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FACULDADE DE DIREITO
LUBANGO
FRANCISCO MÁRIO
2020 -(3)
Manual de Direito Económico Francisco Mário
DEDICATÓRIA
Aos meus alunos, votos por me fazerem apreciar o lado simples e a verdade científica, e por
ajudarem fazer nascer este volume de escritos apenas uma como lembrança académica que,
sei bem, não abate em nada a dívida académica e científica que nos onera, mas como linhas
quebradas que se junta a uma prenda de ansiedade outorgada de vontades e sacrifícios de
pesquisas, mesmo assim, devo-lhes uma palavra de enorme gratidão.
Sempre com sagrada memória eterna dos meus pais que muito cedo partiram, mas que
antes ensinaram uma certa forma de olhar os valores e princípios da Justiça e o Direito. Este
estudo é-lhes, por isso dedicado.
Aos meus filhos por este trabalho e a minha formação, apesar de privar-lhes largamente o
prestimoso amor de fonte de carinho de um pai, mas sempre soltaram a paciência de
procurarem transmitir-me indulgentes ensinamentos dos valores da ternura do conceito
de família, – perdão.
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Manual de Direito Económico Francisco Mário
“As faculdades que presidem à conduta do homem são os desejos; a coragem e a razão. Elas
existem em todos homens, embora, em graus diferentes. Há uns nos quais o desejo, os apetites
grosseiros, prevalecem: são almas tumultuosas, inferior, ávidas de dinheiro, guiadas apenas
pelo interesse material: devem constituir a classe dos mercenários.
Noutros, é a coragem que domina, orientada pela razão: tem a ambição da glória, querem
triunfar e vencer, preferem ser fortes a ser ricos: forma a classe dos guerreiros.
Outros ainda, uma pequena minoria, são inspirados pela razão: os filósofos que procuram a
verdade, onde quer que se encontre, vivem absorvidos na contemplação pura das ideias, tem
por única aspiração a sabedoria e a virtude e não se deixam seduzir pela riqueza, nem pela
glória: constituem a classe dos magistrados”.
Platão – diálogo sobre a justiça cadernos culturais editorial INQUÉRITO Lda. Lisboa, 2ª
edição Tenacitas 2008, – tradução de LOBO VILELA, Pág. 16.
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Manual de Direito Económico Francisco Mário
“Há sistemas de coisas que nos ajudam amar (…), mas não há sistemas
que nos ensinam amar”1.
1Grafite da estação do metro de Lisboa – Saldanha (linha vermelha), visitado dia 4 de Fevereiro de 2018. As
14:50 min.
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Manual de Direito Económico Francisco Mário
Toda a reprodução desta obra, por fotocópia ou por qualquer processo, sem
autorização escrita do autor ou da editora, é lícita e passível de procedimento
judicial contra quem assim se procede.
Proibida à venda.
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ÍNDICE
DEDICATÓRIA ..................................................................................................................................................... 2
ABREVIATURAS ................................................................................................................................................. 14
1.2.2. NATUREZA E O OBJECTO DO ESTUDO DO DIREITO ECONÓMICO ........ ERRO! MARCADOR NÃO DEFINIDO.
3.4.- LIVRE ACESSO E RESERVAS PÚBLICAS (ART. 38º, 93º E 95º, DA CRA);........................................................ 88
4.6. PRINCÍPIO DA GARANTIA DOS DIREITOS E LIBERDADES ECONÓMICAS FUNDAMENTAIS .................... 103
4.6. PRINCÍPIO DA DELIMITAÇÃO DA ACTIVIDADE ECONÓMICA E DAS RESERVAS PÚBLICAS .................... 128
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6.7. INTERVENÇÃO LEGISLATIVA ............................................................................................................... 172
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9.2.3. SOCIEDADES POR QUOTAS………………………………………………………………………………………………………190
11.1. INTRODUÇÃO………………………………………………………………………………………………………………………………………197
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Manual de Direito Económico Francisco Mário
13.4.3. MONOPÓLIOS…..…………………………………………………………………………………………………………………………….218
13.4.4. OLIGOPÓLIOS.…………………………………………………………………………………………………………………………………220
13.4.5. DUOPÓLIOS…………………………………………………………………………………………………………………………………….220
13.4.6. CARTEL………………………………………………….………………………………………………………………………………………222
13.4.7. JOGOS…….………………………………………………………………………………………………………………………………………223
13.5.4. A CONCORRENCIA COMO BEM JURIDICO ECONÓMICO DIGNO DE TUTELA PENAL …...…………………….236
16.3. SUPERVISÃO, VERSUS, REGULAÇÃO FINANCEIRA NO SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO .................. 292
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18.5. OS POSSÍVEIS EFEITOS DA LIBERALIZAÇÃO SOBRE A SEGURANÇA ALIMENTAR E MEIOS DE
SUBSISTÊNCIA RURAL ..................................................................................................................................... 311
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ABREVIATURAS
AN Assembleia Nacional
Art. Artigo
CC Código Civil
CE Constituição Económica
CF Código de Família
CP Código Penal
CP Constituição Política
DP Decreto Presidencial
EU União Europeia
GATT General Agreement on Tariffs and Trade (Acordo Geral sobre Tarifas e
Comércio)
LT Lei de Terras
Pág. Página
PROF Professor
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Manual de Direito Económico Francisco Mário
NOTA DE APRESENTAÇÃO
Neste passo, é evidente que em função do nosso pensamento este Manual contém uma
ilustre análise sistemática científica dos conceitos básicos do Direito Económico, todavia,
faz uma abordagem integradora de utilidade académica universitária na dupla vertente
científica e didáctica reputada na formação do jurista capaz de dar uma resposta jurídico-
económica dos problemas que oscilam em torno do instituto de Mercado e o papel
regulador do Estado duma nação que renasce na reconstrução económica, cujo desígnio é
o desenvolvimento económico e social sustentável de Angola coberto de justiça social, sob
vigilância do Direito através da Regulação e Supervisão genérica do processo económico.
2 Mais desenvolvimento, ver SHUMPTER, J. A. (1926-1996), na sua obra: Capitalism, Socialism,and Democracy
(1942), Pág. 43, apud, FREIRE, MARIA PAULA – “Eficiência Económica e Restrições Verticais” editora AAFDL
2008, Pág.21.
3 Tipos de Capitalismo:
i- Capitalismo Liberal - ADAM SMITH antes do século XX, liberdade individual, defesa da
propriedade privada, liberdade económica, livre concorrência, condições infra-humanas dos
trabalhadores.
ii- Capitalismo Pós-liberal - Início do século XX, Intervenção do Estado, hetero-regulação pública,
restrição das liberdades.
iii- Capitalismo Liberalismo com cariz social - Pós 1ª Guerra Mundial, auto-gestão, movimentos
sindicais, cooperativos, e sociais.
iv- Capitalismo do Estado Providência - As actividades produtivas de serviços aumentam em
detrimento da indústria, medicina, habitação, educação gratuita, etc.
v- Capitalismo Neo-liberalismo – da dama de ferro ex: primeira ministra da Inglaterra MARGARET
TATCHER começou nos anos 70 com as privatizações, liberalização das actividades económicas,
abertura, desregulamentação dos Mercados, teoria globalizante.
vi- Capitalismo de infra-estrutura ou terceira vai de 3ª Via (TONY BLAIR ex. primeiro ministro
britânico) Tentativa de conciliação entre a velha social-democracia e o movimento neo-liberal.
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Manual de Direito Económico Francisco Mário
pensamento evidenciado de aproximação entre as grandes dicotomias de sistemas
económicos, ou modo de produção, designadamente: Sistema Socialista e Sistema
Capitalista e que ao nosso ver os dois sistemas sobrevivem algemados por termologia de
menor débito e não já pelos factores tradicionais da sua proclamação da competitividade
de um lado e, por outro da planificação.
Sem ignorar a diversidade de contribuições das várias famílias e especialistas jurídicas que
subjazem para o desenvolvimento do Direito da Economia em Angola, sem para tal invadir
a fronteira do terreno do território alheio das disciplinas curriculares do ensino de Direito
leccionadas nas instituições académicas.
Mas contudo, importa assinalar que por questões obvias, seguramente vamos atravessar o
perímetro da fisionomia de diversas praças e avenidas de conhecimentos científicos
autorizadas da doutrina do Direito de outras áreas, para buscar e, em evidências
circunstâncias tomar de empréstimo algumas ferramentas jurídicas que servem de arrimo
do Direito Económico, por termos optado pela leitura das renomadas obras nacionais e
estrangeiras que patenteiam a absorção e reprodução do pensamento desses
doutrinadores, pois, o Direito não é estanque e ela é de construção nova, por isso, não temos
a pretensão de sermos originais, mas apenas a transmitir ao leitor, de forma resumida o
nosso pensamento. Aliás, como nota GOMES CANOTILHO, na perspectiva da economia
ambiental, “o jurista das ciências jurídico - económicas deve confessar a sua humildade e
reconhecer que sem o amparo de outros ramos do Direito não é possível edificar um corpus
teórico suficientemente autónomo para abarcar todas as multidimensionalidades dos
problemas económicos”5.
Apesar neste exame de estudo não se deve seguir uma via muito abrangente que conduza
a uma abordagem essencialmente informativa e descritiva do conjunto das matérias, mas
4 À luz dos princípios do Estado económico unitário e dos princípios de desconcentração e descentralização
administrativa económica, nos termos do proemio do art. 8º, da CRA.
5 Cfr. CANOTILHO, J.J. GOMES. - juridicização ou ecologização do Direito, In RJUA 1995, n º 4, Pág. 69 - 76.
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Manual de Direito Económico Francisco Mário
antes operar uma selecção rigorosa que permita um estudo sistemático e com razoável
aprofundamento das matérias seleccionadas.
Portanto, acreditamos que estes pequenos escritos revistam – se de alguma utilidade como
guia de investigação, e, com esperança de que os leitores ao tomar contacto possam corrigir
e fazer nele as contribuições julgadas valiosas, porque entendemos que a semblante do
nosso texto apresenta imensas gralhas que precisam ser sufragadas por olhar de terceiros,
pois errar é humano, e, como é óbvio, ninguém é juiz da sua causa, só erra quem trabalha,
como diz aquele adágio popular “a água do rio para chegar até foz do rio junto ao mar onde
desagua atravessa o caminho sinuoso de pesar”.
Não queremos justificar com isso o nosso incipiente esforço e carestia de rigor técnico para
produzir um conhecimento científico adequado a este nível, porque as gralhas muitas delas
comprometem a nossa comunicação pretendida e requerida por esta academia e pelo leitor
avisado. Porém, nós reconhecemos que em Angola nem é tudo é fácil.
Francisco Mário
Março 2018
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Manual de Direito Económico Francisco Mário
NORMAS CONSTITUCIONAIS COM MAIOR RELEVÂNCIA ECONÓMICA
Neste passo, podemos indicar os conteúdos de preceitos de certas normas com relevância,
ou de interesse económico na Constituição promulgada, aos 5 dias de Fevereiro de 2010,
nomeadamente:
Artigo 1º
(República de Angola)
Artigo 2º
Artigo 3º
(Soberania)
Artigo 5º
(Organização do Território)
2. O disposto no número anterior não prejudica as adições que tenham sido ou que venham
a ser estabelecidas por tratados internacionais.
4. A definição dos limites e das características dos escalões territoriais, a sua criação,
modificação ou extinção no âmbito da organização político- administrativa, bem como a
organização territorial para fins especiais, tais como económicos, militares, estatísticos,
ecológicos ou similares, são fixados por Lei.
Artigo 6º
3. As leis, os tratados e os demais actos do Estado, dos órgãos do poder local e dos entes
públicos em geral, só são válidos se forem conformes à Constituição.
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Manual de Direito Económico Francisco Mário
Artigo 8º
(Estado Unitário)
Artigo 13º
(Direito Internacional)
1. O direito internacional geral ou comum faz parte integrante da ordem jurídica angolana.
Artigo 14º
Artigo 15º
(Terra)
2. A terra pode ser transmitida às pessoas singulares ou colectivas, tendo em vista o seu
racional e efectivo aproveitamento, nos termos da Constituição e da Lei.
