide Art. 1302º, do CC.

81
Manual de Direito Económico Francisco Mário
2.2. Função da Constituição Económica
Podemos assegurar que a Constituição Económica desempenha dentre outras funções que
decorrem do seu objecto e natureza ou dimensão das respectivas normas e princípios
jurídicos de que deve relevar, em primazia a natureza constitucional dos mesmos e comum
a todos os objectivos específicos de que se constitui, assim Constituição Económica
desempenha as seguintes funções:

Função Sistemática Central ou Unitária – exprime – se quer no primado da Constituição,


quer no princípio da unidade da Constituição, quer no da conformidade com a Constituição,
tendo como o destinatário o legislador ou interprete-aplicador das normas da dimensão da
Constituição Económica;

Função Estruturante e Legitimadora – revele-se neste sentido os aspectos do Sistema


económico e o estatuto do modelo económico, ou seja, delimita os poderes do Estado e
demais agentes que realizam ou participam na definição e execução da política económica
da organização e direcção da economia angolana;

Função de Garantia dos Direitos Liberdade e Garantias Económicas Fundamentais- Esta


função realiza-se numa dimensão preceptiva contraposto do Estado, isto é, trave mestra do
sistema económico porque prescreve um conjunto de directrizes normativos de direitos e
liberdades e garantias económicas fundamentais que o Estado deve respeitar e assegura
para que tal se concretizem na sua plenitude.

Função Directiva – realiza-se e manifesta-se através da dimensão prospectiva ou


programática da Constituição Económica, nas suas directrizes ou objectivos económicos e
nas incumbências cometidas ao Estado, ou outros agentes segundo as mais diversas formas
de intervenção ou concertação para sua concretização.

Entretanto, a constituição económica desempenha uma função que não deixa reflectir
certas dimensões preceptivas dirigidas aos destinatários das respectivas normas,
“máxime”- ao Legislador, os Tribunais e à Administração Pública que lhes limita as suas
acções em termos de eficácia vinculativa e do princípio da proporcionalidade132.

De todo modo como nota conclusiva deixamos expresso o traço de que no geral no Estado
democrático de Direito as constituições económicas desempenham as seguintes funções:

Garantia dos direitos, liberdades e garantias no domínio económico;

Delimitação dos poderes do Estado, das entidades menores e dos grupos sociais no domínio
económico;

Delimitação de objectivos sócios económicos a prosseguir pelo Estado ou por outras


entidades;

132 Cfr. Com mais desenvolvimento, JOÃO, DOMINGOS FRANCISCO, - Temas Essenciais do Direito da Economia
Angolana, escolar editora 2014, Pág. 45.
82
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Definição dos elementos jurídicos do sistema económico e do regime económico, bem como
dos princípios gerais da ordem jurídica económica;

Formulação de tarefas económicas gerais do Estado e de critérios jurídicos para selecção dos
objectivos da política económica;

Definição de modelos de reformas estruturais (reforma fiscal, descentralização, etc.); e,

Formulação de um processo de evolução histórica que visa a construção de novos sistemas


económicos.

2.3. Âmbito e Sentido da Constituição Económica


Na seara jurídica a doutrina tem-se dividido quando se trata do âmbito e o sentido da
Constituição Económica, mas nesta controversa assaca-se algumas contribuições valiosas
que se alinham nas três posições, designadamente:

- Segundo Prof. SOUSA FRANCO, o âmbito da Constituição Económica, deverá quanto muito,
ser delimitado com o recurso a critérios económicos, isto é, em função do sistema
económico das instituições ou de outras realidades subjacentes, onde os factores
económicos teriam um papel determinante;

- Já SIMÕES PATRÍCIO, entende que a Constituição Económica emerge de critérios jurídicos,


pois que neste sentido ao Direito compete qualificar como constitucionais as normas que à
luz dos seus princípios, surjam como fundamentais.

- Para Prof. JORGE MIRANDA, sustenta que a Constituição Económica surge na relação
dialéctica que existe entre a norma constitucional e a realidade económica em jeito de
síntese das duas primeiras posições e que nós demos nota como posição adoptada, basta
recordarmos a relação entre o direito e economia para curar a “vexata quaestio”.

Ressaltar que nesta relação umbilical do Direito e da Economia, o Direito Económico não
vai se ocupar de todas matérias do tecido patrimonial, apenas aquelas questões atinentes
a regulação e supervisão económica em função da ordenação e direcção económica que se
revelem fundamentais em termos jurídico-económicos, pois que o âmbito da Constituição
Económica radica no essencial do Direito Económico e nos seus princípios gerais.

Segundo JOÃO PACHECO AMORIM, citando Prof. PAZ FERREIRA, o âmbito ou conteúdo e
sentido da Constituição Económica, situa-se em dois modelos económicos que podem ser
normativizados por uma Constituição, e que são designados de modelo de direcção central
e planificada e modelo de economia livre ou de Mercado133.

Portanto, o sentido da Constituição Económica angolano configura-se no sistema


económico bicéfalo, ou seja, sistema económico misto, - combinado de economia de
Mercado e do planeamento económico134. Não podendo por via disso, apartar-se num

133 Apud, AMORIM, JOÃO PACHECO, - Direito Administrativo da Economia, Almedina 2014, Pág.100-101.
134 Pois que, podem combinar as seguintes opções:
83
Manual de Direito Económico Francisco Mário
insular sistema ao respeito dos princípios estruturantes da CRA, designadamente: o
Princípio da Democracia Económica e da Iniciativa Privada e, do Estado Intervencionista,
Regulador e de Justiça Social.

2.4. Evolução da Constituição Económica Angolana

2.4.1. Fontes da Constituição Económica Angolana


Antes da Constituição de 2010, de 5 de Fevereiro, o processo do constitucionalismo
angolano teve um percurso longo que nós vamos designar do período da “Pré-Constituição
Económica Angolana”135.

Todavia este tema foi doutamente desenvolvido com brio assinalável pelo Mestre da escola
do Lubango Prof. OVIDIO PAHULA, que deu balizas antes não referencias à evolução da
Constituição Económica de Angola depois da independência.

Entretanto, vamos trilhar este caminho e dar nota nesta tese do ilustre Prof. do Lubango e
projectarmos uma nova divisão sobre as épocas históricas da evolução do
constitucionalismo económico angolano.

De 1975-1988 – Época revolucionária - concretizada pela luta pela independência


económica, nacionalizações, confisco e apropriação de meios de produção e sistema
económico socialista e o plano cooperativo.

De 1988-1992 – Reforma económica – Programa de Saneamento Económico e Financeiro,


produção legislativa de natureza económica, ou seja, profunda reforma económica, normas
Constitucionais matérias tidas como inconstitucionais por certos círculos da doutrina e
outros nem por isso.

1992 - 2010 - Época da estruturação e consolidação da Constituição Económica.

2010 – 2019 – Novo Constitucionalismo Económico baseada no sistema de governo


presidencialista parlamentar sui generis (atípica), modelo de economia de Mercado
regulado.

Portanto, muitos princípios e normas jurídicas produzidas na Pré-Constituição Económica


concorreram para feitura da actual CONSTITUIÇÃO, ou seja, são provas óbvias e recortadas
como fonte da Constituição Económica Angolana, designadamente:

-Consagrar um modelo de economia de Mercado;


-Exprimir um esquema de economia mista;
-Sedimentar um esquema de economia centralizada;
-Traduzir uma superação da economia livre, e;
-Surgir como totalmente neutra.
135 Pré-Constituição Económica Angolana, porque realça-se um movimento constitucional que culminam com

proclamação ou aprovação da CRA definitiva em 2010.


84
Manual de Direito Económico Francisco Mário
A Lei Constitucional

Leis Ordinárias Organizadoras (Ordenadoras) da Economia

Regras Consuetudinárias

Tratados Internacionais

2.6. As Revisões Constitucionais de 1975-1992

2.6.1. Constituição Económica Estatutária (1975-1991)


A Constituição económica estatutária (1975-1991) compreendia, entre outros princípios
fundamentais, os seguintes:

a) Independência económica virada para o bem-estar social das camadas populares


mais exploradas pelo colonialismo.

Este princípio aflora a base económica socializante e embora afirme nominativamente, “ex
professo”, o socialismo, apenas o faz em modelos literalmente eufemísticos de metas de
inspiração socializante136.

b) Reconhecimento - e protecção dos diversos sectores da economia (pública,


cooperativa e privada).

c) A igualdade e justiça social constituía a “pedra angular” deste princípio


ideológico137.

d) Tributação progressiva dos impostos directos.

Aqui encontra-se vertido o princípio do socialismo de rendimento “igualitários” como


admissíveis138.

2.7. Constituição Económica de 2010

2.7.1. Considerações Gerais


A Lei Constitucional angolana de 1992 consagrou os princípios basilares da economia de
Mercado, a democracia económica e direitos fundamentais, que certamente, viriam ser
reforçados na Constituição de 2010. Por conseguinte, este constitucionalismo filia-se num
Modelo de Sistema de Governo Presidencial-Parlamentar e que radica-se nos seguintes
princípios gerais de organização económica:

136 Cfr. GUERRA, JOSÉ ARMANDO MORAIS – Direito da Economia Angolana. Pág. 91 e ss.
137 Vide in Lei Constitucional Angolana de 11 de Novembro de 1975 (artigos 5º, 8º, 9º, 10º, 11º, 12º, 14º, 17º,
e 18º).
138 Cfr. FRANCO, SOUSA – Noções de Direito da Economia – 1º Volume, reimpressão. Pág. 133 e ss.

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Manual de Direito Económico Francisco Mário
1- Subordinação do Poder Económico ao Poder Político (art. 3º, 4º e 89º, da CRA);

2- Supremacia da Constituição e Legalidade (art. 6º, da CRA);

3- Democracia Económica (art. 2º, da CRA);

4- Coexistência de Sectores de Titularidade de Propriedade Económica (Pública,


Privada e Cooperativa); (art. 92º, da CRA);

5- Garantia da Propriedade Privada e Sua Função Social (art.37º e 89º, da CRA);

6- Liberdade de Iniciativa Económica Privada Empresarial, Concorrência e Reservas


Públicas (art. 38º, 93º e 95º, da CRA);

7- Eficiência e Intervenção (art. 89º e 91º, da CRA);

8- Mercado e Planeamento (art. 89º e 91º, da CRA);

9- Nacionalizações e Privatizações (art. 97º, da CRA);

10- Direitos Económicos e Sociais (art.90º, da CRA);

a) Direito do Trabalho, Liberdade de Salários e Rendimentos Justos (art. 76º, da CRA);

b) Direito ao Ambiente (art. 39º, da CRA);

c) Direito do Consumidor (art. 78º, da CRA);

11- Princípio da Cláusula Aberta (art. 26º, nº 1, da CRA); e,

12- Limites Materiais, Temporais e Circunstanciais (art. 233º, 235º, 236º e 237º, da
CRA).

Segundo JOSÉ ARMANDO MORAIS GUERRA139, na vigência da Constituição de 1975 no


período que vai 1975-1991, sofreu aquela Lei Constitucional de ponto de vista estatístico
em média nove (9) revisões140, as relevantes foram a de 1991, Lei nº 12/91, de 6 de Maio,
e a de 1992, Lei nº 23/92, de 16 de Setembro.

139Cfr. GUERRA, JOSÉ ARMANDO MORAIS, - Direito da Economia Angolana, edição ESCHER, 1994, Pág. 90.
140 Cfr. PAHULA OVÍDEO, - Evolução da Constituição Económica Angolana, casa das ideias editora 2009,
Pág.97
- 1976 (Lei nº 71/76, de 11 de Novembro),
- 1977 (Lei nº 13/77, de 7 de Agosto),
- 1978 (Lei constitucional revista de 7 de Fevereiro de 1978),
- 1979 (Lei nº 1/79, de Janeiro),
- 1980 (Lei constitucional revista de 23 de Setembro de 1980),
- 1986 (Lei nº 1/86, de 1 de Fevereiro),
- 1987 (Lei nº 2/87, de 31 de Janeiro),
- 1991 (Lei nº 12/ 91, de 6 de Maio),
- 1992 (Lei nº 23/92, de 16 Setembro)
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Manual de Direito Económico Francisco Mário
As revisões constitucionais que a Lei fundamental sofreu no período compreendido entre
1975-1991 não mudaram, no essencial, a Constituição Económica, porquanto a revisão de
7 de Fevereiro de 1978, por exemplo, só veio reforçar os comandos jurídicos económicos
da economia planificada e a forte intervenção do Estado na economia “opção socialista -
marxista” decidida pelo Iº Congresso do MPLA - Partido do Trabalho do então partido-
Estado, ou seja, partido único141.

A Lei Constitucional angolana na sua versão inicial, ainda que de modo implícito, aflorava
no seu conteúdo o princípio da independência político-económico erigido pelos pilares
jurídicos que afastam as relações económicas coloniais, neocoloniais e imperialistas, onde
o bem-estar social do povo explorado durante a época colonial constituía uma prioridade
absoluta, sem perder de vista a erradicação total da exploração do homem pelo homem142.

No essencial, resta-me delimitar os princípios fundamentais de ordem jurídica da


economia, do período sub judice no âmbito da Constituição Estatutário e Directiva.

141 Cfr. Artigos 2º e 9º, da Lei Constitucional revista de 7 de Fevereiro de 1978, com alteração completa da
redacção do artigo 9º e com a consagração hoc sensu do centralismo democrático e da propriedade socialista
dos meios de produção.
142 Vide. Artigo 1º, da Lei constitucional de 11 de Novembro de 1975, cuja redacção completa é a seguinte:

“A República Popular de Angola é um Estado soberano, independente e democrático, cujo primeiro objectivo é a
total libertação do povo Angolano dos vestígios do colonialismo e da dominação e agressão do imperialismo e a
construção dum país próspero e democrático, completamente livre de qualquer forma de exploração do homem”.
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Manual de Direito Económico Francisco Mário
CAPÍTULO III

3. OS PRINCÍPIOS ECONÓMICAS FUNDAMENTAIS ESPECÍFICOS (Remissão)

3.1. -Supremacia da Constituição e legalidade (art. 6º, da CRA);

3.2. - Democracia económica (art. 2º, da CRA);

3.3. - Coexistência de sectores de titularidade (art. 92º, da CRA);

3.4.- Livre acesso e reservas Públicas (art. 38º, 93º e 95º, da CRA);

3.5.- Eficiência e intervenção (art. 89º e 91º, da CRA);

3.6.- Mercado e planeamento (art. 89º e 91º, da CRA); e

3.7. - Nacionalizações e privatizações (art. 97º, da CRA).

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Manual de Direito Económico Francisco Mário
CAPÍTULO IV

4. PRINCÍPIOS NORMATIVOS E ESTRUTURANTES NO SISTEMA CIENTÍFICO DE


DIREITO ECONÓMICO

4.1. Noção e Considerações Gerais

Ora bem, neste prelúdio de escalpelização dos princípios normativos e estruturantes no


sistema científico de Direito Económico, vamos antes examinar e dar nota o entendimento
etimológico que se prende com dogmática do “Principio” para melhor perceber a estrutura
normativo e dos princípios do Direito da Economia.

De ponto de vista histórico os princípios já estavam previstos como forma de integração da


norma no direito romano, de acordo com as regras criadas pelo imperador: as leges entre
284 a 568 d. C., o que significa dizer que os princípios jurídicos já foram consagrados pelo
Direito Romano como honeste vivere, aletrum non laedere, suum cuique tribuere, que até
hoje continuam sendo invocados pela doutrina e jurisprudência dominante.

Comummente entende-se na génese jurídica que o princípio pode ser definido como (…)
regra que se funda num juízo de valor e que constitui um modelo para acção (…)143/144.

Mas para RONALD DWORKIN, o termo princípio diz respeito à um tipo de norma cuja
observação é um requisito de justiça ou equidade, ou de alguma outra dimensão moral. Ao
fundir pretensões jurídicas e morais, o texto da norma faz com que a validade de um direito
dependa não de uma determinada regra positiva, mas de complexas questões de ordem
moral e da necessidade de um direito sensível a estas questões, por natureza não redutíveis
à regra positiva145.

143 Vide in Universal, Dicionário integral de língua portuguesa, textos editora 2010, 3ª edição Pág. 1210.
144 Há que se estabelecer as diferenças entre princípios e valores. Desta forma, os valores são conceitos
axiológicos, não contêm uma ordem ou uma proibição e sim uma valoração. A valoração pode ser de tipo
comparativo de dois objectos se diz que um tem maior valor que outro, expressando-se juízos de preferência
ou equivalência. Neste caso, o modo de interpretar o valor é, então, mediante juízo comparativo - juízo de
ponderação – já que se trata de estabelecer uma medida, equilíbrio. Em outros casos, podem ser
classificatórios.
Os princípios jurídicos estabelecem comandos, proibições e permissões, o que não ocorre com os valores,
sendo que estes também enfrentam um juízo de ponderação, destinado a estabelecer o “seu peso” no caso
concreto. Cfr. WORKIN, RONALD. O império do direito. Tradução de JEFFERSON LUIZ CAMARGO; revisão
técnica de Gildo Sá Leitão Rios. São Paulo: Martins Fontes, 2003, Pág. 20-25.
145 Cfr. PRATA, HELENA, - Lições de Direito Económico, Pág. 32. No mesmo sentido, RONALD DWORKIN

estabeleceu uma diferença entre as normas e os princípios, exemplificando com um facto famoso, em que
ELMER assassinou o avô por envenenamento, e sabia que o testamento deixava-o com a maior parte da
herança, mas desconfiava que o velho pudesse alterar o testamento pelo facto de casar-se. O crime foi
descoberto e ELMER foi declarado culpado e condenado a alguns anos de prisão. Estaria ele habilitado a
receber a herança, mesmo tendo assassinado o avô? A Lei de sucessões de Nova York não afirmava nada
explicitamente sobre uma pessoa citada em um testamento poderia ou não herdar, segundo seus termos se
houvesse assassinado o testador. O advogado de ELMER argumentou que, por não violar nenhumas das
cláusulas explícitas na Lei, o testamento era válido, e que ELMER, por ter sido citado num testamento válido,
tinha direito à herança. Declarou que, se o tribunal se pronunciasse a favor das filhas, estaria alterando o
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Manual de Direito Económico Francisco Mário
Já VEZIO CRISAFULLI, entende que o princípio é, toda norma jurídica, considerada como
determinante de uma ou de muitas outras subordinadas, que a pressupõem,
desenvolvendo e especificando ulteriormente o preceito em direcções mais particulares
(menos gerais), das quais determinam e, portanto, resumem, potencialmente, o seu
conteúdo, sejam (…) estas efectivamente postas, sejam, ao contrário, apenas dedutíveis do
respectivo princípio geral que as contêm146.

Segundo BONAVIDES147, a juridicidade ou normatividade dos princípios passou por três


fases distintas:

a) Fase jusnaturalista – em que os princípios são inspiradores de um ideal de justiça,


são normas universais, são princípios de justiça, constitutivos de um direito ideal. São um
conjunto de verdades objetivas derivadas da Lei divina e humana.

b) Fase juspositivista – em que os princípios entram nos códigos como fonte


normativa subsidiária da inteireza dos textos legais. São vistos como “válvulas de
segurança” que “garantem o reinado absoluto da Lei”. Não são superiores às Leis, mas delas
deduzidos, para suprirem os vazios que elas não puderam prever (lacunas). Derivam da
Lei, e não de um ideário de justiça, promovendo a integração;

c) Fase pós-positivista – nesta fase os princípios passam a ser o vértice do


ordenamento jurídico. São padrões, que vinculam toda a ordem jurídica. Sua função vai
muito além da promoção da integração do direito.

Porém, o Direito na sua definição introdutória estudada no primeiro ano da licenciatura em


Direito elucida que, o Direito é um conjunto de princípios, normas e regras jurídicas que
disciplinam as condutas dos indivíduos numa determinada sociedade. Desde logo, à luz

testamento e substituindo o direito por suas próprias convicções morais. Todos os juízes concordavam que
suas decisões deveriam ser tomadas de acordo com o direito. Nenhum deles dizia que, naquele caso, a Lei
deveria ser alterada no interesse da justiça. Surgiram, assim, muitas divergências. No caso de ELMER, a Lei
não era vaga, nem ambígua. Os juízes divergiam sobre os termos da Lei, porque divergiam sobre o modo de
interpretar a verdadeira Lei nas circunstâncias especiais daquele caso. O juiz GRAY defendia uma teoria aceita
naquela época – da interpretação literal – e desta forma, não havia nenhuma ressalva tácita. Ele insistia de
que a verdadeira Lei, interpretada de maneira adequada não continha excepções para os assassinados.
Assim, conferiu o direito a ELMER. O juiz, para explicar a sua decisão, fundamentou dizendo que a perda da
herança seria uma punição a mais, já que ELMER tinha cumprido sua pena na prisão, e que o avô poderia tê-
lo beneficiado mesmo assim. Os estudantes de direito que se deparam com esta teoria, definem-na de
“doutrina mecânica”. Já o juiz EARL usou uma teoria da legislação muito diferente, que dá às intenções do
legislador uma importante influência sobre a verdadeira Lei, pois atribuiu valor à intenção dos legisladores,
como se estivesse implícito na própria letra, pois nenhum legislador pode ter em mente todas as
consequências ou respostas. O juiz EARL não se apoiou apenas na teoria da intenção do legislador, mas
considerou outro princípio: o da interpretação das Leis conforme o contexto histórico, levando-se em conta
os princípios gerais do direito, ou seja, os juízes deveriam interpretar uma Lei de modo a poderem ajusta-la
o máximo possível aos princípios de justiça. Assim, o ponto de vista de EARL predominou, e ELMER não
recebeu sua herança. (DWORKIN, RONALD. O império do direito. Tradução de JEFFERSON LUIZ CAMARGO;
revisão técnica de Gildo Sá Leitão Rios. São Paulo: Martins Fontes, 2003, Pág. 20-25.
146 Ibidem., Pág. 33.
147 Apud. BONAVIDES. Curso de Direito Constitucional. 12. ed. São Paulo: Malheiros, 2002, Pág. 232-235.

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Manual de Direito Económico Francisco Mário
dessa noção, os princípios do Direito Económico podem reportar as definições gerais e
específicos de um sector de actividade económica com cariz constitucional ou ordinário.

No Estado democrático de direito os princípios são standards juridicamente vinculantes


radicados na exigência de justiça ou na ideia do Direito, pois desempenham a importante
função de conferir unidade normativa a todo o sistema jurídico, eis que se impõem como
directivas tanto para a interpretação de toda e qualquer norma legal quanto para a acção
de todos os Agentes Económicos, e por isso, a sua acção é de cunho positivo. Além disso,
possuem uma função negativa, pois servem de limite ao não permitir que se criem
limitações excessivas a determinados direitos fundamentais, nem como ao impedir que se
criem normas contrárias ao conteúdo neles previstos.

Portanto, a violação de um princípio é muito mais grave do que infringir uma norma
jurídica, uma vez que a inobservância de um princípio significa uma ofensa não apenas a
um mandamento obrigatório, mas a todo o sistema jurídico.

Outro assunto que merece atenção da nossa abordagem, é quando os princípios entram em
colisão, ou seja, quando um princípio proíbe e a outro permite, um deles tem que ceder à
outro. Isto não significa que um dos princípios passa a ser inválido, nem que seja incluída
uma cláusula de excepção. Um dos princípios precede à outro. Na verdade, os princípios
possuem diferentes pesos e que prevalece o de maior peso.

Portanto, no conflito de regras prevalece a validade, ao passo que no conflito entre


princípios prevalece o de maior peso.

A colisão entre princípios é conhecida como “antinomias jurídicas impróprias” – não


conduz à exclusão a ordem jurídica de uma das normas conflituantes. Há incompatibilidade,
porém, não exclusão. Neste caso, o operador do Direito opta entre um ou outro princípio,
sem que o outro seja repelido do sistema, ou deixe de ser aplicado á outros casos que
comporem sua aceitação, ou seja, afastado um dos princípios colidentes diante de certo
caso, não significa que, em outras situações, não venha o afastado à ser aproximado e
aplicado em outros casos.

Mas, quando entram em confronto dois princípios – em, que um prevalece sobre o outro -
as regras que dão concreção ao que foi desprezado são afastadas, e essas não se aplicarão
a determinada hipótese, ainda que permaneçam integradas, validamente no ordenamento
jurídico. Por exemplo, importante sublinhar o entendimento de JOSE VIEIRA DE ANDRADE,
para quem “a dignidade da pessoa humana, enquanto conteúdo essencial absoluto do
direito, nunca pode ser afectada – pois está é a garantia mínima que se pode retirar da
Constituição148.

148Cfr. ANDRADE, JOSÉ CARLOS VIEIRA DE. Os direitos fundamentais na Constituição portuguesa de 1976.
Coimbra Almedina, 1987, Pág.293.
91
Manual de Direito Económico Francisco Mário
4.1.1. Principais Funções

Os princípios no dizer do Prof. MENEZES CORDEIRO tem ainda diversos papéis149,


designadamente:

- Papel Ordenador;

- Papel Programático; e,

- Papel Regulador.

Os princípios permitem ordenar problemas, soluções e normas. Tem, assim, um papel no


sistema externo ou sistema de exposição.

Mas logo aí assumem uma relevância substancial, uma vez que a ordenação que obtenha
não é inócua para as soluções finais.

Os princípios podem assumir um papel programático – isto é, constituem uma base sobre
o qual o legislador poderá, depois erguer novas normas. A Constituição tem conhecido
níveis programáticos.

Finalmente, os princípios podem ser chamadas a solucionar diretamente casos concretos:


seja concatenado a normas, seja dando corpo a conceitos indeterminados, seja integrando
lacunas.

Os princípios resultam da elaboração científica, ao contrário das normas, que se obtém pela
interpretação, os princípios exigem toda uma tarefa alargada de estudo e de arrumação
jurídica-científica, por vezes criadora. Isto significa dizer que a elaboração de princípios
constitui uma tarefa indeclinável do estudo de qualquer disciplina jurídica. Seja como for
existe uma unanime ideia que no campo do Direito Económico tem aplicação os princípios
gerais do Direito privado, designadamente:

- Tutela da pessoa; Autonomia privada; Boa-fé; e, Responsabilidade civil.

Também tem aplicação especial do Direito Público, designadamente: - Legalidade;


Igualdade; Imparcialidade; Proporcionalidade; e, Boa-fé.

Assim sendo, no nosso ordenamento jurídico podemos indicar alguns princípios


estruturantes e informadores, ou princípios expressivamente constitucionais da ordem
económica onde assenta à Constituição Económica angolana, nomeadamente:

4.2. Princípios da Supremacia da Constituição e Legalidade.


Historicamente, o princípio da legalidade surge como reacção ao arbítrio judicial e da
administração pública que terminaram com incríveis abusos, pôs em perigo a segurança
das pessoas e dos seus haveres, ou seja, dos Agentes Económicos e a suas riquezas
traduzidas em bens económicos escassos, pois que, apenas servia conveniências

149 Cfr. CORDEIRO, MENEZES,- Direito Bancário, Almedina 2010, Pág. 205.
92
Manual de Direito Económico Francisco Mário
individuais e interesses da classe no poder, – A nobreza e o clero, e o Direito e Lei eram
interpretados simplesmente nas instituições predefinidas, nomeadamente: o “Clero, a
Igreja e a Universidade”; entretanto, ela surge basicamente ligada às duas matérias nas
quais revela melhor que qualquer outra, a condição dos súbditos e cidadãos livres, dos
membros de uma comunidade150, precisamente na definição dos delitos e das penas
(Princípio da Legalidade Penal) “Nullum crime Sine legem” e o estabelecimento de tributos
(Princípio da Legalidade Tributária) “Nullum tributo Sine legem”.

Mas, HANS KELSEN, da escola germânica, já havia estabelecido o Estado de Direito como
um Estado de legalidade, porque actua por via do Direito positivamente identificado com
legalidade e não porque defende ou se sustente numa particular ideia do Direito151.

Por seu turno, GOMES CANOTILHO da escola de Coimbra, assevera em abordagem na


perspectiva da legalidade administrativa-constitucional, exprimindo que o princípio da
legalidade postula dois subprincípios:

4.2.1. Sub - Princípio da Supremacia ou Prevalência da Lei


Contudo, num Estado Democrático de Direito, ou Democrático-Constitucional, a Lei
parlamentar é, ainda a expressão privilegiada do princípio democrático, e daí a sua
supremacia na ordem jurídica económica angolana nos termos do art. 6º, da CRA é
considerada como fonte imediata do Direito152.

4.2.2. Sub - Princípio da Reserva da Lei


Como instrumentos mais apropriado e seguro; (art. 28º, nº2) para definir os regimes em
certas matérias153, sobretudo dos direitos fundamentais e da vertebração da democracia
económica do Estado; requer-se a reserva da Lei. O que significa dizer, os actos que definem
o regime da actividade económica dos Agentes Económicos devem estar em conformidade
com a Lei (formal e material), legitimado por uma fonte normativa ou de produção
normativa própria, isto é, com poderes legalmente prescritos, para não escamotear o
princípio geral da segurança jurídica e da protecção da tutela da confiança dos cidadãos
votantes e também Agentes Económicos; (art. 198º, da CRA).

Concluindo, o “Princípio da Legalidade” é aquele que prescreve as garantias e os direitos


fundamentais económicos, porque assegura essencialmente aos Agentes Económicos a
exigência de auto-normação, ou auto-imposição no campo económico, isto é, os próprios
agentes económicos devem através dos seus representantes determinar o modelo e regime

150 Cfr. NUNES, ELISA RANGEL.- Lições de Finanças Públicas e Direito Financeiro, 3ª edição 2011, Pág. 78 e
79.
151 Cfr. NOVAIS, JORGE REIS. – Contributo para uma Teoria do Estado de Direito – Almedina 2006. Pág. 121 e

122.
152 Ver o art. 1º, do CC.
153 Cfr. CANOTILHO, J.J. GOMES. – Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 7ª edição – Almedina, Pág.

256.
93
Manual de Direito Económico Francisco Mário
económico que lhes aprouver de acordo o exposto no desenho legal do art. 1º, 6º e 37º, da
CRA.

O Estado de Direito e de Justiça Económica, tem como fundamento e o limite à Lei e os


Princípios Gerais do Direito154, como critério da sua validade eficácia, noutra feição, pode-
se dizer que, actuações dos Órgãos de Soberania previsto no quadro normativo da Lei
fundamental; (art. 105º, da CRA), dos juristas económicos, Administração Económica do
Estado e de alguma forma os Agentes Económicos, tem como o limite a CONSTITUIÇÃO, isto
implica enunciar que, devem actuar segundo à Lei e em conformidade com à Lei positiva
escrita, ou não escrita, e vigente. Pois que, este princípio opõe-se ao princípio de
oportunidade, porque decorre do processo da construção do Estado de Direito basificado
na ideia do Direito e de Justiça155.

4.3. Princípio da Subordinação do Poder Económico ao Poder Político


Democrático.
Este princípio geral estatutário da Constituição Económica previsto na nossa carta magana;
(art. 89º, da CRA), é particularmente considerado como o mais directamente
intervencionista e que está consagrado no texto constitucional de 2010.

Não se trata de desacompanhada regular o poder económico privado, mas, de o subordinar


a economia ao poder político e também não pode ser confundido com um dirigismo
económico do Estado, ou controlo do poder económico privado, mas sim, deve ser
entendido como regulação da economia e interpretado no sentido mínimo, ou seja, o
princípio de subordinação, como o denominador comum de uma série de outros princípios
gerais de âmbito mais preciso, quais sejam o da reserva de Empresa Pública, o da livre
iniciativa económica dos Poderes Públicos, dentre outros, como os da protecção da
concorrência; compreendendo a prevenção e repressão dos abusos do poder económico e
de práticas inconvenientes, o da repressão dos monopólios, o da protecção e prevenção do
ambiente e o da protecção às Micro, Pequenas e Médias Empresas.

Pretende-se assim controlar através da vontade democrática do legislador, não todo e


qualquer poder económico, seja ele privado, ou público, mas apenas o poder considerado
inconveniente, o que se achar no sistema e vir ser considerado como excessivamente

154 Neste sentido são Princípios Fundamentais de Direito:


1 – O Princípio Estruturante do Estado Democrático de Direito; (2º, da CRA).
2 – Os Princípios Fundamentais Expressos na Declaração Universal dos Direitos Homem (DUDH).
3 – O Princípio do Direito Internacional Geral, Direito Comum das Nações Civilizadas.
4 – O Princípio do Ordenamento Jurídico Interno.
155 Cfr. CUNHA, PAULO FERREIRA DA. - Direito Constitucional Aplicado – Viver a Constituição, a Cidadania e

os Direitos Humanos, Pág. 111, defende o seguinte:


“Quando um burocrata é promovido à chefe, ou um empregado passa a gerente, logo começa o vírus a tentá-
lo, o fado demoníaco do poder. E a tentação é a da importância. O designado, ou seja, o nomeado, mesmo o
eleito, passa a olhar-se ao espelho com outra pose. E é natural que velha a mira-se mais vezes por dia (…). -
Neste sentido acresce-se a nossa nota que os Magistrados Judiciais (juízes), Magistrados do Ministério Público
(Procuradores) e Magistrados éticos (Advogados), Deputados, Ministros, Governadores, Embaixadores etc.
quando promovidos passam olhar- se mais vezes no espelho por dia do que ver ou ler a Lei… Que é uma
incúria muito perigoso para o Estado da Legalidade e de Direito.
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Manual de Direito Económico Francisco Mário
concentrado, a ponto de puder prejudicar a efectividade de outros princípios e valores
constitucionais, assim garantindo que as decisões económicas não prejudicam certas
opções constitucionais156.

Portanto, o que se pretende no geral é obviamente evitar o excessivo do poder económico


privado ou público.

4.4. Princípio da Democracia Económica


O termo democracia origina-se do grego antigo “demokratia” ou governo do povo, que foi
cunhado a partir dos ‘‘demos ou povo Kratos ou poder’’ no século V a. C., tudo isso era para
denotar os sistemas políticos então existentes em cidades – Estados Gregoiis,
principalmente em Atenas, daí, subtilmente falar-se da democracia ateniense157.

Por conseguinte, a democracia é uma forma de governo em que todos cidadãos elegíveis
participam directamente ou através de representantes eleitos.

No entanto, à luz dessa elegibilidade, poder-se-á falar em tipos de democracia participativa,


ou directa e, a democracia representativa, ou indirecta na vertente do desenvolvimento
económico e produção das leis de caris social, económico e cultural, que vai em epílogo
permitir o exercício livre igual de auto determinação política e sócio - económico.

Como sustenta SIMON BLACKBURN158, (…) críticos, apesar disso, sugerem que democracia
política é estéril, a menos que seja acompanhada supletivamente pelo um poder noutras
esferas, principalmente na área económica.

Porquanto, neste particular, a representação política é um modo de o povo titular do poder,


agir ou reagir, relativamente aos governantes e, não há representação política sem eleição.
Acto jurídico ou feixe de actos jurídicos.

Mas o inverso não é a verdadeira, tomemos de exemplo um concurso público para


provimento no funcionalismo público, o concurso público de empreitadas de obras
públicas, ou de exploração e concessão de um bem do domínio público do Estado.

Pois que, como certamente se observa, nitidamente na Lei o elemento volitivo é o mandato,
na medida que são os eleitores que escolhem o candidato com o seu programa económico-
social, todavia, este mandato é assinalável como um mandato especial, ou seja, é um
mandato de Direito Público, diferente de Direito Civil159.

Porque, neste modelo de pensamento devemos asseverar que a representação política é


uma espécie de representação necessária imposta por Lei, (art.106º, 113º e 143º, da CRA),

156 Cfr. MONCADA, LUÍS CABRAL DE, - Manual Elementar de Direito Público da Economia e da Regulação,
Almedina 2012, Pág. 81-82.
157 CLÍSTENES, grande orador e foi considerado um dos pais da democracia ateniense que ampliou a

assembleia popular. Fonte: Internet: http//ptwikipedia.org/wiki/democracia, consultado dia 20/2/2015.


158 Vide in Dicionário de Filosofia, BLACKBURN – grediva 2007, Pág. 102-103.
159 Cfr. MIRANDA, JORGE,/MEDEIRO, RUI, – Constituição Portuguesa anotada, Tomo – I, 2ª Edição, Coimbra

editora 2005, anotações n.º 8 e 9, Pág. 30 e 32.


95
Manual de Direito Económico Francisco Mário
ao passo que o mandato civil pressupõe representação voluntária; (art. 1157º, do C.C.), no
âmbito da autonomia privada; art. 405º, do CC.

Desde logo, torna-se líquido afirmar que a representação pública de natureza económica
do Agente Económico, inscreve-se em sede da democracia económica impetrada na Lei
formal, como vem ilustrativamente desenhado no proemio do epitáfio legislativo do art. 2º
e 21º, al. c), da CRA e noutros planos jurídicos normativos da dimensão de Leis ordinárias
e qualificados como princípios de Estado Democrático de Direito. O que significa dizer, toda
actividade económica é susceptível de um crivo à luz da democracia económica presidido
pela soberania popular (...).

Por seu turno, LUÍS CABRAL DE MONCADA, assegura que a Constituição caracteriza o
Estado de Direito como democrático o conteúdo respectivo, tal como está previsto
precisamente no art. 2º, da CRA e, por via disso, segundo ele, pode consistir na realização
da democracia económica, social e cultural160.

Daí que, a democracia que se afere na Constituição, de certo modo está na realização de
objectivos económicos constitucionais, não obstante ser largamente política é obviamente
também deve ser interpretado no aspecto económica, que se funda no Estado social que vai
implicar, desde logo, uma política económica estadual posto ao serviço de determinados
objectivos e finalidades do alto nível da ordem económica vigente.

A realização da democracia económica161, Compreende pois, na afectação dos direitos


económicos, que no Direito comum, ou como os civilistas preferem designar de direitos
subjectivos, nomeadamente:

a) Direito a propriedade privada (art. 14º, da CRA);

b) Direito ao trabalho (art. 76º, da CRA);

c) Direito ao ambiente (art. 39º, da CRA);

d) Direito a defesa ao consumidor (art. 78º, da CRA;

e) Direito a terra (art. 15º e 16º, da CRA);

f) Direito a justa indemnização em caso de “direito real económico de exercício de conteúdo


negativo” (art. 37º, da CRA);

g) Acesso ao direito e tutela jurisdicional efectiva (art. 29º, CRA);

h) Direito a livre iniciativa económica (art. 14º e 38º, da CRA), etc.162.

160 Cfr. MONCADA, LUÍS CABRAL DE, - Direito Económico, Pág. 74.
161 Cfr. MIRANDA, JORGE/MEDEIRO, RUI – Constituição Portuguesa anotada, Pág. 112, Anotação nº XIX.
162 Ver os arts. 29º, 37º, 38º, 39º e 78º, da CRA. E da Lei de Delimitação de Sectores, nº 5/02, de 16 Abril.

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Manual de Direito Económico Francisco Mário
Entretanto, esta afectação de direitos económicos, inter alia, visam em certa medida,
o cumprimento das incumbências do Estado de promover o aumento do bem-estar social -
económico e da qualidade de vida das pessoas em especial dos mais desfavorecidos, que
vai consubstanciar-se nos seguintes axiomas de direitos e deveres fundamentais:
Assegurar a igualdade de oportunidades e, operar as necessidades e correcções das
desigualdades da distribuição da riqueza do rendimento; designadamente através da
intervenção económica do Estado na política fiscal, eliminar as assimetrias regionais ou
sociais existentes entre o campo e a cidade, de um lado, por outro lado, mitigar as
assimetrias naturais com enfoque do litoral e interior; (art. 89º, da CRA).

E, por conseguinte, o fomento ao empresariado nacional, incentivo e isenções fiscais,


protecção das Micro, Pequenas e Médias Empresas, etc. tudo isso, por via da democracia
administrativa, entendido como democracia económica, pese embora, a Politologia afecta
grandemente em Angola à liquidez de representação nos poderes económicos, degenerado
pela partidocracia e tecnocracia163.

4.5. Princípio da Igualdade e da Justiça Social


O Princípio da Igualdade foi proclamada como valor inerente ao Estado de Direito e surgiu
como uma arma jurídica para lutar contra os privilégios estamentais do antigo regime164.

O Estado de Direito é um Estado de Leis, sendo a Lei, por definição, uma norma geral e
abstracta, obriga e protege de igual forma todos cidadãos sem descriminação no plano
económico. De tal sorte, a eficácia deste entendimento da igualdade formal é inegável e
continua a ser uma das traves mestra do Estado de Direito, e, de justiça social, de modo
inequívoco o legislador angolano sem hesitar consagrou com clarividente no art. 23º e 90º,
da CRA, para evitar quaisquer manifestação no território jurídico da descriminação
económica.

Porquanto que, é através deste manifesto do enunciado normativo, começa-se assim a


perspectivar-se a conveniência de considerar uma outra dimensão de igualdade, não só no
plano formal, mas sim no plano material, ou substancial que atenta as condições objectivas
da igualdade económicas materiais de oportunidade de custos/benefícios.

Porém, é nesta perspectiva que incumbe ao Estado angolano promover a igualdade real
entre os cidadãos angolanos à luz do cumprimento e da consolidação da Constituição
Programática previsto no art. 21º, da CRA, alíneas b), c), d), e), h), i), j), k), m), p), e q); da
igualdade material art. 23º, da CRA (igualdade formal).

Desde logo, como nitidamente se observa, através deste traçado legal, ou seja, com este
primado legal, entende-se por maioria da razão, que, serão assim, considerados
tecnicamente inconstitucionais aquelas medidas discriminatórias que não sejam

163 Mas desenvolvimento Vide VAZ, MANUEL AFONSO, - Direito Económico, 3ª edição, Coimbra, 1994, Pág.
132.
164 Ob. cit. Pág. 128 e ss.

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Manual de Direito Económico Francisco Mário
justificadas por diferenças substanciais, ou que, estabeleçam deveres ou direitos
desproporcionais à desigualdade que pretenda combater165.

Por conseguinte, nesta teia de abordagem, o princípio da igualdade visa realizar a justiça
económica e social no seio da sociedade angolana, para concretizar este desiderato, o
Estado cria princípios empíricos por via legal para tentar acertar o ponteiro da balança da
justiça da igualdade material-vertical e horizontal que vão dando a força jurídica à norma,
e, para o cumprimento obrigatório e vinculativa de todas instituições sociais, impondo a
exigência da generalidade e abstracção das medidas de tratamentos económicos desiguais,
evitando desta feita, privilégios pessoais, ou situações pelo que seriam inconstitucionais
tais tratamentos.

Porque os indivíduos são diferentes por natureza de acordo as capacidades e aptidões,


sexo, cor, estatura, etc., mas já as desigualdades sociais são obras da sociedade, ou seja,
como exprime CABRAL DE MONCADA, a desigualdade gerada pelo uso diferenciado da
liberdade concreta de cada um, de acordo com as regras do Mercado, não é injusta. Injusta
é a pobreza166, gerada neste caso pela descriminação produto da exclusão.

A igualdade em matéria da economia não está afirmada isoladamente em lado nenhum. Não
passa de uma aplicação da igualdade dos administrados, a qual é considerada como um
princípio geral do Direito e mesmo, a maior parte das vezes, é citada na primeira fila dos
princípios gerais do Direito167.

Existe, todavia, uma consagração escrita, e das mais célebres, de pelo menos, um dos
diversos aspectos da igualdade (e aquele que tem o alcance mais geral), designadamente, a
igualdade perante a Lei.

Entretanto, essa consagração da igualdade perante Lei, figura na Declaração dos Direitos
de 1789, no art. 1º («Os homens nascem e permanecem livres e iguais em direitos») e art.
6º («A Lei deve ser a mesma para todos, quer para proteger, quer para punir»). «Todos os
cidadãos são iguais aos seus olhos».

A igualdade perante a Lei, como sustenta ANDRE DE LAUBADÈRE168, não é pois um


princípio geral não escrito mas uma regra escrita que figura num texto constitucional e,

165 Ibidem, Pág. 132. No mesmo sentido vide o acórdão do Tribunal Constitucional nº121/10, do caso SME.
166 Cfr. MONCADA, LUÍS CABRAL DE, - Direito Económico, Pág. 181.
167 Cfr. LAUBADÈRE, ANDRÉ DE, - Direito Público Económico, Pág. 274-276. Explica que - (…), Mas a tomada

em consideração das diferenças de situações não é o único dado que é preciso ter em conta para apreciar o
carácter ilegal de uma medida discriminatória. Uma jurisprudência constantemente afirmada considera,
efectivamente, por outro lado, que uma ruptura de igualdade, aqui real, ou dito de outro modo, uma
verdadeira descriminação, pode não constituir absolutamente uma ilegalidade quando aparecer justificada
por considerações tiradas do interesse geral. Esta reserva do interesse geral foi afirmada nomeadamente num
aresto – estranho, aliás, ao domínio económico – que é um dos mais célebres em matéria de aplicação do
principio de igualdade, o aresto de 9 de Março de 1951, Societé des concerts du conservatoire, Dr. Soc. 1951,
Pág. 368, conl. Letourneur, not. RIVERO (ilegalidade da medida tomada pela administração da radiofusão
francesa afastando qualquer nova transmissão de uma sociedade, com desconhecimento da igualdade de
tratamento «sem que nenhum motivo tirado do interesse geral pudesse justificar essa decisão»).
168 Ibidem.

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Manual de Direito Económico Francisco Mário
deste modo, ela mesma tem, este título, ao um nível constitucional; (como vem expresso no
art. 23º, da CRA). Sustenta ainda este autor que, o princípio da igualdade proíbe a
Administração de tomar medidas discriminatórias, isto é, medidas que levem a tratar
diferentemente os administrados que se encontrem em situações comparáveis, ou por
outro lado, e, ao contrário, medidas que levem à estabelecer uma assimilação entre pessoas
que se encontrem em situações diferentes.

«O Princípio da Igualdade de tratamento de igualdade não se aplica se não entre cidadãos


colocados numa situação idêntica na perspectiva das obrigações que lhes são impostas».
«A regra da igualdade de tratamento dos vários interessados não proíbe as discriminações
entre as categorias de pessoas que se encontrem em situações diferentes»169.

A maleabilidade do Direito Económico manifesta-se em segundo lugar na relativa


imprecisão das suas regras e, por consequência, na extensão da liberdade de apreciação
que consente aos órgãos da Direcção Económica, ou por outras palavras, na extensão
daquilo que se chama em Direito Económico o poder discricionário desta última170.

Continua este autor na sua modesta obra de Direito Público Económico, e, nós, nesta sede
privilegiamos cita-lo com alguma frequência, que, – “Esta imprecisão voluntária explica-se
facilmente pela dificuldade que o direito experimenta, como sublinhamos mais atrás, em
apreender os fenómenos económicos e domina-los. Esta dificuldade não impede que a
regulamentação económica seja abundante em todas as matérias (este ponto não sofre
contestação), mas ela inspira o reconhecimento às autoridades administrativas de muito
vastas liberdades de apreciação nas decisões particulares que têm de tomar; as suas
competências são muito mais discricionárias que vinculadas.

A Lei deixa-lhes frequentemente a possibilidade de serem exercidas» por fases (coup par
coup)» a fim de que as decisões se possam adaptar melhor às realidades; o Direito
Económico, diz-se normalmente, é um identitário direito «realista» ou «factual» ”171.

Conclui dizendo, LAUBADÈRE, que, - “Esta liberdade de acção deixada à Autoridade


Administrativa Económica é, além disso, muitas vezes reforçada por outras técnicas
jurídicas”. Por exemplo, a força imperativa das regras editadas pelos textos gerais (leis,
regulamentos) é por vezes atenuada pela faculdade deixada ao Administrador de conceder
derrogações.

Este processo das derrogações não é, certamente, particular à Administração Económica;


ele floresce especialmente no domínio – vizinho – do Direito Urbanismo, mas é, de qualquer
modo, muito mais corrente na Administração Económica que na maior parte dos outros

169 Ibidem.
170 Ibidem. Pág. 112-113.
171 Ibidem.

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Manual de Direito Económico Francisco Mário
sectores da administração, pois a maleabilidade, entendida no sentido que aqui toma, é
evidentemente susceptível de engendrar riscos de arbitrariedade e discriminações172.

Posto isso, à luz dos excertos telegráficos de LAUBADÈRE, podemos afirmar, que o princípio
de igualdade jurídica no plano económico, complexa-se na medida em que as desigualdades
naturais são ténues, vamos tomar alguns exemplos pragmáticos: se quisermos tratar a
igualdade entre homens e mulheres temos que atender um critério da diferença natural do
género sexual, que todo caso atento a sua constituição física e anatomia do corpo humano,
daí privilegiar uma igualdade vertical do tratamento desigual e discriminatório em relação
ao outro género (v. g; associação das mulheres empresárias angolanas em detrimento da
Associação dos Empresários Angolanos, Ministério da Família e Promoção da Mulher;
Instituto Nacional da Criança; Selecção Nacional Feminina de Futebol; Basquetebol;
Andebol; etc.) e critério da igualdade horizontal tratamento igual de oportunidades de
acordo as aptidões capacidades, ou seja, a meritocracia de cada Agente Económico (v.g.
associação de empresários angolanos do qual fazem parte os membros da representação
do género feminino, câmara dos despachantes oficiais de Angola etc. mas noutras
agremiações os homens nem por isso)173.

Como dizia, estes critérios ou princípios são impérios próprios da construção da sociedade
humana para atingir a igualdade, ou seja, para não igualizar através de um mecanismo
político autoritário os resultados diferentes do exercício de liberdade de cada um, também
conhecida por justiça comutativa prevista e consagrada no art. 90º, da CRA e art. 16º, do
CGT, que prescreve este último enunciado legislativo, porém, devem é criar-se as condições
para que cada um, sobretudo os mais necessitados, tenham acesso a um certo número de
bens básicos indispensáveis, para a partir daí exercer adequadamente a liberdade que lhe
assiste174, pois que, igualdade constitucional tolera a desigualdade, o que não tolera é a
exclusão175.

4.6. Princípio de Acesso a Justiça e da Tutela Jurisdicional Efectiva


Este princípio encontra-se recortado no conteúdo do preceito normativo do art. 29º, da
CRA. Entretanto, a constitucionalização dos direitos fundamentais não se esgota no plano
material, assumindo ainda, em diversos níveis, brotadas numa inequívoca dimensão
organizacional, procedimental e processual176.

Dado que, no limiar do século passado começou-se a sentir cada vez mais necessidades de
proteger os direitos fundamentais das pessoas e os seus haveres, seja ela como individuo,

172 Ibidem.
173 Em Angola o Decreto Presidencial n.º 222/13, de 24 de Dezembro, - sobre a «Igualdade de Género – Política

Nacional de igualdade e Equidade de Género», assim, uma Directiva das Nações Unidas que estipula uma
quota de representação do género feminino nos órgãos colectivos ou individuais na ordem de 30% e em
Angola a concertação social quanto esta matéria é vincada nos 40%, logo, é um dos países de África onde há
justiça da igualdade de género.
174 Cfr. MONCADA, LUÍS CABRAL DE, - Direito Económico, Pág. 181.
175 Ibidem., Pág. 175.
176 Ob. Cit. Pág. 423.

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Manual de Direito Económico Francisco Mário
bem como membro de grupos sociais organizados, contra os monopólios privados ou do
Estado177.

Chegou-se à conclusão no plano garantisco de que os princípios políticos tradicionais não


chegavam para assegurar os direitos económicos com justeza possível que se pretendia
lograr, houve, desde logo, que descobrir novos métodos de actuação e posicionamento do
Estado perante os Agentes Económicos no Mercado.

Todavia, a Constituição; (art. 29º, da CRA), assegura, antes de mais, à todos o acesso ao
direito, de ponto de vista formal, mas na realidade o acesso ao direito é restrito e não
limitado, visto que, “só”, quem tem consciência dos seus direitos económicos consegue
usufruir os bens a quem eles correspondem e sabe avaliar as desvantagens e os prejuízos
que sofre quando não pode exercer ou efectivar, ou quando muito eles são violados, ou
restringidos (Cfr. o art. 10º, DUDH).

Este princípio, em linhas gerais explicita no essencial de que a justiça deve ser assegurada
pelo Estado para que os Agentes Económicos possam ter acesso ao Direito e a Justiça, seja
quem for a sua condição económica, isto significa dizer que, o Agente Económico tem
direito à informação jurídica ou consulta jurídica; (art. 29º e 40º, da CRA), o direito ao
patrocínio judiciário e assistência judiciária; (art. 195º, da CRA), direito de escolher um
Advogado; (art. 67º, da CRA e do art. 11º, da DUDH); e de nomeação oficiosa; (art. 67º, nº
5, da CRA).

Pois que, em síntese, a “Justiça” não pode ser denegada por falta ou insuficiência de meios
económicos como indica o art. 196º, da CRA e na especialidade material a Lei nº 15/95, de
10 de Novembro, Lei da Assistência Judiciaria, o Estado assegura, as pessoas com
insuficiências de meios financeiros, mecanismos de defesa pública com vista à assistência
jurídica e ao patrocínio forense oficioso a todos níveis, para salvaguardar os direitos
subjectivos económicos e (re) estabelecer a paz económica no seio da comunidade, de
modo que a riqueza circule harmoniosamente entre ao Agentes Económicos.

Ressalvar que o nosso sistema jurídico refere-se de patrocínio judicial e nomeação oficiosa
como meio de assegurar o acesso à Justiça pelo Estado, pois que, em contrapartida a
Constituição angolana não consagra no seu art. 29º, da CRA e o art. 4º, do Código do
Processo Tributário Angolano, Lei nº 22/14, de 5 de Dezembro, nem qualquer outro
dispositivo legal consagra o acesso ao Direito e aos Tribunais de forma gratuita, ou seja,
não é, tendencialmente gratuito, sendo neste contexto justificado o estabelecimento de
exigências de uma contrapartida pela prestação de serviços de Administração da Justiça
através do OGE – por via da despesa fiscal em sede de benefícios fiscais ou isenções fiscais,
(Princípio da Redistribuição da Riqueza), como vem orientado legalmente pelo legislador
constitucional de 2010, no art. 102º, da CRA e art. 16º, Código Geral Tributário, (Leis-

177Cfr. AAVV, CATARINO, JOÃO RICARDO /GUIMARÃES, VASCO BRANCO, – Lições de Fiscalidade, Almedina
editora, 2012, Pág. 102.
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Manual de Direito Económico Francisco Mário
Previdência) que reporta todo seu conteúdo preceitual que nós infra reproduzimos
religiosamente para melhor entendimento do instituto:

“Capítulo II - Benefícios Fiscais”

artigo 16.º

1. Os benefícios fiscais só podem ser criados por Lei, a título transitório e excepcional, com
finalidades de política económica, social, cultural, ambiental ou quaisquer outras de relevante
interesse público e reconhecido pela Constituição.

2. A criação dos benefícios fiscais respeita o princípio da igualdade e deve ser fundamentada
com os seus objectivos e prever a receita a não arrecadar.

3. Os benefícios fiscais constituem despesa fiscal que deve ser prevista no Orçamento Geral do
Estado.

4. Os benefícios fiscais constantes de legislação avulsa devem ser regulados em instrumento


normativo autónomo que obedece aos princípios e normas do presente Código.

5. As situações que a Lei qualifique de não sujeição tributária resultantes de medidas fiscais
estruturais que estabeleçam delimitações negativas da incidência dos impostos, não são
consideradas benefícios fiscais”178.

Posto isso, como em verdade se observa, as custas do processo são pagas, salvo o
mecanismo que goza legislador na ampla liberdade na fixação dos montantes das custas
inerentes ao acesso a Justiça, ao Direito e aos Tribunais.

Os Tribunais como órgãos de soberania imparciais e independentes administram a justiça


em nome do povo angolano, mediante os mecanismos jurisdicionais que se funda nos actos
normais judiciais permitidos pela Lei, designadamente: direito ao estabelecimento legal de
prazos de caducidade para propositura da acção, direito a petição inicial, direito a
providência cautelar, o direito ao contraditório em paridade de armas, direito a citações e
notificações; direito ao segredo de justiça, direito a um processo equitativo, direito a acção
popular, em decisão final e fundamentada e, finalmente direito ao recurso, ou interposição
do recurso e do caso julgado e transitado em julgado179, são actos típicos redutível a este
princípio.

Como evidência em última análise, a garantia de acesso à justiça de todos Agentes


Económicos, sendo sempre oneroso no sistema económico, apesar de se filiar no Estado
Fiscal no modelo dos direitos à prestação estes direitos, são sempre maleável, fazendo a
ponderação recíproca entre os referidos direitos e outros valores constitucionais
atendíveis à luz do critério da respectiva coexistência, na certeza, porém de que, a violação

178 Mas desenvolvimento, vide o Código Geral Tributário aprovado pela Lei nº 21/14, de 22 de Outubro, com
início de vigência em 1 de Janeiro de 2015.
179 Ob. Cit. Pág. 441.

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Manual de Direito Económico Francisco Mário
do «mínimo vital» de acesso justiça económica, gera uma inconstitucionalidade, não apenas
por omissão de normas adquiridas e da sua garantia, mas por violação de um direito
subjectivo180.

Sendo assim, pode-se concluir, como é evidente, que, o acesso à justiça é suportado pelo
Estado através da despesa orçamental do tipo de despesa de transferência – pagamento
dos honorários dos advogados através da ordem dos advogados de Angola e, da despesa
fiscal181 - isenção das custas do processo (redistribuição da riqueza). Portanto o acesso a
justiça opera-se por via do Auxilio do Estado que é efectivamente uma adequada prestação
do Estado no âmbito das suas funções e, pois não é uma caridade, porquanto que é um
direito subjectivo fundamental, de natureza substantiva182.

4.7. Princípio da Garantia dos Direitos e Liberdades Económicas Fundamentais


Este princípio ganhou cidadania nas constituições modernas após a segunda guerra
mundial. Dr.ª HELENA PRATA escreve nas suas Lições de Direito Económico, que os
direitos fundamentais delimitam à esfera de liberdade e protecção de que dispõe, ou
diversos intervenientes ou destinatários do processo económico183.

Ora, na Constituição são reconhecidos direitos e garantias como direitos e deveres


económicos, embora não haja uma fronteira nítida tangencial entre direitos, garantias e
direitos e deveres económicos por causa da reciprocidade, isto é, onde há um direito há
sempre um dever, daí, os direitos económicos serem “Direitos-Deveres” ou obrigações
especiais reciprocas184.

Por conseguinte, são exemplos pragmáticos os direitos, liberdades e garantias económicas


a seguir:

- Direito de Iniciativa Económica (art. 38º, da CRA);

180 Cfr. Acórdão do Tribunal Constitucional Português nº509/02. E Acórdão do Tribunal Constitucional de
Angola nº 121/10 e Acórdão nº122/10.
181 A despesa fiscal – consiste juridicamente, nas situações de renúncia de receitas tributárias que seriam

arrecadadas pelo Estado em função do conteúdo da tributação-regra estabelecida. A mencionada renúncia


está na base de incentivos fiscais (…).
Nesta perspectiva a despesa fiscal corresponde, economicamente, a um dispêndio, virtual de recursos
originariamente pertencente ao Estado que ele abdica a favor de um ente público ou privado em função da
isenção legal.
Pelo que Neste contexto despesa fiscal encerra as seguintes modalidades:
1- Isenções tributárias totais;
2- Deduções à matéria colectável;
3- Diferimento da tributação;
4- Deduções à colecta;
5- Taxas de preferências, e;
6- Exclusões tributarias.
Mais desenvolvimento Cfr. MARTINS, GUILHERME WALDEMAR D´OLIVEIRA, - A Defesa Fiscal e o Orçamento
do Estado no Ordenamento Jurídico Português, Almedina, 2004, Pág. 64 e ss.
182 Cfr. MONCADA, LUÍS CABRAL DE, - Direito Económico, Pág. 180.
183 Cfr. PRATA, HELENA, - Lições de Direito Económico, Pág. 76.
184 Nosso realce.

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Manual de Direito Económico Francisco Mário
- Acesso a Justiça e Tutela Jurisdicional Efectiva (art. 29º, CRA e 4º, do CPT)185;

- Direito do Trabalho (art. 76º, da CRA);

- Direito ao Ambiente (art. 39º, da CRA); e,

- Direito do Consumidor (art. 78º, da CRA).

Os Direitos, liberdades e garantias segundo Prof. JORGE MIRANDA186, são direitos de


libertação do poder “económico”, e simultaneamente, direito à protecção do poder contra
outros poderes «económicos, sociais e culturais», ex.: as tarefas fundamentais do Estado de
promover o desenvolvimento harmonioso previsto no art. 21º e 89º, da CRA, são exemplos
que se reputam nesta perspectiva.

Para os autores como: JOÃO RICARDO CATARINO/VASCO BRANCO GUIMARÃES -


entendem que o direito quer dizer justiça. Só a norma justa é justiça, e a norma injusta será,
quando muito, força187.

O primeiro nível de exigência de justiça é o dos direitos humanos presentes na Constituição


da República de Angola, mas existente (vigente) independente da sua consagração. A sua
violação leva a inconstitucionalização da norma188.

Desde logo, os direitos fundamentais, nos termos do art. 57º, nº 1, da CRA, só a Lei pode
restringir direitos, liberdades e garantia, estabelecendo-se uma reserva de Lei formal
restritiva. De acordo com este preceito, determina-se que essas restrições só podem ser
feitas mediante a Lei formal da AN.

Com efeito, o art. 164º, da CRA, determina que apenas a AN tem competência para legislar
em matéria de direitos, liberdades e garantia, bem como para aprovar restrições e
limitações aos mesmos189.

Neste contexto pode inferir por maioria da razão que a AN dispõe de uma reserva de
competência exclusiva e absoluta, na medida em que não pode autorizar intervenção de
outro órgão de natureza legislativa ou não.

Portanto, os direitos, liberdades e garantias económicas têm um conteúdo essencialmente


determinado ou determinável, à nível das acções constitucionais, ou seja, Constituição
Programática, completado pelo legislador ordinário onde é vincada a sua densidade
normativa, bem como, por via de interpretação e integração serem sempre aplausíveis e
projectadas em sede da ordem constitucional económica angolana, atento aos respeitáveis

185 Tutela Administrativa e Judicial.


186 Cfr. MIRANDA, JORGE - Direitos Fundamentais – Introdução Geral, Lisboa 1999, Pág. 62.
187 O Direito significa:1- Justiça; 2- Força; 3- Ordem e 4- Dirigir.
188 Cfr. AVV, CATARINO, JOÃO RICARDO/GUIMARÃES, VASCO BRANCO,-Lições de Fiscalidade, Almedina,

2012. Pág. 87.


189Cfr. AAVV, MACHADO, JÓNATAS/COSTA, PAULO NOGUEIRA DA,/HILARIO, ESTEVES CARLOS, - Direito

Constitucional Angolano 2ª Edição Coimbra, 2013. Pág. 191.


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Manual de Direito Económico Francisco Mário
princípios da proporcionalidade que é um sub-princípio concretizador do princípio do
Estado de Direito Económico.

4.8. Princípio do Respeito pelos Direitos Fundamentais


Há que distinguir a relação existente entre os direitos do homem e os direitos
fundamentais, pois que, os Direitos do Homem, são direitos inerentes à própria natureza e
essência do Homem e que, por isso, possuem um carácter inviolável, intemporal e universal
e já os Direitos Fundamentais, o legislador garante-os no Direito Positivo, ou seja, são os
direitos do Homem reconhecidos pela Constituição.

Porém, a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, aprovada em 26 de Agosto de


1789, distingue dois tipos de direitos: os do Homem, que considera como direitos naturais
inerentes ao Homem e inalienáveis pelo cidadão, reconhecidos ao indivíduo face ao Estado
e que faziam parte do Direito Positivo; e os direitos do cidadão, os quais se destinavam a
garantir direitos do Homem, tais como a soberania nacional, direito de votar as leis,
igualdade de acesso aos empregos públicos.

Os Direitos Fundamentais normalmente dividem-se/agrupam-se em três gerações,


conforme as etapas/épocas históricas em que foram declarados:

-Direitos da 1ª Geração que são os direitos civis e políticos dos cidadãos;

-Direitos da 2ª Geração, que são os direitos económicos, sociais e culturais;

-Direitos da 3ª Geração, são aqueles direitos de solidariedade ex: direito à paz, ao


desenvolvimento, ao ambiente, aos recursos naturais… ou direitos novíssimos que
BONAVIDES apelida de 4ª Geração.

Ora bem, o princípio pelo respeito pelos direitos fundamentais é tido como um importante
princípio conformador e estruturante da ordem constitucional económica, pois que,
consiste na exigência do respeito pelos direitos fundamentais; liberdades; garantias e
direitos económicos (…)190, dos sujeitos económicos sejam elas pessoas singulares, ou
pessoas colectivas (de Direito Público e Direito Privado).

Qualquer modo, é um princípio menos desenvolvimento no Direito Económico, mas sempre


esteve presente nas outras abordagens subjacentes aos princípios tradicionais já cunhadas
na doutrina conhecida e por nós perfilhada.

Todavia, este princípio, resulta da primazia que gozam os direitos fundamentais sobre as
normas e actos do sistema jurídico, porque as referidas normas limitam o legislador e a
Administração Económica e, sendo por via disso, como decorre da Constituição, os direitos
de liberdades e garantias e, demais de direitos fundamentais de natureza análoga são de

Cfr. MACHADO, JÓNATAS/COSTA, PAULO NOGUEIRA DA, - Curso de Direito Tributário, Coimbra Editora,
190

2009. Pág. 45.


105
Manual de Direito Económico Francisco Mário
aplicação directa pelos Tribunais Comuns, Especiais e Constitucional e, portanto, vincula
todas entidades públicas e privadas, (art. 28º, nº 1 e 174º, nº 3, da CRA).

O que significa dizer, a relação do Sistema Económico com os direitos fundamentais exige:

1- O Sistema Económico, não viole os direitos económicos, sociais e culturais.

2- O Sistema Económico, que assegura através do sistema fiscal e financeiro,


tributário e do orçamento, à realização satisfatória dos direitos fundamentais em geral.

3- O Sistema Económico, que protege os direitos fundamentais de agressões


através da regulação e supervisão do Mercado.

Destarte, a título de exemplo meramente académico, não seria justo se a concentração de


um Poder Económico poder-se-ia conduzir a uma concentração de Poder Político191, que
ameace o estatuto de igualdade e liberdades económicas, cívica e político-social dos
Agentes Económicos, ou seja, do cidadão comum.

Em última análise, este princípio visa procurar o justo óptimo equilíbrio entre o
crescimento económico e desenvolvimento económico-social, atento a distribuição e
redistribuição da riqueza.

Pois que, o Sistema Económico pode ser utilizado em conjunto com outros meios, para
desmantelar a estrutura de concentração do poder económico podendo accionar os
mecanismos de restrições de direitos económicos pela via legislativa e da administração,
assente na qualificação constitucional, mobilizando para o efeito, os princípios gerais do
Estado Democrático de Direito, bem como, outras opções valorativas orçamentais
previstas, nos termos do artigo 28º, nº 2, da CRA, sob desígnio do instituto da “Reserva do
possível”192.

191 Ibidem.
– Tem acontecido exactamente em Angola em alguns círculos a figura de empresário político numa autêntica
promiscuidade económico, tabua rasa para a delinquência económica em sede de tráfico de influência junto
das instituições financeiras, imunidades e branqueamento de capitais, fuga ao fisco evasão fiscal e, tudo mais
(o nosso realce). Como afirma o Presidente do Tribunal de Contas de Portugal, Dr. GUILHERME D`OLIVEIRA
MARTINS “a Corrupção começa no favor e termina no crime” – entrevista no jornal de negócios dia 5 de
Dezembro de 2014.
192 A ideia da Reserva do Possível é frequentemente associada à alegação de insuficiência de recursos

apresentada pelo Estado como forma de se eximir do cumprimento de suas obrigações no campo dos direitos
económicos e sociais. A invocação da cláusula da reserva do possível serviria como uma escusa, ou seja, livre-
trânsito, utilizado de forma genérica pelos entes estatais, para não concretizar os direitos fundamentais.
Como decorrência dessa concepção, a cláusula da reserva do possível tem sido muito criticada. Há quem
entenda que o argumento estatal relativo à ausência de disponibilidade financeira não pode ser aceite, uma
vez que cabe ao Estado implementar os direitos fundamentais, especialmente aqueles previstos na própria
Constituição.
Há, porém, quem entenda que o argumento pode ser aceite em determinadas hipóteses, pois não há como
negar que os recursos financeiros são limitados, ao passo que as necessidades dos indivíduos são ilimitadas,
devendo ser compatibilizadas com os recursos existentes. Observa-se, assim, que a ideia corrente de reserva
do possível está ligada à insuficiência dos recursos estatais para tornar efectivos todos os direitos previstos
106
Manual de Direito Económico Francisco Mário
4.8.1. Sub Princípio da Reserva do Possível
O Princípio da Reserva do Possível, pode ser considerado um sub-princípio do Direito
Económico, e que numa primeira aproximação pode ser entendida como uma excepção de
não cumprimento da realização dos direitos fundamentais proclamadas na Constituição,
mas não um livre-trânsito de inobservância do cumprimento dos direitos fundamentais,
sendo por esta linha, como aquela actividade financeira que consiste de certo modo na
satisfação gradual das necessidades económicas e sociais colectivas através do OGE,
(art.21º, al. c), e 28º, nº2, da CRA, ou seja, dito de outro modo, consiste na actividade de
exercício financeiro por via orçamental de afectação e gestão dos recursos escassos, para

na Constituição Política de Angola de 2010, sendo a expressão relacionada, portanto, com a situação
económica do Estado angolano.
Todavia, a despeito deste entendimento os recursos estatais são de factos finitos e que diversas questões
podem ser levantadas em termos de custos relativos à realização dos direitos, mas por vezes tem sido
negligenciado como escapatória do poder político em não satisfazer este ou aquela necessidade.
Com efeito, considerando a cláusula da reserva do possível tal como formulada, ela se relaciona muito mais
com a razoabilidade das pretensões dos indivíduos perante o Estado, a determinar o que é possível ou não
ser exigido da colectividade, do que propriamente com a noção de escassez de recursos económicos para
atender à estas pretensões, noção com a qual a expressão é usualmente identificada.

A origem da expressão “reserva do possível”


A expressão “reserva do possível” (Vorbehalt des Möglichen) foi utilizada pela primeira vez pelo Tribunal
Constitucional Federal Alemão, em julgamento proferido em 18 de Julho de 1972. Trata-se da decisão na qual
se analisou a constitucionalidade, em controlo concreto, de normas de direito estadual que regulamentavam
a admissão aos cursos superiores de medicina nas universidades de Hamburgo e da Baviera nos anos de 1969
e 1970.
Em razão do exaurimento da capacidade de ensino dos cursos de medicina, foram estabelecidas limitações
absolutas de admissão (numerus clausus). Essas restrições de acesso ao ensino superior foram questionadas
perante o Tribunal Constitucional Federal Alemão. Alegava-se estar diante de ofensa ao artigo 12º, I, da Lei
Fundamental alemã, que cuida da liberdade profissional e dispõe que “todos os alemães têm o direito de
livremente escolher profissão, local de trabalho e de formação profissional”.
Nos termos desse dispositivo constitucional, o direito fundamental à liberdade profissional é amplo,
abrangendo não só o direito de escolher profissão e local de trabalho, como também o direito de escolher o
local de formação profissional. A formação é um estágio que antecede o início da profissão. O direito de
admissão ao curso universitário seria, então, uma decorrência do direito à livre escolha da profissão e do local
de ensino, associado aos princípios da igualdade e do Estado Social.
Logo, uma limitação ao acesso às universidades (local de formação profissional) configuraria ofensa ao direito
à liberdade profissional, ressalvada a possibilidade de regulamentação desse direito por lei, ou com base em
lei. Essa limitação de acesso poderia não só afectar a escolha do local de formação, como influenciaria a
escolha da própria profissão, pois seria capaz de modificar a intenção original do candidato ao curso. Apesar
disso, o Tribunal entendeu ser possível restringir o acesso aos cursos de medicina, uma vez que os direitos
sociais de participação em benefícios estatais “se encontram sob a reserva do possível, no sentido de
estabelecer o que pode o indivíduo, racionalmente falando, exigir da colectividade.” Por conseguinte, foi
empregada a expressão reserva do possível para se sustentar que não é possível conceder aos indivíduos tudo
o que pretendem, pois há pleitos cuja exigência não é razoável. Mais adiante, na mesma decisão, o
Bundesverfassungsgericht, se referiu à capacidade financeira estatal no seguinte trecho:
“Fazer com que os recursos” públicos só limitadamente disponíveis beneficiem apenas uma parte privilegiada
da população, preterindo-se outros importantes interesses da colectividade, afrontaria justamente o
mandamento de justiça social, que é concretizado no princípio da igualdade. (Decisão consultada em
Schwabe, Jürgen. Cinquenta Anos de Jurisprudência do Tribunal Constitucional Alemão. Organização e
introdução por LEONARDO MARTINS. Montevidéu: KONRAD-ADENAUER-STIFTUNG, 2005, Pág. 656- 667.
Para conferir no idioma original, v. http://www.servat.unibe.ch/dfr/bv033303.html). No original: Artikel 12
[Berufsfreiheit] (1) Alle Deutschen haben das Recht, Beruf, Arbeitsplatz und Ausbildungs- stätte frei zu
wählen. Die Berufsausübung kann durch Gesetz oder auf Grund eines Gesetzes geregelt werden. (tradução
livre do autor).
107
Manual de Direito Económico Francisco Mário
satisfazer as necessidades da colectividade, não na sua plenitude à luz do contrato social
(contrato económico), pois que as necessidades colectivas são em certa medida insaciáveis.

Porquanto que, como amiudadamente se observa, desde os tempos remotos até hoje, os
recursos financeiros são sempre limitados que largamente poder-se-á tomar iniciativas de
delimitação dos direitos económicos por via de medidas administrativas, também tem sido
citado por algum sector da doutrina financeira como instituto de escolhas públicas ou
grandes opções, que na nossa opinião, não pode ser entendida como uma galáxia de
constelações de escolhas organizadas de elites do poder político, ou de um círculo de
Agentes Económicos padronizados nas escolhas tidas como colectivas que serve de veículo
para satisfazer os seus intentos.

Portanto, esse Sub-Princípio não pode ser tida como livre transito para incumprimento das
obrigações do Estado perante Agentes Económicos (…), sob pena do abuso do direito
económico e social negativo e, entrar imediatamente em confronto com Princípio
hierárquico da dimensão constitucional (art. 1º, da CRA) e universal (art. 1º, da DUDH).
Sendo assim, deve sim ser entendida na perspectiva de razoabilidade e proporcionalidade
económica e financeira ao respeito os limites impostos pela CRA e pela Lei.

4.9. Princípio de Livre Iniciativa Económica e Livre Concorrência

4.9.1. A Livre Iniciativa Económica


O Princípio de Livre Iniciativa Económica - é a consequência lógica do princípio da
democracia económica, porque, seguramente, nos Países, aliás, nos sistemas de economias
de Mercado, a actividade económica depende essencialmente da capacidade dos indivíduos
de organizarem a produção e a distribuição de bens e serviços, com os objectivos de assim
obterem rendimentos de que esperam e serem os principais beneficiários193.

Este princípio traduz-se na possibilidade de se exercer uma actividade económica privada,


nomeadamente através da liberdade de criação de empresas e da sua gestão. Compreende
como componentes à liberdade de investimento ou de acesso, a qual se exprime no direito
de escolha da actividade económica e desenvolver, a liberdade de organização, ou seja, a
liberdade de determinação do modo como a actividade vai ser desenvolvida (incluindo a
forma, qualidade e preço dos produtos ou serviços produzidos) e a liberdade de
contratação ou liberdade negocial, que compreende a liberdade de estabelecer relações
jurídicas e de fixar, por acordo, o seu conteúdo.

O direito de iniciativa privada, é pois, um direito independente do direito de propriedade,


visto que, pode haver iniciativa económica não fundada na propriedade e vice-versa.
Exemplo da primeira situação é o caso da exploração económica de bens públicos por
entidades privadas e, da segunda, a exploração de bens privados por cooperativas.

193 Cfr. PRATA, HELENA, Pág. 77.


108
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Contudo, na maioria das situações a liberdade de iniciativa privada tem como suporte a
propriedade privada; (art. 14º e 38º, da CRA)194.

Desde logo, a iniciativa privada e livre concorrência, são assim, dois princípios básicos
cumulativamente para o funcionamento da economia, bem como, para a materialização da
democracia económica, pois que, a iniciativa possibilita a sua livre composição e
reutilização produtiva195.

Entretanto, Em Angola este princípio tem sido desvirtuado pela promiscuidade dos
políticos ou agentes administrativos que desempenham funções do topo na Administração
Pública e poderes de decisões, de se exporem na improbidade pública (directa ou por
interposta pessoa de família ou testa de ferro), de auto iniciativa privada de manifeste
cabritismo económico empresarial (Político – Empresário).

Porém, não havendo a separação entre o público e privado e, assaz assim abalam, também,
a transparência, imparcialidade e democracia económica como princípios quotados na
orientação da Administração Pública.

4.1. Princípio da Propriedade Privada

A Propriedade privada é um dos princípios basilares se não mesmo essencial do


funcionamento económico e como meio da realização da democracia económica, pois que,
a Propriedade desde os tempos imemoriais da senhora da espada, do soldado da pólvora e
na actual sociedade cibernética ou da informática, foi sempre objecto de disputas e lutas
entre os Agentes Económicos para o domínio da sua “Posse” e “Propriedade plena”.

A Propriedade configura-se no direito real de conteúdo positivo limitado de gozo, de


garantia e de aquisição196. Daí o Direito como uma forma da manifestação da justiça
económica, garante aos Agentes Económicos à sua fruição e à disposição dos bens e a
utilização produtiva. Direito de propriedade como direito real máximo é portadora de
características: Plenitude, Exclusividade, Elasticidade e Perpetuidade.

A Constituição Económica angolana consagra e reconhece em sede de direitos e deveres


económicos como direitos análogos aos direitos fundamentais (art. 37º e 89º, da CRA e art.
17º, da Declaração Universal dos Direitos do Homem, de 10 Dezembro de 1948). A
propriedade é um direito subjectivo privado absoluto de abstenção universal, “erga omnes”
que consiste numa relação de pertença entre um sujeito e uma coisa197.

194Cfr. AVV. DOS SANTOS, ANTÓNIO CARLOS /GONÇALVES, MARIA EDUARDA/MARQUES, MARIA MANUEL
LEITÃO, – Direito Económico-5ª Edição Reimpressão/2004, Pág. 42 e 46.
195 Ob. Já Cit. Pág. 77.
196Cfr. VIERA, JOSÉ ALBERTO, – Direitos Reais de Angola, Pág. 245 e ss.
197 Ob. cit. Pág. 547.

109
Manual de Direito Económico Francisco Mário
A Propriedade como direito real pleno de conteúdo positivo na sua máxima extensão
densificado nos seguintes caracteres com amplitude económica:

Poder de uso;

(ii) Poder de fruição);

(iii) Poder de transformação; e

(iv) Poder de reivindicação198,

Podem, certamente, ser convencionalmente restringido, ou limitado e atacado por via de


excepção, ou por via do Abuso do Direito, mas este limited, como se poder ver, está sujeito
ao princípio da tipicidade que ALBERTO VIEIRA designa de conteúdo negativo público e
conteúdo negativo privado do Direito Real, que nós corroboramos e demos nota assertiva
à este entendimento dos Direitos Reais e, por conseguinte, no sentido de alargar e cunhar
o conceito, nós formulamos os subprincípios de Direito Económicos numa perspectiva de
adaptação doutrinal aplicativa e coloquial para o Direito Económico, que vamos doravante
designar para todos efeitos a seguir.

4.1.1. Conteúdo Negativo Público do Direito Real Económico

O Conteúdo Negativo Público do Direito Económico – consiste naquelas situações


restritivas limitativas passivas de direito subjectivo de propriedade em que o particular
cede a propriedade ao ente público perante realidades factuais e de Direito no interesse
público, configurados nas restrições e limitações de direitos económicos fundamentais (art.
57º, da CRA) e nos Institutos de Expropriação, Requisição, Confisco e Servidões
Administrativos, Ius aedificandi (conteúdo negativo, ou situações passivas, do Direito
Público Cfr. o art. 37º, nº 2, in fine).

4.1.2. Conteúdo Negativo Privado do Direito Real Económico

Conteúdo Negativo Privado do Direito Real Económico – nas relações intersubjectivas


potestativas económicas dos particulares o direito subjectivo de propriedade cede
excepcionalmente perante outro, ou seja, a ordem jurídica permite o particular a intervir
unilateralmente na esfera económica patrimonial de outrem de modo justificado nos
termos do Abuso do Direito da Propriedade (art.334º, do CC.) através dos Institutos de
Escavações, Relações de Vizinhança, Passagem Forçada Momentânea, Estilicido, Tapagem
do Prédio, Abertura de Varandas, Portas Semelhantes Sobre o Prédio (conteúdo negativo
de Direito Privado, art. 1344º; 1346º; 1348º; 1349º; 1352º; 1356º; 1359º; 1360º; 1362º;
1363º, nº 2 e 1472º, todos do Código Civil).

O direito de iniciativa privada é explicitamente considerado como Direito Económico e não


apenas como um princípio de organização económica.

198 Ob. cit. Pág. 552.


110
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Trata-se, porém, de um direito independente do direito de propriedade, pesem embora as
naturais conexões entre ambos, mas que goza de idêntica protecção. Ele traduz na
possibilidade de exercer uma actividade económica privada, nomeadamente através da
liberdade de criação de Empresas e da sua gestão.

Compreende como componentes a liberdade de investimento ou de acesso, a qual se


exprime no direito de escolha da actividade económica e desenvolver, a liberdade de
organização, ou seja, a liberdade de determinação do modo como a actividade vai ser
desenvolvida (incluindo a forma, qualidade e preço dos produtos ou serviços produzidos)
e a liberdade de contratação ou liberdade negocial, que compreende a liberdade de
estabelecer relações jurídicas e de fixar, por acordo, o seu conteúdo199.

O direito de iniciativa privada é um direito independente do direito de propriedade visto


que pode haver iniciativa económica não fundada na propriedade vice-versa. Exemplo da
primeira situação é o caso da exploração económica de bens do domínio públicos do Estado
por entidades privadas; (art. 38º, nº 2, 1ª parte da CRA), e, da segunda, a exploração de bens
privados por cooperativas; (art. 38º, nº 2, in fine). Contudo, na maioria das situações a
liberdade de iniciativa privada tem como suporte a propriedade privada.

É, portanto, natural que exista uma conexão funcional entre dois direitos200. O direito de
propriedade é um direito subjectivo digno de protecção legal pelo Estado art. 38º, nº 3, da
CRA.

4.2. Princípio do Dirigismo Económico

O Estado angolano orienta o desenvolvimento da economia, desde logo, esta ideia cintilante
de ordenação económica radica na obrigação do Estado de cumprimento dos direitos
económicos fundamentais previstos na Constituição Económica, bem como nos
instrumentos económicos Internacionais através do Plano.

O Plano no actual figurino assume um papel indicativo no âmbito do dirigismo económico,


em sede da economia de Mercado e assente num modelo heterogéneo; (onde encontramos
os elementos estruturantes de um sistema económico colectivista moderado e os traços
essenciais de um modelo económico liberal pelos menos em termos jurídicos)201.

Entretanto, é possível estabelecer a diferença entre intervencionismo, dirigismo e


planificação, apesar serem expressões do mesmo género da intervenção do Estado na
actividade económica.

É importante assinalar que estabelecer a destrinça entre o dirigismo e intervenção, porque


consiste numa diferença qualitativa, dado que o dirigismo é característico do pós-guerra,

199 Cfr. Art. 38º, da CRA e 405º, do CC.


200 Cfr. AVV. DOS SANTOS, ANTÓNIO CARLOS /GONÇALVES, MARIA EDUARDA/MARQUES, MARIA MANUEL
LEITÃO, – Direito Económico, 5ª Edição Reimpressão/2004, Pág. 42 e 46.
201 Cfr. PAHULA, OVÍDIO, – Evolução da Constituição Económica Angolana, casa das ideias 2009, Pág.140 e

141.
111
Manual de Direito Económico Francisco Mário
que prossupõe uma actividade coordenada do Estado em prol da obtenção de certos fins.
Já o intervencionismo é caracterizado por empirismo no quadro das finanças, ou seja,
finanças intervencionistas, através das quais o Estado pretende obter da sua actividade
financeira fins de ordem socio-económica e não apenas de arrecadar receitas.

Qualquer modo, a diferença entre o dirigismo e planificação reside no grau de


racionalização mais apurado que subentende o documento planificatório, ou seja, a
planificação é o dirigismo por planos202.

Ora bem, o Dirigismo Económico - consiste em que, os poderes públicos ordenarem a


actividade económica aplicando o Direito previsto na Constituição Económica, como
expressão jurídica do sistema, nos ilustrados termos jurídicos legais dos artigos: 37º, 39º,
81º, 89º e 91º, da CRA.

Angola proclamou a economia de Mercado em 1992, mas antes, já o havia manifestado,


antecipado na Constituição Material de 1988203, tidas como inconstitucionais por certos
círculos da doutrina aquelas normas que proclamavam a economia de Mercado na vigência
da Constituição de economia socialista centralizada.

Todavia, o dirigismo económico é o exercício do poder que serve de instrumento


fundamental de regulação e transformação da economia por imperativos políticos-sociais
da comunidade.

Em todo caso, o dirigismo em Angola verificou de forma manifesto na vigência do modelo


de economia de Mercado no tempo do conflito armado pós eleitoral de 1992, a dita
economia de guerra, como momento crucial de exercício, ou ponto mais alto de dirigismo
em Angola.

Entretanto, o dirigismo tradicionalmente comporta duas modalidades, nomeadamente:

4.2.1. Dirigismo Produtivo

Dirigismo Produtivo é aquele que vai incidir na produção de bens e serviços ex:
estabelecimento das quotas de captura do pescado e respectiva veda em certas épocas de
algumas espécies com incidência no carapau e caranguejo, proibição de importação de
cimento produzido no exterior, entre outros que constituem manifestamente o dirigismo
no plano produtivo.

4.2.2. Dirigismo Burocrático

Dirigismo Burocrático é aquele que vai condicionar casuisticamente o comportamento dos


sujeitos económicos privados, ou fazendo depender de autorização prévia os seus actos

202 Cfr. MONCADA, LUÍS CABRAL DE, - Lições de Direito Economico, U.L. Porto Pág. 18.
203 Vide o Pacote legislativo do célebre, Programa de Saneamento Económico e Financeiro (S.E.F.).
112
Manual de Direito Económico Francisco Mário
económicos mais significativos204. Ex: alvará comercial, licença para exercício da actividade
de transporte rodoviário público urbano e inter-provincial, licença para construção de
imóveis e etc.

4.3. Princípio do Fomento da Economia e da Protecção das Micro, Pequenas e


Médias Empresas

O desenvolvimento económico e social e a distribuição justa do bem-estar e qualidade de


vida numa economia de Mercado nunca estará completo enquanto esse desenvolvimento
não for realizado e protagonizado dominantemente pelos cidadãos, famílias e instituições
angolanas, públicas e privadas, quer em termos de iniciativas económicas quer da
titularidade do direito sobre os bens de produção e do consequente gozo, justa e
socialmente redistribuído das riquezas nacionais e do bem-estar social205.

Com efeito, um dos pilares do desenvolvimento deve assentar na livre iniciativa privada
nacional – dos cidadãos, das famílias e das instituições económicas angolanas.

Para o efeito, cumpre ao Estado criar e oferecer, segundo um princípio do tratamento mais
favorável, prioritário, ou preferencial, as condições jurídicas, materiais e institucionais que
contribuam para atenuar as desigualdades concorrenciais com investidores estrangeiros,
ao mesmo tempo que contribuam para fomentar sinergias entre investidores privados
nacionais e estrangeiros, dito de outra maneira, o fomento vai significar cidadania
económica (art.18º, da Lei nº 14/03, de 18 de Julho, Lei do Fomento do Empresariado
Privado Nacional)206.

204 Cfr. FRANCO, SOUSA – Nações de Direito da Economia, 1º Vol. Reimpressão, edição AAFDL Lisboa, 1982-
1983, Pág. 266 e ss.
205 Preâmbulo da Lei n.º 14/03, de 18 de Julho, Lei do Fomento Empresarial Nacional.
206 Vide as prescrições do Artigo 18º (Cidadania económica)

1. Os cidadãos angolanos podem ser beneficiários directos ou indirectos de apoios de fomento


empresarial, bem como titulares dos direitos concedidos, a título individual, conjunto, ou societário, nos
termos e condições seguintes:
a) Em nome individual na qualidade de proprietários únicos de uma Empresa ou
estabelecimento agrário, comercial industrial em nome individual;
b) Em nome ou título familiar nos termos legais e regulamentares ou consuetudinários,
conforme for o caso, em função do tipo de regime da empresa estabelecida ou a estabelecer e dos direitos
fundiários que servem de base à actividade económica em causa.
2. Entende-se por propriedade de cidadãos angolanos, a título individual, a titularidade de um
direito real ou social de concessão de exploração, de exclusivo, ou de outra natureza, nos termos dos Códigos
Civil e Comercial, por uma pessoa singular que tenha cidadania angolana.
3. Entende-se por propriedade de cidadãos angolanos a título familiar a titularidade de um
direito real ou social, de concessão, de exploração, de exclusivo ou de outra natureza:
a) Co-titulada por vários cidadãos angolanos, quer sob a forma de empresa ou estabelecimento
em nome individual, quer sob a forma de um conjunto, ou associação não personalizada de cidadãos ligados
por relações de parentesco, quer sob a forma de sociedades de interesses familiares com capital social
subscrito e mantido a 100% por cidadãos angolanos que mantenham relações de parentesco entre si e como
tal constituída, designadamente sob os tipos de sociedade de gestão de património familiares, nos termos a
regulamentar;
b) Co-titulada por cidadãos angolanos no interesse declarado da respectiva família, segundo as
regras do direito consuetudinário, aplicável aos apoios às actividades agrárias tradicionais e de melhoria das
condições técnicas de exploração, nos termos a regulamentar.
113
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Devemos assinalar que o fomento económico consiste em actividade de promoção e
estímulo a actividade económica privada e de outros operadores económicos, de um lado,
por outro lado, a protecção das “Micro, Pequenas e Médias Empresas”207. Pelo que,
doutamente compreende na tomada de medidas legais para privilegiar as minorias
económicas empresariais privadas208. Usa-se minorias económicas para significar maioria
quantitativa de empresários, mas, pequenos em termos de volume de negócios e lucros
económicos e financeiros.

Porém, certamente este princípio traduz-se num objectivo do postulado constitucional que
se prende com o papel activo do Estado a desempenhar na economia não estatal, centrada
numa óbvia ideia de estimular actividade económica e proteger os pequenos grupos
empresariais através das políticas fiscais, creditícias, taxa de juro bonificados, aval do
Estado, política agrícola, comercial e industrial. Como vem consagrado nos artigos 21º, al.
c), p) e q); 89º; 90º e 91º, da CRA, a Protecção das Micro, Pequenas e Médias Empresas é
alargada e concentrada pela Lei ordinária nº 30/11, de 13 de Setembro.

Notadamente, este apoio visa a promoção de empresas nacionais em todos os sectores de


actividade económica mas sintomáticos, particularmente, para agro-pecuária, a indústria
extractiva e de transformação, comércio, financeira e o de serviços (art. 2º, da LFEN), cujo
sujeitos económicos da referida promoção elenca-se como sujeitos promotores,
designadamente: O Estado, os Institutos Públicos Económicos e Fundos Públicos, as
Empresas Públicas; as entidades de Direito Privado, sob forma Associativa, ou Institucional
e as Cooperativas (art. 12º, LFEN).

Porém, esta promoção para sua materialização tende como base de um regime de disciplina
vincada no art. 3º, da LFEN, que densifica de certo modo o respeito aos subprincípios de
intervenção do fomento do empresariado privado nacional de acordo os alinhados que se
seguem:

a) Princípio da livre iniciativa e da concorrência dos sujeitos concessionários;

b) Princípio da livre negociação e concertação entre sujeitos promotores e


concessionários;

c) Princípio da publicidade e o do respeito pelo segredo comercial;

207 Apud, AVV. DOS SANTOS, ANTÓNIO CARLOS /GONÇALVES, MARIA EDUARDA/MARQUES, MARIA
MANUEL LEITÃO, – Direito Económico - 5ª Edição Reimpressão/2004, Pág.148 e 149. A empresa consistia,
na definição de M. CAETANO, numa «organização em que se combinam o capital fornecido por pessoas
colectivas de direito público com a técnica e o trabalho para produzir bens ou serviços destinados a serem
oferecidos no mercado mediante um preço que cubra os custos e permita o funcionamento normal do
empreendimento», sendo entendido como uma espécie do género instituto público (MARCELLO CAETANO,
Pág. 372 e 378).
208Cfr. MONCADA, LUÍS CABRAL DE, - Manual Elementar de Direito Público da Economia e da Regulação,

Almedina-2012, Pág. 95.


114
Manual de Direito Económico Francisco Mário
d) Princípio do tratamento preferencial dos sujeitos concessionários enquanto agentes
privados nacionais e parceiros para o desenvolvimento nacional;

e) Princípio da vinculação na consecução das metas assumidas;

f) Princípio da idoneidade e do mérito;

g) Princípio reitores da actuação administrativa;

h) Princípio da consagração de garantias.

Ora bem, portanto, o fomento empresarial comporta algumas modalidades que o Estado
sufragou para sua intervenção, ou seja, a intervenção do Estado nesta matéria privilegia
através dos seus adequados instrumentos económicos, formas de fomento do
empresariado privado nacional, como dizíamos, para promover a cidadania económica,
temos as seguintes tipologias de fomento; (art. 22º, da LFEN): Incentivos Ficais; Apoios
Financeiros; Apoio Técnico e Direitos, Privilégios e Garantias Patrimoniais Especiais.

4.10. Princípio da Defesa do Ambiente


Ambiente é definido «ipsis verbis» de acordo o calvinhado na Lei de Bases do Ambiente de
Angola Lei nº5/98, de 19 de Junho, - “Como um conjunto de sistemas, químicos, físicos,
biológicos e as suas relações e factores económicos, sociais e culturais com efeito directo ou
indirecto, mediato ou imediato sobre os seres vivos e a qualidade de vida do homem”.

A Constituição angolana consagra no seu texto legal o Ambiente em numerosas disposições


que tratam directamente ou indirectamente de matérias ambientais, das quais, podem ser
reconduzidas a vectores binários constitucionais essenciais distintos como,
designadamente:

a) Tarefas fundamentais do Estado, Direito do Ambiente; (art. 21º, al. m), da CRA) de
conservação e protecção da natureza, meio ambiente do espaço ecológico e património
cultural da humanidade, e;
b) Direitos Fundamentais, ao Ambiente; (art. 39º, da CRA), direito subjectivo público
de abstenção geral universal.

A tutela ambiental é um princípio económico integrado na Constituição Económica como


direito subjectivo público fundamental ao Ambiente, sem entrar em acesas e largas porfias
de controversas de doutrinas ambientais, porque não é nossa descrição neste manual de
direito económico, por via disso, como estamos limitado em sumários temáticos de
abordagem, qualquer forma vamos tracejar sucintamente alguma explicação pertinente
sobre os direitos subjectivos ao ambiente para melhor nutrir o entendimento deste
princípio.

115
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Como lembra que os direitos subjectivos foram desenvolvidos pela primeira vez na
Alemanha pelo SAVIGNY, por via do Direito Administrativo, porque em Roma, ou seja, os
romanos desconheciam os direitos subjectivos públicos209.

Os direitos subjectivos públicos vão desenvolver-se, a partir dos modelos históricos de


Estado liberal (do tipo concertado), Estado social (do tipo prestadora) e Estado pós -
social210 (do tipo de infra-estruturas)211. Porém, é no Estado prestador que sofre grandes
modificações, aparição de novas funções do Estado e extensão das demais tarefas
económicas, sociais e de garantia do nível mínimo do bem-estar, conquanto, a par disso, vai
surgir a proliferação de leis e mais controlo em matérias de protecção do ambiente,
encontra-se na sua opulência o modelo social, que sucede o Estado de polícia para um
Estado de previdência social.

Qualquer modo, o Estado com estas novas funções administrativas, desponta então o
Estado administrativo212.

Onde se vai construir o Direito Administrativo, centrada na relação jurídica administrativa,


que se estabelece entre o Estado e os particulares, ou do Estado com outros entes públicos
abdicando o critério de estatuto, do súbdito e da norma protectora213. Desaparece aquela

209 Cfr. CORDEIRO, ANTÓNIO MENEZES, «Teoria Geral do Direito Civil, Sumários das Lições dadas ao 2º ano
jurídico 1986/87, Vol. I», Pág. 176. Refere que no direito romano, a pessoa que, nesse ordenamento, detivesse
uma posição favorável que lhe conferisse uma particular protecção do Estado, dispunha de uma “Acção”, isto
é, da possibilidade de, junto de um magistrado, obter uma injunção que, caso se verificassem os competentes
e alegados factos, habilitassem o juiz a determinar medidas concretas…
210 O Estado Social entra em crise a partir dos anos 70 e começa-se a discutir a crise do modelo de Estado

social como principais sintomas, ver com mais desenvolvimento vide o Prof. Doutor PEREIRA, VASCO DA
SILVA, «Para um Contencioso Administrativo dos Particulares». Pág. 56.
211Cfr. SILVA, VASCO PEREIRA da, «A Busca do Acto Administrativo Perdido», Pág. 74.
212 Ob. Cit. Pág. 74 ss.
213 Cfr. MARIO, FRANCISCO – Relatórios de Mestrado Científico, - Direito Constitucional e Administrativo de

Ambiente 2013 FDU – Lisboa, Pág.12 e segts – neste sentido, esta relação entre a Administração implica, desde
logo, o reconhecimento dos direitos subjectivos dos particulares perante os Poderes Públicos, todavia, esse
reconhecimento não surge como uma opção abstracta, mas sim, surge como uma exigência da opção
constitucional concreta na ordem jurídica assente na dignidade da pessoa humana, cujos direitos
fundamentais vinculam directamente os Poderes Públicos.
Além disso, os direitos subjectivos não resultam, exclusivamente da Constituição, podendo resultar de um
regulamento administrativo ou do acto administrativo (VASCO SILVA). E no caso angolano pode resultar de
um direito não escrito, ou de usos e costumes.
Para SAVIGNY, o direito subjectivo seria um poder de vontade. Tal poder deveria ser entendida, como
reconhecimento ao sujeito titular do direito, de um âmbito da liberdade independente de qualquer vontade
estranha.
Assim, MENEZES CORDEIRO define o direito subjectivo como uma permissão normativa específica .
Por sua vez, MIGUEL TEIXEIRA DE SOUSA, define o direito subjectivo, «como situação subjectiva, que resulta
de uma permissão de acção ou de omissão»
Para o Prof. Doutor JOÃO CASTRO MENDES, o direito subjectivo, é o poder conferido pela ordem jurídica para
prossecução de interesses. Por seu turno o MANUEL DE ANDRADE, entende que o direito subjectivo consiste
num poder ideal de vontade reconhecido pela ordem jurídica ao seu titular.
Para a doutrina perfilhada pelos administrativistas, tem defendido outra orientação sobre os direitos
subjectivos, assim, OTTO MAYER, define o direito subjectivo como o «poder de vontade, conferido ao sujeito
para seu benefício, delimitando a sua vontade conferido aos poderes da vontade dos outros sujeitos» . Mas
MAYER além de primeiramente negar a existência dos direitos subjectivos interroga-se no meio do caminho
quando foi interpelado pelo seu compatriota BUEHLER, e rejeita a sua proposta do direito subjectivo,
116
Manual de Direito Económico Francisco Mário
administração meramente agressiva para tornar-se uma nova modalidade de
relacionamento de carácter duradouro para além da vida e morte214.

Para o Prof. GOMES CANOTILHO, algumas constituições preocupam-se em consagrar na sua


carta magna o direito do ambiente invés do direito fundamental ao ambiente.

Parece não é o caso da Constituição Angolana, entende-se quanto esta matéria que o
legislador constitucional foi feliz ao consagrar no seu texto legal o “Direito Fundamental ao
Ambiente, como direito individual ao ambiente, já fora da lusofonia em alguns Países como
Alemanha, Países Baixos e Finlândia, individualizando o ambiente como fim e tarefa do
Estado e da comunidade215.

Já LUÍS CARLOS BATISTA, doutrinador brasileiro, e também soa a voz do seu hino no
mesmo sentido e, por conseguinte Profª. CARLA AMADO GOMES, de Lisboa, conhecida pela
tese franciscanismo jurídico-ecocentrismo, ou direitos poligonais, não consideram o direito
subjectivo do ambiente como direito fundamental económico, pelo facto, não satisfazer o
critério dos elementos da relação jurídica, precisamente na dificuldade em determinar ou
atribuir um direito subjectivo a um sujeito, objecto e garantia no âmbito da relação jurídica.
Pois, segundo estes autores, os direitos em presença apresentam uma larga abstrariedade,
indeterminabilidade, quanto a tutela, legitimidade processual, responsabilidade, terminam
afirmando, que o direito subjectivo do ambiente é de fruição comunitária por carência
judicativa individual, podem colidir com outros direitos fundamentais, no exercício de um
direito fundamental por parte do seu titular pode chocar com exercício de outro direito
fundamental, por parte do outro titular (…), que o classifica de colisões próprias e
impróprias216.

Por seu turno, os Profs. FIGUEIREDO DIAS e VASCO DA SILVA, também partidários da
conhecida lógica antropocêntrica - os fundamentalistas moderados, qualificam o direito ao
ambiente tal como descrito na Constituição, como direito subjectivo público, porquanto no
direito do ambiente, o particular é, pois, titular de direitos subjectivos públicos, que

considerado que a ideia de um «poder sobre o Estado é uma concepção equívocas». Assim, segundo MAYER,
«os direitos subjectivos que nós procuramos, devem ser configurados como um poder sobre uma parcela dos
poderes públicos, que a ordem jurídica atribui ao seu titular para o benefício da sua vontade».
Já o Prof. MARCELLO CAETANO - diz que aparentemente um individuo podia ser titular de posições jurídicas
substantivas em face da Administração, mas o conteúdo desses pretensos “direitos subjectivos” em nada se
distinguia das normas jurídicas objectivas, não sendo eles mais do que meros reflexos do direito objectivo.
Finalmente, JORGE REIS NOVAIS entende que o direito subjectivo revela-se estruturalmente na possibilidade
de o particular se autodeterminar numa área juridicamente tutelado, que se traduz na possibilidade de poder
exigir ou pretender o comportamento (positivo ou negativo) ou de produzir automaticamente efeitos
jurídicos213.
Depois desse desfibramento das teorias acima referenciadas, a nossa posição filia-se na tese eclética
formulada pelo Prof. MARCELLO CAETANO e JORGE REIS NOVAIS, pois que vai de encontro com a natureza
jurídica da dupla qualificação do direito fundamental ao ambiente como direito subjectivo e como estrutura
objectiva com conexão colectiva autónoma.
214 Ibidem. Pág. 76
215 Alemanha art. 20º. Finlândia. Art. 20º. Ob. cit. Pág. 16.
216 Cfr. AAVV, BATISTA, LUÍS CARLOS - «Revista de Direito do Ambiente e Ordenamento do Território nº 16-

17», Pág. 145 e ss.


117
Manual de Direito Económico Francisco Mário
integram uma relação jurídica administrativa multilateral -, todavia, esta relação jurídica
Administrativa consubstancia-se num vínculo abstracto e geral, ou individual e concreto,
constituído entre dois, ou mais sujeitos de direitos disciplinado por uma norma de Direito
Administrativo, ou por um acto individual e concreto, mediante o qual um dos
intervenientes pode exigir de outrem certa conduta positiva ou negativa217. Isto quer dizer
em amiúde que, não tem apenas como sujeito a Administração e o Poluidor (potencial ou
efectivo) mas também na vítima da poluição218.

Entretanto, o Direito objectivo é o sinónimo de complexo normativo que regulam as


condutas dos sujeitos da relação jurídica do ambiente. Mas o direito ao ambiente na
dimensão (no sentido objectivo)219, é identitário do direito da colectividade, ou seja, aquela
que é titulada pela comunidade.

Já na Alemanha, a Constituição de WEIMAR, considerou os direitos fundamentais como


factores de integração, de laço de união entre os cidadãos e o Estado, enquanto garantias
constitucionais de um sistema de cultura e de valores orientando à concepção unitária do
povo e do Estado e, portanto, inspirador de toda a ordem jurídica220.

Para o Prof. VASCO PEREIRA DA SILVA, diz que na dimensão objectiva, podem ser
decompostas em (i) norma de competência negativa, (ii) critério de interpretação e de
conformação de toda a ordem jurídica, (iii) princípios de natureza prospectiva ou
programática221.

217 Cfr. MONCADA, LUÍS S. CABRAL DE - «A Relação Jurídica Administrativa» para um novo paradigma de
compreensão da actividade, da organização e do Contencioso Administrativo, Coimbra 2009. Pág. 14, 15.
218 Cfr. MARIO, FRANCISCO, Ob. Cit. Pág. 13. Neste sentido (…), a relação jurídica administrativa

intersubjectiva tem por conteúdo a disciplina de um direito subjectivo ou interesses da colectividade, para
cuja defesa a ordem jurídica atribui o poder ao respectivo titular e que se analisa numa pretensão dirigida ao
outro sujeito da relação. Aqui também pode ser requerido os direitos fundamentais potestativos públicos que
corresponde ao poder de o particular produzir unilateralmente e inelutavelmente efeitos jurídicos que se
impõe a todos, pelos mesmos, ao Estado - tendo em conta a soberania estadual e o respectivo monopólio do
poder, poderá configurar-se ao lado passivo como estado de «sujeição», e não como dever de suportação
«obrigacional» mesmo que naqueles casos em que o exercício do poder altere a ordem jurídica sem implicar
formalmente uma alteração da esfera jurídica do destinatário. Porém, os direitos fundamentais potestativos
públicos ao ambiente constitui um mecanismo de intervenção do titular de um direito na esfera alheia.
Todavia, para protecção dos direitos fundamentais ao ambiente lhes são atribuídos direitos de intervenção
por via do mecanismo do procedimento administrativo, assim como tutela judicial efectiva (seja pela via de
recurso de anulação, seja pela via das acções de defesa de direito de indemnização) no âmbito da
responsabilidade civil extra - contractual da administração em matéria de ambiente é alargada em
responsabilidade objectiva, independentemente da culpa, isto significa funda-se no dano.
219 O nosso realce.
220 Cfr. NOVAIS, JORGE REIS - «As Restrições aos Direitos Fundamentais não Expressamente Autorizados pela

Constituição», 2ª edição Coimbra editora 2010, Pág. 60 e ss.


221 Ob. Cit. Pág. 130. «…» (i) – competência negativa, função de repelir normas de conteúdo contrário,

permitindo o respectivo afastamento da ordem jurídica. Fiscalização da constitucionalidade. (ii) - os direitos


fundamentais possuem a natureza de princípios jurídicos que obrigam e enformam toda ordem jurídica, (…)
funcionam como critério de interpretação e integração de lacunas das normas jurídicas e tem carácter
irradiante com dimensão horizontal… (iii) - os direitos possuem uma dimensão prospectiva ou programática,
que obriga os poderes públicos actuarem de forma continuada e permanente para sua realização.
118
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Daí que os direitos fundamentais, como normas objectivas, de dimensão institucional, de
decisão do valor e da socialidade que vão se confinar no instituto ou na instituição no valor
e na sociedade, ou seja, os direitos fundamentais se realizam através da instituição, no caso
flagrante no ordenamento jurídico angolano sobre titularidade dos direitos fundiários
pelas comunidades rurais nos termos do art. 98º, CRA e art. 22º, 23º e 37º, da Lei nº 9/04,
de 9 de Novembro, Lei de Terras.

Mas com uma conexão autónoma, isto quer dizer que, as terras tituladas pelas
comunidades tradicionais, podem ser tituladas pelas famílias e individualmente, nos
termos do art. 22º, nº 2, da Lei de Terras de Angola.

Portanto, é na instituição que se realiza o direito objectivo que vai constituir a tarefa
fundamental do Estado como uma norma programática prevista na Constituição222. Os
direitos fundamentais ao ambiente na sua dupla qualificação apresentam um lado jurídico
individual, enquanto garantem aos seus titulares a um direito subjectivo público, e um lado
institucional objectivo, enquanto garantias constitucionais e administrativas (art. 200º, da
CRA), no âmbito de liberdade juridicamente ordenados e conformados, pois que, neste
seguimento os direitos fundamentais surgem como direitos autónomos sem qualquer
dependência, complementaridade ou instrumentalidade, mas antes uma relação de
integração223.

Qualquer modo, na seara jurídica discute-se a problemática da teoria dos direitos difusos
avançada por alguns autores, para qualificar os direitos fundamentais ao ambiente no
plano económico, por não se identificarem com as duas teses de direitos subjectivos e
direitos objectivos ao ambiente, que, claro são direitos da cúpula dos direitos económicos.

Para esclarecer esta símile de controvérsias, vamos recuar no tempo para aferir a sua
paternidade, que segundo a história os direitos difusos tem a sua fonte jurisprudencial na
doutrina juspublicista italiana224, quando foi confrontada pela primeira vez com a
legitimidade de certas associações que em juízo pretendiam fazer valer um interesse “sui
generis”, tentando reagir contra actos lesivos ao ambiente, foi a partir daquele momento
que se começou falar dos direitos difusos.

Assim, na opinião da Prof.ª CARLA AMADO GOMES, da escola de Lisboa, defende (…) a
concepção de interesses difusos, se não é incorrecta, está saturada de ambiguidade, pelo
que, segundo ela, deve ser interpretada com muitas cautelas: porque em primeiro lugar, o
interesse de uso de um interesse colectivo não é difuso, mas individual; em segundo lugar
o interesse difuso é uma fórmula processual que pretende aliar duas realidades antónimas,

222 Vide normas programáticas na Constituição de Angola art. 21º, 85º, 89º e 98º, da CRA.
223 Ob. Cit. Pág. 61.
224 O conceito do interesse difuso resulta justamente da importação de uma criação jurisprudencial italiana -

“interessi difusi à fruição de bens da colectividade -, forjada para explicar o alargamento da legitimidade
processual a titulares de posições jurídicas substantivas diversas, quer do direito subjectivo, quer do
interesse legítimo, GOMES, CARLA AMADO - «O Risco de Modificação do Acto Autorizativo Concretizador de
Deveres de Protecção», Coimbra 2006, Pág. 120.
119
Manual de Direito Económico Francisco Mário
pois que, a individualização de um interesse e a comunitarização de um bem de utilidades
indivisíveis; em terceiro lugar, e sobretudo, porque o interesse difuso, apesar das suas boas
intenções partindo de um propósito puramente processual, redunda numa construção
invertida de uma posição jurídica substantiva para a qual há que encontrar alguma
correspondência material225.

Conclui afirmando que o pecado do interesse difuso é o de veicular, a pretexto da


legitimação de uma intervenção procedimental ou processual destituída da base de
sustentação tradicional- interesse directo e pessoal-, a manipulação doutrinal no sentido
da sua substancialização, pois em última análise, diz que, a posição jurídica que justifica à
figura do interesse difuso é o de puro e simples interesse de facto, pois se de um direito
subjectivo se tratasse, entraria assim em cena a legitimidade tradicional, que corresponde,
no plano material, a um interesse individualizado e individualizável226.

Mas antes, como evidência um dos expoentes crítico deste entendimento doutrinal, o Prof.
VASCO DA SILVA, defende que, é preciso que se retorne à “infância difícil” do Contencioso
Administrativo para que se perceba o paradoxo então gerada da compreensão francesa do
princípio da separação de poderes vincada numa “promiscuidade entre Administração e a
Justiça” aportada num Administrador-Juiz, que era atentatório ao princípio de separação
de poderes227, para censurar com sublinhada nota a figura de interesses difusos, visto que,
neste tipo de Administração, os indivíduos eram vistos como meros objecto do Poder
Público, ou seja, súbditos da Administração Pública do tipo do modelo clássico de Estado
Liberal228.

É mister saber antes a relação jurídica administrativa que serve do conceito quadro que vai
explicar os vínculos entre a Administração e os particulares para podermos qualificar a
natureza jurídica do direito ao ambiente.

O que demonstra o distanciamento por similitude próximo dos interesses de terceiros na


doutrina alemã ter sido criadas nas relações poligonais com a Administração, na Itália como
já asseveramos, os interesses difusos nasceram como forma de superar a dicotomia entre
o interesse público e o privado, “tendo por conseguinte, segundo os seus defensores, dizem

225 Apud. CUNHA, ILDA PORCILA, Interesse Difuso ou Direitos Subjectivos (Relatório de Mestrado em Ciências

Jurídicas FDUL 2009-2010), Fundamenta – se o Direito ao ambiente é um direito fundamental tanto em


sentido formal como material, na medida em que, como afirma o Prof. JORGE MIRANDA, todos os direitos
fundamentais em sentido formal soa-nos também em sentido material, mas o contrário já não se poderá
afirmar, diferentemente do entendimento do ilustre Prof. ASCENSÃO, JOSÉ OLIVEIRA DE para quem pode
haver direitos fundamentais em sentido formal que não sejam direitos em sentido material. Acrescenta na
nota numero 30 citado o JORGE MIRANDA, ibidem, Pág. 11. A distinção entre os direitos fundamentais formais
e materiais remonta ao IX aditamento à Constituição Americana. Os formalmente constitucionais são os que
estão enunciados e protegidos por normas de valor constitucional, já os materialmente fundamentais são
normas que não tem força constitucional, porém são reconhecidos e protegidos em face das leis e normas
aplicáveis por parte do Direito Internacional. Pág. 11.
226 Ob. Cit. Pág. 120 e 121.
227 Cfr. SILVA, VASCO PEREIRA DA,- O Contencioso Administrativo no Divã da Psicanálise. Ensaio Sobre as

Acções do Novo Processo Administrativo», Almedina, Coimbra 2005, Pág. 49, 50 e ss.
228 Ob. Cit. Pág. 264.

120
Manual de Direito Económico Francisco Mário
eles possuem uma alma pública e um corpo privado” por protegerem uma série de
interesses pluri-individuais em áreas conexas (…), assim sendo tem sido definido o
interesse difuso - “como direito a paz pública, a segurança pública e ao meio ambiente”
(RICARDO RIBEIRO CAMPOS)229.

A Lei Fundamental não constatamos os interesses difusos, mas contudo em alguns espaços
jurídicos – legais refere-se minguamente dos interesses da colectividade, que muitos
autores amiudamente têm crismados de interesses difusos, que o Prof. JORGE MIRANDA os
classifica de direitos de interferência prevista na regra da norma (art. 9º, al. e);52º; 53º;
64º; 67º;78º e 90º, da Constituição da República Portuguesa e por nós aqui no nosso
ordenamento jurídico, os “direitos de interferência”230, encontram o assento no art. 21º ;
39º e 74º, da CRA).

Mas não obstante a isso, na Lei do Consumidor consagra o interesse difuso, outro sim,
curiosamente uma norma processual que está prevista no art. 186º, al. d), da CRA, reporta
que o Ministério Público tem competência de defender os interesses colectivos e difusos
para abranger o demais direitos não previstos taxativamente no texto legal, bem como,
segundo o nosso entendimento constitui uma clausura aberta processual análoga em
homenagem ao princípio da clausura aberta substantiva do art. 27º, da CRA.

Na nossa opinião, são realidades distintas que não se reconduzem a este esquema da
geografia jurídica do direito ao ambiente, pois que, é uma forma diferenciada, que a ordem
jurídica utiliza em diferentes técnicas de atribuir as posições jurídicas de vantagem, mesmo
que os resultados sejam iguais231.

Neste sentido, o constitucionalismo ambiental assume uma dupla dimensão subjectiva e


com conteúdo objectiva de conexão autónoma. Logo, vai se realizar através do Direito
Administrativo do Ambiente no plano interno e internacional, via Substantiva,
Procedimental e Contenciosa. Porque no Direito ao Ambiente, o particular é, pois, titular de
direitos subjectivos públicos, que integram uma relação jurídica multilateral, a qual não
tem apenas como sujeito a Administração e o poluidor (potencial ou efectivo) mas também
na vítima da poluição.

Para protecção desses direitos que lhes são atribuídos direitos de intervenção no
procedimento administrativo, assim como tutela judicial efectiva (seja pela via de recurso
de anulação, seja pela via de acções de defesa do direito de indemnização) no âmbito da
responsabilidade civil extracontratual da Administração em matéria de ambiente é

229 Ob. Cit. Pág. 23


230 Entende-se como direito de interferência – na nossa modesta opinião, são aqueles que normalmente
obstaculizam ou interferem actividade de agente económico devido as exigências do cumprimento dos
padrões do direito do ambiente, consumo, saúde pública, etc., que antigamente não eram observados por
inópia legislativa. – Hoje ditos direitos difusos que o Prof. VASCO DA SILVA o considera inexistentes, por má
qualificação ou incapacidade intelectual do homem de os qualificar como tal, mas desenvolvimento ver
VASCO PEREIRA DA SILVA, Contencioso Administrativo, Divã da Psicanálise...
231 Ob. Cit. Pág. 120.

121
Manual de Direito Económico Francisco Mário
alargada em objectiva responsabilidade independentemente da culpa, isto significa funda-
se no dano, ou seja, responsabilidade objectiva.

Pois que, aonde existe actividade económica suscita sempre o cumprimento das regras
ambientais, ou seja, onde existe actividade económica há possibilidade de ocorrer danos
ecológicos, patrimoniais e culturais. Daí que a tutela do ambiente é um valor constitucional
independente e hétero determinante dos comportamentos económicos dos agentes
económicos, que vai para além do planeamento e do desenvolvimento232.

Porque, por extensão, abarca a conservação e gestão dos recursos naturais e o combate à
poluição que se configura nos princípios do Direito do Ambiente, nomeadamente:

- Princípio da Prevenção; previsto na al. c), do art. 4º, da Lei de Bases do Ambiente nº 5/98,
de 19 de Julho;

- Princípio Precaução; previsto no nº 2, do art. 39º, da CRA, e;

- Princípio do Poluidor Pagador; previsto na al. g), do art. 4º, da Lei de Bases do Ambiente
nº 5/98, de 19 de Julho.

4.10.1. Ordenamento do Território Urbano e Rural


Ordenar o território é uma das tarefas ingentes da intervenção fundiária da Administração
Económica, pois visa em geral criar as condições favoráveis de garantia do
desenvolvimento económico – social e bem – estar social de defesa do ambiente e de
qualidade de vida dos cidadãos.

Para todos os efeitos, a intervenção económica neste domínio é assegurada através dos
mecanismos e instrumentos de ordenamento do território ocupação dos espaços
territoriais de forma regrada que salvaguarde a defesa dos interesses de segurança
territorial no plano do equilíbrio ecológico, da conservação do património histórico e
cultural, bem assegura a segurança interna do território, das pessoas e as suas riquezas.

Todavia, para alcançar o desiderato anunciado, é mister adimplir com a pauta de princípios
ordenador do território fundamentais, designadamente:

Soberania do território nos termos art.3º, da CRA;

Unidade territorial e nacional, art. 8º, da CRA;

Respeito e efectivação dos direitos, liberdades e garantias fundamentais, art.30º a 56º, CRA;

Organização e divisão político-administrativa do território, art.5º, da CRA;

Domínio Público, art. 95º, da CRA;

232Cfr. MONCADA, LUÍS CABRAL DE, - Manual Elementar de Direito Público da Economia e da Regulação,
Almedina editora-2012, Pág. 94.
122
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Utilidade Pública, art. 37º, da CRA;

Propriedade estatal dos Recursos Naturais, art. 16º, da CRA;

Propriedade originária da Terra pelo Estado, art.15º, da CRA;

Transmissibilidade do domínio privado do Estado, art. 15º e 98º, da CRA;

Classificação e qualificação dos solos, art. 15º, art. 36º e 37º, da Lei do Ordenamento do
Território;

Planeamento geral e urbanístico, art. 91º, da CRA;

Desenvolvimento económico-social e qualidade de vida das populações, art. 39º, 21º, 85º,
89º, e 90º, da CRA;

Defesa do território e segurança interna. Art. 8º, da CRA.

O ordenamento do território filia-se nos planos urbanos conforme o aproveitamento


económico dos solos edificações públicas e privadas, designadamente:

Zona de edifícios habitacionais ou bairros fiscais de alta renda, média e baixa renda.

Zonas urbanas para construção de edifícios ministeriais e governamentais (palácios


residências oficiais, comandos policiais, centros de conferencias, representações
diplomáticas e consulares).

Zona urbana de edifícios públicos sociais, saúde, educação, desporto escolar, cemitérios,
parques sociais, geológicos e infantis, jardins e avenidas, largos e rotundas, viadutos e
pontes aéreas de peões.

Zona urbana de infra-estruturas militares, bases áreas, quartéis, bases marítimas e docas
de marines militares, bases de logística, bases de paióis de armento de guerra e explosivos,
centro de armas nucleares, misseis e rampas de lamento, campos de carreira de tiro, portos
militares e etc.

Zona de infra-estruturas económicas e Financeira:

a) Portos, estacões de linhas férreas, rede básica e serviços de telecomunicações,


Bancos, Correios, Casas de câmbios, Bolsa de Valores.
b) Edifícios hoteleiros, pensões e restaurantes, campismos, feiras, centros comerciais,
lojas, mercados.

Zona peri-urbana de indústria pesada, siderurgia e materiais de construção.

Zona peri – urbana ou urbana industrial ligeira:

a) Parque industrial de camionagem e automóveis ligeiros e recauchutagem, bombas


de abastecimento de combustível e estação de serviços;
123
Manual de Direito Económico Francisco Mário
b) Matadouros e salinas;
c) Industria alimentar; e,
d) Armazéns de Comercio a Grosso.

Zona Urbana e peri- urbana de edifícios de lazer desportiva:

a)Autódromos de competição, cintura verde;

b)Estádios e arenas desportivas, docas de marines, campos de tiro aos pratos;

c)Bares, casinos, casas nocturnas, parque de campismo, cinemas, teatros, campos de


exibição de dança do carnaval e palhaço.

Zona peri-urbana de depósitos de lixo:

a)Aterros sanitários;

b)Aterros domésticos de esgotos; e,

c)Aterros industriais químicos.

Zona Costeira

a)Praias;

c)Marginais e falésias;

d)Campismos e arenas desportivas de praia;

d)Portos pesqueiros;

e)Campos de Salinas e de salga e seca; e,

f)Reservas Fundiárias do Estado.

O ordenamento do território, além do plano urbanístico, temos os planos rurais para fins
agrários e aproveitamentos das águas e energia:

Plano de ordenamento rural agrícola;

Plano de ordenamento mineiro;

Plano de ordenamento paisagem natural;

Plano de ordenamento pecuário;

Plano de ordenamento hídrico;

Plano de ordenamento florestal e da fauna; e,

Plano do ordenamento da Pesca fluvial e aquicultura e apicultura.

124
Manual de Direito Económico Francisco Mário
4.10.2. O Turismo
Não se pode falar de economia ambiental sem tocar no assunto do turismo como indústria
limpa.

Água, mar, terra, o clima, o frio e calor, ventos, sol, sucessão de dias e noites, chuvas,
constituem factores gerador de fontes de recursos do turismo, pois hodiernamente o
carácter dinâmico do “Sector do Turismo”, como criador de emprego, potenciador da
igualdade do género, factor de combate à pobreza, captador de divisas e difusor da imagem
do País no exterior, entre outros, impõe a corte do poder económico a necessidade de
criação de condições para o seu desenvolvimento sustentável.

Entretanto este desafio, coloca o País numa situação de emergência no âmbito do Mercado
de turismo ecológico e cultural, pois que, Angola dispõe de recursos turísticos, culturais,
históricos e naturais, que lhe privilegia no Mercado regional da SADC e noutros Mercados
Internacionais.

Pelo que, perante este desafio de actividade económica tão lucrativa impõe a regulação
jurídica para tutelar o interesse público, nos termos da CRA e da Lei nº 9/15, de 15 de Junho,
Lei do Turismo.

Porém, Turismo, - “pode ser definido como deslocação temporária de pessoas para destinos
diferentes da sua residência habitual por período superior a 24 horas, por motivos de lazer,
negócios ou outros, utilizando as facilidades de alojamento, restauração e outras bens e
serviços oferecidos no local”.

Por outro, actividade turística, consiste na actividade comercial que concorre para o
fornecimento de prestações de alojamento, de restauração e/ou satisfação das
necessidades das pessoas que viajam para o seu lazer ou por motivos profissionais, ou que,
têm por finalidade um motivo de carácter turístico.

O turismo importa algumas modalidades como: turismo religioso, desportivo, de negócios,


ecológico, rural, investigação científica, de produção cinematográfica, saúde e águas
térmicas, habitação, comunitário tradicional e etc.

Porém, neste sector de actividade existe os agentes económicos que nele operam e os
órgãos de regulação pública e privada.

Assim, neste sentido os operadores económicos do sector do turismo são os seguintes:

Consideram-se agentes públicos do turismo, todas as entidades da Administração Central


e Local do Estado com competências no planeamento, desenvolvimento e concretização das
políticas de turismo, nomeadamente:

a) O Departamento Ministerial que superintende o Sector da Hotelaria e Turismo;


b) Os Governos Provinciais;
c) As Administrações Municipais;

125
Manual de Direito Económico Francisco Mário
d) As Administrações Comunais;
e) As Entidades de Gestão das Áreas de Interesse Turístico;
f) O Instituto de Fomento Turístico enquanto instituição pública de fomento e
promoção do turismo;
g) Autarquias Locais.

2- Agentes Privados do Turismo

São agentes privados do turismo, as pessoas singulares ou colectivas que exerçam


actividade económica organizada para a produção, comercialização, intermediação e
gestão de produtos e serviços que concorrem para a formação de oferta turística nacional,
nomeadamente:

a) Empreendimentos Turísticos e Meios Complementares de Alojamento Turístico;


b) Agências de Viagens e Turismo;
c) Unidades de Restauração;
d) Agentes de Animação Turística;
e) Operadores Turísticos e Marítimo-Turísticos;
f) Prestadores do Serviço de Turismo de Natureza;
g) Prestadores do Serviço de Turismo Cinegético;
h) Prestadores do Serviço de Turismo de Habitação e Turismo Rural;
i) Prestadores do Serviço de Turismo da Saúde de terapia nas águas térmicas;
j) Prestadores do Serviço de Marinas e Empreendimentos de Apoio ao Turismo
Náutico ou à Pesca Turística;
k) Casinos e Actividades de Jogo;
l) Aluguer de veículos para fins de turismo (Rent-a-Car);
m) Informação Turística;
n) Transporte Turístico;
o) Outras actividades estabelecidas pelo Executivo.

Portanto, os agentes públicos do turismo têm como missão promover o desenvolvimento


da actividade turística através da coordenação e da integração das iniciativas públicas e
privadas.

4.11. Princípio da Defesa do Consumidor


Antes de mais, este princípio refere-se ao Direito do Consumidor e não defesa do direito do
consumo como tem-se confundido os termos na literatura jurídica menos avisada.

Mas qualquer modo, o Direito do Consumidor pertence a um passado recente da cultura


humana. Os registos históricos apontam a partir dos anos 30 do século XX conhecida por
grande depressão ou “grande Boom”, e, seguiram-se ritmos acelerados de desenvolvimento
empresariais de produção em massa de bens e serviços e, sua comercialização a nível
planetário tornou-se global, associados os avanços tecnológicos da informática, – como
lembra o Prof. Doutor RAÚL RODRIGUES da Escola Mandume-Lubango, citando ELSA DIAS

126
Manual de Direito Económico Francisco Mário
DE OLIVEIRA (…), diz que entrou-se na chamada sociedade de consumo ou de
abundância233.

O princípio económico de defesa do consumidor visa limitar, prevenir eventuais abusos nas
relações de consumo. Conclui-se e reportando a síntese do doutrinador da escola do
Lubango RAÚL RODRIGUES, atento dois aspectos que tem singular importância,
designadamente:

1- A elevação da defesa do consumidor ao princípio constitucional colocando


esta matéria num lugar proeminência na economia nacional.

2- Qualquer norma contrária à defesa do consumidor é inconstitucional234….

O que significa dizer, a defesa do consumidor é um princípio constitucional com


proeminência económica e qualquer norma contrária à defesa do consumidor pode ser
considerada inconstitucional.

O Princípio da Defesa do Consumidor tem assento na Constituição de Angola de 2010, nos


precisos termos do sublinhado art. 78º, da CRA; e é alargado pela Lei nº 15/03, de 22 de
Julho. No mercado de consumo existe um esquema contratual cujo conteúdo normativo
pré-elaborado está composta de uma série de condições gerais, formuladas de modo geral,
uniforme e abstracto235.

Por este raciocínio, por vezes o consumidor é elevado simplesmente a aderir (contrato de
adesão deve sempre respeitar os imperativos da disciplina das cláusula gerais dos
contratos, prevista na Lei nº 4/02, de 18 de Fevereiro, Lei Sobre as Cláusulas Gerais dos
Contratos).

Em razão disso, o legislador adoptou medidas especificas para equilibrar os interesses


económicos em causa (art. 15º, da LDC)236 e estabelecer proibições que, a não serem
requisitados dão causa à nulidade da matéria contravertida.

Para efeito a defesa do consumidor realiza-se através de mecanismo extrajudiciais,


Administrativos (art. 25º, da LDC) e jurisdicional, o qual a Lei especial confere a
legitimidade aos órgãos públicos designadamente, Ministério Público (art. 28º, al. d) da
LDC), as Associações de Defesa do Consumidor (art. 32º, da LDC) e qualquer interessado,
impetrar em juízo as acções administrativas, cíveis e inibitória (art. 20º, da LCGC)237 , Acção
Popular; (art. 74º, da CRA)238 e penais tendentes à tutela de interesses individuais e

233 Cfr. RODRIGUES, RAÚL CARLOS DE FREITAS, – O Consumidor no Direito Angolano, Almedina -2009, Pág.
22.
234 Ob. Cit. Pág. 54.
235 Ob. Cit. Pág. 186.
236 Lei nº 15/03, de 22 de Julho, Lei da Defesa do Consumidor.
237 Lei nº 4 /02, de 18 de Fevereiro, Lei Sobre as Cláusulas Gerais dos Contratos.
238 Acção Popular, - não é um mecanismo processual autónomo, mas sim é o alargamento da legitimidade

processual para defesa da legalidade do interesse público.


127
Manual de Direito Económico Francisco Mário
colectivos dos titulares do direito fundamental (do consumidor) constitucional económico
associado ao respeito à dignidade da pessoa humana239.

Na tutela dos direitos do consumidor no cômputo geral visa garantir os seguintes bens
jurídicos240:

3- Qualidade de bens e serviços;


4- Formação e informação;
5- Saúde;
6- Segurança de bens e serviços;
7- Interesses económicos;
8- Reparação dos danos;
9- Publicidade transparente.

4.12. Princípio da Delimitação da Actividade Económica e das Reservas Públicas


A regra no Estado democrático de direito é de livre acesso à propriedade privada e
iniciativa empresarial nos sectores da actividade económica. Mas essa regra encerra
excepções através do presente Princípio da Delimitação da Actividade Económica e das
Reservas Públicas reportados, ou seja, consagrados no artigo 93º e ss, da CRA.
Considerando que actividade económica é desenvolvida no âmbito da existência dos
sectores públicos, privados e cooperativos conforme garante a Constituição Económica
angolana em homenagem ao disposto no artigo 92º, nº 1, da CRA.

Entretanto, o acesso a actividade económica é livre, mas como já asseveramos essa


liberdade enclausura algumas excepções que delimitam as actividades do Estado que são
considerados de restrições e limitações.

Os direitos fundamentais económicos, ou seja, o acesso as actividades económicas podem


ser limitados e restringidos?

Seguramente, isto é, que vamos saber, partindo primeiro da valência doutrinal de cariz
constitucional lusa do Prof. MELO ALEXANDRINO, que de ponto vista dogmático hipotisa
no seu repertório que os limites – são grandezas negativas, que tanto podem estar
enunciadas numa norma constitucional, como numa disposição legal ou numa regra do caso
(art. 164º, al. c), da CRA), de um lado, por outro, os limites são grandezas positivas que tem
de ser protegidas (art. 165º, nº 1, al.) b); c); d); e; f); g); j); k); i); m); n); p); q); r) e t), da
CRA241.

Para o Prof. REIS NOVAIS, as restrições em sentido estrito são situações normativas do
poder público (“leis restritivas”, na fórmula da nossa Constituição) modificativas do

239 Cfr. MAGALHÃES, CARLOS, – Defesa do Consumidor, a Responsabilidade Civil do Fornecedor, escolar
editora 2010, Pág. 25 e ss.
240 Cfr. PAHULA, OVÍDIO, – Evolução da Constituição Económica Angolana, casa das ideias 2009, Pág. 126.
241 Cfr. ALEXADRINO, MELO, - Direitos Fundamentais, Introdução Geral, Principia editora 2011, Pág.123 Pág.

121.
128
Manual de Direito Económico Francisco Mário
conteúdo dos direitos fundamentais e que do ponto de vista da sua dimensão subjectiva,
são desvantajosas ou negativas para os titulares reais ou potenciais dos respectivos
direitos. Conclui este autor afirmando que, - “neste sentido estas restrições são normas que
suprimem, impedem, diminuem ou dificultam o acesso dos titulares ao bem jusfundamental
protegido e, nessa medida, afectam a prossecução autónoma de fins pessoais garantida
objectivamente pela titularidade daqueles direitos fundamentais242.

Trata-se de um prejuízo a liberdade económica de acesso actividade económica lucrativa


que pode resultar da própria Constituição que vai constituir uma mera
concretização/declaração de um conteúdo constitucional anterior, é pois, o que acontece
com o acto Administrativo de Expropriação por Utilidade Pública, não é puro um acto
constitutivo de direitos, porquanto que já esta pré-configurado no ínsito no texto legal, art.
37º, da CRA, cabendo Administração Económica regular e operar de acordo aquela
restrição económica expressamente autorizada pela Constituição. Ou quando muito, por
via judicial por ex. a execução de dívida dos bens a penhora também são exemplos deste
tipo que vai o Estado através do poder judicial decidir através de uma sentença ou intervir
e restringir através do processo executivo (art. 46º, do CPC) de executar os bens
económicos do devedor, mas sempre ao respeito aos bens do domínio público ou de
interesse público previstos no art. 95º, nº 2, da CRA e como ¼ do salário do trabalhador é
pois intangível art. 822º e ss., do CPC, pois estes são impenhoráveis.

Sendo certo, apesar existir colisão de direitos de conflitos deve-se salvaguarda-los,


outrossim, persiste na faculdade do titular do direito renunciar a iniciativa empresarial de
actividade económica lucrativa ou da propriedade, aí estaremos diante de auto- limitação
ou restrição (auto-regulação) em detrimento da hetero - limitação e restrição243.

Os limites dos direitos fundamentais económicos - são normas que, de forma duradoura,
excluem directamente os âmbitos ou efeitos de protecção ou que são fundamentais
susceptíveis de afectar as possibilidades de realização de normas jusfundamentais.

Os limites, podem ser, segundo a construção de FRIEDRICH KLEIN, citado pelo Prof. MELO
ALEXANDRINO, de dois tipos fundamentais: Limites de Garantias e de Reservas.

– Os primeiros fixam conteúdo que constitui o direito fundamental, os contornos do


complexo de conteúdos de que fazê-lo de forma expressa na norma constitucional de
garantia ou ser deduzida da relação da sistemática do conjunto das normas constitucionais
e podendo ainda surgir no plano constitucional ou no plano da Lei ordinária (art. 37º, da
CRA).

- Os segundos actuam sobre o complexo previamente delimitado, podendo também eles


«constar na própria Constituição (limites de reservas directos) como ser actuado por leis

242 Cfr. NOVAIS, JORGE REIS, - As Restrições aos Direitos Fundamentais não Expressamente Autorizadas Pela
Constituição, Coimbra editora 2010, Pág.227.
243 V.g., alguém atear fogo na sua propriedade, ou apostar no jogo de fortuna e azar e perder todo o seu

património a favor do Casino.


129
Manual de Direito Económico Francisco Mário
ordinárias, medidas administrativas ou decisões judiciais fundadas imediata ou
mediatamente na Constituição (limites de reserva indirectos)244, (art. 1309º e ss do CC).

Em termos condensados, são normas que excluem a protecção ou afectam as possibilidades


de realização de um direito económico fundamental, que podem ser os limites de regras,
ou de princípios, podem ser normas individuais, ou normas constitucionais ou
infraconstitucionais etc.245.

Quanto as restrições como forma de intervenção do Estado (Legislador, Executivo e


Judicial) num direito económico fundamental - pode ser definida como sendo a acção
normativa que afecta desfavoravelmente o conteúdo ou o efeito de protecção de um direito
económico fundamental previamente delimitado246.

- O limite significa, uma norma, e;

- As restrições significa uma acção.

As restrições e limites ou as intervenções restritivas dos direitos económicos fundamentais


decorrem de uma excepção, com suporte legal, cujo regime jurídico-constitucional está
reportado na Constituição, nos termos do art. 57º, da CRA, e art. 29º, da DUDH.

No direito angolano, os limites dos direitos económicos fundamentais constitui no âmbito


das competências, reserva absoluta, pois compete Assembleia legislar sobre a matéria (art.
164º, da CRA). Já as restrições ou as restrições limitativas247, porém constituem no âmbito
de competência das reservas relativos, vide art. 165º, nº 1, al.) b); c); d); e; f); g); j); k); i);
m); n); p); q); r) e t), da CRA.

Portanto, os direitos económicos de acesso actividade económica lucrativa, em regra não


podem ser limitados e restringidos, mas dessa regra opera uma excepção ventilada pelo
princípio de Abuso do Direito248.

Mas, o instituto do Abuso do Direito está desenhado na Constituição, o que significa dizer,
no caso justificativo é admitido excepcionalmente ao Estado (tutela pública) e aos
particulares (tutela privada)249, fazer intervenções restritivas e limitativas250, dos Direitos
Económicos Fundamentais em sede do Abuso do Direito.

244 Apud. ALEXANDRINO, MELO, - A Estrutura do Sistema de Direitos, Liberdades e Garantias na Constituição
Portuguesa, Vol. II, Colecção Teses, Almedina editora 2006, Pág. 460.
245 Ibidem. Pág.122.
246 Ibidem. Pág. 123.
247 Existe diferença entre restrições e restrições limitativas de direitos económicos, mas desenvolvimento

ver ALEXADRINO, MELO, Direito Fundamentais Introdução Geral, Principia editora 2011, Pág.123.
248 Lei civil art. 334º, do CC.
249 É o caso da intervenção restritiva do direito de Retenção, art. 45º, da LGT.
250 Limite aos limites em última instancia tem como sua fonte de garantia à Lei vide art. 115º, da LGT. Ob. Cit.

Pág. 727 e ss.


130
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Em caso e dúvida os direitos devem prevalecer sempre sobre as restrições (in dúbio pro
libertate), isto significa que as leis restritivas devem ser interpretadas senão
restritivamente, pelo menos sem recurso à interpretação extensiva e à analógica251.

Portanto, as limitações e restrições configuram-se na tríplice delimitação, nomeadamente:


reservas absolutas, reservas relativas e reservas de controlo.

4.13. Princípio da Coexistência de Sectores de Propriedade


Os primeiros afloramentos deste princípio remontam na fase de transição, porém, ele
assume o estatuto constitucional (formal e material), pela primeira vez, na versão original
da Constituição Económica de 11/11/1975, vindo a ter um alcance restringido pelo
predomínio da propriedade socialista e do carácter residual e ancilar da propriedade
privada na Constituição Económica Socialista de 1978, para voltar a recuperar o seu alcance
material operado pela abertura material e a mobilidade da Constituição Económica
socialista realizada pela Lei nº 10/88, de 31 de Dezembro, entre outras leis do pacote
legislativo do S.E.F.252. Contudo, este princípio vinha já consagrado no artigo 10º, da Lei
Constitucional, Lei nº 23/92, com a seguinte redacção:

“O sistema económico assenta na coexistência de diversos tipos de propriedade, pública,


privada, mista, cooperativa e familiar, gozando todos de igual protecção…”.

Desta forma, a Constituição Económica da República de Angola de 2010, reduziu aquela


ilustre nomenclatura jurídico-legal dos sectores de tipo de propriedade, e, privilegiou como
notadamente se observa, a consagrar taxativamente os três sectores de propriedade nos
dispostos marcos do art. 92º, da CRA, que respiga o seguinte:

1. O Estado garante a coexistência dos sectores público, privado e cooperativo,


assegurando a todos tratamento e protecção nos termos da Lei.

2. O Estado reconhece e protege ao uso e fruição de meio de produção pelas


comunidades rurais, nos termos da Constituição, da Lei e das normas consuetudinárias”.

4.15. Princípio do Mercado e do Planeamento


Não se encontrava expressamente na Pré-Constituição253, tanto de 1975 como a de revisão
de 1992. Mas contudo, atento as novas teias da economia mundial e o sistema económico
que visava as reformas de 1988, o legislador foi feliz e consagrou de modo expressivo o
Mercado no art. 89º, al. c) e o Plano no art. 91º, da Constituição da República de Angola de
2010. Cujo objectivo é promover o desenvolvimento sustentado e harmonioso do país,

251 Cfr. MIRANDA, JORGE, - Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, 5ª edição Coimbra editora 2012. Pág.
421.
252 S.E.F. - Saneamento Económico e Financeiro.
253 Apud, FERREIRA, EDUARDO PAZ, – Direito da Economia, - Lisboa AAFDL-2003. Pág. 19.

- Preferimos tratar de Pré- Constituição por configurar-se nas leis constitucionais provisórias ou transitórias
que antecederam à actual Constituição definitiva de 2010.
131
Manual de Direito Económico Francisco Mário
assegurando a justa repartição do rendimento nacional, a preservação do ambiente e a
qualidade de vida dos cidadãos.

4.16.1. Mercado
O Mercado - pode ser definido como sendo o encontro entre produtores e consumidores
dentro de um determinado espaço e em Angola divide-se em Mercado Formal (oficial) e
Mercado Informal (não oficial) de bens e serviços.

As áreas mais abrangidas pelo Mercado Informal, designadamente o comércio retalhista, o


emprego, a construção, a moeda estrangeira, os transportes colectivos e urbanos, e outras
áreas como a saúde, a própria educação, correctores imobiliários, Mercado cambial,
microcrédito, comércio rural, comércio a retalho de bens alimentares, designadamente: o
peixe, carne, hortícolas, e etc., prestação de serviços de agencia de viagem nos aeroportos,
trabalhadoras de sexo, de solicitadoria e etc.

O comportamento do “Homo Economicus” é tão complexo para que se tire alguma análise
que fidelize uma resposta das questões que a sociedade apresenta, mas na ciência jurídico
económica tem sido assinalado o aparecimento do Mercado Informal como falha do
Governo, ou falhas de Regulação do Estado e cujas consequências imediatas repercutem na
procura de produtos que o Mercado deixou de produzir ou fornecer ao consumidor que
algum sector da doutrina tem apelidado de falha do Mercado ou recessão do Mercado, que
em resposta à esta falha, o Mercado. Pois como o homem precisa de satisfazer as suas
necessidades, vai criar alternativas informais ou paralelas ao Mercado Formal e
burocrático restringido, ou limitado por regras por causa dos bens serem já escassos.

Entretanto, com o surgimento de Mercado Informal em Angola, no passado recente foram


ensaiadas diversas medidas para pôr cobro a actividade do Mercado Informal, e por
conseguinte, para concretização das supostas medidas existe três orientações,
designadamente:

- Medida de combate e o aniquilamento do Mercado Informal, que era a ideia do passado


recente do regime do dirigismo económico do partido único nos períodos de 1975-1990;

- Medidas de políticas económicas e administrativas para mitigar actividade informal, ou


seja, políticas de coabitação com o Mercado Formal pelo que o Estado intervém apenas para
corrigir e defender o funcionamento do sistema, mas não para o orientar ou dirigir, ou seja,
são tomadas de medidas de tipo de um intervencionismo com diversas inspirações, que
vigorou desde os anos de 1991-2014.

- Medida de integração ou transformação do Mercado Informal para economia formal


através de programas específicas (PREI – Programa de Reforma de Economia Informal). Ou
seja, um dirigismo económico de fomento ao empresariado nacional.

Portanto, na actual situação económica existe para efeitos a reforma económica através do
programa de transformação do Mercado Informal para o Mercado único formalizado nos

132
Manual de Direito Económico Francisco Mário
termos do PREI, Decreto Presidencial nº 84/14, de 24 de Abril, que estabelece as bases
gerais de transformação do Mercado Nacional Único, cujas instituições encarregue para
execução do referido programa são: INAPEM, BUE, conforme o estipulado nos art. 3º e 8º
do PREI, do Decreto Presidencial nº 84/14, de 24 de Abril, bem como o estabelece o Decreto
Presidencial nº 206/11, de 29 de Julho que aprova as “Bases Gerais Para Organização do
Sistema Nacional de Preços” e no Programa de Aquisição dos Produtos Agro-pecuários
(PAPAGRO)., que vigora desde 2014.

Portanto, a origem ou surgimento do Mercado, são as falhas do Governo na Regulação


Economia, pelo que, esta actividade económica fez surgir novos profissionais liberais, ou
seja, novas designações de profissionais liberais, como por ex.: Quinguilas, Muambeiros,
candongueiro, roboteiro, peixeira, mayuyeiro, zungueiro e etc.

4.16.2. O Mercado Informal Apresenta as Seguintes Características


Espontaneidade: o agente informal actua por impulso, reage em conformidade com a
procura e oferta. Não actua de forma planeada.

Atomismo: cada um actua por si, não estão organizados;

Pragmatismo e simplicidade: primeiro porque não está preocupado com as formalidades.


Vê uma oportunidade e actua utilizado obviamente mecanismos práticos e simples;

Não usa papel, não faz contabilidade prática os preços em função dos clientes;

Transparência e Liberdade: tudo é visível e porque é informal, é livre porque não está
preocupado com as regras jurídicas;

Imprevisibilidade: é imprevisível quer quanto aos preços, ao abastecimento, quer quanto


aos produtos e quer quanto às fontes. O que você encontra hoje, poderão não encontrar
amanhã;

Imediatismo: não está voltado para o futuro, mas sim para a solução de problemas pontuais
e actuais.

Na actual situação económica existe para efeitos de reforma económica o programa de


transformação do Mercado Informal para o Mercado único formalizado nos termos do
PREI, Decreto Presidencial nº 84/14, de 24 de Abril, que estabelece as bases gerais de
transformação do Mercado Nacional Único, cujas instituições encarrega para execução do
referido programa são: INAPEM, (Instituto Nacional de Apoio as Pequenas e Medias
Empresas), BUE (Balcão Único do Empreendedor), art. 3º e 8º do PREI254, do Decreto
Presidencial nº 84/14, de 24 de Abril.

254 PREI- Programa de Reforma da Economia Informal.


133
Manual de Direito Económico Francisco Mário
4.16.3. O Plano
O Plano (planeamento), o Sistema Nacional de Planeamento é a estrutura conceptual e
normativa para a elaboração, execução, registo, acompanhamento e avaliação do
planeamento nacional, instrumento de regulação e fomento do desenvolvimento nacional,
traduzido em objectivos, estratégias, planos, programas e acções (projectos e actividades)
do Poder Executivo, e respectivos resultados e impactos, (art. 2º, da LPN) ou seja, o Plano
Económico art. 91º, da CRA, - deve ser compreendido como um conjunto de acções e
directrizes integradas, que têm como objectivo principal promover o desenvolvimento
económico e social de uma região255, (Cidade, Município, Estado ou País).

De acordo os dados históricos do direito comparado, os planos franceses depois da segunda


guerra mundial, eram do tipo indicativo, por oposição aos planos imperativos que
encontramos nos Países socialistas.

Porquanto, à luz do Sistema de Economia de Mercado, os planos indicativos não dão ordens;
enunciam objectivos e preferências (opções) e contêm recomendações e não prescrições.

Este carácter traduz-se no objecto das disposições dos planos, nomeadamente no Plano
Nacional como nutrificado pela Lei do planeamento nacional angolano art. 5º, al. c), que
obviamente prescreve o seguinte:

«Natureza indicativa do planeamento em relação à iniciativa privada, através da orientação


dos gastos públicos, da regulação e de estímulos de política económica».

255 Lembra o Plano Marshall que visou a recuperação da Europa pós - guerra de 1945, 2ª guerra mundial. O
referido plano ficou conhecido por “ PLANO MARSHALL” em homenagem ao ex-secretário do Estado dos
EUA - GEORGE CATLETT MARSHALL, que ganhou o Nobel da Paz de 1953, pela criação do plano que ajudou
a reconstruir a Europa na pós-guerra e morreu em 1959.
Na França houve o PLANO DE “MONNET” O Plano Monnet era um plano de reconstrução da França proposto
pelo funcionário público Jean Monnet após o final da Segunda Guerra Mundial. No plano era proposto que a
França obtivesse controlo sobre o carvão e aço das zonas alemãs do Vale do Ruhr e Sarre para poder usar
esses recursos e levar a França ao índice 150% quando comparado com a produção industrial do pré-guerra.
O plano foi adoptado por general Charles de Gaulle no início de 1946.
E na Rússia (URSS) o PLANO “COMECON” (Council for Mutual Economic Assistance, Conselho para Assistência
Económica Mútua) foi fundado em 1949, e visava a integração económica das nações do Leste Europeu.
Os países que integraram a organização internacional foram a União Soviética, Alemanha Oriental (1950-
1990), Tchecoslováquia, Polónia, Bulgária, Hungria e Romênia.
Recentemente países da zona euro devido a crise do subprime, é uma crise financeira desencadeada em 2006,
a partir da quebra de instituições de crédito dos Estados Unidos, que concediam empréstimos hipotecários
de alto risco (em inglês: subprime loan ou subprime mortgage), arrastando vários bancos para uma situação
de insolvência e repercutindo fortemente sobre as bolsas de valores de todo o mundo, Portugal e outros
países da Europa foram obrigados a pedir ajuda financeira externa e que ficou conhecido como o programa
de assistência económica e financeira, ou regaste financeiro do FMI, ou seja, ajuda externa desde 2011,
designado de Troika (troika tem vários significados, designadamente):
1. Trenó puxado por três cavalos
2. Conjunto de três pessoas ou coisas, tric
3. Grupo de trabalho ou delegação composto por três membros
(Do russo Troïka, «trio»).
E em Angola o Programa de Saneamento Económico e Financeiro de 1988, conhecido como S.E.F. e
sucessivamente seguiram mais outros programas, ou planos gizados pelo governo do Eng.º JOSÉ EDUARDO
DO SANTOS.
134
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Em primeiro lugar, encontram-se aí abundantes análises de situações, de dados
económicos e de evolução.

Em segundo lugar, encontram-se, igualmente em grandes proporções, previsões incidindo


sobre as tendências, as taxas de desenvolvimento prováveis ou possíveis.

Finalmente, em terceiro lugar, encontram-se o conjunto das disposições optativas, aquelas


que dão ao Plano o seu carácter de desejo e de instrumento de orientação. Essas
recomendações enunciam os objectos e as «acções a empreender» ou «acções propostas».
Elas dizem essencialmente respeito aos investimentos, quer do sector público, quer do
sector privado.

É o que indica a Lei que contém a aprovação do Plano: «O Plano é aprovado como quadro
dos programas de investimentos para o período (…) e como instrumento de orientação da
expansão económica e do progresso social»256.

Desde o princípio como afirma ANDRÉ DE LAUBEDÈRÉ257, que estas questões foram
discutidas e continuam a ser. O problema da natureza jurídica do plano é efectivamente um
problema embaraçoso e difícil.

256 Cfr. LAUBADÈRÉ, ANDRÉ DE, - Direito Económico, Pág. 318. Escreve este autor francês que, - carácter
operativo distingue sem dúvida, no seio da planificação indicativa, os planos de tipo francês dos documentos
de tipo holandês, que não passam de previsões postas em números, com fim de informação sem incitamento.
É aquilo que por vezes se exprime dizendo que plano francês, se não é imperativo, é pelo menos activo. Mas
nem por isso deixa de ser simplesmente indicativo.
No V plano, preferiu-se a eventuais correcções empíricas e improvisadas, uma fórmula de levantamento
sistemáticos, chamada fórmula dos «pisca-piscas» ou dos «sinais de alerta»: as variações susceptíveis de se
produzirem em determinados domínios (nível geral de preços, equilíbrio das trocas externas, situação do
emprego, etc.) deveriam arrastar, se ultrapassassem determinadas marcas, a aplicação de medidas correctas
ou mesmo a mudança explícita de um objectivo do plano.
Mas, a inovação mais importante do VII Plano, no que diz respeito à aplicação da ideia dessa mentalidade,
reside na técnica dos programas de acções prioritárias, que corrigem os efeitos dessa mentalidade –
reafirmada em si mesma – através de um regime mais bem protegido contra as eventuais mudanças,
reservado à determinadas acções seleccionadas.
Nesta ordem de ideias, para evitar que as variações da conjuntura fizessem abandonar determinados
objectivos essenciais, já o VI Plano tinha previsto, para certos equipamentos, «declarações de prioridade» que
os tornavam beneficiários de envelopes quinquenais de autorizações de programa assim como de
«programas finalizados», caracterizados pelo facto de que ai eram reconhecidas como prioritárias não apenas
as despesas de equipamento complementares.
A ideia fundamental desta concepção é que, sendo simplesmente indicativo, o plano só terá possibilidade de
êxito se for «aceite» pelas pessoas interessadas na sua aplicação e até se for por elas sentido como uma obra
colectiva, uma espécie de bem comum, uma linha de conduta que elas têm interesse em seguir.
Esta ideia, que constitui o correctivo do carácter indicativo do plano, é talvez inerente à natureza de qualquer
plano deste género; não é por isso menos verdade que se pode apresenta-la com uma marca própria da
planificação francesa, ela revela o seu espírito e exprime-se na técnica chamada «elaboração concertada», que
os autores do Plano Monet evocavam declarando que «a execução dos programas se deveria fazer dentro de
uma economia concertada e não dentro de uma economia dirigida de carácter burocrático e corporativo».
Podemos dizer que a planificação foi, deste modo, a terra natal da concertação antes que esta última se
tornasse objecto de uma aspiração muito mais geral em matéria económica e mesmo nos outros sectores da
vida administrativa.
257 Ibidem.

135
Manual de Direito Económico Francisco Mário
A razão disso está nas características muito particulares, que acabamos de indicar, do acto
planificador, em particular no seu carácter simplesmente indicativo optativo.

Tradicionalmente o acto jurídico define-se como acto que visa produzir efeitos de direito,
modificar o ordenamento jurídico existente e, tratando-se do acto jurídico público, como
um acto prescritivo, imperativo ou ainda normativo, isto é, introduzindo na ordem jurídica
uma norma, uma regra.

O carácter simplesmente indicativo e optativo do Plano priva-o precisamente destas


características do acto jurídico público.

Com efeito, é certo que o Plano, por si mesmo, não impõe nada às Empresas económicas
privadas, aos administrados. Não lhes é oponível, no sentido de que eles são absolutamente
livres de não seguir as suas recomendações. E, por outro lado, ele também não pode ser
directamente invocado por eles em justiça: os interessados não poderiam pretender anular
uma decisão da administração pela razão de que ela não estaria conforme a esta ou aquela
recomendação do Plano, nem reclamar indeminização pela razão de que lhes teria sido
recusado determinado benefício previsto no Plano.

O Plano está mesmo privado de eficácia jurídica no que diz respeito aos investimentos
públicos que prevê. Não podem dar lugar a compromisso do Estado a não ser nos limites
determinados por autorizações de programa votadas nas condições determinadas pela lei.

A execução das autorizações de programa supõe a votação de créditos de pagamento e que


os próprios créditos orçamentais constituem, para os agentes públicos, autorização e não
obrigação de gastar.

Mas esta afirmação obriga a perguntar, por um lado, em que categoria de actos jurídicos se
pode classificar o Plano, por outro lado que consequências devem ou deveriam ser ligadas
ao reconhecimento da juridicidade do Plano258.

258 Cfr. LAUBADÈRÉ, ANDRÉ DE, - Direito Público Económico, Pág. 326. Esta consideração leva muitos juristas
a pensar que o Plano n ao é um acto do âmbito do Direito. O Plano nesta opinião, é um acto técnico e político,
não jurídico; cria obrigações morais, não obrigações no campo do direito, não pertence à ordem jurídica. O
Plano, se não do ponto de vista das suas formas, processos e graus de elaboração, pelo menos do ponto de
vista da sua natureza profunda, seria, em suma, uma declaração governamental de política económica
aprovada pelo Parlamento, análoga a parte económica de uma daquelas declarações ministeriais através das
quais um novo chefe do governo expõe, quando entra em funções, a política económica que conta seguir
durante o período em que ficará poder e recolhe um voto de confiança equivalente à aprovação do programa
exposto.
No que diz respeito especialmente às próprias obrigações dos poderes públicos, como admitir que
Estado não seja em nada obrigado juridicamente pelo Plano que aprovou e propôs ele mesmo aos
interessados, incitando-os, ainda por cima, a embrenharem-se em direcções definidas e que, tendo-o
promulgado, ele possa lavar as suas mãos a esse respeito? «O Plano constitui um compromisso solene da
Nação para consigo mesma».
136
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Plano no Ordenamento Jurídico Económico Angolano, consiste pois, em um instrumento de
política económica, e, constitui um limite à actuação do Mercado e exprime a supremacia
do Poder Político sobre o Poder Económico259.

O Planeamento democrático do desenvolvimento económico e social previsto no art. 91º,


da CRA, não é a planificação socialista mas também não é aquele último planeamento
privado, sai dos horizontes micro-económicos empresariais, visa sobretudo dirigir o
normal processamento da decisão económica descentralizada para um quadro de
objectivos globais de interesse colectivo onde pontificam considerandos ambientais e
urbanísticos, entre outros, ao sabor dos objectivos constitucionais mais gerais do Estado260,
mas sem se sobrepor à decisão económica descentralizada própria do Mercado de acordo
com o fundamento predominante da actividade económica, a autonomia privada e não tem
de constar de um documento unitário261.

Acresce ainda que o planeamento constitucional é democrático o que abre à participação


dos respectivos destinatários através dos meios adequados, longe de uma concepção
burocrática e tecnicista. Trata-se antes de mais de um meio de consolidação da já referida
democracia participativa e não um certificado de valia tecnológica ou de obediência
política. É por isso que ele é democrática.

Isto significa que o planeamento constitucional continua a ser da actividade económica e


não se confunde com o simples planning orçamental, próprio de certos critérios de cálculo
das despesas públicas, muito vulgarizados, e que apenas visam, para melhor as avaliar,
apreciá-las num plano plurianual a decompor em projectos anuais orçamentáveis, tal como
também se faz, de resto, no sector privado.

Portanto, o plano angolano tem natureza misto, porquanto que na sua qualificação pode ser
entendido como um Plano indicativo para entidades privadas, isto é, facultativo, ou
optativo para os agentes económicos do sector privado da economia, dai torna um
instrumento de política do governo destituído de juridicidade, de um lado, e, por outro lado,
deve se entendido como um Plano Imperativo para entidades públicas, desde logo, vincula

259 O realce e o negrito também é nosso.


260 O Sistema Nacional de Planeamento integra os instrumentos de planeamento para promoção do
desenvolvimento socioeconómico e territorial do País de horizonte temporal anual e plurianual de médio e
longo prazos.
2. Os instrumentos do Sistema Nacional de Planeamento, nos termos do art. 6º da LPN, ou seja, os tipos de
planos nacionais são:
a) Estratégia de longo Prazo (ELP);
b) Plano de Desenvolvimento Nacional (PDN);
c) Quadro de Despesa de Desenvolvimento (QDD);
d) Planos de Desenvolvimento Sectorial e Privado (PDSP);
e) Plano Nacional de Ordenamento Territorial (PNOT)
f) Plano Estratégicos (PE)
g) Planos de Acção (PA)
h) Planos Anuais (PAn), e;
i) Planos de Contingência (PC).
261 Cfr. MONCADA, LUÍS CABRAL DE, - Manual Elementar de Direito Público da Economia, Almedina, 2012,

Pág. 91.
137
Manual de Direito Económico Francisco Mário
todas as entidades do sector empresarial público, cujo império dos seus comandos é de
algum modo, de cumprimento obrigatório, tendo por via disso, carácter de um acto jurídico
ineficaz, porquanto, o Plano é acto técnico político que constitui um compromisso solene
da Nação para consigo mesma.