3. São reconhecidos, às comunidades locais, o acesso e o uso das terras, nos termos da Lei.
Artigo 16º
(Recursos Naturais)
Artigo 21º
g) Promover políticas que assegurem o acesso universal ao ensino obrigatório gratuito, nos
termos definidos por Lei;
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Manual de Direito Económico Francisco Mário
n) Proteger, valorizar e dignificar as línguas angolanas de origem africana, como
património cultural e promover o seu desenvolvimento, como línguas de identidade
nacional e de comunicação;
Artigo 23º
(Princípio da Igualdade)
Artigo 27º
Os princípios enunciados neste capítulo são aplicáveis aos direitos, liberdades e garantias
e aos direitos fundamentais de natureza análoga estabelecidos na Constituição,
consagrados por lei ou por convenção internacional.
Artigo 29º
1. A todos é assegurado o acesso ao direito e aos tribunais para defesa dos seus direitos e
interesses legalmente protegidos, não podendo a justiça ser denegada por insuficiência dos
meios económicos.
2. Todos têm direito, nos termos da Lei, à informação e consulta jurídicas, ao patrocínio
judiciário e a fazer-se acompanhar por advogado perante qualquer autoridade.
4. Todos têm direito a que uma causa em que intervenham seja objecto de decisão em prazo
razoável e mediante processo equitativo.
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Manual de Direito Económico Francisco Mário
5. Para defesa dos direitos, liberdades e garantias pessoais, a Lei assegura aos cidadãos
procedimentos judiciais caracterizados pela celeridade e prioridade, de modo a obter tutela
efectiva e em tempo útil contra ameaças ou violações desses direitos.
Artigo 37º
1. 1. A todos é garantido o direito à propriedade privada, bem como à sua transmissão, nos
termos da Constituição e da Lei.
2. O Estado respeita e protege a propriedade e demais direitos reais das pessoas singulares,
colectivas e das comunidades locais, só sendo permitida a requisição civil temporária e a
expropriação por utilidade pública, mediante justa, pronta e adequada indemnização, nos
termos da Constituição e da Lei.
Artigo 38º
1. A iniciativa económica privada é livre, sendo exercida com respeito pela Constituição e
pela Lei.
Artigo 39º
(Direito ao Ambiente)
1. Todos têm o direito de viver num ambiente sadio e não poluído, bem como o dever de o
defender e preservar.
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Manual de Direito Económico Francisco Mário
Artigo 49º
Artigo 50º
(Liberdade Sindical)
Artigo 57º
Artigo 74º
Artigo 76º
(Direito ao Trabalho)
Artigo 78º
Artigo 85º
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Artigo 89º
(Princípios Fundamentais)
g) Concertação social;
Artigo 90º
(Justiça Social)
d) Remoção dos obstáculos de natureza económica, social, cultural que impeçam a real
igualdade de oportunidades entre os cidadãos;
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Artigo 91º
(Planeamento)
1. O Estado coordena, regula e fomenta o desenvolvimento nacional, com base num sistema
de planeamento, nos termos da Constituição e da Lei e sem prejuízo do disposto no artigo
14.º da presente Constituição.
Artigo 92º
(Sectores Económicos)
Artigo 93º
(Reservas Públicas)
Artigo 94º
(Bens do Estado)
Artigo 95º
(Domínio Público)
a) As águas interiores, o mar territorial e os fundos marinhos contíguos, bem como os lagos,
lagoas e cursos de águas fluviais, incluindo os respectivos leitos;
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Manual de Direito Económico Francisco Mário
b) Os recursos biológicos e não biológicos existentes nas águas interiores, no mar
territorial, na zona contígua, na zona económica exclusiva e na plataforma continental;
h) As zonas territoriais reservadas aos portos e aeroportos, como tais classificados por lei;
l) Outros bens que forem determinados por lei ou reconhecidos pelo direito internacional.
3. A Lei regula o regime jurídico dos bens do domínio público e define os que integram o do
Estado e das pessoas colectivas de direito público, o regime e formas de concessão, bem
como o regime de desafectação dos referidos bens.
Artigo 96º
(Domínio Privado)
Os bens que não estejam expressamente previstos na Constituição e na Lei como fazendo
parte do domínio público do Estado e demais pessoas colectivas de direito público,
integram o domínio privado do Estado e encontram-se sujeitos ao regime de direito
privado ou a regime especial, sendo a sua administração regulada por Lei.
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Artigo 97º
São considerados válidos e irreversíveis todos efeitos jurídicos dos actos de nacionalização
e confisco praticados ao abrigo da Lei competente, sem prejuízo do disposto em legislação
específica sobre reprivatizações.
Artigo 98º
(Direitos Fundiários)
1. A terra é propriedade originária do Estado e integra o seu domínio privado, com vista à
concessão e protecção de direitos fundiários a pessoas singulares ou colectivas, e
comunidades rurais, nos termos da Constituição e da Lei, sem prejuízo do disposto no n.º 3
do presente artigo.
3. A concessão pelo Estado de propriedade fundiária privada, bem como a sua transmissão,
apenas são permitidas a cidadãos nacionais, nos termos da Lei.
Artigo 99º
(Sistema Financeiro)
Artigo 100º
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Artigo 101º
(Sistema Fiscal)
Artigo 102º
(Impostos)
1. Os impostos só podem ser criados por Lei que determina a sua incidência, taxa, benefícios
fiscais e garantias dos contribuintes.
2. As normas fiscais não têm efeito retroactivo, salvo as de carácter sancionatório, quando
sejam mais favoráveis aos contribuintes.
3. A criação de impostos de que sejam sujeitos activos os órgãos do poder local, bem como
a competência para a sua arrecadação, são determinados por Lei.
Artigo 104º
2. O Orçamento Geral do Estado é unitário, estima o nível de receitas a obter e fixa os limites
de despesas autorizadas para todos os serviços, institutos públicos, fundos autónomos, da
segurança social, bem como para as autarquias locais em cada ano fiscal e deve ser
elaborado de modo a que todas as despesas nele previstas estejam financiadas.
Artigo 105º
(Órgãos de Soberania)
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Manual de Direito Económico Francisco Mário
2. A formação, a composição, a competência e o funcionamento dos órgãos de soberania são
os definidos na Constituição.
Artigo 198º
Artigo 200º
1. Os cidadãos têm direito de serem ouvidos pela administração pública nos processos
administrativos susceptíveis de afectarem os seus direitos e interesses legalmente
protegidos.
2. Os cidadãos têm direito de serem informados pela administração sobre o andamento dos
processos em que sejam directamente interessados, bem como o de conhecer as decisões
que sobre eles forem tomadas.
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Manual de Direito Económico Francisco Mário
Artigo 223º
(Reconhecimento)
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Manual de Direito Económico Francisco Mário
CAPÍTULO I
O primeiro é externo ao Direito, aquele que se refere à relação entre Economia e o Direito,
como fenómenos sociais. Porém, esses fenómenos sociais apresenta-se fundamentalmente,
sob três formas do padrão jurídico destinado validar as normas jurídicas que reflectem a
natureza económica da sua validade, designadamente: direito natural económico
cosmológico – ligado aos fenómenos de origem cósmica, do universo físico da natureza das
coisas; direito natural económico antropológico – ligado ao fenómeno do homem ser
humano, ou seja, gira em torno do homem como centro autónomo, fim último e seu limite;
e, o direito natural económico teológico – voltada as ideologias crenças religiosas, “máxime”
Deus7.
O segundo, interno ao Direito, envolve as razões pelas quais se criou este novo ramo, e quais
efeitos ele produz sobre o quadro da dogmática clássica.
Ao mesmo tempo começa a ganhar fascínio nítido de cidadania nos Países lusófonos, sendo
Angola membro dessa comunidade, e, todavia, estas nótulas factológicas subjazem numa
disciplina pedagógica e científica com larga autonomia que vai ganhando o próprio Direito
Económico face a “summa divisio” da dicotomia dos grandes ramos do Direito (Direito
Público/Direito Privado), que vai ser um talhão destes conhecimentos e instruções
metodológicas científicas que contribuem decisivamente para lhe conferir uma relevância
incontornável ao nível nacional e internacional.
7 Cfr. FILHO, ROBERTO LYRA, - O que é o Direito? Editora brasiliense. SP. 20ª reemp. 2011, Pág. 44. No mesmo
sentido vide. LOCKE, JOHN – Dois Tratados do Governo Civil, texto filosófica 70, 2006. Pág.111.
8 Cfr. AZEVEDO, MARIA EDUARDA, – Temas de Direito da Economia, Almedina editora, 2013, Pág. 5.
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Manual de Direito Económico Francisco Mário
Pois que, o homem desde antiguidade procura na natureza os bens (recursos naturais) e na
sociedade (serviços) para satisfazer as necessidades vitais (Alimentação, Vestuário e
Habitação) através do processo produtivo, sem em prima facie a intervenção do Direito,
mas, devido o desequilíbrio da estrutura ecológica e mutações sociais foi mister a presença
do Direito no processo produtivo e na economia através da regulação ou intervenção nos
factores de produção, distribuição, comercialização e consumo dos bens e serviços. Pelo
que, importa assinalar que o estádio especial da economia angolana predicada como uma
das economias emergentes voltada no crescimento económico, até então no passado
recente há mais de 15 anos configurava-se numa taxa considerada olímpica no contexto
das economias suportadas pelos recursos naturais e indexadas nos altos preços de Petróleo
com impacto nos Mercados Internacionais, a destacar como não deveria de ser de outra
forma, notadamente a crise que começou atear-se na baixa do preço do Petróleo nos
Mercados Internacionais no último quarteto de 2014 e o mais caleidoscópico preço a
oscilar aos 20 dólares/barril do tipo “Brent” no primeiro trimestre de 2016, pondo o fim o
socialismo festivo (luxo faraónico das elites político-económicas e o povo numa miséria
franciscana)9.
Algumas pressões da comunidade internacional levou à corte dos poderes públicos da
economia angolana tomar colegiadas medidas com repercussões quase imediatas na
economia real e nas Finanças Públicas e Privadas com realce na balança de pagamentos de
transacções correntes (ou simplesmente conta corrente)10, e, nas economias das Finanças
Domésticas porque a balança global apresentava-se deficitária e a despesa nacional11, com
transacções de bens e serviços importados ser excessiva face às disponibilidades de
reservas cambiais e défices orçamentais sucessos pressionando a subida acima do limite
constitucional da dívida soberana e a dilacerar de uma forma espiral as reservas
internacionais liquidas.
Por conseguinte, manifestamente como era de esperar a sociedade exige das instituições
do poder político - económico e de ensino científico universitário alguma resposta
elaborada e adequada para resolução destes dois macrocefálicos problemas fadadas como:
a crise económica e financeira, de um lado; - pois que, “as economias não existem para
estarem em crise, nem para estarem em constante crescimento”12; e, por outro, da
9 Fala-se do Socialismo festivo - luxo faraónico das elites político-económicas e o povo numa miséria
franciscana, com assinalados baixos níveis sociais no sector da educação e saúde, em que os dois sectores
representam no PIB quase 9% do Orçamento ou investimento do Estado por ano, enquanto paradoxalmente
o sector da Defesa representa 21%, do PIB, evidencia aqui uma análise económico do Direito, porquanto na
lógica o País desenvolve a sua economia com sistema de educação e saúde (…), apesar ter sido propalado por
muitas agencias de rating sobre o crescimento económico exponencial, mas esse crescimento infraestrutural
foi desacompanhado pelo crescimento social, daí ser considerado como crescimento de alegoria da caverna.
10 Importa referir que, a Balança de Pagamentos – consiste no sistema de contas que permite registar todas
e Empresas Privadas.
12 Cfr. ROHA, ALVES, - Professor da Universidade Católica – Luanda, extrato da dissertação na conferência do
dia 31 de Março de 2016, organizada pela IMOGESTIN – imobiliária no Município do Lobito, sobre o tema
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Manual de Direito Económico Francisco Mário
diversificação do risco, ou como queiram, da diversificação da economia como actualmente
é apelidado.
Entretanto, os novos ventos da política económica advento das eleições em Angola do novo
Presidente da República no último semestre de 2017, cristalizam e escoaram hino de nova
moral económica e a forma de actuação dos poderes económicos que estavam voltadas
numa indolência económica e financeira de aquisição da nobreza através da repugnância
das coisas significativamente luxuosas que encorajava todos a colocarem – se na posição
de chegar ao poder para acumulação primitiva do capital e da riqueza como preço da
nobreza da nova elite emergente13, agenciada pelo pseudo - decoro partidário de cartão de
militante, e que levou a nova corte económica tomar algumas medidas legislativas,
administrativas e judiciais, com sublinhada referencia da Lei do repatriamento de capitais
indevidamente transferido para o exterior, Lei da Concorrência que acabou com os
monopólios, e frenética diplomacia económica.