4.17. Princípios da Economicidade


O sentido do termo “economicidade” é muito mais amplo do que simples princípio
económico, qual se liga, intrinsecamente a ideia de lucro financeiro, ou do custo benefício
(Finanças) visado a satisfação das necessidades da colectividade (Cfr. o art. 88º; 90º, da al.
e) e 99º, nº 1, da CRA). Tem a ver com o “Estado Económico”262, onde o “homo economicus”263
destaca-se para tal satisfação do bens - estar por via económica. Ora, o Direito Económico
busca harmonizar as medidas de política económica pública e privada, através do princípio
da economicidade, com o primado da ideologia constitucionalmente adoptada264.

Neste contexto, o princípio da economicidade - pode ser definido como aquele através do
qual se busca a concretização dos objectivos constitucionalmente traçados por uma linha
de maior vantagem, isto é, de forma mais viável possível para o suprimento de determinada

262 Estado Económico consiste no Estado lucrativo – capitalista e nunca no Estado de caridade que produz
bens e serviços e doa aos seus cidadãos, o Estado nunca distribui a riqueza por via gratuita, mas sim por via
de retribuição de rendimentos (renda, juros, trabalho, imposto, taxa e isenções fiscais, incentivos e etc.), se
assim o fizer será um Estado válido, aí impera, segundo o adágio popular “ quem não trabalha não como”.
263 Cfr. LOBÃO, JULIÃO - Finanças Comportamentais, quando a economia encontra a psicologia, editora, Actual

- 2012, pág. 11. “Homo economicus – no desenvolvimento dos seus modelos, as finanças racionais pressupõem a
existência de um agente económico ideal com características muito especificas designado homem económico
(homo economicus)”.
Os economistas assumiram que o estudo das acções económicas do homem poderia ser feito abstraindo-se
as outras dimensões culturais do comportamento humano: dimensões morais, éticas, religiosas, políticas, etc.,
e concentraram seu interesse naquilo que eles identificaram como as duas funções elementares exercidas por
todo e qualquer indivíduo : o consumo e a produção O Hedonismo, que afirma que o homem está sujeito, tal
como os animais, à Lei natural dos instintos e que portanto se encontra implícita a procura do prazer, do bem-
estar e a evitação da dor.
O Utilitarismo, cujo autor principal é JOHN STUART MILL (1806-1873) afirma que o que é útil é valioso e
contrapõe o prazer calculado ao irracional, classificando os prazeres nobres e pobres.
O Sensualismo segundo CONDILAC (1714-1780) afirma serem os sentidos a fonte do conhecimento, dai
consubstanciar-se nos seguintes princípios fundamentais do conceito “homo economicus”:
1- A razão psicológica essencial a toda a actividade humana é o interesse pessoal. Este primeiro
princípio é então afectivo, pois define a única razão da actividade económica;
2- O homem não obedece senão à razão;
3- O sujeito é universal, o interesse pessoal e a racionalidade são validos em todos os lugares e em
todos as épocas.
4- O homem está perfeitamente informado, tem conhecimento da totalidade das consequências de
todas as possibilidades das acções que se lhe oferecem;
5- O homem vive o presente num tempo linear, não se lembra nem tem a capacidade de prever;
6- Ele está só e portanto livre dos outros homens, ou seja, não existem determinismos que lhe sejam
exteriores.
Com base nesta construção abstracta, que os economistas construíram sobre um corpo teórico
unanimemente aceite, elaboraram-se leis económicas que se encontram em todas as obras fundamentais: a
Lei da maximização da utilidade e leis sobre a utilidade marginal, aplicadas ao consumo e à produção.
264 Capitalismo ou socialismo.

138
Manual de Direito Económico Francisco Mário
necessidade, seja esta de que ordem for, não apenas patrimonial, mas também social,
política, cultural, ética e moral265.

Segundo a Advogada de Minas Gerais (Brasil) CLÁUDIA MARIA SILVEIRA, profetiza que
muitas vezes, a solução mais vantajosa para a situação não se trata daquela mais lucrativa
em termos financeiros, capitalistas. Tudo dependerá da finalidade que se busca atingir. Se
se almeja, por exemplo, o alcance da instalação telefónica em meios rurais de difícil acesso,
apesar de ser uma obra extremamente dispendiosa e de pouco retorno financeiro, em se
concretizando tal meta, o objectivo social terá sido realizado, embora não sejam auferidos
lucros em matéria de rendas mas sim de benefícios para a população266.

Destarte, o emprego deste princípio, vem a corresponder à necessidade de flexibilidade das


normas de Direito Económico face às diversas circunstâncias com que este se depara ao
longo da trajectória económica de um País. Porém, um mesmo facto em contextos distintos
pode levar a decisões inteiramente contrárias, sem a ocorrência de qualquer contradição.
Trata-se de simples ajuste ao dispositivo constitucional adequado para situações
individualizadas, realizado pelo instrumento harmonizador da economicidade.

O que significa dizer que, maior vantagem há-de ser adequada aos objectivos
constitucionalmente definidos. Permite, desta maneira, a opção mais justa ou
recomendável, em política económica, a ser realizada pelo aplicador ou intérprete da
norma, quando da realização concreta de situações hipoteticamente previstas. O ideal é que
se consiga conciliar aquilo tomado como certo economicamente, com o considerado justo
juridicamente. Em caso de incompatibilidade, deve prevalecer o justo.

Afinal a “linha de maior vantagem” é pautada em termos do “valor da justiça”. Restringe-se


o arbítrio, o poder de decidir do aplicador, o qual se deve ater às disposições constitucionais
e princípios hermenêuticos, preterindo-se qualquer subjectividade267.

O Princípio da Economicidade, exige o lucro empresarial, ou seja, o excedente por exemplo


os preços praticados pela Empresa Pública ser pois superiores ao custo operacionais , isto
não significa que o Estado não possa subsidiar as Empresas Públicas ou à elas equivalentes
de modo a que elas matem os preços inferiores do Mercado, (ditos preços políticos,
subvenção do preços dos combustíveis em Angola, preços de transporte rodoviários
urbanos praticados pelas Empresas Públicas e privadas, energia, água e telecomunicações
são subvencionadas pelo Estado, só para satisfazer o desiderato social ou interesse social
geral; (art. 198º, da CRA), ou seja para responder a necessidades sociais ou de política
económica268.

265Cfr. SILVEIRA, CLÁUDIA MARIA, - Advogada em Belo Horizonte (Minas Gerais) art. Direito Económico e
Cidadania-fonte intenet.http://jus.com.br/946428-claudia-maria-toledo silveira.Consultada 10/2/2014.

266Ibidem.
267Ibidem.
268Cfr. MONCADA, LUÍS CABRAL DE, - Direito Económico, 5ª edição, 2007, Pág. 331

139
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Em síntese quando um jurista está perante um conflito entre o Direito e a Justiça deve
pensar sempre no valor imanente e suprema da justiça, isto é, deve escolher a justiça,
porque nem todo Direito é Justiça269.

4.18. Princípios da Eficiência


A Lei constitucional de 1992, já consagrava a eficiência no artigo 11º, nº 2, por conseguinte,
na actual Constituição Económica vem consagrado no art. 21º, al. p), da CRA, portanto o
princípio da eficiência é tributário da Ciência da Economia e vem sendo recebido pelas
normas jurídicas, sob diversas afloramentos que subjazem à ideia primária de que o
Mercado assegura o máximo de bens e, a ideia de eficiência270, diferente da eficácia, radica
no determinismo das Leis de funcionamento do Mercado.

Através deste princípio fica obrigada as entidades públicas acomodar a sua gestão
económica a um aproveitamento racional dos meios humanos e económicos e financeiro de
que dispõe minimizando os custos de produção de distribuição comercialização de modo a
puder responder na maior escala possível às necessidades que se propõe satisfazer. É
corolário do princípio da economicidade que visa criar as condições para que a
rentabilidade empresarial seja possível271.

O que significa dizer o Estado quando esta regular ou intervir na economia visa alcançar a
eficiência e não abstruir.

4.19. Princípio das Nacionalizações e das Privatizações


As nacionalizações de ponto de vista histórico, hoje não têm as mesmas importâncias que
tinham na altura da independência, pois que, as nacionalizações foram utilizadas como
instrumentos necessários à instauração de uma economia centralizadas que se
caracterizava-se pela apropriação colectiva dos meios de produção com objectivos de
construção duma economia socializante, ou seja, o socialismo.

A propriedade colectiva produtiva angolana teve como base as nacionalizações conforme o


postulado no art. 97º, da CRA. Alguns conceitos respeitantes a este último princípio
configuram-se nos institutos económicos de nacionalizações, como figura central e, por
conseguinte, confisco, reprivatizações expropriação por utilidade pública, requisição
administrativa, todos esses institutos são figuras afins das nacionalizações, porquanto
geralmente promanam de um acto de soberania e revestido na fisionomia de uma lei em

269 Vide COUTURE, EDUARDO, 1949, O Advogado.


270 Em sua acepção etimológica, a eficiência é o termo surgido no séc. XVIII, que deriva do Latin (efficientia) e
eficácia termo surgido no séc. XV, que deriva do latin (eficácia) designam a mesma coisa, posto que ambos
decorrem do verbo efficere, que significa fazer, produzir. Nos dias de hoje os termos eficácia e eficiência
apresentam conceitos diferenciados, mas que se relacionam com a ideia de realização de objectivos. De
acordo com D. GALLIGAN, a eficiência analisa a relação entre recursos e resultados, ao passo que eficácia diz
respeito à realização de objectivos. Apud, CATARINO, JOÃO RICARDO/GUIMARÃES, VASCO BRANCO, - Lições
de Fiscalidade, Almedina 2012, Pág.117.
271 Cfr. MONCADA, LUÍS CABRAL DE, - Direito Económico, 5ª edição, 2007, Pág. 334.

140
Manual de Direito Económico Francisco Mário
sentido formal. Daí, ser considerando a figura central na hierarquia da intervenção do
Estado sobre a Economia.

Assim sendo, para todos efeitos académicos vamos dar a noção de algumas figuras:

4.19.1. Nacionalizações
A nacionalização em sentido restrito pode ser definida, segundo o Prof. EDUARDO PAZ
FERREIRA, como uma medida coactiva que opera a transferência da propriedade de
Empresas, participações sociais universalidades de bens, prédios rústicos e/ou urbanos ou
ainda de outros bens das pessoas privadas para as entidades públicas por razões política
económica e social272, por conseguinte o instituto de nacionalizações tem assento
constitucional previsto no art. 97º, da CRA., e art. 11º, da Lei de Terras nº 9/04, de 9 de
Novembro.

Deste conceito pode-se abstrair alguns traços característicos da nacionalização,


designadamente:

1º- A nacionalização opera sempre por via coactiva, não se podendo falar de nacionalização
se tiver havido uma compra pelo Estado de bens privados;

2º- É preciso que se verifique uma transferência efectiva da propriedade dos bens que
deixam de se integrar no sector privado;

3º- A nacionalização tem sempre uma motivação de ordem económica e social, visando que
os bens atingidos fiquem ao serviço do interesse geral273.

4.19.2. Privatizações

As privatizações como movimento de retorno ao Mercado, enquanto veículo privilegiado


de afectação de recursos, insere-se na dialéctica que caracteriza história. Porém, a
tendência actual é o recuo do Estado no terreno da economia, devido a causas económicas
e políticas.

Em sentido restrito, define-se a privatização como uma medida através da qual o sector
público cede à iniciativa privada meia de produção, para que esta os explore com maior
eficiência e racionalidade.

4.20. Princípio da Intervenção do Estado no Domínio Económico


a intervenção é pois, um fenómeno conhecido historicamente ao nível das economias
através dos modelos jurídicos sobejamente conhecido pela doutrina económica. Porém, os
modelos escrutinados, nomeadamente: Modelo Jurídico do Estado Liberal, Modelo Jurídico

272Cfr. FERREIRA, EDUARDO PAZ, - Sumários de Economia, AAFDL 1996, Pág.290.


273Cfr. FERREIRA, EDUARDO PAZ, - Sumários de Direito Economico 1996, Pág.290. neste sentido vide
Acórdão do Tribunal Constitucional Português nº39/88, de 9 de Fevereiro, in D.R. 2ª série nº 35, de 11 de
Fevereiro de 1988.
141
Manual de Direito Económico Francisco Mário
do Estado Social, Modelo Jurídico do Estado Previdência – Social, Modelo Jurídico de
Estado Socialista, Modelo Jurídico de Estado Regulador de Economia de Mercado.

Qualquer modo, actividade económica do Estado – é distinta, por natureza da função


própria do Estado como legislador e como administrador da coisa pública, – era assim,
então entendido como excepcional à luz da doutrina liberal. Desde logo, as intervenções do
Estado tiveram a sua causa no final do capitalismo liberal e caracterizado por seguintes
grandes notas:

- A Grande Crise de 1929, do desemprego, da inflação, da fome, da bancarrota, etc.;

- KEYNES, apareceu neste momento para defender pela 1ª vez a intervenção do Estado, no
sentido do investimento público em tempos de recessão ;

- O Estado passa à intervir directamente e indirectamente.

Segundo a doutrina liberal, os poderes públicos deveriam abster-se de actuar como


agentes económicos sob pena de falsearem as leis do Mercado274. Daí que as intervenções
só fossem em princípio admitidos quando justificado pela exigência de «falhas de
Mercado».

A intervenção do Estado em Angola verificou nas primeiras horas da época revolucionário


nos termos do art. 2º, do Decreto – Lei nº 128/1975, de 7 de Outubro, que, segundo o corpo
daquele diploma legislativo prescreve que a intervenção poderá ser determinada por
Despacho dos Ministro da Economia ou Planeamento e Finanças, pese embora, que o
legislador não ter empregado o devera, é certo que não previra que outras entidades
pudessem também intervencionar Empresas275.

Todavia, o certo é que verificou-se pois as intervenções estatais em Angola naquela época
foram feitas por dirigentes de todos ramos de actividade e Governadores de Província com
assinável intervenção de facto coberto do calor fervor da revolução, contrariando desta
feita a legalidade do disposto no Decreto – Lei nº 128/1975.

Portanto, face a Constituição de 2010, a intervenção reporta-se de ponto vista jurídico-legal


nos termos do art. 89º, 90º e 92º, da CRA., por via disso, como notadamente se observa no
rácio essendi da norma constitucional ora indicada, a intervenção visa alcançar certos
valores fundamentais com base na tríade Eficácia, Eficiência e Equidade - Estabilidade
Económica276.

274 Cfr. AVV. DOS SANTOS, ANTÓNIO CARLOS /GONÇALVES, MARIA EDUARDA/MARQUES, MARIA MANUEL
LEITÃO, – Direito Económico-5ª Edição Reimpressão/2004, Pág. 143.
275 Cfr. ABRANTES, MARIA LUÍSA, - As Privatizações Em Angola (Ensaios), Pág.43.
276 Itálico também é nosso.

142
Manual de Direito Económico Francisco Mário
O Estado ao intervir na economia deve respeitar o “Princípio da Subsidiariedade”, que a
nossa Constituição não consagrou expressamente, por conseguinte, este princípio
encontra-se consagrado em muitas constituições.

Mas é interessante perguntar o que é princípio de subsidiariedade?

Antes responder a vexata quaetio vamos procurar examinar o que significa subsidiariedade
e depois fazermos o jus do princípio em apreço.

4.20.1. Sub Princípio da Subsidiariedade


Numa primeira aproximação, a Subsidiariedade – tem a ver com caridade interajuda ao
próximo, fundada no espírito de tolerância social ao respeito a dignidade da pessoa
humana, daí que a intervenção económica do Estado é um princípio característico da
«doutrina social da Igreja católica» exposto, designadamente, nas Encíclicas Quadragésimo
Ano, datada de 1931, de PIO XI e na Centesimus Annus, datada 1991, de JOÃO PAULO II,
muito embora com raízes muito antigas e na doutrina católica do século XIX (a Encíclica
Syllabus errorum de PIO IX)277.

De acordo com aquele princípio, como sustenta o CABRAL DE MONCADA, o Estado deve
respeitar a liberdade e a vitalidade económicas do indivíduo e dos corpos intermédios
espontaneamente formados no seio da Sociedade Civil. Naquela última Encíclica afirma-se
que ao intervir directamente, irresponsabilizando a sociedade, o Estado assistencial
provoca a perda de energias humanas e o aumento exagerado do sector estadual, dominado
por uma lógica burocrática e sem a preocupação de servir os utentes, com enorme
acréscimo de despesas.

O Princípio da Subsidiariedade, aposta assim no primado da pessoa humana, da família e


da associação civil, na descentralização e no pluralismo económico, acentuando a
responsabilidade primacial do cidadão, enquanto parte activa da realidade económica e
social, na realização do bem comum (art. 21º, al. i), da CRA)278.

Ao Estado fica reservado um papel subsidiário no sentido residual, não devendo intervir na
economia para além do estritamente necessário (princípio da necessidade) e do princípio
da proporcionalidade.

277 Cfr. MONCADA, LUÍS CABRAL DE, - Manual Elementar de Direito Público da Economia, Almedina, 2012,
Pág.103.
278 A subsidiariedade é referida no art. 23º (o “art. europeu”). É reconhecido como central para a união

económica e é estrutural para a UE. O princípio é uma regra de atribuição de competência, pois limita a
actuação da UE no interesse da manutenção da esfera de actuação nacional e dos poderes dos Estados-
Membros. O novo tratado europeu refere que as decisões e as acções só devem ser tomadas a nível europeu
se o seu objectivo não puder ser mais bem alcançado através de acções a nível local, regional ou nacional (o
anterior tratado referia-se apenas a acções a nível nacional).
143
Manual de Direito Económico Francisco Mário
4.20.2. Sub - Princípio da Necessidade Económica
A intervenção só se justifica assim se necessária para evitar situações de desequilíbrio
económico e social, ou quando apresenta natureza supletiva por um corpo social, apenas
por si, não lograr certas actividades por falta de meios ou desinteresse.

A intervenção estatal na economia é admitida, todavia, em moldes menos restritivos do que


os que resultam do liberalismo económico alicerçado na referida teoria económica dos
bens colectivos279.

A consagração do referido princípio da subsidiariedade tem ainda como consequência a


preferência pela Outsourcing280 na contratação dos bens e serviços indispensáveis ao
funcionamento do Estado. O Estado abastece-se preferencialmente no sector privado em
vez de através dos serviços da sua Administração directa ou indirecta.

Daqui resulta também um efeito de privatização insuflado no Estado regulador. Note-se,


desde já, que isto não significa que o regime jurídico da autsourcing seja totalmente
privado, pois que, pelo contrário, são aplicáveis as regras da contratação pública, à frente
versadas, compreendendo exigências de igualdade, não discriminação, transparência e
concorrência efectiva281.

279Ibidem.
280 Cfr. PIZARRO, SEBASTIÃO NÓBREGA, - Contrato de Outsourcing. Coimbra, 2010. Pág. 6-25. Neste sentido,
Outsourcing – é uma palavra de origem anglo-saxónica composta por “Out” que significa fora e “Soure” ou
“Sourcing” que significa fonte. O Outsourcing ter a ver com a terciarização de serviços ou subcontratação que
é assume três características: produção tecnologia de informação e processo de negócio. E pode ser
classificado como Outsourcing público ou privado. Ex. Serviços de informática, jurídico, segurança, cantina,
transporte, refeitório, limpeza (nos estabelecimentos públicos hoje maioritariamente é feito pelas empresa
privadas) e etc.
Este contrato económico muitas vezes é confundido com o contrato de prestação de serviços previsto no
art.1154º cc. a diferença radica intrinsecamente no conteúdo literal da norma do código civil do art. 1154, in
fine, sendo que o contrato de serviço pode ser oneroso ou gratuito enquanto que o contrato de outsourcing é
sempre oneroso.
281 Cfr. MONCADA, LUÍS CABRAL DE. - Manual Elementar de Direito Público da Economia, Almedina, 2012,

Pág.103.
144
Manual de Direito Económico Francisco Mário
CAPÍTULO V - ADMINISTRAÇÃO ECONÓMICA E OS SEUS ÓRGÃOS

5.1. Aspectos Gerais Sobre a Administração Económica

Na antiguidade clássica, a forma de existência de domínio existente não assumiam carácter


estadual, dominava frequentemente o poder aristocrático de auto – auxílio constituíam
bases fundamentais de organização do poder política, cuja actividade administrativa era
exercida pelos delegatários dos clãs e senhores feudais que cingia-se nos assuntos
militares, de segurança, paz e transporte de mercadorias282.

Por tal razão, a inexistência de uma organização administrativa estadual levou a que, ao
tempo, as tarefas administrativas fossem executadas de forma descentralizadas pelo clã,
pelos aristocratas e por pequenas associações de estirpe no âmbito de competência própria
autónoma.

Todavia, as funções do governo, as de administrar a economia e de julgar não estavam


separadas, eram exercidas pelas mesmas pessoas e instituições.

Ora, neste contexto e nesta época histórica, o Direito emanava da consciência moral e
religioso, ou seja, o Direito, o costume e a religião eram a mesma coisa e ordenavam o sentir
e as necessidades da comunidade.

Foi, porém, em Roma imperial que se afirmou as preocupações de criar um Estado assente
numa expressão territorial e num poder político complexo, provendo a ampla necessidade
colectivas como defesa, segurança interna, assuntos financeiros e económicos, cunhagem
da moeda, comunicações, abastecimento de água, infraestruturas de resíduos,
funcionamento de mercados, transportes, ensino, cultura e até lazer283.

A partir do momento em que o Estado intervém no ordenamento jurídico no domínio da


matéria económica, coloca-se um problema de ordenamento do poder económico a nível
governamental e especialmente da implementação da economia nos quadros ministeriais.

Mas a partir do momento em que o Estado intervém de uma maneira mais acentuada
(intervencionismo) e sobretudo de uma forma mais diversificada, através de acções de
géneros muito diferentes, põe-se o problema do ordenamento do poder económico central,
que não pode ser capazmente resolvido pelas fórmulas do Estado liberal284.

282 Cfr. CARDONA, MARIA CELESTE. – Contributo para o Conceito e a Natureza das Entidades
Administrativas Independentes, Almedina editora 2017, Pág.78.
283 Apud. CARDONA, MARIA CELESTE. – Contributo para o Conceito e a Natureza das Entidades

Administrativas Independentes, Almedina editora 2017, Pág.79


284 Cfr. LAUBADÈRE, ANDRÉ DE, - Direito Público Económico, Pág. 152-153.

145
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Esta questão diz respeito, antes de mais, à escolha de uma instância ministerial285. Porém,
esta procura de uma implantação ministerial da Administração Económica que lhe sirva e
que assegure a sua unidade de direcção encontra duas espécies de dificuldades.

A primeira dificuldade decorre da diversidade das acções económicas do Estado: É difícil


delimitar a Administração Económica. As intervenções económicas do Estado incidem
sobre tantos domínios que quase todos os Ministérios apresentam de algum modo o ponto
de vista um aspecto económico, sendo aqueles que chamamos «Ministérios Económicos»
apenas caracterizados por uma vocação económica mais acentuada que os outros. Além
disso, no que diz respeito aos Ministérios Económicos propriamente ditos (Planeamento,
Indústria, Obras Públicas, Agricultura, Pesca, Transportes e etc.), não se pode pôr a hipótese
de os suprimir sem conferir ao Ministério Económico um gigantismo excessivo. É-se então
forçado a voltar-se para a fórmula do Ministro Coordenador ou “Super – Ministro”.

Nesta fórmula, os ministérios que se querem reunidos sem se fazerem desaparecer


permanecem quer como ministérios quer como simples secretarias de Estado, mas são
colocados sob a alçada de um «Super-Ministério» que os reagrupa, é o que se passa na
prática com o Ministério da Economia e de Coordenação Economia, cujo titular é
adjactivado de Ministro de Estado da Economia e de Coordenação Económica; mas então
surge o obstáculo da resistência dos ministérios, que invocam, por seu lado, o princípio
tradicional da igualdade dos ministérios.

A segunda dificuldade que, em matéria de política económica, a realização de uma unidade


de direcção ministerial de um carácter mais particular: ela diz respeito às relações entre um
Ministério encarregado da Economia e o Ministério das Finanças.

Se exceptuarmos o escrutínio do passado recente da nomenclatura económica e financeira


ministerial vimos que afigurava-se num “Ministro Coordenador” que era desempenhado
pelo Ministro-adjunto junto do 1º Ministro, que era no entanto Chefe da equipa económica
e por outra naquele período havia a junção do Ministério das Finanças e Economia
encarregado zelar pelas questões da economia nacional e das Finanças, podemos assim
salientar que era na diagonal jurídica como um «grande Ministério da Economia»286.

Uma característica da Administração Económica Central é que, se o seu suporte essencial é


constituído pelo Ministério da Economia e Finanças, ela não cabe inteiramente nesse
quadro ministerial. Assim convém descrever os elementos exteriores a este Ministério.

Os Ministérios Económicos em primeiro lugar, fora do Ministério da Economia e Finanças,


um certo número de outros ministérios têm atribuições incontestavelmente económicas.
São designados correntemente, por essa razão, «Ministérios Económicos». Não podemos
fazer uma lista desses ministérios que tenha um valor permanente, pois a própria
nomenclatura dos departamentos ministeriais em geral é variável mas podemos dizer que

285 Ibidem. Pág. 154.


286 Ibidem. Pág. 155-156.
146
Manual de Direito Económico Francisco Mário
aí figuram, sobretudo, os Ministério das Construção e Habitação, Ministério Ordenamento
do Território e Urbanismo, Ministério das Obras Publicas, Ministério do Comércio,
Ministério dos Transportes, Ministério Agricultura, Ministério das Pesca e do Mar,
Ministério do Ambiente, não citar senão aqueles cuja existência é mais ou menos constante,
mas também desenvolvem parcialmente alguma actividade económica através de
Empresas Públicas como na saúde ANGOMEDICA. E.P., Empresa Pública de produção de
medicamentos, na educação a EMATEB. E.P., Empresa Pública de produção de materiais
escolares287.

A Organização Administrativa do País comporta um ordenamento complexo, no qual se


combinam várias distinções:288

- Administração Central, constituída pelos Ministros e autoridades colocadas junto deles e


exercendo as suas competências relativamente ao conjunto do País, a Administração deste
último comporta necessariamente um ordenamento territorial; o País está dividido em
circunscrições administrativas territoriais;

Esta Administração territorial assenta sobre duas necessidades que convém distinguir
cuidadosamente e que fazem surgir, no interior da própria Administração territorial, art.5º,
da CRA e uma segunda distinção, a da Administração Estadual (art.8º e 199º, da CRA) e a da
Administração Local (art.8º e 201º, da CRA).Há dois níveis de órgãos da Administração
Económica: CENTRAL E DESCONCENTRADO.

Assim o exercício de funções económicas através de instrumentos de política económica


(alocação, distribuição e estabilização) sob a égide do Executivo se processa em duas
formas de organização política para fins de afectação, distribuição e estabilização
económica, designadamente:

5.1.1. Administração Económica ao Nível Central

O que corresponde aos Estados unitários onde as funções executivas de política económica
são exercidas, ou pelo menos controladas, pelo executivo central. A este nível os órgãos
principais da Administração Económica são: o Conselho de Ministros e sua Comissão
Permanente, e a Equipa Económica, bem como os diversos Ministérios.

Os órgãos secundários que são os Institutos Públicos, Agências e as Comissões


Especializadas do Conselho de Ministros enquanto Órgão Auxiliar do Titular do Poder
Executivo que integra diversos órgãos singulares e colegiais para dar melhor assistência ao
Presidente da República no exercício das suas atribuições legais na condução da política e
estratégias de governação e Administração Pública de Angola nos termos do art. 134º, da
CRA e Decreto Presidencial nº 6 e nº 216/12, de 15 de Outubro. Entretanto, integram no
Conselho de Ministros as seguintes Comissões Especializadas:

287 No mesmo sentido Cfr. LAUBADÈRÉ, ANDRÉ DE, - Direito Público Económico, Pág. 158.
288 Ibidem. Pág. 205.
147
Manual de Direito Económico Francisco Mário
a) Comissão Económica (Decreto Presidencial nº 217/12, de 15 de Outubro);
b) Comissão para Economia Real (Decreto Presidencial nº 218/12, de 15 de Outubro);
c) Comissão para a Política Social (Decreto Presidencial nº 219/12, de 15 de
Outubro);e,
d) Conselho Nacional de Concertação Social (Decreto Presidencial nº 220/12, de 15 de
Outubro);

Portanto, além dos órgãos que fizemos menção no ius constituend existe uma cláusula
aberta constitucional (art. 198º, nº 3, da CRA) para ser preenchidas através
institucionalização das autoridades administrativas independentes em Angola.

5.1.2. Administração Económica ao Nível Desconcentrado

Onde os poderes regionais e/ou locais desempenham as funções económicas e financeiras,


ou seja, é prolongamento da Administração Central para os níveis provinciais (não é um
poder próprio que resulta da participação dos cidadãos no exercício do poder), e tem como
consequência o ter que agir nos limites e de acordo ao estabelecido pelo poder central.
Assim, teremos os órgãos provinciais: Direcções ou Gabinetes e Delegações Provinciais que
são o prolongamento dos Órgãos Centrais.

As Direcções Provinciais da Administração dependem exclusivamente do Governo


Provincial e as Delegações289, embora integradas no Governo Provincial dependem
directamente dos Ministérios de Tutela290.

5.3. Regulação Económica. Transformação para o Estado Regulador


A Crise do Estado Intervencionista, partir de meados da década de 80 do século XX, depois
de um longo período em que se havia proclamado a excelência da intervenção pública e as
vantagens de grandes sectores públicos, o balanço negativo das políticas económicas
desenvolvidas durante os anos 70 e os feitos da depressão causada pelo segundo choque
petrolífero fizeram crescer as críticas em relação tanto à omnipresença e gigantismo
estadual, como à rigidez das políticas públicas.

Tratava-se da contestação do modo de desenvolvimento macroeconómico dominante nos


Países industrializados, fruto da combinação da receita Keynesiana de fomento da despesa
pública para estímulo da procura com a influência da ideologia socialista favorável ao
sector público. Uma conjunção que se mostrava, porém, incapaz de gerar soluções
adequadas à modernização e adaptação estrutural requerida pela exigência de mais
produtividade e melhoria de competitividade291.

289 Delegado do Ministro, ou seja, Delegado Provincial.


290 O Órgão Provincial, ou no Município que representa os interesses económicos e não representam os
interesses da população local, mas si, do poder central, porque são providos através de nomeado por pessoa
de confiança.
291 AZEVEDO, MARIA EDUARDA, -Temas de Direito da Economia, Edições Almedina, 2013, Pág. 133 – 194.

148
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Os argumentos de natureza ideológica combinavam-se, então, com a reacção às falhas de
intervenção de um Estado especialmente activo na área económica e social, tanto por via
da participação directa na produção e prestação de bens e serviços, mediante Empresas
Públicas, como pela orientação, controlo e disciplina da actividade económica privada,
evidenciando uma alegada ineficácia do Estado Providência para gerar os resultados
económicos e sociais pretendidos, enquanto garante de condições básicas de vida a todos
cidadãos292.

A essa condenação vigorosa não era também alheio o elevado custo financeiro do sector
público, que respondia por défices orçamentais persistentes e aparentemente
incontroláveis, exigindo dos Governos o recurso sistemático ao empréstimo com as
repercussões inevitáveis seja no volume da dívida, seja na estrutura da despesa. Portanto,
tratava-se de uma reacção substancialmente reforçada não apenas pelos rumos da
integração na SADC, mas também no sentido da construção do grande Mercado interno e
mas ainda pelo processo de globalização económica293.

Regular o quê? Regular porquê?

Existem duas ideias fundamentais que se encontram etimologicamente associadas ao


conceito de regulação económica: uma primeira, a ideia de estabelecimento e
implementação de regras; e uma segunda, a ideia de manter ou estabelecer o
funcionamento equilibrado de um sistema.

Duas ideias que se mostram suficientes para construir um conceito operacional de


regulação económica, entendida como o estabelecimento e implementação de regras para
actividade económica, destinada a garantir o seu funcionamento equilibrado de acordo com
determinados objectivos públicos.

A primeira razão justificativa da regulação está, assim, associada à própria garantia dos
Mercados e da concorrência. É que, abandonado a si mesmo, o Mercado pode configurar
derivas por efeito de concentração monopolista de Empresas “ententes” entre Empresas,
abusos de posição dominante ou práticas restritivas da concorrência, em geral, importando
portanto regular o Mercado para garantir a concorrência.

Daí que, no presente, as Leis de defesa da concorrência e os mecanismos orientados para


assegurar o seu respeito sejam parte integrante e imprescindível do leque dos
instrumentos regulatórios de qualquer economia de Mercado.

Uma segunda motivação surge com existência de limites, imperfeições ou “falhas de


Mercado”, situações em que o Mercado não pode funcionar por razões materiais. Perfila-se
aí, nomeadamente, o caso dos “monopólios naturais” em que, por motivos de racionalidade
económica ou ambiental, não é possível estabelecer concorrência entre uma pluralidade de

292 AZEVEDO, MARIA EDUARDA, -Temas de Direito da Economia, Edições Almedina, 2013, Pág. 133 – 194.

293 Ibidem.
149
Manual de Direito Económico Francisco Mário
operadores, tendo de aceitar-se um só e tornando inviável o cumprimento das regras de
fluidez e atomicidade próprias dos mercados em concorrência.

É o que se passa, mormente, com as chamadas “indústrias de rede”, em que é necessária uma
entidade reguladora dotada de autoridade e independência para garantir o acesso de todos
os operadores em condições equitativas. A solução reside, então, em regular externamente
a entidade incumbente da rede – pública ou privada -, estabelecimento os mecanismos de
acesso de produtores e consumidores à rede, bem como a remuneração da operação da
rede294.

Uma terceira causa deriva da presença de “externalidades negativas” do funcionamento da


economia, quando movida pela procura do lucro, como é próprio do modelo de economia
de mercado, assente na propriedade e iniciativa privada. Entre elas contabilizam-se,
designadamente, os custos sociais associados a danos ambientais, os prejuízos para a saúde
pública ou os ricos para a segurança comum295.

Um quarto motivo decorre ainda da necessidade de proteger os consumidores na sua


relação de “troca desigual” com os produtores e distribuidores. Trata-se de assegurar, entre
outros, o direito a informação fiável e credível sobre os produtos e serviços postos no
Mercado, o direito de todos à segurança e saúde individual ou direito à reparação de danos.

Por fim, uma última razão está relacionada com o propósito de garantir as obrigações de
serviço público, que subsistem mesmo após a privatização e liberalização das Empresas
Públicas e o afastamento dos antigos mecanismos de exclusivo público, que outrora eram
inerentes ao modelo em que dominava a antiga responsabilidade directa do Estado pela
provisão de serviços públicos.

É esse conjunto de factores que justifica, no momento actual, que a actividade de regulação
se haja transformado na função mais característica do Estado na esfera económica. Veja-se,
entre outros, MITNICK, para quem a regulação é o “controlo público administrativo da
actividade privada de acordo com regras estabelecidas no interesse público”; ou J. C.
STRICK, que encara a regulação como “a imposição de regras e controlos pelo Estado com
o propósito de dirigir, restringir ou alterar o comportamento económico das pessoas e
empresas, e que são apoiados por sanções em caso de desrespeito”; ou, ainda, MAORAN,
que considera a regulação como o sistema pelo qual “a discrição dos indivíduos ou
instituições é restringida por via da imposição de normas”; ou, por fim, FRANCIS, que
assimila a regulação “a intervenção do Estado nas esferas de actividade privada, para
realizar finalidades públicas”296.

Desse modo, quanto à amplitude do conceito de regulação, é possível identificar,


basicamente, duas dimensões-chave: um sentido amplo, que cobre toda a forma de
intervenção do Estado na economia, independentemente abrangente, em que a regulação

294 AZEVEDO, MARIA EDUARDA, -Temas de Direito da Economia, Edições Almedina, 2013, Pág. 133 – 194.
295 Ibidem.
296 AZEVEDO, MARIA EDUARDA, -Temas de Direito da Economia, Edições Almedina, 2013, Pág. 133 – 194.

150
Manual de Direito Económico Francisco Mário
corresponde à intervenção do Estado na economia por outras formas que não há
participação directa, abarcando o conceito todo o envolvimento do Estado no
comportamento económico das Empresas Privadas e ficando apenas de fora a participação
directa estadual na própria actividade económica.

Acontece que o termo tem igualmente conhecido um outro sentido que associa a regulação
à “institucionalização de entidades independentes aptas para estabelecer os esquemas
regulativos das regras do jogo económico e dirimir os conflitos em domínios sectoriais
política e economicamente sensíveis”297.

Perante uma tão considerável controvérsia doutrinal sobre a matéria, há mesmo quem
ponha em dúvida a possibilidade de se poder identificar um conceito geral de regulação.
Uma posição compreensível visto que, no essencial, as categorias jurídicas ligadas ao
fenómeno, por terem sido originariamente concebidas e desenvolvidas nos ordenamentos
jurídicos norte-americano e anglo-saxónico, por tradição menos apegados a processos de
fixação de categorias formais e mais adversos a grandes sistematizações jurídicas, viram-
se privadas de uma densificação dogmática adequada.

Acresce que há ainda quem contraponha a regulação económica designada de estilo antigo
(“Old Style Regulation”), que se confunde basicamente com a experiencia secular norte-
americana, à regulação de estilo moderno (“Modern Style Regulation”), identificada com a
regulação desenvolvida nas últimas décadas do século XX na Europa em consequência do
movimento das privatizações298.

Um movimento que, além de traduzir o reconhecimento do insucesso das formas


tradicionais a que o Estado lançava mão para maximizar o bem-estar geral, corporizou
igualmente uma tentativa de substituir a filosofia do “Estado-dirigente da economia” por
um “Estado-regulador do Mercado”, continuando os poderes públicos a poder vincular os
privados.

Em termos prévios, importará recordar que a exacta compreensão do fenómeno da


regulação económica requer, em primeira linha, a distinção entre regulação e
regulamentação. Trata-se pois de uma separação de águas que se apresenta fundamental
para caracterização da regulação, que não é confundível com outras formas de intervenção,
pesada, do Estado na actividade económica, susceptíveis de ser reconduzidas ao conceito
de regulação lato sensu.

Na realidade, as duas situações envolvem soluções que implicam a definição de regras do


jogo económico, se bem que na regulação sejam formuladas de modo relativamente aberto,
comportando medidas técnicas para sua prossecução que, muitas vezes, sugerem formas
de diálogo entre os interessados. Encontramo-nos perante um conjunto de técnicas de

297 Ibidem.
298 Ibidem.
151
Manual de Direito Económico Francisco Mário
intervenção pública no Mercado, que há de ser entendida como um controlo prolongado
exercido por uma actividade a que a comunidade reconhece uma especial relevância social.

O essencial da actividade reguladora concentra-se, então, na ideia de que a regulação


corresponde a uma forma de intervenção pública no Mercado através da qual se pretende
preservar o equilíbrio económico de determinado sector, que ficaria comprometido sem
essa intervenção, acabando as medidas adoptadas pelas entidades públicas por funcionar
como um estímulo à assunção de determinados comportamentos ou um desincentivo de
outros299.

5.3.1. O Papel do Estado Regulador


O novo processo de reconfiguração do papel e da posição do Estado, e até mesmo para o
explicar, reclamava também uma nova semântica para acomodar e compreender o
movimento sob a mote da diversificação dos níveis das responsabilidades públicas.

Corresponde a uma inovadora responsabilidade pública de garantia, mostrando que a


desmontagem dos serviços públicos e a privatização de tarefas públicas não configuram a
saída de cena do Estado, seja ao abrigo de um renovado “laissez-faire”, seja da entrega da
economia às “Regras de Mercado” ou a leis de mera definição, enquadramento e protecção
da economia e da concorrência300.

A fórmula sugere um dever de garantir a realização de certos fins de interesse público, que
subsiste na esfera do Estado. O Estado de Garantia, abandonado o encargo de promover,
por si mesmo, a provisão de bens e serviços – entretanto privatizados -, é interpelado a
assumir uma tarefa nova de garante da realização de dois objectivos ou interesses
fundamentais: quer o correcto funcionamento dos serviços e sectores privatizados; quer a
realização dos direitos dos cidadãos, mormente o direito a beneficiar de serviços de
interesse geral.

Trata-se do cumprimento de uma responsabilidade pública de garantia que, apesar de em


moldes inovadores, acaba por se consubstanciar na manutenção do compromisso estadual
com a realização do princípio da socialidade e outros fins constitucionais. E ao emergir na
pós-privatização enquanto decorrência das medidas privatizadoras, a regulação aparece
frequentemente como uma responsabilidade pública ou um dever de gestão em resultado
ou fruto das privatizações301.

A regulação representa, na realidade, a pedra de toque de um novo modelo de intervenção


pública na economia e nos mercados, aparecendo como o instrumento por excelência de
efectivação da responsabilidade de garantia.

299 AZEVEDO, MARIA EDUARDA, -Temas de Direito da Economia, Edições Almedina, 2013, Pág. 133 - 194
300 Ibidem.
301 Ibidem.

152
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Em larga medida, a responsabilidade pública de regular comprova que o Estado contínuo
portador de uma relevante e incontornável missão a desenvolver na economia e, em geral,
nas actividades privadas, sinalizando a manutenção e perpetuação das tarefas públicas.

O Estado regulador situa-se, portanto, numa posição de “estranho” ao exercício efectivo da


actividade regulada, interferindo ou intrometendo-se apenas para definir as regras de
desenvolvimento da actividade económica e, bem assim, para fiscalizar a respectiva
verificação302.

5.3.2. A Aparelhagem Institucional na Regulação dos Mercados


O novo papel da burocracia no Mercado de valores. Governar sem Governo?

A especialização administrativa funcional e a fragmentação política e social que


acompanham a nova sociedade (do risco), pressupõem novas relações inter-
administrativas. Como afirma RAITERI, citado pelo Prof. LUÍS GUILHERME CATARINO diz
que as funções públicas de antes administrativos são transformadas em serviços “de
interesse geral” e os destinatários em clientes, numa aparente transição de poder da
burocracia para o poder da comunidade303.

Na corrente de aplicação da ciência económica à Administração (New Institucional


Economics), administrar repousa mais em dirigir um sector (steering) do que comandar;
prevenir conflitos antes que remediar; descentralizar autoridade fazendo participar os
cidadãos (empowering the community); utilizar métodos de mercado ou quase-mercado
preocupando-se em ganhar ou investir o dinheiro público e não meramente em gastá-lo. Ao
mesmo tempo risco ou incerteza do comportamento individual e da meta-individual levam
o político/legislador a modelar e desenhar estruturas que possam absorver de forma célere
os “sobressaltos” que ocorram no caminho, adaptando-se e buscando legitimação
eficiente304.

As entidades analisadas as Autoridades Públicas Independentes e as Entidades


Administrativas Independentes.

Neste sentido e por aplicação directa e cumulativa destes critérios entendemos que todas
entidades criadas com fundamento em preceito ou com estatuto constitucional expresso,
como é o caso do Banco Nacional de Angola e Provedor da Justiça, devem ser qualificadas
como Autoridades Públicas Independentes e nessa medida, equipadas aos demais órgãos
de soberania previstos na constituição.

302 AZEVEDO, MARIA EDUARDA, -Temas de Direito da Economia, Edições Almedina, 2013, Pág. 133 - 194
303 Apud.CATARINO, LUÍS GUILHERME, - Regulação e Supervisão dos Mercados de Instrumentos Financeiros
Fundamento e Limites do Governo e Jurisdição das Autoridades Independentes, Edições Almedina, 2010,
Pág.17 e 304.
304 CATARINO, LUÍS GUILHERME, - Regulação e Supervisão dos Mercados de Instrumentos Financeiros

Fundamento e Limites do Governo e Jurisdição das Autoridades Independentes, Edições Almedina, 2010,
Pág.17 e 304.
153
Manual de Direito Económico Francisco Mário
São, assim, Autoridades com estatuto de entidades quase soberanas. Pois a sua organização
e funcionamento está directamente subordinado ao texto constitucional; as suas
atribuições e competências são exercidas sem dependência de qualquer critério modelador
ou coordenador do exercício das suas actividades.

A independência, enquanto método de agir, é no caso destas Autoridades “ilimitado”, no


sentido em que não estão vinculadas a qualquer outro regime que não seja o que decorre
das regras constitucionais e legais aplicáveis.

Estas Autoridades não são, pois, entidades integradas na Administração Pública pelo que,
por tal razão, não estão vinculadas a observar o princípio da unidade de acção previsto na
Constituição.

Para além do Banco Nacional de Angola, também Provedor de Justiça, e os Conselhos


Superiores da Magistratura e do Ministério Público devem ter-se como entidades “fora” da
Administração Pública.

Constituição Política, nomeadamente direitos eleitorais, direito de acesso a documentos


administrativos, direitos de protecção da vida privada, revelam a preocupação do
legislador em garantir uma apropriada protecção e salvaguardar destes direitos
consagrados na Constituição.

A Comissão Nacional de Eleições, e outras Comissões são tidas como Entidades


Independentes.

Esta “refundação” da intervenção pública foi analisada a partir dos seguintes métodos de
abordagem:

a) A regulação como função do Estado soberano;

b) A regulação como organização e como estrutura da Administração Pública;

c) A regulação como função.

Sustentamos, assim, que a intervenção do Estado não despareceu com o advento da


economia de mercado; outrossim traduz uma nova fase de intervenção do poder público,
ou seja, é uma nova forma de concretizar uma política pública definida pelo Estado305.

Os interesses públicos que devem ser prosseguidos são os que resultarem das concepções
prevalecentes de cada momento histórico que, por assumirem tal qualificação, devem ter
assento constitucional.

305CARDONA, MARIA CELESTE, - Contributo para o Conceito e a Natureza das Entidades Administrativas
Independentes, AS AUTORIDADES REGULADORAS, Edições Almedina, 2017, Pág.57-67
154
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Esta afirmação é fundada na ideia de que ao Estado continua a ser imputável a
responsabilidade pública de garantia da realização de certos valores e a satisfação do
interesse público.

O Estado é responsável e assume o dever de garantir a realização dos interesses públicos


prevalecentes, no caso, a fiscalização, supervisão e o controlo dos sectores e/ou Empresas.
No caso temos algumas entidades independentes de regulação económica,
designadamente:

Comissão de Mercados de Capitais (CMC).

Departamento de Supervisão das Instituições Financeiras (DSB), BNA;

Agência Angolana de Regulação dos Seguros de Angola (ARSEG);

Organismo de Supervisão de Mercados de Valores Mobiliários (CMC);

Instituto de Supervisão de Jogos (ISJ), e;

Conselho Nacional de Estabilidade Financeiro (CNEF).

Instituto Nacional das Telecomunicações;

Instituto de Regulação dos Serviços de Electricidade e do Abastecimento de Águas e


Saneamento de Águas Residuais (IRSEA);

Instituto Nacional de Apoio de Pequenas e Medias Empresas (INAPEM);

Instituto do Sector Empresarial Público (ISEP).

5.3.3. Os Institutos Públicos


No ordenamento jurídico angolano os Institutos Públicos são definidos como pessoas
colectivas dotadas de personalidade jurídica de direito público, integram Administração
indirecta do Estado e assumem a forma de Serviços Personalizados, Estabelecimentos
Públicos, Agência e Fundações Públicas; (art. 3º, do Decreto Legislativo nº 2/13, de 25 de
Junho.

Os Institutos Públicos são caracterizadas pelos seguintes elementos:

(i) Substrato Institucional - pessoa colectiva de direito público, ou seja, pessoa


jurídica de personalidade colectiva;

(ii) Autonomia: Administrativa, Patrimonial, Financeira e Creditícia - No primeiro


consiste no poder de praticar actos jurídicos administrativos definitivos executivos nos
termos da Lei, no segundo ter o acervo patrimonial próprio, no terceiro consiste na
susceptibilidade de obter receitas próprias e orçamento privativo, contrair créditos a
terceiros nos termos do federalismo fiscal e autarquia institucional, a ser gerido
livremente pelos seus órgãos para fins próprios;
155
Manual de Direito Económico Francisco Mário

(iii) Criados, modificados e extintos por Decreto Presidencial – consiste cumprir


com o princípio da legalidade estrita e liberdade de forma.

(iv) Orgânica própria – os Institutos possuem corpos sociais configurado na sua típica
identidade orgânica: órgãos colegiais – Conselho Directivo e Conselho Fiscal; órgãos
unipessoais – Director Geral coadjuvado por adjuntos e Presidente do Conselho Fiscal
conjunto pelos vogais. Vide art. 20º, e ss., da Decreto Legislativo Presidencial nº 2/2013,
de 25 de Junho.

(v) Tutela (de mérito e de legalidade) - faz depender da autorização prévia do Ministro
de Tutela, ou do Ministro das Finanças para conformação legal ou de mérito dos actos
que impliquem dispêndios financeiros e;

(vi) Superintendência – permite ao Ministro que superintende a área de actividade


exercer poder que lhe permite dirigir orientações e emitir directrizes aos órgãos dos
corpos sociais do Instituto de cumprirem e respeitar as orientações emanadas pelo
Poder Executivo e estabelecidas pelo Ministro das Finanças no âmbito da delegação de
poderes vide art. 5º, da Decreto Legislativo Presidencial nº 2/2013, de 25 de Junho.

(vii) Regime jurídico-administrativo - consiste no poder de praticar actos


jurídicos administrativos definitivos executivos nos termos da Lei.

Os Institutos Públicos são diferentes das Empresas Públicas e podem ser classificados em
termos do critério do princípio da especialidade, designadamente:

a)Institutos Públicos do Sector Empresarial.

b) Institutos do Sector Administrativo.

Os Institutos do Sector Empresarial, como já asseguramos, estão sujeito ao princípio da


especialização e gozam de autonomia financeira, patrimonial e creditícia, podem
desenvolver actividades económicas lucrativas, nos termos do art. 3º, da DLP nº 2/13, de
25 de Junho. Eles podem ser constituídos sob forma de Fundos Públicos306, ou Agencias e
através dos Ministérios de sector de actividade sob proposta do titular da pasta ministerial
em coordenação com o Ministro da Economia e são de Tutela e Superintendência do
Executivo; (art. 5º, do citado diploma legal).

306Assim sendo, os Fundos Públicos como o Fundo Soberano, é sublinhado certamente numa asserção
conforme o nosso entendimento, como sendo uma ferramenta financeira de intervenção económica directa
do Estado na economia ao nível interno e internacional e constituído pelos activos financeiros de propriedade
do governo com diversos objectivos, ou seja, funcionam como veículos de investimento internacional e
mecanismo de políticas públicas. Distingue-se das Empresas Públicas por razões óbvias já definida pelos
arautos do Direito Administrativo, apesar serem propriedade do Estado, com diversos objectivos e destinadas
a obter fins lucrativos, mais desenvolvimentos, vide, MARIO, FRANCISCO; - «FUNDO SOBERANO
ANGOLANO», Relatório do Mestrado, FDUL, Lisboa 2013, Pág. 17 e ss.
156
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Os Institutos Públicos o se regime laboral é sui generis, ou misto pois alguns aproximam-se
aos serviços públicos em sentido clássico no caso os Institutos do Sector Administrativo e
outros assumem estrutura de cariz empresarial, no caso dos Institutos Públicos do Sector
Empresarial ex vi lege art. 11º, do Decreto Legislativo Presidencial nº 2/2013, de 25 de
Junho.

Portanto a organização e funcionamento os Institutos Públicos remete-se para a Lei


nº2/13, de 25 de Junho.

5.3.3.1. Caso Especial do Fundo Soberano de Angola (FSDEA)


Os Fundos Soberanos resultam directamente do processo de globalização e da actuação de
selecções económicas de Estados possuidores de recursos naturais de petróleo, por causa
da acumulação dos excedentes de exportação do ouro negro e dos produtos
manufacturados dos certos países, como a China; Noruega; Rússia; Kuwait; Emiratos
Árabes Unidos; Brasil; Angola; Nigéria, de um lado, e por outro lado económico e financeiro,
acumulação de défices na balança de pagamentos do comércio internacional por parte dos
países importadores como os EUA e os países da zona euro 307, que constitui a dívida
soberana.

Neste cenário do binómio económico-financeiro, de “Dívida Soberana” e “Fundo


Soberano” vertida nos “défices” e “superavit” financeiros, a doutrina nacional e
internacional tem esbatido de modo a dar um sentido aos acúmulos financeiros e as crises
cíclicas, face às acesas discussões do momento actual da crise económica e financeira
internacional.

Curiosamente, o Prof. Doutor PAZ FERREIRA, da Escola de Lisboa308, atribui as economias


emergentes africanas, como Leões africanos309, este atributo também foi corroborado pelo
MUHAJAN que os adjectivou de “geração chitas”310, ou seja, as economias mais velozes
como chitas africana sem conformidade com tigres asiáticos.

Entretanto, devido à apatia do FMI face o actual fenómeno da crise que perdura quase dez
anos, os BRICS (Brasil, Rússia, Índia e África do Sul) como possível alternativa de nova
ordem económica mundial e, a quanto isso, na margem de cá do mediterrânio (na Europa),
o Dr. EMANUEL SANTOS, qualifica como “Serpentes Orçamentais” 311, a dívida soberana dos
actuais países da zona euro, aliás, se assim quisermos dizer, ditos de países do sul, ou
periféricos da zona euro, especialmente: Portugal, Espanha, Itália e Grécia.

Pelo que, as designações denotam-se num despique de metáforas e todas rodopiam em


torno do momento económico e financeiro em que vivemos, mas, tendo em conta o figurino

307 Ibidem.
308 Cfr. PAZ FERREIRA, EDUARDO - Crónicas de anos de Chumbo - 2008 -2013. Pág. 266.
309Embora a África do Sul e o Egipto tenham a parte de Leões, há 16 países emergente dos quais conta-se

Angola. Mais desenvolvimento ver o VIJAI MAHAJAN «O Despertar da África», editora actual, 2013, Pág. 49.
310 Cfr. MAHAJAN, VIJAI «O Despertar da África», editora actual,2013, Pág. 152.
311 SANTOS, EMANUEL AUGUSTO – «Sem Crescimento não há Consolidação Orçamental» Finanças Publicas,

crise de ajustamento, edições sílaba 2012. Pág. 65.


157
Manual de Direito Económico Francisco Mário
que se apresenta o sistema financeiro tradicional moldam-se como simpáticas numa
nomenclatura exótica como clubes económicos312.

Ora bem, quanto aos Fundos Soberanos, apresentam-se, indubitavelmente, como um dos
novos actores do sistema financeiro internacional, todavia, esses novos actores vêm de
encontro com o padrão previamente existente, no qual os investimentos privados exibiam
proporções muito maiores que os investimentos públicos e, já hoje em dia, a coisa é bem
diferente.

Assim sendo, para compreender a lógica do desiderato dos Fundos de modo geral, vamos
buscar construções elaboradas em torno da sua qualificação com destaque a já trilhada pela
doutrina brasileira313, nos termos do qual aduzem uma grelha de algum modo considerado
atípica, mas que, os arruma de acordo as características a seguir:

Fundo governamentais;

Fundos geridos separadamente das reservas internacionais dos bancos centrais;

Fundos com alta exposição aos mercados internacionais;

Fundos que não possuem obrigações com quotistas, diferentemente dos fundos de
pensões;

Fundos com maior tolerância ao risco e;

Fundos com perfil de longo prazo.

Esta classificação apresenta distonia quanto a sua estrutura legal, por causa do
ordenamento jurídico nacional, sistema político, a forma do governo vigente e da origem
do Fundo, desde logo, a classificação supra não é pacífica porque muitos Fundos estão
intrinsecamente ligados aos governos e aos bancos centrais314,e, os outros Fundos, nem por
isso, ou seja, estão separados do Banco Central ou formalmente do Governo315.

Todavia, conforme os objectivos que perseguem, em sede deste critério, classificam-se:

Fundo de estabilização.

Pode ser definido como aquele Fundo que busca amortização dos impactos causados pela
oscilação dos preços dos recursos naturais nos orçamentos fiscais dos governos e na
economia como um todo, neste contexto procuram também diminuir o custo de

312Parece que o grupo dos BRICS, insatisfeito com actual direcção do sistema económica mundial, aventa-se
a hipótese de estarem a tentar a ensaiar o estabelecimento de uma nova ordem económica mundial paralela
ao FMI e BM, tudo aponta que o Banco ficará sedeado na África do Sul, e, Angola participa como observador
fonte- angonotícias de 27 de Março de 2013.).
313Ob. Cit. Pág. 16.
314É como da noruega-gogernmentpensiofund, ob. cit. Pág.16.
315É o caso de korea investment corporation.

158
Manual de Direito Económico Francisco Mário
carregamento das reservas internacionais ao auxiliar as autoridades monetárias em
esterilizar o excesso de liquidez;

Fundo de poupança para geração futura.

É aquele que procura investir em activos de longo prazo, para que a receita gerada por
recursos naturais escassos seja utilizada por várias gerações presentes e vindouras;

Fundo de investimento em Empresas.

Entende-se como aquele Fundo que gerência os investimentos dos governos em empresas
nacionais e estrangeiras e;

Fundos soberanos genéricos

Estes Fundos na sua monta não se restringem a um objectivo específico. Na nossa opinião,
apesar a classificação acima destacada estar adjacente de satisfazer o interesse da nossa
investigação, mas ainda assim, o modelo aqui referenciado por agora não perfilhamos, logo,
vamos ver uma outra taxinomia convencional de produção supra nacional, ou seja, de uma
instituição internacional da ordem económica e financeira mundial o FMI316/317, que os
classificam de modo legal e o qual nós adoptamos, porquanto privilegia o critério de
destrinça de fonte de recurso, objectivos institucionais e o escopo do investimento,
conforme a categorização que se segue:

Fundo para estabilização

São aqueles Fundos típicos dos países exportadores de recursos naturais, que têm como
objectivo proteger o orçamento público e a economia destas oscilações dos preços das
matérias-primas (commodities) exportadas para o mercado internacional, e serve como
um instrumento do Estado de actuação anti-cíclica, capaz de reduzir o impacto da
volatilidade destas exportações.

Geralmente os recursos destes Fundos são contigenciados para protegê-los das oscilações
de preços e das incertezas com relação às estimativas das reservas. Desta forma, os
recursos são poupados em épocas favoráveis dos preços das exportações de matérias-
primas dos recursos não renováveis para que possam ser aplicados em períodos de crises.

Este é o caso dos Fundos dos países do Oriente Médio, da Rússia e da Noruega (produtores
de petróleo); da Botsuana baseado na extracção de diamantes e do Chile grande produtor
mundial de cobre.

316Nota técnica, Panorama sobre os Fundos de Riqueza Soberana 2009, IPT- instituto de pesquisas
tecnológicas, Pág.3.
317 No mesmo sentido Cfr. FREITAS, MARIA CRISTINA PENIDO DE, «Fundos de Riqueza Soberana», Funda

grupo de conjuntura / economia internacional, Pág.126.


159
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Fundos de Poupança Intergeracional.

São aqueles Fundos desenvolvidos para garantir a transferência de poupança para as


gerações futuras, em países cuja riqueza é extremamente dependente da exploração de
recursos naturais não-renováveis. Por isso, os recursos provenientes desta actividade são
investidos em um portfólio de activos com rentabilidade assegurada para atenuar os efeitos
da “doença holandesa”;

Fundos de Investimento das Reservas Internacionais.

Este tipo de Fundos tem como objectivo principal de aumentar a taxa de retorno das
reservas internacionais, já que há uma redução dos seus custos fiscais, com a reaplicação
de parcela dos recursos em activos com maior rentabilidade, mas também há um risco
maior;

Fundos de Desenvolvimento.

Os Fundos que são criados para apoiar projectos económicos e sociais de interesse nacional
em alguns países, principalmente em infra-estruturas, como potencial da promoção do
desenvolvimento local;

Fundos de Pensão de Reserva.

Compreende-se que esses Fundos tem como objectivo de assegurar os recursos para o
pagamento de passivos fiscais associados a um maior grau dos compromissos
previdenciários, ou seja, previdência social.

Portanto, a decisão de aplicação dos recursos dos Fundos Soberanos sendo uma receita
consignada no orçamento, desde logo, geralmente o dispêndio financeiro prende-se com os
objectivos de realização de despesas de investimento e de capital em termos de regras de
Finanças Públicas e Direito Financeiro, tendo em conta os dois aspectos essenciais que
balizam o desiderato dos Fundos, nomeadamente:

O montante da aplicação presente e futura e;

As actividades prioritárias param o investimento destes recursos.

Além disso, há ainda um efeito importante no que se refere aos “Fundos” provenientes de
recursos não-renováveis que centra-se na política macroeconómica, ou seja, na influência
da política fiscal e da taxa de câmbio, que vai dar uma competitividade nos factores de
produção dos diversos sectores económicos.

Nesta percepção parece ficar claro que os Fundos são de cores diferente em relação as
Empresas Públicas (E.P. designação comum na ordem jurídica portuguesa e angolana) e os
Fundos de Pensão, pelo facto das fronteiras constitutivas da sua natureza jurídica e o
escopo convencional dos Fundos traçado pelo FMI.

160
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Assim sendo, o Fundo Soberano, é sublinhado certamente numa asserção conforme o nosso
entendimento, como sendo uma ferramenta financeira de intervenção económica directa
do Estado na economia ao nível interno e internacional e constituído pelos activos
financeiros de propriedade do governo com diversos objectivos, ou seja, funcionam como
veículos de investimento internacional e mecanismo de políticas públicas318.

O Fundo Soberano, distingue-se das Empresas Públicas por razões óbvias já definida
pelos arautos do Direito Administrativo, apesar serem propriedade do Estado, com
diversos objectivos e destinadas a obter fins lucrativos. Por outra faixa também
distinguem-se dos Fundos Públicos de Pensão que são de propriedade dos seus membros,
cujos objectivos são definidos nas obrigações dos beneficiados, sendo que, os seus recursos
provêm das contribuições dos pensionistas319, ou refinanciado por via de consignação de
receitas no orçamento à uma entidade com estes fim.

Pois muito bem, os Fundos Soberanos aumentaram de forma significativa o seu


portefólio320, e importância durante a crise financeira, como reporta as estatísticas, tudo
isso, pelo facto de os Fundos terem injectado capitais consideráveis no sistema bancário,
cerca de 49% dos 102 mil milhões de dólares investidos em 2007 e 2008 e, foram
assumindo posições significativas em alguns dos principais Bancos dos EUA, Reino Unido,
Suíça, China e Índia, bem como nas importantes bolsas de valores como a de Londres e o
Nasdaq321.

Tendo por conseguinte, assinalado que estes investimentos provenientes dos Fundos
Soberanos tiveram benefícios macroeconómicos manifestos na economia mundial, mas
qualquer forma os Países receptores “ab initio”, levantaram uma questão pertinente de
desconfiança e, questionavam se o escopo conduzido pelos Fundos Soberanos, se seria na
verdade redutível ao investimento e de maximização do lucro? Ou se supostamente por
detrás dessa concentração de riqueza não estaria um cunho político que poderia
largamente afectar a segurança económica dos Estados hospedeiros e consequentemente
à concorrência dos Mercados?

Para tanto, para ultrapassar esta algaraviada de desconfiança, da imigração económica ou


expansão do capitalismo do Estado na era das economias globalizadas (que vislumbra a
passagem dos Estados concorrentes para Estados coordenadores), mas também não só, da
crise económica e do terrorismo internacional, os Estados interessados elaboraram um
Código de Conduta sob égide de uma autoridade financeira supranacional o FMI, através do
Instituto de Fundos Soberanos322, celebrado em 30 de Abril a 1 de Maio de 2008, composto

318 Cfr. MARIO, FRANCISCO, - Fundo Soberano de Angola, Pág.15.


319Ob. Cit. Pág.4
320 Carteiras de activos financeiros.
321Apud.STEFFEN KERN - Sovereign wealth funds – state investments during the financial crisis», Deutsche

Bank Research, Julho de 2009.fonte <http://www.imf.org/>.Sovereign wealth funds. Consultado dia 27 de


Março de 2013.
322Na expressão de língua inglesa é «Sovereign wealth fund institute e international working group of wealth

funds» tradução livre do autor (…)


161
Manual de Direito Económico Francisco Mário
por 24 princípios, e conhecidos por “Princípios de Santiago” (GAPP-Santiago), que visou
disciplinar as práticas aceitáveis a nível internacional, que sumariamente sintetiza-se nos
seguintes tópicos fulcrais:

Compromisso em torno de objectivos financeiros, e não políticos;

Transparência, incluindo detalhe sobre a utilização de direitos de voto, gestão de risco e


utilização de alavancagem financeira;

Governação corporativa, estruturas organizacionais e processos (incluindo o compromisso


de separar a gestão do Fundo da gestão do Governo);

Monitorização dos GAPP por um grupo de países previamente designado323.

Portanto, o impacto dos Fundos Soberanos nas economias globais, prende-se na cedência
de capital aos Bancos ocidentais que foi fundamental para minimizar o risco sistémico324,
decorrente de eventuais falências generalizadas, de um lado, de outro lado, nos países
emergentes titulares dos Fundos Soberanos servem como amortecedor dos choques da
crise bem como para poupança intergeracional e potenciar a promoção do
desenvolvimento económico e social, mas também é bem verdade de algum modo
apresentam fragilidade quanto a sua estrutura jurídica, gestão e transparência por causa
dos ordenamentos internos.

O FSDEA325, como ferramenta financeira de intervenção económica directa do Estado


angolano na economia ao nível interno e internacional, constituído pelos activos
financeiros de propriedade do Estado, com diversos objectivos, ou seja, funcionam como
veículos de investimento nacional e internacional e também como mecanismo de políticas
públicas de expansão do capitalismo do Estado. Apesar de o TOCQUIVILLE ter afirmado o
que mais contribui para o nepotismo despotismo são duas coisas: a centralização
administrativa e o intervencionismo do Estado, cujo intervencionismo do Estado começa
nas obras públicas e se alarga à economia, se estende depois as relações de trabalho e acaba
por chegar mesmo à caridade e à moral e a religião atingido o pleno controlo dos cidadãos
e das suas próprias almas326.

Mas o processo histórico da institucionalização dos Fundos prende-se com “superavit” na


conta corrente de pagamentos na balança comercial internacional, verificado nos anos

323Ob. Cit. Pág. 4.


324O risco sistémico – seria o fruto de maquinações de alguns académicos e reguladores; os primeiros
padeceriam de uma «hipocondria» quanto à capacidade de resistência dos sistemas às adversidades
correntes; os segundos sobre-valorizariam os sinais emitidos pelos operadores e manifestariam um zelo
excessivo em relação à estabilidade do Mercado. Assim, ambas as posições diminuem a resiliência endógena
do sistema financeiro as crises e obteriam resultados contraditórios com os objectivos iniciais. Mais
desenvolvimento ver QUELHAS, JOSÉ MANUEL GONCALVES SANTOS – «As Crises Financeiras, o Risco
Sistémico e a Incerteza Sistemática», Pág. 355 e ss.
325 Art.1º do Decreto Presidencial nº 108/13, de 28 de Junho, aprova o regulamento do funcionamento do

Fundo e adota o designativo de «FSDEA» ou simplesmente de «Fundo».


326Apud. AMARAL, DIOGO FREITAS DO, - «História das ideias Politicas» vol. II, Pág.101.

162
Manual de Direito Económico Francisco Mário
2000 – 2014, considerados anos de altos preços do petróleo e o seu regime jurídico assenta
na Constituição Programática, não de modo expresso, mas implícito (art. 21º e 89º, da CRA),
regra geral no capítulo de organização económica e fiscal, que resulta da descentralização
financeira institucional, ou federalismo financeiro. O que a doutrina brasileira designa de
autarquia financeira não territorial, no âmbito do fenómeno da autonomia administrativa
que âncora na figura de institutos públicos no sentido mais amplo.

Porém, segundo o Prof. PAZ FERREIRA327, sobre a problemática da qualificação jurídica


dos institutos públicos, começa por dizer que (…) em qualquer matéria, caso que tem
levando muitas dúvidas na doutrina (…), na medida em que se situa numa zona de alguma
forma intermédia entre as tradicionais figuras da administração indirecta do Estado e as
novas Empresas Públicas. Continuado, o mesmo autor, diz que, na sua origem, parece estar
aquilo que podemos considerar ser uma característica dos modernos Estados, ou seja,
circunstâncias de poderem lançar mão, em cada momento de uma pluralidade de soluções
entendidas como aptas a uma melhor satisfação do interesse público.

Que esse interesse público, segundo Prof. DIOGO FREITAS DO AMARAL328, muitas das vezes
são interesses próprios alheios ao Estado, ou seja, eventualmente contrário aos do Estado,
e poderão por conseguinte, nessa medida, na ideia defendida pelo Prof. MARCELLO
CAETANO329, ser impugnados contenciosamente actos de órgão do Estado ou propor
acções contra o Estado. Isso significa dizer que os actos do Fundo Soberano são
impugnáveis por via contenciosa por próprio Estado e este contra o Estado? Não nesta sede
do nosso relatório, mas qualquer modo, a autonomia financeira não se esgotam nos
institutos, segundo Prof. Doutor SOUSA FRANCO330, hoje em dia há pluralidades de forma
que pode revestir o sector público financeiro (Administração Pública do Estado, lato sensu,)
- e os subsectores institucionais financeiros- Empresas Públicos e Institutos Públicos.

Neste sentido escalpelizando a mesma matéria, diz o PAZ FERREIRA (…) o que é certo é a
mingua no nosso ordenamento de um corpo de normas que genericamente, regule o
estatuto jurídico dos institutos públicos, nada impede que o concreto estatuto de um dado
instituto aponte, a menos na regulação do seu pessoal, para a adopção de um regime
essencialmente de natureza privada, pois que, a questão central dessas figuras resulta
precisamente da natureza híbrida de que revestem oriunda do Direito Administrativo 331,
uma vez que se encaixam, nas realidades distintas do Direito Administrativo e empresariais
pelo facto serem menos claros e insuficientes quanto a sua integralidade do seu regime
jurídico e, em especial a grande diversidade de figuras que se acolhem em função da sua
actividade. Conclui, afirmando este autor, que tendem abandonar à área da administração
pública para se integrarem no universo empresarial do Estado332.

327 Cfr. FERREIRA, EDUARDO PAZ. Direito da Economia 2003. Pág.278


328 Cfr. AMARAL, DIOGO FREITAS DO, - Direito Administrativo vol. I, Pág.355.
329 Cfr. CAETANO, MARCELO, - Manual de Direito Administrativo vol. I, Almedina 2010, Pág. 187 e ss.
330 Cfr. FRANCO, SOUSA, Pág. 142.
331 Cfr. FERREIRA, EDUARDO PAZ, Direito da Economia 2003. Pág.279.
332 Ibidem, Pág.279.

163
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Parece perfilhável esta tese do mestre da doutrina de Lisboa, pois que, no mesmo
seguimento se pronunciou o Dr. CARLOS TEIXEIRA, administrativista da Escola de Luanda
- UAN333, classifica os institutos em critérios que se regimentam no actual Decreto
Legislativo Presidencial nº 2/13, de 25 de Junho334, cujo regime geral está previsto no art.
6º e 7º e consequentemente o regime financeiro esta previsto no art. 11º, do Decreto
Legislativo Presidencial nº 2/13, de 25 de Junho.

Mas de qualquer forma, como Fundo financeiro autónomo o seu regime legal formal está
previsto no art. 96º e 104º, da CRA, que combinam materialmente como art. 39º, 40º do
LQOGE335, da Lei nº 15/10, de 14 de Julho. Pois é, efectivamente neste diploma onde estão
densificados os traços típicos do seu regime jurídico, e, as regras de organização,
estruturação e funcionamento, gestão financeira e patrimonial, e que, circunscreve-se nas
características seguintes:

Não tendo base territorial ou corporal, prosseguem interesses definidos na lei, no quadro
da Administração Central do Estado.

É uma pessoa colectiva dotada de personalidade jurídica e de autonomia administrativa


financeira e patrimonial (art. 3º, do DLP nº 2/13 e art. 2º, do Decreto Presidencial nº
108/13, de 28 de Junho).

Tutela e Superintendência exercida pelo Titular do Poder Executivo (art.5º, do DLP nº 2/13
e art. 6º, nº 1, do Decreto Presidencial nº108/13, de 28 de Junho).

Gestão financeira e patrimonial, os institutos do sector económico ou produtivo devem


possuir autonomia financeiro traduzida na sua capacidade de arrecadação de receitas
próprias pelo menos, um terço, no mínimo a satisfação das suas despesas da actividade, nos
termos do art.7º do DLP nº 2/13, desde logo, actividade lucrativa, sujeito a um regime
financeiro próprio, de gestão e controlo interno e externo e vedado o poder de contrair
empréstimos e crédito (art. 11º,12º, 13º, 14º e 15º, do DLP nº 2/13 e do art. 3º, al. a) e b)
e, art. 4º, do Decreto Presidencial nº 108/13, de 28 de Junho).

São criados, modificados e extintos por Decreto Presidencial, sob proposta fundamentada
do membro do executivo que tutela o sector no qual se integra a actividade da entidade a
criar (art. 16º, do DLP nº 2/13).

Na evolução histórico o FSDEA ressalte-se que, surgiu como já asseguramos nos termos do
nº 1 e 2 do art. 6º, da Lei do OGE para o exercício do ano de 2011, através da aprovação de
“Reserva Financeira Estratégica Petrolífero” de uma receita por consignação de receitas

333 Cfr. Dr. CARLOS TEIXEIRA, Professor de Direito Administrativo da Faculdade de Direito da Universidade
(Pública) Dr. António Agostinho Neto de Luanda- UAN, colóquio sobre os Institutos Púbicos proferido na
Província de Malanje em 2009.
334Decreto Legislativo Presidencial nº 2/13, de 25 de Junho. Aprovado pela Assembleia Nacional dia 21 de

Março de 2013 e publicado no Diário da República Iª série nº 119, de 25 de Junho «Que Estabelece as Regras
de Criação e Estruturação dos Institutos Públicos» que alterou o Decreto-Lei nº 9/03, de 28 de Outubro.
335 LQOGE - «Lei-Quadro do Orçamento Geral do Estado nº 15/10, de 14 de Julho».

164
Manual de Direito Económico Francisco Mário
inscrita no orçamento do exercício daquele ano económico, com objectivos de no futuro
próximo de despender esta receita na realização de despesa de capital e investimentos em
infra-estrutura de base336.

Por via disso, cabendo a sua gestão o Presidente da República nas vestes do Titular do
Poder Executivo e foi com esta lei de autorização financeira do Poder Legislativo, que o
Titular do Poder Executivo ficou habilitado nos termos do exercício das suas funções e
competências constitucionalmente consagrado no art. 120º, da CRA de intervir na ordem
económica de institucionalizar a gestão da reserva petrolífera à uma entidade
administrativa criado por Decreto Presidencial nº 48/11, de 9 de Março que viria ser
designa-se de «Fundo Soberano de Angola», por Decreto Presidencial nº 108/13, de 28 de
Junho. Esta entidade carecia de uma qualificação jurídica, ou seja, definição da sua natureza
e regime jurídico, abrindo desta feita uma talisca de discussão em alguns círculos da
doutrina, visto que, o quadro apresentava-se de algum modo incipiente e lacunoso.

Assim, tem-se discutido em torno da natureza jurídica dos institutos públicos, que
amiudadamente a doutrina dominante, da Escola Nova de Lisboa, presidida pelo Professor
Doutor DIOGO FREITAS DO AMARAL, a quem na sua concepção vê nos institutos públicos
como um substrato institucional autónomo, diferente do Estado ou dele desmembrado,
pois a Lei confere personalidade jurídica.

Nestas verosimilhanças de demarcações a ordem jurídica criara um sujeito de direito com


base a uma instituição distinta do Estado, seja ele um serviço, um património ou um
estabelecimento337, evidentemente terá os seus órgãos dirigentes, o seu pessoal privativo
e suas finanças serão para estaduais e um acervo património próprio338. Estas realidades
enraizadas na doutrina reconduzem ao um esquema similar do círculo dos institutos
públicos também traçado no ornato jurídico-legal angolano.

Desta forma, podemos classificar o FSDEA, apesar ter predicados peculiar, aliás, no
momento político asténico angolano em que foi lançado, porquanto as forças políticas
estavam preocupadas com ascensão ou manutenção do poder, ou de impugnar os
resultados eleitorais339, evidencia-se como um dos Institutos Públicos do sector económico,
porquanto que, filia-se no panorama nos princípios de descentralização administrativa
imprópria, ou dito de outro modo na linguagem coloquial, desconcentração administrativa
personalizada ao nível central, no âmbito da devolução de poderes340,desde logo, integra à

336 Portanto, não vem especificado as infra-estruturas de bases onde serão investidos esses Fundos
Financeiros, ficando definido apenas no nosso entender estruturas de base de vias de comunicação, água e
energia.
337No direito francês designam de Estabelecimentos Públicos como sinónimo de Institutos Públicos, vide

CAETANO, MARCELLO, - «Manual do Direito Administrativo Vol. I», Almedina 2010, Pág.188.
338 Cfr. AMARAL, DIOGO FREITAS DO, - «Direito Administrativo vol. I», Pág.355.
339 Porque o sistema do governo angolano é tido de partidos porque são eles que concorrem as eleições

através de listas.
340 Mais desenvolvimento ver, DIAS, JOSÉ EDUARDO FIGUEIREDO/OLIVEIRA, FERNANDA PAULA, in «Noções

Fundamentais do Direito Administrativo, 2ª edição 2012», Almedina editora, Pág.100-101.


165
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Administração indirecta do Estado, susceptível de superintendência e tutela do Poder
Executivo nos ternos sublinhados pela norma do art. 199º, nº 2, da CRA.

Por esta razão, a sua autonomia é mitigada, pois além da intervenção do Poder Executivo,
paradoxalmente o DP nº 48/11, com as alterações do DP nº 24/12, de 30 de Janeiro, confere
ao FSDEA, poderes creditícias equiparados ao Estado previsto no art. 162º al. d), da CRA,
estão consagrados no art. 8º, do DP nº 48/11, com as alterações do DP n.º 24/12, de 30 de
Janeiro. Mas já curiosamente os institutos Públicos na sua generalidade, lhes são vedados
os poderes creditícios (o cheque em branco) passivo e activo (art. 11º, nº2, do DLP nº 2/13).

O que significa dizer, sem margem de pesar de errar, afirmar que, o Fundo Soberano não
gozo de uma autonomia material, claro que, a sua autonomia formal prescrita na Lei
reconduz-se a uma dependência privilegiada por causa do sistema de governo adoptado na
Constituição de 2010 e pela Lei dos Institutos Públicos de natureza económica, configurado
no Decreto Presidencial nº 108/13, de 28 de Junho.

Nesta esteira de pensamento, podemos considera-lo como um súper Instituto Público por
causa do volume de activos financeiros sob sua gestão, dos objectivos que persegue e o
sector de actividade transversal definida para sua actuação no âmbito da delimitação e
coexistência de sector da economia, identificada como uma área ou sector de reserva
absoluta, aliás, quanto muito menos da reserva relativa do Estado, bem como os poderes
creditícios passivos e activos que lhe foi conferido pela destacada Lei dos Institutos
Públicos e pelos seus Estatutos de Regulamento.

Portanto, podemos dizer que é um Estado financeiro dentro do outro Estado financeiro341.
Mas qualquer feição, na ciência jurídica económica e financeira, o FSDEA, é entendida como
ferramenta financeira de intervenção económica directa do Estado angolano na economia
ao nível interno e internacional, constituído pelos activos financeiros de propriedade do
Estado, com diversos objectivos, ou seja, funciona como veículo de investimento 342,
nacional e internacional, e é, um mecanismo de políticas públicas cuja natureza jurídica é
uma pessoa colectiva pública dotada de personalidade jurídica com autonomia
administrativa, financeira e patrimonial (art. 2º, do Decreto do Decreto Presidencial nº
108/13, de 28 de Junho), inscreve-se como um Fundo Público de Investimento e de
poupança geracional.

341 Como sustenta o FRANCO, SOUSA, - “ A autonomia financeira orçamental dos Institutos Públicos constitui
um mundo a parte em termos orçamentais”, Pág. 354.
342 Art. 3º, nº1, do Decreto do Decreto Presidencial nº 108/13, de 28 de Junho.

166
Manual de Direito Económico Francisco Mário
CAPÍTULO VI- ECONOMIA PÚBLICA

6.1. Aspecto Gerais da Economia Pública

O poder político e a economia encerram uma relação secular e intrínseca. Com efeito, o que
nos interessa, nesta análise, é pois aflorar o tipo de relação que encerra o poder político e a
economia.

É evidente, o entendimento pacífico que a relação entre o poder político e a economia


encerra três (3) tipos de faces, designadamente: Ordenação da actividade económica ou
ordenação económica; intervenção económica e actuação económica.

6.2. Ordenação da Actividade Económica ou Ordenação Económica

Consiste no princípio de que os sujeitos económicos (Estado, entes públicos e privados) no


âmbito da sua actividade económica prossigam acções que caibam dentro de um conjunto
de normas jurídico-legais (Constituição343, Legislação económica ordinária) que têm como
propósito definir as balizas próprias da sua actuação no contexto de uma filosofia
económico-social específica que pode ser liberal, intervencionista, dirigista ou colectivista;
estruturando, assim, a actividade económica e condicionando, também, através de normas
jurídico-económicas concretas os limites da actuação desses sujeitos económicos.

6.3. Intervenção Económica

É efectivamente quando o Estado usa o seu “ius imperii” com a finalidade de modificar a
actuação livre e normal do mercado, recorrendo a meios344 que visem modificar o
comportamento dos sujeitos económicos, sem, no entanto, alterar o quadro geral das
actividades económicas. Por conseguinte, a intervenção económica pode ser directa ou
indirecta no âmbito do plano de uma actuação versátil e variável do Estado na actividade
económica. Entretanto, a “actuação estadual tenta modificar a forma natural como esses
agentes actuariam sem tão pouco tomar ele próprio decisões relativas à utilização de bens
e satisfação de necessidades sociais ou estaduais (isto é, sem ser ele próprio sujeito
económico) ”345.

6.4. Actuação Económica

Nas distintas estruturas sócio – económicas346, - é notório que o Estado pode actuar, ele
próprio, como sujeito económico, colectivo ou social, chamando junto de si a satisfação das

343 Cfr. FRANCO, ANTÓNIO L. DE SOUSA, – Finanças Públicas e Direito Financeiro – Volume I e II 4ª- Edição –
11ª- reimpressão – Almedina. Coimbra – 2007 – Pág. 8.
344 Por exemplo: Restrição de créditos de determinados sectores, fixação de quotas do mercado, produção de

disposições directamente limitativas, restrições financeiras, agravamento dos impostos, simples movimentos
de persuasão e, até, coação psicológica.

345Ibidem.
346 FRANCO, ANTÓNIO L. DE SOUSA, Pág. 46 - 47 – Estruturas Sócio-Económicas – “é a forma como se
configuram numa dada economia, quer os seus elementos extra – económicos (condições geográficas,
167
Manual de Direito Económico Francisco Mário
necessidades, em todo ou em parte, da colectividade; sem prejuízo da sua actuação em
zonas tradicionais, tais como a defesa, segurança e justiça.

A actuação económica estadual pode-se traduzir precisamente na produção de bens


directamente: defesa nacional, Polícia e segurança, por exemplo, isto é, não há nenhum
Estado no mundo que não chama junto de si esses dois bens (defesa e segurança) para a
sua sobrevivência. No entanto, na sua actuação económica de produção de certos bens347,
os Estados no mundo tomam posições multiformes.

Há Estados que chamam junto de si a produção de determinados bens e outros não;


porquanto, determinados Estados intervêm em esferas de actuação económica sem utilizar
o seu “ius imperii”, isto é, o Estado se converte num “produtor como outro qualquer: quer
seja monopolista, quer se integre num esquema concorrencial; quer seja em regime de
preços livres, quer se socorra de preços dirigidos; tanto se tiver organizações de tipo
empresarial, como se sujeitar a critérios, as vezes pouco económicos, de gestão dos serviços
públicos com carácter estritamente político”.

Na actuação económica em sentido próprio – O Estado actua como sujeito ou agente


económico optando por escolhas que mais lhe convêm a favor da satisfação das
necessidades mais prementes da colectividade ou no interesse da manutenção do seu
aparelho estatal.

6.5. As Razões da Intervenção do Estado no Domínio Económico (na Visão de


Musgrave)

Tem sido o incessante questionamento sobre o por que razão o Estado intervém no
domínio económico, atento que o Estado deveria apenas dedicar-se as principais funções
que se prende com a defesa, segurança e justiça. Pelo que, tem sido apontadas vários
motivos, dentre elas afiguram-se as razões elencados pelo MUSGARAVE sobre a
intervenção do Estado na economia com fins de cumprir as elementares funções
económicas designadamente: Afectação, Redistribuição e Estabilização.

Assim sendo, constituem as razões de intervenção do Estado as seguintes:

(i) Regulação do mercado com objectivos de garantir os direitos de propriedade, de

apropriação e o conjunto de normas de comportamentos dos agentes.

(ii) Intervenção ao nível dos sistemas de regulação, judicial e de segurança.

demográficas, institucionais, etc.), quer os elementos económicos permanentes: as estruturas de produção,


da repartição, da circulação e do consumo (estruturas económicas) ”.

347 Por exemplo: correios e telecomunicações, certas modalidades de crédito, rádio e televisão, etc.

168
Manual de Direito Económico Francisco Mário
(iii) Correcção das falhas de mercado através de monopólios naturais, bens públicos
e efeitos externos348.

6.5.1. A Função de Afectação

A função económica de afectação tem como missão a eliminação das falhas do Mercado em
relação ao abastecimento de bens públicos, correcção das externalidades, aumento e uso
racional dos recursos. Para o efeito, é necessário conhecer os traços essenciais dos bens
públicos, cuja natureza não é possível o seu fornecimento pelo Mercado: Bens Públicos que
são aqueles que reúnem duas características distantes: A não-exclusão e a não-rivalidade.

Não-exclusão - entende-se a impossibilidade técnica de, uma vez que o bem em causa esteja
a ser fornecido, impedir potenciais consumidores de beneficiar dele;

Não-rivalidade - quando o consumo do bem por um agente não afecta a sua disponibilidade
para os restantes consumidores. Os bens públicos, por serem comuns, escasseiam no
Mercado por causa do fenómeno (free rider), isto é, do desejo das pessoas de os utilizarem
de forma gratuita.

Os bens públicos no Mercado teriam um grau sub óptimo de produções, visto que as
pessoas que os utilizam esperariam sempre pelo pagamento dos mesmos através do jogo
da “boleia”, tendo em atenção ao fenómeno de não-rivalidade e não-exclusividade349.

Avulta as características dos bens públicos (não-rivalidade e não – exclusividade) a não –


rejeitabilidade que significa que “não é possível rejeitar os benefícios que o bem produz.
Por exemplo, não é possível ao cidadão recusar-se a ser defendido pelo sistema de defesa
nacional”350.

6.5.2. A Função de Distribuição

A Função de Distribuição - traduz o sentido de que o Estado deve redistribuir o rendimento


através do seu instrumento de obtenção de receitas, por coação quando necessário,
precisamente os impostos, subtraindo dos mais abastados e transferindo para os mais
desfavorecidos com o objectivo de corrigir as desigualdades entre os membros da
sociedade e as assimetrias regionais e locais.

A distribuição da riqueza, no contexto do Mercado, depende de vários factores tais como:

(i) Possibilidade de acesso aos meios de produção.

348Cfr.CRUZ, JOSÉ NEVES, – Economia e Política — uma abordagem dialéctica da escolha Pública — Coimbra
– Editora 2008 Pág 23.

349 Vide. PAHULA, OVÍDIO, – Estudos sobre o Sistema Jurídico – Económico Angolano, Principia 1ª edição 2008

Pág. 73 e ss.

350 Cfr. CRUZ, JOSÉ NEVES, - Pág. 28.


169
Manual de Direito Económico Francisco Mário

(ii) Capacidades e qualidades das pessoas.

(iii) Acesso ao capital financeiro inicial.

(iv) Inteligência.

(v) Astúcia.

A distribuição da riqueza nem sempre traduz uma “Justiça”, isto é, depende dos juízos de
valores sociais, e ainda, a vontade das maiorias em democracia ou mesmo das elites
dominantes; bem assim, a uma análise profunda e harmónica em sede dos padrões da
ciência económica.

6.5.3. A Função de Estabilização Económica

O Estado através dos instrumentos de política económica (fiscais, orçamental, monetária e


cambial) cria condições macro-económicas mutáveis através de metas definidas;
porquanto, o Mercado, por si só, não é capaz de estabilizar o emprego, a inflação, taxa de
juro e os preços no contexto de uma economia de mercado.

Os níveis de emprego e produção são, inevitavelmente, afectados por políticas


expansionistas e de contracção da procura, tendo em conta o crescimento das opções
económicas.

Todavia, “o exercício simultâneo das três funções do Estado pode gerar conflitos e
ineficiências, pois, existem objectivos implícitos em cada uma delas que conflituam com as
outras funções”351.

6.6. Modalidades de Intervenção

6.6.1. Quando à Doutrina Inspiradora


A intervenção do Estado corresponde, ou a um conjunto desgarrado de instituições,
práticas e actos, ou a um sentido global e coerente de actuação funcional do Estado352.

Como doutrina e como modalidade de prática histórica, é corrente distinguir


intervencionismo simples, dirigismo e planificação. Assim sendo:

I- Intervencionismo Simples – existe quando o Estado, respeitando no essencial a


liberdade de actuação dos agentes económicos privados, procura realizar objectivos
próprios relativos ao conjunto da economia, condicionando ou influenciando com tal a
actividade dos particulares353.

351 Cfr. CRUZ, JOSÉ NEVES, Pág. 31.

352 Ob. Cit. Pág. 297.


353 Ibidem. Pág. 297.
170
Manual de Direito Económico Francisco Mário

II- Dirigismo (direcção económica) existe quando o Estado formula objectivos globais e
pretende propô-lo, ou até impô-los, aos sujeitos económicos. Dirige assim a sua
actividade económica (em vez de se limitar a corrigi-la), embora com respeito pelos
princípios essenciais da liberdade económica e pelo mercado como instrumento
regulador354.

III- Planificação – consiste quando o Estado define objectivos globais e sectoriais e


estratégias de comportamento por eles ditadas, impondo- as mediante o plano
imperativo, a generalidade dos sujeitos económicos, aos principais sujeitos económicos,
ou só aos sujeitos produtivos.

Deste modo o Mercado deixa de ser o principal instrumento regulador do sistema,


passando esse função a ser exercida pelo plano. Importa aqui referenciar que o plano é
diferente do sistema de planeamento porquanto que o Plano é um instrumento combatível
com sistemas de economias colectivista ou socialistas e o simples planeamento como mero
instrumento de regulação é combatível com o sistema de economia misto, se respeitar o no
essencial as liberdades económicas de economia de Mercado.

6.6.2. Intervenção de Facto e Intervenção Jurídica


A intervenção económica pode configura-se – grosso modo, como um mero
comportamento de facto do Estado e os seus órgãos e agentes, ou como comportamento
juridicamente tipificado e configurado de interferência nos factores de produção
distribuição, comercialização e consumo de bens e serviços. Assim sendo poder ser,
designadamente:

6.6.3. Intervenção de Facto


A Intervenção de Facto pode corresponder a simples intervenção de política pura (actos
materiais de conteúdo político ou actos políticos), ou a actos económicos, sociais etc. ex.
restrição de venda de divisas pelas casas de câmbios ou bancos comercias sob instruções
do BNA, proibição de vendas a grosso a pessoas singulares, conferência de imprensa,
discurso política de uma entidade sobre um facto da economia, desde que não se revista de
um instrumento jurídico.

6.6.4. Intervenção Jurídica


A Intervenção Jurídica é aquele que se integra na actuação do Estado através dos
institutos jurídicos destinados a articular o comportamento condicionado dos outros
sujeitos económicos e o comportamento condicionado do Estado através de um
instrumento jurídico-legal doutamente valido355.

354Ibidem. Pág. 297-298.


355Esta validade deve – se conformar com legalidade da CRA e com a Lei, sob pena de ser interpretado como
intervenção eivado de inconstitucionalidade da norma ou do acto, ou ainda os seus efeitos internos ou
externos serem sindicáveis no mesmo sentido.
171
Manual de Direito Económico Francisco Mário
A intervenção jurídica comporta três formas, nomeadamente:

6.7. Intervenção Legislativa


Quando o Estado produz através da AN normas jurídicas económicas de execução da
Constituição ou de ordenação económica; (Lei – Providencia, Lei – Medida, aprovar
programas normativos) e Nacionalizações e Confisco.

6.8. Intervenção Administrativa


Consiste na pratica do Poder Executivo de actos materiais ou actividades materiais ex.
obras publicas, acto regulamentares dos actos administrativos de conteúdo concreto
regidos pela Poder Executivo. Exemplo:

- Confisco (art. 97º, da CRA);

- Requisição administrativa civil temporária (art. 37º, nº2, da CRA);

- Expropriação por utilidade pública (art.37º, nº 2, da CRA);

- Privatizações (art.97º, in fine, da CRA).

Portanto a intervenção administrativa também pode – se classificar em três fundamentais


de intervenção:

1 - A da criação de infra-estruturas, em que se incluem, por exemplo, as obras públicas e


ordenamento do território;

2 - A da Polícia Económica, ou actuação económica preventiva, condicionando previamente,


autorizando ou licenciando a actividade dos sujeitos económicos e a imposição de limites
aos preços livres.

6.8.1. O Sistema de Formação dos Preços em Angola

Comummente a imposição de limites aos preços livres é efectivamente o regime geral de


uma economia de Mercado, ilustra bem uma forma de intervenção indirecta, mas de sentido
restritivo e unilateral, ou seja, de polícia económica.

O sistema de preços vigente é previsto no Decreto Legislativo Presidencial nº 10/13, de 22


de Novembro, entretanto, a fixação do regime de preços assenta na consideração de dois
critérios distintos, designadamente: a natureza dos bens (ou serviços) e a dimensão das
Empresas e respectivo volume de vendas.

A aplicação a cada tipo de bens ou serviços dos vários regimes de preços é feita por
Despacho do Decreto Presidencial, ou Ministério do Comércio, tendo em consideração os
dois critérios apontados.

O Decreto n º 14/96, de 1 de julho, que veio regulamentar o processo de formação de


preços, qualquer que seja o regime de preços, nos diversos interventores do ciclo normal
de comercialização prevê que:
172
Manual de Direito Económico Francisco Mário
a) O preço em armazém das mercadorias importadas deve ser calculada com base na
seguinte estrutura: Valor FOB + Frete + Seguro = CIF; Despesas Bancárias; Direitos, taxas
aduaneiras e despesas portuárias; transportes e permilagem.

b) O preço de venda a praticar pelo grossista: preço da mercadoria (adquirida ao


importador); Encargos gerais até 20% (de acordo com o Decreto nº 72/97, de 24 de
Outubro – art. 1º); Margens de lucro até 25% (de acordo com o Decreto Executivo Conjunto
nº 33/96, de 1 de Julho – art. 1º); Imposto de Produção e Consumo356.

c) O preço de venda a praticar pelo retalhista: Preço de venda do grossista; Encargos


de transporte; Encargos Gerais até 14%, que incide sobre o preço de venda do grossista;
Margem de lucro até 25% (de acordo com o Decreto Executivo Conjunto nº 33/96, de 1 de
julho – art. 1º).

Com efeito, o Decreto Executivo Conjunto n º 33/96, de 1 de Julho, veio conter a tendência
desmedida da subida de preços no mercado, quanto ao regime de preços livres, fixando a
margem de lucro a ser praticada pelos agentes económicos em cada transação.
Entendendo-se como agente económico em cada transação: O produtor; O
importador/grossista; O retalhista.

Neste Sentido de verificação do conteúdo do regime em estudo, em qualquer dos casos, as


margens de lucro não podem ultrapassar no total das suas diversas componentes os 75%,
até porque o Decreto Presidencial nº 206/11, de 29 de Julho, não revogou expressamente
nenhum dos diplomas supra mencionados, mas sim toda a legislação que contrarie o
disposto no mesmo.

Desse modo, e porque até a presente data não foi ainda definida pelo Ministério das
Finanças as regras para elaboração de propostas para fixação e alteração dos preços e de
aplicação do disposto no presente diploma, mantém-se em vigor o Decreto nº 14/96, de 1
de julho, o Decreto n º 72/97, de 24 de Outubro e o Decreto nº 33/96, de 1 de Julho.

De acordo com os diplomas referidos, os preços dos bens ou serviços vendidos no Mercado
interno podem ser submetidos aos seguintes regimes: de preços máximos, de preços
declarados, de preços contratados, de preços de margem de comercialização fixada, de
preços vigiados e de preços livres, em sinopse passamos a descrever a noção de cada um357:

356Hoje o IVA – o Imposto do Valor Acrescentado.


357Formas de fixações de preços
a) Preços acordados – resultam de negociação entre o comprador e o vendedor ou seja quando
resultam de acordo entre as partes.
b) Preços fixados – quando são estabelecidos pelo vendedor.
c) Preços tabelados – quando são fixados em diplomas governamentais. É o caso, por vezes, de
alguns produtos de primeira necessidade.
d) Preços correntes – quando são geralmente estabelecidos por vendedores da mesma
mercadoria, mas são passiveis de redução.
e) Preço por concurso público – quando são escolhidos após a análise de diversas propostas
apresentadas por diferentes vendedores (em carta fechada), que se comprometem efectuar o fornecimento
173
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Preços máximos - são aqueles cujo valor é fixado nos diferentes estádios da actividade
económica julgados convenientes, o qual não poderá ser ultrapassado.

Preços declarados - são os que têm de ser previamente comunicados à Administração,


reservando-se esta a faculdade de se lhes opor, caso não os considere justificados perante
os elementos de que dispõe e que as empresas são obrigadas apresentar. É fixado um prazo
para a Administração poder alterar os preços apresentados e começados eventualmente a
praticar.

Preços contratados - são os que resultam de acordos entre o Governo e as Empresas ou


associações patronais. O regime de preços contratados pode envolver a atribuição de
benefícios fiscais, ou de outra natureza, às Empresas por ele abrangidas. Ex: o preço de
transporte de táxi inter-urbano.

Preços de margens de comercialização fixadas - são os que se estabelecem pela soma


aos preços de aquisição (ou de reposição) de um valor máximo correspondente aos
encargos e ao lucro da revenda, determinado por percentagem ou em termos absolutos, “
para esta associação de defesa do consumidor, o regime de preços fixados deve limitar-se
nos bens e serviços considerados de grande impacto social, ou de carácter estratégico para
o desenvolvimento económico e social do País, (nº 1, do artº 8º, do Decreto Presidencial nº
206/11, de 29 Julho) ”.

Preços vigiados - O regime de preços vigiados consiste na obrigatoriedade do envio pelas


empresas, para tal notificadas, em carta registada com aviso de recepção, para o Ministério
do Comércio e Polícia Económica358.

Preços livres - são todos os demais, portanto, se os bens ou serviços não se encontram
sujeitos a um dos regimes anteriormente apontados, seguramente o montante do preço
determina-se pelos mecanismos do mercado, ou seja, pela Lei da oferta e da procura.

A principal infracção criminal resultante da inobservância da legislação sobre preços é o


crime de especulação previsto e punível pelo legislação penal competente, recortado no art.
42º, da Lei nº 6/99, de 3 de Setembro, Lei das Infracções Contra Economia, traduzido na
venda de bens ou prestações de serviços a preços superiores aos resultantes da Lei que
normalmente não pode ultrapassar os 75% da margem do lucro de comercialização. A
vigilância do acatamento das leis e regulamentos nesta matéria cabe à Polícia económica359.

nas condições previstas no concurso anunciado publicamente. Esta mobilidade é utilizada pelos organismos
do Estado quando pretendem efectuar aquisições de grande vulto, como a aquisição de determinado
equipamento para os hospitais, exército, escolas, etc.
358 A Direcção da Investigação das Actividades Económica foi extinta em 2014 e incluída no SIC - serviços de

investigação criminal.
359 Cfr. VAZ, MANUEL AFONSO, – Direito Económico, 3ª edição, Coimbra Editora 1994. Pág.354-356.

174
Manual de Direito Económico Francisco Mário
A de Fomento, atribuindo benefícios ou incentivos aos sujeitos económicos (privados ou
equiparados)360.

6.9. Intervenção Judicial


Consiste na intervenção económica do Estado através da actuação de tribunais, quer nos
tribunais comuns ou tribunais económicos., acórdão, sentença, jurisprudência e Recursos.

Qualquer modo, a doutrina dominante classifica também as intervenções como sendo


mediatas, imediatas, unilaterais e bilaterais, globais, sectoriais, pontuais e avulsas, directas e
indirectas.

6.10. Intervenção Unilateral – o Estado pode intervir por via unilateral, proibindo ou
autorizando certas actividades em determinados sectores, cujo veículo normal
desta intervenção são os regulamentos e os actos administrativos de eficácia
externa que são meios de excelência da autoridade.
6.11. Intervenção Bilateral - é a forma de intervenção do Estado Convencional, ou seja,
contratual, configurado no fenómeno de económica concertado ou economia
contratual, cujo meio ou instrumento de intervenção do Estado funda-se no
Contrato.
6.12. Intervenção Indirecta, - quando o Estado age como agente de regulação
económico-social e regula o acesso à actividade económica, regula a concorrência e
regula o consumo.
6.13. Intervenção Directa – quando é o próprio Estado que assume o papel de agente
económico produtivo criando Empresas Públicas ou actuando através delas,
intervindo nos circuitos da comercialização, se adquire produtos através dos
organismos de coordenação económica (ANGOSEMENTES, MECANAGRO, FADEPA
etc.) ou importações através de monopólios legais.

Todavia, por seu turno, o CABRAL DE MONCADA - defende que os poderes intervêm
directamente na economia, quando prosseguem objectivos directamente económicos,
represente-se sobre a economia ex: medidas de política fiscal, operações de open market,
que visem absolver o poder de compra, bonificação de juros, abertura de linhas de crédito
a favor da construção de infra- estruturas sociais, definição de certos regimes jurídicos,
fixação de rendas etc. com efeitos imediatos e mediatos na economia361. Neste caso
estaremos em presença de intervenção do Estado sobre a economia. E quando o Estado cria
Empresas Públicas e administra directamente o ente de Direito Público ou Privado,
estaremos em presença da intervenção do Estado na Economia.

6.14. Intervenções globais – quando o Estado adopta normas gerais de fixação de


margens de comercialização ou encorajamento do investimento global, ou seja,
relaciona-se com a intervenção no domínio económico no seu conjunto.

360 Cfr. FRANCO, ANTÓNIO SOUSA, – Direito da Economia, 1º Volume, ed. AAFDL. Pág. 300.
361 Cfr. MONCADA, LUÍS CABRAL DE, - Direito Económico, 5ª edição, Pág. 42.
175
Manual de Direito Económico Francisco Mário
6.15. Intervenção sectorial – quando o Estado adopta medidas de organização e
disciplina de determinado sector da produção ou concede credito bonificado ao
determinado sector da economia. (ex. Agricultura, turismo, industria, exportação ou
importação de matérias-primas para indústria nacional).
6.16. Intervenção pontual ou avulsa – é quando o Estado adopta pontualmente medidas
concretas através de um contrato-programa de uma Empresa em situação
económica difícil.

6.17. O Sector Empresarial Público Angolano


Angola desde 1975 por altura do movimento das nacionalizações e confisco, o Estado
assenhorou-se de todo acervo patrimonial e financeiro do sector privado com intenção de
construir uma sociedade socialista baseada no regime de propriedade colectivista dos
meios de produção.

As Empresas nacionalizadas entre 1976 e 1981 foram transformadas em Empresas


Públicas (EPs). Sendo que o Estatuto destas Empresas foi inicialmente definido pela Lei nº
3/76 e depois pelas Leis nº 10/88 e 11/88, sendo que a Lei 17/77 foi revogada pela Lei nº
11/88, de 9 de Julho.

Com efeito, foi antiga Lei nº 9/95, Lei das Empresas Públicas nos seus arts. 1º (conceito) e
7º ss sobre as formas organizativas e actividade empresarial do Estado, revogado hoje pela
actual Lei nº 11/13, de 03 de Setembro, Lei de Bases do Sector Empresarial Público que
confere a primeira delimitação do que, latu sensu, pode-se designar por Empresas Públicas,
como compreendendo o que a Lei expõe amplamente por formas organizativas da
actividade empresarial do Estado que divide quatro fases da história, designadamente:

1ª Fase relativa ao processo de transição de 1975 – 1976, intervenção do Estado nas


Empresas Privada, sob duas formas de organização e gestão das actividades económicas.

2ª Fase fenómeno do processo de nacionalizações e confisco 1976 – 1988 Lei nº 3/76, de 3


de Março, o Estado empossar – se do acervo patrimonial do sector da economia
abandonado por Agentes Económicos angolanos e estrangeiros, pelo que os bens
resultantes deste fenómeno imediatamente passaram a integrar o monopólio do Sector
Empresarial Público designadas de União das Empresas Estatais com sigla de “U.E.E.”, uma
das principais fontes de financiamento do Orçamento Geral do Estado, por conseguinte,
também criou-se ex novo de Empresas do Estado – U.E.E., (União das Empresas Estatais).

3ª Fase ligado ao processo de Saneamento Económico e Financeiro d e 1988-1992, Pacote


legislativo do Saneamento Economico Financeiro (S.E.F.), representado pelas Lei nº 8 -
13/88, de 25 de Junho, compreende emancipação da economia de Mercado no devido a
queda o morro do Berlim e da “perestroika” do Michael Gorbatchov da URSS, tido pelo
algum sector da doutrina como normas inconstitucionais porque operaram uma abertura
material e uma mobilidade vertical e horizontal da Constituição Económica Socialista de
1978 sem para tal derrogar a Constituição Económica.
176
Manual de Direito Económico Francisco Mário
4ª Fase promoção da economia de Mercado – Privatizações de 1992- 2010 (…) o Estado
nesta época desfaz-se de todo património toxico, ou seja, extinguiu as Empresas não
rendáveis e estruturou outras de acordo ao novo figurino de economia de Mercado.

Importa assinalar que Estado assume duas formas jurídicas do Estado Empresário,
designadamente: Serviços Públicos Económicos personalizados – transporte público,
museus, universidades, biblioteca, institutos públicos empresariais, serviços de telefonia
pública, correios e postal; e, Empresas Públicas.

Porém, actualmente o Sector Empresarial Público através das Empresas constituídas pelos
fundos públicos desenvolvem actividades nos principais sectores da economia,
designadamente:

Sector Primário – Indústria (pesada extrativa de recursos naturais)362, Agricultura e Pesca;

Sector Secundário – Indústria transformadora (Zona Económica Exclusiva de Viana em


Luanda), Transportes (Aéreos, Ferroviários, Porto, Aeroportos), Energia363.

Sector Terciário –, Banca, Seguros, Imobiliária, Transportes e Telecomunicações


(Rodoviários, Aviação Civil e Correios), Comércio e Serviços Públicos364.

Este quadro da economia pública principal fonte de receitas públicas, afigura-se como base
do PIB (Produto Interno Bruto) tanto ele Potencial como o Real que notadamente
caracterizam as Finanças Públicas angolanas de “Finanças Patrimoniais”, por causa da sua
fonte de receita ser de algum modo monolítico – fiscais identitária do Estado empresário
totalitário mitigado e sintomático do federalismo fiscal institucional.

O Sector Público em sentido jus-económico, restrito compreende - os bens de produção cuja


propriedade é titulada e gerida pelas Empresas Públicas (E.P.)365, eram anteriormente
designadas de Empresas Estatais (U.E.E.)366, ou outros sujeitos, ius-económicos que
integram o S.E.E. (Sector Empresarial do Estado), hoje coordenado pelo “Instituto do Sector
Empresarial do Estado”. Em sentido lato, compreende igualmente os bens titulados pelo
Estado e também aqueles geridos sob concessão, cuja titularidade é do Estado.

O Sector Empresarial Público Angolano é integrado por Empresas detidas pelos capitais
públicos, ou maioritariamente públicos e participações minoritários do Estado.

Em sede desta classificação, vamos tecer algumas considerações detalhadas que


inicialmente se configuram em arquitetar a noção de Empresas e de Empresas Públicas,

362 Neste sector destaca-se como Empresas Públicas: SONANGOL, ENDIAMA, MECANAGRO,
ANGOSSEMENTES e EDIPESCA.
363 Neste caso refere-se: ENDE, PRODENG, TAAG, CFL, CFB, CFM; PORTOS (Luanda, Lobito e Namibe).
364 Destaca-se as Empresas: SECIL MARITIMA, TCUL; BPC, BCI, BAI, BE, BDA; ENSA; IMOGESTIN;

ENTREPOSTO, NOSSO SUPER, CIAC, TPA, RADIO e CORREIOS.


365 E.P. – Empresas Públicas.
366 U.E.E – União das Empresas Estatais.

177
Manual de Direito Económico Francisco Mário
apesar ser anódino o seu conceito, mas vamos dar o jus nas tradicionais construções
avançadas pelos economistas e jurista que se postula no seguinte alinhamento:

- Empresas - numa primeira aproximação pode ser definida, segundo ROGÉRIO


FERNANDES FERREIRA, como “unidade de meios humanos, materiais financeiros que,
actuando segundo imperativos decorrentes das leis do Mercado (economia de Mercado),
ou do Plano (economia planificado), tem como objectivo, através da produção de bens ou
serviços, satisfazer necessidades, quer da comunidade em que se encontrar inserida, quer
dos que nela mesma participam com capital, direcção e trabalho” 367.

Já ALFREDO DE SOUSA, escreveu: «por Empresa, entende-se qualquer organização que


utiliza factores produtivos primários, bens e serviços escassos, para transformação em
outros bens e serviços; essa transformação constitui uma produção». Conclui este autor
dizendo que, “a Empresa é um Agente Económico que utiliza factores produtivo e imputs e
produz uns outputs368.

Entretanto, no pequeno panorama como se vê, o conteúdo de Empresa no figurino de


Mercado encontra-se definido e, pode-se afirmar como uma linha doutrinária quebrada,
desta feita, parece legítimo prosseguir para o conceito de Empresas à luz de três critérios
sufragados, designadamente:

a) O Capital Social (as participações sociais na constituição da capital detida pelo


Estado);
b) O âmbito territorial (território); e,
c) O volume de negócios ou dimensão.

Qualquer modo no primeiro critério, as participações sociais detidas pelo Estado


constituem o “numerus clausus” de participações de capitais públicos que vai determinar
natureza da Empresa e sua classificação e denominação subjacente as Empresas detidas
pelo Estado em termos de intervenção do Estado na Economia Empresarial.

As Empresas podem ser classificas de acordo o critério titularidade, ou as participações


nos fundos que constituem o acervo patrimonial, ou seja, o capital social. Por essa via a Lei
do Sector Empresarial Público do Estado art. 2º, da Lei nº 11/13, de 3 Setembro definiu,
como já dissemos, o “númerus cláusus” densificada numa classificação das Empresas e
participações de capitais públicos nos seguintes termos:

6.17.1. Empresas Públicas


Falar das Empresas Públicas é efectivamente dizer das pessoas colectivas, pois na
perspectiva das teorias da dogmática jurídico-económica é entendida como organizações
constituídas por uma colectividade de pessoas, ou uma massa de bens dirigidos à realização
de interesses comuns ou colectivos; às quais é atribuída uma personalidade jurídica. As

367 Apud, ABREU, JORGE MANUEL COUTINHO DE, - definição de Empresas Públicas, Separata do Vol. XXXIV
Suplemento ao Boletim da Universidade da Faculdade de Direito de Coimbra, 1990, Pág. 30.
368 Ibidem, Pág. 31.

178
Manual de Direito Económico Francisco Mário
pessoas colectivas podem ser de Direito Público ou de Direito Privado (territorial ou
patrimonial) com ou sem fins lucrativos.

Pessoas colectivas de Direito Público: são aquelas que de alguma forma detêm poder de
imperium, ou seja, podem emitir comandos ou decisões desde logo executáveis. Têm
funções próprias da autoridade estadual369.

Empresa Pública - pode ser definida como, «uma unidade económica criada pelo Estado,
através dos mecanismos legais formados por capitais próprios, em termos percentuais o
Estado detém 100% do capital social, ou financiados pelas entidades públicas, cujo escopo é
a produção, distribuição e comercialização de bens e serviços, visando a prossecução do
interesse e o desenvolvimento nacional estratégico»370, (art. 3º, da LBSEP). ex: TAAG;
ANGOLATECOM; PORTO DO NAMIBE; CAMINHO DE FERRO DE MOÇÂMEDES; SONANGOL;
etc.371.

Pelo que, da definição acima referenciada pode-se, desde logo, extrair três (3) elementos
tradicionais constitutivos das pessoas colectivas, designadamente:

a) Substrato (conjunto de elementos que servem de base à criação das Empresas


Públicas);

b) O elemento patrimonial, (capital social detida 100% pelo Estado); e,

c) O elemento final determinável, (actividade económica lucrativa ser possível


legalmente, não ser contrário à Lei, ou a ordem pública e não ofender os bons
costumes)372.

O actual ratio leges nos permite ver que o presente regime não exclui das Empresas
Públicas, as Sociedades de Capitais Públicos. Sociedades Comerciais em que o Estado ou
outras entidades públicas detenham a totalidade das participações e as sociedades de
economia mista controladas pelo Estado, ou por outras entidades públicas e, por maioria
de razão, as sociedades não controladas e as Empresas intervencionadas pelo Estado.

Outro critério é o formalmente constante dos art. 3º e 40º, da Lei nº 11/13, de 3 de


Setembro, Lei de Bases do Sector Empresarial Público, é o conceito formal amplo de

369 Ex: autarquias locais – pessoas colectivas de população e de território, Universidades Públicas, massa
patrimonial - Empresas Públicas.
370 Definição entre aspas também é nossa.
371 Organização e estrutura das Empresas Públicas vide Lei nº 11/13, de 3 Setembro.
372 Elementos constitutivos das pessoas colectivas:

1. Substrato: Conjunto de elementos que servem de base à criação das pessoas colectivas;
2. Elemento pessoal: os elementos que se associaram para prosseguir o fim comum, muito peso nas
associações;
3. Elemento patrimonial: conjunto de bens, ou massa patrimonial de que é titular a pessoa colectiva
para que possa prosseguir os seus fins; e,
4. Elemento final: finalidade comum ou colectiva - ser determinado ou determinável - ser possível
física ou legalmente - não ser contrário à Lei ou ordem pública - não ofender os bons costumes.
179
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Empresas Públicas que não sendo outro tipo, ou forma jurídica de Empresas apenas
representada de uma forma de definição do âmbito latamente compreensivo da
titularidade estatal empresarial, ou seja, qualquer for a forma organizativa, ou forma
jurídica da terminologia, que tem sido adoptado.

6.17.1.1. Natureza e Orgânica das Empresas Públicas

Os órgãos sociais das Empresas Públicas, os seus princípios de organização de actividade e


gestão vem mencionado ao longo da evolução legislativa desde a Lei nº 3/76, passando pela
Lei nº 17/77, até aos nossos dias com Lei nº 11/ 13, de 3 de Setembro, Lei de Bases do
Sector Empresarial Público, houve significativas alterações a considerar.

Todavia, a sua primeira consagração, previsto na Lei nº 03/76, ficou efectivamente


assinalada pelo forte controlo do Estado, de um lado, por outro, da efectiva participação
dos trabalhadores reflectidos nos órgãos das U.E.E., tal como era ideologia do modo de
produção do sistema socialista que presidia as forças produtivas na época histórica.
Contudo, representação do Estado nos órgãos sociais eram designado de Delegado do
Governo, a Comissão de Gestão e Assembleia de Trabalhadores. Porém, mais tarde essa
denominação sofreu alterações substanciais quer quanto à tipologia dos órgãos executivas
e colegiais singular e colectiva (Director – Geral, ou Director, Conselho de Direcção), bem
como os órgãos de Tutela e Assembleia de Trabalhadores, quer sobretudo quanto aos
princípios que presidem o seu funcionamento no actual figurino da economia de
mercado373.

Entretanto, as Empresas Públicas encontram-se sempre sujeitas à tutela governamental,


definidas nos termos do Direito Administrativo, por via disso, os seus gestores nomeados
pelo Titular do Poder Executivo, pois como afirmam os saudosos Professores SOUSA
FRANCO e DIOGO FREITAS DO AMARAL, que as Empresas Públicas integram a
Administração Económica do Estado. Por conseguinte, vários aspectos do seu regime são
remetidos aos princípios e técnicas de gestão próprios da actividade empresarial privada,
em que algum sector da doutrina lhes chama de pessoas colectivas de Direito Privado374.

Qualquer modo, como notadamente se observa, Empresas Públicas constituem uma


organização de factores produtivos destinada a produzir bens ou serviços, cujo escopo
económico é precisamente o lucro e ligado à noção de Empresa. Porquanto, a sua gestão
efectuar-se de modo a garantir a sua violabilidade económica e o seu equilíbrio financeiro
nos termos dos princípios legais de gestão (art. 19º, da LBSEP). Em boa verdade, a gestão
da EP se deveria subordinar a consideração da rentabilidade económica (art. 21º, da
LBSEP), salvo quando são acordadas com o Estado especiais obrigações de interesse

373 Cfr. JOÃO, DOMINGOS FRANCISCO/QUEIROZ, FRANCISCO. – Lições de Direito Económico de Angola, Zoe
editora. 2018, Pág. 301.
374 Apud. JOÃO, DOMINGOS FRANCISCO/QUEIROZ, FRANCISCO. – Lições de Direito Económico de Angola,

Zoe editora. 2018, Pág. 301. Citando SÁ GOMES.


180
Manual de Direito Económico Francisco Mário
público. Com efeito, como aferem DOMINGOS FRANCISCO JOÃO e FRANCISCO QUEIROZ, o
lucro e a rentabilidade não são conceitos equivalentes375.

Quanto a orgânica das Empresas Públicas o actual regime oferece, em alternativa, duas
tipologias de órgãos internos colegiais (Conselho de Administração, e o Conselho Fiscal
vide art. 45º, da LBSEP), na eventual transformação (art. 46º, nº 1, da LBSEP), ou em
substituição do Conselho de Administração seja criada, por razões ponderosas o Conselho
de Coordenação Estratégica e Comissão Executiva (art. 48º, da LBSEP), e, órgãos
unipessoais executivos – não executivos (PCA e Administradores Executivos e não
Executivos) e fiscais (Presidente do Conselho Fiscal e Vogais).

O Conselho de Administração regularmente é composto por até 11 Administradores


Executivos e não Executivos, integrando um Presidente (nomeados pelo Titula do Poder
Executivo se for para Empresa Estratégica, art. 46º, nº 2, da LBSEP, os restantes pelo
Ministro tutelar por delegação de podere. Essa fisionomia de administração apresenta uma
ampla competência definidora de grandes linhas de actuação empresarial, ao mesmo
tempo, a manifestação da consagração do princípio do reforço da autonomia de gestão (art.
46º e 47º, da LBSEP)

Com efeito, o Conselho de Administração apesar do nomen júris ser igual ao de um dos
órgãos das sociedades anonimas, não é um órgão executivo, em sentido estrito. É mais
híbrido, tanto quanto lhe competem não só a orientação geral pela aprovação preliminar
dos instrumentos de gestão a serem aprovados pelas tutelas sectorial e financeira, a
apresentação das propostas de nomeação dos directores, a ratificação dos preços a praticar
como também a aprovação dos regulamentos internos da Empresa, e enfim, a elaboração
de relatórios anuais e apresentação à homologação tutelar governamental juntamente com
as contas de gestão e o parecer do Conselho Fiscal.

O Conselho de Administração reúne assim competências que, por um lado, ou são


parcialmente típicas das assembleias gerais das sociedades anonimas, ou clássicas dos
poderes tutelares governamentais das típicas Empresas Públicas, estes últimos, ora,
repartidos com um órgão interno das EPs, por outro lado, ainda que não típico órgão de
gestão executiva. Contudo, pode receber uma nominação que lhe empresta essa aparência
de «administração» ao mesmo tempo que alguns poderes, em parte próximos da gestão ou
da intervenção directa na gestão e do seu acompanhamento, surgindo como órgão
intermédio, ou de charneira entre a Direcção da Gestão e o órgão da Tutela (órgão
externo)376.

O Conselho de Administração, cuja composição compreende em duas alternativas,


consoante a dimensão da Empresa, o seu Presidente (PCA) e os Administradores

375Ob. Cit. Pág. 302.


376Cfr. JOÃO, DOMINGOS FRANCISCO/QUEIROZ, FRANCISCO. – Lições de Direito Económico de Angola, Zoe
editora. 2018, Pág. 304.
181
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Executivos responsáveis pelas áreas sectoriais da Empresa tem tríplice fonte de designação
dos seus membros:

a) Por nomeação pelo Titular do Poder Executivo mas por indicação ou sob proposta
ministerial do PCA, dos Administradores Executivos e não Executivos;

b) Por nomeação pelo Ministro de tutela do PCA e respectivos Administradores


Executivos e não Executivos; e,

c) Por nomeação pelo Governador Provincial do PCA e respectivos Administradores


Executivos e não Executivos, mas quando estamos em presença de uma Empresa
Provincial.

Por conseguinte, como notadamente se observa no art. 45º e ss, da LBSEP ao apontar no
seu preceito a fisionomia do Conselho de Administração e da Comissão Executiva da
Empresa suscita desde logo um entendimento áspera de como de uma direcção e gestão
colegial se tratasse, por não configurar a categoria do PCA na proa do exercício unipessoal
dos poderes executivos de gestão e representação da Empresa, sendo certo que a sua acção
deve ser sempre exercida naturalmente e coadjuvado pelos Administradores Executivos.

Portanto, este ratio legis nos parece reforçada pela fonte de designação dos mesmos, na
medida em que os Membros do Conselho de Administração ou da Comissão Executiva,
sendo nomeados pelo Ministro de tutela (ainda que, no caso das grandes Empresas, sob
proposta dos Conselhos de Administração) representam os membros da confiança política
do Governo377.

O elenco de competências contidos no art. 47º, da LBSEP, ressaltam poderes todos eles
tipicamente de gestão, ou Administração da Empresa e o Executivos, designadamente:

a) Elaboração e execução dos instrumentos de gestão,


b) Assinatura de contratos,
c) Assunção de créditos,
d) Contratação e direcção do pessoal,
e) Abertura e movimentação de contas bancarias,
f) Criação de órgãos de apoio à gestão,
g) Nomeação dos responsáveis pelas áreas sectoriais da Empresa,
h) Exercício do poder disciplinar e enfim a representação da Empresa em juízo ou fora
dele.

Pelo seu turno o Conselho Fiscal (art. 49º, da LBSEP) é composto por um(1) Presidente e
dois (2) vogais e são propostos pelo Ministro das Finanças e os vogais são propostos, um

377 Ibidem.
182
Manual de Direito Económico Francisco Mário
pelo Ministro responsável pelo Sector Empresarial Público e o outro pelo Ministro que
tutela o Sector da Actividade.

Porém, é de sublinhar que o Conselhos Fiscais tem o clássico elenco de competências


conferidas pelas Sociedades Comerciais de fiscalizar o cumprimento escrupulosos por
parte das Empresa sobre normas regulamentares da sua actividade, por via disso, emitir
parecer sobre o relatório e contas do exercício, verificar da conformidade com as novas
técnicas dos valores patrimoniais e outros, da existência de anomalias ou desvios na
actividade da Empresa, informando o Ministro das Finanças.

Cumpre notar, no que se refere a intervenção dos trabalhadores a Lei apresenta uma
lacuna, diferente do que ocorria no tempo do partido - Estado, fase que antecedeu à
Constituição Económica de 1992. Entretanto, nada obsta como direito fundamental se
indica em sede da Constituição Económica de 2010, onde se remete a intervenção destes
para os estatutos de cada Empresa a definição das formas mais adequadas de a efectivar,
tendo em atenção o disposto na Lei sobre o controle e a gestão pelos trabalhadores378.

Relativamente à sua natureza jurídica, ainda, nos termos densificado no art. 3º e 40º, da
LBSEP, têm uma base jurídica institucional, pois única sócio é o Estado, não tendo por
conseguinte, sócios o que as distingue claramente das Sociedades Comerciais, Empresas de
Domínio Público, Participações Públicas Minoritárias que têm uma configuração jurídica
societária fundada numa base pessoal de sócios.

Entretanto, uma outra especialidade das Empresas Públicas consiste na sua particular
estrutura orgânica, também distinta da das Sociedades Comerciais. Pois, na sua estrutura
orgânica, os corpos sociais (órgão) de existência obrigatória são efectivamente o Conselho
de Administração e o Conselho Fiscal, apesar de algum modo admitir-se a possibilidade de
criação da Comissão Executiva, nada inibe que sejam criados, no interior das Empresas
Públicas, os Conselhos Regionais com funções consultivas, nas Empresas de Serviços
Públicos, e quando assim a sua dispersão geográfica o justifique. Porém, trata-se
precisamente de verdadeiros órgãos de representação de interesses na gestão das
Empresas Públicas379.

378 Cfr. JOÃO, DOMINGOS FRANCISCO/QUEIROZ, FRANCISCO. – Lições de Direito Económico de Angola, Zoe
editora. 2018, Pág. 304
379 Cfr. JOÃO, DOMINGOS FRANCISCO/QUEIROZ, FRANCISCO. – Lições de Direito Económico de Angola, Zoe

editora. 2018, Pág. 304


183
Manual de Direito Económico Francisco Mário

6.17.1.2. A Tutela e a Superintendência como Intervenção do Executivo


(Unipessoal)

Como entidades integradas no sector público com personalidade independente da pessoa


do Estado, todavia, as Empresas Públicas estão sujeitas a intensa tutela do Executivo,
exercida, consoante o caso pelo Titular do Poder Executivo, pelo Ministro da pasta, ou pelo
Ministro responsável pela área da Economia e das Finanças. A Tutela das Empresas
Provinciais compete aos Governadores Provinciais.

Por conseguinte, há teses entre na doutrina dominante cuja discussão incide sobre os
institutos do Direito Administrativo de Tutela e da Superintendência, donde a Tutela cabe
na administração autónoma, autarquias, locais e associações públicas e, por seu turno a
Superintendência na administração indirecta Empresas Públicas e Institutos Públicos.

Assim sendo, a Superintendência - pode ser definida como o poder conferido ao Estado
(exercido pelo Governo), ou a outra pessoa colectiva de fins múltiplos, como as autarquias,
de definir os objectivos (fixar directivas e recomendações) e guiar a actuação (orientar) das
pessoas colectivas públicas de fins singulares colocados por Lei na sua dependência
(institutos públicos e entidades públicas empresariais).

Portanto, Superintendência não se presume, existindo apenas quando expressamente


prevista por Lei no âmbito de desconcentração e descentração administrativas.

Já o instituto da Tutela pode se ser definido o conjunto de poderes de intervenção de uma


pessoa colectiva pública na gestão de outra pessoa colectiva pública, a fim de assegurar a
legalidade e/ou mérito da sua actuação. Nos termos do art. 199º, nº 2, da CRA, Governo
exerce tutela sobre a Administração indireta e sobre a Administração autónoma.

Desta definição resultam as seguintes características:

a) A Tutela pressupõe a existência de duas pessoas colectivas públicas distintas (a


pessoa coletiva tutelar e a pessoa coletiva tutelada); e,

b) O fim de Tutela administrativa é assegurar, em nome da entidade tutelar, que a


entidade tutelada cumpra as leis em vigor e – caso a lei o permita – garantir que sejam
adotadas as soluções convenientes e oportunas para a prossecução do interesse
público.
Quanto ao fim, Tutela pode ser de legalidade (quando visa controlar a legalidade das
decisões da entidade tutelada) ou de mérito (quando visa controlar a conveniência –

184
Manual de Direito Económico Francisco Mário
administrativa, técnica ou financeira – e oportunidade das decisões da entidade
tutelada)380.

A Tutela exprime-se, desde logo, no poder conferido ao Executivo de designar e exonerar


gestores da Empresa, estando aqui abrangido o poder/dever da legalidade dos objectivos
das políticas a cumprir por essas Empresas.

Com efeito, o ponto de ruptura sobre estes dois institutos sempre esteve na legislação
extravagante e no discurso político onde se verifica o uso indiscriminado e sem rigor dos
dois conceitos, ignorando-se deliberada ou inocentemente a delimitação a constitucional e
doutrinal. Foi por isso que o legislador consagrou claramente a sua superintendência como
modo de intervenção do Governo na Execução do controle sobre as Empresas Públicas.

Ora, em geral, a Tutela consiste no conjunto de poderes atribuídos a um órgão de uma


pessoa colectiva de fiscalizar ou intervir na gestão de outra pessoa colectiva. Exprime-se,
desde logo, no poder conferido ao Executivo de designar e exonerar gestores da Empresa,
estando aqui abrangido o poder/dever da legalidade dos objectivos das políticas a cumprir
por essas Empresas.

Pelo que, destacam-se aqui as dimensões técnicas e económico-financeira da Tutela é


exercida pelo titular do Ministro da Finanças, cujo desígnio é garantir que a gestão da
Empresas Pública, seja feita de modo a não causar encargos injustificados ao erário público.

Destarte, os resultados da gestão das Empresas Públicas em Angola têm repercussões


imediatas no OGE, que podem resultar quer da necessidade de cobrir despesas de
exploração ou de reforçar o capital para a cobertura de investimento (efeitos negativos),
quer inversantemente, traduzir-se no ingresso de lucros sob a forma de remuneração dos
capitais (efeitos positivos)381.

Assim, a intervenção do Executivo (do Titular do Poder Executivo) nas Empresas Públicas,
deve hoje limitar-se á definição do enquadramento geral da actividade da Empresa, tendo
em atenção a sua compatibilização com as políticas económicas globais e sectoriais do
Executivo, à fiscalização geral da actividade da Empresa e a autorização, ou aprovação dos
actos de maior importância na vida quotidiana das Empresas Públicas, ou cujas implicações
possam transcende-la, deixando os gestores a liberdade necessária para resolverem os
problemas de gestão corrente. No entanto, cumpre notar que a prática em Angola tem
demonstrado no sentido do Executivo ultrapassar rapidamente a visão estrita dos poderes
de Tutela.

Entretanto, o Titular do Poder Executivo representa o órgão de Tutela que designamos por
central, tanto é no Executivo em que residem originariamente as competências tutelares de

380Cfr. AV. OLIVEIRA, PAULA FERNANDES / DIAS, FIGUEIREDO EDUARDO JOSÉ. Noções Fundamentais de
Direito Administrativo. 3ª Edição, Almedina, 2013. Pág. 89.
381 Cfr. JOÃO, DOMINGOS FRANCISCO/QUEIROZ, FRANCISCO. – Lições de Direito Económico de Angola, Zoe

editora. 2018, Pág. 306.


185
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Administração Económica. Pois é nesta medida que tais competências do Executivo são
repartidas pelos seus membros em razão das matérias.

Porque a Lei contínua, porém, a reservar ao Titular do Poder Executivo alguns poderes de
controlo, quer em razão da respectiva natureza legislativa regulamentar (art. 44º, nº 1 e 2,
da LBSEP) quer em razão da grandeza e importância para a economia nacional das
Empresas, a aprovação da sua criação (art. 12º, da LBSEP) e nomeação de Presidentes dos
Conselhos de Administração. Portanto Tutela neste caso é exercida pelo Ministério da
Economia.

Por seu turno e, inversamente que acima for referenciado, o Ministro da Finanças lhe é
atribuído as competência de tutelar as matérias de natureza tipicamente financeira como
vem definido pela previsão legal taxativa, designadamente:

a) Aumentos do fundo de constituição (art. 18º e 24º ss, da LBSEP);

a) Regime de seguro controlo e aplicação das directrizes financeiras do Plano Nacional


e do Orçamento Geral do Estado (art. 22º e 23º, da LBSEP);

b) As políticas financeiras e cambial (26º, da LBSEP);

c) Aprovação da afectação dos lucros (art. 26º, da LBSEP);

d) Nomeação de presidentes dos conselhos fiscais, ou do fiscal único e auditoria


periódica, conforme os casos.

Na verdade, quer a autonomia quer a Tutela não são linear ou unilateralmente


unidimensionais: são princípios pluridimensionais interactivamente conexos, cujas
fronteiras ou âmbitos de aplicação são reciprocamente tangenciais e subsidiários. Há pois
limites entre si, um multimoda e reciproca limitação dos respectivos sentidos em oposição.
O que revela desse novo elenco taxativo de poderes tutelares do art.º 40º, nº 2 é a
circunstância de eles representarem uma clarificação das fronteiras a partir das quais a
autonomia gestionária, a iniciativa dos órgãos internos das Empresas Públicas pode ser
livre e responsavelmente para o referido exercício.

Ora bem, o exercício da Tutela pela Administração tem as dimensões, ou pluridimensões


de controlo empresarial pelo Estado, atento a relação de hierarquia se consomem no
interior de uma pessoa jurídica unitária. Porque da Tutela e da Superintendência, nos
termos da LBSEP, o seguinte:

186
Manual de Direito Económico Francisco Mário
(i) Uma primeira dimensão é a da legalidade dado que, segundo a melhor doutrina,
a tutela não se presume é nos dados pelos princípios da legalidade e da
orientação, ou enquadramento geral implícito, ou explicito nos art. 29º, LBSEP
(finalidade de âmbito), art. 13º, da LBSEP (conteúdo da Tutela) e outros da Lei
nº 11/13.

(ii) A segunda dimensão, de fronteiras gerais, ou do quadro geral de exercício de


Tutela nos é balizada pelos instrumentos de regulamentação económica
exemplificativamente enumerados pela Lei (art. 43º, nº 2 e 3 LBSEP), quais
sejam, as normas sobre preços e salários, as taxas de juro e política de créditos
câmbios e política cambial, critérios e taxas de amortização dos activos fixos
política de formação dos fundos financeiros e as directrizes quer do Plano
Nacional quer da política sectorial.

(iii) A terceira dimensão é prescrita pelo art. 44º nº 2, da LBSEP ao definir, na linha,
aliás, clássica da doutrina a relação tutelar, não como uma relação de
subordinação hierárquica relativamente ao Governo mas que pressupõe toda
uma autonomia cujo regime é o legalmente prescrito e que tivemos de analisar.

(iv) A quarta dimensão delimita dos poderes é-nos detalhada, precisamente, pela
definição dos poderes tutelares o conteúdo da Tutela» supratranscrito e de que
relevam a aprovação dos instrumentos previsionais de gestão, planos,
orçamentos anuais e plurianuais, ou de prestação de contas.

(v) Uma quinta dimensão delimitadora dos poderes tutelares (alias já estreitamente
conexa com a primeira e os princípios da legalidade e do enquadramento geral,
revela do objecto) estatutário da Empresa estatal, com o qual o exercício dos
poderes tutelares se devem confrontar.

Portanto, o conteúdo dos poderes do Titular do Poder Executivo sobre as Empresas


Públicas ao nosso ver o direito subjectivo de controlo aproxima-se mais da situação da
Superintendência do que da Tutela propriamente dita, em de análise do conteúdo do art.
53º e 73º, da LBSEP, a melhor solução será sempre o do reconhecimento á liberdade
absoluta de gestão corrente da Empresa, no tocante as actividades, atribuindo, porém, ao
Executivo poderes para a definição das grandes linhas de orientação da sua actividade,
constante ao menos parcialmente do planeamento económico.

6.17.1.3. Empresas com Domínio Público


Com efeito, em Angola abandonou-se a expressão «Sociedades de Economia Mista»,
tradicionais nos direitos Português e Francês consagrando-se a expressão «Empresas
Participadas» semelhantes ao que se designava antes por UEM-Unidade Económica Mista
cujo regime (Leis nºs 13/78 e 10/79), antes da Constituição Económica de 1992 todo
sempre manifestou uma ratio leges de controlo, ou domínio, por conseguinte, expõe
187
Manual de Direito Económico Francisco Mário
inúmeras normas e princípios, como ilustre, as Participação Pública no direito angolano no
capital social das Empresas Mistas é normalmente no mínimo de 51%, vide (art. 9º, da Lei
nº 10/79), podendo só excepcionalmente ser inferior, sobre autorização do Titular do
Poder Executivo por extensão.

As Empresas Com Domínio Público – são aquelas unidades económicas criadas pelo Estado,
sob forma de sociedades comerciais em que o Estado detenha uma participação em termos
percentuais de mais de 51%, do capital societário, art. 4º, da LBSEP, cuja actividade por ele
desenvolvida é disciplinado pela Lei das Sociedades Comerciais382, vide o art. 2º, da LSC, ex.
BCI, BPC, BAI, etc. Criação de Empresas.

A iniciativa de constituição de uma Empresa Pública ou com Domínio Público cabe: Para as
Empresas de interesse estratégico, ao Titular do Poder Executivo, ouvindo o Ministro
responsável pelo Sector Empresarial Público e o Ministro responsável pelo Sector de
Actividade da Empresa, ou por iniciativa destes; nos termos do art. 12º, da LBSEP e para as
restantes Empresas Públicas e de Domínio Público, ao Ministro responsável pelo Sector de
Actividade, ou ao Governador Provincial, com o aval do Ministro Responsável pelo Sector
Empresarial Público.

Importa realçar que neste domínio, o Poder Económico Angolano pode criar unidades
económicas (Empresa de Interesse Estratégico) nos termos autorizado pelo art. 13º, da
LBSEP, mas sem descurar ao respeito do plasmado na Constituição no art. 95º, da CRA,
sobre as reservas do Domínio Público, mas, a proposta de criação de uma Empresa Pública,
ou com Domínio Público, deve incluir um estudo de viabilidade técnica (art. 14º, da LBSEP).
Pois que, neste sentido as Empresas Públicas, ou com Domínio Público, como sendo de
interesse público estratégico visam entre outros aspectos económicos, ex vi lege, art. 13º,
da LBSEP, os seguintes:

(viii) Inserção em sectores de actividade de reserva relativa ou absoluta do Estado;


(ix) Titularidade de infra-estruturas de domínio exclusivo do Estado;
(x) Importância para o cumprimento dos objectivos fundamentais do programa de
desenvolvimento do País;
(xi) Prestação de serviços e a produção de bens de utilidade pública; e,

382A tipologia das sociedades no ordenamento jurídico angolano à luz da Lei nº 1/04 de, 13 de Fevereiro,
definido no art. 2º da LSC, são as seguintes:
1- Sociedades por Comandita por Acções; (Comanditas por Acções);
2- Sociedades por Comanditas Simples; (Comanditas Simples);
3- Sociedades em Nome Colectivo; (& Cª. ou Companhia);
4- Sociedades por Quotas; (Lda.), e;
5- Sociedades Anónimas; (S.A.).
6- Sociedades Cooperativas.
E sociedades comerciais unipessoais Lei nº 19/12, de 11 de Junho. Classificam-se nos termos do art. 2º as
seguintes tipologias de sociedade:
a) Sociedades quotas (Lda. «SU»).
b) Sociedades anónimas (S.A. «SU»).
Por conseguinte estão vedados a constituir ou transformação os previsto no art. 17º, da LSU.
188
Manual de Direito Económico Francisco Mário
(xii) Volume de investimentos efectuados ou previstos pelo Estado.

Para todos os efeitos para alcançar estes objectivos económicos além do prévio estudo de
viabilidade económico, sendo certo deve - se observar os princípios orientadores do Direito
Económico, (art.13º, da LBSEP), nomeadamente:

a) Princípio da Gestão de Bens e Serviços com Qualidade Comprovada;


b) Princípio de Eficiência Económica;
c) Princípio da Gestão por Objectivos, ou pelo Valor, e;
d) Princípio de Eficácia.

6.17.2. As Participações Públicas


Participação Públicas Minoritárias - referem-se àqueles situações em que o conjunto das
participações detidas pelo Estado ou outras entidades como accionista, ou sócio cuja
participação em termos da percentagem do capital social ser minoritários, art. 5º, da LBSEP,
ex. BANCO SOL, BCP, MILLENIUM - ATLÂNTICO, BANCO ECONOMICO, BFA, etc.

Por conseguinte, já o outro critério de classificação das Empresas com Capitais Públicos,
reside no seu âmbito territorial que não obsta que a mesma Empresa seja concomitante
congruente aos dois critérios, apesar do nosso legislador ainda não ter disciplinado em
termo legais o regime e que em termos operativos deve vincular.

Portanto, tem-se verificado uma controversa, ou crispação nas relações verticais e


horizontais configuradas na relação de infra - subordinação e supra - ordenação entre o
Poder Político ao Nível Central e Poder Central Desconcentrado (Administração Local,
precisamente no território Provincial) e o Poder Económico (titulada pela Direcção da
Administração do Sector Empresarial Público do Estado) por indefinição dos Institutos
Administrativos de Superintendência e Tutela nas suas diversas vertentes.

Assim sendo, as Empresas de Capitais Públicos integradas nas seguintes categorias:

6.17.3. Sector Empresarial de Âmbito Nacional


Empresa Públicas de Âmbito Nacional - nesta classificação, podemos fazer menção às
Empresas (E.P), como a SONANGOL, TAAG, ENDIAMA, ENSA, ENDE; estas empresas são
constituídos através de competências partilhadas entre o Titular do Poder Executivo e os
seus Órgãos Auxiliares, isto é, inter aliás, a Constituição efectiva-se sob iniciativa do Titular
do Poder Executivo e sob proposta do departamento ministerial (Ministério) do ramo de
actividade económica em que vai desenvolver a referida actividade e do departamento
ministerial dos assuntos económicos (Ministério da Economia) nos termos do art. 12º e
40º, da LBSEP), cujo provimento e destituição dos seus órgãos sociais compete o Titular do
poder executivo (art. 119º e 120º, da CRA).

A sua extensão nas Províncias e Municípios decorre no âmbito do princípio da


desconcentração administrativa em sede da delegação de poderes da direcção central, ou
seja, a sua subordinação configura-se na verticalidade nos aspectos de gestão financeira,

189
Manual de Direito Económico Francisco Mário
administrativa e prestação de contas, deixando de algum modo a Administração Local do
Estado sem poder de actuação e controlo sobre esta ou aquele Empresa Pública de âmbito
nacional instalada naquele circunscrição territorial da Província.

Portanto, esta incompreensão jurídica que se trava nas relações administrativas entre os
poder da Administração local do Estado e o poder da Administração das Empresas Públicas,
tem criado tensões ao nível da Administração Pública do Estado por causa da indefinição
do critério da classificação legal das Empresas Públicas em Angola e consequentemente a
sua relação com os poderes da Administração Local e os poderes da Administração Central
no âmbito da fiscalização, controlo e prestação de contas ou mesmo prestar informações
concretas da actividade que desenvolvem naquele localidade da Província ou Município.

6.17.4. Sector Empresarial Regional


Sector Empresarial Regional – entende por maioria da razão que em Angola de facto e não
de direito a divisão das regiões económicas que compreende os pontos cardinais da
geografia física. Portanto, as regiões económicas comporta a região norte centro e sul, onde
estão agrupadas algumas Empresas Públicas Regionais, (v.g. Caminhos de Ferro de Luanda,
Caminhos de Ferro de Benguela e Caminhos de Ferro de Moçâmedes).

6.17.5. Sector Empresarial Local


Sector Empresarial Local - que integra as Empresas Provinciais e, de algum modo, com a
autarcização territorial do País, as Empresas Municipais (v.g. Porto de Cabinda, Luanda,
Lobito, Namibe, Empresas das águas, de transportes383.

6.17.6. As Empresas Públicas que Exercem Poderes de Autoridade

A nossa legislação consagra o jus económico que consubstancia-se com Empresas Públicas
de poderes e prerrogativas de autoridade de que goza o Estado, designadamente quanto à
expropriação por utilidade pública, infra-estruturas afectas a serviços públicos ou
licenciamento e concessão de utilização do domínio público.

Todavia, os referidos poderes de autoridade, são atribuídos através de legitimidade


democrática e legal por via de um diploma legal, emanado órgão com poderes para efeito,
através de contrato de concessão onde constes as cláusulas contratuais que vincula as
partes. Em situações excepcionais e na medida do estritamente necessário à prossecução
do interesse público.

Como afirmam o DOMINGOS FRANCISCO JOÃO e FRANCISCO QUEIROZ384 - presentemente,


a atribuição destes poderes de autoridade se estende a todas as Empresas Públicas,
indiscriminadamente, enquanto no regime em vigor contempla que esta possibilidade só

Ex. EMUTRAC (E.P.) – Lubango.


383

Cfr. AV. DOMINGOS FRANCISCO JOÃO/QUEIROZ, FRANCISCO - Direito Económico de Angola, Zoe, 2018.
384

Pág. 309.
190
Manual de Direito Económico Francisco Mário
seja admitida para Empresas de Serviço Público, em regime de monopólio ou exercendo
actividades no domínio da defesa.

Portanto, para efeitos de determinação de competência jurisdicional, as Empresas Públicas


que exercem poderes de autoridade serão equiparadas a entidades administrativas
relativamente a litígios decorrentes de actos por elas praticados e de contratos por elas
celebradas.

191
Manual de Direito Económico Francisco Mário
CAPITULO VII - MICROS, PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS

7.1. Aspectos gerais

As Micros, Pequenas e Médias Empresas constituem o centro de atenção da economia do


sector privado e motor da garantia da alavanca de qualquer economia, e é, o garante da
empregabilidade da maioria da força de trabalho disponível no “Mercado de Trabalho”.

MPME no ordenamento jurídico angolano são classificadas como sociedades comerciais,


desde que, tenham adoptado um dos tipos previstos nas alíneas a) e b), do art. 2°, da Lei n°
1/04, de 13 de Fevereiro, “Lei das Sociedades Comerciais”, bem como outros tipos
societários que venham a ser criados por Lei.

As MPME, distinguem-se por dois critérios, nomeadamente, o número de trabalhadores


efectivos e o volume de facturação total anual sendo esta última a prevalecente sempre que
for necessário decidir sobre a classificação das mesmas.

É importante assinalar que em termos jurídicos legais não são enquadradas como MPME
nem destinatárias do tratamento diferenciado as seguintes entidades:

a) Em cujo capital participe, independentemente da percentagem, o Estado ou


outras entidades públicas, excepto universidades e centros de investigação, nestes casos
com o limite máximo de 25 % do capital social;

b) Em cujo capital participe outra empresa que não seja MPME, independentemente
do tipo societário em causa;

c) Que participe no capital de outras Empresas que não sejam MPME


independentemente do tipo societário em causa;

d) Que seja filial ou sucursal, no País, de uma Empresa com sede no exterior do País;

e) Que exerça a actividade no sector financeiro bancário e não bancário.

Por conseguinte, também, ficam, igualmente, excluídas do âmbito da LMPME385, as MPME


cujo sócio maioritário detenha participações noutras Empresas, sempre que a facturação
bruta anual exceda o limite mais elevado superior a USD 10 milhões (art. 7º, da Lei nº
30/11, de 13 de Setembro, Lei das Micro, Pequenas e Médias Empresas).,

Assim, quanto ao critério do volume de negócio ou sua dimensão, as Empresas podem ser
classificadas:

7.1.1. Micro Empresas


Aquelas Empresas de expressão individual ou familiar sob forma de sociedades comerciais
unipessoais ou em nome colectivo.

385 LMPME - Lei das Micro, Pequenas e Médias Empresas.


192
Manual de Direito Económico Francisco Mário
As Micro Empresas abreviadamente MC, aquelas que empreguem até 10 trabalhadores
e/ou tenham uma facturação bruta anual não superior em Kwanzas ao equivalente a USD
250 mil (art. 5º, al. a), da Lei nº 30/11, de 13 de setembro, Lei das Micro, Pequenas e Médias
Empresas).

7.1.2. Pequenas Empresas


São aquelas Empresas individuais que tem um numero expressivos de dezenas de
trabalhadores, sob forma de sociedades por quotas, ou outra, mas, jamais sob forma de
sociedades anónimas, pois este formato societário exige uma pauta mais rigorosa de
exigências atento o capital social e o volume de negócios que ela lhe esta adstrito.

Entretanto, as Pequenas Empresas abreviadamente PQ, são aquelas que empreguem mais
de 10 e até 100 trabalhadores e/ou tenham uma facturação bruta anual em Kz superior ao
equivalente a USD 250 mil e igual ou inferior a USD 3 milhões (art. 5º, al. b), da Lei nº 30/11,
de 13 de Setembro, Lei das Micro, Pequenas e Médias Empresas).

7.1.3. Médias Empresas


Aquelas Empresas que tem um volume de negócio considerável e constituídas sob forma
de uma sociedade por quotas, ou quaisquer outros tipos societário mas com número de
trabalhadores.

Médias Empresas abreviadamente ME, são aquelas que empreguem mais de 100 até 200
trabalhadores e/ou tenham uma facturação bruta anual em Kwanzas superior ao
equivalente a USD 3 milhões e igual ou inferior a USD 10 milhões (art. 5º, al. c), da Lei nº
30/11, de 13 de Setembro, Lei das Micro, Pequenas e Médias Empresas.

7.1.4. Empresas de Grande Dimensão ou Estratégicas


São as Empresas de capital social superior USD:20.000,00 (vinte mil dólares americanos)
equivalente em Kwanzas e que o número de trabalhadores é superior à 500 efectivos, e por
conseguinte, são estratégicas quando são tituladas pelos activos do Estado com fins, como
diz o próprio nome, de realizar estratégias económicos do Estado ao nível da economia
interna ou internacional, ex. TAAG, SONANGOL, PORTO DE LUANDA…, ANGOLA-TELECOM,
e etc., são exemplos pragmáticos de Empresas de grande dimensão e simultaneamente
estratégicas. Já por exemplo o OMATAPALO, COCA-COLA, BANCO – BIC, são Empresas de
grande dimensão (S.A.) com volume de negócios expressivos e com mais de 500
trabalhadores sem escopo de estratégia assinalável se quer para o interesse do Estado.

193
Manual de Direito Económico Francisco Mário
CAPITULO VIII – NACIONALIZAÇÕES, CONFISCO E FIGURAS AFINS

8.1. Razão de Ser


As nacionalizações de ponto de vista histórico, hoje não têm o mesmo peso que tinham na
altura da independência, pois que, as nacionalizações foram utilizadas como instrumentos
necessários à instauração de uma economia centralizadas que se caracterizava-se pela
apropriação colectiva dos meios de produção com objectivos de construção duma
economia socializante, ou seja, o socialismo. Daí, ser considerando a figura central na
hierarquia da intervenção do Estado na Economia.

8.2. Noção
A nacionalização em sentido restrito pode ser definida, segundo o Prof. EDUARDO PAZ
FERREIRA, como uma medida coactiva que opera a transferência da propriedade de
Empresas, participações sociais universalidades de bens, prédios rústicos e/ou urbanos ou
ainda de outros bens das pessoas privadas para as entidades públicas por razões política
económica e social386, por conseguinte o instituto de nacionalizações tem assento
constitucional previsto no art. 97º, da CRA., e art. 11º, da Lei de Terras nº 9/04, de 9 de
Novembro.

Deste conceito pode-se abstrair alguns traços característicos da nacionalização,


designadamente:

1º- A nacionalização opera sempre por via coactiva, não se podendo falar de nacionalização
se tiver havido uma compra pelo Estado de bens privados;

2º- É preciso que se verifique uma transferência efectiva da propriedade dos bens que
deixam de se integrar no sector privado;

3º- A nacionalização tem sempre uma motivação de ordem económica e social, visando que
os bens atingidos fiquem ao serviço do interesse geral387.

8.3. As Principais Causas das Nacionalizações

A partir dos anos 30 passou desenvolver-se um movimento, relativamente uniforme, de


socialização, colectivização ou nacionalização que foi inspirado por preocupações de justiça
social, motivos de construção do socialismo, objectivos de reforço de Estados autoritários
e dirigistas e, mais tarde, também por propósitos de transferência do poder económico para
as mãos dos novos Estados descolonizados do Terceiro Mundo, bem como, em
consequência da necessidade de assegurar a manutenção de empregos.

386Cfr. FERREIRA, EDUARDO PAZ, - Sumários da Economia, AAFDL 1996, Pág. 290.
387Cfr. FERREIRA, EDUARDO PAZ, - Sumários de Direito da Economia 1996, Pág. 290. Neste sentido vide
Acórdão do Tribunal Constitucional Português nº 39/88, de 9 de Fevereiro, in D.R. 2ª série nº 35, de 11 de
Fevereiro de 1988.
194
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Segundo o renomado Professor de Lisboa Doutor EDUARDO PAZ FERREIRA, citado pelo
Prof. PAULO ALVES PARDAL388, - destaca que uma nacionalização implica uma
transferência efectiva da propriedade dos meios de produção, por via coactiva, para
entidades públicas, devido a razões de política económica e social389, estes autor defende,
salientando, porém, que as motivações subjacentes podem ser da mais diversa ordem, tais
como:

Ideológicas (v.g., nacionalizações decorrentes de um programa revolucionário de índole


colectivista ocorreu 1975);

Intervencionismo Económico; no caso angolano o que aconteceu com as Nacionalizações


de 1975 no período pós independência que culminou com as nacionalizações e confisco de
todo activo do parque habitacional e comercial, até então pertencentes e abandonado pelos
colonos (v.g., para colmatar falhas de Mercado);

Punitiva (v.g., em Angola a nacionalização da COTONANG, DIAMANG, NGOL e etc. e na


Europa pós guerra a nacionalização da Renault na França);

Retaliatórias (v.g., nacionalização, com diz o Prof. ALVES PARDAL, - sem indemnização das
acções detidas por um Estado terceiro numa Empresa no caso empresa de direito angolano
em retaliação de idêntica medida tomada por esse Estado sobre acções detidas pelo Estado
angolano); em Angola aconteceu em 1975, com algumas situações dos portugueses;

Afirmação na Cena Internacional (v.g., nacionalização do Canal de Suez por parte do


Egipto) e para evitar uma falência técnica de uma Empresa relevante na economia de um
País, no caso menos perene de intervenção do Estado angolano no Banco Espírito Santo
Angola (BESA) para evitar colapso financeiro e risco sistémico com efeitos de contágio no
sistema financeiro angolano.

Em Portugal, a nacionalização do Banco Português de Negócios (BPN), em 2008, pode ser


vista no contexto do risco sistemático390. Em Angola a intervenção do Estado no Banco
Espírito Santo Angola (BESA), que transformou-se num novo Banco; designado de «Banco

388 Apud, AAVV, PARDAL, PAULO ALVES, - Direito da Economia Vol. I. editora AAFDL. Lisboa 2014. Pág. 172-
174.
389 Ibidem. Pág. 172.
390 Ibidem. Neste sentido explica o lustre Prof. Doutor ALVES PARDAL, que ao que tudo indica, o BPN

encontrava-se envolto em irregularidades que o conduziram a consideráveis perdas ocultas, tudo isto ainda,
aliando ao manifesto receio parte do Governo português de um efeito de contagio sobre o sector bancário
nacional a braços com especiais preocupações no contexto de uma crise financeira internacional despoletada
no ano anterior, “por motivos de excepcionais e especialmente fundamentados, tal se revele necessário para
salvaguardar o interesse público”, o que se traduz numa porta aberta à actuação do executivo nesta matéria,
isto não obstante deverem ser observados “princípios da proporcionalidade, da igualdade e da concorrência”
em cada nacionalização, podem ser objecto de apropriação pública, por via de nacionalização, no todo ou em
parte, participações sacias de pessoas colectivas privadas, escapando, assim, os bens e patrimónios. Com
efeito, em tese, podem existir duas modalidades de transferência da esfera privadas para a esfera pública por
via de nacionalização: uma opera-se a transferência de participações sociais pelo que se mantem a estrutura
empresarial (como todo o seu património), alterando-se, assim, a titularidade das participações sociais;
noutra a transferência incide sobre bens, direitos e obrigações.
195
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Económico»391, suportado pelos activos do Estado mas mantido alguns accionista do antigo
Banco, isto, transcreve-se, segundo a ideia cunhada pelo Prof. de Lisboa, ALVES PARDAL,
(…) podem existir duas modalidades de transferência da esfera privada para a esfera
pública por via de nacionalização: uma opera-se a transferência de participações sociais
pelo que se mantém a estrutura empresarial (com todo o seu património), alterando-se,
assim, a titularidade das participações sociais; noutra a transferência incide sobre bens,
direitos e obrigações (…)392.

Posto isso, retira-se deste excurso de exposição telegráfica, e que, cumpre-nos, todavia, no
nosso entendimento dar antes uma noção de nacionalização para melhor compreensão,
assim sendo, define-se como, - “uma forma directa e imediata de intervenção do Estado na
Economia que consiste no acto de soberania mediante o qual se transfere a propriedade e
bens vitais dos particulares para economia estatal, com a simultânea transferência, ou
modificação da respectiva gestão por razões de política social e do interesse público” 393. Ou
seja, como queiram entender neste aresto, é transferência de titularidade e gestão da
propriedade privada para esfera jurídica do Estado revestido por acto de soberania de
forma de Lei no sentido formal, nos termos permitidos pela Lei fundamental de magnitude
económica de Angola; (art. 97º, da CRA) e legislação ordinária; (Lei nº 3/76, de 3 de Março,
designada de Lei dos Confiscos e Nacionalizações).

Uma outra questão que deve merecer atenção especial nesta sede, prende-se com a figura
económica da irreversibilidade das nacionalizações. Pelo que na antiga Lei Constitucional
consagrava no seu art. 13º, da LC, curiosamente, o legislador não hesitou em reconduzir o
princípio da irreversibilidade das nacionalizações que na monta projecta-se de modo
reputado no art. 97º, da CRA, reporta-nos que:

- «São considerados e irreversíveis todos os efeitos jurídicos dos actos de nacionalização e


confisco praticados ao abrigo da Lei competente, sem prejuízo do disposto em legislação
específica sobre as reprivatizações».

Significa este preceito legal, que já não perante um amplo princípio de irreversibilidade das
nacionalizações, mas também para a salvaguarda da validade e da eficácia dos actos de
nacionalização e confiscos operados no passado que constituem o núcleo duro da revolução
de 1975; não mais nacionalização com um fim-função de construção do socialismo, mas sim
no âmbito do intervencionismo do Estado por questões económicos pertinente de interesse
público e estratégico.

Este princípio da irreversibilidade é limitado pela imposição de um outro novo princípio


das (re) privatizações, incorporado na ultima parte do art. 97º, da CRA.

391 Em Portugal designa-se de Novo Banco.


392 Ob. Cit. Pág. 143.
393 A nossa construção, e, o mesmo sentido Cfr. ABRANTES, MARIA LUÍSA, - As Privatizações em Angola,

editora Multitema, 2009, Pág. 43.


196
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Estamos pois perante princípios opostos para cuja aplicação o intérprete terá de lançar
mão às técnicas avisadas de interpretação jurídica 394.

Portanto, seja como for, o instituto das nacionalizações no figurino do normativo


constitucional apresenta-se numa tríade art. 97º, da CRA. Ínsito “irreversibilidade das
nacionalizações e confiscos”.

Na primeira as nacionalizações visam preservar a validade e a eficácia dos actos jurídicos e


as conquistas económicas alcançadas à luz da Lei nº 3/1976, de 3 de Março, sob titulo Lei
das nacionalizações e confisco;

Na segunda as nacionalizações sevem de válvula de segurança do sistema económica


conservando as nacionalizações já efectuadas e projectar as novas nacionalizações aí onde
for necessário (neste ultimo serve como norma vigilante do comportamento dos agentes
económicos perante o sistema económico estabelecido na ordem económica Angolana), e;

Por último depois das nacionalizações abre-se o escape de desregulação para privatizações
e reprivatizações.

8.4. Efeitos Jurídicos das Nacionalizações


Os efeitos das nacionalizações podem distinguir-se em efeitos nucleares, ou centrais e
efeitos periféricos cuja sede legal é representado pelos art. 6º a 9º da Lei nº 3/76, de 3 de
Março.

8.4.1. Efeitos Centrais


(i) Aquisição Originária

Ainda que a Lei o não contemple expressamente, este efeito estaria implícito na natureza
do acto de nacionalização, ou pelo menos em cada acto casuístico de nacionalização. A Lei
nº 3/76, de 3 de Março, prevê expressamente que: “os direitos relativos aos nacionalizados
consideram-se transmitidos para o Estado para todos efeitos legais, independentemente de
quaisquer formalidades, ónus ou encargos que sobre eles impendam”.