1- Diversificação económica
2- Estabilização do sistema financeiro.
3- Consolidação orçamental (isto é, melhoria da qualidade da despesa, a redução dos subsídios a preço e de
bens fixados e aplicação de medidas de diversificação da base das receitas não petrolíferas).
4- Redução dos riscos que se colocam à sustentabilidade da dívida.
5- Acelerar a reestruturação das empresas públicas (isto é, melhorar a gestão do risco de crédito nos bancos
públicos bem como o seu sistema de governação).
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Manual de Direito Económico Francisco Mário
como recente escândalo de “Luanda Leacks”15, e, a crise económica ao nível global e
planetária da pandemia do Covid-19 que arrasou as economias mundiais com realce as
economias petrolíferas com barril de brent a oscilar nos mínimos históricos de 15 dólares
norte americano no Mercado internacional..
Dito isto, seguidamente, o novo poder económico ao encarar o quadro económico do País
apressa-se em tomar algumas medidas económicas para assegurar a reforma do Estado em
sede do cumprimento do mandato e do desiderato eleitoral através de aprimoramento dos
instrumentos de política económica, designadamente: instrumentos de política fiscal,
orçamental, monetária e cambial.
Qua tale, uma das reformas centrais foi de acabar com os monopólios e todas outras formas
de concorrência imperfeita na economia que atentavam fatalmente contra as traves
mestras das estruturas dos princípios de Estado democrático de direito e especialmente a
democracia económica, porquanto em Angola circulava três moedas, nomeadamente:
moeda fiduciária, moeda divisionária e moeda de conhecimento16. E, por via disso,
interpelou-se o poder legislativo para produzir uma Lei da Concorrência, Lei das
Privatizações e melhorar os instrumentos de contratação pública (…), de gestão financeira
e posição do Banco Central na supervisão financeira das instituições financeiras que
operam nos três Mercados (Bancário, Seguro e Capitais ou Valores Mobiliários), que
conduziu o encerramento de alguns Bancos e seguradoras menos avisados ao cumprimento
das suas obrigações, dentre outras medidas contam-se a desburocratização do sistema
económico, restruturação da Administração Púbica Central do Estado (fusão extinção dos
Ministérios governamentais, dos Institutos Púbicos e a nível da Administração Local do
Estado) e a restruturação da Administração indirecta do Estado - o sector empresarial
público do Estado (privatizações), determinação de sistema de câmbio flutuante, taxa de
juro e de inflação, abertura de processos judiciais de casos mediáticos em que são arguidos
figuras sonantes na gestão da coisa pública, pois a justiça e a política apresentam-se com
indicados conteúdos tradicionalmente divergentes17. Entre outros temas, fortalecer as
15 O Consórcio Internacional de Jornalismo de Investigação revelou em 19 de janeiro de 2020 mais de 715 mil
ficheiros, sob o nome de 'Luanda Leaks', que detalham alegados esquemas financeiros de ISABEL DOS
SANTOS e do marido que lhes terão permitido retirar dinheiro do erário público angolano através de paraísos
fiscais.
16 Classifica - se como moeda fiduciária a moeda soberana com curso legal o kwanza, já a moeda divisionária
é efectivamente a moeda cambial com realce o dólar norte-americano e o euro e, por seu turno a moeda de
conhecimento é entendido como ideia de conhecimento por nepotismo, tráfico de influência, bajulação, abuso
do poder, improbidade administrativa, troca de favores, clientelismo, cabritismo, peculato etc. A nossa análise
o conhecimento neste plano era moeda forte em Angola e valência para aquisição de bens e serviços no
Mercado e criar riqueza.
17 Cfr. AV. GIANARIA, FULVIO/MITTONE, ALBERTO – O Advogado Necessário, Almedina editora 2011, Pág.
32. (…) a justiça e a politica a sua distinção configura-se nítida e a contiguidade pode funcionar sob a condição
de dois mundos institucionais e conceituais não emaranharem, por em quando, a jurisdição opera ao serviço
do poder político e quando o poder utiliza a via judicial como percurso de afirmação e conservação, o balanco
pode ressentir-se disso. E a construção prejudica-se irreparavelmente e se a confusão se verifica nos
momentos mais difíceis da luta política ou, após está ter acabado, quando os vencedores pretendem
transformar os vencidos em criminosos. Em tais situações o processo transforma-se em instrumentos de luta
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Manual de Direito Económico Francisco Mário
relações económicas internacionais por via da diplomacia económica e apelar as fortunas
subterrâneas domiciliadas no exterior e exportadas indevidamente de Angola à custa do
erário público, através de uma política de clemência financeira de integração voluntário e
coercivo (repatriamento de capitais voluntario e coercivo) que veio animar e melhorar a
atmosfera do ambiente de negócio, apesar da recessão económica provocado pela
pandemia do Covid-19, mas tudo isso sob olhar do Direito.
Para examinarmos estas inquietações acima destacadas é natural que o nosso crescimento
científico permite-nos já com humildade ensaiar rapidamente uma proposta de resolução
ilustre, é pertinente pois antes citarmos algumas autoridades científicas que nunca
conviveram connosco por pertencerem o ponteiro do relógio jurídico do tempo da outra
senhora, más as suas ideias dogmáticas não foram tempestivamente afectados pela esta
temporalidade jurídica ou deterioradas pelo tempo, todavia, cristalizam a evidência do
nosso pensamento hodierno.
Desde logo, nas fileiras dos seus militantes científicos denota-se em primeiro lugar, o Prof.
TEIXEIRA RIBEIRO, por ter sido ele em Coimbra o renovador do ensino do Direito da
Economia, ou simplesmente Economia na década dos anos 30 do século passado, no
esplendor da crise de 1929, renovação essa, valorizada na década seguinte, em Lisboa, por
em que cada momento é destinado ao êxito: a condenação do culpado sobrepõe-se a derrota do vencido em
alguns processos políticos representa senão a continuação da guerra civil com meios diversos.
18 Como exemplo a Mercado Cambial informal que os operadores deste Mercado acumularam colossais
riquezas subterrâneas sob ilícito fiscal e ao arrepio a legalidade cambial e branqueamento de capitais, bem
como os monopólios e oligopólios até então existentes no sector das telecomunicações e favoritismo e,
manifeste improbidade administrativa de concessão de obras públicas, contratos económicos e Parcerias
Público-Privada com repercussões danosas e imediatas na economia real, lesivos aos interesses do Estado e
da democracia económica.
39
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Dr. PINTO BARBOSA, e, por conseguinte, a sua escola, porém o ilustríssimo Prof. TEIXEIRA
RIBEIRO (1966), exprimia as seguintes palavras:
(…) “Volto ao caso das ciências económicas há que estudar nas Faculdades (de Direito) uma
economia para juristas e nas Faculdades de Economia uma economia para economistas.
Sim que interessa aos juristas saber se a inflação tem a origem na alta dos custos ou no
aumento da procura…?
Mais do que a explicação dos fenómenos económicos, interessa aos juristas a sua
importância social e de justiça19, os quadros e as instituições que revelam”20.
Por outro lado indagar-se particularmente no caso de Angola, «se a crise financeira e, de
algum modo económica, esteve na origem mais sonante da baixa do preço do Petróleo ou
da inópia da diversificação da economia, sistema tributária deficiente, indisciplina
orçamental das despesas públicas e do controlo das contas públicas21, organização do
Estado, ou outro fenómeno social a ele associado?»22.
Como é óbvio nos parece que a resposta prospera no típico fenómeno dos Países cujos
orçamentos estão indexadas principalmente nos recursos naturais ou simplesmente
economias de petro-dólares que são dominadas por «Praga do Recursos Naturais» que tem
como ponto de partida a constatação de que alguns Países dotados de abundantes recursos
naturais, em especial minerais ou petróleos, ou de, pelo menos, um recurso natural cuja
extracção lhes proporciona receitas em divisas significativas, sem mais pestanejar
sublinha-se o caso da Venezuela, Iraque, Síria, Líbia, Nigéria, Iémen etc., por conseguinte,
não têm aproveitado devidamente os benefícios da exploração desses recursos para
promoverem o seu desenvolvimento económico e social, de um lado;
Por outro;
A organização do Estado, pois que, o Estado angolano, desde 1975 por altura do movimento
das nacionalizações e confisco, emocionalmente assenhorou-se de todo acervo patrimonial
e financeiro do sector privado com intenção de construir uma utópica sociedade socialista
baseada no regime de propriedade colectivista dos meios de produção que
prematuramente viu-se frustrado e depois degradado, o regime soltou a corda de bamba
para as privatizações ou simplesmente por abandono23.
sobre as Finanças Públicas e Direito Financeiro) - Tese FDUL – Lisboa 2015, Pág. 14.
22 Nossa. No mesmo sentido e já no outro lugar em 2012/2013, em Lisboa já havia escrito, sobre o assunto
sobre a diversificação do risco em sede das recomendações do FMI, que outras economias já havia
experimentado nos choques cambiais, sobre o desígnio de “Doença Holandesa”, Cfr. MÁRIO, FRANCISCO, -
“Fundo Soberano” - Relatório do Mestrado Científico de Finanças Públicas – Privadas, FDUL 2013, Pág. 8.
23 É de realçar que no momento asténico da independência de Angola instalou-se um populismo negativo de
luta pelo poder, racismo, inveja, odio, tribalismo e regionalismo partidário e vandalismo e espoliação do
40
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Pelo que, os bens resultantes deste fenómeno de nacionalizações e confiscos
imediatamente passaram a integrar o monopólio do sector empresarial público designadas
de União das Empresas Estatais com sigla de “U.E.E.” uma das principais fontes de
financiamento do Orçamento Geral do Estado.
Nota-se, porém, que actualmente o sector empresarial público através das Empresas
constituídas pelos fundos públicos desenvolvem actividades nos principais sectores da
economia, designadamente:
Este quadro da economia pública e principal fonte de receitas públicas, afigura-se como
base do PIB (Produto Interno Bruto) tanto ele Potencial como o Real que notadamente
caracterizam as Finanças Públicas angolanas de “Finanças Patrimoniais”, por causa da sua
fonte de receita ser da feição monolítico – fiscais identitária do Estado empresário
totalitário mitigado e revelador do federalismo fiscal institucional hiperbólica, ou seja,
autarquia funcional e institucional empresarial que o Estado angolano ainda não conseguiu
distanciar-se.
Com efeito, alguns Países nestas condições, como Angola, tendem a especializar-se somente
de algum modo exportando quase apenas uma dada matéria-prima27, proveniente de
indústrias extractivas (monolítica indústria) através de Empresas Públicas, em detrimento
do desenvolvimento de actividades económicas diversificadas para variar as fontes de
receitas fiscais, para assim diversificar o risco.
património colonial pelas populações com destaque as habitações urbanas e viaturas entre outros bens.
Razão pela qual fez abandonar o País a maioria dos quadros e empresários que asseguravam o funcionamento
da economia de Angola e o País entrou numa crise económica estrutural e para remediar começou com
nacionalizações e confisco.
24 Neste sector destaca-se como Empresas Públicas: SONANGOL, ENDIAMA, ANGOSSEMENTES e EDIPESCA.
25 Neste caso refere-se: ENDE, PRODENG, TAAG, CFL, CFB, CFM; PORTOS (Luanda, Lobito e Namibe).
26 Destaca-se as Empresas: SECIL MARITIMA, TCUL; BPC, BCI, BAI, BE, BDA; ENSA; IMOGESTIN;
41
Manual de Direito Económico Francisco Mário
considera que tem efeitos negativos demonstrados por corrupção29, nepotismo30, tráfico
de influência31, desperdício de recursos32, degradação ambiental33 e conflitos armados34.
Mas, como argumenta, citando STEVENS, para que actue a “Praga dos Recursos Naturais”
numa certa economia é necessário que existam o que designa de “ (mecanismo de
transmissão) ” tais como:
sectores de pressão permanente, sazonal e cíclico, até uma funcionária de base é chefe, todos são amigos,
famílias ou pretendem ser por causa disso.
32As Receitas dos recursos naturais do Petróleo e Diamantes, alguns foram desperdiçados em investimentos
públicos ineficientes para desenvolvimento da economia e social de Angola deixando escapar aqueles
sectores chaves com défices estruturais crónicos como a educação e saúde (…).