Esta transferência “ope legis”, para o Estado de direitos dos ex-titulares dos bens objecto de
nacionalização, representa uma aquisição originária de direitos reais e não derivada, pois
não depende da existência de um direito real anterior.

(ii) Regime de Gestão

Um outro efeito central das nacionalizações é a alteração do regime de gestão a que


estavam os bens nacionalizados - antes sujeitos ao regime de direito privado, e depois, a
um regime de gestão pública.

394 Poisque a figura da privatização, pode ser entendida no sentido amplo, que a é transferência por alienação
total ou parcial da Empresa ou de bens do Estado, e sentido restrito, é entendido como reprivatização, como
já dissemos que é a transferência da propriedade do Estado nacionalizada e voltar para esfera dos
particulares.
197
Manual de Direito Económico Francisco Mário
8.4.2. Efeitos Periféricos
O objecto das nacionalizações limita-se exclusivamente aos bens das empresas. Assim, os
efeitos periféricos referem-se a parte ou o todo da universidade dos bens, direitos e
obrigações que a empresa representa na ordem jurídico-económica. Qualquer modo,
podemos distinguir assim, quatro efeitos periféricos:

(i) Efeitos em relação a ex-Empresa privada;


(ii) Efeitos em relação aos ex-titulares da Empresa;
(iii) Efeitos em relação à nova Empresa, e;
(iv) Efeitos em relação aos trabalhadores.

8.4.3. Efeitos em Relação à Ex-Empresa Privada


Nos termos do art. 7º, da Lei nº 3/76, de 3 de Março, - «os órgãos sociais das sociedades
nacionalizadas serão dissolvidas na data da respectiva nacionalização». Equivale isto dizer
que os órgãos sociais constituídos nos termos da legislação comercial, estando dissolvidos,
ope legis, perdem toda a legitimidade para exercerem as suas funções legais e estatutárias.
Consequentemente, todo o activo e passivo da ex-Empresa privada, é também transferido
para o Estado, pelo que o efeito regra é o da constituição de uma nova entidade jurídica e a
dissolução, ipso iure, da sociedade de direito privado, salvo nos casos em que, nos termos
gerais da Lei nº 3/76, de 3 de Março (art. 7º, nºs 2 e 3), as sociedades mantenham a sua
personalidade jurídica.

Um exemplo característico de casos em que as sociedades mantêm a sua personalidade


jurídica é o caso do Banco Comercial de Angola, confiscado pela Lei nº 70/76, que se limitou
a alterar-lhe a denominação para Banco Popular de Angola, e, mais tarde de BPC,
continuando a reger-se pelas disposições legais e estatutária vigentes na parte em que não
contrariassem o disposto naquela Lei.

8.4.4. Efeitos em Relação aos e Ex-Titulares; o Direito à Indemnização


Com a dissolução dos órgãos sociais e com a consequente transmissão para o Estado dos
bens nacionalizados, os sócios das Empresas nacionalizadas, perdem todos os seus direitos
de sócios. Como reverso da parda da qualidade de sócio, estes ganham uma expectativa de
indemnização. (Remetemos esta matéria para o ponto acima estudado).

8.4.5. Efeitos em Relação à Nova Empresa


Viu-se anteriormente, que em relação a ex-Empresa privada pode-se verificar um efeito
alternativo: o da manutenção da personalidade ou o da dissolução desta. Aqui, cumpre
destacar os efeitos mediatos num caso e noutro.

No caso de manutenção da personalidade jurídica da Empresa privada, cumpre destacar


que essa continuidade se dá com uma implícita alteração dos seus estatutos,
nomeadamente, quanto ao elemento pessoal da sociedade comercial e quanto aos órgãos
sociais.

198
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Quanto ao elemento pessoal este vê-se reduzido a um único sócio o Estado, – se e enquanto
não forem integrados outros sócios. Trata-se de um caso de sociedade unipessoal
consentida pela legislação sobre nacionalizações, ao arrepio da legislação comercial.
Todavia, esta sociedade unipessoal continua a ser regida pela legislação comercial em tudo
que não contrarie aquela legislação.

Resulta assim que, rigorosamente, neste caso, não se está perante uma nova Empresa, mas
sim perante uma pessoa jurídica com alteração em alguns dos seus elementos estruturais.

Em caso de dissolução, ope legis, da sociedade, constitui-se em regra uma nova Empresa
estatal.

8.4.6. Efeitos em Relações aos Trabalhadores


Os trabalhadores da ex -Empresa privada permanecem com os seus vínculos laborais
incólumes porque transferidos para a nova Empresa (em caso de criação de uma nova
Empresa). Equivale isto dizer que eles continuam a sujeitar-se, ainda que transitoriamente,
à legislação laboral que até à nacionalização regeu as suas relações com a Empresa
nacionalizada.

Portanto, importa assinalar que além das nacionalizações temos outras figuras afins das
nacionalizações que em seguida vamos abordar.

8.5. Figuras Afins das Nacionalizações

8.5.1. Confisco
O Confisco - é uma figura jurídica similar até certo tempo à nacionalização, mas tem um alto
pendor punitivo (art. 3º, nº 3/76, de 3 de Março). Por isso é considerado como uma figura
afins as nacionalizações por fundar-se precisamente no Direito Penal Económico na
panóplia dos temas de intervenção estadual concreta unilateral que incide sobre os bens
patrimoniais abandonados pelos Agentes Económicos.

O confisco de ponto de vista histórica precisamente o Direito Romano, aparentava como


sanção em circunstancias diversas sacrificava-se património do condenado ao beneficio da
fazenda (tesouro público). Porém, no inicio “confiscus” destinava-se punir os pecados à
divindades, e mais tarde com o código de justiniano serviu como pena acessória das penas
politicas que alem de ser condenado politicamente também podia perder os bens que era
titular.

Em Angola Lei do confisco foi inspirado na ordem jurídica argelina dos biens vacants, como
devolução ou perda para o Estado de bens patrimoniais abandonados.

199
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Já no Direito Francês no período medieval servia como penas parcelares no concurso real
das penas, isto é, servia como pena principal (como matéria de usura) e como pena
acessória (no caso de rapto, homicídio, adultério)395.

Nesta ordem de ideias, o confisco, consiste na intervenção indirecta do Estado sobre a


economia que se vai caracterizar na perda dos bens titulados pelos particulares a favor do
Estado soberano, (art. 97º, da CRA e Lei nº 3/76, de 3 de Março, Lei dos Confiscos e
Nacionalizações, Lei nº 43/76)396.

O confisco tem natureza de um acto administrativo praticado sob forma de Lei material
susceptível de ser impugnado por inconstitucionalidade.

8.5.2. Expropriação por Utilidade Pública


A Expropriação por Utilidade Pública é um acto através do qual uma entidade pública exige
dos cidadãos, ou Agente Económico a cessão de um bem (geralmente imóveis, terreno),
mediante uma indemnização com a finalidade de ser utilizado para a satisfação de
interesses colectivos, nos termos do art. 37º, da CRA e art. 1308º e 1310º, do CC., (Lei nº
2030/1948, de 22 de Junho e Lei nº 20:034, de 10 de Outubro de 1942 397 e Decreto nº
578/70, de 19 de Novembro), e projecta-se uma Lei nova para efeitos para conformar-se
com quadro constitucional de 2010.

Este instituto aproxima-se as Demolições Administrativas e por vezes confunde-se.

Daí cumpre-nos notar, todavia, esclarecer que na expropriação é uma cessão da


propriedade que se funda no título registral válido de propriedade privada, enquanto, as
Demolições Administrativas funda-se no poder de autoridade da Administração Pública
com vista a repor a legalidade de ordenamento do território urbano, em função de
ocupação e construção não autorizada pelo Estado nos termos do Decreto nº 278/ 71, de
23 de Junho, pois que, por vezes há demolições como acto de execução material como
consequência lógico da expropriação de um prédio (limpar o terreno) e há demolições com
dupla vertente, primeiro como acto formal de actuação do Estado através de uma ordem
(despacho, edital, portaria) da Administração que vise pôr o fim aquela ocupação ilegal e
lesiva o património do Estado, e, no segundo plano é a materialização da ordem que vai
consistir num conjunto de operações multi-sectorial da Administração Económica em
respeito aos direitos fundamentais e figuras a fins.

Portanto, neste plano de demolições por regra não há direito subjectivo de indeminização
para os não portadores de títulos de propriedade, quando muito, haverá para as populações
evacuadas e dos imóveis demolidos o direito à uma compensação de um terreno e materiais

395 Cfr. AV. DOMINGOS FRANCISCO JOÃO/QUEIROZ, FRANCISCO - Direito Económico de Angola, Zoe, 2018.
Pág. 284.
396 Vide o Acórdão Tribunal Supremo de Angola Proc. nº 103/2004, sobre anulação do despacho de anulação

do confisco por ilegalidade.


397 Este diploma, republica a Lei de 26 de Julho de 1912, e estabelece as regras a seguir para Expropriação

para Utilidade Pública.


200
Manual de Direito Económico Francisco Mário
de construção, e que por maioria da razão não deveria ter, pelo que deve ser penalizado
com uma coima398, pois que, ao demolir a propriedade ilegal399, o Estado está actuar de
modo sancionar negativamente o particular que transgrediu a Lei económica de terras,
concessões de direito de superfície e de ordenamento do território angolano, ou seja, o
particular que ocupou o bem do Estado sem prévia autorização, que, vai constituir uma
transgressão administrativa económica, nos termos da al. h) do art. 9º, da Lei nº 12/11, de
16 de Fevereiro, Lei das Transgressões Administrativas e demais leis de Ordenamento do
Território.

8.5.3. Reversão
A Reversão - consiste na transferência dos bens dos particulares para esfera patrimonial
do Estado em função da extinção do organismo ou pessoa colectiva, ou por “rés nullium”,
abandono, o seu património reverte-se à favor do Estado, vide art. 166º, do CC e art. 11º,
do Decreto Presidencial nº 92/2016, de 4 de Maio, Regulamento de Aquisição Gestão e
Abate da Frota de Veículos Automóveis do Estado, art. 12º, do Decreto Presidencial nº
177/10, de 13 Agosto, Instruções de inventariação dos Bens Patrimoniais Públicos, art. 47º
e 52º, da Lei das Águas, Lei nº 6/02, de 21 de Junho.

Portanto, a Reversão pode ser entendida como restituição de bens ao primitivo


proprietário quando ao pedido deste, ou seus herdeiros, verificando-se sempre que estes
bens não tenham sido usados com fim cuja utilidade justificou diante a caducidade do
direito que deu a sua origem.

8.5.4. Requisição Administrativa Versus Requisição Civil

Ao longo da história da Administração este instituto tem servido como um instrumento


utilizado para intervir na esfera dos Agentes Económicos naquelas situações de emergência
administrativa (em tempo de crise) para prossecução do interesse público.

Pois bem, em termos conceituais, a Requisição Administrativa ou Civil consiste num acto
pelo qual em casos excepcionais legalmente previstos, em que uma autoridade pública
exige dos cidadãos mediante indemnização a prestação de certos serviços à cessão de
coisas móveis ou utilização temporárias de certos bens para ocorrer às necessidades
ingentes, art. 37º, da CRA; art. 1309º e 1310º, do CC e do Decreto-Lei 36:284, de 17 de Maio
de 1947. Porém, importa assinalar os acontecimentos recentes da pandemia Covid -19, nos
termos do Decreto Presidencial nº 81/20, de 25 de Março, estabelece ipso iuris no nº 3, do

398 Não se aplica de facto e não Direito, por falha do regulador daí que, por questões de política social e para
evitar tensões de convulsões ásperas o Estado tende de conciliar no plano de redistribuição da riqueza por
via de auxílio do Estado que é uma prática anti-concorrencional no Mercado imobiliário.
399 Estes factos de demolições aconteceu na Província da Huíla e no corredor da linha férrea dos Caminhos-

de-Ferro de Moçâmedes em que eram confundidos com a expropriação para utilidade pública enquanto os
expropriados muitos deles, nem todos, não tinha título de propriedade dai que as suas pretensões em
tribunais de justiça foram julgados improcedentes.
201
Manual de Direito Económico Francisco Mário
art. 2º do citado diploma legal, a possibilidade de requisição de direitos de propriedade e
de iniciativa económica privada, para prossecução do interesse público.

Portanto, é um mecanismo administrativo (unilateral não receptício) de intervenção


jurídica na esfera dos Agentes Económicos que ordem jurídica autoriza ao Poder
Económico investidos de poderes de autoridade por acto administrativo primário
executório e definitivo que só de per si, ou quando muito através de uma decisão judicial
produzir efeitos de Direito que inelutavelmente se impõe na esfera do Agente Económico
requerido400.

8.5.5. Repatriamento Coercivo e Perda Alargada de Bens.

8.5.5.1. Razão de Ser.

O Repatriamento Coercivo e Perda Alargada de Bens é pois, uma figura nova que visa
essencialmente resgatar os bens do Estado que foram indevidamente transferido para
esfera patrimonial dos Agentes Económicos dentro do País e no exterior.

Porque, após do Poder Executivo ter deparado com um balanço patrimonial e financeiro
deficitário resultante da gestão da coisa pública irregular do regime anterior, ensaiou
através de Lei medida com respaldo dos representantes dos Agentes Económicos na
Assembleia Nacional, mas foi devidamente escrutinado tendo sido aprovada por maioria
dos representantes dos Agentes Económicos do Partido que suportam os Poderes Públicas
da Administração Económica e, em prima facie, como dizia, foi efectivamente aprovada uma
Lei de tipo clemencia económica e financeira temporária, Lei nº 9/18, de 26 de Junho, Lei
de Repatriamentos dos Recursos Financeiros, que de algum modo possibilitava os Agentes
Económicos detentores de fortunas surripiados na esfera patrimonial do Estado para que
pudessem restituir voluntariamente o indevido naquele prazo de seis (6) meses indicado
pela já mencionada Lei ordinária.

Acontece porém, a lide dos Agentes Económicos em voga não realizou o reclamado pelo
novo Poder Económico saído das eleições gerais de 2017. Foi assim que o legislador
angolano produziu a Lei nº 15/18, de 26 de Dezembro, Lei de Repatriamento Coercivo de
Capitais que visa essencialmente fazer recuperar os activos que o Estado ficou sem eles a
aquando da gestão improbe dos agentes administrativos no passado recente.

8.5.5.2. Natureza jurídica

A classificação do instituto em análise afigura-se ortodoxa, visto que algum sector ou como
facilmente se observa sem mas tivergersões, entendem que esta matéria devia ser estudado
no âmbito do Direito Penal, excluir-se-ia o Direito Económico, pois o rácio essendi da

400 Nosso realce.


202
Manual de Direito Económico Francisco Mário
doutrina e da norma visa rigorosamente sancionar os Agentes Económicos que se
locupletaram indevidamente dos bens patrimoniais económico-financeiros do Estado.

Mas esta visão escamba-se na medida que existe uma intrínseca relação jurídico -
económico entre o Agente Económico e Poder Económico, cujas consequências influenciam
o Mercado e a concorrência. Daí, deve ser examinada na perspectiva heterodoxa por
comportar matérias económicas e criminais cujo desígnio de estudo reputa-se
hodiernamente no plano do Direito Penal Económico.

Assim, o Repatriamento Coercivo de Capitais e Perda Alargada de Bens tem natureza mista
ou hibrida, porque é um crime subjacente por via disso tem pendor económico punitivo –
em sede dos crimes económicos e nada obsta que seja tratado nesta sede ou
interdisciplinar.

203
Manual de Direito Económico Francisco Mário
CAPITULO IX - O SECTOR EMPRESARIAL PRIVADO DA ECONOMIA

9.1. Considerações Gerais

O Sector Privado da economia compreenderá numa dimensão restrita apenas os bens de


produção cuja propriedade é titulada e gerida pelas Empresas Privadas, sob forma
societária (art. 8 º, da Lei nº 1/04, de 13 de Fevereiro (LSC)401 e o art. 2º, da Lei nº 19/12,
de 11 de Junho, LSU), ou em nome individual e, em sentido lato, compreenderá também as
Empresas Participadas.

As sociedades comerciais são estruturas típicas da Empresa nas economias de Mercado,


desenvolvem actividade económica lucrativa. Embora a Empresa passa revestir outras
formas jurídicas, como seja a Empresa Pública, as Cooperativas, o estabelecimento
individual ou agrupamentos de Empresas, fundações e associações.

De acordo com normativo do Código Civil angolano trata a sociedade como um contrato de
sociedade nos termos do disposto no art. 980º, do CC, pois as Sociedades Comercias são
também pessoas jurídicas (art. 5º, da LSC) que tem como necessariamente por objecto a
prática do acto do comércio revestido em actos de natureza objectiva e subjectiva, ou seja,
desenvolve certa actividade económica empresarial em comum destinada à produção,
distribuição e comercialização de bens serviços de consumo, que não seja mera fruição, cuja
finalidade é o lucro económico.

9.2. Tipologia das Sociedades Comerciais


Nos termos do art. 2º, da LSC, prevê um “numerus clausus”, ou o princípio da tipicidade que
se afigura nos tipos de legais de sociedades.

A tipologia das sociedades no ordenamento jurídico angolano à luz da Lei nº 1/04, de 13 de


Fevereiro, definido no art. 2º, da LSC, são as seguintes:

Sociedades por comandita por acções; (Comanditas por Acções) art. 201º, da LSC e
Sociedades por comanditas simples; (Comanditas Simples) art. 201º, da LSC.

Sociedades em nome colectivo; (& Cª., ou Companhia) art. 176º, da LSC;

Sociedades por quotas; (Lda.), art. 217º, da LSC;

Sociedades anónimas; (S.A.) art. 301º, da LSC.

Sociedades coligadas ou cooperativas, art. 464º, da LSC.

Sociedades comerciais unipessoais Lei nº 19/12, de 11 de Junho e estas classificam-se nos


termos do art. 2º, as seguintes tipologias de sociedades:

401 LSC- Lei das Sociedades Comerciais.


204
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Sociedades por quotas (Lda. «SU»).

Sociedades anónimas (S.A. «SU»).

Nos termos do art. 2º, da LSC, as sociedades que tenham por objecto o exercício de uma
actividade comercial têm de adoptar um dos tipos previstos no Código. Vigora aqui o
princípio da tipicidade ou do “numerus clausus”.

Mas, a limitação à liberdade negocial decorrente do princípio da tipicidade não exclui a


adaptação de cada tipo às necessidades e condições concretas de cada projecto
empresarial.

Na verdade, se bem que a regulamentação de cada um dos tipos seja praticamente


exaustiva, as normas que a compõe têm natureza diversa. Há normas imperativas,
nomeadamente aquelas essenciais caracterizadoras do tipo e as destinadas a proteger
interesses de terceiros, particularmente de credores e investidores, assim como aquelas
que expressamente não admitem cláusulas em sentido diverso402.

Mas também existem normas supletivas ou dispositivas, devendo notar-se que, os termos
do art. 10º, n º 4, os preceitos dispositivos “só podem ser derrogadas pelo contrato de
sociedade, a não ser que este expressamente admita a derrogação por deliberação dos
sócios”.

As sociedades que tenham exclusivamente por objecto a prática de actos não comerciais
podem adoptar um daqueles tipos, ficando sujeitas à Lei comercial. São as sociedades civis
sob forma comercial.

Vejamos, de seguida, quais os tipos de sociedades comerciais previstos na LSC., as razões


que podem determinar a sua escolha, em que consiste a limitação da responsabilidade.

9.2.1. As Sociedades em Nome Colectivo (Cª & Companhia)

São chamadas sociedades de responsabilidade ilimitada por os sócios poderem responder


pessoalmente com todo o seu património pelas dívidas da sociedade, depois de esgotado o
património desta (art. 176º, n º1, da LSC).

São também chamadas “sociedade de pessoas”, por contraposição a “sociedades de


capitais”, por o factor pessoal ter importância preponderante, até porque todos os sócios
são solidariamente responsáveis perante terceiros pelas dívidas da sociedade.

Em consequência, a sociedade é “fechada” no sentido de que as partes sociais só podem ser


cedidas com o consentimento unânime dos sócios (art. 184º, n º 1 da LSC) e mesmo a
transmissão “mortis causa” não é automática (art. 186 º, da LSC).

402Cfr. ALMEIDA, ANTÓNIO PEREIRA DE, - Direito Angolano das Sociedades Comerciais, com a colaboração
de Fátima Freitas, Advogados em Associação com Miranda Correia Amendoeira & Associados, 2ª Edição,
Coimbra Editora 2012, Pág.16 e ss.
205
Manual de Direito Económico Francisco Mário
A vantagem económica destas sociedades é fundamentalmente o mais fácil acesso ao
crédito por causa da responsabilidade ilimitada dos sócios.

9.2.2. As Sociedades por Quotas (Lda.)

São, de longe, o tipo societário mais utilizado na prática por corresponder à estrutura típica
da pequena e média Empresa.

A sua característica principal é a elasticidade do regime jurídico constituído por grande


número de disposições supletivas, que podem ser afastadas pelo estatutos, ajustando a
sociedade às necessidades concretas de cada Empresa, nomeadamente aproximando-a das
sociedades de pessoas dificultando ou, mesmo, impedindo a transmissão das quotas, ou
optando por modelo mais próximo das sociedades de capitais com livre transmissibilidade
das quotas403.

Ao contrário das sociedades em nome colectivo, são sociedades de responsabilidade


limitada, porquanto os sócios não respondem pelas dívidas da sociedade, salvo se
constituírem garantias, mas são solidariamente responsáveis pela realização integral do
capital social.

9.2.3. As Sociedades Anónimas (S.A.)

São o tipo característico das Empresas de maior dimensão. O seu capital mínimo
corresponde ao montante em Kwanzas equivalente no valor de USD 20.000,00 e deverão
ter, em princípio pelo menos, 5 accionistas. Os accionistas respondem apenas pela
realização das acções de que são titulares.

Porque é uma sociedade de capitais pura, as acções são, em princípio, livremente


transmissíveis, embora a transmissão de acções nominativas possa estar sujeita a
restrições.

A sua estrutura orgânica também é mais pesada, sendo sempre necessário um perito
contabilista ou contabilista efectivo e outro suplente e uma Mesa de Assembleia Geral.

Contudo, a orgânica social das S.A. é do tipo das Empresas Públicas, que é constituído por
um corpo sociais colegiais e unipessoais executivos e fiscal.

Assim, os órgãos sociais colegiais são Assembleia Geral dos Accionistas, Conselho da
Administração e Conselho Fiscal. Entretanto esses órgãos colegiais são presididas pelos
órgãos unipessoais, em primeiro lugar pelo Presidente da Mesa da Assembleia Geral –
órgão não executivo, no segundo pelo Presidente do Conselho da Administração (PCA) -
órgão executivo e em terceiro e ultimo o Presidente do Conselho Fiscal. Podendo Conselho

403ALMEIDA, ANTÓNIO PEREIRA DE, - Direito Angolano das Sociedades Comerciais, com a colaboração de
Fátima Freitas, Advogados em Associação com Miranda Correia Amendoeira & Associados, 2ª Edição,
Coimbra Editora 2012, Pág. 16 e ss.
206
Manual de Direito Económico Francisco Mário
da Administração ser composta pelos Director Geral e Directores de áreas técnicas, ou
Administradores Executivos e não Executivos das áreas e um Presidente do Conselho Fiscal
podendo também ser coadjuvado pelo um Vice-Presidente do Conselho Fiscal e vogais.

9.2.4. As Sociedades em Comandita (Comanditas Simples e por Acções)

São um tipo misto em que existem sócios de responsabilidade ilimitada – os sócios


comanditados – e sócios de responsabilidade limitada – os sócios comanditários.

As sociedades em comandita podem revestir a forma de comandita simples ou comandita


por acções. Não desenvolveremos este tipo societário, dado só existir inexpressivamente
um número reduzido destas sociedades no ordenamento jurídico angolano.

207
Manual de Direito Económico Francisco Mário
CAPITULO X – SECTOR ECONÓMICO COOPERATIVO

10.1. Origem e Evolução Histórica

De ponto de visto histórico, o movimento cooperativista teve início na Europa


precisamente na Inglaterra, França e Alemanha e mais tarde na Itália no século XIX, como
uma forma alternativa do Mercado liberal.

Na Inglaterra este movimento cooperativo deveu-se a intensificação de luta dos


trabalhadores, durante o movimento cartista, em pleno regime de economia liberal, com a
fundação da Sociedade dos Probos Pioneiros de ROCHDALE (Rochdale Society of Equitable
Pioneers), em 1844404.

Já na França, despoletou o movimento das cooperativas de produção. Não menos


importante que o movimento inglês, embora não com o mesmo sucesso, o movimento
francês teve participação marcante na consolidação do movimento cooperativista no
mundo405.

Por seu turno na antiga Prússia (Alemanha), foram constituídas, a partir de 1849, as
cooperativas de crédito e de consumo406.

O movimento cooperativo voltou-se para os pequenos produtores urbanos e para os


artesãos, pois que, este novo modelo societário contrapunha-se ao capitalismo,
sustentando-se em evidência ante os modelos societários capitalistas então existentes.

Cooperativismo é a doutrina que preconiza a colaboração e a associação de pessoas ou


grupos com os mesmos interesses, a fim de obter vantagens comuns em suas actividades
económicas cujo fundamento é progresso social da cooperação e associação, bem como, o
auxílio mútuo segundo o qual aqueles que se encontram na mesma situação desvantajosa
de concorrência mercantil conseguem, pela soma de esforços, garantir a sobrevivência.

Entretanto, como fenómeno económico e social, o cooperativismo temo como escopo de


actuação de reduzir os custos de produção, obter melhores condições de prazo e preço,
edificar instalações de uso comum, enfim, interferir no sistema económico em vigor à
procura de alternativas a seus métodos e soluções.

404 Vide site da internet.www.zemoleza.com.br/.../humanas/direito/origem-das-cooperativas, consultada


dia 20/4/2016.
405 BENJAMIN BUCHEZ (1776-1860) E LOUIS BLANC (1811-1882) criaram, além de cooperativas de

produção, associações de trabalhadores, nas quais os operários eram co-proprietários e co-administradores.


Ibidem
406 HERMAN SCHULZE (1808-1883) foi o fundador da Associação das Cooperativas Alemãs, em 1859. Vivia

na cidade de Delitzsch, na Alemanha, daí o nome do modelo cooperativista "SCHULZE-DELITZSCH". Ibidem.


208
Manual de Direito Económico Francisco Mário
10.2. Conceito, Objecto e o Fim das Cooperativas

O Congresso de Praga de 1948 definiu a sociedade cooperativa nos seguintes termos:

“Será considerada como cooperativa, seja qual for a constituição legal, toda a associação de
pessoas que tenha por fim a melhoria económica e social de seus membros pela exploração
de uma Empresa baseada na ajuda mínima e que observa os Princípios de ROCHDALE”407 .

As cooperativas são pessoas colectivas autónomas, de livre constituição, de capital e


composição variáveis, que, através da cooperação e entreajuda dos seus membros, com
obediência aos princípios cooperativos, visam, sem fins lucrativos, a satisfação das
necessidades e aspirações económicas, sociais ou culturais daqueles408.

Para se apreender todo o sentido do normativo constitucional com incidência cooperativa,


como defende RUI NAMORADO409, - há que valorizar-se a existência de vários sectores de
propriedade dos meios de produção, por ela ter como significado jurídico o facto de o
legislador constitucional ter encarado cada um desses sectores potencial gerador de uma
área normativa diferenciada. E é neste contexto importante saber como se repercute no
próprio plano normativo da CRA essa autonomia.

Num primeiro relance, verifica-se que às cooperativas lhes são atribuída uma especial
utilidade em Angola na actividade agrícola, pesca e de algum modo pouco significativo na
defesa do consumidor, na promoção habitacional (como bem lembra a cooperativa do lar
do Namibe, de Moçâmedes), sendo também mencionadas a propósito da educação e saúde.
Mas o que é decisivo é determinar o sentido global deste conjunto de normas, que está longe
de ser uma simples soma de preceitos dispersos e alheados uns dos outros, um leque de
mensagens normativas avulsas.

O cerne da ordem jurídico-constitucional do cooperativismo angolano é o facto de a


realidade cooperativa ser encarada como um sector de propriedade dos meios de
produção, ao lado dos sectores públicos e privado. Não se pode, portanto, deixar de reflectir
em torno do sentido dessa opção do legislador410.

A Constituição Cooperativa angolana deve pois repercutir-se no plano da legislação comum


em dois níveis. Por um lado, deve obviamente reflectir o que resulta directa e
expressamente dos preceitos constitucionais com incidência cooperativa. Por outro lado,
deve ser consonante, deve ser convergente com as mensagens normativas que resultam
dos princípios informadores da Constituição Cooperativa, incorporando a sua energia
normativa e a lógica deles resultante411.

407 Ibidem.
408 Ob. Cit. Pág. 181.
409 Ibidem.
410 Cfr. NAMORADO, RUI, - Introdução ao Direito Cooperativo, Almedina Editora, 2000, Pág. 131.
411 Cfr. NAMORADO, RUI, - Introdução ao Direito Cooperativo, Almedina Editora, 2000, Pág. 171-175.

209
Manual de Direito Económico Francisco Mário
As Cooperativas são definidas como pessoas colectivas autónomas, de livre constituição, de
capital e composição variáveis, que através da cooperação e entreajuda dos seus membros,
com obediência aos princípios cooperativos, visam, sem fins lucrativos, a satisfação das
necessidades e aspirações económicas, sociais ou culturais daqueles412.

Uma Cooperativa é uma associação autónoma de pessoas unidas voluntariamente para


prosseguirem as suas necessidades e aspirações comuns, quer económicas, quer sociais,
quer culturais, através de uma Empresa comum e democraticamente controlada 413, cuja
forma de constituição varia de acordo a tipologia da Cooperativa (art. 21º e ss, da Lei das
Cooperativas).

As Cooperativas baseiam-se nos valores de auto-ajuda, responsabilidade individual,


democrática, igualdade, equidade e solidariedade. Fieis à tradição dos seus fundadores, os
membros das cooperativas assumem os valores éticos da honestidade, transparência,
responsabilidade social e altruísmo414.

Como se vê, os valores em causa são explicitados em dois grupos distintos. O primeiro
projecta-se, em primeira mão, na actividade das cooperativas como organizações. O
segundo dirige-se directamente aos cooperadores enquanto tais.

Por último, a terceira tese, vendo uma profunda diferença qualitativa entre escopo
cooperativo e escopo lucrativo, qualifica a cooperativa como associação.

De tudo o que foi dito, pode, portanto, concluir-se que admitir que as Cooperativas podem
ter fins lucrativos é pôr em causa a sua identidade e a sua razão de ser, abrir caminho à
confusão, com riscos acrescidos de perturbar gravemente o desenvolvimento cooperativo.

Se as cooperativas, visam fins não lucrativos, à satisfação das necessidades e aspirações


económicas, sociais ou culturais dos seus membros, podendo ainda, a título complementar,
realizar operações com terceiros». Evitou-se deste modo qualificar unilateralmente as
cooperativas como associações ou sociedades comerciais415.

10.3. Os Princípios Constitucionais Estruturantes e Informadores das Cooperativas

Temos, pois, como certo que no espaço jurídico-constitucional do cooperativismo é


possível surpreender um conjunto de princípios, a partir dos quais se pode compreender
melhor a lógica desse território jurídico, designadamente:

10.3.1. Princípio da Coexistência -Traduz-se na garantia de que os três sectores de


propriedade dos meios de produção, reconhecidos no art. 92º, da CRA, convivem

412 Ob. cit. Pág. 181.


413 Ob. Cit. Pág. 187.
414 Cfr. POULSON, LAZARINO, - As Parcerias Público-Privadas, Almedina Editora, 2011, Pág. 28
415 Cfr. AVV. DOS SANTOS, ANTÓNIO CARLOS /GONÇALVES, MARIA EDUARDA/MARQUES, MARIA MANUEL

LEITÃO, – Direito Económico- 5ª Edição Reimpressão/2004, Pág. 67.


210
Manual de Direito Económico Francisco Mário
entre si, ou melhor, têm de conviver entre si. Significa, portanto que o sector
cooperativo e social é encarado e concebido como tendo de existir em conjunto
com os sectores público e privado.
10.3.2. O Princípio da Conformidade com a Identidade Cooperativa -Assumida
pela Lei ordinária e está patente na expressa exigência, inscrita no texto
constitucional, de que a prática das cooperativas obedeça aos princípios
cooperativos, dado estar adquirido pela doutrina que os princípios referidos pela
CRA são os adaptados pela Lei ordinária, (art. 5º e 12º, da Lei nº 23/2015, de 31
de Agosto, Lei das Cooperativas.
10.3.3. Princípio da Autonomia - Manifestar-se na divisão da área não-pública,
diferenciando, do que nela é autenticamente privado, um território normativo que
neste caso se designa como “cooperativo e social”, (art. 5º, al. d), e art. 9º, da Lei
das Cooperativas.
10.3.4. O Princípio da Unidade - Materializa-se no facto de as cooperativas serem
observadas pela CRA como um todo, isto numa primeira apreciação; numa
segunda linha, surge o outro conjunto de princípios, sem a mesma energia
estruturante dos anteriores, mas com importância idêntica, ex vi lege art. 5º, al. b)
e art. 7º, da Lei das Cooperativas.
10.3.5. O Princípio da Liberdade - O princípio da liberdade é um reflexo dos
princípios cooperativos, mas adquiriu uma força própria, através do nível em que
a CRA o situa. Os constituintes afirmam-nos com toda a força, quer no plano da
Constituição, quer no plano do funcionamento, quer no plano da organização 416,
(art. 5º, al. a) e art. 6º e 13º, da Lei das Cooperativas).
10.3.6. O Princípio da Protecção - Resulta de preceitos constitucionais que
expressamente o consagram, envolvendo a garantia de que o sector cooperativo e
social, nas suas duas vertentes, deve ser especialmente estimulado e protegido,
(art. 5º, al. b) e art. 7º, da Lei das Cooperativas.
10.3.7. O Princípio da Abertura - Traduz-se na consagração de um sector de
propriedade dos meios de produção que não se limita o ser cooperativo, uma vez
que também é social, ou seja, um “sector cooperativo social”, (art. 5º, al. e) e art.
10º, da Lei das Cooperativas.
10.3.8. O Princípio da Inter – Cooperação - Cuja menção autónoma pode até
parecer redundante, dado estarmos neste caso perante um dos princípios
formalmente consagrado pela Lei ordinária, (art. 5º, al. f) e art. 11º, da Lei das
Cooperativas.

10.4. Sectores da economia do Cooperativismo Empresarial

A Constituição angolana consagra o direito cooperativo como forma de titulação, ou seja,


acesso a propriedade e actividade económico, nos precisos termos do art. 92º, da CRA,

416 Ibidem.
211
Manual de Direito Económico Francisco Mário
como um instituto de Direito Económico e da coexistência sectores de propriedade, ou seja,
à forma como a propriedade em Angola pode ser titulada pelos Agentes Económicos.

Mas por conseguinte, esta actividade crismada como comunitária, por vezes societária ou
Empresa, entronca e tem o seu campo de eleição, como se denota, em três áreas de sector
da actividade, nomeadamente: agricultura, pesca e sector social. Daí, considerar que o
legislador consagrou com especial atenção um sector cooperativo, designadamente:

10.4.1. Sector Cooperativo do Empresariado do Sector Primário da Economia


O sector acima epigrafado tem maior enfoque organizacional nas actividades económicas
da agricultura e pesca, indústria, ou seja, o sector estruturante da economia primária, como
está descrito no art. 21º, da al. i), da CRA in fine e art. 38º, da CRA, e art.16º, a), da Lei das
Cooperativas.

10.4.2. Sector Cooperativo Social


As cooperativas do sector social vai ser aquela organização corporativa económica
que comporta o sector social da Saúde, nos termos consagrado no art. 77º, nº 2, da CRA,
Educação e Cultura, art. 79º, nº 3, da CRA, Ambiente, habitação art. 16 º, da Lei das
Cooperativas.

10.4.3. Sector Cooperativo de Comércio, Construção, Crédito, Consumo,


Transporte, Seguros e Serviços
O que compreende as actividades desencadeada pelas Cooperativas no sector secundário e
terciaria da economia de factores de produção, distribuição, comércio e consumo e
questões ambientes, vide, art.16º, da Lei das Cooperativas.

10.5. Classificação das Cooperativas


I - As cooperativas podem ser classificados de acordo um critério não rigorosamente típico
de organização natureza, mas que advém do critério do impulso ou fonte inspiradora
constitutiva da cooperativa, assim temos:

Cooperativismo Estimulado
Aquela que a sua constituição é impulsionado por movimento social, político e económico
que é externo ao pensamento dos seus fundadores.

Cooperativismo Espontâneo
Aquela que advém da criatividade ou iniciativa dos cidadãos com cultura associativa para
realizar uns dos fins económicos lucrativos ou altruístas com base no postulado
Cooperativo.

Cooperativismo Obrigatório
Consiste numa imposição legal que obriga os interessados caso queiram desenvolver uma
actividade económica lucrativa ou altruísta em regime de cooperativo e terem benefícios
decorrente da intervenção do Estado, constituírem cooperativas.

212
Manual de Direito Económico Francisco Mário
II - Entretanto o ordenamento jurídico cooperativo angolano desenhou através da Lei nº
23/2015, de 31 de Agosto, o “numerus clausus” do qual estão alicerçados a tipologia de
Cooperativas no critério jurídico-legal do formato organizacional e do objecto social,
nomeadamente417:

Cooperativas de Primeiro Grau


Que são constituídas por pessoas singulares e/ou colectivas, cujo objecto assenta na
prestação directa de serviços aos seus membros.

Cooperativas de Segundo Lugar ou de Grau Superior


Constituídos de uniões, federações ou confederações de cooperativas, cujo objectivo
assenta na coordenação, financiando, formação, orientação e organização produtivo em
maior escala dos serviços das suas cooperativas filiais, bem como na defesa e promoção dos
interesses das suas filiais perante instituições públicas.

Cooperativas Polivalentes
São aquelas que abrangem mais de uma área de actividade relacionadas ou conexas, desde
que estejam em organizadas por secções.

417 Vide o art.3º, da Lei nº 23/2015, de 31 de Agosto, Lei das Cooperativas.


213
Manual de Direito Económico Francisco Mário
CAPITULO XI – ACESSO ACTIVIDADE ECONÓMICA E DELIMITAÇÃO, RESTRIÇÕES E
RESERVAS PÚBLICAS

11.1. Introdução

Os direitos subjectivos económicos privados de acesso actividade económica lucrativa, em


regra não podem ser limitados e restringidos, mas dessa regra opera uma excepção
ventilada pelo princípio de Abuso do Direito418.

Porém, o instituto do Abuso do Direito está desenhado na Constituição, o que significa dizer,
no caso justificativo é admitido excepcionalmente ao Estado (tutela pública) e aos
particulares (tutela privada)419, fazer intervenções restritivas e limitativas420, dos direitos
económicos fundamentais em sede do Abuso do Direito.

Em caso e dúvida os direitos devem prevalecer sempre sobre as restrições (in dúbio pro
libertate), isto significa que as leis restritivas devem ser interpretadas senão
restritivamente, pelo menos sem recurso à interpretação extensiva e à analógica421.

Portanto, as limitações e restrições configuram-se na tríplice delimitação, nomeadamente:


reservas públicas, reservas relativas e reservas de controlo.

11.1.1. Reservas Absolutas

As reservas absolutas como consequência lógica da limitação do acesso aos direitos


económicos pelos Agentes Económicos, pois que identifica-se ou funda-se nos bens do
domínio público.

a) Domínio Público: Propriedade Do Estado Em Nome Da População

Na história de Angola afigura-se os bens dominiais da comunidade tribal e clãnica que eram
da pertença e uso da colectividade, insusceptível de apropriação individual por negócio
inter vivos ou mortis causa, destes bens avultam os caminhos públicos, prados de pastagem,
fauna e flora, caminhos públicos cemitérios, bebedouros de águas, nascentes de água, rios,
lagos e lagoas e etc.

Já no Direito comparado da antiguidade Romana vaticina-se que havia bens públicos


referenciados nos institutas, que incluíam as coisas comuns (res communes) e as coisas
universais (res universitatis) ao lado das coisas públicas (res públicas), isto é estradas,
canais de irrigação, pontes praças e etc.

418 Lei civil art. 334º, do CC.


419 É o caso da intervenção restritiva do direito de Retenção, art. 45º, da LGT.
420 Limite aos limites em última instancia tem como sua fonte de garantia à Lei vide art. 115º, da LGT. Ob. Cit.

Pág. 727 e ss.


421 Cfr. MIRANDA, JORGE, - Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, 5ª edição Coimbra editora 2012. Pág.

421.
214
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Na idade média não havia rigorosamente uma delimitação dos bens da classificação dos
bens do domínio público do reino ou do império devido o poder absoluto aristocrático
pessoalizado no Rei ou no Imperador.

Esta dificuldade levou a destrinça da titularidade entre os bens dominiais com finalidade
de interesse colectivo e do interesse aristocrático.

Daí, seguramente, a 1ª revolução fiscal na Inglaterra que veio estabelecer e consagrando na


celebre carta magna de 1615 de JOÃO SEM TERRA, a delimitação dos bens da coroa do
Reino Unido e os bens do Rei. Tendo por conseguinte, criado premissas que balizam os
Estados modernos na matéria de titularidade e classificação dos Bens do Domínio Público
e Bens do Domínio Privado do Estado.

Seja como for, entende-se como Bens do Domínio Público, - o conjunto de coisas que o
Estado, autarquias locais ou autoridades tradicionais aproveitam para a prossecução dos
fins, usando poderes de autoridade, ou seja, através do Direito Público, incluindo os bens
que se destinam ao uso de todos422.

Domínio Público – bens propriedade do Estado que são inalienáveis, imprescritíveis e


impenhoráveis, sem prejuízo da sua concessão temporária para a realização de fins de
interesse público, nos termos definidos no art. 95º, da CRA., e conjugado com os art.13º e
29º, da Lei de Terras, Lei nº 9/ 04, de 9 de Novembro.

Os Bens do Domínio Público são caracterizados de ponto de vista técnico como Bens
Impenhoráveis e Inalienáveis, isto é, não podem ser vendidos, nem apreendidos, nem
dados como garantia jurídica creditícia contratual ou extra-contratual do cumprimento das
obrigações art. 95º, nº 3, da CRA., art. 822º, e ss., do CPC., também os Bens do Domínio
Público são caracterizados como Imprescritíveis, isto é, não estão sujeitos a aquisição
originaria prescritiva “usucapião”, ou seja, não são usucapíveis – através do direito de posse
adquirido pelo uso prolongado, pelo que, a posse do Estado é legalmente inquestionável,
art. 95º, da CRA., art. 27º nº 3, 4 e 5, da Lei de Terras (LT).

São exemplos disso os seguintes Bens do Domínio Público:

 Zona marítima e espaço aéreo;

 Estradas e pontes, linhas férreas e suas estações, pontes e apeadeiros;

 Jazigos minerais, caminhos públicos;

 Aeroportos e aeródromos;

 Portos e cais;

422 Nosso.
215
Manual de Direito Económico Francisco Mário
 Barragens, represas, valas e canais;

 Redes de distribuição de água e energia eléctrica

 Nascentes de águas minerais e térmicas;

 Linhas telefónicas e telegráficas;

 Monumentos, museus nacionais e obras de artes;

 (...) e demais bens como tal classificados por Lei;

Entre os Bens de Domínio Público, está também o património cultural.

O património cultural é um conjunto de bens materiais e imateriais criados ou integrados


pelo povo angolano fundada na tradição africana criado ao longo da história que estão na
posse do Estado, todavia, deve preservá-lo devido à sua relevância para a definição da
identidade cultural angolana, como plaina a Lei nº 14/05, de 7 de Outubro, Lei do
Património Cultural.

Por exemplo: a estatueta do pensador de origem do povo “Lunda Tchokwe”, museu


nacional do Dundo, entre outros constituem marcas culturais de Domínio Público do Estado
angolano.

b) Os Bens do Domínio Privado de Utilidade Pública

São aqueles Bens de Domínio Privado do Estado que incidem sobre os direitos dos bens
móveis e imóveis que se encontram sob administração ou tutela de órgãos e instituições do
Estado, para o cumprimento das suas atribuições.

Os Bens de Domínio Privado do Estado estão, em princípio, sujeitos ao regime de


propriedade estatuído na Lei Civil, que serve para todos, art. 96º, da CRA., e art. 202º, n º1,
do CC.

São tomados como exemplos nesta sede: todos os móveis, imóveis e veículos que são
utilizados pelo Estado para cumprir as suas atribuições, como por exemplo, os cacifos, as
secretárias, o prédio da administração, o prédio da escola, as carteiras das salas de aulas,
os livros das bibliotecas, a motorizada dos serviços de supervisão, os Bens dos Institutos
Públicos e Empresas Públicas e etc.

Por conseguinte, destes, destacam-se os de uso especial, ou seja, aqueles que são
indispensáveis para a realização das actividades pelas instituições do Estado – sendo assim
inalienáveis e impenhoráveis. Pois que são Bens de Utilidade Pública, isto é, - são Bens de
Utilidade Pública -, aquelas coisa que tem aptidão para satisfazer as necessidades
colectivas, resultando exclusivamente da Lei. Por exemplo, equipamentos cirúrgicos são
bens de domínio privado de uso especial, pois são considerados de Utilidade Pública. A sua

216
Manual de Direito Económico Francisco Mário
gestão não pode depender de decisão administrativa, mas deve obedecer aos princípios do
direito do cidadão à saúde e à protecção social.

Portanto, a Lei indica uma prescrição configurado no art. 93º, da CRA. Porém, através desta
disposição legal, o legislador constitucional orienta quais das actividades económicas são
efectivamente vedadas a outros Agentes Económicos, nomeadamente:

- Produção, distribuição de material de guerra art. 11º, al. a), da Lei nº 5/02, de 16 Abril.

- Actividade bancária, respeitante às funções do banco central e emissor art. 93.º da CRA e
art. 3º, nº 1 e 6º, da Lei nº 16/10, de 15 Julho, Lei do BNA. E art. 11º, al. b), da Lei nº 5/02,
de 16 de Abril, Lei de Delimitação de Sectores da Actividade Económica.

- A propriedade das infra-estruturas relativas às actividades portuárias e aeroportuárias;


art. 11º, nº 2, al. c), da Lei nº 5/02, 16 de Abril.

- A propriedade das infra-estruturas que integram a rede básica de telecomunicações art.


11º, nº 2, al. d), da Lei nº 5/02, de 16 Abril.

Entretanto, dessas reservas absolutas nem é tudo é absolutamente vedado aos particulares,
ou seja, aos Agentes Económicos de Direito Privado, porque, por exemplo, o legislador
ordinário entendeu abrir a mão para fazer jus as eventuais participações dos particulares
neste Mercado Monopcioníca conforme o previsto na al. a), do art. 11º, da Lei nº 5/02, de
16 de Abril, isto é, a produção, distribuição e comercialização de material de guerra.

Porém, como já asseveramos o Poder Executivo angolano (o Governo) excepcionalmente


pode abrir a mão à esta actividade e ser desenvolvida por Empresas que resultam da
associação de sector público, em posição obrigatoriamente maioritária do capital social,
com outras entidades nacionais ou estrangeiros, desde que, disponham de exclusivos de
natureza tecnológica, ou detenham posição dominantes em Mercados Internacionais de
estrutura oligopolista em sector público que não tenham, por si só, capacidade de
penetração no Mercado angolano, nos termos do art. 11º, nº 3, da Lei nº 5/02, 16 de Abril.

Portanto, a reserva absoluta significa um acto normativo de limitação do acesso certas


actividades ou a titularidade de propriedade dos bens e serviços pertencentes ao Estado,
como já referimos.

11.1.2. Reserva de Controlo

Neste segmento, a ordem económica qualifica certas actividades económicas como


reservas de controlo do Estado por serem de interesse público geral, do consumidor e
direito ambiente da sociedade angolana de certos bens e serviços, e que, sua essencialidade
consubstancia-se na produção distribuição e comercialização de bens e serviços.

Contudo, o controlo pelos poderes públicos se impõe, conquanto, constituem reservas de


controlo do Estado as actividades económicas a seguir elencadas:

217
Manual de Direito Económico Francisco Mário
- Serviços básicos postais – art. 12º, nº 2 al. a), da Lei nº 5/02, de 16 de Abril.

- As infra-estruturas de dimensão local, quando constituem extensão de rede básica de


telecomunicações art. 12º, nº 2, al. b), da Lei nº 5/02, de 16 de Abril.

Portanto, a reserva de controlo que compreende as áreas acima destacadas podem ser
desenvolvidas por Agentes Económicos do sector público, ou sociedades participadas com
capitais do Estado onde detenha posição privilegiada ou dominante nos termos do art. 12º,
nº 1, da Lei nº 5/02, de 16 de Abril.

Conquanto que esta reserva de controlo pode ser enquadrada na excepção do acesso
actividade económica como restrições limitativas.

11.1.3. Reserva Relativa

Os afigura-se os Bens do Domínio Privado – são aqueles que incidem sobre os direitos dos
bens móveis e imóveis que se encontram sob administração, ou tutela dos órgãos e
instituições do Estado, para o cumprimento das suas atribuições que a princípio estão
sujeitos ao regime de propriedade estatuído na Lei civil, que serve para todos, ex vi lege art.
96º, da CRA., e art. 202º, nº 1, do CC.

Ora bem, são tomados como exemplos nesta nota: todos os móveis, imóveis e veículos que
são utilizados pelo Estado para cumprir as suas atribuições, como por exemplo os cacifos,
as secretárias, o prédio da administração, o prédio da escola, as carteiras dos alunos, os
livros das bibliotecas, os bens dos Institutos Públicos e Empresas Públicas e etc.

Contudo, o recuo do Estado, em bom rigor, não corresponde a uma verdadeira


«desintervenção», mas apenas a uma substituição de formas directas de intervenção
apostadas na figura do Estado produtor e até empresários por formas indirectas reportadas
a estas à mera fixação dos quadros normativos gerais de intervenção, mas sem dar ao
Estado a responsabilidade directa na produção.

A concessão da gestão de Empresas Públicas encarregados da gestão de serviços de


interesse económico geral a particulares sozinhas, ou em conjugação com outras
concessões, é uma técnica apropriada à posição actual do Estado social com preocupações
intervencionistas.

Com efeito, o Estado não pode alhear-se da sua responsabilidade pela prestação de um
serviço de interesse geral, mas não pode ignorar que o Mercado e a Concorrência são hoje
o mecanismo normal de articulação da decisão económica423.

Todavia, a conciliação entre as duas linhas de força passa pela figura da concessão, centrada
na reserva relativa dos Bens do Domínio Público do Estado. O Estado mantém a titularidade
de serviço que a Empresa proporciona, com os devidos poderes (regulatórios) de controlo

423 Ibidem.
218
Manual de Direito Económico Francisco Mário
e fiscalização, e o concessionário gere efectivamente a Empresa por sua conta e risco e em
seu nome.

Entretanto, o concessionário tem seguramente o direito de gerir um serviço prestado


através de uma Empresa muito embora a responsabilidade pelo mesmo continue a ser
imputável à pessoa colectiva concedente, para que esta conserva os indispensáveis poderes
de controlo. Deste modo, se evita o alargamento de prestação de certos serviços, seja o
pretexto para um novo dirigismo estatal e para o crescimento desmesurado das despesas
públicas424.

Pelo que, ao abrigo do disposto na dimensão da norma do art. 13º, da Lei nº 5/02, de 16 de
Abril, estabelece que constituem reservas relativas do Estado as actividades económicas
compreendidas nas seguintes áreas:

- Saneamento básico art. 13º, al. a), da já citada Lei nº 5/02, de 16 de Abril;

- Produção, transporte e distribuição de energia eléctrica para consumo público, art. 13º,
al. b), da Lei nº 5/02, de 16 de Abril;

- Captação, tratamento e distribuição de água para o consumo público através de redes


fixas, art. 13º, nº2, al. c), da Lei nº 5/02, de 16 de Abril;

- Exploração de serviços portuários e aeroportuários art. 13º, nº 2, al. d), da Lei nº 5/02, de
16 de Abril;

- Transporte ferroviário, art. 13º, nº 2, al. c), da Lei nº 5/02, de 16 de Abril;

- Transporte aéreo regular de passageiros domésticos art. 13º, nº 2, al. f), da Lei nº 5/02,
de 16 de Abril;

- Serviços complementares postais e de telecomunicações art. 13º, nº 2, al. g), da Lei nº


5/02, de 16 de Abril, e;

- Infra-estruturas que não integram a rede básica de telecomunicações, bem como os


respectivos serviços de telecomunicações, art. 13º, nº 2, al. h), da Lei nº 5/02, de 16 de Abril.

Relativamente ao transporte colectivo urbano, exploração dos recursos naturais,


transporte aéreo internacional, o Poder Executivo normalmente de acordo os interesses
económicos determina em que circunstâncias, por razões de utilidade pública, o exercício
da actividade privada deve ser feita mediante o contrato de concessão, nos termos do art.
13º, nº 3,4 e 5 da Lei nº 5/02, de 16 de Abril.

424 Ibidem.
219
Manual de Direito Económico Francisco Mário
CAPITULO XII – FENÓMENO DAS PRIVATIZAÇÕES

12.1. Génese das Privatizações

As privatizações de ponto de visto histórico podemos dizer que foi a partir de finais da
década de 70, do século XX, em certos meios políticos, académicos e empresariais começou
– se a proliferar a ideia de que há um conjunto de decisões ao nível da alocação de recursos
económicos, que são mais eficiente e eficazmente tomados pelo sector privado do que pelos
decisores da Administração Pública.

Entretanto, vincou então a convicção de que a propriedade do Estado não estimula a


eficiência e a produtividade de Empresas produtoras de bens e serviços, pelo menos
quando não está em causa a produção de serviços públicos. Passou também a ser
frequentemente reconhecido que a propriedade privada induz aumentos de produtividade
e competitividade das Empresas.

Pelo que, de igual modo, generalizou-se ainda a tese de que a propriedade privada facilita
o crescimento, a internacionalização e a integração das Empresas em espaços
multinacionais, não só porque desaparecem – ou pelo menos são minorados – os
condicionalismos políticos inerentes a operações de fusão, aquisição troca de
participações, ou as simples alianças estratégicas com outras Empresas, mas também
porque a influência de capitais privados liberta a Empresa dos constrangimentos de
crescimento e expansão inerentes à necessidade de garantir o equilíbrio das contas
públicas425.

Ora, o carácter pioneiro que tiveram as privatizações realizadas em Países anglo-saxónios


– mormente no Reino Unido a partir do primeiro governo conservador de MARGARET
THATCHER – contribuiu, de algum modo, para essa menor conceptualização legal,
atendendo às características próprias desses ordenamentos jurídicos.

Porém, na realidade, a partir dos anos 30 passou desenvolver-se um movimento,


relativamente uniforme, de socialização, colectivização ou nacionalização que foi inspirado
por preocupações de justiça social, motivos de construção do socialismo, objectivos de
reforço de Estados autoritários e dirigistas e, mais tarde, também por propósitos de
transferência do poder económico para as mãos dos novos Estados descolonizados do
Terceiro Mundo, bem como, em consequência da necessidade de assegurar a manutenção
de empregos.

No entanto, seria a emergência de dificuldades na generalidade das economias mais


importantes do sistema económico mundial, com origem frequentemente no âmbito do
sector público, que veio gerar um esforço no sentido da revisão da posição do Estado, e da
sua redução a funções de garantia de um adequado funcionamento do Mercado.

425 AZEVEDO, MARIA EDUARDA, - Temas de Direito da Economia, Edições Almedina, 2013, Pág. 133 e ss.
220
Manual de Direito Económico Francisco Mário
12.2. Os Objectivos das Privatizações

Os debates desenvolvidos nas duas últimas décadas de século passado não deixaram de
porem em foco os efeitos nefastos de uma intervenção estadual excessiva, fruto da
sedimentação de múltiplas regulamentações, em particular quando implicavam a presença
e actuação do Estado como Agente Económico activo em Mercados competitivos. Seria
nesse processo que iria integrar como parte importante o movimento das privatizações,
que se havia difundir por todo mundo.

Nessa lógica, as privatizações subordinadas ao lema “Menos Estado, Melhor Estado”


começariam a fazer o seu caminho. Mas colocados ao serviço da configuração de regimes
económicos menos intervencionistas a dirigistas; e, sendo certo que as privatizações
contribuem de forma determinante para o reforço da eficiência em vários sectores,
flexibilizando as formas de satisfação de necessidades públicas através da acção de
entidades privadas e contrariando o movimento de crescimento e diversificação do sector
público426.

O Fenómeno da Privatização da Administração Pública

a) Privatização Substancial.

b) Privatização formal de gestão (empresarização)

c) O exercício por privados de funções Administravas. (concessões e Parcerias Públicas


– Privadas).

Dois (2) Degraus;

Direito Público – assegurar o interesse público.

Direito Privado – pode se regular em concreto o expediente recurso ao expediente de D.

Privado.

As relações entre a Administração Públicas e o Direito Privado são:

1. O Direito Privado constitui um limite de actividade licita por causa da propriedade.

2. O Direito Público ou Administração Pública utiliza os expedientes ou instrumentos


de direito privado – contrato de compra e venda.

426 AZEVEDO, MARIA EDUARDA, - Temas de Direito da Economia, Edições Almedina, 2013 Pág. 133 e ss.
221
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Assim, no ordenamento jurídico económico, as privatizações obedecem os seguintes
objectivos:

(i) Promover a redução do peso do Estado na economia;

(ii) Promover o fomento empresarial e o reforço da capacidade empresarial


nacional;

(iii) Promover a concorrência, competitividade e eficiência da economia;

(iv) Contribuir para uma melhor redistribuição do rendimento nacional e


possibilitar uma ampla participação na titularidade do capital social das
Empresas, através de uma adequada dispersão do capital, dando particular
atenção aos trabalhadores das próprias Empresas e aos pequenos
subscritores.

(v) Aumentar os recursos financeiros do Sector Empresarial Público pelo


encaixe financeiro resultante da venda dos activos privatizados.

(vi) Contribuir para o desenvolvimento do Mercado de capitais; e,

(vii) Promover a redução do peso da divida pública na economia.

As privatizações como movimento de retorno ao Mercado, enquanto veículo privilegiado


de afectação de recursos, inseria-se na dialéctica que caracteriza história. Porém, a
tendência actual é, como já se sabe, para o recuo do Estado no terreno da economia, devido
a causas económicas e políticas. Os sintomas são as privatizações empresariais quer elas
avancem até casos de autêntica privatização material compreendendo a transferência da
propriedade, ou gestão para uma identidade privada, corporizadas na alienação do capital
e nos contratos de gestão e colaboração, ou até casos de privatização, menos comuns,
meramente formais, bastando-se estes com o simples recurso a meios de Direito Privado
para a prossecução de fins públicos, continuando a propriedade e a gestão caber a
entidades públicas427.

Contudo, o fenómeno das privatizações abarcou toda a actividade económica e


manifestação de «privatização» é subscrição da Empresa Pública, entidade pública por
forma jurídicas de Direito Privado, a substituição do serviço público directamente gerido
pelo Estado por regimes de concessão e a já referida regulação privada (ou por entidades
independentes) do interesse público ou seja, a «desregulamentação».

Porém, avulta ainda a contratação de bens ou serviços pelos poderes públicos com
entidades privadas (outsourcing) que assim se substituem aos fornecedores públicos que

427 Ibidem.
222
Manual de Direito Económico Francisco Mário
consiste numa perspectiva de «desintervenção», o que não correspondeu, portanto, ao
desaparecimento da regra jurídica como garante da disciplina da produção e consumo dos
bens e serviços sociais em causa. Portanto, a complexidade respectiva requer a norma
jurídica, sucedendo apenas que ela é agora com frequência de origem não estatal428.

12.3. Conceito

Segundo a doutrinadora angolana Doutora MARIA LUÍSA ABRANTES429, defende as


seguintes definições sobre as Privatizações:

a) Em sentido restrito, a privatização é uma medida através da qual o sector público


cede à iniciativa privada meia de produção, para que esta os explore com maior eficiência
e racionalidade.

b) Em sentido amplo, a privatização é uma medida tendente a reduzir o sector público,


quer administrativo, quer empresarial, abrangendo medidas directas e indirectas,
destinadas a transferir não só a propriedade e a gestão dos bens de produção públicos para
o sector privado, mas também a transferência de todos, ou da maior parte dos principais
serviços de assistência social do Estado para o sector privado, como por exemplo a saúde,
a educação, segurança social entre outros.

Conclui esta autora angolana definindo que, a privatização como “o acto através do qual o
Estado transfere para o sector privado, a propriedade e a gestão de unidades produtivas de
bens produtivos ou de recursos naturais, anteriormente na titularidade e/ou gestão do
sector público, ou outros sectores de produção não privados”.

12.4. Modalidades das Privatizações

Qualquer modo, as privatizações no ordenamento jurídico angolano comportam duas


modalidades que podem ser total ou parcial nos termos do Lei de Bases das Privatizações
nº 10/19, de 14 de Maio art.14º, pelo que, é considerado privatização total quando o Estado
aliena a favor de terceiros através da transferência da titularidade da propriedade de
Empresas, património, e participações sociais; (art. 14º, da LBP) e, por conseguinte, a
privatização parcial, consiste na transferência dos bens ou serviços através do contrato
concessão de exploração e gestão; (art. 14º, do LBP), cuja competência é do Titular do Poder
Executivo (art. 11º, da LBP). Porém, alguém entenda que nesses dois métodos de
privatizações pode recorrer-se quatros regras ou modalidades, designadamente:

- A venda em bolsa- Mercados de Capitais ;

- A venda a investidores institucionais ou a venda a um único comprador; e,

428 Cfr. MONCADA, CABRAL DE, - Direito Económico … Pág. 442-444.


429 Cfr. ABRANTES, MARIA LUÍSA- Privatizações Em Angola, editora Multitema, 2009, Pág. 20
223
Manual de Direito Económico Francisco Mário
- A venda de acções aos trabalhadores430.

12.5. Técnicas e Modelos de Privatizações

Neste pensamento a doutrina portuguesa, tem afirmado claramente que as principais


definições do conceito visam proceder a transformações do modelo do Estado Prestador
exigidas pelas novas e diversas concepções de Estado e da sua Administração que tende
para uma administração de gestão privada431.

Assim as privatizações podem comportar as seguintes técnicas:

-Privatização da regulação administrativa da sociedade;

- Privatização do direito regulador da Administração;

- Privatização das formas de organização da Administração;

- Privatização da gestão ou exploração de tarefas administrativas;

- Privatização do acesso a uma actividade económica; e,

- Privatização do capital social de entidades empresariais públicas.

Nascem, assim, novas formas de organização da administração económica tradicional dos


bens e serviços do Estado e das actividades que até então eram detidas e desenvolvidas
pelo Estado, e, agora entregues a entidades da administração indirecta do Estado, ou
Agentes Económicos privados, ou seja, diferentes instituições onde se incorpora um
conjunto acumulados de atribuições e competências devolvido pelo Estado para ser
exercidos ao abrigo de um novo e diferente Direito, em sede do Direito Administrativo
Económico de Garantia e de Regulação.

Pelo que, essas entidades vão efectivamente exercer poderes atribuídos pelo Estado no
âmbito da privatização ou desregulação económica, designadamente:

(i) Poderes normativos (legislação e regulamentação);


(ii) Atribuição de direitos e obrigações concretos (licenças, acesso a facilidades
essenciais);
(iii) Resoluções de conflitos (recurso, arbitragem);
(iv) Competências analíticas, estatísticas (observatórios, estudos e pareceres);

Cfr. AV. DOMINGOS FRANCISCO JOÃO/QUEIROZ, FRANCISCO - Direito Económico de Angola, Zoe, 2018.
430

Pág. 438.

431Cfr. CARDONA, MARIA CELESTE, - Contributo para o Conceito e a Natureza das Entidades Administrativas
Independentes ( As Autoridades Reguladoras) teses Almedina, 2017, Reimpressão Pág.160.
224
Manual de Direito Económico Francisco Mário
(v) Competências informativas e de divulgação (publicações, jornadas de
estudos)432.

Ora bem, vamos precisamente descrever as propriedades temáticas das modalidades das
técnicas de privatizações acima enunciadas:

a) Privatização da Regulação Administrativa da Sociedade

A privatização pode ser vista como um fenómeno de redução ou supressão da actividade


de criação de normas jurídicas reguladoras das respectivas actividades, mediante a
transferência, ou devolução da actividade económica para determinada entidade
privada433. Fala-se da desregulação ou de auto- regulação, sempre que da privatização
resulte o desaparecimento de regulação públicas de certas matérias, ou nos casos em que
a regulação pública estadual é substituída pela regulação privada independente de
qualquer intervenção pública certificativa ou concordante ex. os concessionários dos
preços vigiados pelos seus associados (táxi, combustível, honorários dos profissionais
liberais).

Porém, existem traços característicos fundamentais do conceito; (i) é uma forma de


regulação; (ii) é uma forma de regulação colectiva; (iii) é uma forma de regulação estadual.

Portanto, esta técnica de privatização visa eliminar a regulação estadual e criar os espaços
vazios e devolver ao sector privado uma área de regulação até então exercida em exclusivo
pelo Estado, ou fazer o reenvio para os regimes de auto-regulação( profissional, técnica,
operacional, ou de funcionamento do Mercado).

b) Privatização do Direito Regulador da Administração

Relativamente esta matéria deveu-se o franco desenvolvimento de certas actividades


imputadas a Administração Pública, e no entanto, o Estado começou a revelar-se de algum
modo ineficiente e incapaz de manter o ritmo de diversas e multiplicidades de deveres que
era obrigado a cumprir.

Assim, muito cedo esta tendência doutrinária foi sendo concebida para que certos serviços
públicos regulados pelo Direito Público passassem para estar subordinadas (a sua
actuação) a regimes do Direito Privado, mas como entidade de natureza pública (a sua
personalidade jurídica).

Contudo, é assim que funciona a fórmula utilizada nos contratos laborais nas Empresas
Públicas em que o regime disciplinar laboral segue a forma típica das relações jurídicas de
Direito de Trabalho Privado (LGT) distinto do regime do funcionalismo público (Decreto
33/91). O significa dizer as entidades públicas quanto a sua criação e os fins seguem o

432 Cfr. CARDONA, MARIA CELESTE, - Contributo para o Conceito e a Natureza das Entidades Administrativas
Independentes (As Autoridades Reguladoras) teses Almedina, 2017, Reimpressão Pág. 160.
433 Ob. Cit. Pág. 162.

225
Manual de Direito Económico Francisco Mário
regime público, e, as formas de organização, regulação e gestão são preferencialmente pelo
recurso ao Direito Privado434.

c) Privatização das Formas de Organização da Administração

Pode-se falar de privatização de organização nos casos em que determinada pessoa


colectiva de Direito Público é transformada em pessoa colectiva de Direito Privada, ou nos
casos em que uma pessoa colectiva empresarial é transformada em Sociedade Comercial
regida em Lei Comercial “ex vi lege” Lei nº1/04, de 13 Fevereiro Lei das sociedades
Comerciais)435.

O Fenómeno da Privatização da Administração Pública pode ser de três(3) tipos


designadamente: Privatização substancial, Privatização formal de gestão
(empresarização) e Privatização do exercício por privados de funções administravas.
(Concessões e Parcerias Público – Privadas).

Todavia, a Privatização que se afere pode ser de dois (2) degraus, nomeadamente:

- Direito Público – assegurar o interesse público.

- Direito Privado – pode se regula em concreto o expediente recurso ao expediente de


Direito Privado.

Pelo que, neste seguimento, as relações entre a Administração Públicas e o Direito Privado
são:

1. O Direito Privado constitui um limite de actividade licita por causa da propriedade.

2. O Direito Público ou Administração Pública utiliza os expedientes ou instrumentos


de direito privado – ex. o contrato de compra e venda.

No processo de privatização das formas de organização da Administração Pública, o que


sucede é transformação da natureza jurídica da personalidade colectiva não a transferência
para sector privado do respectivo capital desse que a maioria do capital, ou do bem de
produção se mantenha na esfera do sector público, cuja prossecução do interesse mantém
como público.

434 Cfr. CARDONA, MARIA CELESTE, - Contributo para o Conceito e a Natureza das Entidades Administrativas
Independentes ( As Autoridades Reguladoras) teses Almedina, 2017, Reimpressão Pág.164.
435 Exemplo ilustrativo da privatização organizativa da Administração indirecta do Estado: a transformação

da TAAG. (E.P.) em sociedade anónima (S.A.)


226
Manual de Direito Económico Francisco Mário
d) Privatização da Gestão ou Exploração de Tarefas Administrativas

Consiste naquelas situações em que mediante o acto ou contrato, são atribuídas a pessoas
singulares ou colectivas privadas competências de gestão ou exploração de determinadas
tarefas administrativas até então desenvolvidas através de serviços públicos.

Neste caso como afirma a MARIA CELESTE CARDONA, a responsabilidade pelo eficiente
funcionamento da tarefa administrativa continua a ser do Estado ou de outras entidades
públicas que, por isso, gozam de amplos poderes de fiscalização, conformação e
sancionatória sobre o modo como é exercida a gestão ou exploração do serviço436.

Portanto, o recurso a esta técnica de privatização tem o seu enfoque nas parcerias –
públicas – privadas, os contratos públicos económicos e outsourcing.

e) Privatização do Acesso a uma Actividade Económica

Neste caso de privatização no sentido das acessibilidades a uma actividade económica até
certo momento vedado à iniciativa privada. Estamos em presença de reservas públicas de
actividades económicas (absolutas controlo e relativas) porém, no regime de reservas de
controlo vigora em Angola a regra do modelo de autorização, ex. actividade bancaria,
seguro, telecomunicações nos termos previstos na Lei nº 05/02, de 16 de Abril, Lei da
Delimitação de Sectores da Actividade Económica.

O princípio da liberdade de acesso de estabelecimento comporta, porém, algumas


excepções, nomeadamente nos sectores onde existe uma reserva de controlo, ou seja, nos
casos em que é admitido a participação privada e se matém regras de maioria de capital
pública nas Empresas437.

f) Privatização do Capital Social de Entidades Empresariais Públicas

A privatização do capital social de entidades empresariais públicas é a regra com maior uso
em Angola e compreensível na linguagem jurídica corrente na tradicional doutrina
económica, pois, consiste na transferência de titularidade do capital social detida total,
maioritariamente ou minoritário pelo Estado para uma entidade privada, cuja
transferência pode operar-se de modo total ou parcialmente.

O modelo de privatização em regra adoptado no âmbito da democracia económica ou livre


concorrência são as ofertas públicas de aquisição em bolsa (CMVM), venda directa.

436Ob. Cit. Pág. 165. No mesmo sentido Cfr. GONÇALVES, PEDRO COSTA, - “ Concessão de Serviços Públicos”,
Combra, 1999.
437 Apud. CARDONA, MARIA CELESTE, - Contributo para o Conceito e a Natureza das Entidades

Administrativas Independentes (As Autoridades Reguladoras) teses Almedina, 2017, Reimpressão Pág.167.

227
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Para nós a Privatização poder entendida, ou seja, definida como: “uma forma de
desintervenção do Estado na economia (desregulação económica), que consiste na
transferência de titularidade da propriedade pública ou da gestão para o sector privado”,
nos termos balizados pelos art. 97º, da CRA e da Lei nº 10/19, de 14 de Maio, Lei de bases
das Privatizações.

12.6. Fases do Processo da Privatização


Os processos de privatização comporta em termos legais as seguintes fases (art.9º, da
LBP):

(i) Decisão de privatizar;


(ii) Avaliação prévia da entidade do Sector Empresarial Público ou activo a
privatizar;
(iii) Escolha da modalidade de privatização;
(iv) Transformação das empresas públicas visadas em sociedade anonimas, sujeitas
ao regime das sociedades comerciais.

12.7. Procedimentos de Privatizações

Os procedimentos a observar na Administração Pública são aqueles definidos pela


Constituição (art. 2º, da CRA), atendo o princípio da democracia económica e configurado
no Decreto – Lei nº 16-A/95, de 15 de Dezembro ( CPA)438.

Entretanto, nas privatizações, os procedimentos nos termos legais (art.15º, da LBP)


realizam-se apenas mediante o concurso público (concurso público regra ou
excepcionalmente pelo concurso limitado por prévia qualificação nos termos definidos no
art. 20º, da LBP), ou Oferta de Pública de Aquisição (OPA), ou seja, oferta na bolsa de valores
que obedece o estipulado no Código dos Valores Mobiliários, Lei nº 22/15, de 31 de Agosto.
Portanto, de acordo a orientação do legislador angolano, os actos de privatização devem
ser amplamente publicitados através de anúncios no Diário da República e no jornal de
notícias de grande distribuição (art. 21º, da LBP).

12.8. Direitos de Preferências Legais

Os trabalhadores da Empresa a privatizar tem direito de preferência legal patrimonial de


20% de participação do capital social da entidade do Sector Empresarial Público a
privatizar (art. 27º, da LBP e com adaptações do art. 410º, 423º, do CC) bem como a
preferência legal laboral do emprego, nos termos da estabilidade da relação jurídico-
laboral (art. 28º, do LBP) e art. 68º e 69º e 71º, da LGT).

O que significa dizer, existem duas modalidades de preferências legais autónomos e não
cumulativos -, preferências legais patrimoniais (art. 20º, da LBP) e preferências legais
laborais (art. 28º, da LBP) este ultimo é o mais operante por se tratar de um direito

438 Código do Procedimento Administrativo.

228
Manual de Direito Económico Francisco Mário
fundamental de trabalho, ou seja, o emprego que está constitucionalmente consagrado,
vide art. 78º, CRA.

Porém, que a inobservância do estipulado nos normativos acima referenciado pode


efectivamente gerar a ineficácia do acto de privatização e susceptível de impugnação aos
olhos da Lei nos termos da Lei Civil, art. 1409º e 1410º, do CC e art. 1465º, do CPC, que deve
ser exercido no prazo de 15 dias a seis meses (art. 1410º, do CC e 1465º e ss, do CPC439.

12.9. Controlo das Privatizações

A palavra “controlo”, apresenta-se peculiarmente como expressão idiomática do léxico


jurídico-financeiro que nos é particularmente familiar, mas também complexa e
polissémica, no plano económico, sendo por conseguinte, de difícil delimitação devido à
evolução semântica que foi sofrendo ao longo dos anos.

De acordo com o Universal Dicionário Integral Portuguesa440, este enfatiza e dá-lhe, como é
perceptível, significados diversos que possibilitam abarcar e responder a várias situações
que se projectam na comarca do instituto de controlo, designadamente como: vigilância
superior; orientação fiscalizadora; verificação correctiva; conferência; revisão; dominação.

Em sede constitucional, como dogmatismo conceitual não se deve alhear da realidade que
quer explicar e de como a teoria não deve deixar de ser um veiculo de conhecimento dessa
realidade etimológico do conceito de controlo. Esta pré-compreensão subjaz ao controlo
constitucional a ideia geral de fiscalização da actividade dos poderes públicos para evitar
ou sancionar arbitrariedades e abusos de autoridade.

Todavia, essa dogmática de Direito constitucional é transportada para norma jus


económico e financeiro para significar com diferentes institutos e classes de controlo,
nomeadamente: Controlo político, controlo jurisdicional, controlo parlamentar, controlo da
actividade controlo discricionariedade, controlo da Administração sobre as privatizações.

De tal sorte, o controlo das privatizações configuram-se nos limites e restrições da actuação
da Administração Pública no domínio económica para o equilíbrio de poderes em função
do dos princípios da legalidade, imparcialidade, proporcionalidade e do interesse público,
são pois, corolários do Estado constitucional democrático que se expressa tanto pela
existência de uma complexa rede de limitações do poder como de múltiplos controlos
através dos quais, as limitações se articulam ambas as vertentes e são efectivamente os
elementares alicerces de identidade do Estado constitucional democrático económico.

Nos regimes democráticos, o Tribunal de Contas, ou órgãos com competência similares têm
como missão fundamental, o controlo da gestão financeira pública, informar os cidadãos

439 Mas desenvolvimento vide. BARATA, CARLOS LACERDA. – Das Obrigações de Preferência, Coimbra
editora, reemp. 2002, Pág. 12 e ss., COSTA, MÁRIO JÚLIO DE ALMEIDA. – Direito das Obrigações 9ª, edição
revista e actualizado 2001, Pág. 412 e ss.
440 Dicionário Integral Portuguesa, colecção Universal Texto Editora Angola, Portugal, Moçambique, Brasil,

Pág. 412.
229
Manual de Direito Económico Francisco Mário
através dos seus representantes (no parlamento) de como são geridos, em vários planos,
os recursos financeiros e patrimoniais públicos que na realidade lhes pertencem e o
eventual e consequente apuramento de responsabilidades nos termos legalmente
definidos.

Por outro lado, este controlo da actividade financeira pública, através das observações e
recomendações formuladas, representa também uma missão pedagógica e um contributo
para o equilíbrio da vida financeira.

Afigura-se, pois, neste contexto referir que um Tribunal de Contas é um excelente


barómetro da sociedade, podendo controlar, em regra, a generalidade das entidades
públicas, a totalidade das receitas e das despesas públicas, é um observatório privilegiado
da actividade da Administração Pública.

O nº 1 do artigo 60º da Lei nº 13/10, de 9 de Julho dispõe que para além dos aspectos
referidos no nº 1 do art. 7º, o parecer do Tribunal de Contas sobre a Conta Geral do Estado
deve, igualmente, incidir sobre:

b) A execução do plano das privatizações;

c) A aplicação das receitas das privatizações;

O que significa dizer, as privatizações estão sujeitos a fiscalização preventiva e sucessiva de


no plano formal e material em sede da fiscalização externa - parlamentar (controlo político)
técnico jurisdicional (controlo técnico) e fiscalização interna (controlo administrativo do
nível pedagógico, técnico e especializado)441.

12.10. Reprivatização
Reprivatização – também é a transferência de propriedade do sector público até então
nacionalizado, confiscado, expropriado pelo Estado para esfera jurídica económica dos
particulares por mecanismo de alienação do património do Estado. Em termos jurídico
legais, “ex vi lege”, art.4º, al. i), da LBP, as privatização é a transferência total ou parcial da
propriedade de uma Empresa, feita de forma onerosa, do domínio público para sector
privado, em que o adquirente esta inserido no sector privado típico, sendo que a Empresa
em causa, já tenha anteriormente pertencido ao sector privado.

Pode dar-se pela via da pura privatização (quando originariamente pertenceram ao Estado
e forma posteriormente transferidas para o sector privado), ou pela via da Reprivatização

441O controlo – classifica-se em:


• Quanto à natureza jurídica do controlador: administrativo, parlamentar ou judicial.
• Quanto à localização do controlador: interno ou externo.
• Quanto ao momento do exercício: prévio, concomitante (simultâneo) ou posterior.
• Quanto à forma de instauração: de ofício ou por provocação.
• Quanto ao aspecto controlado: legalidade, mérito ou resultados.
230
Manual de Direito Económico Francisco Mário
(quando o bem já tinha pertencido ao sector privado, tivera sido transferido para o sector
público e devolvido ao sector privado). A regra é a “Pura Privatização” vide art. 97º, da CRA
e 23º, da Lei nº10/19, de 14 de Maio.

12.11. Devolução
A Devolução – é a privatização de um bem do Estado que anteriormente já tinha pertencido
ao sector privado tiver sido transferido para sector público (por via de nacionalização e
confisco ou figuras afins) para antigo proprietário, art. 97º, da CRA.

12.12. Redimensionamento
Redimensionamento - não é uma figura do Direito Económico, é apenas uma terminologia
adoptada para a dimensão empresarial que se pretendia mais diminuta no que a função
empresarial do Estado diz respeito.

O redimensionamento, ou seja, a transferência de bens públicos para entes privados se


processa tendo como base a figura jurídica da “privatização”, ou se for o caso, da
“nacionalização”, quando o processo se dar forma diferente (de um ente privado para o
Estado), foi criado por um Decreto do Conselho de Ministro Dec. nº 36/89, de 22 de Julho.
Que institucionalizou o Gabinete de Redimensionamento Empresarial (GARE).