33 De certo modo onde há actividade de exploração de recursos naturais é evidente que o risco esteja sempre
a espreita sobre a degradação do ambiente e danos ambientais cruciais, focos assinaláveis no Golfo de
Cabinda, Lundas, Fauna e Flora e plataforma continental marítima e etc.
34 Angola é o exemplo disso, quase viveu uma prolongada guerra civil desde do ano de 1975 -2002, a cerca de
27 anos de conflito armado sem justificação aplausível, e, destruindo todo tecido social e da economia. A par
disso, em outros Países produtor de Petróleo o dilema é o mesmo: Líbia, Iémen, Venezuela, Sudão do Sul, Síria,
Iraque, Nigéria, Congo Democrático.
35 No caso angolano, veja os rendistas do petróleo do Fundo Soberano, pois que, os Fundos em Angola tiveram
a sua evolução com designações diversas mas sem carácter de uma reserva ou de investimento e poupança
geracional, neste caso, são Fundos de investimento público sectoriais, exemplo mais pragmático são,
nomeadamente: o Fundo de Reconstrução Nacional, Fundo de Desenvolvimento Social, Fundo de Apoio a
Pesca Artesanal, Fundo de Pensões, Fundo de Apoio Agricultura, Fundo Ambiental e etc.
Más, sobre o “Fundo Petrolífero”, nos anos de prosperidade de altos preços de crude nos mercados
internacionais, o superavit da conta corrente era designado de “Bónus de Petróleo” que eram aplicados nos
investimentos públicos sociais, educação, saúde, na reconstrução e construção de infra -estruturas do país, à
luz do política gizado pelo governo angolano para fins de gestão do excedente resultante da venda do petróleo
que o apelidaram de “Programa de Melhoramento e Aumento da Oferta de Serviços Sociais Básicos às
Populações” «PMAOSSBP».
Nesta época, como Angola já estava sendo monitorizado pelo FMI na base do SBA (Acordo de Stand By), e de
acordo as constatações dessa instituição monetária, Angola com essas despesas sociais, segundo alertava o
FMI que estaria a investir no elefante, por via disso, aquela instituição financeira internacional, recomendava
as autoridades angolanas no sentido da diversificação da sua economia.
Assim, em 2010 nos termos do n.º 1 e 2 do art. 6º da Lei do OGE para o exercício do ano de 2011, foi aprovada
uma receita por consignação da venda do barril de petróleo, no orçamento, como “Reserva Financeira
Estratégica de Petrolífero” (RFEP), com fins de realizar despesa de capital em infra-estruturas de base.
Cabendo a sua gestão o Presidente da República nas vestes do Titular do Poder Executivo.
E por conseguinte, com base a este instrumento legal compreendido como uma Lei de autorização financeira
do Poder Legislativo ao Titular do Poder Executivo para intervir na economia, deste modo, ficou habilitado
nos termos do exercício das suas funções e competências constitucionalmente consagrado (art. 120º, da CRA),
de intervir na ordem económica e financeira e institucionalizar o Fundo Soberano de Angola” através do
42
Manual de Direito Económico Francisco Mário
esforços na obtenção de renda do recurso e promoção das indústrias extractivas em
detrimento da prossecução de um desenvolvimento económico e social abrangente.
A dependência das receitas fiscais da indústria extractiva quase 90% das receitas do
Orçamento Geral do Estado depende da fonte de receita da produção de petróleo-receita
patrimonial (Estado patrimonial, state of produtive) e que torna o País muito vulnerável às
flutuações de preços de petróleo nos Mercados Internacionais e dos choques cambiais
(doença holandesa)36, é a chamada deterioração em termos de trocas comerciais, que pode,
inclusive, gerar inflação, e afectar a balança corrente de pagamentos das transacções
comerciais, por conseguinte, atinge com maior gravidade as grandezas macroeconómicas
negativas de falência em cadeia de pequenas e medias empresas dependentes de
importações e, por via disso, o desemprego, inflação, recessão económica, subida da taxa
de juro e cambial com fortes sintomas de pobreza na população de baixa renda.
Porém, não existem soluções para o problema da Praga dos Recursos Naturais, mas
considera-se em geral que a promoção de um desenvolvimento equilibrado da economia
diversificada (agricultura e indústria transformadora), a implementação de programas de
luta contra a pobreza, bem como educação, cultura e saúde, e, a melhoria progressiva do
quadro institucional e político podem contribuir para reduzir significativamente este
fenómeno.
Mas qualquer modo, um outro ilustre Prof. de Direito de Lisboa, MARCELLO JOSÉ DAS
NEVES ALVES CAETANO ou simplesmente Prof. MARCELLO CAETANO, depois de analisar
os inconvenientes da formação de economistas nas Faculdades de Direito, também
Decreto Presidencial n º 48/11, de 9 de Março. Como instrumento financeiro com um capital inicial de cinco
(5) biliões de USD.
36 Período 1970-1980 – neoliberalismo, forte intervenção do Estado na economia, quando vários países
exportadores de petróleo criaram os seus Fundos com objectivos de estabilização, para proteger a economia
das consequências de excesso de recursos internacionais que ingressaram nestes países, como a pressão
inflacionária e depreciação cambial, esses efeitos colaterais eram chamados de “ doença holandesa” - Fundos
de Estabilização Monetária e Cambial. «Doença Holandesa», recebeu este nome porque só em 1960, foi
identificada na Holanda, quando seus economistas verificaram que a descoberta do gás natural e sua
exportação estavam a depreciar a taxa de câmbio e ameaçar a destruir toda a sua indústria. Cfr. MÁRIO,
FRANCISCO – Relatório do Mestrado FUL- Lisboa 2013. Pág. 7
43
Manual de Direito Económico Francisco Mário
quebrou o silêncio e escreveu (1966); “Nem deve uma Faculdade de Direito disputar as
Faculdades de Economia as funções próprias destes, pois com a mesma legitimidade com
que se arrogasse conferir graus de Licenciatura em ciências económicas, pretenderiam
estas conferir os Licenciados em Direito (…) ”37.
Se, como dissemos, este é um problema resolvido na seara jurídica há décadas em Portugal,
e, distintamente também em Angola, é importante sublinhar, o seu conhecimento,
principiado pelos pioneiros da academia do Direito Económico desta árdua actividade de
ensino em Angola que foi desencadeada no século XX na então única Faculdade de Direito
da Universidade Pública – Dr. Agostinho Neto, como ex: ilustrativo com alguma simpatia o
Prof. FRANCISCO QUEIRÓS e HELENA PRATA, mas sem preterir o mérito dos demais
cultores e arautos do Direito Económico, no caso Doutor OVIDIO PAHULA professor do
Lubango porque a história deixa sempre o seu registo para um futuro.
Entretanto, defende MANUEL JACINTO NUNES, no seu livro de Temas Económicos, ter-se-
ia posicionado e afirmando que “quem concebia há meio século que, na presidência dos
EUA, um actor de cinema - RONALDO REAGAN - sucederia um economista de formação –
GEORGE W. BUSH (…)38, ou recente polémico magnata e bilionário da indústria imobiliária
dos EUA, - DONALD TRUMP sucederia e um carismático jurista afro-americano – BARACO
OBAMA. E, em Angola poderá efectivamente no futuro próximo quiçá acontecer, como a
história recente já demonstrou os ex-Ministros das Finanças e Governador do BNA, e
Ministro de Estado junto do 1º Ministro e Chefe da Equipa Económica, ou Coordenação
Económica do Governo da II República de Angola o Dr. AGUINALDO JAIME, como dissemos,
tanto este como outros, foram os juristas económicos de formação e desempenharam estas
funções com brio assinalável39.
Um regime jurídico que desde logo normatize as suas relações típicas de produção bem
como de troca, de consumo, etc., que além disso, sirva as necessidades do funcionamento
garantido dos institutos e quadros jurídicos dentro dos quais as suas Leis económicas
37 Ibidem,
38 Ob. Cit. Pág. 14.
39 Mais recente passagem pelo BNA de um jurista de formação na área das ciências jurídico – económicas
WALTER FILIPE e Advogado de Profissão, demonstra a par das outras áreas do Direito o quão é importante
a formação nesta área do Direito.
40 Cfr. CHORÃO, MÁRIO EMÍLIO F. BIGOTTE, - Introdução ao Estudo do Direito, Lisboa 1984, Pág. 267.
44
Manual de Direito Económico Francisco Mário
possam desenvolver-se. A economia constitui portanto, a concreta realidade sobre a qual o
Direito vai actuar.
Trata-se, pois, de uma realidade já dada ao Direito e que este recebe com a estrutura que
lhe é própria. Cumpre ao Direito acatar as exigências orgânicas e funcionais basilares do
sistema económico que constitui o objecto da sua regulamentação.
O Direito na sua função normadora está em condições de reagir sobre a economia impondo
do seu próprio ponto de vista ou bloquear tendências espontâneas do sistema económico
que possam influenciar o normal funcionamento da economia.
Numa visão resumida, a história económica de origem europeia, que resultou no modo de
produção capitalista vigente, passou por etapas como a do mercantilismo, da fisiocracia,
das corporações de ofício e do liberalismo, fases em que era o Estado, personificado na
figura do Rei que conduzia a economia, ou em que o Estado não era chamado para atender
questões económicas.
Por seu turno, no regime das corporações de ofício (Alemanha, por exemplo), os grupos de
produtores, notadamente urbanos (sapateiros, ferreiros, tecelões) se auto-organizavam,
sem a interferência do Estado.
É oportuno aqui lembrar que o próprio liberalismo teve seu contexto histórico, por ter
surgido como reação ao poder estatal, que não reconhecia direitos individuais. De facto, sob
o ponto de vista da política e das liberdades individuais, os Estados, em conjunto com a
nobreza, concentravam todos os direitos, e quase nada subsistia para a classe emergente
dos comerciantes e industriais.
É bom recordar que o primeiro grande pensador desta época foi ADAM SMITH, autor de “A
Riqueza das Nações”, desenvolveu a ideia de mão-invisível que regula o Mercado, vale dizer,
a ideia de que as forças económicas encontram por si o equilíbrio necessário e a teoria das
vantagens absolutas que recomendava a especialização do trabalho, para que cada nação
obtivesse o máximo de proveito económico. Também merece destaque DAVID RICARDO,
autor de “Princípios de Política Económica e Tributação”, criador das teorias do valor
trabalho e das vantagens compectitivas, base teórica do comércio internacional.
2 – Teoria de Say, - toda oferta geraria sua própria procura, situação em que o pleno
emprego era naturalmente mantido, chamada “Lei de Say”, economista JEAN
BAPTIST SAY; e,
Assim, a teoria que explicava e justificava o novo modo de produção capitalista, também
procurasse defender os direitos políticos e sociais dos seus principais artífices, os
empresários. Porém, até finais do século XIX, o liberalismo serviu para explicar o
funcionamento da economia e prever seus rumos, sem qualquer participação estatal.
Deveras, o modelo liberal havia experimentado crescimento substancial, tornando os
primeiros Países capitalistas nas maiores economias do mundo (inicialmente Inglaterra e
França e posteriormente as regiões da actual Alemanha, a Holanda, o Japão e os Estados
Unidos), chegando ao estágio do capitalismo imperialista.
Grosso modo, os Países se uniram no sentido de erigir princípios e práticas que evitassem
crises internas e conflitos mundiais, criados em volta de alguns problemas da economia.
Por conseguinte, no plano acadêmico, surgiam novas teorias económicas e novas obras que
apontavam os defeitos do Mercado e procuravam corrigi-los pela regulação do Estado43.
42 No final do século XIX, nomes que se tornaram conhecidos e ainda estão presentes na política e na economia
Dentre as obras académicas se destacam a “Teoria geral do emprego, do juro e da moeda”, de JOHN
43
MAYNARD KEYNES e o estudo dos ciclos econômicos de MICHAEL KALECKI, autor da “Teoria dinâmica da
47
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Por seu turno, nos Países menos desenvolvidos, além destas preocupações, surgiram
normas de combate à inflação, produção e de promoção do abastecimento interno, de
substituição de importações, bem como teorias desenvolvimento sustentável e
diversificação da economia.
No plano jurídico, denota-se e evidencia-se que direito privado não era capaz de regular os
novos fenômenos da sociedade, como o crescente desemprego e as crises económicas. A
concepção absoluta do direito da propriedade perdia forças, face à ideia de função social da
propriedade.
A liberdade contratual plena deixava espaço para os contratos dirigidos, cabendo ao Estado
proteger as partes mais fracas das relações, bem como impedir que os contratos surtissem
efeitos danosos de contratos relevantes e dos consumidores.
economia”. Inegável que a obra de KARL MARX também contribuiu, tanto pela implementação do socialismo
na Rússia, quanto pelos reflexos de seus trabalhos no próprio entendimento da sociedade sobre a economia.
48
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Comercial, o Direito Administrativo da Economia, o Direito Financeiro, o Direito
Constitucional, o Direito Fiscal, e não tradicionais, o Direito Económico Penal, ou
simplesmente o Direito Penal Secundário, o Direito do Ambiente e Ordenamento do
Território, o Direito Agrário, o Direito do Consumidor, o Direito de Concorrência, Direito
de Regulação Económica, Direito das Empresas, Direito das Sociedades Comerciais, o
Direito do Trabalho, o Direito Bancário, etc. para resolver a “vexata quaestio” sub judice,
temos antes viajar no tempo do seu surgimento na órbita da academia das ciências jurídico-
económicas, ou ciências jurídico-empresariais como certo sector da doutrina apelida.
Assim sendo, para o surgimento do estudo das questões jurídico - económicas foi devido as
crises económicas e sociais verificadas na Europa a partir do século XIX, que muitos deles,
resultaram na radical mudança política, ou seja, Revolução Política contra o Capitalismo
Liberal e de abolição do poder absoluto das monarquias (onde não havia separação de
poderes) e que esta luta contra os desníveis sociais resultou na proclamação das doutrinas
económicas e do Estado democrático de direito que permitiu a intervenção do Estado no
domínio económico, no plano regulatório e no plano organizatório da economia44.
desenvolvimento ver, PRATA, HELENA, - Lições de Direito Económico, Casa das Ideias. 2008, Pág. 13 e 55.
46 O Direito Económico Administrativo, é aquele que é constituído pelas normas de Direito Administrativo
que regula as formas de intervenção do Estado na Economia, quando actua sob formas administrativa,
dispondo de poderes especiais de autoridade. - FRANCO, SOUSA citado por FERREIRA, EDUARDO PAZ, –
Direito da Economia, Lisboa, AAFDL-2003. Pág. 43.
49
Manual de Direito Económico Francisco Mário
conjunto de sectores da ordem jurídica que versam sobre economia, uma vez que poucos
deixarão de ter algumas implicações nesta matéria47. Pois que, o Direito não é estanque,
dentro do seu escopo final, que é decerto, de ordenação jurídica para cunhagem de um
modelo económico adequado aos anseios do povo angolano no contexto global emanado
na Constituição de 2010; somos em síntese de preferir, à luz das ideias já trilhadas pela
doutrina, o designativo do Direito Económico, daí também inferir-se a sua natureza como
Direito híbrido de dupla natureza com predomínio público, atento a forte intervenção do
Estado na economia e sobre a economia que se realiza e concretiza-se por via do Direito
Administrativo.
Em sede destas duas realidades acima destacadas – o Direito Económico consiste, pois, num
sistema de disposições jurídicas, ou na disciplina que as estuda, elaboradas pelos poderes
públicos, privados e de natureza mista, no âmbito de uma função normativa de
enquadramento global da actividade económica, ordenando-a e regulando-a para garantir
o interesse económico geral48.
É o ramo do direito que disciplina a condução da vida económica do País, tendo como
finalidade o estudo e a harmonização das relações jurídicas entre os entes públicos e os
agentes privados, detentores dos factores de produção, nos limites estabelecidos para a
intervenção do Estado na ordem económica.
Por conseguinte, para concretização desses objectivos, exige do Estado49, uma particular
actuação activa no campo económico, assumindo posições relevantes na dimensão dos três
poderes, nomeadamente:
Mas de todo modo é interessante saber nesta sede, o que é o Direito Económico?
Vários autores tentaram trilhar e dar uma noção com a meritória aos doutrinadores
económicos brasileiros e portugueses que, desde logo, vamos privilegiar e seguir de perto
o somatório das definições por eles desenvolvidos.
Assim sendo, Prof. PAZ FERREIRA - define que, “o Direito da Economia em sentido próprio
constituiria um ramo autónomo que regula, segundo princípios próprios, a ordem
económica e as suas instituições”50.
Por seu turno, Prof. MENEZES CORDEIRO - define o Direito Económico “como sistema
resultante da ordenação de normas e princípios jurídicos, em função da organização e
direcção da economia52.
Para o saudoso Prof. SOUSA FRANCO - o Direito Económico “como o ramo normativo do
Direito que disciplina, segundo princípios específicos e autónomos, a organização e a
actividade económica”54.
Pag.39.
54 Apud, FERREIRA, EDUARDO PAZ, – Direito da Economia, L4isboa AAFDL-2003. Pág. 24.
51
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Há vozes que soaram da outra margem do oceano atlântico, Brasil pelo professor
WASHINGTON PELUSO ALBINO DE SOUSA mobilizou o tecido científico do Direito na
dimensão da teoria do Direito Económico, ao tributar-lhe como um conjunto de normas de
conteúdo econômico que pelo princípio da economicidade assegura a defesa e a harmonia
dos interesses individuais e coletivos, bem como regulamenta a actividade dos respectivos
sujeitos na efectivação da política económica definida na ordem jurídica55.
Assim, para nós, a noção do Direito Económico – deve ser entendida como «um ramo
autónomo (de predominância do Direito Público), constituído por um conjunto de princípios,
normas e regras jurídicas que regulam, segundo regime próprio, a actividade económica dos
agentes económicos através da organização e direcção dos poderes públicos/privados da
economia com vista a tutela do interesse público»58.
Dito isto, vamos em seguida examinar a sua natureza e o objecto do seu estudo.
Nesta perspectiva, tem sido um dilema a classificação do Direito Económico como ramo do
Direito Público ou do Direito Privado de acordo as habituais distinções tradicionais
formulado pelo EMILE ULPIANO no seu Digesto em Roma, porquanto em boa razão, não
desenvolveram na época romana de justiniano o Direito Público. Mas no Direito moderno
denota-se que no Direito Privado há manifestação de um princípio de igualdade dos
55 Cfr. WASHINGTON PELUSO ALBINO DE SOUSA Professor da Faculdade de Direito da UFMG, Pág.4. Apud.
Manual de Direito Econômico – FÁBIO GUIMARÃES BENSOUSSAN/MARCUS DE FREITAS GOUVÊA.
56 Cfr. CARVALHOSA, MODESTO, - Direito Econômico. São Paulo: RT, 1973, Pág. 361. Apud. Manual de Direito
52
Manual de Direito Económico Francisco Mário
sujeitos por via de autonomia da vontade, e, por seu turno, no Direito Público identifica-se
com a realidade da manifestação da Ius Imperi59, por via da legalidade.
Dizer que, com a superação do liberalismo económico por via de intervenção estatal fez
desta um dado fundamental da vida económica, seja ela no sistema económico de modo
coordenado, planificado ou de economia de Mercado mais ou menos puro ou misto, vai
constituindo -a em critérios de diferenciação e unidade do Direito Económico cujo objecto
são as regras jurídicas que disciplinam a intervenção do Estado no domínio económico.
Pelo que, nesta gradação o Direito Económico reduz-se numa concepção restrita de direito
de intervenção do Estado na vida económica.
Todavia, é importante nesta sede afirmar a qualificação do Direito Económico como Direito
misto com predominância do Direito Público, não só pelas finalidades que perseguem as
normas que corporizam, mas também pelos instrumentos ou meios jurídicos em que se
concretizam (expressão de ius imperii)60.
Porquanto que abarca no seio uma amálgama de normas de fonte de produção privatística
e de fonte produção pública, pois, visam proteger o interesse geral das instituições
jurídicas, designadamente: Estado, Personalidade, Família, Propriedade, Posse, Obrigações
e Sucessões.
Ora bem, passemos rapidamente tecer algumas considerações para sua compreensão
jurídica.
O Estado, seja como for a sua acepção, entretanto, como pessoa colectivo soberana de
Direito Público persegue um interesse público, para alcance deste desiderato necessita de
recursos financeiros de uma economia organizada por via de regulação.
Esta teoria também é designada por obrigacionista e define o direito real como o poder que
tem o seu titular de excluir todas as pessoas de qualquer ingerência na coisa, incompatível
com o seu direito. De acordo com esta teoria, existe um vínculo pessoal entre o titular do
direito real e todas as pessoas (sujeito passivo) que têm a obrigação de se abster de violar
ou perturbar o titular do direito (obrigação negativa). Porém, nos direitos de crédito, o
dever de prestar recai sobre um sujeito determinado ou determinável.
59 Cfr. AAVV. – DOS SANTOS, ANTÓNIO CARLOS/GONÇALVES, MARIA EDUARDA/MARQUES, MARIA MANUEL
53
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Entretanto, o homem busca na natureza bens e desencadeia um conjunto de actividades
económicas para satisfazer as necessidades vitais como alimentação, vestuário, habitação
e informação para tal o Estado serve-se do Direito Económico para regular actividade
económica dos agentes económicos na produção, distribuição e consumo de bens e
serviços. (art. 21º e 89º, da CRA). Portanto, tudo isso para assegurar a personalidade
através da economia regulado e organizado conforme a ideia do Direito (Direito
Económico).
Portanto, a regulação da economia pelo Direito visa o interesse geral da sociedade fundada
na família.
O nosso Código Civil não fornece uma definição de direito de propriedade, porém o art.
1305º, do CC, enumera alguns poderes que integram o conteúdo do direito de propriedade.
Refira-se que o direito de propriedade não se esgota nos poderes enumerados no art.
1305º, do CC., pelo que, se conclui que tal enumeração é meramente exemplificativa e não
taxativa.
Além dos poderes de usar e fruir, o titular do direito de propriedade tem o poder de
disposição, que compreende quer o poder de praticar actos jurídicos de alienação ou
oneração da coisa, quer o de realizar actos materiais de transformação, incluindo o de
poder destruir o objecto do seu direito.
A Posse, constitui um direito real pleno económico, ou seja, detenção de uma coisa (art.
1251º a 1301º, do CC), a ideia de posse sugere imediatamente uma situação de poder sobre
uma coisa e, por outro lado, sugere também a existência de uma relação material entre uma
pessoa e uma coisa. No Direito Económico identifica-se com monopólio, pois que o agente
está na posse de uma posição dominante do Mercado que lhe permite manipular ou
inquinar os factores de produção, distribuição e preço nos Mercados a montante e a jusante
que o Direito sanciona nos termos do art. 21º e 89º, da CRA.
Sucessões, sucessão um fenómeno especial de transmissão que, em razão dos seus traços
particulares, por força da Lei, a posição do possuidor falecido e, recebe a sua posse tal qual
ele a tinha dos bens económicos, todavia existem ilustrações assinaláveis como na
economia ambiental, a presente geração tem obrigação de preservar o ambiente para que
as gerações futuras possam viver num ambiente sadio, por outro como se vê, no caso das
Finanças Públicas relativas à Dívida Soberana e Fundo Soberano, dizer em especial que os
Fundos de Poupança Intergeracional são aqueles Fundos desenvolvidos para garantir a
transferência de poupança para as gerações futuras, em Países cuja riqueza é
extremamente dependente da exploração de recursos naturais não-renováveis.
Como escreve o Prof. PAZ FERREIRA, (…) qualquer decisão financeira e económicas, é
possível encontrar uma concepção de justiça em que as gerações podem cooperar entre
si61, mas esta cooperação vaticinada nesta concepção encontra um rosário de dificuldades
evidentes de modo que não é possível se desenvolver a cooperação no sentido recíproco62.
55
Manual de Direito Económico Francisco Mário
é assim que funcionam as coisas na lógica da lei da vida, que novo sucede o velho já o
inverso não é, pois trate-se de uma escolha de quais as necessidades de satisfazer por forma
pública, quer dos meios à utilizar para satisfação tem, necessariamente, reflexos sobre às
gerações futuras, não só porque altera a distribuição dos recursos disponível entre o sector
público e o sector privado, como também pelas modificações que pode determinar no
comportamento dos agentes económicos e que são susceptíveis que esses agentes irão
transmitir aos seus herdeiros64. Ou é uma forma astuciosa de desvio de meios financeiros
e económicos para proveito exclusivo das actuais elites dominantes a custa do sacrifício da
actual geração em transportar a miséria sob pretexto de beneficiar as futuras gerações?65
Dito isto, relativamente o objecto do Estudo do Direito Económico no essencial sem mais
tivergersões tem como propósito de Estudar as formas de manifestação jurídica da relação
que existe entre o fenómeno político e o fenómeno económico na sociedade angolana.