231
Manual de Direito Económico Francisco Mário
CAPITULO XIII – DIREITO DE CONCORRÊNCIA E LIVRE INICIATIVA ECONÓMICA

13.1. Direito de Concorrência

Sendo que umas das preocupações centrais do Direito da Concorrência é efectivamente que
as Empresas possam, por recurso a expedientes anti-concorrencionais como por exemplo,
a redução estratégica do volume de produção, o aumento de preços, a diminuição dos níveis
de qualidade dos produtos, a supressão da inovação, ou liberdade de escolha dos
consumidores, adoptar uma política de Mercado que, em ultima instância, se tenha como
lesiva do bem - estar dos consumidores442.

É importante sublinhar que o Direito de Concorrência (Direito Económico) não é uma


ciência exacta. Pese embora o consenso encontrado em torno de alguns princípios
fundamentais, porém, aplicação deste ramo do Direito não se compadece com o recurso aos
modelos e regras de decisão codificada, susceptíveis de uma aplicação precisa.

A sua aproximação a ciência económica resulta essencialmente da natureza económica da


realidade que pretende regular, exige que intérpretes e aplicadores deste Direito
compreendam os conceitos económicos envolvidos e a característica da sua plasticidade443.

13.2. A Livre Concorrência

O economista escocês ADAM SMITI 1776 afirmou nos seus escritos sobre a riqueza das
nações o seguinte: (...) O sistema óbvio e simples de liberdade natural”, é afirmado como o
melhor sistema econômico possível. Todo homem fica perfeitamente livre para buscar os
seus próprios interesses, à sua própria maneira, e para concorrer, com seu esforço e com
seu capital, com o esforço e o capital de outros homens ou tipos de homem. O soberano fica
completamente livre do dever de supervisionar o esforço particular das pessoas e de dirigi-
lo para as finalidades mais adaptadas ao interesse da sociedade”444.

Comummente diz-se que o homem não é livre, pois que, predicam os conoclastas do saber
filosófico que o livre é o animal irracional, pelo que, sendo certo que o homem é um ser
racional, actividade económica é efectivamente um dado natural, que é precisamente o
prolongamento das liberdades individuais e geradoras da riqueza445.

Seguramente, o homem goza de liberdade por causa dos limites que lhe são imposto pelas
leis da natureza e da Sociedade já fidelizadas no silogismo filosófico. Dito isso, podemos
recortar a dogmática do exame relativo ao conceito que se afigura à Concorrência como
liberdade no Mercado.

442 Cfr. LOURENÇO, NUNO CALAIM, - Vendas Subordinadas e agrupadas Estratégias de Projecção de Poder de
Mercado, Almedina 2013, Pág.35.
443 Ibidem.
444 SMITH, ADAM. 1776, Pág.169.
445 Ob. Cit. Pág. 7.

232
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Certamente, a Concorrência possui, despretensiosamente, uma pluralidade de significados,
que variam de acordo com o contexto em que empregamos o substantivo, não será menos
correcto afirmar que entendimento preferencial que hoje lhe assiste está relacionado com
a sua compreensão económica. Assim, ela convoca mediamente um conjunto de vacúolos e
teorias dogmáticas a que usualmente aquele anda associado: Liberdade, Mercado, Oferta
e a Procura446.

Sendo assim, a Concorrência - como um instituto jurídico económico tem sido abordado
nas distintas vertentes, mas ela repousa na lei de procura e oferta que vai determinar o
preço e a qualidade de bens e serviços.

Para melhor compreensão do instituto vamos sufragar algumas ideias doutrinárias que
contribuíram para análise mais formulado do conceito de Concorrência.

A Prof.ª PAULA FREIRE447, entende que, “numa economia plenamente concorrecional, o


Mercado garante que a sociedade produz os bens aptos à satisfação das necessidades dos
seus membros, nas quantidades por eles desejadas”. Entretanto, esta autora que ainda
vamos continuar a seguir a sua abordagem afirma que, (…) através do preço, o Mercado
desempenha uma função regulação da oferta e da procura, isto é, uma função de equilíbrio
entre as quantidades produzidas e consumidas.

Mas, para além, da harmonia da economia, também a harmonia social é através de livre
funcionamento do Mercado. Ao assegurar que as decisões e os actos individuais se
compatibilizam entre si e concorrem para prossecução do interesse comum, através do
mecanismo da mão invisível de ADAM SMITH448, que vai de certo modo permitir a obtenção
de um resultado socialmente óptimo geral.

A concorrência segundo Prof. MENEZES CORDEIRO, citando WOLFGANG KILIAN, -“A


concorrência pode ser apresentada como um sistema de tomada descentralizada de
decisões, através da garantia de liberdade de actuação dos sujeitos económicos”449.

Por seu turno a Concorrência (perfeita), na perspectiva da Prof.ª PAULA FREIRE, é


“entendida enquanto existência, no Mercado, de uma multiplicidade de Agentes
Económicos de reduzidas dimensões, incapazes por isso de, solitariamente, influenciarem
os preços, onde não existe diferenciação de produtos e verifica-se uma total perfeição da
mobilidade de recursos produtivos e fluxo de informações entre os participantes do
Mercado”450.

446 Neste sentido vide. LOUREIRO, FLAVIA NOVERSA, - Direito Penal de Concorrência, Almedina, Teses 2017
Pág.29.
447 Cfr. FREIRE, PAULA, - Eficiência Económica e Restrições Verticais, AAFDUL, 2008, Pág. 30.
448 Apud, FREIRE, PAULA, - Eficiência Económica e Restrições Verticais, AAFDUL, 2008, Pág. 31. SMITH,

ADAM, (1999) Vol.I, Pág. 166.


449 Cfr. AAVV, CORDEIRO, MENEZES, - Regulação e Concorrência, Almedina editora, 2005, Pág. 9.
450 Cfr. FREIRE, PAULA, Pág. 103 - 104.

233
Manual de Direito Económico Francisco Mário
A concorrência encerra duas modalidades que vamos particularmente reputar com algum
detalhe sucinto para uma pré-compreensão, designadamente:

13.3. A Concorrência Perfeita

Defende Prof. MENEZES CORDEIRO, no sentido de dar noção de concorrência, -“afirmando-


se, lato sensu, que ela designa a disputa entre dois sujeitos económicos ou sectores
económicos, com o fito de produzir ou comprar nas melhores condições. Se for prosseguida
uma concepção.

Sendo assim, um Mercado de Concorrência seria aquele em que a formação dos preços se
daria pelo ajustamento recíproco da oferta e da procura, através de uma plena liberdade
de comportamentos dos Agentes Económicos, determinados pelo objectivo da maior
vantagem individual e com influência infinitesimal nas quantidades oferecidas e
procuradas e nos preços de Mercado” 451.

Na concorrência perfeita, a Empresa não pode aumentar os preços, se o fizer o consumidor


ira adquirir o bem da Empresa concorrente.

13.4. A Concorrência Imperfeita

A definição de PAULO SAMUELSON, citado por CARLOS BAPTISTA LOBO, reporta-nos que,
a concorrência imperfeita verifica-se numa actividade, ou num grupo de actividades,
sempre que os vendedores individuais são concorrentes imperfeitos enfrentando curvas
da procura não horizontais, detendo, por tal motivo, um certo grau de domínio sobre o
preço452.

Na concorrência imperfeita do lado da oferta, apenas um produtor (monopólio), ou alguns


produtores (oligopólio) e, do lado da demanda, apenas um consumidor (monopsónio) ou
alguns poucos consumidores (oligopsónio).

Depois desses arestos cumpre-nos, todavia, concluir e alinhar uma noção a seguir, -
«Concorrência - é o sinónimo de competição dos Agentes Económicos no Mercado, através
da Lei da procura e oferta, sob vigilância do Direito da Regulação e Supervisão dos Poderes
Públicos/Privados que compõem a Direcção Económica»453. Este princípio encontra-se
recortado no art. 89º, nº 1, al. c), da CRA.

A defesa da concorrência é uma imposição constitucional. É que a defesa da concorrência


entre as unidades produtivas compreende nos nossos dias um conjunto ordenado e normas
de polícia.

O legislador partiu do princípio de que a concorrência se não desenvolve espontaneamente


entre as Empresas participantes no Mercado, não lhe competindo tão-só estabelecer um

451 Cfr. LOBO, CARLOS BAPTISTA, Concorrência Bancaria? Almedina editora, 2001, Pág. 158.
452 Apud, LOBO, CARLOS BAPTISTA, Concorrência Bancaria? Almedina editora, 2001, Pág. 160.
453 Nosso realce.

234
Manual de Direito Económico Francisco Mário
conjunto de regras tendo por objectivo simplesmente a prevenção e repressão de situações
em que o comportamento das Empresas lesam intoleravelmente certos interesses
públicos454.

A actuação do Estado visa, pois, não combater o oligopólio, mas para garantir que sua
actuação seja competitiva e não cartelizada.

Entretanto, uma das práticas típicas concorrenciais proibidas que podem modificar o
Mercado são:

- DUMPING DE PREÇOS

- PREÇOS PREDATÓRIOS

- MONOPÓLIOS

- OLIGOPÓLIOS

- DUOPÓLIOS

- CARTEL

- JOGOS

- ABUSO DE POSIÇÃO DOMINANTE

- PREÇOS PREDATÓRIOS

- ABUSO DE DEPENDÊNCIA ECONÓMICA

- ACORDOS RESTRITIVOS DA CONCORRÊNCIA

- VENDAS SUBORDINADAS

- VENDAS AGRUPADAS

454 Por exemplo no caso particular da crise do Mercado Cambial que deflagrou-se em 2015 uma das condições
para os Mercados de Câmbios poderem ser considerados como Mercados de Concorrência pura e perfeita,
seria a não intervenção do Banco Central, e essa não-intervenção implicaria a total ausência de controlo das
taxas e das operações de câmbio, isto significaria adoptar um sistema de câmbios flutuantes, e a própria
neutralidade da política interna para com os movimentos de capitais, e, de uma forma geral, para com os
pagamentos externos. Mas por conseguinte, a partir de 2018, o BNA desregulou o Mercado de Câmbios
através de sessões de leilões semanais, pelo que em 2019 passaram a ser diários e comercializados pelos
bancos comerciais através de sistemas de câmbios flutuantes.
Mas contudo importa assinalar que a influência da política monetária interna, a utilização das
reservas de câmbio (reservas de divisas ou reservas internacionais) cabe Banco Central e o controlo dos
câmbios através das medidas de política económica geral (disposições para combater a inflação (A inflação
tem, normalmente, duas causas principais, a redução da oferta, de um lado e de outro, o excesso de consumo),
medidas para incrementar o desenvolvimento económico, etc.), e que o Banco Central pode interferir
directamente na entrada e saída de capitais, por meio da manipulação das taxas de juro e restrições ou
limitações de acesso dos Agentes Económicos ao Mercado de Cambio determinando assi m taxa de cambio,
ou seja, câmbios administrativos (câmbio oficial).
235
Manual de Direito Económico Francisco Mário
- AUXÍLIO DO ESTADO

Vamos examinar sumariamente os encimados conceitos de uma das práticas proibidas de


concorrência e, desde logo, lhes dar uma noção para sua compreensão jurídica e científica.

13.4.1. Dumping de Preços

O termo vem do verbo inglês “to dump”, que significa, segundo o dicionário Inglês-
Português do MARQUES, despejar, descarregar, esvaziar, desfazer-se de algo, livrar-se de
algo. É comummente associado ao Direito Comercial e Económico, referindo-se ao
fenómeno da baixa dos preços de determinados bens como consequência da instalação de
Empresas produtoras em Países com mão-de-obra mais barata455.

Na se pode falar do Dumping de preços sem antes descrever a figura jurídica do preço, pois
é sobejamente definido como expressão monetária do valor de um bem, ou ainda o valor
que o consumidor esta disposto a pagar no acto da compra desse bem.

Porém, o preço tem critérios determinam (custo, concorrência e o elo do valor). O preço
tem a ver com o Mercado (Mercado de trabalho- salário; Mercado Cambial – taxa de cambio;
Mercado de Crédito – taxa de juro; Mercado Financeiro – quotação na bolsa.

Assim, o Dumping de preço é diferente de Preço Predatório – ocorre quando uma


sociedade reduz o preço de venda do produto ou serviço abaixo do valor de seu custo e
desencadeia consideráveis perdas de curto prazo que corporiza a eliminação da
concorrência ou criar barreiras à entrada de novos concorrentes.

Por conseguinte, o fenómeno do Dumping não é recente há relatos de sua prática, ainda no
século XIX, por produtores americanos. O primeiro documento normativo parece ter
surgido no Canadá, em 1904, por meio de uma Lei de repressão ao Dumping Social.

O Dumping de Preços, consiste efectivamente na venda de produtos com prejuízo ao


Mercado Concorrecional, isto é, a oferta para venda, ou venda de um bem por preço inferior
ao valor normal de um produto semelhante, ou seja, - Trata-se da prática comercial que
consiste em uma ou mais sociedade de um País venderem seus produtos, mercadorias ou
serviços por preços extraordinariamente abaixo do valor de Mercado para outro País, por
determinado período de tempo, com vista a prejudicar e eliminar os fabricantes de
produtos similares concorrentes no País de origem.

Dessa forma, passa a dominar o Mercado e impor preços altos. Trata-se de termo usado em
comércio internacional e é reprimido pelos governos nacionais, quando comprovado.
Porém, nosso ordenamento jurídico consagra a proibição dessas práticas (art. 21º; 22º,
nº3; 23º; 89º e 90º, da CRA).

É uma prática restritiva da concorrência que tal deve ser proibida essencialmente nas
economias menos desenvolvido na medida em que torna-se uma prática agressiva de

455 Cfr. MARQUES E DRAPNER 2000, Pág. 98


236
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Mercado que requer normalmente uma capacidade financeira dos Dumpingueiros ou
jogadores de Dumping de Preços, de modo a suportar os prejuízos financeiros durante a
vigência desta concorrência imperfeita, cujo objectivo é liquidar os potenciais Agentes
Económicos concorrentes no Mercado para ulteriormente conseguir no Mercado eivado de
um vício de Dumping de Preços à posição dominante que lhe vai permitir em primeiro lugar
recuperar as perdas e, em segundo lugar dominar o Mercado de acordo o arbítrio dos
jogadores de Dumping de Preços e ditar as suas regras.

O Dumping pode ser negativo ou positivo, isto é na doutrina brasileira “O zeroing” que
consiste em ignorar margens de dumping negativas (vendas acima do valor normal, caso
que não se qualifica como dumping) nos cálculos totais, contabilizando-as como zero.
Apenas os casos em que vendas abaixo do valor normal forem feitas (margens de dumping
positivas) serão contabilizados, fazendo com que a simples oscilação de preços ao longo do
tempo seja interpretada como comércio desleal, identificando-se, pois, o Dumping.

Portanto, o Dumping de preços hodiernamente pode ser Dumping Social aquele que incide
nos contratos de trabalhos de mão-de-obra barata ou instalar as fábricas em países
subdesenvolvidos onde o salário mínimo quase é inexistente, Zonas Francas ou Paraísos
Fiscais e Sociedades Offshore que influenciam no produto final à custa do sacrifício da
classe trabalhadora ou dos povos autóctones, e por conseguinte, criam as chamadas
economias de tipo subterrâneas de um lado, por outro é um Dumping de preço em concreto
que acima já referenciamos.

Assim, nos termos legais a nossa Constituição sublinha art. 21º;22º, nº 3; 23º; 89º e 90º, da
CRA como prática desleal.

13.4.2. Preços Predatórios

A matéria de Preços Predatórios é uma forma de concorrência imperfeita que consiste na


redução sem motivos aparente de preço abaixo do valor do seu custo no contrato de
compra e venda de produtos, ou prestação de bens e serviços com perdas significativas a
curto prazo cujo objectivo é efectivamente de eliminar ou criar barreiras à entrada de
novos concorrentes no Mercado456.

Os Preços Predatórios compreende-se assim geralmente quando uma Empresa sem


motivos aparentes reduz o preço de venda do produto ou serviço abaixo do valor de seu
custo e desencadeia consideráveis perdas de curto prazo que corporiza a eliminação da
concorrência ou criar barreiras à entrada de novos concorrentes.

Os Preços Predatórios são diferente de Dumping de Preços, pois, o Dumping de Preços


consiste efectivamente na venda de produtos com prejuízo ao Mercado Concorrecional, isto
é, a oferta para venda, ou venda de um bem por preço inferior ao valor normal de um
produto semelhante, ou seja, - trata-se da prática comercial que consiste em uma ou mais

456 Nosso.
237
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Empresas de um País venderem seus produtos, mercadorias ou serviços por preços
extraordinariamente abaixo do valor de Mercado para outro País, por determinado período
de tempo, com vista a prejudicar e eliminar os fabricantes de produtos similares
concorrentes no País de origem.

Preço Predatório também é diferente de Preços de Promoção ou promocionais, porquanto


estes visam saldar (despachar) as mercadorias da Empresa em estoque demorado para
entrar nova colecção de mercadorias nos períodos climáticos (verão, inverno)457, ou datas
festivas (natal, pascoa, carnaval, são Valentim, independência nacional)458, cujo objectivo é
promover mais vendas em função de redução do preços, ou seja, descontos promocionais
de preços baixos dos produtos em perfeitas condições para o consumo com permissão da
autoridade competente ministerial ou de concorrência sob pena de invalidade do acto de
promoção de baixo dos preços459.

13.4.3. Monopólio

O termo Monopólio provem do grego clássico, monos que significa "um" e polein que
significa "vender", o Monopólio - é a exploração sem concorrente de um negócio ou
indústria, em virtude de um privilégio e que pode ser Monopólio Natural ou Monopólio de
Demónio e Coercivo.

Portanto é a posse ou o direito sobre um bem ou serviços com carácter exclusivo. Ter o
Monopólio é possuir ou desfrutar da exploração de maneira abusiva, é vender um produto
ou serviço sem concorrente, por altos preços. Deter o monopólio é uma situação em que
uma única Empresa domina a oferta de determinado produto ou serviço, isto é, quando o
Mercado é dominado por uma estrutura monopolista e não pelas leis de Mercado,
garantindo-lhe o súper lucro é o caso da microsoft460.

457 Tempo de, ou, estação de cacimbo e de chuvas, como é conhecido na lide doméstica da meteorologia
angolana.
458 Estas práticas também acontece quando certa Empresa está pressionado com as datas do vencimento do

consumo dos seus produtos, ou aproximação do fim do clima ou inventos.


459 Ministério do Comércio ou Autoridade de Regulação de Concorrência.
460 O “Caso Microsoft”

O “O Caso Microsoft” veio reavivar o problema nuclear com que a política de defesa da concorrência se
confronta: até onde confiar no Mercado, ou a partir de quando é imperioso intervir correctivamente no seu
funcionamento.
Trata-se de apurar como proceder quando a estrutura dos mercados permitia que as empresas obtenham
uma significativa base de poder. Neste contexto, permitir que Empresas com poder de Mercado concorram
entre si constitui uma forma de dissipação reciproca de poder, ou dai apenas resulta a substituição daqueles
vários poderes por um único e poderoso poder de monopólio? E, a extensão deste poder será perniciosa ou,
pelo contrário, o seu exercício traduz-se em resultados eficientes e benefícios para os consumidores que não
podem ser reproduzidos por hipotéticos concorrentes?
Assim, neste caso, as instâncias de defesa da concorrência foram chamadas a decidir em que circunstâncias e
em que medida uma empresa dominante deve ver limitada a sua capacidade de concorrer agressivamente, a
fim de defender a respectiva posição de mercado. Por outro lado, esta questão passou a ser equacionada sob
um diferente prisma, registando-se, por parte dessas instancias, uma maior atenção dispensada à evolução
da concorrência a longo-prazo, baseada na inovação, por comparação às anteriores e tradicionais
preocupações, centradas na concorrência a curto-prazo, designadamente, ao nível dos preços.
238
Manual de Direito Económico Francisco Mário
A maioria dos Países possuem um conjunto de Leis para impedir a formação de monopólio
e o nosso ordenamento jurídico económico não alheia-se desses comandos, “ex vi lege”, art.
21º; 22º, nº 3; 23º; 89º e 90º, da CRA, apesar que os Monopólios surgem devido a
características particulares de um determinado Mercado, ou devido a regulamentação
governamental.

Alguns Factos:
A vida da Empresa norte-americana Microsoft foi marcada por uma rápida e impar expansão.
No espaço de uma década, a Microsoft foi adquirindo quotas progressivamente mais elevadas no Mercado da
produção de sistemas operativos. A dimensão da sua posição de Mercado e as repercussões das suas
actuações cedo deixaram de poder ser ignoradas por concorrentes, instancias de defesa da concorrência e
consumidores.
O sucesso meteórico desta Empresa é, em grande parte, explicado pela forma de organização por ela
adoptada. Ao contrário das Empresas dominantes no Mercado, a Microsoft concebeu uma estratégia
concorrencial inovadora, assente em duas ideias essências: separar o Mercado de software do Mercado de
hardware e privilegiar relações cooperativas, de longo prazo, com fabricantes de hardware.
Através desta actuação, a Microsoft logrou impor o seu padrão tecnológico, apesar das reconhecidas
características de qualidade de produtos concorrentes. “O software do sistema Macintosh era excelente, mas
a Apple não permitiu (até 1995) que mais ninguém fabricasse hardware onde este pudesse ser instalado (…).
Erros como a decisão da Apple de limitar a venda do software do seu sistema operativo ao hardware fabricado
pela Empresa, voltarão a ser frequentemente cometidos no futuro”.
A decisiva opção pela maximização do lucro, no longo prazo, fez com esta Empresa abdicasse de proceder a
licenciamentos a preços mais elevados e com maior liberdade de actuação por parte dos licenciados, para em
vez disso, conceder licenças mais baratas, fortemente condicionados. “O objectivo da Microsoft era escrever
e fornecer software para a maioria dos computadores, sem se envolver directamente no produção ou
comercialização de hardware. A Microsoft licenciava o software a um preço extremamente reduzido porque
apostávamos na venda de grandes volumes como forma de ganhar dinheiro.
Como consequência, a Microsoft foi condenada a pagar uma multa recorde, a cessar as infractoras e a não
voltar a proceder desse modo, ou a adoptar actuações com objectivos e efeitos semelhantes.
Mas os aspectos mais relevantes dessa reportam-se à condenação em tornar a informação de
interperacionalidade disponível e em permitir a sua utilização, em termos razoáveis e não discriminatórios,
em garantir a actualização dessa informação e em dar a conhecer, aos potenciais interessados, os termos em
que podem obter tal acesso. Como esta interface information se encontra protegida por direitos de
propriedade intelectual, a Microsoft tem direito a receber remuneração razoável.

Restrições Verticais
O “caso Microsoft” teve, como questão central, determinar se existiu, ou não, utilização abusiva de uma posição
dominante, com vista à monopolização do Mercado.
Como decorre do exposto, a celebração de contratos contendo restrições verticais foi um dos principais
instrumentos dessa alegada estratégia de monopolização.

Exclusividade
A exclusividade foi apreciada, num contexto de práticas de monopolização, pois a Microsoft foi acusada de
utilizar instrumentos contratuais com o intuito de exclusão de rivais.
A Microsoft celebrou vários acordos com fabricantes de computadores, com fornecedores de acessos e de
conteúdos de Internet, bem como com vendedores independentes de software.
Nestes contratos, raramente se exigia a exclusividade completa, mas sim um tratamento preferencial para
Internet Explorer. No entanto, também se condicionava o acesso ao Windows à aceitação destes contratos, ao
definirem-se condições especial acesso àquele sistema operativo, como contrapartida da promoção do IE e
de limitações à possibilidade de utilização do Netscape. O facto de a Microsoft ser, claramente, detentora de
um poder de Mercado ao nível dos sistemas operativos para computadores pessoais foi portanto,
determinante na conformação desses acordos.
239
Manual de Direito Económico Francisco Mário

13.4.4. Oligopólio

Enquanto no Monopólio não existe concorrência, o oligopólio é caracterizado por um


conjunto de Empresas que dominam determinado sector da economia ou produtos
colocados no Mercado. Em geral impõem preços abusivos e elimina a possibilidade de
concorrência, através da aquisição de pequenas Empresas.

É comum as Empresas que formam o Oligopólio estabelecerem cotas de produção (o que


eleva os preços) e divisão territorial do Mercado consumidor entre si, a fim de aumentar
suas taxas de lucro.

A tendência à oligopolização se verifica principalmente nos sectores da economia que


exigem grandes investimentos, como a da indústria automobilística, química e
farmacêutica, petróleo, telecomunicações e etc.

A nossa Constituição sublinha nos art. 21º;22º, nº 3; 23º; 89º e 90º, da CRA e sanciona estas
práticas de concorrência desleal no sistema económica angolano.

13.4.5. O Duopólio

Historicamente o termo vem do grego clássico que significava inicialmente de “dyo” (dois)
+ polein (para vender), que hodiernamente significa uma falha de Mercado de tipo
específico de oligopólio em que apenas dois produtores existem em um Mercado.

Este termo é geralmente usada apenas quando duas Empresas têm o controlo dominante
do Mercado. No campo da organização industrial, normalmente se estuda o duopólio como
se este fosse um oligopólio devido à sua simplicidade conceitual.

O Duopólio pode ou não direccionar as Empresas a um acordo ou conluio e um abuso de


posição dominante ou de uma situação de competição. A existência de um Duopólio pode
contrariar as leis anti-trust.

Trust – Ocorre quando Empresas ou grupos que, sob uma mesma orientação, mas sem
perder a autonomia, reúnem-se a fim de dominar o Mercado e suprimir a livre
concorrência. São grandes grupos ou Empresas que controlam todas as etapas da produção,
desde a retirada de matéria-prima da natureza até a distribuição das mercadorias. Pode ser
vertical (visam controlar de forma sequencial a produção de determinado género industrial
desde a matéria-prima até o produto acabado, sendo que as Empresas podem ser de
diversos ramos), ou horizontal (constituídos por Empresas que trabalham com o mesmo
ramo de produtos).

Pelo que, um Duopólio também pode direccionar as Empresas a rumarem a cartelização


(acordo tácito de manutenção de duopólio). Neste caso o Duopólio torna-se mais
complicado de ser gerido do que um Monopólio Natural.

240
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Entretanto existem basicamente dois tipos de duopólio que radicam-se nos seguintes
modelos:

Modelo de Duopólio de COURNOT: reacção de duas Empresas, para cada mudança na


produção (quantidade produzida) da Empresa concorrente, até que ambos cheguem ao
equilíbrio de NASH461.

Modelo de Duopólio de BERTRAND: entre duas Empresas, sendo que cada uma assumirá
que a sua concorrente não mudará seus preços em resposta à queda da quantidade
produzida. Quando ambos usam esta estratégia, eles chegam a um equilíbrio de NASH462.

No Duopólio, os dois únicos produtores de uma mercadoria, concordam em estabelecer um


preço, não aumentando ou diminuindo este. Desta forma, eles estão associados. É um
modelo muito semelhante ao Monopólio.

Portanto, como parte de estratégias competitivas, as Empresas tomam decisões somente


para seu benefício em detrimento de seus concorrentes. Em outras palavras, as Empresas

461 O DUOPOLIO de COURNOT poder Duopólio simétrico ou Assimétrico:


- O Simétrico - consiste em que cada Empresa acredita que a produção do concorrente é constante, sendo a
produção a real variável estratégica, isto é todas as Empresas que estão no Mercado produzem bens
homogéneos, pelo que na verdade, as decisões de uma Empresa são influenciadas pela decisão da outra
Empresa, e vice-versa.
- Assimétrico ou Assimétrico de STACKELBERG – (A competição de STACKELBERG) - Este modelo
complementa e enriquece a análise de COURNOT e BERTRAND na interdependência cíclica (com base nas
condições de Mercado), destacando o conceito de interdependência conjectural (com base em conjecturas).
A interdependência cíclica refere-se ao facto de que cada Empresa é limitada e descobre que sua própria
situação depende da situação em que se encontra a sua concorrente. No entanto, a análise fornece não apenas
a conjectura que cada Empresa sabe - sua posição de dependência em relação a outra Empresa, mas auxilia a
concorrente, que adopta o mesmo raciocínio. As premissas deste modelo são múltiplas, designadamente:
1.Primeiro, o Duopólio de STACKELBERG é assimétricas, isto é, as duas Empresas concorrentes não
têm o MESMO poder. Este facto é conhecido como a relação Empresa líder (que determina o preço e a
produção do Mercado) e Empresa satélite.
2.Se a Empresa é um líder, e se ela maximiza seu próprio lucro, ela deve ter em conta o
comportamento da firma 2, integrando a função de reacção da última para a função próprio lucro. Se ambas
as empresas acreditam que são satélites, há um desequilíbrio e a produção torna se torna deficiente e
insuficiente. Se ambas as Empresas acreditam serem o líder (comportamento de BOWLEY), há também
desequilíbrio (produção total excede a demanda). Isso pode resultar em preços mais baixos e, em última
análise, os lucros menores.
3.A análise do duopólio de STACKELBERG também aparece na teoria dos jogos. O equilíbrio de NASH
desempenha um papel importante na resolução de jogos de STACKELBERG.
Entretanto na doutrina da economia também fala-se do Duopólio de BOWLEY em que duas Empresas
produzem os mesmos produtos e agem como se fossem duas dominantes. Isto leva a equilíbrios instáveis. Há
três opções,
1.Uma das duas Empresas capturou o Mercado e passou a ser dominante (modelo de STACKELBERG).
2.Ambas as Empresas caem na chamada "órbita de casal", que é uma situação semelhante ao
Duopólio de COURNOT.
3.Ou ambas as Empresas concordam e compartilham o Mercado, estando assim em equilíbrio
cooperativo.
462 O DUOPOLIO de BERTRAND - consiste no seguinte: A variável estratégica não é a produção, mas o preço

(ao contrário da abordagem de COURNOT). No entanto, os pressupostos são idênticos aos de COURNOT, que
o produto é homogéneo, que as Empresas têm a capacidade de responder a qualquer demanda e o custo de
produção é idêntico para ambas as Empresas.
241
Manual de Direito Económico Francisco Mário
reagem aos benefícios do concorrente, como resultado, a interdependência dos lucros e as
decisões criam um padrão de interacção estratégica.

Na microeconomia esse tipo de interacção é chamado de jogo463. Ex. Meramente académica


é algumas práticas das operadoras de rede telefonia móvel em Angola repartidas em duas
Empresas: UNITEL e MOVICEL (ANGOLA-TELECOM), por este andar das coisas podemos
afirma sem pestanejar que grosso modo, as práticas não só dessas operadoras da rede de
telefonia móvel e fixa tem beliscado a democracia económica e eficiência dos bens e
serviços que representa em termos da ordem jurídica económica uma prática de
concorrência desleal, por vez enquanto e que faz eco negativo nas normas constitucionais
de sã concorrência (art. 21º;22º, nº 3; 23º; 89º e 90º, da CRA), porque o consumidor não
tem produto de substituição disponível no Mercado além dos produzidos pelas duas
Empresas Angolanas de telecomunicações.

13.4.6. Cartel

Em Economia é chamada de póster ou cartaz de um acordo formal entre as Empresas do


mesmo sector, cujo objectivo é reduzir ou eliminar a concorrência em um determinado
Mercado.

Cartazes geralmente visam desenvolver o controlo sobre a produção e distribuição de tal


forma que, através do conluio das Empresas que formaram-se, estas formam uma estrutura
de Monopólio de Mercado, ganhar o poder sobre o Mercado no qual o agente económico
deseja obter os maiores benefícios possíveis em detrimento dos consumidores. Por esta
razão, as consequências para estes são o mesmo que com uma prática monopolista.

Já de ponto de vista técnico jurídico o Cartel - consiste num acordo (também caracterizado
como conluio) explícito ou implícito entre concorrentes para, principalmente, fixação de
preços ou cotas de produção, divisão de clientes e de Mercados de actuação ou, por meio
da acção coordenada entre os agentes económicos nacionais ou internacionais
participantes no Mercado, eliminar a concorrência e aumentar os preços dos produtos,
obtendo maiores lucros, em prejuízo do bem-estar do consumidor.

Na prática o Cartel opera como um Monopólio ou Duopólio Cooperativo, isto é, como se


fosse uma única Empresa. Os cartéis são considerados a mais grave lesão à concorrência e
prejudicam os consumidores ao aumentarem os preços e restringirem a oferta, tornando
os bens e serviços mais caros ou indisponíveis, também são censurados pela ordem
económica angolana nos termos do disposto no art. 21º; 22º, nº3; 23º; 89º e 90º, da CRA.,
por vezes a ordem económica tolera no comércio internacional do Mercado de petróleo
bruto.

A diferença é que os benefícios totais (como o mais possível obter no Mercado) são
distribuídos entre os produtores. As suas principais actividades centrar-se sobre os preços,

463O Duopólio pode, portanto, ser estudado em função da concorrência simples para introduzir a teoria dos
jogos.
242
Manual de Direito Económico Francisco Mário
oferta limitada disponível, dividir o Mercado e compartilhar os benefícios464. Hoje, o termo
é geralmente aplicado aos acordos que regulam a concorrência no comércio internacional
no caso da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo).

13.4.7. Jogos

É sabido que os Jogos tem como alguns registos históricos nos séculos recuados antes do
século XVII, experimentados pelos italianos GALILEU HUYGENS, PASCOAL e BERMOUILI,
no desenvolvimento de cálculos de probabilidade e, no passado não muito recente do
século passado o francês EMILLE BOREL465, sustentava nos seus escritos em 1921, das
implicações dos problemas económicos, sociais, psicológicos e militares na teoria dos jogos,
ou simplesmente simulações de uma situação social e económico que se projectam numa
avaliação antecipada.

Todavia, que no entender desta asserção tais situações avaliadas neste sentido possam
influenciar o futuro das decisões e comportamento dos Agentes Económicas466.

Neste sentido, Jogos – pode ser entendido como um conjunto de regras que governam o
comportamento de um dado número de Agentes Económicos individuais, ou agrupados de
ponto de vista de Mercado relevante geográfico ou de produtos dominados por Agentes
Económicos (batoteiros) jogadores individuais ou agrupados no Mercado467. Porém, o jogo
é uma sucessão de lances e partida é uma sucessão de escolhas468.

Portanto, a nossa Constituição sublinha como desconforme as boas práticas do Mercado


desenhado pelo legislador nos art. 21º; 22º, nº3; 23º; 89º e 90º, da CRA.

464 Defensores dos cartazes afirmam que eles ajudam a estabilizar os mercados, para reduzir custos de
produção, para eliminar tarifas elevadas, equitativamente, distribuir os benefícios e beneficiar os
consumidores. Seus detractores apontam para que, quando não há nenhuma competição, os preços são mais
elevados e menor oferta. Hoje considera que suas desvantagens superam suas vantagens e muitas vezes são
definidas limites legais para restringir o desenvolvimento de novos posters Cartaz (organização ilegal).
Poster ou cartaz são os termos que se relacionam com uma grande organização ilícita ou um conjunto de
organizações criminosas que estabelecem acordos de auto - protecção, colaboração e partilha de territórios
(lugares) para desenvolver as suas actividades criminosas. Nos Estados Unidos da América, o termo com o
qual eles identificam organizações criminosas é o de "máfias", distinguindo-se em primeiro lugar, a "máfia
italiana", mas extensivamente é também designada a "máfia russa" "a máfia chinesa" entre outras coisas, deve
notar-se que a chamada "máfia mexicana" refere-se a uma organização americana, cujos membros são,
basicamente, "ciganos".
No caso das organizações criminosas nativas de países latino-americanos, são chamados para estes maneira
imutável como cartazes e Cartel de Drogas como de Mendelin na Colômbia de Pablo Escobar.
465 Cfr. BOREL, ÉMILE, (1871-1956) - "Probabilidade e Vida" (Le Probabilites et la Vie, edição francesa de

1943, Probability and Life, edição inglesa de 1962),


internet.https://sites.google.com/site/scientiaestpotentiaplus/lei-de-bore. Já em "Probabilidade e Certeza"
(Probabilite et Certitude, edição francesa de 1950, Probability and Certainty, edição inglesa de 1963, site da
internet. Consultado dia 29/3/2016.
466 Cfr. ABRANTES, MARIA LUISA, - Teoria de Jogos e Oligopólios, Multitema editora, FDUN 2004, Pág. 5-23.
467 Nossa.
468 Cfr. ABRANTES, MARIA LUISA, - Pág. 24.

243
Manual de Direito Económico Francisco Mário
13.4.8. Abuso de Posição Dominante

A figura de Abuso de Posição Dominante – foi desenvolvido no Direito Europeu através da


união europeia e vem consagrado no art. 102º, do TFUE469, e particularmente em Portugal
no art.11º, da Lei nº19/2012, de 8 de Maio, Lei da Promoção e Defesa de Concorrência, por
conseguinte, é sabido que o Direito de Concorrência é um instrumento essencial da
economia de Mercado para permitir assim ao consumidor de usufruir dos benefícios
proporcionado pela lei da procura e oferta através dos preços baixos, melhor qualidade e
maior variedade de bens e serviços.

Para isto se concretize na razoabilidade, é mister defender e garantir o normal


funcionamento do Mercado reflectida numa relação jurídica de despique (concorrência) de
produtos ou serviços entre as Empresas que exploram comercialmente, assegurando o
regime jurídico do controlo de operações de concentração acordos proibidos (que incluem
práticas de concertadas e as decisões de associações de Empresas) e o dos abusos da
posição dominante470.

Estas relações de concorrência verifica-se no “Mercado Relevante” – que consiste em


identificar, de uma forma sistemática, os condicionalismos concorrecionais que as
Empresas tem de enfrentar, isto é, identificar os concorrentes efectivos das empresas em
causa susceptíveis de restringir o seu comportamento e de impedi-las de actuar
independentemente de uma pressão concorrente efectiva.

O Mercado Relevante constitui o conceito chave de concorrência, pois que, o Estado não se
preocupa com formação de Monopólios, Oligopólios, Duopólios ou Posição Dominante, mas
sim, as estereotipadas práticas destes, e, censuradas pelo Direito como práticas ilícitas que
podem alterar o Mercado. Daí o Mercado Relevante vai dividir-se em Mercado Relevante
de Produtos e Mercado Relevante Geográfico.

O Mercado Relevante de Produtos – poder ser definido como conjunto de produtos e


serviços considerados permutáveis ou substituíveis pelo consumidor devido a as suas
características, preços e utilização pretendida, exemplo meramente académico o isqueiro e
fósforos para deflagrar uma inflamação de uma chama de fogo do gás butano na cozinha,
quando um desses produtos não ser possível substituído pelo consumidor em alternativa,
desde logo, no caso meramente ilustrativo o consumidor encontrar-se-á numa posição de
domínio passivo da Empresa produtora deste bem, pelo que, poderá abusar da posição
dominante dos preços, qualidade e variedade do produto, porquanto, o consumidor não
tem alternativa de isqueiro para deflagrar ou atear o fogo para cozinhar no caso mais

469 Tratado do Funcionamento da União Europeia (TFUE).


470 Cfr. JUNQUEIRO, RICARDO BORDADO, - Abuso de Posição Dominante, Almedina editora 2012, Pág.11.
244
Manual de Direito Económico Francisco Mário
pragmático. Mesmo existindo um produto de substituição, a Empresa gozará de Monopólio
hipotético ao lado da oferta471.

O Mercado Relevante Geográfico – Compreende a área em que as Empresas fornecem


produtos ou serviços, em que as condições de concorrência são suficientemente
homogéneas e que podem distinguir-se de áreas geográficas vizinhas devido ao facto, em
especial de as condições da concorrência ser consideravelmente diferentes nessas áreas
em que o consumidor poderá encontrar o produto para substituir aquele (Substituibilidade
do lado da procura) ou onde poderá encontrar fornecedores que possam prontamente
ajustar as suas opções472.

Ora, quando isso não acontece, vislumbra o abuso da posição dominante no Mercado
Relevante Geográfico atentatório à democracia económica e do Estado de Direito (art. 2º e
78º, da CRA).

Portanto, a existência de um abuso da posição dominante de preços excessivos exige o


preenchimento dos seguintes requisitos:

Detenção de posição dominante por parte da Empresa que fixa o preço;

Ausência de uma relação razoável do preço cobrado com o valor económico do produto, e;

Inexistência de uma justificação objectiva.

Porquanto, que a posição dominante pode-se considerar quando uma Empresa que está em
condições de actuar no Mercado Relevante de forma independente relativamente aos seus
clientes, fornecedores e seus concorrentes, (posição de presunção inilidível).

A Posição Dominante segundo RICARDO JUNQUEIRO, “ diz respeito a uma posição de poder
económico detida por uma Empresa que lhe permite afastar a manutenção de uma
concorrência efectiva no Mercado em causa e lhe possibilita comportar-se, em medida
apreciável, de modo independentemente em relação aos concorrentes, aos seus clientes e,
finalmente, aos consumidores”473.

Porém, esta posição do Mercado Monopcioníca, não se proíbe em que os acordos visem o
melhoramento da produção e dos bens e serviços, porque o Estado não preocupa-se com

471 Cfr. O caso da Microsoft nos sistemas operativos (PCs) dos computadores pessoais e o sistema operativos
para outros computadores (e.g. Servidores) não pertencem ao mesmo Mercado de produtos vide Acórdão TG
de 17.9.2007. Proc. T-201/o4, Microsoft Corporation/Comissão Europeia Col II-3601.
Outro caso Angolano o vasilhame de garrafa da cerveja N´gola e da Cuca pertencem o Mercado de produtos
diferentes, desde logo, não são substituíveis, estamos em presença do Monopólio hipotético.
472 Cfr. JUNQUEIRO, RICARDO BORDALO, - Abusos de Posição Dominante, Almedina editora 2012, Pág. 21 e

ss.
473 Ibidem, Pág. 60

245
Manual de Direito Económico Francisco Mário
as posições de domínio das Empresas ou de Monopólio do Mercado à montante ou à
jusante474, pois que, a Concorrência pretende alcançar a concorrência pelo mérito.

Mas por conseguinte, o Estado preocupa-se com o abuso de posição dominante de


exploração dos clientes (o preço não justifica o valor económico do produto) e de exclusão
dos concorrentes (uma Empresa pratica os descontos ou abatimentos de preços
condicionais e não condicionais)475/476.

A nossa Constituição sublinha nos art. 21º;22º, nº3; 23º; 89º e 90º, da CRA como prática
de concorrência desleal, à luz da Lei nº 5/18, de 10 de Maio, Lei da Concorrência, de um
lado, por outro, configura-se no acto típico do ilícito económico penal sancionável em sede
da Lei nº 3/2014, de 10 de Fevereiro, Lei Sobre a Criminalização das Infracções Subjacentes
o Branqueamento de Capitais.

13.4.9. Abuso de Dependência Económica

A dependência económica verifica-se quando uma Empresa, ou mais utilizam o poder do


Mercado o ascender de que dispõem relativamente a outras empresas ou clientes no caso
que se encontrem em relação a elas num estado de dependência, por não dispor de
alternativas equivalentes para o abastecimento dos bens e serviços que necessita do lado
passivo, ou que produz, lado activo.

O que significa dizer que uma Empresa está nesta condição quando ela não dispõe de
alternativas equivalentes na obtenção de fornecimento de bens e serviços de distribuição
asseguradas por número restrito de Empresas em condições idênticas a que deveria ter se
tivesse alternativas de outros parceiros comerciais num prazo razoável (vide art. 10º, da
LConc.).

Portanto, o uso da dependência económica em si não constitui um ilícito concorrecional,


desde que a Empresa do lado activo não altere o Mercado por via desse privilégio como
fornecedor ou, no lado passivo não abuse de tal posição jurídica no Mercado de bens e
serviços.

474 Mercado a Montante- é aquele que constituído de infra-estruturas essências como cabo de fibra óptica,
rede de alta tensão e media de transporte de electricidade (Mercado Grossista) e Mercado a Jusante – é
aquele que é constituído pelas infra-estrutura essenciais de rede de distribuição doméstica da electricidade
(Mercado Retalhista). Neste caso de Mercado a Montante e a Jusante em Angola há Empresas rigorosamente
públicas com presença dominante em ambos Mercados e que são verticalmente integradas. O caso das
Empresas dos petróleos “ SONANGOL” das energias “ PRODENG”, “ENDE” e de águas.
475 Cfr. Art.102º, TFUE. (tratados de Funcionamento da União Europeia).
476 Descontos Condicionais - são aqueles que tem como objectivo de compensar o comportamento do cliente

em função do volume de compras efectuadas durante um período que podem ser por objectivos
individualizados (quando incidem individualmente sobre o comportamento do cliente) ou normalizados
(aqueles em para todos clientes para que objectivo é igual para todos os clientes ou para o mesmo grupo de
clientes. - Descontos Não Condicionais - são aqueles que é concedido apenas a uns clientes não outros, ou seja,
são atribuídas em função de uma qualquer comprador.
246
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Já o “Abuso da Dependência Económica”- é contudo uma das facetas das práticas restritivas
da concorrência que é menos divulgado no sistema económico angolano a julgar pela
incipiente cultura jurídica nestas matérias.

Mas qualquer modo, estas restrições constituem práticas lesivas à concorrência,


independente da culpa, pois consiste nos actos e manifestações de concorrência objectiva
sob qualquer forma cujos resultados configura-se numa lesão ao Mercado.

Assim, à luz da Lei nº 5/18, de 10 de Maio, Lei da Concorrência, constitui “Abuso


Dependência Económica” o uso ilícito do poder de Mercado ou ascendente, de uma ou mais
Empresas, que detenham sobre outra ou clientes que se encontre em estado de
dependência, por não dispor de alternativa equivalente para fornecimento de bens ou
prestações dos serviços em causa.

Porém, em conformidade com enumeração taxativa do enunciado dispositivo legal


meramente exemplificativo (LConc.), podem ser considerados entre outros casos como
abuso de dependência económica os seguintes actos:

i. Imposição de preços ou condições não equitativos de forma directa ou indirecta


nas transações comerciais ou equivalentes (art.11º, nº1 al. a), da LConc.)477.

ii. Subordinar a celebração de contratos à aceitação por parte dos outros


contraentes, de prestação de serviços suplementares, que pela sua natureza ou
de acordo com os usos comerciais, não tenham ligação com o negócio ou objecto
do desses contratos (art. 11º, nº1 al. b), da LConc.).

iii. Ruptura inesperada e sem justificação aparente de uma relação comercial


estabelecida, tendo em conta as relações anteriores, os usos reconhecidos no
ramo da actividade económica e as condições contratuais estabelecidas (art. 11º,
nº1, al. c), da LConc.).

13.4.10. Acordos Restritivos da Concorrência

Os acordos restritivos da concorrência constituem práticas colectivas proibidas e que


podem consistir nas seguintes modalidades:

a) Acordos horizontais - que pode ser definidos como concertações estabelecidas


entre Empresas e as decisões ou deliberações de associações de Empresas que

477A transação corresponde a uma transferência de direitos de propriedade, distinguindo-se de uma mera
noção de troca ou transferência física de bens e serviços (…). A partir desta noção ganham relevância
características “exteriores” à própria troca, mas de notória relevância económica, como os custos da opção
por uma das alternativas em presença (custos de oportunidade) e os custos de negociação. Assim, o recurso
ao mecanismo de preços pressupõe custos de procura dos preços relevantes, bem como custos de negociação
e de celebração de contratos, individualizados para cada uma das transações efectuadas. Dizer que os custos
de económicos não são puramente tecnológicos- subsumíveis a uma produção -, mas também de transação,
ou seja, de especificação daquilo que é trocado e de imposição dos acordos. Cfr. FREIRE, MARIA PAULA. –
Eficiência Económica e Restrições Verticais, AAFDL 2008, Pág. 189.
247
Manual de Direito Económico Francisco Mário
tenham por objecto ou efeito, falsear ou restringir de forma sensível, a concorrência
no todo ou em parte no Mercado que se traduz dentre outros comportamentos que
o comerciante pode adoptar uma conduta de forma concertada, fixar de forma
directa ou indirecta os preços de compra e venda, transações ou interferir na sua
determinação em diferentes estágios do processo económico, limitar, controlar a
produção, distribuição de bens e serviços e repartir o Mercado e limitar o acesso de
novas Empresas no Mercado (Cfr. art. 12º, da LConc.).

b) Acordos Verticais - são aquelas concertações estabelecidas entre as Empresas ou


outros sujeitos que se encontrem numa relação vertical que tenham por objecto ou
como efeito, falsear ou restringir a concorrência no todo ou em parte do Mercado
nacional que traduz em adoptar uma conduta de descriminação sistemática ou
ocasional de determinação dos preços, ou recusa directa ou indirecta à compra e
venda de bens e a prestação de serviços, subordinar, ou impor condições de
celebração de contratos e o preços de venda aos ou comerciantes da cadeia de
distribuição e comercialização que encontrem na posição de dependência em
relação ao do produtor (Cfr. art. 13º, da LConc.).

Os acordos restritivos da concorrência apesar de constituírem nas práticas colectivas


proibidas como regra elas encerram algumas excepções que podem ser considerados
justificados os acordos estabelecidos entre Empresas desde que contribuam para a
melhoria da produção e distribuição de bens e serviços, ou de promoção de
desenvolvimento técnico ou económico com fins que reputam no benefício daí resultante
reverta para os utilizadores, bem como, o referido acordo não imponha quaisquer
restrições ou possibilidade de eliminar à concorrência (Cfr. art.14º, da LConc.).

Pelo que, os acordos de restritivos à concorrência incidir sobre o funcionamento do


Mercado regulado, deve ser precedida de autorização da Autoridade de Regulação da
Concorrência, (ARC) desde que os interessados demonstrem através de requerimento
dirigido à ARC, que faz prova como o referido acordo não e lesivo ao normal funcionamento
do Mercado (art.14º, nº 2 e 4, da LConc.).

13.4.11. Vendas Subordinadas

No Direito Civil, “Venda” é estudada em sede das Obrigações que proclama a sua definição
nos axiais termos jurídicos legais, bem como a sua constituição, vicissitudes, cumprimento,
garantias e a extinção da venda, ou simplesmente o “Contrato de Compra e Venda”, como
vem regulado no Código Civil sob a lupa do art. 875º, do CC, cujo objecto do contrato incide,

248
Manual de Direito Económico Francisco Mário
em regra, sobre uma coisa móvel dentro do comércio e tem dupla natureza, isto é,
obrigacional e real (art. 879º, do CC)478.

Por conseguinte, os bens susceptíveis à venda subordinada ou agrupada, no caso, são


equiparados as coisas divisíveis (art. 209º, do CC), ou coisa principal, integrante,
componentes e acessórias (art. 210º, do CC).

Porém, o instituto jurídico de “Compra e Venda” do livro II das Obrigações em Especial da


arrumação dos Pandectas e do Código Civil de Antunes Varela e Pires de Lima de 1966, não
se esgota na descrita norma jurídica do Direito Civil (art. 875º e ss., do CC), mas antes, para
ter eficácia e eficiência no tráfego da ordem económica deve ser entendida numa outra
perspectiva da dimensão do Direito Económico (Concorrência, Consumidor e Ambiente).
Ou seja, o Direito Civil dá-nos os imputs para perceber bem e melhor o Mercado.

Ora bem, como já dissemos in supra as preocupações centrais do Direito Económico da


Concorrência é efectivamente a hostilidade do Estado contra quaisquer actividades
económicas que as Empresas possam, pôr recurso aos expedientes anti-concorrencionais
que atentam a livre concorrência no Mercado que se pode postular à redução estratégica
do volume de produção, o aumento de preços, a diminuição dos níveis de qualidade dos
produtos, a supressão da inovação ou liberdade de escolha dos consumidores, preços,
adoptar uma política de Mercado que, em ultima instância, se tenha como lesiva do bem -
estar dos consumidores (art. 16º, da Lei do Consumidor), bem como enriquecimento sem
causa por intervenção ou por prestação jurídica (vide art. 473º, do CC).

Neste passo, segundo a orientação da doutrina mais experimentada da União Europeia


sobre esta matéria e escrutinada na TFUE, art. 102º, a Venda Subordinada - “ Subordinação
diz respeito a situações em que os clientes que compram um produto (produto subordinante)
são obrigados igualmente a comprar um outro produto da Empresa dominante (produto
subordinado).

Entretanto, a subordinação pode respeitar a bens serviços a ser implementado de forma


diversa. Todavia, a prática mais recorrente é a da subordinação por via contratual.

Assim, a Venda Subordinada importa as seguintes modalidades:

Venda Subordinada pelo Contrato - porquanto, o cliente lhe é imposto no contrato que titula
uma cláusula de compra e venda do produto subordinante, a obrigação de também adquirir
o produto subordinado. Ex. A venda de um computador (subordinante) e que sai com um
outro produto como a impressora (subordinada), todos da mesma marca, ou do mesmo
produtor. Outro ex. o contrato de venda de serviços fornecimento de energia eléctrica
doméstica (subordinante) insere-se a cláusula no contrato de a Empresa fornecer e a
montagem exclusiva dos contadores por eles predefinidos ou fabricados (subordinada).

478Há assim, a par dos contratos obrigacionais, isto é, dos que criam modificam ou extinguem relações
creditórias (quoad constitucionem), os contratos reais ou com eficácia real (quoad efectum).
249
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Por conseguinte, tal situação em análise pode resultar da circunstancias de o vendedor
desencorajar de ponto de vista económico os produtos subordinados há outro fornecedor
(subordinação), isto normalmente acontece quando o vendedor adopta as políticas de
descontos, oferta de bónus, ou qualquer outra forma de marketing comercial que deia
vantagem ao consumidor e induza-o à preferir na compra do produto subordinado.

Venda subordinada Técnica - ocorre quando os produtos se encontram de tal forma


integrados tecnologicamente um no outro que se torna fisicamente impossível ao
consumidor proceder à sua separação, cuja separação para o cliente torna-se muito
oneroso. Ex. A venda de computadores pela Microsoft e integrar no seu sistema operativo
Windows, colunas de som com altifalantes amplificadas etc.

Venda Subordinada Dinâmica - ocorre quando o vendedor exige que, com a compra de um
determinado produto, o comprador adquira, também todas as unidades de que necessite
de um segundo nível. Isto acontece por ex. na venda de uma máquina de café o vendedor
obriga que o comprador adquire as respectiva cápsulas de café479.

13.4.12. Vendas Agrupadas

O agrupamento em temos genéricos respeita à forma como os produtos são colocados à


disposição do consumidor, isto é, em pacote, que nenhum dos produtos são vendidos em
separado. Ex. A compra de pacote de viagem de turismo, inclui bilhete de passagem de
avião, hotel, refeição com um bebida incluída, transporte e tradutor. Outro ex. Compra de
bilhete de passagem internacional obrigatoriedade para os não residentes do País de
destino de compra ida e volto e seguro obrigatório de viagem. Festas do final do ano
(réveillon) compra do ingresso e incluído o consumo do bar (bar aberto) os pacotes de TV
via satélite ZAP, DSTV – Multichoice, os softwere de smartfone com os respectivos
aplicativos.

Importa assinalar que o Mercado é tão dinâmico que o Direito tem de acompanhar os
passos deste desenvolvimento comercial, assim, dizer que a Venda Agrupada não é
estanque, pois também, comporta duas modalidades, designadamente:

Venda Agrupada Pura – é aquela que o vendedor coloca em disposição de um produto ao


consumidor de forma de um pacote, o consumidor que queira comprar o produto A, devera
comprar o produto B, assim vice-versa, é pois um Mercado Monopcioníca. Ex. Compra e
venda de um computador com a respectiva mesa monitor teclado colunas de som e
impressora, a compra de um hambúrguer composto acompanhada com uma bebida
refrigerante e os pacotes de TV via satélite ZAP, DSTV – Multichoice, os softwere de
smartfone com os respectivos aplicativos.

Venda Agrupada Mista – em termos comerciais o vendedor oferece ao consumidor a opção


entre adquirir cada produto em separado ou como parte integrante de um pacote. Ex.

479 Cfr.
LOURENÇO, NUNO CALAIM, - Vendas Subordinadas e Agrupadas Estratégias de Projecção de Poder de
Mercado, Almedina 2013, Pág. 35.
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Manual de Direito Económico Francisco Mário
Compra e venda de um computador com a respectiva mesa monitor teclado colunas de som
e impressora, pode o consumidor optar pela compra de um dos componentes
individualizados480.

Portanto, a compra e venda subordinada ou agrupada oferece vantagens de qualidade e do


preço (externalidades positivas do Mercado) quando isto é efectivamente regulado e
fiscalizado e nível cultural e grau de instrução dos consumidores. Por outro, oferece o lado
amargo ao consumidor nos temos de qualidade e preço abalando as liberdades individuais
de escolher com liberdade opcional (elemento volitivo) os produtos nos termos do art. 2º,
da CRA e art. 405º, do CC., porque os vendedores tendem lucrar ou enriquecer por
prestação (art. 473º, do CC) de um produto sem qualidade ou preço exorbitante, dupla
marginalização481 (externalidade negativa do Mercado).

13.4.13. Auxílio do Estado

Em 1963, ano que foi abordado de forma concisa pela primeira vez na Comunidade Europeia
e anunciou-se as várias formas de Auxilio do Estado consubstanciados nos subsídios
directos, isenções fiscais, taxas de juros bonificados ou preferenciais, garantia de
empréstimos, condições favoráveis, ou negócios gratuitos na aquisição de terrenos, ou
instalações, fornecimento de bens ou serviços em termos preferenciais, indemnização de
prejuízos e outras medidas de efeitos equivalentes, custos de operações de créditos, taxas
de redesconto preferenciais garantia de dividendos, dilação nas cobranças fiscais e sociais,
participações em capital social, suprimento de compensações financeiras, conversão de
dívida, cessão de créditos em condições preferenciais e tarifas especiais482.

O Auxílio do Estado – é uma excepção à concorrência que consiste basicamente em uma


prestação da Administração Económica à favor de actividades de interesses gerais
desempenhadas por Agentes Económicos que lhes são estranhos e visam criar estímulos a
prática de certos actos, ou desenvolvimento de uma dada actividade no quadro de um
conjunto de objectivos definidos pela Administração normalmente constantes no plano483.

O auxílio do Estado por exemplo pode consistir na forma da Garantia Soberana, ou do


Aval do Estado -Trata-se, pois de um instituto muito frequente após o 25 de Abril de 1974,
em Portugal muito embora já previsto anteriormente, nomeadamente pela Lei nº 3/72, de
27 de Maio (Lei do Fomento Industrial), na sua base XII e pela Lei nº1/73 de 2 de Janeiro.

O Aval - é uma operação de crédito que tem lugar quando uma Empresa celebra um
contrato de empréstimo ou de financiamento com outra entidade, ficando a pessoa

480 Cfr. LOURENÇO, NUNO CALAIM, - Vendas Subordinadas e Agrupadas Estratégias de Projecção de Poder de
Mercado, Almedina 2013, Pág. 44.
481 Cfr. LOURENÇO, NUNO CALAIM, - Vendas Subordinadas e agrupadas Estratégias de Projecção de Poder de

Mercado, Almedina 2013, Pág. 44.


482 Cfr. GOMES, JOSÉ LUÍS CARAMELO, - Lições de Direito de Concorrência, Almedina 2010, Pág. 181.
483 No mesmo sentido vide PRATA, HELENA, Pág. 189.

251
Manual de Direito Económico Francisco Mário
colectiva pública que avaliza, vinculada a todas obrigações contratuais estipuladas se a
avalizada não cumpre.

É atribuído por acto administrativo (despacho governamental) em função de certos


requisitos da Empresa a avalizar, que aliás a Lei prevê, ou seja, o Aval – por representar
uma operação de crédito, para a sua efectivação, em Angola, carece da autorização da
Assembleia Nacional (vide al. d), do art. 162º, da CRA) e sob controlo e fiscalização
preventiva através do competente parecer do Tribunal de Contas (vide al. b), do nº 1 do art.
7º, da Lei nº 13/10, de 9 de junho, LOPTC).

Na sua múltipla actividade – O Estado realiza operações de crédito com objectivos


financeiros, onde podemos destacar a prestação de aval – que não é mais que um “acto
unilateral pelo qual o Estado garante o cumprimento de dívidas de outras entidades,
assumindo, em caso de incumprimento, as respectivas responsabilidades perante os
credores”484.

Se o Aval funciona, como quem declara, se a avalizada não cumpre, a pessoa colectiva
pública fica ope legis sub-rogada nos direitos do credor, com o privilégio creditório nos
termos do art. 733º, do Código Civil.

É este o regime do Direito Civil do Aval, o seu regime de Direito Público consiste no facto
de o Estado passar deter poderes especiais de fiscalização sobre a actividade da Empresa
beneficiária e no facto de poder unilateralmente transformar-se de credor em sócio, tendo
o Aval funcionando. Trata-se, neste caso, de uma estatalização parcial485.

Portanto, é entendimento jurisprudencial, que o Aval representa uma garantia financeira


autónoma com ordenamento jurídico específico atinente ao Direito Financeiro cuja forma
de prestação pode seguir, ou não os cânones cartulares dos actos de diversa ordem no
quadro global do Aval na modalidade do seu entendimento diverso.

O Subsidio - é forma de fomento económico que reveste a natureza de um acto


administrativo receptício que visa custear despesas de certas entidades personalizadas
para prossecução de finalidades da colectividade caso flagrante o subsídio aos
combustíveis para os sectores produtivos da agricultura e pesca através do Decreto
Presidencial nº 84/19, de 21 de Março.

Está figura quando não for bem doseada poderá constituir o clientelismo económico ao
favorecimento de um grupo de elite de Agentes Económico, apesar desfavorecido, mas
entra em contradição com o princípio da igualdade e do Mercado e livre concorrência, tem
pois, repercussões negativas (externalidade económicas negativas), sancionável nos

484 Cfr.
FRANCO, ANTÓNIO LUCIANO DE SOUSA, Pág. 142. Ainda sobre o Aval do Estado, ver:— NUNES, ELISA
RANGEL – o Aval do Estado – conceito, enquadramento, regime jurídico de prestação e controlo financeiro
pelo Tribunal de Contas – VISLIS – Lisboa – Julho de 2005.

485 Cfr. CABRAL DE MONCADA, LUÍS, - Direito Económico, centro de cópias U. L, 1983, Pág. 251-253.
252
Manual de Direito Económico Francisco Mário
termos do art. 14º, 23º e 89º, da CRA, salvo por excepção permitida pelo legislador no plano
de fomento e incentivos fiscais e protecção de Micro, Pequenas e Médias Empresas.

13.5. O Sistema de Controlo da Defesa da Concorrência

Segundo PEDRO CARLOS BACELAR DE VASCONCELOS, apesar de a palavra “controlo” ser


entendida numa primeira análise como vigilância ou observação, refere que “o controlo
relaciona-se com a responsabilidade – a confiança, trust, que circula – segundo um esquema
de separação dos poderes cujo sentido fundamental se traduziria num imperativo de
cooperação entre os titulares dos cargos, condição ineliminável para o exercício dos
respectivos poderes”486.

Por seu turno o financista PAULO NOGUEIRA DA COSTA, exprime que “o controlo financeiro
não representa uma finalidade em si mesmo; ele faz parte de um sistema cujo objectivo é a
detecção de infracções ou desvios aos princípios da legalidade, economia, eficiência eficácia
da gestão financeira pública”487.

Na nossa perspectiva, defendemos que “o controlo compreende toda actividade de


fiscalização exercido pelos órgãos inseridos no Poder Executivo nos diversos níveis
hierarquizados da organização do Estado, cujo escopo é o de avaliar os riscos e contribuir
para a consecução dos objectivos gerais preconizados pela Constituição e pela Lei”488. À luz
da prossecução do interesse público que a Administração Pública persegue (Art.º 198º, da
CRA), o Poder Executivo através da Administração Pública Central ou Local para alcançar
os objectivos preconizados na Constituição possui uma estrutura orgânica e, em função
disso, existem departamentos ministeriais ou serviços (Autoridade de Regulação da
Concorrência).

No controlo da defesa da concorrência existem vários modelos ou sistemas de acordo os


ordenamentos jurídicos de concorrência. Assim, o modelo de defesa de concorrência a
priori – visa antes porém controlar preventivamente quaisquer actos restritivas de
concorrência de Empresas que autoridade de concorrência julgar de antemão lesar e
alterar ou não o Mercado concorrecional -, controlo preventivo. As Empresas não podem
praticar actos restritivos de concorrência sem comunicação e a prévia autorização da
Autoridade de regulação da Concorrência.

486 Cfr. VASCONCELOS, PEDRO CARLOS BACELAR DE – Teoria Geral do Controlo Jurídico do Poder Público,
Edições Cosmos de Direito, 1996, Pág. 104. No mesmo sentido dizia o VLADIMIR ILICH LENINE que « a
confiança é boa mas o controlo é melhor… confie mas verifica», Cfr. HESSE, HELGE. – A Historia do Mundo em
50 Frases, casa das letras 1ª edição 2011, Pág. 179.
487 Cfr. COSTA, PAULO NOGUEIRA DA – O Tribunal de Contas e a Boa Governança, Contributo para a Reforma

do Controlo Financeiro Externo em Portugal – Coimbra Editora, 2014, Pág. 28.


488 Cfr. MARIO, FRANCISCO. – Controlo Jurisdicional dos Dinheiros Públicos em Angola, Dissertação do

Mestrado. FDUL. 2015, Pág. 44.


253
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Já o modelo de controlo da defesa de concorrência a posteriori, visa controlar quaisquer os
actos restritivas de concorrência de Empresas depois da sua efectivação no Mercado
concorrecional.

O modelo de defesa de concorrência a priori do Mercado concorrecional é o controlo


preventivo administrativo das Empresas para evitar a prática de actos restritivos de
concorrência (art.15º e 17º, da L Conc.). a ARC tem o dever jurídico de praticar o acto
positivo ou negativo no prazo de 120 dias sob de deferimento tácito (art.17 nº 3 da L Conc.).
Entretanto a par do controlo a priori ARC realiza o controlo concomitante. Portanto este
modelo é o perfilhado ou adoptado pelo ordenamento jurídico angolano na defesa da
concorrência, mas de modo operativo realiza o controlo misto.

13.5.1. Autoridade de Defesa da Concorrência.

As autoridades defesa de concorrência são entidades especializadas para controlo da


defesa do Mercado de concorrência. Além dessas entidades sectoriais o ARC é criada pelo
Titular do Poder Executivo e o provimento dos seus órgãos sociais é mediante a nomeação
do Presidente da República como Titular do Poder Executivo (art. 3º e 8º, da L Conc.).

Todo modo, as entidades de regulação de concorrência em nossa opinião não são


independentes, pois a independência formal concretiza-se em diversas acepções, como a
independência orgânica e funcional.

Assim, por independência orgânica postula os seguintes requisitos:

i) O modo de designação dos titulares dos órgãos de administração;

ii) As regras relativas ao mandato fixo e inamovível;

iii) O modo de destituição ou dissolução, e;

iv) 0 regime de impedimentos e incompatibilidades.

Portanto, a ausência destes requisitos não se pode falar de independência das autoridades
independentes em Angola.

Por conseguinte, a independência funcional requere os seguintes requisitos:

i) A ausência de ordens e de instruções ou mesmo de directivas vinculantes, e;

ii) A inexistência de controlo de mérito ou da obrigatoriedade da prestação de contas em


relação à orientação definida.

Autoridade de Regulação da Concorrência é uma entidade de natureza pública


administrativa com personalidade jurídica cujas atribuições e competências estão
definidos pelo PR e nos seus Estatutos e Regulamentos. Tem poder sancionatório garantido
pela sua autuação autónoma. A ARC, é superintendido pelo PR como Titular do Poder

254
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Executivo (art. 4º, da L Conc.) e o seu financiamento é assegurado pelo OGE e os demais
entidades sectoriais.

13.5.2. Direito Penal de Concorrência Como Ultimo Rácio da Protecção do


Mercado

Será que estamos diante o Direito Penal Económico? Propendemos pela humildade atitude
negativa, porquanto não se quer dar azos aqui de autonomizar o Direito Penal Económico
do tradicional Direito Penal positivo primário.

Porém, com o desenvolvimento da ciência e da tecnologia nos últimos decénios permitiu a


rápida e frenética globalização do Mercado, configurado numa Economia planetária digital;
uma viragem económica e social que o Direito Penal tinha que reinventar através da
dispersão dogmática legislativa para acompanhar a dinâmica letal da economia de escala e
de risco exposta a humanidade através do crime económico e financeiro.

A doutrina penal de cariz liberal, individualizada e antropocêntrica, sente claras


dificuldades em lidar como o fenómeno da socialização do risco típica das pós-
modernidades. Ao tentar a todo o transe salvaguardar o tradicional e clássico Direito Penal
mínimo como ultimo rácio, deixando a outros ramos do direito ou a um direito de
intervenção as condutas de descriminalizadas, ou criando o chamado o direito penal de
duas velocidades (ao redor de um núcleo duro do Direito Penal iluminista, circularia um
asteroide contendo um Direito Penal de cariz social e económico)489. Esquece que o Direito
Penal é tendencialmente garantistica perante a posição de uma pessoa (e por isso
jurisdicionalizado) enquanto o Direito Administrativo é funcional, porque ela existe para
perseguir os interesses colectivos determinados acima dos individuais490.

Todavia, esta estravagância dogmática – legislativa subjaz-se na perspectiva de superar as


lacunas existentes nas instituições do Direito Penal tradicional, pelo que, admite-se como
afirma o Prof. FIGUEIREDO DIAS491, a classificação do Direito Penal Primário aquele que
está contido nos Códigos e o Direito Penal Secundário aquele que contido fora do Código
(ex. legislação penal ambiental, financeira, bancário, consumidor e etc.).

Ora bem, partindo do princípio de que é mister estudar o Direito para entender o Mercado,
o Direito Penal na tutela daquela tríade dos bens jurídicos dos Agentes Económicos (a
dignidade da pessoa humana, o património e os interesses da colectividade) tem sido
chamado em ultima como instituição jurídica, ou seja, deve esgotar-se todos mecanismos

489 Apud. CATARINO, LUÍS GUILHERME. – Regulação e Supervisão dos Mercados de Instrumentos Financeiros,

tese, Almedina 2010, Pág.577- AAV. COSTA, FARIA. DIAS, FIGUEIREDO – “o Direito Penal entre a sociedade
Industrial” e a “Sociedade de Risco” in Estudos em Homenagem ao Prof. DOUTOR ROGÉRIO SOARES, Coimbra
2001. Pág.583-613.
490 Cfr. CATARINO, LUÍS GUILHERME. – Regulação e Supervisão dos Mercados de Instrumentos Financeiros,

tese, Almedina 2010, Pág.577.


491 Cfr. DIAS, JORGE FIGUEREDO, - Direito Penal, Tomo I, Coimbra editora 2ª edição 2007, Pág. 15.

255
Manual de Direito Económico Francisco Mário
jurídicos para resolver à questão em conflito e o Direito Penal como ultimo mecanismo a
ser convocado para efeito.

13.5.3. Fundamento Jurídico-Dogmático para Criminalização das Ofensas a


Liberdade de Concorrência

O Direito Penal como Direito do estudo crime e das penas a sua intervenção visa
efectivamente a tutela da liberdade de concorrência e a manutenção da ordem da
estabilidade do Mercado e a correspondente garantia da livre circulação da riqueza entre
os Agentes Económicos, que tradicionalmente competia ao Direito Administrativo e com
eventual auxílio do Direito Civil que tem mais edificações jurídicas desenvolvidas e antigas.

Pois, cabe em regra ao Direito Administrativo ou se quiserem assim entender, Direito de


Contra - Ordenações averiguar e sancionar os comportamentos violadoras das regras
concorrecionais, não havendo aqui a intervenção do Direito Penal, por entender que era
injustificável ou ser desnecessário lançar à mão do mais gravoso e severo sistema do ramo
da ordem jurídica492.

Com as crises paradigmáticas da regulação do sistema económico-financeiro iniciada no


verão de 2007, ouviram-se vozes a nível planetário e com enfoque nas economias
desenvolvidas da União da Europeia e América do Norte e noutras economias emergentes
da Ásia, América do Sul e África. Porém, estas vozes ditaram uma profícua intervenção do
Estado no sistema económica através do Direito Económico Penal para criminalizar
aquelas condutas não habitualmente delinquentes consideradas pelo Direito Penal
primário, designadamente: os ilícitos ambientais, fiscais, bancários, consumidor,
concorrência e etc.

Assim, em Angola atento o movimento internacional de superação da crise do paradigma


regulatório começou-se a produzir normas jurídicas e criar instituições para adequar o
novo figurino da economia global. Razão pela qual no nosso ordenamento jurídico
evidenciou-se na produção das normas jurídicas de natureza económica penal como
exemplo meramente ilustrativo a Lei nº 3/2014, de 10 Fevereiro, Lei sobre a
Criminalização das Infrações Subjacentes ao Branqueamento de Capitais.

13.5.4. A Concorrência Como Bem Jurídico Económico Digno de Tutela Penal

No Mercado Concorrencial entronca-se duas situações típicas, digna de protecção jurídica,


designadamente: defesa da lealdade da concorrência e protecção da livre concorrência.
Estas duas realidades são manifestamente distintas, pois que, alias, de ponto de vista
económico exprimem realidades diferenciadas, porquanto estão ligadas a factores relativas

492Neste sentido vide. LOUREIRO, FLAVIA NOVERSA, - Direito Penal de Concorrência, Almedina, Teses 2017
Pág. 229.

256
Manual de Direito Económico Francisco Mário
as práticas restritivas da concorrência e os aspectos relacionados com o tratamento da
concorrência desleal.

O que significa dizer as duas realidades fazem instituto de concorrência e, por via disso, são
bens jurídicos económicos digno de tutela penal por constituírem direitos económicos
fundamentais previstos na Constituição (art. 21º e 89º, da CRA).

13.5.5. O Tipo Objectivo do Ilícito. O Objecto da Conduta

Pois bem, não baste proclamar legalmente o crime, é efectivamente essencial desenhar os
pressupostos ou elemento do tipo objectivo do tipo do ilícito.

Parece seguramente visível que o elemento do tipo objectivo afigura-se na conduta


antijurídico violadora das normas de liberdades de concorrência, por ex. os carteis de
fixação de preços, de repartição de quotas de Mercado de produção, distribuição e de
comercialização licitações fraudulentas, concursos públicos viciados, tudo isso, constitui a
restrição à liberdade de concorrência, portanto, o bem jurídico violado é a liberdade.

13.5.6. O Tipo Legal do Crime de Concorrência. Crime de Perigo e Crime de


Dano

Na doutrina e na Lei é unanime entendimento que o crime de concorrência configura-se


nos crimes contra economia. Assim, todavia, o crime de concorrência encontra o seu
recorte jurídico-legal na Lei nº3/2014, de 10 Fevereiro e nas demais disposições legais
avulsas.

Pela configuração do bem jurídico em causa parece coexistirem facilmente na norma de


uma infracção de perigo e uma infração de dano.

Ora vejamos, estaremos em face de um crime de perigo, - quando esteja em causa a


existência de um colusório cartelista que tenha como objecto, por objectivo, a limitação da
concorrência através de uma (ou várias) das acções descritas, desde que as concretas
condutas pactuadas sejam idóneas, aptas, a produzir um risco para o bem jurídico
“liberdade de concorrência”, mas ainda que se não demonstre, ex post, a verificação
concreta do perigo presumido493.

Nesta linha que acabamos de descrever, o bem jurídico, não tem de ser efectivamente
lesionado, ou seja, o efeito de restrição da concorrência não tem de ocorrer, pois que, o
comportamento em causa é em si próprio considerado perigoso para aquele bem, desde
que, através do juízo ex ant, o julgador considere que a conduta projectada era susceptível
de afectar a tranquilidade do bem jurídico – Mercado.

493Neste sentido vide. LOUREIRO, FLAVIA NOVERSA, - Direito Penal de Concorrência, Almedina, Teses 2017
Pág.305.
257
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Já o crime de dano, não se censura os acordos estabelecidos sensível a concorrência, ou
seja, não diz respeito ao conluio dos Agentes Económicos no Mercado, mas sim, os efeitos
decorrentes da execução do conteúdo programado do tal conluio.

Entretanto, no crime de dano o elemento constitutivo do tipo objectivo do crime é a


produção da lesão consumada ao bem jurídico.

Só a comprovação – a fazer naturalmente em sede do processo da acusação deste dano à


liberdade de concorrência (do efeito) poderá justificar, nesta situação, à consideração dos
demais pressupostos o tipo objectivo de ilícito.

Note-se que existe diferença dos crimes patrimoniais (furto, roubo, extorsão, burla, burla
por defraudação, infidelidade, etc..) e crimes cometidos no exercício de funções públicas
(peculato, corrupção, participação económica em negócio, recebimento indevido de
vantagens, etc…) crimes financeiros (branqueamento de capitais, evasão fiscal, fuga ao
fisco, abuso de confiança fiscal, falsificação de títulos de créditos e etc.).

Portanto, sem querer galgar mais para além da média do Direito Económico Penal (Direito
Penal Secundário) o crime de mera actividade económica, o crime de perigo económico e
de dano económico, em linhas gerais afigura-se no essencial no crime do resultado.

13.5.7. Sanções Penais Económicas

A vida do homem decorre em convivência, os indivíduos, mantêm entre si do berço ao


túmulo, mútuas e constantes relações de colaboração e de dependência económica, porque
a vida em sociedade é o modo natural da existência da espécie humana, viver em sociedade
corresponde o destino do homem. Na família, no clã, na cidade, no Estado, há solidariedade
que actuam forças centrípetas no sentido da formação e da coesão do agrupamento social.

Entretanto, os Agentes Económicos que actuarem em desconformidade com a ordem


económica e violarem o bloco de legalidade doutamente estabelecida pela sociedade, esta
reagira, como é óbvio, através dos mecanismos de reprovação social assistidas de sanções
com força jurídica para restabelecer a paz económica.

Qualquer forma, as sanções de natureza económica por causa do carácter do Direito


Económico configurado no declínio da coercibilidade e imperatividade, isto é, o Estado
recorre aos meios técnicos económicos para penalizar, estimular e incentivar os Agentes
Económicos, assim neste contexto, dividem-se em sanções positivas e negativas; sanções
não penais ou contra-ordenação social e sanções penais.

Todavia, as sanções penais económicas positivas podem revestir vários esquemas que
visem combater a criminalidade económica ou infracções de colarinho branco e colarinho
azul494, cujos bens jurídicos são os valores supra-individuais, ou seja, interesses da

494 Crimes de colarinho branco – são crimes cometido por agentes de alta sociedade, já os crimes de colarinho
azul são os cometidos pelos agentes de extracção social inferior.
258
Manual de Direito Económico Francisco Mário
colectividade. As sanções económicas são tipicizadas na doutrina jurídico-penal como
sanções patrimoniais avaliáveis em dinheiro tipicamente pecuniárias e extrapatrimoniais,
onde cabem a restrições e mesmo privativas de direitos de liberdades fundamentais
económicas como retirada de autorização de actividades económicas, ou profissional de
um individuo. A Lei da Concorrência densifica no art. 21º e ss, as infrações as
correspondentes sanções jurídicas.

Efectivamente, como notadamente se observa, o fim das sanções jurídicas visam a


ressocialização do delinquente para que ele volte à viver na sociedade de forma fiel e
conformando-se com ordenamento jurídico-penal económico.

Porém, sanção – é literalmente a indicação da punição aplicável pelos órgãos do Estado


competentes em relação as entidades que não cumprem as exigências das normas jurídicas,
isto é, as sanções jurídicas e a norma jurídica estão intimamente ligada a responsabilidade
jurídica dos sujeitos do direito e também das infracções à Lei.

Qualquer infracção à Lei tem carácter económica e social perigosa, ela perturba a ordem
legal vigente, contrário aos interesses da sociedade e do Estado. As sanções jurídicas
económicas penais visam através do Estado proteger a ordem económica legal, e incute nos
Agentes Económicos e aos cidadãos a consequência de necessidade do cumprimento das
prescrições das normas legalmente emanadas cujo desígnio é protecção dos interesses
públicos da comunidade económica.

Assim, sanções jurídicas criminais económicas – são as que se definem pela utilização de
medidas de condenação criminal económica. Estas sanções não são apenas um castigo pelo
crime cometido, mas também tem o objectivo de correcção e redução dos condenados no
espírito da relação honesta com actividade económica e do trabalho, o cumprimento exacto
das Leis, o respeito da vivência económica e social, assim como a prevenção do
cometimento de novos crimes tanto pelos ex-condenados (prevenção especial) como por
novos indivíduos ou Empresas (prevenção geral).

As sanções jurídicas penais económicas consistem, pois, no sistema de sanções


equilibradas assentes no modelo duplo que conjugue penas para indivíduos e penas para
as Empresas. Só assim, se poderá obter uma tutela adequada do bem jurídico económico
penal, em respeito pelos princípios da subsidiariedade e da proporcionalidade.

13.6. Branqueamento de Capitais.

O termo “Branqueamento de Capitais” tem origem na expressão inglesa Money-laundering.


Esta expressão terá sido usada inicialmente nos Estados Unidos da América, num sentido
quase literal, a propósito das estratégias das máfias americanas de empreender, nas
décadas de 1920 e 1930, negócios ilícitos, sobretudo nas redes de lavandarias, como forma
de legitimação dos lucros provenientes de actividades criminosas.

O enquadramento do crime de branqueamento de capitais pode ser feito através do método


científico-jurídico, concretizado através de uma técnica jurídico-interpretativa e
259
Manual de Direito Económico Francisco Mário
expositiva, sem nunca perder de vista a sua ressonância prática na nossa sociedade
angolana495.

13.6.1. Noção

Inicialmente o conceito de Branqueamento de Capitais apenas se associava a Droga


(Convenção de 1988 da ONU), com o alargamento do conceito através da sua associação a
outros crimes primários, aquela deixou de ser o único crime primário e passou a fazer parte
de um vasto leque de Crimes Subjacentes ao Branqueamento de Capitais.

Ora, a noção de branqueamento de capitais na perspectiva conceitual da dogmática


adaptada pelas Nações Unidas na Convenção contra o Tráfico Ilícito de Estupefacientes e
Substâncias Psicotrópicas e a Convenção contra a Criminalidade Organizada Transnacional,
o branqueamento de capitais tem por fim esconder ou dissimular a natureza, origem,
localização, disposição, movimentação ou propriedade de bens ou direitos sobre eles, de
modo a que os autores fujam às consequências jurídicas das suas condutas criminosas.

Segundo MENEZES CORDEIRO, a expressão branqueamento de capitais não é pacífica,


podendo ser utilizada a expressão reciclagem ou lavagem de dinheiro […] nas legislações
nacionais, como num conjunto de importantes instrumentos internacionais, uma noção do
que se deve entender pelo crime de branqueamento de capitais. Fazendo uma aproximação
à categoria criminal pode dizer-se que o branqueamento de capitais consiste na
transferência ou investimento de dinheiro obtido ilegalmente através de uma terceira
entidade, para ocultar a origem dos fundos […] a Lei prevê e pune como crime de
branqueamento de capitais a dissimulação de proventos originados por um conjunto de
actividades delituosas que correspondem ao núcleo central da actividade económica496.

O branqueamento de capitais consiste no processo utilizado pelos delinquentes para


conseguirem que o crime compense, […]” além de evitar que os sujeitos branqueadores sejam,
perseguidos pelas entidades fiscalizadoras destas práticas, também os protege de possíveis
responsibilizações de cariz essencialmente criminal.

O branqueamento de capitais configura-se pois no ilícito económico-financeiro penal


subsumível no instituto de branqueamento de Capitais e financiamento ao terrorismo
internacional. Porém, de acordo com a comunicação do Banco de Portugal (2015),
branqueamento de capitais é definido como a obtenção de capitais de forma ilícita, ou de
atividades criminosas, por forma a dissimular a sua origem. Este capital é colocado no
sistema económico, encobrindo a sua fonte através da justificação da sua obtenção por

Vide. SATULA, BEJA. – Branqueamento de Capitais – Dissertação do mestrado 2010.


495

Apud. JESUS, ANTÓNIO JOSÉ DUARTE DE. - Branqueamento de Capitais - Estudo Empírico dos Últimos
496

anos em Portugal, Dissertação do Mestrado em Direito – Universidade Autónoma de Lisboa 2016, Pág.10.

260
Manual de Direito Económico Francisco Mário
outra origem não criminosa, tornando assim o capital reutilizável e podendo adquirir bens
pagos com este capital justificado497.

Pois bem, branquear capitais é, grosso modo, o processo ou procedimentos que visam
transformar liquidez proveniente de actividades ilícitas, como a droga, a corrupção,
terrorismo, contrabando, lenocínio, peculato, tráfico de menores ou doutras fraudes
económicas, em capitais reutilizáveis legalmente por dissimulação da fonte e do verdadeiro
proprietário dos fundos.

Portanto, é uma operação através do qual o dinheiro de origem ilícita é transformado e


restituído ao circuito económico ou financeiro legal, como se fosse obtido de forma lícita.

13.6.2. Fases de branqueamento de capitais

A doutrina tem avançado teoricamente três (3) fases do processo de lavagem de dinheiro,
que muitas vezes acontecem simultaneamente:

a) Colocação - a primeira etapa do processo é a colocação do dinheiro no sistema


económico. A colocação se efectua normalmente por meio de depósitos em
bancos, compra de instrumentos negociáveis ou compra de bens.

b) Ocultação - a segunda etapa do processo consiste em camuflagem para dificultar


o rastreamento dos recursos ilícitos.

O objectivo nessa fase é o de quebrar a cadeia de evidências ante a possibilidade da


realização de investigações sobre a origem do dinheiro. Os branqueadores procuram
movimentar o dinheiro de forma electrónica, transferindo-os fraccionadamente para
contas anónimas, preferencialmente em Países cujo sigilo bancário é bastante reforçado.

c) Integração -Nesta última etapa, os capitais são introduzidos formalmente no


sistema económico, mediante empreendimentos que facilitem as mais variadas
actividades, tornando cada vez mais fácil legitimar o dinheiro ilegal.

No mundo globalizado como o de hoje, as instituições bancárias constituem, embora não


exclusivamente, o sector mais visado no processo de lavagem de dinheiro devido as
variedades de serviços e de instrumentos de aplicação que proporcionam498.

A prática do branqueamento de capitais tem sido um elemento desestabilizador das


economias dos Países do mundo, com realce aos Países subdesenvolvidos com menos
controlo de migração e supervisão financeiras cujas consequências são imensuráveis na
vida das populações. Portanto, o branqueamento funciona como uma espécie de
“passaporte da economia criminal para a economia legal”.

497 Cfr. JESUS, ANTÓNIO JOSÉ DUARTE DE. - Branqueamento de Capitais - Estudo Empírico dos Últimos anos
em Portugal, Dissertação do Mestrado em Direito – Universidade Autónoma de Lisboa 2016, Pág. 8.
498 Vide. SATULA, BEJA. – Branqueamento de Capitais – Dissertação do mestrado Universidade Católica

Portuguesa 2010.
261
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Essa prática encontra predileta zona de conforto da sua actuação nos Paraísos Fiscais499 e
nos Offshores500. Baste lembrar os escândalos da Panamá papers, Luanda leacks, cuja
actividade criminosa de branqueamento de capitais desenvolveu-se nos paraísos Fiscais e
através de sociedades Offshores.

Já dizia celebre Sócrates antes de Cristo que “ É mais difícil guardar um segredo do que um
carvão aceso na boca”, máxima que demonstra a propensão natural do homem em revelar
aquilo que não deve. Em boa verdade, não há segredos absolutos e, portanto, o segredo
bancário à semelhança dos restantes segredos profissionais tem uma natureza relativa,
porquanto deve ceder quando valores antagónicos igualmente protegidos pelo direito e lhe
sobrepõem em termos proporcionais nos termos do art. 57º, da CRA e 335º nº 3, do CC.

13.6.3. Tipologias de branqueamento

No figurino actual das economias de Mercado globalizados são qualificados como factos
ilícitos típicos subjacentes ao branqueamento:

1. O lenocínio;

2. O abuso sexual de crianças ou de menores dependentes;

3. A extorsão;

4. O tráfico de estupefacientes e substâncias psicotrópicas;

5. O tráfico de armas;

6. O tráfico de armas ou tecidos humanos;

7. O tráfico de espécies protegidas;

8. A fraude fiscal;

9. O tráfico de influências;

499 Paraísos Fiscais - é uma região geograficamente limitada, caracterizada por proporcionar aos não
residentes a isenção ou redução de impostos (em relação ao País de residência).
500 A designação do termo inglês offshore, significa em português, «no mar alto» […] são sociedades em

paraísos fiscais, Países que decidiram atrair investimento através da atribuição de benefícios às Empresas
que queiram ter a sua sede nesses territórios. Uma técnica de marketing legítima, já que cada território
soberano pode estabelecer os seus impostos. Esta prática, em fazer uso dos mecanismos legais permitem que
sejamos menos penalizados pelo Estado é um direito que nos assiste a todos.
Dizem os especialistas que não é imoral nem ilegal, mas o facto de estas sociedades poderem ser
representadas por um (“testa de ferro”), não se revelando quem as detém de facto, favorece a imagem de que
há qualquer coisa a esconder, pois muitos casos em que os Offshores têm permitido a “lavagem de dinheiro”,
com a conivência destes Paraísos Fiscais que mantêm a lealdade dos seus clientes, em troca de facilitarem a
falta de transparência, portanto alguns países adoptam a política da isenção fiscal, cuja razão primeira é atrair
investimentos e capitais estrangeiros. Apud. JESUS, ANTÓNIO JOSÉ DUARTE DE. - Branqueamento de Capitais
- Estudo Empírico dos Últimos anos em Portugal, Dissertação do Mestrado em Direito – Universidade
Autónoma de Lisboa 2016, Pág. 28.
262
Manual de Direito Económico Francisco Mário
10. A corrupção;

11. O peculato e a participação económica em negócios;

12. A administração danosa em unidade económica do sector público;

13. A fraude na obtenção ou desvio de subsídio, subvenção ou crédito;

14. As infracções económico-financeiras cometidas de forma organizada, com recurso à


tecnologia informática;

15. As infracções económico-financeiras de dimensão internacional ou transnacional.

16. Confusão de proventos.

17. Transacções em Numerário.

18. Contrabando de moedas.

19. Depósitos ou Fraccionamento.

20. Transferências a distância.

21. Transacções comerciais de compra e venda fraudulenta de imoveis de alto valor.

22. Operações com recurso a crédito ou Empréstimos fictícios.

23. Operações relacionadas com a actividade “Off Shore”.

24. Sector segurador.

25. Desporto.

26. Mercado de capitais de venda e compra de títulos.

27. Jogos de fortuna e azar.

28. Aquisição de antiguidades e objectos de arte.

29. Promoção de eventos.

30. Fenómeno religioso.

31. Internet / Casinos On Line e vendas electrónicas.

32. Organizações sem fins lucrativos.

33. Pessoas expostas politicamente e uso de identidades ou documentos falsos e de


testas-de-ferro.

263
Manual de Direito Económico Francisco Mário
34. Emissão de facturação falsa e sobre- facturação ou sub – facturação501.

35. Empresas de fachada / Fraude Fiscal (evasão fiscal, fuga ao fisco e carrossel do
IVA502/503).

36. Facilitadores e Sistemas alternativos/informais de remessa de fundos.

Os bancos angolanos são caracterizados como instituições financeiras retalho ou drenagem


ou amplificador de dinheiros de origem duvidosa, de um lado, por outro, também tem sido
caracterizado por certo sector da doutrina bancos de fachada com rótula de casas de
câmbios e lavandarias ao céu aberto.

13.6.4. Os Elementos Constitutivos do Crime de Branqueamento de Capitais

Grosso modo, sem embargo os elementos constitutivos do crime convencionais (objectivo


e subjectivo) para que se efective o crime no plano de branqueamento de capitais é
necessário a culpa do agente e o facto danoso (colocação, ocultação e integração) delitivas
geradoras de tipo legal do crime branqueamento de capitais.

Note-se, portanto, que a noção de culpa psicológica reúne dois elementos essenciais,
designadamente:

(i) A violação de um dever preexistente, resultado da manifestação de


vontade livre e consciente do agente no termos do art. 26º, do Código
Penal; e,

501 Sub-facturação nas exportações: isto é, vendem uma mercadoria ao estrangeiro por certo preço e declaram

que venderam apenas por preço diferente. Assim, só entra no País uma parte do valor da exportação, ficando
a diferença no estrangeiro. Sobre-faturação nas importações: isto é, compram uma mercadoria ao estrangeiro
e declaram que compraram por certo preço. Ou seja, conseguem assim enviar para o estrangeiro mais divisas
do que as necessárias.
502 O IVA é um imposto geral sobre o consumo de bens e serviços, incidindo sobre as transações que integram

as diversas fases do circuito económico, desde a produção, passando pela distribuição grossista, e culminando
por fim no retalho. A virtualidade do IVA assenta na mecânica do seu modus operandi: a tributação do valor
acrescentado proporcionado por cada agente económico ao longo da cadeia operativa, ou seja, em vez de uma
tributação monofásica, ora na fase grossista ora na fase retalhista, pretende-se um sistema de tributação
plurifásica em que o somatório do valor acrescentado em cada momento corresponda ao montante de
imposto devido pela transação realizada a final entre o operador económico e o consumidor final (como se
de uma tributação monofásica se tratasse), para evitar o efeito cascata do imposto.

503 Sendo o IVA um imposto obrigatório em todas as transacções comerciais e prestação de serviços,
exceptuando as transmissões isentas, uma das formas mais frequentes de praticar fraude fiscal no IVA,
consiste na não emissão de factura, consequentemente não liquidando o IVA, que é devido ao Estado. Esta é
muito comum nas pequenas empresas, nas vendas que efectuam ao consumidor final.
Há também empresas que embora emitam a factura correspondente às transacções comerciais ou prestações
de serviços que praticam, no entanto não entregam o IVA liquidado ao Estado. O Estado não recebe o IVA
liquidado e tem de o reembolsar ao contribuinte, que o reclama ou o deduz no valor do imposto a pagar. Este
tipo de fraude no IVA é conhecido como fraude carrossel.
264
Manual de Direito Económico Francisco Mário
(ii) A previsibilidade do resultado danoso, “pressuposto lógico e psicológico
de sua evitação”.

Ressalte-se que a concepção subjetiva da culpa vai exigir o elemento vontade, liberdade do
agente na violação do dever de conduta expresso no dolo (directo, necessário e eventual)
ou na negligência (consciente e inconsciente) (vide art. 26º, do Código Penal).

A conotação psicológica ou subjetiva da culpa consagra, portanto, a ideia de que não há


responsabilidade sem culpa, atribuindo-se à culpa preponderância na etiologia do acto
ilícito.

Dizia celebre Luther King da sua memória, “O que me preocupa não é nem o grito dos
corruptos, dos violentos, dos desonestos, dos sem caráter, dos sem ética. O que me preocupa é
o silêncio dos bons.” (Martin Luther King).

13.6.5. Bem jurídico Protegido pela Ordem Jurídica

No entanto, na discussão doutrinária destacam-se três bens jurídicos com valor axiológico
de protecção jurídico – legal, designadamente:

1. O mesmo bem que serve de fundamento à incriminação do crime precedente;

2. A ordem socio - económica; e,

3. A realização da justiça.

13.6.6. Práticas e Realidades Indiciárias de Branqueamento

1. O Câmbio informal – “Kinguilas”;

2. Imigração ilegal;

3. Sector imobiliário (venda de terrenos no perímetro urbano, periurbano e zonas costeiras


e rural);

4. Fenómeno religioso;

5. Furto e roubo do gado;

6. Ocultação dos rendimentos a família;

7. Quota e contribuições partidárias;

8. Peculato;

9. Tráfico de influência;

10. O Fenómeno da gasosa.

265
Manual de Direito Económico Francisco Mário
11. Valores mobiliários (passe de transferência de jogadores e dos treinadores,
privatizações das Empresas do sector empresarial público e etc.);

12. A Cábula ou fraude escolar (nas provas, trabalhos de pesquisa do final do curso, plágios
e fasciação de títulos e certificados académicos nas instituições de ensino superior), são
todos grosso modo ilícitos subjacentes ao branqueamento de capitais, pois que, a partir por
exemplo da “cábula” ou fasciação de títulos e certificados académicos o infractor, como é
evidente, terá de se usufruir de vantagens através de acesso de emprego que lhe
proporcionará os rendimentos salariais consideráveis e com esses proventos adquirirá
bens e serviços lícitos no Mercado.

13.6.6. Medidas para o combate o fenómeno

O Estado angolano tem-se adaptado facilmente às idiossincrasias da economia e dos


ordenamentos legais dos diversos Estados no mundo civilizados, todavia, o branqueamento
de capitais constitui um dos motes de pedra angular de combate a corrupção e a
impunidade lançado na vigência da 3ª República, sem claro, vilipendiar outras divisas que
sustentaram moralização da sociedade no passado mais recuado e recente tolerância zero,
resgate de valores morais, combate a corrupção, só para citar como ilustre exemplos.

Medidas Legislativa Nacional

Lei nº 5/97, de 27 Junho, Lei Cambial.

Lei nº 5/05, de 29 de Junho, Lei do Sistema de Pagamentos de Angola.

Decreto nº 56/03, de 26 de Agosto, Regulamento do Sistema de Certificação do Processo


Kimberley.

Lei nº 3/14, de 10 de Fevereiro, Lei Sobre a Incriminação das Infracções Subjacentes ao


Branqueamento de Capitais.

Lei nº 23/10, de 3 de Dezembro, Lei dos Crimes Contra a Segurança do Estado.

Lei nº 34/11, de 12 de Dezembro, Lei do Combate ao Branqueamento de Capitais e do


Financiamento ao Terrorismo.

Lei nº 15/18, de 26 de Dezembro, Lei Sobre Repatriamento Coercivo e Perda Alargada de Bens.

Lei nº 5/16, de 17 de Maio, Lei da Actividade de Jogos.

Lei nº 9/16, de 16 de Junho, Lei dos Contratos Públicos.

a) Medidas Legislativas Internacionais

266
Manual de Direito Económico Francisco Mário
CAPITULO XIV – OS CONTRATOS ECONÓMICOS

14.1. Introito

O modo da Administração Económica se relacionar nos seus negócios com entes


económicos é por via do contrato. Entretanto de ponto de vista histórico, na tradição alemã
limitava os contratos administrativos aos contratos entre os entes públicos – contratos
inter -administrativos -, ou seja, a tradição limitava-os aos contratos entre Administração e
os particulares.

Hoje em dia, porém, o caso paradigmático dos contratos administrativos verifica-se entre a
Administração e os particulares conquanto que aquela intervenha na sua qualidade de
sujeito estatutário do direito administrativo e não segundo um modus actuandi acessível
aos sujeitos privados. O que não é difícil de perceber se tivermos por base o critério
estatutário, ou critério do «direito especial» do contrato administrativo, nos termos do qual
este «é um contrato que constitui um processo próprio de agir da Administração Pública e
que cria, modifica ou extingue relações jurídicas disciplinadas em termos específicos do
sujeito administrativo, entre pessoas colectivas da Administração ou entre a Administração
e os particulares504.

Actividade económica de exploração de bens do Estado, por exemplo, CFM, TAAG, PORTO
DO NAMIBE, podem ser confiadas parcialmente ou totalmente a entidades privadas ou
públicas com observância à disciplina definido na legislação da Delimitação de Sector de
Actividade Económica (art. 92º, da CRA, e da Lei nº 5/02, 16 de Abril), para desenvolverem
actividades económicas lucrativas, consubstanciadas nos contratos de concessão ou
gestionária.

Os contratos de concessão são contrato económicos aprovados previamente pelo Titular


do Poder Executivo nos termos do art. 6º, nº 6, e, por conseguinte, devem observar o regime
da Contratação Pública505, previsto na Lei nº 9/16, de 16 de Junho.

504 Cfr. NABAIS, JOSÉ CASALTA, - Contratos Fiscais, Reflexões Acerca da sua Admissibilidade, Coimbra Editora,
1994, Pág. 65.

505 A contratação pública está sujeita a seguintes modalidades nos termos da referida Lei art. 23º, da LCP:
a) Concurso Público – que consiste no sistema aberto, em que elevado valor das aquisições
envolvidas ou por outras razões materiais, podem concorrer todas as entidades, públicas ou
privadas, nacionais ou estrangeiras que reúnam os requisitos exigidos em abstracto, no aviso ou
no programa;
b) Concurso limitado por prévia qualificação – consiste no sistema aberto, mas que exige uma
prévia selecção (procedimentalizada ou não) das Empresas pela entidade contraente.
c) Concurso limitado sem apresentação de candidatura – é um sistema de contratação pública em
que a entidade contraente convida as pessoas singulares ou colectivas que considera idóneas e
especializadas, para apresentarem as suas propostas.
d) Procedimento negociado – é um sistema de contratação pública que consiste no convite aos
interessados, em geral ou limitadamente, para apresentarem as suas candidaturas ou propostas
267
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Vamos tratar a seguir a descrição dos contratos económicos e as convenções e os contratos
económicos de concessão.

Em si mesma, a política de incitamento económico liga-se às orientações actuais em que o


Estado procura levar os Agentes Económicos a comprometerem-se em determinadas
direcções. Emprega hoje em dia, para isso, largamente o processo do acordo convencional.
As ilustrações disso são diversas. Algumas estão muito próximas, pelo seu objecto, dos
contratos de que acabamos de falar. Outras fazem surgir objectos mais particulares.

13.1. Noção e a Natureza do Contrato Económico

A noção de «Contratos Económicos» - pode ser definido como sendo aqueles que
constituem um meio de o Estado pôr em prática as suas políticas económicas, tendo como
objectivo assegurar a coerência dos comportamentos das Empresas com aquelas políticas.
Trata-se de contratos de atribuição, que têm por causa-função a atribuição de uma certa
vantagem ao contratante da Administração, celebrados com fins de intervenção
económica506.

Esses contratos assumem características especiais que têm levado a que se ponha em
dúvida a sua natureza de verdadeiros contratos. Essas dúvidas resultam, essencialmente,
do facto de haver em regra lugar à celebração de contratos económicos quando as
Empresas interessadas preencham os requisitos previamente fixados na Lei, o que faz com
que o princípio da autonomia da vontade inerente à liberdade contratual fique por isso
limitado.

Acresce que a decisão de celebrar ou não o contrato depende das autoridades


administrativas competentes para apreciar se as Empresas reúnem ou não as condições
necessárias exigidas por Lei.

No entanto, a favor da natureza contratual, verifica-se que este tipo de contrato apresenta
como traço comum, a aceitação pelas Empresas de certas obrigações em contrapartida de
prestações a que o Estado por seu lado se obriga.

Essas obrigações vêm a constar de um acordo assumido livremente. É do contrato e não da


Lei que resultam as obrigações para as Empresas; para além disso, uma vez celebrado, não

depois de analisadas e valoradas são objecto de discussão e negociadas com entidade contraente,
a fim, de harmonizar com interesse público…
Os concorrentes geralmente devem apresentarem o caderno de encargos – o caderno de encargos pode
ser definido num contracto administrativo como um o conjunto de documentos escritos que determinam
as condições do contrato. Este conjunto é complexo e a nomenclatura dos documentos que o constituem
conheceu alterações de aplicação. Ela compreende actualmente:
1º Documentos gerais, que são o caderno das cláusulas administrativas gerais.
2º Documentos particulares, que o caderno das cláusulas administrativas particulares, vide,
ANDRÉ DE LAUBADÈRÉ, ibidem.
506 Ibidem.

268
Manual de Direito Económico Francisco Mário
pode o Estado alterar ou rescindir unilateralmente as disposições contratuais, a não ser
com fundamento em incumprimento da outra parte.

Não obstante, talvez se esteja mais próximo da realidade se se admitir que se trata de
contratos especiais, que integram elementos de Direito Público e elementos de direito
privado.

Contudo, se, em todos os casos, tratar-se de acordos, não parece todavia que se possa
sempre falar de contratos, segundo CABRAL DE MONCADA, o «Contrato da Administração
Económica» - é um acto administrativo preparatório que serve de ponto de partida a um
acto administrativo que culmina com a aplicação à entidade privada de um regime legal ou
regulamentar. O dispositivo convencional não tem efeitos contratuais, por exemplo as
convenções sobre os benefícios fiscais.

Por conseguinte, os Contratos Económicos tem estrutura sinalagmática genético e


funcional é que lhes tornam aptos à função conformadora da actividade económica e cujos
sujeitos são o Estado e o empresário privado ou cooperativo, ou ente público autónomo, de
que objecto do contrato, consiste na execução pelos Agentes Económicos de um programa
de actividades económicas previamente negociado com Administração Pública, tendo
como regime jurídico dos contratos económicos, e, esquematiza-se como um regime misto
e aproxima-se nos contratos comuns.

Os Contratos Económicos em caso de litígios geralmente elegem o foro comum nos termos
do art. 66º, do CPC, ou a jurisdição voluntária nos termos disciplinado pela Lei da
arbitragem voluntária; (Lei nº 16/03, de 25 de Julho).

Portanto, tem como efeitos económicos, baixa de preços ao consumidor, melhora a


qualidade dos produtos, poupa as despesas públicas e cria emprego e desenvolvimento
sustentável.

Ainda assim, podemos em primeiro lugar, mencionar contratos muito comparáveis aos
contratos de realização dos objectivos intervencionistas, mas, marcados pelo objectivo
iniciativo em vista do qual eles são concluídos. A marca própria que o objectivo assim
prosseguido imprime a estas convenções não as impede de constituir, como os precedentes,
verdadeiros contratos.

14.2. Modalidades dos Contratos Económicos

14.2.1. Contratos-Programa
Tratam-se de contratos que têm como objectivo principal permitir a execução de um plano,
apesar de poderem ser utilizados na prossecução de outros objectivos não relacionados
com o plano (por exemplo em matéria de política ambiental). Caracterizam-se por
conterem um programa amplo e escalonado no tempo, de actividades ou acções a
desenvolver e de resultados à obter pela Empresa ou Empresas contratantes, nos termos

269
Manual de Direito Económico Francisco Mário
do Decreto nº 78/01, de 19 de Outubro, Contratos Programas entre o Estado e as Empresas
Públicas.

14.2.2. Contratos de Desenvolvimento em Geral


São acordos celebrados entre o Estado e uma ou mais Empresas, mediante os quais aquele
se compromete a fornecer estímulos e auxílios de vária ordem, tendo como contrapartida
por parte das Empresas, as iniciativas de organização e investimento nacional ou regional
definida para o domínio específico da actividade a que respeitem.

14.2.3. Contratos Fiscais


São acordos em que o Estado confere uma vantagem fiscal a troco de um projecto de
investimento considerado importante na perspectiva de interesse geral. Outros Contratos
Económicos: para além das formas contratuais acima referidas, há diversas outras
modalidades mais ou menos típicas, como sejam os “Quase-Contratos” vide a Lei nº 10/18,
de 26 de Junho, Lei do Investimento Privado.

14.2.4. Contratos de Auxílio Financeiro


São também considerados os “Quase-Contratos” por serem actos pelos quais as Empresas
se obrigam perante a Administração a conformar-se com objectivos de política económica
do Estado e este a examinar favoravelmente os pedidos que aquelas lhe dirijam, relativos a
empréstimos, dispensa de formalidades administrativas…, a vide a Lei nº 14/03, de 18 de
Julho, Lei do Fomento ao Empresariado Nacional.

14.2.5. Contrato de Incitação


São contratos de colaboração entre a Administração os Agentes Económicos com objectivo
de prossecução do interesse público, ex.: PAPAGRO com Banco BPC, para operar na compra
de títulos de crédito de mercadorias dos agricultores rurais, contrato de licença de
importação da quota pescado de carapau concedida aos armadores de pesca pelo
(Ministério das Pescas e do Mar» agora Ministério da Agriculatura e Pescas) em função das
medidas de veda da pesca do carapau nas águas angolanas para efeitos de reprodução do
viveiro daquele espécie marina, contratos fiscais de benefícios fiscais ou de deduções ficais
e acordos fiscais para importação de certos produtos para agricultura, pesca e industria de
construção, facilidades do programa do BUE, constituem uma ilustração particularmente
interessante dos contratos de incitamento económico.

14.2.6. Auxílios de Estado


Os auxílios consistem basicamente em prestações da Administração pública a favor de
actividades de interesses gerais desempenhadas por Agentes Económicos que lhe são
estranhos. Visam criar estímulos à prática de certos actos que visem ao desenvolvimento
de uma dada actividade no quadro de um conjunto de objectivos definidos pela
Administração do Estado, normalmente constantes no plano do sectorial da economia.

Em função do conteúdo esses auxílios assumem diferentes formas tais como:

14.2.6.1. Ajudas Financeiras


270
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Podem ser agrupadas em três grandes tipos:

(i) Entregas directas de verbas aos beneficiários (subsídios de exploração;


subsídios de equipamento; subsídios para garantir o rendimento, etc.);
(ii) Renúncia de crédito (situações em que o Estado aceita a não remuneração de
capitais públicos aplicados em Empresas, ou renuncia o direito à participações
em lucros que lhe sejam devidos ou ainda, permite o não cumprimento das
obrigações legais por parte dos subvencionados507,e,
(iii) Utilização dos mecanismos de crédito (incluem-se aqui a concessão directa de
empréstimos, simples bonificação ou garantia. Ex.: o Aval);

14.2.6.2. O Aval do Estado

O Aval do Estado – é uma garantia soberana dada pelo Estado para cumprimento das
obrigações creditícias de uma Empresa do sector pública ou privada e tem efectivamente
lugar quando uma Empresa celebra um contrato de empréstimo ou de financiamento com
outra entidade, ficando a pessoa colectiva pública que avaliza, vinculada a todas obrigações
contratuais estipuladas se a avalizada (afiançada) não cumpre.

É atribuído por acto administrativo (despacho governamental) em função de certos


requisitos da Empresa à avalizar, que aliás a Lei prevê. Se o aval funciona, que é como quem
afirma, se a avalizada não cumpre, a pessoa colectiva pública fica “ope legis” sub-rogada nos
direitos do credor, com o privilégio creditório indicados no art. 733.º, do Código Civil.

É este o regime do direito civil do Aval, o seu regime de direito público consiste no facto de
o Estado passar deter poderes especiais de fiscalização sobre a actividade de Empresa
beneficiária e no facto de poder unilateralmente transforma-se de credor em sócio, tendo
o aval funcionado. Trata-se, neste caso, de uma estatização parcial508.

14.2.6.3. Garantia de Emissão de Obrigações

Nesta forma de fomento o Estado declara tornar a responsabilidade pelo reembolso das
obrigações emitidas por uma Empresa. A garantia é dirigida à generalidade dos credores e
não a credores determinados. A subscrição de obrigações pelo último aforrador é assim
incentivada pelo patrocínio do Estado.

Logra-se assim financiar o desenvolvimento das Empresas através do Mercado de títulos,


dispensando-se de recorrer aos empréstimos bancários.

507 Cfr. O caso do micro crédito concedido pelas instituições financeiras não bancarias através do BUE e
operadas pelo BPC- banco de capitais públicos no ano de 2012, não foram restituídos aos cofres do Estado ou
tido como fundos perdidos poderá se configurar nesta sede do instituto de ajudas financeiras do Estado.
508 MONCADA, LUIS CABRAL DE. - LIÇÕES DE DIREITO ECONÓMICO, Centro de Copias, U.L Porto 1985.

271
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Esta medida é particularmente importante em situações, como a actual, em que o preço do
crédito, ou seja, a taxa de juro é muito alta.

14.2.6.4. Benefícios ou Subscrições Fiscais

Aos benefícios fiscais - traduzem de um ponto de vista substancial, uma transferência de


fundos através da abstenção de tributar e podem consistir, de acordo com um estudo
efectuado pela OCDE, em desagravamentos fiscais - rendimentos não compreendidos no
campo de incidência tributária; reduções fiscais - somas deduzidas do rendimento bruto
para chegar ao rendimento colectável; créditos de imposto - somas subtraídas ao imposto
devido, e desagravamentos especiais da taxa - redução da taxa de imposto a favor de certos
grupos ou actividades;

14.2.6.5. Assistência Técnica

Assistência técnica do Estado poder ser no âmbito da formação, workshops, seminários,


palestras, cursos de curta duração para capacitar os Agentes Económicos, ex. os cursos de
INAFOP, INAPEM, bem como estruturação em termos funcionais, organizacionais e gestão
da Empresa através deste mecanismo.

14.2.6.6. Em determinadas Circunstâncias a Participação Pública no Capital das


Empresas

Em determinadas condições ou circunstâncias económicas uma Empresa Privada poderá


ser capitalizada ou recapitalizada para fins de assegurar os objectivos económicos essas
circunstâncias podem ser de natureza falimentar ou insolvência, crise económica e
financeira e política.

14.2.7. Contratos de Concessão


Como dissemos no outro lugar que o recuo do Estado, em bom rigor, não corresponde a
uma verdadeira «desintervenção» mas apenas a uma substituição de formas directas de
intervenção apostadas na figura do Estado produtor e até empresários por formas
indirectas reportadas estas à mera fixação dos quadros normativos gerais da intervenção
mas sem dar ao Estado responsabilidade directas na produção509.

A concessão da gestão de Empresas Públicas encarregados da gestão de serviços de


interesse económico geral a particulares sozinha ou em conjugação com outras concessões,
é uma técnica apropriada à posição actual do Estado social ou pós-social com preocupações
intervencionistas.

Com efeito, o Estado não pode alhear-se da sua responsabilidade pela prestação de um
serviço de interesse geral mas não pode ignorar que o Mercado e a concorrência são hoje o
mecanismo normal de articulação da decisão económica.

509 Ibidem.
272
Manual de Direito Económico Francisco Mário
A concessão pode ser definida segundo CABRAL DE MONCADA510, como uma forma de
colaboração da Administração com os particulares na realização de infra-estruturas
públicas e na prestação de serviços que desonere parcialmente o Estado do financiamento
respectivo. De facto, a gestão privada de um bem público implica a sua reversão para o
sector privado da economia.

É por razões várias que o Estado, pela via de um monopólio de direito (monopólio natural,
de consumo, produção, distribuição de bens e serviços), reserva para si determinadas
actividades económicas, suprimindo em relação a elas a concorrência privada. Um
determinado número de grandes monopólios de Estado foram naturais e institucionais
porque só o Estado que pode produzir esses bens e serviços por motivos financeiros que
os particulares são incapazes ou por motivos de soberania do Estado e interesse público,
nomeadamente, monopólios fiscais, moedas, radiodifusão-televisão, portos, aeroportos,
caminhos-de-ferro, arsenal militar, forças armadas, polícia, Tribunais judiciais... Outros
ainda por razões administrativas, registo e notariado, capitanias, electricidade511.

A concessão é uma forma de colaboração da Administração com os particulares na


realização de infra-estruturas públicas e na prestação de serviços que desonere
parcialmente o Estado do financiamento respectivo. De facto, a gestão privada de um bem
público implica a sua reversão para o sector privado da Economia.

Os modos segundo os quais a Administração pode celebrar os contratos nos Mercados


Públicos que constituem o aspecto do regime jurídico destes contratos que deu lugar à mais
flagrante evolução. Deste modo, a questão essencial é a do grau de liberdade de que dispõe
a Administração na escolha do empresário ou do fornecedor com o qual pretende tratar.

A este propósito, duas grandes modalidades se opõem: o Mercado negociado e por


adjudicação pública. No Mercado negociado, a Administração trata livremente com o
contratante da sua escolha, pelo contrário, a adjudicação pública é caracterizada pelo
automatismo da atribuição do Mercado ao empresário ou fornecedor que consinta na
aceitação das condições mais favoráveis à Administração512.

Geralmente, estas concessões como defende LAUBADÈRÉ, na França, dizem respeito à


economia e, por conseguinte, ao Direito Público Económico. No entanto, não as podemos
estudar todas aqui, limitar-nos-emos à concessão de serviço público, que é a mais clássica,
o mais importante e se relaciona particularmente com o Direito Público Económico, pelo
facto de os serviços públicos sobre os quais ela incide serem serviços públicos industriais
e comerciais.

Por esta última razão, a concessão de serviço público surge, ao lado dos Mercados,
simultaneamente como um modo contratual de relações da Administração com o sector

510 Ibidem.
511 Cfr. LAUBADÈRÉ, ANDRÉ DE, - Direito Público Económico, Almedina Editora, Pág. 246.
512 Ibidem. Pág. 388.

273
Manual de Direito Económico Francisco Mário
privado económico e como um modo de gestão dos serviços públicos económicos; deste
modo pode-se dizer que ela diz duplamente o respeito ao Direito Público Económico513.

A concessão de serviço público é um modo de gestão de um serviço público industrial ou


comercial segundo o qual uma colectividade pública (Estado ou colectividade territorial),
chamada «concedente», confia por uma convenção, a um particular chamado
«concessionário», o cuidado de fazer funcionar o serviço público sendo remunerado por
meio de somas tarifárias (redevances) pagas ao concessionário pelos utentes do serviço.

As características desta instituição, que a definição dada atrás faz ressaltar, são as
seguintes:

Em primeiro lugar, é preciso notar que o objecto da convenção é aqui muito particular visto
que se trata de fazer funcionar um serviço público. A colectividade pública, em vez de
assegurar ela mesma o funcionamento do serviço público, encarrega disso um particular,
mas a actividade em questão não deixa por isso ser um serviço público, o que vai levar a
obrigações particulares da parte do concessionário e a um direito de vistoria da
Administração concedente ao funcionamento do serviço, do qual não se pode desinteressar.

Mas, por outro lado, o concessionário do serviço público é um particular (geralmente uma
sociedade comercial), que não aceitará gerir um serviço a não ser que veja nele um
benefício. É por isso que a concessão de serviços públicos, em princípio, não incide senão
sobre um serviço industrial ou comercial. É o jogo e a conciliação destes dados (carácter de
serviço público da actividade assegurada e carácter de pessoa privada do concessionário)
que vai comandar o regime da concessão de serviço público.

Por esta razão, o direito da concessão de serviço público faz parte daquilo a que chamamos
o Direito Público Económico clássico. Esta antiguidade não impede, de resto, que, sobre um
certo número de pontos, alguns dados recentes, aliás diversos, tenham podido introduzir
novos elementos jurídicos que teremos na ocasião de sublinhar a propósito de
determinados aspectos do regime da concessão.

O princípio prevaleceu a concepção puramente contratual: é um contrato administrativo


análogo, pelo menos quanto à sua natureza jurídica, os seus efeitos interno aos outros
contratos administrativos, dos quais apenas difere em certos traços do seu conteúdo e os
efeitos externos, por exemplo, no facto de o contratante não ser aqui remunerado por um
preço, como nos Mercados Públicos, mas pelas somas tarifárias recebidas dos utentes.

Esta concepção puramente contratual foi abandonada porque se verificou que o objecto da
concessão que é a organização e o funcionamento de um serviço público, não pode
constituir, em si mesmo, objecto de um contrato. Admite-se, actualmente, que a concessão
de serviço público é um acto de natureza mista, parcialmente contratual, no sentido de que
este acto contém, justapostas cláusulas contractuais e cláusulas regulamentares.

513 Ibidem. Pág. 399-400.


274
Manual de Direito Económico Francisco Mário
As cláusulas contratuais são aquelas que dizem respeito às vantagens materiais e
financeiras consentidas ao concessionário (duração da concessão, adiantamentos ou
garantias de lucro estipuladas).

As cláusulas regulamentares são aquelas que dizem respeito à organização e


funcionamento do serviço público; são aquelas que, se o serviço estivesse organizado em
régie ou em instituto público em vez de ser concedido, nem por isso deixariam de existir e
figurariam no regulamento do serviço.

Esta análise jurídica da concessão de serviço público que é hoje em dia muito geralmente
admitida (ainda que a expressão contrato de concessão continue a ser correctamente
empregada) arrasta importantes consequências no que diz respeito ao regime jurídico da
concessão514.

Para realizar os objectivos de intervencionismo económico, os poderes públicos utilizam


os dois processos jurídicos: o da medida unilateral e do acordo convencional.

a) As Medidas Unilaterais - Em matéria de intervenção económica, o processo da


acção unilateral é o mais clássico: o Estado regulamenta prescreve, vem em apoio,
através de uma intervenção que emana apenas da sua autoridade, do sentido em
que deseja ver orientado o ramo de economia em questão;

b) O Emprego do Processo Convencional - uma característica dos actuais processos


de intervenção económica do Estado reside na propensão do poder público para,
nesta matéria, recorrer, de preferência à acção unilateral e condicionante, a
processos de acordos convencionais.

Alguns visam confiar a organismos privados tarefas de dirigismo ou intervencionismo


económico, são os menos inovadores; podemos chamar-lhes convenções de colaboração
nas tarefas intervencionistas.

Outros são mais originais na medida em que, concluídos com os próprios administrados,
têm por objectivo obter destes últimos um determinado comportamento no sentido
desejado pelo Estado para a sua política intervencionista: chamar-lhe-emos convenções de
Administração Económica.

Entretanto, dá-se-lhes também bastante correntemente a denominação de «Contratos


Económicos», expressão que não tem qualquer outro interesse senão o de invocar o seu
objecto geral e que não deve ser tomada à letra pois ela prejulga a natureza exacta de actos
que, na realidade, como vamos ver, não podem ser todos considerados como contratuais515.

514Cfr. LAUBADÈRÉ, ANDRÉ DE.- Direito Público Económico, Almedina Editora, Pág. 402-403.
515 Ibidem. Pág. 422.
275
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Segundo LAUBEDÈRE; defende que o objecto destes contratos diz respeito ao
intervencionismo. Daí que os contratos económicos se distingam daqueles que
encontramos até aqui, tais como os de Mercados.

Eles não têm por objectivo alcançar prestações para o Estado, mas realizar a política de
intervencionismo concebida e dedicada pelo Estado. São instrumentos de realização desta
política. Normalmente, esta realização parece exigir mais o processo da prescrição
unilateral, mas o Estado prefere frequentemente, hoje em dia, recorrer ao contrato para
atingir objectivos que outrora procurava de preferência através da acção unilateral.

No que diz respeito aos parceiros, os Contratos Económicos são concluídos, como os outros
contratos administrativos, entre o poder público e parceiros privados516.

Os «Contratos Económicos» serão sempre verdadeiros contratos?

Visto que a ideia de «Contratualização» está na moda e corresponde efectivamente a uma


tendência do intervencionismo económico actual, existe uma propensão para reconhecer a
qualificação jurídica de contratos a todos os processos em que se manifeste a procura de
um acordo entre a Administração e os Agentes Económicos com os quais ela trata.

De acordo com o vocabulário judicioso de um autor (R. SAVY), entre os «actos jurídicos de
inspiração contratual», é preciso distinguir os «actos jurídicos de carácter contratual», e os
«actos jurídicos de aparência contratual»517. Duas razões principalmente podem provocar
dúvidas quanto à natureza contratual de alguns dos chamados «Contratos Económicos».

Para ilustre Prof. Francês de Direito Público Económico - ANDRÉ DE LAUBADÈRÉ, afirma
que para alguns desses actos, uma análise atenta do seu conteúdo faz ver que, embora
resultando de uma negociação e de um acordo, eles não constituem verdadeiramente
contratos. Efectivamente, segundo este autor que citamos recorrentemente, entende que,
nem todo o acordo é necessariamente um contrato.

Todavia, a doutrina em particular distingue do contrato, no qual as duas partes elaboraram


as obrigações recíprocas a que se comprometem, os acordos através dos quais elas apenas
se entendem para dizer funcionar a aplicação de um estatuto legal, de uma regulamentação
(actos que certos juristas chamam actos-condição, quer dizer, actos que condicionam,
desencadeiam a aplicação de regras pré-estabelecidas ou contratos de adesão)518.

Por conseguinte, de outro ponto de vista, a análise do estipulado no pretenso contrato pode
levar à negação dessa sua natureza, fazendo ver que na realidade as partes – ou uma delas
– não entenderam ligar-se através de verdadeiros compromissos precisos e imperativos,
mas apenas subscreveram aquilo a que se chama por vezes simples «Promessas de

516 Ibidem. Pág. 423.


517 Apud, LAUBADÈRÉ, ANDRÉ DE. Pág.423.
518 Cfr. LAUBADÈRÉ, ANDRÉ DE. - Direito Público Económico, Almedina Editora, Pág. 423-427

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Manual de Direito Económico Francisco Mário
Comportamento» mais dotadas de um valor moral que jurídico, ou mesmo apenas
subscreveram simples «Declarações de Intenções»519.

A segunda consideração susceptível de contradizer a natureza de contratos de certos


acordos bilaterais como tal pretendidos é relativa ao próprio objecto do acordo; existem,
efectivamente, em Direito Administrativo, matérias que não se podem prestar ao contrato,
por exemplo o estabelecimento do imposto, o exercício do poder de polícia, etc. Quando –
o que pode acontecer – uma destas matérias constitui o objecto de um acordo no quadro
da Administração Económica, esse acordo não poderá ser um verdadeiro contrato.

Assim, parece assente hoje em dia que os actos diferentemente qualificados de «Contratos
Económicos» não constituem sempre na realidade autênticos contratos520.

Porém, sem dúvida que, para alguns deles, como veremos, esta qualificação jurídica se
justifica. Coloca-se, pois, a propósito deles, uma segunda questão que é a de saber se se trata
de Contratos Administrativos ou de Contratos de Direito Comum, questão que será
examinada mais adiante, a propósito do contencioso do intervencionismo económico.

Conquanto, alguns autores vêm mesmo nisso um tipo de actos jurídicos próprios do Direito
Administrativo Económico e revelador da originalidade deste último, actos que eles
propõem que se chamem «actos-programa» ou simplesmente Contratos-Programa
vinculados as Empresas Públicas. Por outro lado, a ausência de natureza contratual destes
processos não os priva necessariamente de eventuais efeitos jurídicos, que se situariam no
plano das responsabilidades por não-execução. Eles surgem como instrumentos de
dirigismo521.

Portanto, Contratos Económicos de Concessão podem ter nos termos do art. 6º da LBSEP
as seguintes modalidades:

14.2.8. Contrato de Concessão de Exploração de Actividade


O Contrato de Concessão de Exploração de Actividade - que vai consistir no acordo de
vontades entre a Administração Pública (concedente) e o particular, ou uma Empresa
Pública (concessionário) para explorar uma actividade reservada por Lei ao Estado
mediante uma renumeração nas condições nelas definidas, ex.: transporte urbano,
distribuição de energia, saneamento básico e Limpeza a cidade e etc.;

13.3.8. Contrato de Concessão de Gestão da Exploração de Bens


O Contrato de Concessão de Gestão de Exploração de Bens - é o contrato oneroso pelo qual
o Estado concede ao particular sob forma de sociedade comercial devidamente constituída
para explorar bens móveis ou imóveis do domínio público ou privado do Estado ex. o então
contrato de concessão da exploração do terminal de carga portuária e aeroportuárias,
contrato de exploração do terminal de carga do “Porto Seco” do parque das alfandegas da

519 Ibidem.
520 Ibidem.
521 Ibidem.
277
Manual de Direito Económico Francisco Mário
fronteira da Santa Clara - Cunene, contrato de exploração do parque infantil do Lubango,
contrato de exploração do Parque do Campismo de Praia das Miragens do Namibe, contrato
de exploração de vagões bares e cantinas dos Caminhos de Ferros de Moçâmedes, etc.

13.3.9. Contrato de Concessão de Gestão de Empresas


O Contrato de Concessão de Gestão de Empresas – é o contrato oneroso pelo qual o Estado
concede ao particular sob forma de sociedade comercial devidamente constituída para
explorar uma empresa pública ex. ao nível da região académica não temos uma situação
ilustrativa que possa servir de exemplo, mas podemos avançar como exemplo informal da
gestão do “NOSSO SUPER” pela Empresa privada de direito brasileiro, então contrato de
gestão da TAAG pela EMIRATES do passado recente e contrato de gestão dos Portos de
Luanda, Lobito e Moçâmedes pela Empresa Privada do grupo de SOGESTER.

13.3.10. Contrato Económico ou Concertação Social


A Concertação Económica e social constitui uma forma de procedimento negociado de
regulação económica que consiste em estabelecer acordos económicos entre o poder
regulatório público, misto e privado, ou seja, são consensos públicos firmados entre Poder
Económico e os seus parceiros sociais para fins de satisfazer o interesse meramente
económico tido como fundamental no âmbito da justiça social, (art. 90º, da CRA).

Entretanto na concertação social, o Estado não usa o seu poder de império e servir-se do
procedimento unilateral de regulação económica, porque se assim acontecesse, nada obsta
que se propugne numa desastrosa consequência jurídico-económica negativa com efeitos
imediatos na economia real e seguramente altere as variáveis das grandezas de
estabilidade macro-económicas, nomeadamente: emprego, inflação, taxa de juro,
crescimento económico (sobre o PIB), desenvolvimento social (redistribuição da riqueza)
e na micro-economia alteração dos preços e de sã concorrência.

Pelo que, em sede deste expectável interesse, o Estado Democrático de Direito vai exercer
a democracia económica participativa conciliando os interesses económicos dos vários
sectores económicos (público, privado e cooperativo) legalmente consagrado (art.92º, da
CRA) através do instituto económico de concertação social (art. 89º, al. g), da CRA), por
causa dos direitos de colisão ou de conflito.

Pois que, há colisão de direitos quando vários direitos concorrem, de modo que o exercício
de um deles impede ou prejudica o exercício de outros; mas se a Lei estabelece uma relação
de subordinação entre eles ou se coordena o seu exercício para o caso de conflito, é claro
que não há, então, uma verdadeira colisão.

Pode indicar-se como exemplo daquela subordinação do disposto no art. 768º, do CC522, ou
concertação social sobre o salário mínimo nacional entre os sindicatos representantes das

522Cfr. BASTOS, JACINTO FERNANDES RODRIGUES, - Das Relações Jurídicas, segundo o Código Civil de 1966,
Viseu Tipografia Guerra Lda. Editora 1969, Pág.12-13.
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Manual de Direito Económico Francisco Mário
associações empresariais e o governo art. 161º, da LGT523, conjugados pelos art. 89º, al. g)
e art. 90º, da CRA.

Trata-se aqui de um limite extrínseco ao exercício dos direitos subjectivos dos Agentes
Económicos, como bem nos ilustra a prescrição do dispositivo jurídico-legal do art. 335º,
do CC, que transcrevemos o preceito normativo:

“1. Havendo colisão de direitos iguais ou da mesma espécie, devem os titulares ceder na
medida do necessário para que todos produzam igualmente o seu efeito, sem maior
detrimento para qualquer das partes”.

“2. Se os direitos forem desiguais ou de espécie diferente, prevalece o que deve considerar-
se superior.”

Voltemos ao salário mínimo nacional, se alteração do salário mínimo nacional prejudica a


estabilidade macro - económica das variáveis dos indicadores previstos, designadamente:
da inflação, pleno emprego, taxa de juro e preços, então o direito subjectivo de subir o
salário cede perante a estabilidade por ser um bem superior do sistema económico, mas
como é óbvio, o salário mínimo nacional não pode ser prejudicado permanentemente até
ao ponto de afectar o tecido social dos trabalhadores desta categoria salarial, ou seja, até o
ponto de degradar socialmente o estado mínimo de sobrevivência humana.

Daí que este procedimento poder-se considerar de um exercício manifestamente excessivo


e de abuso do direito de proporcionalidade; porque? Porque, não obedeceram aqueles
requisitos e limites de excepção permitido pelo legislador do Abuso de Direito524, (art.334º,
do CC). Como já referimos ao outro lugar, os sacrifícios devem ser distribuídos e
redistribuídos a todos Agentes Económicos como também na hora da prosperidade
económica deve-se redistribuir a riqueza por via de Regulação Económica Estatual (art.
90º, da CRA).

523 LGT – Lei Geral de Trabalho aprovado pela Lei nº7/15, de 15 de Junho que revogou a Lei nº 2/2000, de 11
de Fevereiro.
524 Vide CUNHA DE SÁ, FERNANDO AUGUSTO. - Abuso do Direito, Almedina editora 2005, Pág.246.

279
Manual de Direito Económico Francisco Mário

CAPITULO XV- PARCERIA PÚBLICO-PRIVADAS

15.1. Noção

Parceria Público-Privada, pese embora a não existência de uma definição única de PPP, esta
pode ser entendida como um modelo de contratação pública utilizado na provisão de infra-
estruturas e serviços. Os sectores público e privado estabelecem uma relação (contratual
ou institucional), com responsabilidades preestabelecidas, para projectar, financiar,
construir e gerir uma determinada infra-estrutura e/ou disponibilizar um serviço.

Uma PPP pode consistir num contrato de concessão de obra pública ou serviço público e,
geralmente, inclui uma componente significativa de financiamento privado, na forma de
capital e/ou dívida assumida pela banca comercial ou pelos Mercados de Capitais525.

Conceito e Caracterização das Parcerias Público-Privadas é qualquer forma de colaboração


entre o sector público e o sector privado, que tenha por objecto uma actividade em
benefício da colectividade. As definições mais alargadas do conceito indicam uma
colaboração entre o público e o privado para o alcance de vantagens mútuas, geralmente
sociais para o primeiro, e, frequentemente financeiras ou económicas para o segundo. Na
escrita de YESCOMBE, podemos definir a PPP526:

“É um contrato de longo prazo (“o contrato de PPP”) entre um parceiro do sector público e
um parceiro do sector privado;

Que tem em vista o desenho, construção, financiamento e funcionamento de uma infra-


estrutura pública, a cargo do parceiro privado;

Mediante pagamentos feitos ao privado ao longo da vida do contrato de PPP, seja pelo
Estado com recurso a dotações orçamentais, seja directamente pelos utentes ou
utilizadores através da cobrança de tarifas ou taxas;

Assegurando-se que a infra-estrutura ou permanece na propriedade do Estado ou reverte


para este, no final da vigência do contrato de PPP, ainda que o mesmo possa ser objecto de
renovação”.

525 Cfr. AVV. CRUZ, CARLOS OLIVEIRA, - O Estado e as Parcerias Público-Privadas, Sílabo Editora, 2012, Pág.
31
526 Cfr. POULSON, LAZARINO, Pág. 28.
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Manual de Direito Económico Francisco Mário
Esta definição, no dizer de CABRAL, citado pelo LAZARINO POULSON527, diz que, “suscita,
para já, algumas questões”, que passamos a tratar nos seguintes pontos:

i) Contrato de Longo Prazo: Pressupõe uma relação jurídica estável, duradoura e


continua entre uma entidade pública e uma privada. A duração do contrato varia de acordo
com a natureza do contrato, dos objectivos a alcançar e do retorno dos investimentos: há
contratos de curto prazo (até 1 ano), de médio prazo (3-4 anos), de longo prazo (mais de 5
anos);

ii) Parceiro Público Privado: O parceiro público é diferenciado – pode ser o Estado
(Administração Central ou Local), pode ser pessoas colectivas de população e território
como as Autarquia Locais ou outras pessoas colectivas públicas de fins singulares,
nomeadamente as Empresas Públicas e os Institutos Públicos;

iii) Responsabilidade de Financiamento: É outro elemento diferenciador entre às


formas clássica ou tradicional de contratação pública e as PPP. No primeiro caso (PPP), esta
responsabilidade está assacada a entidade privada, e na segunda à entidade pública, ou dito
de outro modo, nas formas tradicionais ou comuns de contratação pública, entidade pública
quem suporta os custos da “obra” ou serviço, cabendo a entidade privada a sua construção
ou prestação do respectivo serviço, ao passo que geralmente nas PPPs a entidade pública
recebe a obra ou beneficia do serviço, por conta e risco do privado. Neste caso, o pagamento
ao privado pode revestir duas formas essências: mediante dotações orçamentais públicas
ou mediante cobrança directa de taxas junto dos utentes528;

iv) Construção, financiamento e funcionamento de uma “infra-estrutura”: É um


traço característico delimitativo essencial para auxiliar na precisão de delimitação do
conceito de PPP, em face de outros acordos entre entidades públicas e privadas, que visam
a prossecução do interesse público ou interesse económico geral, a promoção do bem-estar
social ou, ainda, em prol do desenvolvimento económico. Todas essas expressões
abrangentes não são privativas das PPP, podendo atingir a outras formas de relação
entidades públicas e agentes privados, designadamente contratos públicos em geral,
contratos económicos, “out sourcing”, “contracting out”, protocolos, acordos vários, etc.
assim tendo conta que vocábulo “infra-estrutura” é usualmente empregue para
caracterização de uma PPP, vale a pena precisar o seu sentido e alcance. É, precisamente, o
que procuraremos fazer de seguida.

Como se vê, o legislador angolano optou por uma definição mais restrita na senda de
YOSCOMBE, onde se destacam os seguintes traços529:

527 Ibidem., Pág. 28-29


528 Do mesmo modo observaremos que as distinções no modo de financiamento - para lá dos diferentes
contextos sócio-geográficos - originaram dois modelos e o modelo continental ou concessivo, com grande
experimentação em França.
529 Apud. POULSON, LAZARINO, - As Parcerias Público-Privadas, Almedina Editora, 2011, pág. 29-31.

281
Manual de Direito Económico Francisco Mário
i) Contrato duradouro: Implica uma relação jurídica baseada na estabilidade e
continuidade entre uma entidade pública e uma privada. O legislador, de acordo com o
princípio da liberdade contratual (art. 405º, do CC), deixou ao critério das partes fixarem o
período de vigência das PPPs. Todavia, tendo em conta a natureza e objecto das actividades
que serão sujeitas à PPPs estamos em crer que serão contratos de médio e longo prazo;

ii) Parceiro Público-Privado: No ordenamento jurídico angolano são parceiros públicos


designadamente o Estado, as Autarquias Locais, Fundos e Serviços Autónomos, e, por fim,
as Entidades Públicas Empresarial. Este elenco de entidades públicas fixadas pelo art. 2 º,
da Lei das PPPs merece as seguintes observações.

Em primeiro lugar, encontra-se o Estado em toda sua dimensão (Legislativa, Executiva e


Judicial). Se preferirmos dizer, qualquer instituição do Estado que represente um dos três
poderes de soberania pode se vincular contratualmente por via de uma PPP. Do mesmo
modo, apesar de ainda não estar instruída, as Autarquias Locais também podem ser parte
de uma PPP530.

Por fim o legislador reservou um privilégio ao Sector Empresarial Público: a possibilidade


das várias formas empresarial pública tomarem parte de uma PPP.

Assim, uma Empresa Pública, uma Sociedade de Capitais Públicos pode ser envolvida numa
PPP. Noutra banda, o legislador consagrou uma norma específica para o co-contraente
público que merece a seguinte nota: Para já o legislador deveria fazer um elenco de
entidades privadas. Contudo, percebe-se que disse menos do que pretendia. Desse modo,
podemos concluir que para além das Empresas privadas (que são a regra) outras entidades
privadas de fins não lucrativos nomeadamente as associações, fundações ou ONG podem
vincular-se a um parceiro público mediante uma PPP.

iii) Responsabilidade de financiamento: o conceito legal de PPP em Angola é preciso


neste domínio. A Lei ao determinar que o financiamento e responsabilidade pelo
investimento incumbe no todo ou em parte ao parceiro privado, está a restringir a
intervenção financeira das entidades públicas. Neste caso, o pagamento ao privado pode
revestir duas formas essenciais: mediante dotações orçamentais públicas (que não
cobriram a totalidade do investimento) ou mediante cobrança directa de taxas junto dos
utentes.

Desse modo, fica proibida a constituição de PPPs em que a parte pública cobre todos os
custos, ou seja, nas PPP a entidade pública ou financia parte ou o ente privado suporta
sozinha o investimento.

530Já os Fundos Autónomos (fundações Públicas) podem ser parte de uma PPP. Contudo os fundos sem
personalidade jurídica não podem estar vinculados directamente a uma PPP. Por sua vez, os Serviços
Autónomos, designadamente Institutos Públicos Associações Públicas podem igualmente ser parceiro
público de uma oportuna PPP.
282
Manual de Direito Económico Francisco Mário
iv) Actividade à satisfação de uma necessidade colectiva: contrariamente aos outros
ordenamentos jurídicos que operam com o conceito de infra-estrutura, o nosso optou pela
expressão «actividade tendente à satisfação de uma necessidade colectiva». No fundo, são
expressões equipolentes. Falar de actividade tendente à satisfação de uma necessidade
colectiva é debruçar sobre uma «infra-estrutura», tal como uma estrada, ponte, ou ainda a
realização de um serviço de carácter público como a gestão de um hospital ou a exploração
de uma companhia aérea.

PPPs são verdadeiros contratos administrativos, este acordo de vontade entre um ente
público e uma entidade privada que visa assegurar o desenvolvimento de uma actividade
tendente à satisfação de uma necessidade colectiva tem a natureza jurídica de um contrato
administrativo, na medida em que o co-contratante público possui, dentre outros,
privilégios.

Concebido com normas exorbitantes (regime de direito público), o contrato de PPP é regido
por normas de direito público que conferem ao Estado vários poderes tais como o poder de
planificação (Plano Geral das Parcerias Público Privadas), aprovação, promoção de
concursos públicos, avaliação e fiscalização. O contrato administrativo que resulta da
constituição de uma PPPs é sinalagmática implicando a prestação.

15.2. Classificação das Parcerias Público-Privadas na Ordem Económica Angolana


De acordo com LAZARINO POULSON531, as PPPs podem adaptar varias as formas
contratuais, nos termos disciplinado do art. 2º, da LPPPs, são classificados seis as espécies
de PPPs que podemos surpreender no nosso ordenamento jurídico, nomeadamente:

15.3. O Contrato de Concessão de Obras Públicas

O Contrato de Concessão de Obras Públicas é o contrato administrativo pelo qual um


particular se encarrega de executar e explorar uma obra pública, mediante retribuição a
obter directamente dos utentes, através de pagamento por estes de taxas de utilização.

15.4. O Contrato de Concessão de Serviços Público


O Contrato de Concessão de Serviços Públicos - é o contrato administrativo pelo qual se
encarrega de montar e explorar um serviço público, sendo retribuído pelo pagamento de
taxas de utilização a cobrar directamente dos utentes.

15.5. O Contrato de Fornecimento Continuo

É o contrato administrativo pelo qual um particular se encarrega, durante um certo


período, de entregar regularmente à uma entidade pública certos bens necessários ao
funcionamento de um serviço público.

531 Cfr. POULSON, LAZARINO, - As Parcerias Público-Privadas, Almedina Editora, 2011, Pág. 83-84.
283
Manual de Direito Económico Francisco Mário
15.6. O Contrato de Prestação de Serviços
O contrato de prestação de serviço abrange dois tipos completamente diferentes um do
outro o contrato de transporte - é o contrato administrativo pelo qual um particular se
encarrega de assegurar a deslocação entre lugares determinados de pessoas ou coisas a
cargo da Administração; e o contrato de provimento, é contrato administrativo pelo qual
um particular ingressa nos quadros permanentes da Administração Pública e se obriga a
prestar-lhe a sua actividade profissional de acordo com o estatuto da função pública.

15.7. O Contrato de Gestão


O contrato de gestão é aquele se prende com o ajuste através do qual a Administração
transfere o contrato o controle, a condução, o gerenciamento de um dado empreendimento,
resguardando, no entanto, para si, o poder de decisão. Cuida-se, assim, da actividade de
mediação, a qual representa um serviço técnico profissional especializado comum em obra
de grande porte.

15.8. O Contrato de Colaboração


O contrato de colaboração de natureza económica refere-se normalmente quando esteja
em causa a utilização de um estabelecimento ou uma infra-estrutura já existente - trata-se
um contrato que atribui ao particular, sem a contrapartida de qualquer vantagem, a
prerrogativa de utilização de um bem público existente.

15.9. Pressupostos para a Formação de PPP


Nos termos previsto pela LPPPs que actualmente foi alterada pelo legislador ordinário,
afigura-se necessários alguns pressupostos para formação do contrato económico de PPPs,
designadamente:

Devem constar do um Plano Geral das Parcerias Público-Privadas (PGPPP) que constitui
documento plurianual e multi-sectorial;

O cumprimento, quando seja o caso, das normas relativas à programação financeira


constante da Lei do Orçamento Geral do Estado;

A clara enunciação dos objectivos da parceria, definidos os resultados pretendidos e


permitir uma adequada atribuição das responsabilidades das partes;

A configuração de um modelo de parceria que apresente, para o parceiro público, vantagens


relativamente às formas alternativas de alcançar os mesmos fins, designadamente por via
do modelo de contratação pública tradicional, avaliadas nos mesmos termos previstos na
Lei do Ordenamento Geral do Estado e que, simultaneamente, apresente, para os parceiros
privados, uma expectativa de obtenção de remuneração adequada aos montantes
investidos e ao grau de risco em que incorrem e de igual modo, ao tempo estimado para a
execução das mesmas empreitadas;

A prévia adequação às normas legais e demais instrumentos normativos, bem como à


obtenção das autorizações e dos pareceres administrativos exigidos, tais como de, entre

284
Manual de Direito Económico Francisco Mário
outros, os de natureza ambiental e urbanísticos, dos quais depende o desenvolvimento do
projecto, de modo a permitir que os riscos possam ser convenientemente distribuídos
entre os parceiros com melhores condições de suporta-los;

A concepção de modelos de parcerias que evitem ou menorizem, sempre que possível e


salvo fundamentação adequada, a probabilidade da verificação de modificações unilaterais
dos contratos, determinadas pelo parceiro público ou quaisquer outros factos ou
circunstâncias geradores ou potenciadores da obrigação de reposição do equilíbrio
financeiro, designadamente a indefinição das prestações contratuais, a imprevisibilidade
da matéria, a extensão ou a incerteza quanto a duração do compromisso, bem como a
assunção de termos e condições de reposição desse equilíbrio ou outros regimes
indemnizatórios que sejam excessiva ou injustificadamente onerosos ou inadequados em
face do perfil do risco efectivo da parceria;

A adaptação, na fase prévia à contratação, das diligências e a consagração das exigências


que se revelem adequadas à obtenção de um resultado negocial económico ou socialmente
competitivo;

A identificação expressa da identidade pública que tem a responsabilidade de suportar os


encargos decorrentes de pagamentos a realizar ao parceiro privado, quando se preveja que
os mesmos venham a ter lugar, bem como a identificação da origem dos respectivos fundos.

Na prática profissional e na literatura académica os processos de desenvolvimento de PPP


são referido como privatizações parciais. De facto, tratam-se de processos distintos na sua
essência.

Todavia, podemos evidenciar que uma privatização é uma venda, e que implica o controlo
total e alteração da propriedade material do activo por um período normalmente ilimitado.
Nos casos em que o Estado vende a sua posição, transferindo a propriedade dos activos
para entidades privadas, por um período ilimitado, estamos perante um processo de
privatização.

A palavra privatização é usada comummente, para indicar o envolvimento do sector


privado num projecto ou sector, até e então, de domínio exclusivamente público. Em
sentido estrito podemos falar de privatização num serviço público quando os seus activos
são vendidos (privatização material), quando a gestão e exploração é transferida para o
sector privado (privatização da gestão mas os activos continuam públicos) ou quando
existe uma empresarialização do serviço (privatização jurídica ou institucional, onde os
activos e a gestão são públicos mas houve uma “fuga” para o direito privado, tendo sido
abandonadas muitas regras do Direito Público e do Direito Administrativo no
funcionamento entidade gestora). No entanto, isto é distinto do termo «privatização» na
sua definição mais exacta, uma vez que na maioria dos casos não se assiste a privatizações
com transferência “ad eternum” da propriedade dos activos.

285
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Por outro lado, uma das características das PPPs radica na assunção do risco pelo
particular, porquanto que, conceito de risco, tem sido o centro das discussão sobre PPP, é
indissociável do conceito de incerteza, embora não sejam totalmente equivalente como
sustenta SAVAGE, citado por CARLOS OLIVEIRA CRUZ/RUI NAMORO, pois que, a incerteza
é uma característica de alguns aspectos do universo.

Portanto, ao reduzir-se o universo ou o sistema em análise a algumas variáveis, a estimação


das mesmas é uma tarefa difícil, senão mesmo impossível (v.g. ex. estimar o número de
doentes que afluirão a uma determinada infra-estrutura hospitalar ou estimar o custo de
energia num horizonte de 30 ano). Ainda que seja possível definir um intervalo com um
determinado grau de confiança para cada uma das variáveis, existe sempre incerteza no
processo532.

15.10. Classificação do Risco das PPPs


O Risco, no entender de CARLOS OLIVEIRA CRUZ, citando o autores como MARQUES e
BERG, pode ser classificado, ou seja, são vários os tipos de risco em projectos de infra-
estruturas e/ou serviços públicos. E por conseguinte, propuseram uma classificação de
risco baseada em três categorias533:

Risco Político: eleições, greves, convulsão sociais, golpe de Estado, guerra e terrorismo.

Risco de planeamento, projecto, expropriação, construção, ambiental, manutenção,


operação, tecnológico, e desempenho, entre outros;

Risco Comercial: procura, competição e cobrança, entre outros;

Risco do Contexto económico e financeiro: financiamento, inflação, legal, regulatório,


modificação unilateral, contestação pública e força maior, entre outros.

Notem bem, - “quando a transferência de propriedade material não ocorre, ou quando esta
possui uma duração limitada no tempo, regulada por algum documento contratual
(estatutos, acordo parassociais e contrato de concessão de exploração e de gestão), finda a
qual a propriedade do activo retorna ao domínio público, então estamos perante uma forma
de PPP”534.

15.11. Investimento Privado


O investimento pode ser entendido como a aplicação de fundos destinado a obtenção de
um determinado rendimento e pode ser interno ou externo em líquido ou bruto535,

532 Cfr. AVV CRUZ, CARLOS OLIVEIRA, - O Estado e as Parcerias Público-Privadas, Sílabo Editora, 2012, Pág.
41.
533 Ibidem, Pág. 42.
534 Ibidem, Pág. 38-39.
535 É bruto quando consiste na criação de bens de produção durante um certo período de tempo incluindo a

substituição do material absoluto sem ter em conta as despesas efectuadas para a obtenção de receitas. É
Líquido quando consiste no acréscimo do capital de uma Empresa formando receitas depois de deduzidas as
despesas.

286
Manual de Direito Económico Francisco Mário
consoante o critério de obtenção de receitas nos termos definido pela Lei nº 10/18, de 26
de junho que veio regular as operações do Investimento Privado (LIP).

O investimento pode ser financeiro ou industrial:

Financeiro, quando consiste na aplicação de fundos excedentários ao capital financeiro


(compra de acções de bolsa de valores) nos termos do art.7º, da LIP.

Industrial, quando consiste na aquisição de bens de equipamentos ou de instalações fabris


com o objectivo de aumentar os lucros e diminuir os custos operacionais (art.7º, da LIP).

15.11.1. Investimento Privado Externo


Consiste na importação de capitais de outros países estrangeiros. Pode ser directo ou
indirecto. Directo, quando consiste na aquisição de bens de equipamentos ou na aplicação
directa de capitais e, indirecto, quando envolve a compra de títulos (acções ou obrigações)
de Empresas já existentes, ou seja, O investimento externo prende-se com uma actividade
económica exercida pelo investidor estrangeiro, através de uma Empresa na qual
geralmente detém todo ou parte do capital, cuja forma de realização está prevista no art,
10º, da LIP.

Portanto, o regime geral caracterizava-se essencialmente pela introdução em Angola por


entidades que não são consideradas residentes cambiais de capital, tecnologia ou utilização
de fundos com o objectivo de criar novas Empresas, filiais ou sucursais ou adquirir a
totalidade ou parte do capital social de Empresas já constituídas em Angola e constituir
associações em participação com direito a transferir resultados (art.9º, do LIP).

O regime jurídico está consagrado na Lei do Investimento Privado Lei nº 10/18, de 26 de


Junho, para efeitos regulatórios do investimento privado assinala-se as três grandes áreas:

- Área Substantiva: enquadra os princípios e normas jurídicas básicas do investimento


externo que consagra os direitos e obrigações do investidor estrangeiro (art. 4º e 13º, e ss,
da LIP).

- Área Procedimental: que concerne a tramitação do processo de investimento privado


externo art. 44º e ss, da LIP).

- Área Sancionatória: que engloba as normas definidoras de infracções, as sanções à elas


aplicáveis, art. 47º, da LIP.

Regime Cambial do Investimento Privado Externo quando os valores a investir em Angola


se situassem abaixo do mínimo acima referido, a importação de capitais podia ser feita com
base no mecanismo previsto na Lei nº 5/97, Lei Cambial.

287
Manual de Direito Económico Francisco Mário
As operações cambiais só podem ser realizadas por intermédio de uma instituição
financeira autorizada a exercer o comércio de câmbios, de forma isolada ou
cumulativamente através das seguintes formas de transferência de fundos do estrangeiro:
aplicação de disponibilidades em contas bancárias, em moeda estrangeira, constituídas em
Angola por não residentes e importação de equipamentos, acessórios e materiais. Estas
operações de acordo com o art. 41º, da LIP, estão sujeitos as normas do regime cambial
vigente em Angola Lei nº 5/97, de 27 de Junho, com as recentes alterações.

CAPITULO XVI – O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO

16.1. Aspectos Gerais do Sistema Financeiro Angolano


O Sistema Financeiro tem-se confundido em vez enquanto com o sistema do Direito
Financeiro e Finanças Públicas que constitui uma vexata quaestio cujo consenso não tem
sido pacífico na doutrina nacional lusófona, criando debates acesos, mas, contudo vamos
tentar centrar à nossa atenção convocando, desde logo, a doutrina avisada para efeito.

Porém, temos que estabelecer, com alguns critérios da hermenêutica jurídica a diferença
que encerra entre o Sistema Financeiro e o Sistema do Direito Financeiro na ordem jurídica
económica e financeira angolana para subsumir o tema sub judice na adequada área jurídica
dos ramos de direito tradicional “summa division” (Direito Público e Direito Privado).

Todavia, na enciclopédia jurídica que nós tivemos acesso detida pela doutrina
portuguesa536; refere que o sistema financeiro - «reporta-se ao conjunto estruturado de
instituições, pessoas, actos, negócios e operações relacionados com criação dos Mercados
monetários, financeiros e cambial, com o crédito ou a transferência e a cobertura de
risco»537.

No ordenamento jurídico angolano art. 99º, da Constituição da República de Angola, aí


neste endereço legal faz eco e estabelece que “o sistema financeiro é organizado de forma a
garantir a formação, a captação, a capitalização e a segurança das poupanças, assim como a
mobilização e a aplicação dos recursos financeiros necessários ao desenvolvimento
económico e social em conformidade com a Constituição e a Lei” 538.

Destarte, feita esta comparação, dizer que, o sistema financeiro também por vezes nutre –
se do designativo de “Sector Financeiro” –, porque neste sentido, segundo concepção
defendida pela MARIA MANUEL LEITÃO MARQUES, postula de modo “que compreende o

536O conceito de sistema financeiro surge-nos desde modo como um construção doutrinária, elaborada a
partir da realidade económica e do quadro normativo relevante para efeito, Cfr. AAVV. FERREIRA, EDUARDO
PAZ/MORAIS, LUÍS SILVA “ Regulação Em Portugal: Novo Tempo: Novo Modelo? 2009, Pág. 40
537 Cfr. CÂMARA, PAULO – Manual de Direito do Valores Mobiliários, almedina editora 2009, Pág.16.
538 O Sistema Financeiro, funda-se nas instituições financeiras na proa – o BNA, vide art. 100º da CRA.
288
Manual de Direito Económico Francisco Mário
conjunto das instituições de crédito, Mercado de capitais e as Empresas que prestam serviço
de investimento, bem como as Empresas que operam no Mercado de seguros e de fundos de
pensões”539.

Ora bem, o Sistema Financeiro540, - visto nesta prisma, traduz-se no Direito do Sistema
Financeiro ou Finanças Privadas que comporta três distintas vertentes, particularmente o
Direito Bancário, o Direito dos Seguros, o Direito dos Valores Mobiliários e Direito dos
Mercados Financeiros541 (art. 99º, da CRA), que normalmente pode-se encaixar no ramo do
Direito Privado apesar hoje ganharem autonomia.

Já o Direito Financeiro ou Direito de Finanças Públicas – consiste num sistema de normas


que visam em síntese disciplinar as despesas e as receitas do Estado, cuja função essencial
é da Regulação social, dito do outro modo, o Direito Financeiro consiste na arbitragem
concreta entre os bens económicos atribuídos ao Estado e os particulares, cuja base legal
encontra o conforto no proemio do art. 101º, da CRA542.

Por seu turno, a Escola de Coimbra, citado pelos ilutres Profs. GOMES CANOTILHO/VITAL
MOREIRA543, avançam com ideia e discutem com base o critério subjectivo e objectivo do
sistema financeiro previsto no art. 101º, da CRP e tal como o previsto no normativo do art.
99º, CRA. Estes autores fazem a destrinça do sector financeiro (e não sistema financeiro).

Em síntese, concluem que no sentido subjectivo, o Sector Financeiro - versa sobre a banca,
mercados financeiro e, no sentido objectivo, o Sistema Financeiro- versa sobre actividade
financeira (orçamento, sistema fiscal).

539 Apud, - FLOR, PAULA ADREGA - «Espaço Financeiro Europeu Integração, Regulação e Supervisão: que
Modelo?» in Revista da Banca nº 65 Janeiro/Junho de 2008, Pág. 83,citando AAVV, MARQUES, MARIA
LEITÃO/ ALMEIDA, JOÃO SIMÕES DE E FORTE/ANDRÉ, MATOS – “ Concorrência e Regulação (A relação entre
a Autoridade da Concorrência e as autoridades de regulação sectorial), Pág. 137.
540A expressão sistema financeiro pode ser utilizada num sentido objectivo, enquanto conjunto de normas,
institutos e mecanismos jurídicos que regem a actividade financeira em geral; no sentido subjectivo,
enquanto conjunto de instituições, empresas e organizações com intervenção directa na actividade financeira.
Cfr. AAVV. FERREIRA, EDUARDO PAZ/MORAIS, LUÍS SILVA “ Regulação Em Portugal: Novo Tempo: Novo
Modelo? 2009 Pág. 40
541Constituem disciplinas jurídicas, mas também de ponto visto económico são áreas com forte intervenção
dos Estado, o seja, intervencionismo do Estado no domínio económico que por vezes se confunde com
dirigismo económico (criação do sector público maior do que aquele que caracteriza um Estado
intervencionista “sic” há já ideia de direcção da economia) enquanto intervencionismo (há apenas uma ideia
de correcção) mas desenvolvimento ver o saudoso FRANCO, LUCIANO SOUSA, in Finanças Públicas e Direito
Financeiro, vol. I e II, Almedina, Coimbra 4ª edição, 13ª reimpressão 2010, Pág. 61 e 62.
542O Direito Financeiro, funda-se principalmente no instituto do “imposto tido como estabilizadores
automáticos do orçamento” vide art. 102º da CRA.
543 Apud – AAVV, MARQUES, GONÇALVES ALEXANDRA, Supervisão Comportamental Bancaria: Da Supervisão

à Protecção do Cliente Bancário - in Revista da Banca nº 70 Julho/Dezembro de 2010, Pág. 9, citando,


CANOTILHO, GOMES/VITAL MOREIRA (2007), Pág. 454. Sobre o conceito e estrutura constitucional do
sistema, desenvolvidamente Cfr. FONSECA, R, GUERRA (2008), Pág. 758 ss.
289
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Entretanto, o Direito Financeiro conformar-se com Orçamento Geral do Estado, actividades
financeiras. São Finanças Públicas do Estado (Direito Público), cuja entidade de
vocacionada para hetero-controlo e fiscalização é o Tribunal de Contas.

E, Sistema Financeiro que é o fenómeno financeiro do Estado, versa actividade financeira


do tratamento da moeda – dinheiro e circulação da riqueza entre Agentes Económicos
através das instituições financeiras bancarias e não bancarias sob vigilância do Estado
(Finanças Privadas), cuja entidade de Supervisão (Regulação) é o BNA.

Portanto no Sistema Financeiro, comporta três Mercados, nomeadamente:

Mercado de Crédito - que é conjunto de actividades comerciais monetárias, bancarias,


interbancário de cedência de liquidez, crédito e cambial.

Mercado de Capitais – é conjunto de actividades comerciais de transação de valores


mobiliários.

Mercado de Risco – o conjunto de actividades de comerciais de seguros dos bens.

Estes Mercados é que vai constituir as Instituições Financeiras que a seguir vamos tracejar
e produzir um sumário de Direito dos Mercados Financeiro.

16.2. Instituições Financeiras do Sistema Financeiro Angolano


Nos anais da história de Angola, tem - se registado imensas mutações económicas com
relevância no sistema financeira operada em 1988, onde foi lançado o marco para
desenvolvimento das instituições financeiras através do Programa de Saneamento
Económico-Financeiro (S.E.F.), onde foram definidas as bases gerais que se consolidaram
na Lei vigente das instituições financeiras (Lei nº 12/015, de 17 de Junho).