Apesar de ser uma disciplina com identidade própria e autonomia científica, traduz-se na
justaposição ou reconfiguração de sectores de diversas disciplinas tradicionais
conglobadas por razões de afinidade e autonomizações por entendimentos de convivência
prática ou pedagógica66.
Conclusão: O DIREITO ECONÓMICO – funda-se no ramo do Direito Público, que tem por
objecto o estudo das relações entre os entes públicos e os conjuntos privados, na
64 FERREIRA, EDUARDO PAZ. - «Da Divida Pública e da Garantia dos Credores do Estado», Almedina, Coimbra
1995. Pág.71.
65 Pois que é paradoxal, mas é possível como uma gradeza social positiva coberto de virtude humanista, como
uma mãe gostaria sempre ver os seus filhos a viver melhor à custa do seu sacrifício, mesmo que consinta na
lesão grave da sua personalidade como contrapartida o futuro melhor dos seus filhos. É assim que as lutas
revolucionarias perduram anos e sacrificaram gerações inteiras cujo objectivo é ver os filhos na liberdade,
política económica etc. de tal sorte como hoje as gerações presentes tentam preservar à natureza e prevenir
uma gestão prudente de questões ambientais para benefício das futuras gerações da humanidade, ou seja,
para continuidade da vida humana sadia. Mas por vezes o pensamento curva-se numa grandeza social
negativa, de as gerações futuras suportarem sacrifícios sozinhos as despesas já realizadas pelas actuais
gerações que constitui hoje dívidas soberanas dos países da zona euro como Portugal. Como diz o Prof. PAZ
FERREIRA (…) a questão que parece mais interessante é a pergunta que se tem colocado, em torno de saber,
como exemplo paradigmático dos EUA, se a geração actual não deve compensar aqueles que foram
prejudicados por actuações injustas por parte das gerações passadas (…). Comentário da nota nº 33, Pág. 83.
É neste caso vamos dar o exemplo se calhar é mau em recordar, mas como recordar é viver neste tempo da
harmonia e de paz é relembrar o caso histórico: A Alemanha tem uma "dívida histórica" com os judeus, por
causa do Holocausto praticado pelos nazistas na II guerra mundial de 1939 - 1945.
O Brasil tem uma "dívida histórica" com os negros, por causa da escravidão negra que existiu no Brasil até
1888.
A Europa tem uma "dívida histórica" com a África, devido a exploração dos Recursos Naturais e do tráfico da
escravatura e consequentes protectorados europeus do passado na África.
Os norte-americanos tem uma "dívida histórica" com os índios apaches, devido a colonização das terras
desses índios no passado.
- Do mesmo sentido mais estrambólico, meditando num dos seus poemas o seguinte «uma antiga oração, de
muitos conhecidos, diz “ senhor, dá-me coragem para mudar aquilo que pode ser mudado, dá-me humildade,
fortaleza e serenidade para aceitar o que não se pode mudar e dá-me sabedoria para distinguir uma coisa da
outra” assim seja. Quem vive assim, repetindo estes três desejos, encontra o caminho da liberdade e da paz
num mundo sem sabedoria para saber o bom e em que a ganância de possuir justifica tudo.» MAGALHÃES,
VASCO PINTO DE, «Onde há crise, há esperança» 14.Mar. Pág.48.
66 Ibidem. Pág. 13.
56
Manual de Direito Económico Francisco Mário
perspectiva da intervenção do Estado na vida económica nos diversos sistemas económicos
designadamente:
O Direito Económico surge no momento histórico impar da humanidade, por via disso, com
o alargamento das funções do Estado e de certo modo com o desenvolvimento da ciência e
da técnica, levou o desenvolvimento de algumas instituições económicas e a ciência do
Direito adaptar-se a essas novas figuras que a própria sociedade foi criando ao longo dos
anos.
Grosso modo, a interpretação do Direito Económico pode ser efectivada por qualquer
método da hermenêutica jurídica da teoria geral do Direito, designadamente o método
literal, sistemático e teológico.
Ora bem, qualquer sistema económico, diz que é desenvolvido porque o sistema judicial é
eficiente e garante à justiça económica com celeridade requerida, daí ser uma das fontes de
investimento estrangeiro.
57
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Já Escola Europeia (autores ANDRÉ LAUBADÈRÉ da França, VITAL MOREIRA, CABRAL DE
MONCADA, AFONSO VAZ, ANTUNES VARELA, SOUSA FRANCO, EDUARDO PAZ FERREIRA
e FERNANDO ARAÚJO - Portugal e OTTO MAYER, SAVINGNY, BUEHLER - Alemanha )
desenvolveu o método ou modo de actuação do Estado regulador através da intervenção
directa ou indirecta do Estado através do Direito Administrativo no sistema económico
para regular, ou corrigir os desníveis sociais, as falhas do Mercado de bens e serviços e
influenciar os factores de produção, distribuição, comercialização e consumo.
Uma questão que se levante qual é o método adoptado no ordenamento jurídico angolano?
Antes de responder esta “vexata quaestio”, importa convocar o que exprime o legislador
angolano para compreender o quadro do edifício jurídico-legal neste plano. Pois que
desenvolveram alguma doutrina como JOSÉ ARMANDO MORAIS GUERRA, FRANCISCO
QUEIROZ, OVÍDIO PAHULA, HELENA PRATA, FRANCISCO DOMINGOS JOÃO, ANTONIETA
COELHO, LAZARINO POULSON, ELISA RANGEL NUNES, FRANCISCO MÁRIO) que
contribuíram para desenvolvimento do Método do Direito Económico.
Já no segundo momento apesar ser uma das primeiras normas da Constituição Económica
consagra no art. 21º, al. p), da CRA, a eficiência, mas, infelizmente faz pouca menção do
método de eficiência como bandeira da actuação do Estado no domínio económico, ou seja,
não dedica com maior cuidado por pecado da ignorância das matérias de análise económica
do direito.
Podemos assim inferir que a nossa Constituição consagra o método eclético ou misto
(jurídico e económico) com predominância regulatório por via de intervenção (método
Jurídico). Pois que, o método do Direito Económico é o método “analítico substancial “por
empregar análise do fenómeno económico a partir dos factores de produção, distribuição,
comercialização e consumo de bens e serviços do Mercado, ou a inflação, emprego, taxa de
juro e cambio (política económica) para no final alcançar à justiça (jurídico) que é o bem-
estar do homem.
Portanto, como asseveramos (infra), o jurista da actual sociedade global deve interpretar à
Lei e enquadrar os fenómenos económicos sociais para realização do bem-estar do homem,
através de um Direito eficiente ao serviço da humanidade que procura soluções
racionalizáveis em que a tutela da confiança do sistema jurídica é o núcleo natural da
liberdade económica.
58
Manual de Direito Económico Francisco Mário
1.4. Sujeito da Relação Jurídica Económica (jus-económico)
A relação jurídica tem a sua origem, em termos conceptuais no Direito Romano, como na
generalidade de outras ideias comuns ao sistema jurídico ocidental, portanto já os
Romanos falavam no conceito de “vinculum iuris” para exprimir a ideia de uma relação com
relevância para o Direito e que colocavam em conexão duas ou mais pessoas relativamente
à um objecto ou coisa do comércio jurídico67. Entretanto, a construção da relação jurídica
deveu-se essencialmente à escola dos Pandectas dos alemães no pleno século XX, com o
SAVIGNY em frente da doutrina.
Posto isto, para aferirmos o sujeito da relação jurídica económica devemos em primeiro
lugar dar noção da relação jurídica e em seguida os sujeitos da relação jurídica. Porém, as
normas e princípios jurídicos que constituem qualquer ramo de Direito tem sempre como
centro as pessoas (singulares e colectivas), isto é, pessoas colectivas de Direito Público ou
de Direito Privado, como sendo os seus destinatários.
Contudo, para o Direito moderno dos nossos dias nos ordenamentos jurídicos, todo
individuo é pessoa para todos efeitos jurídicos e outras entidades, as pessoas não humanas
também são pessoas jurídicas próprio da construção do Direito, pois que, vêm
reconhecidas a personalidade jurídica nos termos da ex vi lege; (art. 2º, da CRA, art. 66º e
157º, do CC).
Daí resulta uma categoria geral, enquanto qualidade particular imputável à certas
realidades que tem uma vasta utilidade plena no Direito Económico, porque no espaço
jurídico-económico, as pessoas operam como centro de imputação das normas jurídicas
nos termos gerais no plano de desenvolvimento do labor económico, enquanto sujeitos que
asseguram as forças produtivas que constituem os instrumentos das actividades relativas
à produção, distribuição e consumo do Mercado dos bens escassos na sociedade.
Importa sublinhar nesta sede com particular delicadeza sobre a instituição da família e,
dizer desde logo, que, a família no ordenamento jurídico angolano, em sentido jurídico é
uma comunidade social, ou seja, o grupo constituído por duas pessoas (relação
matrimonial), por pais e filhos (relação de parentesco), por sogros, genros cunhados
(relação de afinidade), ou por adoptado e adoptante (relação de adopção), por via disso,
afigura-se uma relação de família conjugal, parental, de afinidade e adoptiva69.
67 Cfr. AAVV, DIOGO, LUÍS DA COSTA, - Noções e Conceitos Fundamentais de Direito, Quid Juris editora 2007,
Pág. 195.
68 As famílias no Direito Económico como instituição social não é sujeito jus económico por lhe escapar aquele
substrato jurídico de personalidade e capacidade jurídicas, ou seja, de ser centro de imputação autónoma de
direitos e obrigações (nosso).
69 Cfr. PINHEIRO, JORGE DUARTE, - O Direito da família Contemporânea 3º edição 2ª reemp. AAFDL 2012,
Pág. 36-37.
59
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Queremos deixar desde já claro que a família não é em si uma pessoa jurídica, colectiva,
portadora de interesses diferentes da comunidade dos seus membros. Quando a Lei alude
“bens da família”, ou de “interesses morais da família” está a referir-se aos bens, ou aos
interesses de todos e de cada um dos seus membros.
O que significa dizer, os interesses económicos da comunidade familiar não podem levar o
sacrifício dos interesses económicos de um, ou mais dos seus membros. Pelo que, não há
sacrifício económicos que sejam quando a pessoa perspectiva-se no grupo e quando se
atende aos interesses económicos de cada um e de todos70.
Todavia, a Lei não confere ao grupo a personalidade jurídica nem personalidade judiciária.
As fórmulas legais de bens económicos e interesses da família, não traduzem o
reconhecimento de um interesse autónomo de uma entidade colectiva, refere-se
necessariamente aos interesses dos próprios membros da família, não está em causa os
interesses económicos individuais ou exclusivos das pessoas singulares que compõem o
grupo.
70 Cfr. AAVV: CAMPOS, DIOGO LEITE DE / CAMPOS, MÓNICA MARTÍNEZ DE. – Texto do Direito da Família –
imprensa da Universidade de Coimbra 2016. Pág.9.
71 Cfr. PINHEIRO, JORGE DUARTE, - O Direito da família Contemporânea 3º edição 2ª reemp. AAFDL 2012,
Pág. 36-37.
72Cfr. PRATA, HELENA, – Lições de Direito Económico, casa das ideias Pág. 138.
73 Cfr. ANDRADE, MANUEL A. DOMINGUES, – Teoria Geral da Relação Jurídica – vol. I, Sujeito e Objecto,
Todo caso, não é muito alheio este conceito quanto à relação jurídica económica, pois que,
o Direito Administrativo mantém uma relação umbilical com o Direito Económico, ou seja,
o Direito Económico era considerado no antanho como Direito Administrativo Económico,
desde logo, portanto, nos termos desse percurso, afigura-se que as duas noções da relação
jurídica administrativa e da teoria da relação jurídica (Direito Civil), têm como
denominadores comuns de qualquer ensaio que evidencia a relação jurídica económica.
Assim sendo, para nós, como mostrou GASTON BECHELARD, - “um conceito científico se
modifica em função do avanço das teorias e que na sua «última» acepção pode chegar a
negar a dialecticamente a sua acepção inicial”75.
74 Cfr. MONCADA, LUÍS CABRAL DE, – Relação Jurídica Administrativa, Coimbra editora 2009, Pág. 13.
75 Cfr. AVV, DUROZOI, G, - Dicionário de Filosofia, dicionário temático, Porto Editora Lda. 2000, Pág. 82-83.
76 Definição nossa.
77 Cfr. PRATA, HELENA, – Pág. 41.
61
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Qualquer modo, as características mais marcantes do Direito Económico são consideradas
as seguintes:
62
Manual de Direito Económico Francisco Mário
dentro dos princípios de Direito Público, mas também no Direito Privado, de
maneira a viabilizar a actividade económica do agente privado80.
80 Cfr. JOÃO, DOMINGOS FRANCISCO, com participação e orientação de QUEIROZ, FRANCISCO, - Lições de
Direito Económico de Angola. Zoe editora 2018, Pág. 97.
81 Ibidem.
82 Cfr. JOÃO, DOMINGOS FRANCISCO, Ob. Cit. Pág. 97.
83 Ibidem.
63
Manual de Direito Económico Francisco Mário
empréstimos, auxílio do Estado, Protecção das Micro, Pequenas e Médias Empresas,
(fomento), ou como diria, promover determinadas actividades económicas pelo
recurso à normas-programáticas, designadas “Lei-quadro, Leis-medidas” como as de
proibição das importação das viaturas com volante a direita, ou usadas há mais de
(3) três anos, determinação das quotas de importação de certos produtos como a
batata rena, franco, cimento e etc., restrições e limitações ao acesso as divisas no
Mercado Cambial pelo sistema financeiro bancário e cambial, “Lei-princípio”,
contratos económicos e etc.
Subordinação, pois as leis económicas são dirigidas a todos que exercem actividade
económica, ainda que de forma não profissional.
Em suma as características das normas de direito económico podem ser apontadas como:
É um direito quadro que enquadra a actividade económica, através de normas que ao serem
cumpridas, se realizam, deixando depois um espaço jurídico para outros ramos de direito.
As normas do Direito Económico são mais concretas do que as dos outros ramos de Direito,
pois criam normas para regular certas situações em determinadas áreas ou sector da
economia, num determinado momento económico, com o fim de realizar o interesse
económico público ou geral.
64
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Tem um amplo poder discricionário, pois certas Leis podem contrariar a Lei da livre
concorrência, se apesar de essa restrição surgirem algumas consequências positivas
exemplo o caso do Auxilio do Estado através do Aval do Estado ou despesa fiscal e de
perdão ou amnistia fiscal, que são poderes discricionários conferidos ao Titular do Poder
Executivo em Angola nos termos da CRA e da Lei84.
É maleável não se muda tudo por Lei ou Decreto-Lei. Há grandes mudanças que são
consequências de conceitos indeterminados. Casos em que o legislador só intervém quando
for possível compreender melhor a realidade em toda a sua extensão. (Ex: Leis que proíbem
a abertura dos comércios ao domingo e feriados).
Pelo que, propendemos pela resposta positiva, atento que o Direito Económico como
instrumento face ao poder político dominante, disciplina a actividade económica no seu
conjunto. Pois que, visa edificar e organizar uma ordem económica única do sistema
jurídico, porquanto, regula esta ordem económica, através da criação de normas, para que
o sistema funcione de uma maneira harmoniosa, garantindo assim o interesse económico
geral.
Mas entretanto, naqueles aspectos que seja necessário a criação de normas jurídicas, para
garantir o bom funcionamento dessas áreas cujo fim é efectivamente, como já dessemos,
repita-se, o bom e harmonioso funcionamento da economia, satisfazendo assim o interesse
económico geral.
84 Vide art. 119 º e 120º da CRA., é caso do Estado através do Decreto Presidencial que concedeu o AVAL de
garantia soberana do crédito mal parado do BESA (Banco Espírito Santo Angola) no valor de Euros: 5,7 mil
milhões.
85 Cfr. JOÃO, DOMINGOS FRANCISCO, com participação e orientação de QUEIROZ, FRANCISCO, - Lições de
O Direito Económico como ciência jurídica que tem vindo autonomizar-se face os ramos de
Direito já existentes como Direito Comercial, certas áreas do Direito Civil, o Direito
Administrativo e o Direito Constitucional, mas sem perder de vista uma relação de
interdisciplinaridade, mas sem descurar, como é natural as dificuldades existentes nas
zonas de fronteira mal definidas no âmbito interno, internacional e recentemente o nível
comunitário. Pois bem, conhece-se largamente as afinidades com o Direito Comercial,
Direito Administrativo, Direito Processual, Direito Penal, Direito das Obrigações, Direitos
Reais, e o Direito Constitucional uma vez que é a Constituição que fixa as balizas da
organização económica86.
A questão da autonomia do Direito Público da Economia tem sido analisado na base dos
recortes que delimitam as suas características específicas atento a sua dupla designação
como Direito e como a Economia.
Ora, autonomia do Direito Económico como ramo do Direito Público é uma questão
complexa e convencional, na medida que surgem dificuldades na noção vaga e imprecisa.
86Cfr. FERREIRA, EDUARDO PAZ, – Direito da Economia, Lisboa AAFDL-2003. Pág. 46.
87 Cfr. MONCADA, LUÍS CABRAL DE, – Direito Económico, Pág. 113.
88 Ob. Cit. Pág. 113.
66
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Mas, fala-se de uma interdisciplinaridade no estudo do Direito Económico que ultrapassa
o campo jurídico, querendo com isto sublinhar-se o especial peso que os temas económicos
assumem no objecto desta disciplina. Por vezes, chega mesmo a ser visto numa óptica
funcionalista, como mero instrumento da economia, portanto essas meias verdades nos
mobiliza para enfatizarmos que é, pois um Direito ao serviço dos ditames económicos, que
apenas vê justificada a sua existência na medida em que cumpre esses objectivos.
O Direito é assim um produto cultural por excelência, surge como uma instância reguladora
dotada de uma racionalidade que não se reduz à pura racionalidade económica. No entanto
essa autonomia é relativa, mas de todo modo, evolução económica e tecnológica influencia
a profundidade do Direito, obrigando-o a um processo de contínua adaptação89.
Daí que se justifica o recurso aos conceitos indeterminados e cláusulas gerais, abdica dos
conceitos indetermináveis, outorga o menor peso do formalismo e conceptualismo jurídico,
e a importância da interpretação sistemática e teleológica (…). Porém, procura-se a
pluralidade de métodos, mostrando a parcialidade das várias “ciências”.
Portanto, o Direito Económico mais do que um ramo de Direito autónomo, é uma diagonal
– uma transversal – que corta as várias normas dos ramos de Direito que regulam a matéria
de dimensão económica92.
As relações entre a Economia e o Direito não são uniformes e tem variado ao longo do
tempo, assim para o pensamento liberal, aliás, que lançou as bases da ciência económica, a
actividade económica é um dado natural, que é o prolongamento das liberdades individuais
e geradoras da riqueza94.
Rege-se por uma lógica própria, totalmente racional e desenvolve-se num meio
institucional próprio designado de Mercado.
Neste sistema económico, à regra jurídica competiria assim favorecer o produto de giro
dos capitais, fornecendo a actividade económica um suporte normativo sistemático e
transparente dando assim a primazia da economia sobre o Direito.
“Inter alia” o pensamento liberal clássico, bem como o pensamento marxismo, a economia
era a rainha (alter-ego) e o direito seu servo obediente95.
68
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Mas, contudo, foi E.U.A no séc. XIX em que o liberalismo aos poucos quebrou-se a confiança
dos Mercados como instrumento da riqueza, dando lugar a disciplina da concorrência, por
ter-se apercebido que o Mercado não podia funcionar de per si.
Por conseguinte, a relação entre a Economia e o Direito inventou-se o Direito com base os
valores de justiça, e, estranhos a actividade económica que vai reagir sobre a Economia
para tutelar os interesses públicos por via de intervenção do Estado na economia ou sobre
a economia (Regulação Social)96.
b)Actos Normativos
c)Regulamentos
96 Cfr. AZEVEDO, MARIA EDUARDO DE, – Temas de Direito de Economia, Almedina 2013, Pág. 44.
97 Cfr. AAVV. – DOS SANTOS, ANTÓNIO CARLOS/GONÇALVES, MARIA EDUARDA/MARQUES, MARIA MANUEL
Artigo 13º
(Direito Internacional)
1. O direito internacional geral ou comum faz parte integrante da ordem jurídica angolana.
Por outro lado confluem para efeitos das fontes do Direito Económico no plano
internacional a Lei nº 4/011, de 14 de Janeiro, Lei sobre os Tratados Internacionais ex.:
GATT, SADC, OMA, OMC etc99.
98 O Tratado de METHUEN, também referido como Tratado dos Panos e Vinhos, foi um tratado assinado entre
1- Convenção (Tratado) Internacional - é um acordo resultante da convergência das vontades de dois ou mais
sujeitos do direito internacional, traduzida num documento escrito, com o intuito de produzir efeitos
jurídicos no plano internacional. Esta é a fonte cujo maior uso se tem feito no campo internacional nos dias
que correm, tendo todos os seus aspectos e minúcias abordados em qualquer Manual de Direito Público
Internacional, sejam estas gerais ou especiais, desde que observem as normas fixadas pelos Estados em
conflito. Devem ser registados na ONU para que tenham validade internacional.
2- Costume Internacional - é uma prática reiterada dos sujeitos no Direito Internacional, geralmente aceite
como sendo o Direito. É a fonte de maior uso pela comunidade internacional até à Segunda Guerra Mundial,
e resulta da prova de prática geral entre Estados que possa ser aceite como Direito. O costume serve como
norma jurídica para fixar algumas soluções, mas nos dias de hoje, perde terreno face à ascensão da utilização
preferencial dos Tratados pela comunidade internacional.
3- Princípios Gerais do Direito - são aqueles aceites por todos os ordenamentos jurídicos, como por exemplo:
70
Manual de Direito Económico Francisco Mário
1.9.1.3. Fontes não Tradicionais
Em consequência da evolução que se verifica no mundo actual tende ganhar uma
importância crescente no Direito da Economia, pois a regulação da actividade económica
tem origem pública, particular ou mista ex.: Acordos de concertação económica.
- Os Usos e Costumes100 - os usos e costumes são fontes mediatas desde que não estejam
em oposição com a ordem económica.
a boa-fé, respeito à coisa julgada, principio do direito adquirido e do “pacta sunt servanda” (“princípio da força
obrigatória que abrange os contratos firmados entre duas ou mais partes. Consiste na ideia de que aquilo que
está estabelecido no contrato e assinado pelas partes deve ser cumprido. Esta é uma expressão em latim e
significa "pactos devem ser respeitados" ou "acordos devem ser mantidos", em português.
O princípio-base do “pacta sunt servanda” diz que aquilo que está escrito se torna lei entre as partes que
assinaram tal documento. Desta forma, não se pode obrigar alguém a cumprir um contrato do qual não é
signatário.
O “pacta sunt Servanda é também princípio-base do Direito Civil e Direito Internacional. Esta condição garante
a segurança jurídica e a autonomia das partes ao firmarem tal contrato”).
Os princípios gerais do direito vigoram dos sistemas jurídicos dos Estados, mesmo que seja apenas um
número restrito de países a adoptar, para que ela seja possível de gerar lei.
Encontramos ainda outras fontes tidas como secundárias, mas também consideradas fontes geradores de
direito internacional. Referimo-nos à jurisprudência, e, menos consensual, a doutrina formada por reputados
especialistas em DIP, de determinados países, sobretudo de língua inglesa.
O Tribunal Internacional de Justiça, quando há conflitos de interpretação de normas entre Estados, pode
decidir “ex aequo et bono”, ou seja, se entende justo pela comunidade internacional caso as partes concordem
em levar o caso à sua jurisdição, e não se encontre em nenhuma convenção a solução que resolva a questão.