Portanto o actual regime jurídico das instituições financeiras, além de redefinir o


enquadramento estrutural do sistema financeiro de Angola, veio edificar à categorização
das instituições financeiras organizadas de acordo o sector de actividade, que constitui a
trave mestra assente na principal destrinça entre as instituições financeiras bancaria e as
instituições financeiras não bancarias. O que vamos desenvolver nos números à seguir.

16.2.1. Instituições Financeiras Bancárias


As instituições bancarias são os Bancos, Empresas cuja actividade principal consiste em
receber do público depósitos ou fundos reembolsáveis, a fim de aplicar por conta própria,
mediante a concessão de crédito, asseguradas pelo contrato bancário. Operação bancária
como um acto de natureza económica, realizado pelas entidades legalmente habilitadas,
mediante os quais se processa a intermediação financeira, na recolha de fundos
reembolsáveis e sua distribuição sob a forma de crédito, bem como a prestação de serviços
diversos, dos quais se destacam, os serviços de pagamento, de guarda de valores, etc. No
nosso ordenamento jurídico não existem normas que expressamente regulem os contratos
bancários, mas remedia-se nos ínsitos, art. 99º, da CRA. Art. 362º, 365º a 407º, do Código
Comercial.
290
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Pode-se, contudo afirmar que as operações bancárias dão lugar às relações contratuais
entre o banco e o cliente, relações essas que justamente entroncam em contratos legais ou
socialmente tipificados. Mas sendo a intermediação de crédito o que caracteriza as
instituições bancárias, actualmente os bancos não se limitam a este tipo de operações,
desenvolvendo-se, sim, por um cada vez mais vasto leque que correspondem a vários
negócios típicos e atípicos, obrigando o jurista a fazer o respectivo enquadramento legal de
cada uma das situações.

Qualquer modo os grandes problemas surgem nas operações que resultam das práticas e
usos bancários daí surgindo verdadeiros contratos devidamente enraizados ao longo dos
anos consubstanciando-se em figuras contratuais atípicas que os profissionais bancários
que têm necessariamente de se socorrer ao disposto no art. 405º, do CC em conjugação com
a prática bancária devem ser os princípios orientadores nesta matéria, em geral para fazer
face à demanda que é característica do Mercado financeiro para configura-lo no actual
contexto macro-económico nacional se revela importante para enquadrar diversos
contratos em que figuram operadores residentes cambiais como também contratos em que
os residentes cambiais contratam com residentes não cambiais por forma a minimizar ou
suprimir os riscos derivados da flutuação cambial como também da remuneração do capital
inerente a estes contratos.

Portanto o sistema financeiro bancário, ou seja, os Bancos subdividem em dois níveis:

Banco do 1º nível (BNA) – Banco central, emissor, autoridade cambial e supervisor,


banqueiro do Estado (art. 100º, da CRA e art.3º e 16º, da LBNA).

Bancos do 2º nível – Bancos comerciais, crédito, fomento, desenvolvimento, investimento,


ou seja, bancos universais (art.99º, da CRA).

16.2.2. Instituições Financeiras Não Bancárias


As Instituições Financeiras não bancárias, ou seja, parabancárias são as Empresas que não
sejam instituições financeiras bancarias, mas ligadas a moeda e o crédito sob jurisdição do
BNA, cuja actividade principal consiste em exercer uma ou mais actividades intermediação
financeira, (art. 99º, da CRA), nos termos definidas pelo Lei das Instituições Financeiras,
(Cfr. Art. 7º, nº 2, da LIF).

O Mercado angolano é incompleto no plano da concretização das instituições previstas no


art. 7º, da LIF, mas sublinha-se à actividade de algumas instituições financeiras não
bancarias que efectivamente operam no Mercado Financeiro de Angola, designadamente:
Casas de Câmbio, Sociedades Cooperativas de Crédito e Sociedades de Micro Crédito544.

544 Cfr. AVV, MÁRIO, FRANCISCO – Supervisão Bancaria no Sistema Financeiro Angolano, Revista de Regulação

e Concorrência do Instituto Direito Económico e Fiscal (IDEF) da Faculdade de Direito da Universalidade de


Lisboa nº20 e 21/2015, almedina editora, Pág.261-281.
291
Manual de Direito Económico Francisco Mário
16.3. Supervisão, versus, Regulação Financeira no Sistema Financeiro Angolano
Etimológico, a Supervisão –, significa visão superior545, função de supervisor, por influência
anglo-saxónica, tem-se divulgado junto dos nossos estudiosos do Direito Bancário, a
referência a uma Regulação Bancária ou Financeira em detrimento da tradicional (ou mais
tradicional) Supervisão, nesta sede LUÍS GUILHERME CATARINO, diz que, a Supervisão se
traduz numa “actividade da administração limitadora da liberdade dos administrados”
(…)546.

Já a Regulação é uma forma de intervenção do Estado no domínio financeiro com fito de


criar utilidade públicas e de algum modo de limitar liberdade jurídico -económicas.

Pelo que, a Regulação Pública da Económica – consiste no conjunto de medidas legislativas,


administrativas e convencionais por meio das quais o Estado (ou, de forma mais ampla, os
poderes públicos), por si ou por delegação, determina, controlo ou influencia o
comportamento dos agentes económicos, tendo em vista orienta-los em direcções
socialmente desejáveis e evitar efeitos que sejam lesivos de interesses socialmente
legítimos547.

Em função dos objectivos do Estado, as medidas de Regulação Pública Económica podem


ser agrupadas em dois (2) tipos ou categorias principais:

A primeira categoria compreende as medidas que condicionam a liberdade de iniciativa


económica em qualquer das suas componentes, acesso, organização e contratação, também
designada de Politica Económica – que se exprime tipicamente através de medidas de
carácter: Preventiva e Repressiva.

Medida Preventiva – trata-se no cômputo geral de Lei – Medida vertidas naquelas normas
injuntivas ou cogentes548, ou seja, proíbem ou condicionam previamente o exercício de
certa actividade económica dos agentes.

545Supervisão – significa (…) Acto ou efeito de dirigir, orientar ou inspeccionar. In Universal Dicionário
Integral de Língua Portuguesa, texto editores, Lda. 2010. Angola. Portugal. Moçambique. Brasil Pág. 1393.
546 CATARINO, LUÍS GUILHERME. - «Agencificação da União: Novo Meio de Regulação». In Revista de
Concorrência e Regulação. IDEF, ano III, nº 9, FDL.2012, Pág. 175.
547 AAVV. MARQUES, MARIA MANUELA LEITÃO, PEDROSO, JOÃO, - Manual de Introdução ao Direito, Saber

Direito para entender o Mercado. 2ª Edição Almedina 2017. Pag.225 e ss.


548 Cfr. CUNHA, PAULO OLAVO, - Direito Empresarial para economistas e gestores 2ª edição Almedina 2016.

Neste sentido - define-se como normas injuntivas ou cogentes, aquelas normas que se impõem â observância
dos seus destinatários, cominando uma conduta ou vedando-a, independemente da sua vontade; podem ser
agrupadas em dois subtipos, designadamente:
a) Normas percetivas – são aquelas normas que impõem uma conduta, ou seja, são disposições legais
que impõem uma forma especial para celebração de um negócio jurídico, cuja inobservância de forma
compromete a validade do acto jurídico, assim, a prescrição legal nela prevista deve ser seguida ao
rigor pelo sujeito do Direito, sob pena de não obter os efeitos pretendidos decorrentes da declaração
do acto em voga. Ex. 875º e 1323º, do CC.
b) Normas Proibitivas – são aquelas normas que impedem ou vedam uma conduta do agente económico
(art. 877º e 989º, do CC).
292
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Medidas Repressivas – tem-se em vista a repressão de práticas ilícitas que como tal estão
tipificadas na lei, podendo dar origem a aplicação de sanções negativas. Ex: coimas, multas
e outras sanções de natureza penal.

A segunda categoria compreende as medidas de incentivos que consiste ao apoio do Estado


aos agentes económicos como Auxilio do Estado o Aval e Isenções Fiscais, Fomento
Económico.

Assim, LUÍS GUILHERME CATARINO, define a “Supervisão” «como actividades da


administração limitadora da liberdade dos administrados, mediante a qual se quer garantir
que os sujeitos privados ou públicos, que actuam sob o regime do direito privado operando
num determinado sector ou nele desenvolvem determinada actividades, o façam de forma
ajustada ao estabelecido na ordenação do referido sector ou actividades, através de um
controlo prévio (autorizações e poderes regulamentares), de vigilância de actividades
(informação, inspecção), de intervenções correctivas (injunções, ordens) que podem culminar
no exercício de funções repressivas (sancionatórias)» 549.

Sustenta este autor que, a Supervisão, assenta assim na conjugação do objecto (garantia) e
formal (actividades limitadora da oferta dos particulares), defendendo a finalidade dos
objectivos que são legalmente consagrados (defesa da ordem e segurança pública, fomento
de actividades, promoção de interesses).

De uma forma sumário para bem perceber melhor a temática de Supervisão importa
destacar os modelos clássicos de Supervisão e daí indicar o modelo de Supervisão
Financeiro acolhido na ordem económica angolana, e, assim temos:

Sistemas de Supervisão Integrada (monista) – que consiste numa única entidade de


Supervisão do sector financeiro.

Sistemas de Supervisão Especializada – os que separam as três grandes áreas da Supervisão


financeira, destacando órgãos especializados param cada uma delas.

Os Sistemas Mistos ou Mitigados – caracterizam-se pela especialização numa área e


combinação de funções noutras duas áreas.

Os Sistemas (ou modelo Twin Peaks) – caracteriza-se pela repartição das responsabilidades
de Supervisão por duas entidades autónomos e independentes, tendo ambos poderes
transversais sobre todos os sectores do sistema financeiro, a repartição de competência e
efectuados em função da natureza prudencial ou comportamental da Supervisão.

Face aos modelos em presença, Angola, perfilha o Sistemas de Supervisão Especializada.


Este sistema caracteriza-se por uma autoridade especializada que vai consistir na função
de Supervisão Prudencial para os Bancos e demais instituições de crédito e sociedades

549CATARINO, LUÍS GUILHERME – Regulação e Supervisão dos Mercados de Instrumentos Financeiros,


Fundamento e Limites do Governo e Jurisdição das Autoridades Independentes, “teses de doutoramento”
Almedina, 2010, Pág. 287 e ss.
293
Manual de Direito Económico Francisco Mário
financeiras como está previsto nos alinhados termos do art. 6º, nº2 e 7º, nº1, da Lei nº
12/015, de 17 Junho, actual Lei das Instituições Financeiras (daqui em diante LIF), como
órgão de Supervisão Coordenador (Cfr. art. 21º, da Lei nº 16/ 10, de 15 de Julho, LBNA)550,
e cabendo no sector dos Seguros a Agência Angolana de Regulação de Seguros de Angola
(ARSEG), nos termos do art. 7º, nº 2, da LIF e o sector do Mercado de Valores Mobiliários,
o Organismo de Supervisão Mercados de Capitais(CMC)551, ex. vi art. 7º, nº3 e art. 18º, da
Lei nº 22/015, de 31 de Agosto, Código de Valores Mobiliários.

Apesar de que na prática vê-se uma aproximação ao sistema misto, tendo em conta a tutela
e superintendência dos supervisores por entidades do Poder Executivo, designadamente o
Ministro das Finanças e Titular do Poder Executivo552, por causa da forma do governo
angolano consagrado na Constituição da República de Angola de 2010 que se configura no
sistema de governo presidencial-parlamentar553.

Porquanto que o modelo de Supervisão Financeiro, caracteriza-se pelo sistema de


Supervisão Especializado e Coordenado em oposição do sistema de Supervisão
Especializado Integrado.

A Supervisão em cada sector esta acometidos ao um organismo especializados para efeito,


designadamente:

1- Departamento de Supervisão das Instituições Financeiras (DSB), BNA;

2- Agência Angolana de Regulação dos Seguros de Angola (ARSEG);

3- Organismo de Supervisão de Mercados de Valores Mobiliários (CMC);

4- Instituto de Supervisão de Jogos (ISJ), e;

5- Conselho Nacional de Estabilidade Financeiro (CNEF).

Portanto, vamos desenvolver nas páginas a seguir detalhadamente a cada organismo


especializado de Supervisão.

16.3.1. Departamento de Supervisão das Instituições Financeiras do BNA


(DSB).
DSB, é um organismo de Supervisão do Sistema Financeiro do BNA. De ponto vista
constitucional o BNA configura-se numa instituição de cariz monetária e financeira a
dimensão da ordem económica, cujo regime jurídico-legal situa-se no território do art.
100º, da CRA e na Lei nº 16/10, de 15 de Julho, apelidada de LBNA.

550 No Direito comparado português, é consagrado no art. 73º, 91º e 93º, do RIGICSF.
551 CMC- Comissão de Mercados de Capitais.
552 Ou a relação entre as entidades supervisoras e Poder Executivo.
553 Cfr. AVV, MÁRIO, FRANCISCO – Supervisão Bancaria no Sistema Financeiro Angolano, Revista de Regulação

e Concorrência do Instituto Direito Económico e Fiscal (IDEF) da Faculdade de Direito da Universalidade de


Lisboa nº20 e 21/2015, almedina editora, Pág.261-281.
294
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Porque, o sistema financeiro bancário a sua actividade tradicional reputa-se nas operações
bancarias voltada na recepção de fundos reembolsáveis, a concessão de crédito e prestação
de serviços de acordo o balizado na Lei das Instituições Financeiras.

O BNA no sistema financeiro angolano constitui uma fonte normativo de dimensão formal
e material do sistema, pode ser definido como uma pessoa colectiva de Direito Público
dotada de autonomia administrativa, financeira e patrimonial conforme plasma no art.1º,
da LBNA.

Contudo, o BNA, pertencente a categoria mais amplo de “Institutos Públicos”, sujeito à


tutela do Titular do Poder Executivo (isento do controlo jurisdicional do Tribunal de
Contas), porém, não se fala em independência, pois que, está irremediavelmente ancorada
na sua autonomia administrativa, financeira e patrimonial.

O BNA sob chefia de um governador órgão unipessoal, nomeado e exonerado pelo


Presidente da República, enquanto Chefe do Estado (Cfr., al. j), do art. 119º, da CRA e art.
49º, da LBNA). O BNA, desempenha as funções tradicionais, como banco emissor,
autoridade monetária, cambial e supervisão do sistema financeiro, (Cfr. art. 3º e 16º, da
LBNA).

Entretanto, como autoridade de Supervisão exerce a função de Supervisão macro e micro


Prudencial (vide, art. 87º e 90º ss., da LIF) e Comportamental (art. 70º e 75º e ss., da LIF)
das instituições bancárias e outras instituições não bancárias ligadas a moeda e o crédito
(art. 7º, nº 1, da LIF e art. 21º, da LBNA).

Porque o risco da aplicação dos depositantes ou aforradores bancários resume-se no risco


do crédito sobre a instituição custodiante do seu dinheiro. Daí que a “Regulação Bancaria”
é essencial na perspectiva prudencial de modo acautelar ou manter incólumes os depósitos
dos clientes e fazer cumprir o dever de reembolsar o dinheiro emprestado aos investidores
(devedores), bem como a assegurar à tutela da confiança na estabilidade do sistema
financeiro (art. 198º, da CRA)554.

Por seu turno no Mercado Cambial, BNA é autoridade máximo do sistema financeiro que
supervisiona o comércio de divisas bem como a saída e entrada das reservas cambiais.

Entretanto, neste Mercado tão sensível e complexo constitui o eixo da soberania monetária
e de reserva dos recursos naturais nas relações estabelecidas com exterior, daí, porém, o
as autoridades monetárias tem proclamada um conjunto de medidas para assegurar e
preservar a soberania monetária de acesso as divisas que a princípio não é livre.

Todavia, instrutivo do BNA restringe os montantes autorizados para saída de divisas


distingue “residente cambial” e “não residente cambial”. A diferença está na detenção do

554 Cfr. AVV, MÁRIO, FRANCISCO – Supervisão Bancaria no Sistema Financeiro Angolano, Revista de Regulação

e Concorrência do Instituto Direito Economico e Fiscal (IDEF) da Faculdade de Direito da Universalidade de


Lisboa nº20 e 21/2015, almedina editora, Pág.261-281.
295
Manual de Direito Económico Francisco Mário
cartão de residência por parte do estrangeiro atribuído pelo SME com base em critérios
descritos no art. 80º, da Lei nº 2/07, de 31 de Agosto, o que significa que os estrangeiros só
podem transferir os rendimentos obtidos no País na base do contrato de trabalho válido
naquelas áreas em que são necessário a mão-de-obra estrangeiras ou com base no
investimento privado externo, art. 15º e 21º, da Lei nº 14/15, de 11 de Agosto, Lei do
Investimento Privado (LIP). Fora destes mecanismos as autoridades cambiais não
permitem realizar este tipo de operações com as reservas cambiais, nos termos art. 3º e 4º,
da Lei nº 5/97, de 27 de Junho, Lei Cambial, de um lado, por outro a Lei Cambial permite a
saída e entrado no País através das fronteiras migratórias até um montante estabelecido555.

A inobservância deste comando legal desencadeia um conjunto de sanções cominativas de


natureza penal, art. 20º, da LC. Dentre elas configuram comprovação de residência e de
capacidade de subsistência e alojamento no País, a ausência de condenações criminais, um
visto de residência válido e “haver interesse nacional na autorização de residência”.

Podemos concluir à este propósito que o BNA e o Poder Executivo através da política
monetária criaram mecanismos institucionais de coordenação para fazer face à tarefa de
Supervisão com base consolidada (art. 21º, da LBNA), tendo em vista assegurar a
estabilidade, eficiência e solidez do sistema financeiro e, o cumprimento de regras de
conduta e a de prestação dos interesses dos clientes (Interesse Público).

16.3.2. Agência Angolana de Regulação E Supervisão de Seguros de Angola


O Mercado do Risco - é muito importante na medida em que assegura as transacções de
circulação da riqueza entre os Agentes Económicos. Mas qualquer modo o Mercado de risco
angolano comporta expressivamente três sectores de seguro, nomeadamente:

Seguro concernentes as pessoas

Seguro de bens e património.

555 Vide aviso do BNA


nº 1/16, de 8 de Abril, Sobre a entra e saída de moeda. Nos termos deste aviso a entrada
de moeda estrangeira e moeda nacional esta condicionada nos termos prescritos nas disposições a seguir:

Artigo 4.º (Limites)


1. Às pessoas singulares residentes e não residentes cambiais é permitida a saída e entrada no país
com moeda nacional até ao montante de Kz 50.000,00 (cinquenta mil kwanzas). 2. O montante
em moeda nacional não é elegível para o apuramento dos limites de entrada e saída de moeda
estrangeira definidos nos capítulos III e IV do presente Aviso.

Artigo 5 º (Residentes cambiais)


As pessoas singulares residentes cambiais, que transportem, à entrada no território nacional, valores
que excedam o montante de USD 10.000,00 (dez mil dólares dos Estados Unidos da América) ou o seu
equivalente em outra moeda estrangeira, devem obrigatoriamente preencher a declaração referida no artigo
2, do presente Aviso.
Artigo 6 º (Não residentes cambiais)
As pessoas singulares não residentes cambiais, que transportem, à entrada no território nacional,
valores que excedam o montante de USD 5.000,00 (cinco mil dólares dos Estados Unidos da América) ou o
seu equivalente em outra moeda estrangeira, devem obrigatoriamente preencher a declaração referida no
artigo 2.° do presente aviso.
296
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Seguro da responsabilidade civil.

Pelo que o seguro concernente as pessoas comportam as apólices de seguro, vida, de


casamento e nascimento, danos corporais, assistência de viagem no termo da Lei 1/00, de
3 de Fevereiro.

Já o seguro de bens comporta o seguro das coisas e perdas pecuniárias.

Finalmente o seguro de responsabilidade civil visa efectivamente assegurar a


concretização da responsabilidade civil geral, responsabilidade profissional e
responsabilidade-Produtos.

Entretanto os três sectores de seguro por causa do interesse público e também e


perigosidade da actividade para protecção dos seus utentes o legislador entendeu impor
aos operadores regras imperativas de seguro, para protecção dos direitos fundamentais,
ou seja, um monopólio coactivo sectorial de seguro obrigatório nomeadamente:

1. Seguro Obrigatório dos Acidentes de trabalho e Doenças Profissionais, Decreto nº 53/05,


de 15 de Agosto, que garante o direito à reparação de danos resultantes de acidentes de
trabalho e de doenças profissionais aos trabalhadores por conta de outrem e seus
familiares, protegidos pelo sistema de protecção social obrigatório.

2. Seguro Obrigatório de responsabilidade civil automóvel, Decreto nº35/09, de 11 de


Agosto, que fixa as regras e procedimentos a observar pelos vários intervenientes, com
vista a satisfação da responsabilidade civil.

3. Seguro Obrigatório de Responsabilidade Civil de Aviação, Transportes Aéreos, Infra-


estruturas Aeronáuticas e Serviços Auxiliares, Decreto nº 9/09, de 9 de Julho. Pelo que este
diploma estabelece as regras que regulam direitos, obrigações e procedimentos aplicáveis
ao transporte aéreo de passageiros, bagagens e cargas, incluindo nele, animais, no quadro
do seguro obrigatório de responsabilidade civil de viação civil.

Porém a Supervisão ou Regulação da actividade dos seguros cabe ao ARSEG, que no


passado recente era designado de «Instituto de Supervisão de Seguros» e, todavia,
actualmente tomou outra designação numa perspectiva americana de agencia - “Agência
Angolana de Regulação e Supervisão de Seguros” (ARSEG), é definido como uma entidade
de direito público, dotado de personalidade e capacidade jurídica e de autonomia
administrativa e financeira, à qual compete genericamente a Regulação, Supervisão e
fiscalização das actividades de seguros e fundos de pensões, (Cfr. art 1º, do Estatuto
Orgânico da ARSEG).

A Lei das Instituições Financeiras atribui competências à este órgão a Supervisão


especializado a tarefa de supervisionar o sector de seguros e fundos de pensões em sede
do art. 7º, da LIF.

297
Manual de Direito Económico Francisco Mário
No entanto, os seus órgãos são promovidos e destituídos, sob proposta do Ministro das
Finanças, pelo Presidente da República, enquanto Titular do Poder Executivo, nos termos
da al. d), do artigo 120º, da CRA e art. 17º; 18º e 19º, do Decreto Presidencial nº 141/13, de
27 de Setembro.

O ARSEG, é um Instituto Público do sector económico, Cfr. Art. 3º, da al. a), do Decreto
Presidencial nº 2/13, de 25 de Junho, Sobre as Regras de Criação, Estruturação e
Funcionamento dos Institutos Públicos), pois que, exerce as funções de supervisão no
quadro Administração indirecta do Estado no plano de desconcentração administrativa,
(Cfr. art. 8º e 199º, da CRA), sob a superintendência do Ministério das Finanças, (art. 10º e
11º, da Lei nº 1/00, de 3 de Fevereiro e do nº 4, do art. 6º, do Decreto Presidencial n.º
299/14, de 4 de Novembro), nos termos de garantias do exercício das suas funções os seus
quadros gozam de prerrogativas e imunidades, (art. 13º, do Estatuto Orgânico da ARSEG).

Portanto, ARSEG, como Instituto Público e organismo de Supervisão do sector dos seguros,
denota-se que é superintendido pelo Titular do Poder Executivo (art. 2º, nº 1, do Estatuto
de ARSEG) e tutelado pelo Ministério das Finanças, (art. 2º, nº 2, do Estatuto da ARSEG),
como organismo de Supervisão sob forma de instituto público, esta sujeita à jurisdição do
Tribunal de Contas nos termos da al. d), do art. 2º, da Lei nº 13/10, de 9 de Julho, Lei do
Processo do Tribunal de Contas no âmbito do controlo e fiscalização externa financeira e
internamente pelo Conselho Fiscal, (art. 15º, da al. d), do Estatuto Orgânico da ARSEG).

16.3.3. Organismo de Supervisão do Mercado de Valores Mobiliários


Antes do mais vamos falar do Mercado de Valores Mobiliários e em seguinte como devia de
ser tratar do dos órgãos de regulação deste sector.

Sendo assim, as bolsas de valores são locais onde são negociados títulos emitidos por
Empresas de Capital Aberto. Desde o século XV, em plena Idade Média, cotas de
participações em companhias, metais precioso e moedas eram comercializados no meio das
ruas, nas calçadas, semelhantemente a qualquer outro produto vendido na época.

Porém, na história da BOLSA ou Mercado de Capitais ou ainda Mercado de dívida pública


surgiu naquelas situações em que o Estado não podia mais agredir os bens dos particulares
por causa do princípio da legalidade tributária, e que os tributos deviam ser requeridos aos
contribuintes na base da Lei.

Assim, o Estado vedado por via legal essa possibilidade de arbitrariedade tributária de
agredir os bens dos particulares para satisfazer as necessidades da colectividade, viu-se na
necessidade de pedir empréstimos e endividar-se com promessa de pagamento diferido no
tempo cujos recursos teriam que socorrer-se também a uma receita creditícia de um
particular.

Daí foi crescendo a dívida do Estado com os seus credores, porque o Estado para pagar a
sua dívida tinha que contrair outro empréstimo para pagar a dívida. Todavia, obrigou o
Estado organizar um Mercado de dívida “BOLSA” - onde os investidores e aforradores
298
Manual de Direito Económico Francisco Mário
poderiam negociar, isto é, comprar e vender os títulos de dívida de acordo às regras neles
estabelecidos pelo regulador.

Acredita-se que a primeira bolsa de valores da história, foi um local onde os comerciantes
se reuniam para a realização de negócios relacionados a participações e cotas em Empresas
e que tenha surgido em 1487, na cidade de Bugres, Bélgica. O nome “Bolsa” se refere ao
brasão da família VAN DER BURSE, dona da casa onde as transações ocorriam, o qual era
constituído por um desenho de três bolsas.

Entretanto, a primeira acção comercializada em uma Bolsa de Valores que se tem registada
na história pertenceu à Companhia Holandesa das Índias Orientais e foi negociada em 1602,
na bolsa de Amsterdão.

A partir de 1964, com as Leis de reforma bancária e do Mercado de Capitais, as bolsas de


valores começaram a assumir as importantes funções que possuem atualmente. Hoje em
dia, as mesmas se transformaram em um símbolo marcante do capitalismo e da
globalização.

A tecnologia da informação permitiu a existência de bolsas de valores totalmente


eletrônicas, como a americana Nasdaq, por exemplo.

O Mercado de títulos deve ser subdividido, por sua vez, em dois Mercados ou componentes:

- O Mercado Primário – compreende os activos financeiros que iniciam a sua circulação no


Mercado através de emissões, que podem ser públicas ou privadas.

Diz-se que a emissão é privada ou particular quando os títulos são emitidos para serem
subscritos por determinadas pessoas singulares ou colectivas em número previamente
estabelecido.

Já será uma emissão pública quando a comercialização dos títulos é feita publicamente,
através da imprensa, oferecendo a possibilidade a qualquer entidade individual ou
colectiva de subscrever títulos.

Por este facto, o lançamento de uma operação de oferta pública de valores mobiliários
depende do registo prévio da emissão na comissão que superintenda no Mercado de
valores mobiliários. O pedido de registo tem de ser acompanhado de uma série de
elementos que permitam conhecer a entidade emissora e a sua situação económica e
financeira, de modo a que a entidade supervisora possa proteger os aforradores
potencialmente interessados em subscrever títulos.

Em certos casos, a lei obriga que, além do registo na comissão acima referida, a oferta
pública de valores mobiliários seja autorizada pelo governo (por exemplo, emissões a
realizar no Mercado Nacional, mas em moeda estrangeira, emissões a realizar no Mercado
Nacional por Empresas e outras entidades não residentes no País, etc.).

299
Manual de Direito Económico Francisco Mário
- O Mercado Secundário - compreende activos financeiros que já estão em circulação no
Mercado e que são objecto de transacções nas bolsas de valores ou fora delas (no chamado
Mercado de Balcão), procurando assim facilitar a sua transmissão, a sua transformação em
liquidez.

As bolsas de valores não são mais do que Mercados estruturados e dotados de instrumentos
jurídicos adequados que permitem que se efectuem operações de compra e venda de títulos
já emitidos com transparência e relativa segurança.

Os principais objectivos das bolsas de valor são, por conseguinte:

a) – Formação dos preços dos títulos mobiliários no Mercado;

b) – Facilitar a circulação dos títulos mobiliários, tornando menos difícil a sua


transformação em liquidez.

Tratando-se de Mercados com características muito particulares, as operações com títulos


são realizadas por intermediários especializados, e correctores.

Com objectivo de proteger os investidores, nem todos os títulos podem ser transacionados
nas bolsas. A Lei estipula um conjunto de regras para que um título possa ser admitido à
cotação, isto é, para que possa ser transacionado nestes Mercados.

Assim, desde logo, para que as acções de uma sociedade sejam admitidas à cotação, é
exigido a essa sociedade, entre outras, a prova de que:

1. Está a funcionar de acordo com a legislação geral e especial que lhe seja aplicável;

2. Publicar regularmente os seus relatórios de gestão e contas anuais, respeitantes os pelo


menos três exercícios económicos anteriores ao pedido de admissão;

3. Encontra-se numa situação económica e financeira adequada.

O Organismo de Supervisão do Mercado de Valores Mobiliários é a Comissão de Mercados


de Capitas (CMC), pelo que, como organismo de Supervisão especializado no sector de
Mercado de Valores Mobiliários, é definido como uma entidade de direito público, dotado
de personalidade e capacidade jurídica e de autonomia administrativa e financeira, à qual
compete a Regulação, Supervisão e fiscalização, e a promoção do Mercado de capitais e das
actividades com elas relacionadas.

O legislador ordinário orientou através da Lei das Instituições Financeiras (LIF), bem como
através do Código dos Valores Mobiliários (CVM), atribuir as competências ao organismo
de Supervisão especializado neste sector à tarefa de supervisionar o Mercado de Capitais,
bem como o Mercado Regulamentado da Dívida Pública Titulada - A Bolsa de Dívida e
Valores de Angola (BODIVA), (vide, Decreto Legislativo Presidencial nº 4/13, de 9 de
Outubro, e o art. 18º, da Lei nº 22/015, de 31 de Agosto, CVM).

300
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Porém, a forma de provimento dos órgãos sociais da CMC é por via administrativa de
Despacho de nomeação e exoneração pelo Presidente da República, enquanto Titular do
Poder Executivo, nos termos da al. d), do art. 120º, da CRA e art. 9º, do Decreto Presidencial
nº54/13, de 6 de Junho, do Estatuto Orgânico da Comissão de Mercados de Capitais.

Os órgãos sociais do CMC, cumprem mandatos democráticos indirecto, por nomeação, cuja
duração é de cinco anos renováveis mais de cinco vezes, conforme reza o art. 8º, do Estatuto
Orgânico da Comissão de Mercado de Capitais.

No plano jurídico-constitucional a CMC, pode-se classificar como um instituto público do


sector económico cujo regime jurídico situa-se no diploma legislativo dos estatutos dos
institutos públicos precisamente nos termos do art. 3º, da al. a), do Decreto Presidencial nº
2/13, de 25 de Junho, sobre Regras de Criação, Estruturação e Funcionamento dos
Institutos Público.

Neste sentido a CMC, exerce as funções de Supervisão no quadro da Administração


indirecta do Estado no âmbito da desconcentração administrativa consagrado no art. 8º e
199º, da CRA.

Portanto, como Instituto Público, notadamente como se observa, encaixa-se na


Administração indirecta do Estado, persegue o interesse não só do Estado, mas também da
Administração Pública, logo, como se percebe, deve obedecer as linhas gerais do Poder
Executivo sob tutela do Ministério das Finanças, quer dizer que, está sujeito a tutela de
legalidade e de mérito pelo titular da pasta das Finanças, (art. 10º e 11º, da Lei nº 1/00, de
3 de Fevereiro e do art. 6º, nº 4, do Decreto Presidencial n.º 299/14, de 4 de Novembro),
mais ainda, vai sujeitar-se a jurisdição do Tribunal de Contas ao abrigo do
controlo/fiscalização financeira, (vide, al. d), do art. 2º, da LOPTC).

16.3.4. Instituto de Supervisão dos Jogos


Na sequência do subsistema de Supervisão de instituições financeira não bancária, temos
o “Instituto de Jogos de Fortuna e Azar”. Os jogos são hoje disciplinados pela Lei nº 5/16,
de 17 de Maio, Lei da Actividade dos Jogos (LAJ) que veio revogar a então portaria
517/1970, de 16 de Outubro, que vigorou quase 45 anos.

Os jogos como contrato não são nos termos do art. 1245º, do CC., mas constituem fontes
das obrigações daí actividade jogo de fortuna e azar ser proibida ao acesso aos particulares,
(art. 7º, da LAJ), desde logo, constitui a reserva absoluta do Estado, (art. 5º, da LAJ),
podendo ser concedido com apertadas regras normativas as sociedades anónimas para o
seu exercício (art. 21º, da LAJ).

Assim sendo, o órgão Supervisão dos jogos pode ser definido também como uma entidade
de direito público, dotado de personalidade e capacidade jurídica e de autonomia
administrativa e financeira, à qual compete genericamente a regulamentação, Supervisão e
fiscalização das actividades de jogos de fortuna ou azar e afins.

301
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Em termos operativos os jogos movimenta uma massa monetária caracterizado no jogo que
os casinos realizam em que os potenciais jogadores submetem-se na álea da procura da
fortuna, de um lado, por outro lado, a casa de jogos através das máquinas automáticas,
procuram desta forma o lucro produzido pelos azarados, daí parece à denominação de
«Jogo de Fortuna ou Azar».

Todavia, os seus órgãos sociais seguem o mesmo tratamento quanto o provimento,


mandato dos organismos de Supervisão Sectorial.

Relativamente quanto a tutela, como Instituto Público, esta sujeito a tutela do Ministério
das Finanças, de acordo o estatuído no n º 4, do art. 6º, do Decreto Presidencial nº 299/14,
de 4 de Novembro, relativamente ao controlo e fiscalização financeira, esta sujeito duplo
controlo; o controlo interno administrativo técnico (art. 51º, da LAJ) e o controlo externo
jurisdicional sob à jurisdição do Tribunal de Contas, nos termos da al. d), do art. 2º, da
LOPTC.

16.3.5. Conselho Nacional de Estabilidade Financeiro (CNEF)


Angola ao longo da sua história financeira como País soberano passou por várias crises que
partilhou algumas experiências de gestão destes momentos menos confortável para
economia, daí lançou mão umas das ferramentas de prevenção centradas na
institucionalização num primeiro momento do Fundo Soberano, como um instrumento de
gestão intergeracional de poupanças das reservas do petróleo, ou seja, o “Fundo Soberano”
que serve para prevenir as crises, os choques cambias e para investimentos de capital em
infra-estruturas de base e poupança intergeracional.

E em última análise, serve como mecanismo de intervenção na economia pública – finanças


públicas orçamental.

Já no segundo momento no sistema financeira, para fazer face a crise financeiro


internacional iniciada no verão de 2007, nos Estados Unidos da América, crise de
subprimes, créditos hipotecários de alto risco, e, nos Países emergentes de economia
petrolífera a baixa do petróleo do último quarteto de 2014, o Poder Executivo concebeu o
Conselho Nacional de Estabilidade Financeira (CNEF), que pode ser considerado de algum
modo, como autoridade administrativa independente.

Entretanto CNEF, - é o órgão de natureza pública, com independência e autonomia técnica


e funcional, e que, tem como escopo de promover mecanismos de cooperação que visem a
estabilidade financeira e a prevenção de crises sistémicas no Sistema Financeiro Angolano,
cujas competências estão definidas na Lei nº 12/15, de 17 de Junho.

Portanto, as principais áreas de regulação pública-, as áreas de regulação pública têm


variado ao longo do tempo por razões que se prendem quer com o desenvolvimento
tecnológico quer com os fenómenos da internacionalização e globalização da economia,
quer mais recentemente com as políticas desreguladoras e de privatização.

302
Manual de Direito Económico Francisco Mário
CAPITULO XVII – ANÁLISE ECONÓMICA DO DIREITO

17.1. Introdução
Surgimento da Analise Económica do Direito (AED) é um movimento de estudos surgidos
na década dos anos 60 do século passado que busca um maior diálogo entre Economia e
Direito.

Todavia de acordo com MARIA PAULA FREIRE, a aproximação entre o Direito e análise
económica não é uma tendência nova, é, sim um trilho a percorrer ao longo do qual se
suscitam inúmeras questões que merecem reflexão. O Direito de Concorrência evidencia
esse estreitamento de relações entre o jurídico e o económico, designadamente através do
crescente apelo a considerações de eficiência como fundamento de soluções normativas.
Por outras palavras, segundo a mesma autora sustetenta que, a subordinação dos sistemas
jurídicos a logica de eficiência impõe determinar as implicações normativas que podem ser
deduzidas a partir desse conceito, eminentemente económico556.

Entretanto, a economia fornece à investigação jurídica um acervo conceitual, essencial para


compreensão dos incentivos orientadores da decisão pública e privada. No entanto, a
procura da construção do sistema jurídico eficiente, que orienta a análise económica do
direito, conduz à tentação de considerar que a melhor solução normativa é aquela que se
conforma com o escrutínio da ciência económica557.

Sendo que, A AED reconhece o impacto e importância do Direito na determinação dos


resultados económicos e, assim, oferece ao aplicador do Direito ferramentas económicas
na resolução de casos judiciais, na criação de políticas públicas e em outras situações
diversas.

Porém, é de se notar que o movimento de Law & Economics possui diversas escolas ou
linhas de pensamento, cujo ponto único de convergência é o uso da Economia para a criação
de Leis “melhores”. Diferem, contudo, quanto ao modo de abordagem e realização deste
dialogo entre Direito e Economia, bem como na interpretação dos preceitos. Assim, dentro
deste movimento há a Escola de Chicago, a Escola da Escolha Pública, os Institucionalistas
e os Neo-institucionalistas, dentre outros558.

Qualquer modo, importa, portanto, não afastar a ideia de que o movimento do Law &
Economics não possui uma uniformidade de pensamento, nem possui ponto de partida bem
definida, tendo em vista a pluralidade de linhas de raciocínio dentro de si. Não obstante,
para este movimento, uma coisa é certa: o uso da Economia do Direito, de facto, pode trazer
Leis mais eficientes. Nas palavras de ANDRÉS ROEMER559.

556 Cfr. FEIRE, MARIA PAULA. – Eficiência Económica e Restrições Verticais. AAFDL. 2008, Pág.13.
557 Ob. Cit. Pág.13.
558 Apud, GUIMARÃES, LUCAS NOURA DE MORAES REGO, - Trabalhos publicados nos anais do XVIII

Congresso nacional do CONPEDI, realizado em São Paulo nos dias 4,05, 06 e 07 de Novembro de 2009.
Pág.998.
559 Ibidem.

303
Manual de Direito Económico Francisco Mário
“A AED surge como evolução e parte de um processo que busca capacitar a
interdisciplinaridade e pragmatismo da ciência jurídica. É uma disciplina que pretende ser
científica e racionalizadora das decisões públicas (ou privadas) e que tem como elemento
característico funcionar como elemento complementar (não substituta) do Direito.

Em resumo, a AED se apresenta como teoria económica aplicada à ciência jurídica, teoria
que por sua configuração e método de análise fornece ferramentas de previsibilidade ao
Direito, fazendo dele uma ciência pragmática, útil e pouco custosa”560.

- A primeira é a venerável tradição da economia política, derivada do trabalho de ADAM


SMITH e uma larga lista de notáveis escritores e comentaristas. O interesse desta tradição
no Direito surge, por sua vez, do interesse nos Mercados. (…) Assim, um interesse no
comportamento do Mercado traduz naturalmente a um interesse no Direito e na maneira
em que este afecta a conduta daquele.

- A segunda tradição é das escolas de Direito, nas quais a AED se desenvolveu a partir da
agenda do realismo legal. Esta ensinava que os estudiosos do Direito devem analisar a Lei
com a ajuda das ciências sociais, tal e como na prática. E uma das ciências a que os
académicos recorreram foi a economia”.

Portanto, o jurista da actual sociedade global deve interpretar a Lei e enquadrar os


fenómenos económicos sociais para realização do bem-estar do homem, ou seja, um Direito
eficiente ao serviço da humanidade que procura soluções racionalizáveis em que a tutela
da confiança do sistema jurídica é o núcleo natural da liberdade económica.

17.2. Teoria Económica do Direito Civil


A sociedade pós-moderna, vigente é uma sociedade de capitalismo tardio, em um
movimento económico também conhecido por globalização, possui como características
económicas a instantaneidade da comunicação, a velocidade crescente dos meios de
transportes e a necessidade de cada vez mais de economizar o tempo nas diversas linhas
de actividades da sociedade, visando a presteza na concretização de projectos, resolução
de conflitos e negociações financeiras entre partes independente do lugar que se
encontrem no mundo.

Esta velocidade de vida, de actividade económica e de anseios sociais geram impactos no


Direito que passam a ser estudados desde os anos 40 do século passado, primeiramente na
Universidade de Chicago, com os trabalhos de AARON - Director, seguido por RONALD
COASE e GUIDO CALABRESI, encontrando seu ápice nas exposições teóricas de RICHARD
POSNER, surgindo o chamado movimento Law & Economics.

Destes estudos, observa-se a crescente preocupação em reformular a teoria do Direito e


analisa-la pelos mecanismos e instrumentos da economia, possibilitando novas
compreensões em diversas áreas.

560 Ibidem.
304
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Entretanto, no campo do Direito Civil e do Processo Civil, a despeito de ser uma tópica
recorrente a discussão sobre celeridade processual, instrumentalidade do processo,
economia dos actos processuais, segurança jurídica, entre outros standarts jurídicos.
Todavia, estes estudos ficam apenas no âmbito da argumentação, sem parâmetros de
análise que realmente possibilitem compreender o aspecto da efectividade de algum
princípios processuais arguido face sua influência sobre o resultado do processo em si.

17.3. Teoria Económica do Processo Judicial


Nesta parte, estuda-se a aplicação da economia aos aspectos processuais das disputas civis.
Entretanto os aspectos processuais envolvem as acções no poder judiciário desde a petição
inicial (art. 467º, do CPC) incidentes processuais positivos ou negativos (art. 302º e ss, do
CPC) até seu trânsito em julgado (art. 671º e 677º, do CPC).

Para sabermos se o processo judicial é eficiente, precisamos analisar se os custos sociais


decorrentes do processo são os menores possíveis nos ritos processuais.

Custos Sociais do Processo

Custos administrativos Custos de erros

De acordo o esquema acima ilustrado pode-se entender desde logo que objecto económico
do Direito Processual é minimizar a soma dos custos administrativos e dos custos de erros
até chegar a decisão final calvinhado o princípio da eficiência, ou seja, a intervenção do
poder judicial deve ser eficiente sob pena de ser gerar externalidades negativas ao
consumidor de serviços jurídicos que o Estado produz, ou aquilo que se designa de falhas
do governo ou simplesmente a falha do Mercado por causa das garantias judiciais serem
ineficientes561.

Ora bem, qualquer sistema económico, diz que é desenvolvido porque o sistema judicial é
eficiente e garante a justiça económica com celeridade requerida, daí ser uma das fontes de
investimento estrangeiro.

Por exemplo, se as partes tivessem chegado a um acordo de transacção (art. 1248º, do CC.
e art. 287º, do CPC) nos mesmos termos do que seria a decisão judicial (art. 287º al. a), do
CPC), e que como se observa no ordenamento processual angolano é muito burocrático
para não dizer lento e que o processo poderá levar um percurso de 8 anos ou mais, pois
que, se as partes chegassem ao um acordo com certeza, através de resolução extrajudicial,

561 Nosso.
305
Manual de Direito Económico Francisco Mário
ou judicial obtida na tentação de conciliação (art. 508º, do CPC), ou por via transacção
judicial homologatória (art. 300º, do CPC) teriam as partes logrado e os custos
administrativos seriam bem menores, pois que por maioria da razão os acordos poupam
custos sociais.

Porém, no processo o demandante racional da acção judicial é aquele que somente vai
peticionar se o valor esperado da reivindicação judicial for superior aos custos de
apresentação da acção (Advogados, taxas, etc.).

Neste contexto vaticinam algumas razões militantes de fluxo de apresentação de petições


judiciais como: O aumento dos eventos que as causam (acidentes, incumprimentos de
contrato, violação do direito de propriedade, etc.); a queda dos custos de peticionar
(incluindo remuneração dos advogados); o crescimento do valor esperado da reivindicação
é que se passa com os processos de alimentos e de reconhecimento de união de facto por
morte, de um lado aumenta a expectativa para os requerentes e por outro disciplina de
modo de prevenção geral dos cônjuges celebrarem casamentos no registo civil e os
obrigados de evitar procriação indesejados.

Se as pensões de alimentos (art. 247º, 251º e 252º, do CF) e de sobrevivência, ou as


indeminizações forem baixas, os autores de acções em potencial terão pouco incentivo para
peticionar. Se aumentam, mais processos judiciais serão abertos.

No entanto, se aumentarem exponencialmente, os réus em potencial darão menos razões


para se peticionar na justiça, ou seja, terão de adoptar um comportamento diferente e o
fluxo de número de processos cai.

Como acontece com os subsídios de família dos menores, atribuído a cada menor no salário
do pai ou da mãe, para ajudar a custear nas despesas domésticas da família, ora, ser tão
insignificante (KZ: 100,00 cada filho), os angolanos nem ficam preocupados tratar a
documentação para este beneficio social dos menores, simplesmente ignoram.

Porém, se num dia que o Estado entender aumentar o valor deste subsidio há de estimular
todos os pais para o registo das crianças e requerer à Administração Pública o tal beneficio
do subsidio de família que criaria enchentes nas instituições vocacionado para efeitos,
como no passado recente nos anos 80 do século passado, demonstrou esta experiência
nesta matéria em que um pai cujos vencimentos eram quitados em KZ: 15.000,00, bastava
ter 10 filhos cada um auferir KZ: 2.000,00, em termos aritméticos somava por mês KZ:
30.000,00), era bastante para criar custos Orçamentais ao Estado e incentivar mais
procriação dos angolanos, bem como uma agitação social de controlo e fiscalização desta
receita por parte dos pupilos e do cônjuge e, pela última instância pelo Procurador de
Menores junto dos Tribunais de jurisdição especializado.

306
Manual de Direito Económico Francisco Mário
17.4. Teoria Económica da Responsabilidade Civil
“Mesmo que não haja culpa, a política exige que a responsabilidade seja fixada onde quer
que ela reduza com a maior eficácia os riscos para a vida e a saúde inerentes a produtos
defeituosos que cheguem ao Mercado”562...

As pessoas muitas vezes prejudicam umas às outras na prática dos actos ilícitos v.g. um
senhora que altera as medidas de peso de venda batata ou arroz, ou que ofenda
corporalmente alguém e a vítima fica mais de 10 dias sem possibilidade de trabalhar e
descontado no salário por faltar no trabalho.

A vítima não pode intentar uma acção sob o direito contratual porque não houve violação
do contrato. Também não pode se basear no direito de propriedade, pois a integridade
física e reputação não são propriedades. Esses factos demonstram a necessidade de um
terceiro corpo principal do direito privado, além do direito contratual e do direito de
propriedade. Trata-se, pois, do direito dos actos ilícitos indemnizáveis economicamente.

O direito subjectivo de propriedade e o direito contratual possibilitam que as pessoas


cooperem em relação a muitas espécies de danos que uma pessoa inflige a outra. No
entanto, há danos que os custos são exageradamente altos que impedem totalmente a
cooperação. Exemplo: Uma firma produz uma mercadoria que, normalmente, não causa
prejuízos ao consumidor, mas, em algumas situações, pode ser prejudicial.

O direito da responsabilidade civil diz respeito a relações entre pessoas para as quais os
custos de transacção de acordos entre os Agentes Económicos por vezes são elevados.

A responsabilização civil é um instrumento de política pública disponível para internalizar


(superar) as externalidades económicas criadas por altos custos de transacção.

A finalidade económica da responsabilidade civil é exortar os autores e as vítimas de lesões


a internalizarem os custos do dano (como no caso da Empresa que sabe que seu produto
pode gerar prejuízos ao consumidor). O autor deve superar o custo do dano, indemnizando
a vítima. Isso faz com que sejam criados incentivos para investir em segurança num nível
eficiente, evitando danos que podem acontecer em consequências da falta de cuidado. A
responsabilidade civil vincula-se à ideia de reparação do dano, de restabelecimento do
equilíbrio como nos reporta o art. 483º e 798º, do CC.

Como documenta a doutrina presidida pelo ANTUNES VARELA, a responsabilidade civil


contratual consiste na infracção de uma relação obrigacional ou outro direito de crédito,
que existia entre o lesante e o ofendido num contrato563, (art. 798º, CC) A responsabilidade
civil contratual resulta da violação de um direito de crédito ou obrigação em sentido
técnico.

562 Cfr. COOTER, ROBERT; ULEN, THOMAS, - Direito & Economia, Porto Alegre Bookman, 5ª edição 2010,
apud, TRAYNOR, ROGER, Pág. 1.
563 Cfr. VARELA, ANTUNES, - Das Obrigações em Geral Vol. I, 10ª edição Almedina editora reimpressão 2000.

Pág. 518-523.
307
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Já a responsabilidade civil extracontratual resulta da infracção de um dever ou vinculo
jurídico geral, isto é, uma daqueles deveres gerais de abstenção imposto à todas as pessoas
e que correspondem aos direitos absolutos564, (art. 483º, CC).

Todo produto posto em circulação deve ter segurança suficiente para não acarretar danos
a outrem, pois, se o contrário acontecer, surgirá o correspondente dever de reparar e
análise económica da responsabilidade civil, em vez de se concentrar no acto ilícito civil,
procura estudar os efeitos económicos da responsabilização565.

Pois que, o modelo que se baseia a Análise Económico do Direito da Responsabilidade Civil
são os elementos do custo do dano e o custo de se evitar o dano566.

CAPITULO XVIII - DIREITO ECONÓMICO COMUNITÁRIO DA SADC

18.1. Origem e Constituição da SADC


A conferência de Coordenação para o Desenvolvimento da África Austral (SADCC, sigla em
inglês) foi criada em 1980 pelos então chamados Estados da Linha da Frente, com os
objectivos específicos de reduzir a dependência económica em relação ao regime do
apartheid instalado na África do Sul.

A SADCC não foi um acordo de integração dos Mercados; os Estados-membros, da chamada


“Linha da Frente” que integravam essa organização, adoptaram um mandato de
desenvolvimento muito mais amplo.

A SADCC envolveu-se em projectos transfronteiriços de sectores específicos, tais como


Corredores de Desenvolvimento Regional, ou a Bacia de Energia da África Austral… No

564 Ibidem.
565 Existem três requisitos, conduta, dano e o nexo causal, é o que gera a chamada responsabilidade civil
objectiva (causou dano a outrem, há a obrigação de repara-lo). Não há que se discutir se houver ou não culpa
do agente.
566 A probabilidade de um acidente diminui com o aumento da precaução, logo a função é decrescente; o valor

do prejuízo causando por um acidente é representado por A. Assim, o prejuízo esperado é dado por A que
também é decrescente; Seja o custo unitário da precaução, consequentemente, equivale à quantia total gasta
com precaução.
308
Manual de Direito Económico Francisco Mário
início de 1990, a SADCC tornou-se em Comunidade para o Desenvolvimento da África
Austral, adoptando a sigla SADC (sigla em inglês) em 1992. Em 1994, com o fim do regime
do apartheid, a África do Sul aderiu à SADC.

Importa referir que no seio da SADAC sempre existiram Estados-membros que eram
simultaneamente membros da SACU, União Aduaneira mais antiga do Mundo (fundada em
1910), que era administrada pela África do Sul, e que integrou inicialmente o Botswana,
Lesotho, Swazilândia e, posteriormente, a Namíbia.

18.2. Estrutura Institucional da SADC


As estruturas da SADC, estão definidas no Tratado de Windhoek-Namíbia de 14 de Agosto
de 1992, do qual foram estabelecidas as seguintes instituições nos termos do disposto no
art. 9.º do Tratado:

a) Cimeira de Chefes de Estado ou Governo;

b) Conselho de Ministros;

c) Comissões;

d) Comité permanente;

e) Secretariado; e

f) Tribunal.

18.3. Modelo de Integração Económica Regional


Em matéria de integração económica regional existem duas teorias divergentes,
nomeadamente:

a) A Teoria de Integração Económica, baseada no neoliberalismo, orientada pelas


leis do Mercado ou regionalismo aberto;

b) A Teoria de Integração Económica, baseada no modelo de integração para o


desenvolvimento, a qual assenta no desenvolvimento industrial coordenado e estimulado
pela criação do Mercado regional.

O modelo neoliberal significa a abolição de todas as barreiras aos movimentos de


mercadorias, pessoas serviços capitais entre os vários Países integrados e nele está
subjacente a fraca intervenção do Estado.

A integração económica regional baseada no Mercado de integração para o


desenvolvimento não significa que haja rejeição da economia do mercado. Esta é
necessária, ainda que corrigida pela intervenção do Estado, sobretudo na criação de um

309
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Mercado regional competitivo, que estabelece metas de crescimento económico e de
desenvolvimento sustentável567.

Eminentes estadistas africanos dos quais se destacam JULIUS NYERERE, KENNETH


KAUNDA, JOSÉ EDUARDO DOS SANTOS, entre outros, defenderam o modelo de integração
para o desenvolvimento, quando da constituição da SADC (Southern African Development
Community/Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral).

Este é, salvo melhor opinião, o modelo que mais se ajusta às necessidades dos Países em
vias de desenvolvimento.

Há quem considere (ainda que ironicamente) que existem dois modelos de integração
económica regional, designadamente:

1- O modelo idealista (utópico) que mais não é senão “construir paraísos no paple” (ex:
o modelo africano de integração…);

2- O modelo baseado no pragmatismo (ex: o modelo seguido pelos Países dos


continentes asiático e americano).

Realmente, como diz o FRANCISCO FERNANDES um dos investigadores da SADC, os factos


revelam que os processos de integração económica africana têm gerado falsas expectativas,
reduzindo-se, de uma forma geral, em simples “construções de paraísos no papel”; os
resultados têm sido decepcionantes568.

18.4. Eliminação de Tarifas a “Substancialmente Todo o Comércio”

Não há nenhuma exigência no Artigo XXIV do GATT que indique que todo o comércio tenha
de ser liberalizado, também, não existe na OMC uma definição sobre o volume exacto ou
percentagem do comércio a liberalizar.

Trata-se de uma ambiguidade construtiva, que visa permitir que as partes envolvidas no
Acordo estabeleçam entre si a percentagem do comércio a liberalizar, mas por conseguinte,
foram identificados dois entorses que SE prende com a soberania e proteccionismo.

Entrementes, os Estados-Membros da SADC concordaram na abertura dos respectivos


Mercados e na eliminação das tarifas nacionais em 85% ou mais de todo o comércio
substancial seria até 2012, e, até 2015, seria também a liberalização de todo o comércio
(como se tratassem todos de Países com o mesmo nível desenvolvimento).

Aos Países da Europa do Leste, antes de aderirem à EU, foi-lhes permitido liberalizar até
41% do comércio substancial (ex: o caso do acesso oferecido pela Lituânia à Hungria em
1999; a Croácia ofereceu apenas 62% de posições pautais isentas de direitos à Eslovénia).

567 FERNANDES, FRANCISCO JOSÉ LOURENÇO, - Angola e os Desafios da Integração Económica Regional
Reflexões e Previdências, Edição e Comunicação, Lda., 2013, Pág.15-53.
568Ibidem.

310
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Outros exemplos podem ser citados, entre os quais o caso da Moldávia. A EU concedeu à
Moldávia o direito de não assumir compromissos de liberalização do seu Mercado (ou seja
isenção de obrigações de reciprocidade) por considerar Moldávia como País pobre, sem
capacidade competitiva569.

Pode-se pois concluir que os Países da SADC fizeram uma leitura muito liberal do Artigo
XXIV do GATT (1994).

Angola e os demais Países, classificados segundo critérios das Nações Unidas como OMA,
deveriam disfrutar de condições mais flexíveis, ajustadas aos respectivos níveis de
desenvolvimento. Isto quer dizer deveria Angola liberalizar todo comércio, até ao ano 2015,
é realmente difícil de admitir como exequível aquele meta, porquanto teria que ser
avaliadas as consequências económicas e sociais dai resultantes (ex: os efeitos da
liberalização sobre a segurança alimentar e meios de subsistência rural, da pequena
industria, transportes, serviços e etc.).

18.5. Os Possíveis Efeitos da Liberalização Sobre a Segurança Alimentar e Meios


de Subsistência Rural
De tudo quanto atrás foi referido, e segundo FRANCISCO JOSÉ LOURENÇO FERNANDES, é
importante registar que, em princípio, a liberalização não deve incluir os produtos agrícolas
originários de países que subsidiam a sua agricultura.

Por razões de segurança e garantia de meios de subsistência rural, cada Estado Membro da
SADC deve ter o espaço de decisão política ilimitado, visando proteger melhor os
respectivos interesses nacionais nesse domínio específico e não proceder como a SADC
pretendia “a liberalização de todo o comércio até 2015”. Pois que os países mais
desenvolvidos do globo protegem a sua agricultura.

Ora vejamos:

Os EUA têm uma agricultura poderosíssima. Porém, as actividades agrícolas neste País têm
sido amparadas pelo Governo, há décadas atrás. Os EUA foram o maior defensor da
agricultura subsidiada, desde a criação do GATT (1947).

Entretanto, ao longo da década de 80, a PAC (Política Agrícola Comum) da União Europeia
caminhou um ano no sentido inverso, ampliando os estímulos actividades agrícolas e a
participação de seus produtos no Mercado mundial.

Nessa conjuntura, os EUA reviram e expandiram significativamente os programas de


subsídio às exportações e também à produção interna. Por conseguinte, a União Europeia
não tem demostrado disposição para abolir os subsídios agrícolas que concede aos
agricultores, os quais, em consequência, continuam a praticar a concorrência desleal contra

569FERNANDES, FRANCISCO JOSÉ LOURENÇO, - Angola e os Desafios da Integração Económica Regional


Reflexões e Previdências, Edição e Comunicação, Lda., 2013, Pág.15-53.
311
Manual de Direito Económico Francisco Mário
os produtores africanos de carnes (bovina e suína), lacticínios, ovos, frangos, cereais, frutos,
legumes, etc.570.

Actualmente, estes subsídios e apoios internos não estão a ser removidos na OMC ou nas
negociações dos Acordos de Parceria Económica entre os ACPs e a União Europeia.

A nível da SADC (ou no seio dos Países que integram a projectada ALC-Tripartida:
COMESA/EAC/SADC), existem Países que, eventualmente, concedem aos seus produtores
nacionais subsídios (de forma aberta ou velada, isto é, diluídos ao longo de uma cadeia
produtiva, dificultando a sua caracterização).

Será que os Países de Menor Desenvolvimento Relativo da SADC não devem ter o direito de
defender a sua agricultura?

Portanto, com a liberalização preconizada, os produtos agrícolas originários dos Países


mais desenvolvidos da região (e não só) estarão em condições vantajosas de fazerem
concorrência desleal aos produtores angolanos (e não só). A prática de “dumping” de
produtos agrícolas no Mercado angolano ou nos demais Países de menor desenvolvimento
relativo, leva à falência os produtores nacionais e/ou ao colapso da actividade agrícola,
gerando assim um agravamento do desemprego e da pobreza no território angolano (e/ou
nos demais Países de menor desenvolvimento relativo).

FRANCISCO JOSÉ LOURENÇO FERNANDES conclui dizendo que, liberalização de todo o


comércio, nos moldes preconizados pela SADC, pode ameaçar causar fortes reveses às
políticas governamentais, no que tange à segurança alimentar e à garantia de subsistência
rural571, além da frustração da iniciativa industrial na área da indústria alimentar.

Neste sentido o Poder Executivo angolano aprovou um subsídio dos combustíveis para
agricultura e pesca através do Decreto Presidencial nº 84/19, de 21 de Marco estabelece a
concessão de subsídios aos combustíveis para produção agrícola e pesca e aplicando-se
medida intervencionista de fomento estadual às actividades agro-pastoris para efeitos da
segurança alimentar, ou seja, fomentar actividade agrícola no País no sentido de acautelar
os desafios da concorrência no futuro da integração na zona económica da SADC.

18.6. A Agenda da SADC


Pode-se apreender a Agenda da SADC sob vários aspectos. Pode-se pensar, em primeiro
lugar, à sua morfologia institucional, é aquela que de facto é mais conhecida e valorizada,
mas não é a única, deve também, analisar-se o seu material.

570 FERNANDES, FRANCISCO JOSÉ LOURENÇO, - Angola e os Desafios da Integração Económica Regional
Reflexões e Previdências, Edição e Comunicação, Lda., 2013, Pág.15-53.
571 Cfr. FERNANDES, FRANCISCO JOSÉ LOURENÇO, - Angola e os Desafios da Integração Económica Regional

Reflexões e Previdências, Edição e Comunicação, Lda., 2013, Pág.15-53.


312
Manual de Direito Económico Francisco Mário

a) A Agenda Institucional

A parte do RISDP consagrada ao «Comércio, Liberalização Económica e Desenvolvimento»


(RISDP, 4.10) mostra-nos as fases já conhecidas da agenda institucional da SADC:

- Zona do Comércio Livre em 2008;

- Conclusão das negociações sobre a União Aduaneira em 2010;

- Conclusão das negociações sobre o Mercado Comum da SADC em 2015;

- Criação da União Monetária da SADC até 2016;

- Introdução de uma moeda regional para União Monetária da SADC até 2008.

Qualquer modo a integração que se pretendia comporta na sua agenda duas perspectivas
que a seguir vamos examinar.

18.6.1. A Integração Negativa


A expressão «integração negativa» foi cria por JAN TIBERGEN para designar os aspectos da
integração que têm como objectivo a eliminação das discriminações e restrições à
circulação dos factores de produção572.

De ponto visto jurídico, integra-se neste tipo de integração a Zona do Comércio Livre e a
União Aduaneira. Com efeito, nestas fases «inferiores» da integração económica, trata-se
fundamentalmente de eliminar as restrições quantitativas e taxa aduaneiras nos países
participantes da zona e de criar uma tarifa aduaneiras comuns numa união aduaneira573.

O Protocolo sobre as trocas comercias não é outra coisa que a ilustração da materialização
da primeira fase de um processo de integração económica. Com efeito, tem como objectivo
geral, «… estabelecer uma Zona de Comércio Livre, como um passo para a concretização da
União Aduaneira e subsequentemente a criação de um Mercado Comum» (n º 5 do art. 2 do
Protocolo).

Nesta perspectiva, as politicas e estratégias da SADC têm como objectivo eliminar as


barreiras à livre circulação de capitais, da mão-de-obra, de bens e serviços e melhorar a
gestão e o desempenho económico da região (RISDP, 3.2.2.2.)574.

18.6.2. A integração Positiva


A integração positiva integra as fases do processo de integração iguais ou superiores ao
Mercado comum. Implica uma visão comum, o que materializa perfeitamente «visão da
SADC», ou seja, «... Um futuro comum, um futuro numa comunidade regional que garantirá

572 CISTAC, GILLES - Aspectos Jurídicos da Integração Regional, Escolar Editora, 2012, Pág.20-23
573 Ibidem.
574 Ibidem.

313
Manual de Direito Económico Francisco Mário
o bem-estar económico, a melhoria dos padrões e da qualidade de vida, a liberdade e a
justiça social, paz e segurança dos povos da África Austral» (RISDP, 1.2.1.). Implica
igualmente, instituições supranacionais e uma integração avançada dos produtos, factores
de produção e um elevado grau de unificação das políticas monetárias, fiscais e outras575.

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Manual de Direito Económico Francisco Mário
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- www.bna.

Legislação Angolana Fundamental

- Constituição da República de Angola de 5 de Fevereiro de 2010.

Jurisprudência da Ordem Económica Angolana

Acórdão Tribunal Supremo de Angola Proc. nº 103/2004, sobre anulação do


despacho de anulação do confisco por ilegalidade.

Acórdão do Tribunal Constitucional de Angola nº 121/10 e Acórdão nº122/10.

Acórdão nº 233/2013, do Tribunal Constitucional de Angola.

Jurisprudência da Ordem Económica Estrangeira

Acórdão do Tribunal Constitucional Português nº 39/88, de 9 de Fevereiro, in D.R.


2ª Série nº 35, de 11 de Fevereiro de 1988.

Acórdão do Tribunal Constitucional Português nº509/02.

Acórdão TG de 17.9.2007. Proc. T-201/o4, Microsoft Corporation/Comissão


Europeia Col II-3601.

Regime Jurídico da Intervenção do Estado no Domínio Económico

Lei nº 2030/1948, de 22 de Julho, Lei de Expropriação por Utilidade Pública,


republicada em 2 de Outubro de 1953.

Lei nº 128/75,B.O., nº 234, 1ª Série de 1 de Outubro – A Intervenção do Estado nas


Empresas Privadas.

Lei nº 3/76, de 3 de Março, Lei de Confiscos e Nacionalizações.

Lei nº 43/ 76, de 19 de Junho, Lei da Ocupação dos Imóveis Habitacionais do Estado.

Lei nº 19/91, de 25 de Maio, Lei da Venda do Património Habitacional do Estado,


Com as Alterações da Lei nº 9/03, de 18 de Abril.

Lei nº 10/19, de 14 de Maio, Lei das Privatizações.

Lei nº 05/02, de 16 de Abril, Lei da Delimitação de Sectores da Actividade


Económica.

Lei nº 18/10, de 6 de Agosto, Lei do Património do Estado (com recentes alterações).

Lei nº 1/011, 14 de Janeiro, Lei de Bases do Sistema Nacional do Planeamento.

321
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Lei nº 10/18, de 26 de Junho, Lei do Investimento Privado.

Lei nº 5/18, de 10 de Maio, Lei da Concorrência.

Decreto Presidencial nº 240/18, de 12 de Outubro, Regulamento da Lei da


Concorrência.

Decreto Presidencial nº 23/19, de 14 de Janeiro, Regulamento da Cadeia Comercial


de Bens da Cesta Básica e outros Bens Prioritário.

Regime Jurídicos dos Contratos Económicos

Decreto nº 78/01, de 19 de Outubro, Contratos – Programas Entre o Estado e as


Empresas Públicas.

Lei nº 11/19, de 14 de Maio, Lei Sobre as Parcerias Público-Privadas.

Lei nº 3/92, de 28 de Fevereiro, Sobre a Propriedade Industrial.

Lei nº 5/16, de 17 de Maio, Lei da Actividade de Jogos.

Lei nº 9/16, de 16 de Junho, Lei dos Contratos Públicos.

Lei nº 13/17, de 13 de Março, Lei da Publicidade.

Lei nº 14-A/96, de 31 de Maio, Lei Geral de Electricidade (com as recentes alterações


da Lei nº 27/15, de 14 de Dezembro).

Lei nº 14/03, de 18 de Julho, Lei de Fomento do Empresariado Privado Angolano.

Lei nº 17/03, de 25 de Julho, Lei Sobre os Incentivos Fiscais e Aduaneiros ao


Investimento Privado.

Lei nº 18/03, de 12 de Agosto, Lei Sobre os Contratos de Distribuição, Agência,


Franchising e Agrupamento de Empresa.

Regime Jurídico do Fomento Actividade Económica

Decreto Presidencial nº 84/19, de 21 de Março, Atribuição Subsidio aos


Combustíveis para Produção Agrícola e Pesqueira.

Lei nº 14/03, de 18 de Julho, Lei de Fomento do Empresariado Privado Angolano.

Lei nº 17/03, de 25 de Julho, Lei sobre os Incentivos Fiscais e Aduaneiros ao


Investimento Privado.

Lei nº 10/18, de 26 de Junho, Lei do Investimento Privado.

322
Manual de Direito Económico Francisco Mário

Regime Jurídico dos Delitos Contra a Economia

Código Penal

Decreto nº 7/02, de 9 de Abril, Regime Sancionaria e Âmbito da Actividade


Seguradora.

Decreto nº 13/1978, de 1 de Fevereiro, Regime de Saídas e Entradas dos Cidadãos


Nacionais e Estrangeiros, Derrogada pela Lei nº 2/07, de 31 de Agosto.

Decreto n º 33/96, de 1 de Julho.

Decreto Presidencial nº 206/11, de 29 de Julho.

Lei nº 13/19, de 23 de Maio, Regime Jurídico dos Estrangeiros.

Lei nº 3/14, de 10 de Fevereiro, Lei sobre a Criminalização Subjacente a


Branqueamento de Capitais.

Lei nº 3/10, de 29 de Março, Lei da Probidade Pública.

Lei nº 11/75, de 15 de Dezembro, Disciplina do Processo Produtivo.

Lei nº 12/11, de 16 de Fevereiro, Lei das Transgressões Administrativas.

Lei nº 13/03, de 10 de Julho, Lei Derrogatória da Lei nº 6/99, de 3 de Setembro - Lei


das Infracções Contra a Economia.

Lei nº 13/10, de 9 de Julho, Lei Orgânica e do Processo do Tribunal de Contas.

Lei nº 15/03, de 22 de Julho, Lei da Defesa do Consumidor.

Lei nº 23/10, de 3 de Dezembro, Lei dos Crimes Contra a Segurança do Estado.

Lei nº 34/11, de 12 de Dezembro, Lei do Combate ao Branqueamento de Capitais e


do Financiamento ao Terrorismo.

Lei nº 15/18, de 26 de Dezembro, Lei Sobre Repatriamento Coercivo e Perda


Alargada de Bens.

Regime Jurídico da Economia Ambiental, Sistema de Ordenamento do Território e


Turismo

Decreto nº 39/00, de 10 de Outubro, Sobre a Protecção Ambiental no Decurso das


Actividades Petrolíferas.

323
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Decreto nº 59/07, de 13 de Julho, Sobre Licenciamento Ambiental.

Decreto nº 62/97, de 29 de Agosto, Instituto do Turismo de Angola (INFOTUR).

Decreto Conjunto nº 96/09, de 6 de Outubro, Sobre Taxas de Licenciamento


Ambiental.

Decreto-Lei nº 6/97, de 15 de Agosto, Normas Respeitantes ao Aproveitamento dos


Recursos Turísticos do País e da Indústria.

Decreto-Lei nº 66/75, de 25 de Janeiro, Sobre a Instalação Classificação, Disciplina e


Funcionamento dos Estabelecimentos Hoteleiro e Similares.

Decreto nº 54/94, de 1 de Agosto, Normas de Licenciamento, Disciplina


Funcionamento das Agências de Viagens e Turismo, Define a Natureza das Agências
de Viagens.

Decreto Presidencial nº 216/11, que Estabelece as Bases Sobre a Política Nacional


Para a Concessão de Direitos de Terras.

Lei nº 3/04, de 25 de Junho, Lei de Ordenamento do Território e do Urbanismo.

Decreto nº 04/01, de 2 de Fevereiro, (POOC), do Ordenamento da Orla Costeira.

Lei nº 5/98, de 19 de Junho, Lei de Bases do Ambiente.

Lei nº 119/19, de 21 de Maio, sobre a Avaliação do Impacto Ambiental.

Lei nº 06-A/04, de 8 de Outubro, Lei dos Recursos Biológicos Aquáticos.

Lei nº 4/04, de 13 de Agosto, Lei Sanidade Animal.

Lei nº 6/02, de Novembro, Lei das Águas.

Lei nº 9/15, de 15 de Junho, Lei do Turismo.

Lei nº 9/04, de 9 Novembro, Lei das Terras.

Lei nº 14/10, de 14 Julho, Lei dos Espaços Marítimos.

Lei nº 15/05, de 7 de Dezembro, Lei de Bases do Desenvolvimento Agrário.

Lei nº 17/14, de 29 de Setembro, Lei Sobre as Linhas de Base Para Demarcação dos
Espaços Marítimos de Angola.

Lei nº 5/87, de 23 de Fevereiro, Lei de Sanitário

324
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Regime Jurídico das Instituições Financeiras Bancárias e não Bancárias

Avisos do BNA.

Instrutivos do BNA.

Lei nº 1/00, de 3 de Fevereiro, Lei Geral da Actividade Seguradora.

Lei nº 5/16, de 17 de Maio, Lei da Actividade dos Jogos.

Lei nº 05/97, de 27 de Junho, Lei Cambial (com as recentes alterações).

Lei nº 05/05, de 29 de Julho, Lei do Sistema de Pagamentos.

Lei nº 9/06, de 29 de Setembro, Lei que Cria o Fundo Nacional de Desenvolvimento.

Lei nº 12/15, de 31 de Agosto, Lei das Instituições Financeiras.

Lei nº 16/10, de 15 de Julho, Lei do Banco Nacional de Angola

Lei nº 22/15, de 31 de Agosto, Código dos Valores Mobiliários.

Regime Jurídico da Organização e Direcção Económica do Estado e dos Órgãos de


Definição e Execução da Política Económica

Decreto Legislativo Presidencial nº 2/13, de 25 de Junho, Regras de Criação e


Estruturação dos Institutos Públicos.

Decreto Legislativo Presidencial nº 208/18, ------------------------------

Lei nº 15/16, de 12 de Setembro, Lei de Funcionamento da Administração Local do


Estado.

Regime Jurídico Económico do Sector Empresarial do Estado

Decreto nº 16/89, de 13 de Maio, Estatuto do Gestor Público.

Decreto Legislativo Presidencial nº 2/13, de 25 de Junho, Regras de Criação e


Estruturação dos Institutos Públicos.

Lei nº 10/89, de 31 de Dezembro, Regime Disciplinar do Gestor Público.

Lei nº 11/2013, de 3 de Setembro, Lei de Bases do Sector Empresarial Público (com


as recentes alterações).

Regime Jurídico Económico do Sector Empresarial Privado

Decreto Presidencial nº 40/12, de 13 de Março, Regulamento do BUE.

325
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Lei nº 1/04, de 13 de Fevereiro, Lei de Sociedades Comerciais.

Lei nº 1/07, de 4 de Maio, Lei das Actividades Comerciais.

Lei nº 15/19, de 23 de Maio – Lei Sobre a Organização, Exercício e Funcionamento


das Actividades do Comércio Ambulante, Feirante e Bancada de Mercado.

Lei nº 4/02, de 18 de Fevereiro, sobre as Cláusulas Gerais dos Contratos.

Lei nº 5/04, de 7 de Setembro, Lei das Actividades Industriais.

Lei nº 7/15, de 15 de Junho, Lei Geral de Trabalho.

Lei nº 16/03, de 25 de Julho, Lei da Arbitragem Voluntária.

Lei nº 19/011, Lei das Sociedades Comerciais Unipessoais.

Lei nº 30/11, de 13 de Setembro, Lei das Micro, Pequenas e Médias Empresas.

Regime Geral do Sistema de Preços em Angola

Decreto Presidencial n º 199/15, de 26 de Outubro – Aprova o Estatuto Orgânico do


Instituto de Preços e Concorrência.

Decreto Executivo n º 77/16, de 25 de Fevereiro – Regras e Procedimentos Para Fixação e


Alteração de Preços.

Decreto Presidencial n º 206/11, de 29 Julho – Aprova as Bases Gerais Para a Organização


do Sistema Nacional de Preços.

Decreto Executivo n º 63/16, de 15 de Fevereiro – Regulamento do Conselho Nacional de


Preços.

Decreto Executivo n º 62/16, de 15 de Fevereiro – Listas de Bens e Serviços nos Regimes


de Preços Fixos Vigiados.

Decreto Executivo Conjuntivo n º 33/96, de 1 de Julho – Proíbe aos Agentes Económicos a


Práticas de Preços que Incorporem Margens de Lucro Superiores a 25% na Transação de
Bens e Serviços Integrados.

Decreto Executivo n º 405/14, de Dezembro – Fixa os Preços e Margens das Actividades da


Refinação, de Logística, de Distribuição e de Comercialização dos Produtos Derivados de
Petróleo Bruto.

Decreto n º 72/97, de 24 de Outubro – Fixa em 20% o Limite Para Encargos Gerais a


Praticar Pelos Grossistas Previsto e em 14% Pelos Retalhistas.

326
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Decreto n º 14/96, de 1 de Julho – Estabelece que o Preço Máximo de Venda dos Bens e
Serviços no Mercado Interno a Praticar Pelo Produtor, Grossista e Retalhistas.

Decreto n º 3/04, de 9 de Janeiro – Aprova o Regulamento de Preços dos Serviços Públicos


de Telecomunicações de Uso Público.

Decreto Presidencial nº 1/12, de 14 de Janeiro – Aprova a Implementação de Medidas sobre


a Subvenção aos Preços dos Combustíveis Derivados do Petróleo Bruto.

Decreto n º 74/97, de 24 de Outubro – Extingue o Regime de Preços de Comercialização


Passando a Vigorar nos Preços os Regimes de Preços Fixados e Preços Livres;

Decreto n º 72/97, de 24 de Outubro – Altera as Taxas de Encargos Gerais a Ser Praticadas


Pelo Grossita e Retalhista;

Decreto n º 33/96, de 1 de Julho – Estabelece que a Taxa de Margem de Lucro Para o Regime
Livre de Preços Livres não Poderá Ser Superior a 25%;

Decreto n º 14/96, de 1 de Julho – Regulamenta o Processo de Formação de Preços nos


Diversos Intervenientes do Ciclo Normal de Comercialização;

Decreto n º 20/90, de 28 de Setembro – Bases Gerais Para Organização do Sistema Nacional


de Preços.

Tratados Económicos Internacionais

Lei nº 4/011, de 14 de Janeiro, Lei sobre os Tratados Internacionais

Protocolo em matérias de trocas Comerciais na Comunidade do Desenvolvimento da


África Austral

Tratado da Comunidade do Desenvolvimento da África austral (SADC)

327
Manual de Direito Económico Francisco Mário

Francisco Mário - nasceu no Camucuio Província do Namibe, estudou o ensino


primário na escola nº 58 do Mapango - Camucuio e o ensino geral nas escolas do II
e III Nível “11 de Novembro” (Anexa ao IMNE) e “Gabriel Kwanhama” e, o Ensino
Médio no Instituto Médio Normal de Educação (IMNE) no curso de especialidade de
Geografia-História - cidade de Moçâmedes.

Licenciado em Direito pela Universidade Agostinho Neto – Luanda e Pós – Graduado


em Direito Bancário pela Universidade Agostinho Neto com a colaboração com a
Universidade Clássica de Lisboa e Ciências Jurídico-Civis conducentes ao Mestrado
pela UNM- Lubango.

Mestre em Direito (Ciências Jurídico – Económicas especialidade de Direito


Financeiro e Finanças Públicas – Privadas) pela Faculdade de Direito da
Universidade de Lisboa.

Frequência: Doutoramento em Direito (Finanças - Direito Financeiro e Economia


Global) pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa.

2009 Começou como docente estagiário de Direito no Núcleo do Lubango da


Faculdade de Direito da Universidade “Agostinho Neto”.

Actualmente é docente efectivo de Direito da Faculdade de Direito da Universidade


Mandume ya Ndemufayo – Lubango tem estado a lecionar as cadeiras de Introdução
ao Estudo do Direito, Finanças Públicas e Direito Financeiro, Direito Económico,
Direito do Comércio Internacional, Direito dos Recursos Naturais, Direito da Moeda,
Crédito e Bancos e Direito Fiscal).

Trabalhos científicos relevantes apresentados:

1- Supervisão Bancário, Relatório UAN – Luanda 2010 (não publicado).


2- Fundo Soberano Angolano, Relatório de Mestrado, FDUL, 2013, (não Publicado)

328
Manual de Direito Económico Francisco Mário
3- Supervisão Bancário no Sistema Financeiro Angolano, Relatório de Mestrado, FDUL,
2013. Publicado em Portugal, almedina editora revista científica do IDEF, nº21/
2015.
4- Direito do Ambiente Como Direito Fundamental na Constituição
Angolana/Portuguesa, Relatório de Mestrado, FDUL, 2013 (não publicado).
5- Os Bens do Domínio Ferroviário – Conferência CFM - Lubango 2014.
9- Controlo Jurisdicional dos Dinheiros Públicos em Angola 2015 (Dissertação).
10- Manual de Direito Económico 2019 (Fasciculo).
11- Manual de Direito do Comércio Internacional 2019. (Fasciculo).
12- Manual de Direito dos Recursos Naturais 2019 (Fasciculo)

329
Manual de Direito Económico Francisco Mário

330

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