100 O costume e os usos económicos são fontes de Direito Económica na medida em que impera ainda a
tradição africana angolana com assento constitucional art. 7º e 223º, da CRA, art. 348º, do CC., todavia, os
usos no ordenamento jurídico económico angolano pode-se observar com alguma frequência nas práticas do
comércio como nos padrões de medida de peso, de volume, capacidade e de cumprimento – porquanto os
comerciantes usam os recipientes como canecas ou “ganja”, “Eholo”, “Omacuila” ou Npaquelo, “Tchibala” ou
Oshimbale (na língua nacional bantu da região sul de Angola) balde ou recipientes feitos de madeira para
medir a quantidade de produtos tais como milho, batata, massango, massambala, jinguba, tomate, sal, açúcar,
etc., bem como para medir a capacidade de líquidos, ainda para medir o cumprimento dos terrenos ou tecidos
de pano, marcam passos dos pés para determinar a demarcação das léguas dos terrenos das lavras e dos
quimbos, por outro a compra e venda do gado bovino não é feito mediante a pesagem dos animais, mas sim
determina-se o preço virtualmente de acordo a convicção de usos e costumes do Mercado, pois que
desconhecem os padrões convencionais modernos de origem europeia a sua escrita do alfabeto fenício.
71
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Entretanto estes usos e costumes tradicionais de nações dos Reinos do Nhanecas, Ambós e da Comunidade
dos Ovahelelos do Tate Mussungo Bitoto (então vassalo ou protectorado do Reino dos Nhanecas do Jau-
Mpata), influenciou a economia angolana, precisamente a economia informal, o preço da corrida de taxa (sem
taxímetro) a venda de frutas e hortícolas (sem balança), pois neste Mercado não usam as medidas
convencionais nas transacções que acabamos a referenciar. Daí ser considerado os usos e costumes como
fontes do Direito Económico no actual contexto.
72
Manual de Direito Económico Francisco Mário
CAPÍTULO II
2. CONSTITUIÇÃO ECONÓMICA
Porém, a ideia de Constituição Económica tem uma origem considerada como recente
tributado pela doutrina alemã, confundindo-se praticamente com a origem do Direito
Económico e ecos a preocupação demonstrada pela Constituição de WEIMAR (de 1919)102,
101Cfr. NOVAIS, REIS JORGE – Em Defesa do Tribunal Constitucional, Almedina editora, 2014, Pág. 26.
102 A estrutura da Constituição de WEIMAR é claramente dualista: a primeira parte tem por objectivo a
organização do Estado, enquanto a segunda parte apresenta a declaração dos direitos e deveres
fundamentais, acrescentando às clássicas liberdades individuais os novos direitos de conteúdo social.
Essa estrutura dualista não teria minimamente chocado os juristas de formação conservadora, caso a segunda
parte da Constituição de WEIMAR se tivesse limitado à clássica declaração de direitos e garantias individuais.
Estes, com efeito, são instrumentos de defesa contra o Estado, delimitações do campo bem demarcado da
liberdade individual, que os Poderes Públicos não estavam autorizados a invadir. Os direitos sociais, ao
contrário, têm por objecto não uma abstenção, mas uma actividade positiva do Estado, pois o direito à
educação, à saúde, ao trabalho, à previdência social e outros do mesmo género só se realizam por meio de
políticas públicas, isto é, programas de acção governamental. Aqui, são grupos sociais inteiros, e não apenas
indivíduos, que passam a exigir dos Poderes Públicos uma orientação determinada na política de
investimentos e de distribuição de bens; o que implica uma intervenção estatal no livre jogo do mercado uma
redistribuirão de renda pela via tributária.
Essa orientação marcadamente social e não individualista aparece até mesmo nas disposições que o
constituinte classificou como se referindo a pessoas individuais. Assim é que o art. 113º, de modo pioneiro,
atribuiu a grupos sociais de expressão não alemã o direito de conservarem o seu idioma, mesmo em processos
judiciais, ou em suas relações com a Administração Pública. Marcou-se, desta forma, a necessária distinção
entre diferenças e desigualdades. As diferenças são biológicas ou culturais, e não implicam a superioridade
de alguns em relação a outros. As desigualdades, ao contrário, são criações arbitrárias, que estabelecem uma
relação de inferioridade ou superioridade de pessoas ou grupos em relação a outros. Assim, enquanto as
desigualdades devem ser rigorosamente prescritas, em razão do princípio da fisionomia, as diferenças devem
ser respeitadas ou protegidas, conforme signifiquem uma deficiência natural ou de uma riqueza cultural.
Mas foi, sem dúvida, pelo conjunto das disposições sobre a educação pública e o direito de trabalho que a
Constituição de WEIMAR organizou as bases da democracia social.
A secção sobre a vida económica abre-se com uma disposição de princípio, que estabelece como limite à
liberdade de mercado a preservação de um nível de existência conforme à dignidade humana (art. 151º).
A função social da propriedade foi marcada por uma fórmula que se tornou célebre: “a propriedade obriga”
(art. 153º, al. a). O Projecto para a Constituição foi redigido por HUGO PREUSS, discípulo do historiador do
direito e teórico do antigo comunitarismo germânico, OTTO V. GIERKE. Desde a sua concepção, portanto, a
Constituição de WEIMAR se estruturava contraditoriamente, procurando conciliar ideias pré-medievais com
exigências socialistas ou liberais-capitalistas da civilização industrial.
A Constituição de WEIMAR e o Estado Social - A Constituição de WEIMAR formulou alguns dispositivos em
relação à ordem económica e social em texto por si só esclarecedor. Se ela reconhece a propriedade como tal,
por um lado, por outro diz no artigo 153º, que a propriedade impõe obrigações. Seu uso deve estar a serviço
73
Manual de Direito Económico Francisco Mário
com certa antecipação, a Constituição Mexicana (1917) e a Lei Fundamental Russa (de
1918), perante as questões económicas e sociais103, que de certo modo iniciaram a
consagração explicita de normas e princípios sobre matérias económicas e sociais,
quebrando com aquela tradição do modelo seguido pelas constituições politicas e, por
conseguinte, obviando o seu declínio consubstanciado no abandono da matriz do Estado
Liberal puro, abstencionista quanto à coisa “económica”, para salvaguardar a legitimação
dos poderes do Estado ao intervir na vida económica104.
Neste sentido, segundo o Prof. EDUARDO PAZ FERREIRA, a Constituição Económica surge
como uma consequência (ou instrumento) da passagem do Estado Liberal Clássico para o
Estado Intervencionista105. Hoje em dia podemos verificar que todos sistemas económicos
tem a Constituição Económica.
do mais alto interesse comum. Quanto à propriedade da terra, o artigo 155º diz que o Reich (este nome foi
mantido!) será responsável pela inspecção do aproveitamento do solo, visando a coibição de abusos e a
garantia de que cada alemão tenha uma habitação saudável e que as famílias tenham um pedaço de terra
suficiente para a exploração económica de acordo com suas necessidades. O texto constitucional weimariano
abre, inclusive, a possibilidade de expropriação ao bem do interesse comum e sob certas condições tornando
a propriedade colectiva (artigo 156º).
Instalada em 6 de Fevereiro de 1919, na cidade de WEIMAR a assembleia nacional constituinte encerrou seus
trabalhos em 31 de Julho seguinte, quando foi aprovada a nova Constituição por 272 votos contra 75 e várias
abstenções. Pouco antes, porém, em 9 de Julho, a assembleia havia ratificado o tratado de Versalhes, que
impôs à Alemanha indemnizações de guerra em montante desproporcional e insuportável. Como advertiu
KEYNES, as potências vencedoras criavam com isso as condições predisponentes de um futuro colapso
financeiro da República Alemã, tornando impossível a sua normal integração no concerto europeu do pós-
guerra. O factor desencadeante da bancarrota adveio dez anos após, com o colapso da Bolsa de Nova York e a
grande depressão mundial que se lhe seguiu. Abria-se, assim, o palco para a entrada em cena da barbárie
nazista, que destruiu a República de WEIMAR em poucas semanas, no início de 1933.
Importância histórica. Apesar das fraquezas e ambiguidades assinaladas, e malgrado sua breve vigência, a
Constituição de WEIMAR exerceu decisiva influência sobre a evolução das instituições políticas em todo o
Ocidente. O Estado da democracia social, cujas linhas-mestras já haviam sido traçadas pela Constituição
mexicana de 1917, adquiriu na Alemanha de 1919 uma estrutura mais elaborada, que veio a ser retomada em
vários países após o trágico interregno Nazi-Fascista e a 2ª Guerra Mundial DE 1939-1945. A democracia
social representou efectivamente, até o final do século XX, a melhor defesa da dignidade humana, ao
complementar os direitos civis e políticos - que o sistema comunista negava - com os direitos económicos e
sociais, ignorados pelo liberal-capitalismo. De certa forma, os dois grandes pactos internacionais de direitos
humanos, votados pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 1966, foram o desfecho do processo de
institucionalização da democracia social, iniciado por aquelas duas Constituições no início do século.
Mas pergunta-se por vezes quem foi WEIMAR?
R/WEIMAR, não é uma pessoa física, é uma pessoa jurídica colectiva territorial germânica, ou seja, foi e é uma,
pequena e pacata cidade clássica germânica de intelectuais próximas de Gotha, de Erfurt e de Leipizig, mas
longe de Berlim, onde se realizou Assembleia Constituinte da Constituição de 1919, conhecida Como
Constituição de WEIMAR o jeito de enaltecer a cidade.
103 Apud, FERREIRA, EDUARDO PAZ, – Direito da Economia, Pág. 57; MENEZES, CORDEIRO – Direito da
Economia.
104 Mas desenvolvimento ver também JOÃO, DOMINGOS FRANCISCO, -Temas Essenciais do Direito da
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Manual de Direito Económico Francisco Mário
princípios que regulam a relação entre a economia e o Estado e o quadro geral em que se
desenvolvem as actividades económicas de sujeitos de Direito Público e Privado106.
Para HELENA PRATA, a Constituição Económica pode ser definida como um conjunto de
princípios, critérios, valores e regras fundamentais que presidem a vida económico e
social108.
Pelo seu turno, OVÍDIO PAHULA, defende que o “ a Constituição Económica é o conjunto de
bases fundamentais da ordem jurídica da economia onde se define as normas e princípios
constitucionais atinentes aos direitos fundamentais de índole económico, (…)109.
Todavia, a Constituição Económica é uma parte da Constituição Política e o seu objecto não
se confunde com a ordenação total, global e acabada da sociedade. Porque a Constituição
Económica, não se pode separar da democracia nem das exigências de um Estado de
Direito. Por conseguinte a Constituição Económica é, repete-se, no entanto, um conceito
central desde a Constituição de WEIMAR (Alemã) em qualquer estudo do Direito
Económico…110.
Por conseguinte, vincula-se aos poderes do Estado, porque o soberano é Estado cuja
soberania reside no povo como plaina aquele dispositivo normativo constitucional “ex vi
lege”, art. 6º, da CRA, e não ordenamento económico que constitui um conjunto de Leis e
instituições jurídicas mutáveis.
Entretanto, o Estado é imutável em regra, salvo por uma questão que se prende com
revolução, golpe de Estado, invasão ou ocupação por forças militares estrangeiras que
possam alterar a forma do Estado e consequentemente a sua economia. Daí, é mister
75
Manual de Direito Económico Francisco Mário
entretanto distinguir, o conceito ou expressão de Constituição Económica e a Ordem
Económica.
Importa aquilatar alguns conceitos de mote jurídico económico para substanciar o nosso
estudo nesta sede da Constituição Económica que por vezes esses conceitos tem sido
utilizados indevidamente mesmos pelos académicos, assim sendo elencamos a seguir:
ORDEM ECONÓMICA - antes de deferir uma noção de ordem económica vamos saber o que
é a ordem? Ordem – etimologicamente como disposição metódica dos componentes de um
conjunto. Entretanto, a ordem económica pode ser definida como um conjunto de normas,
ou instituições jurídicas que tem por objecto as relações económicas111.
Portanto, podemos concluir que a Constituição Económica Formal – pode ser lida como um
conjunto de normas jurídicas contidas no texto da Constituição Política que versam sobre
a matéria económica113.
a) Explicitas
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Manual de Direito Económico Francisco Mário
b) Implícitas
São aquelas que, embora não elenquem no texto legal (Constituição) duma forma aberta e
clara a ordem jurídica da economia, o seu conteúdo encerra sempre, ainda de forma oculta
(um sinal, luz) repete-se, ainda de forma oculta a ordem jurídica económica está sempre
em consonância com a Constituição Política e Económica116.
Consiste na livre Empresa e do ponto de vista jurídico – económico pode ser identificado
com a existência de instituições jurídico-económicas típicas, tais como: Mercado, Empresa
e o Capital, Iniciativa e Propriedade Privada, também e identifica-se com a produção
dinâmica fundado numa técnica muito avançada, bem como o lucro e o ganho sendo como
o seu escopo fundamental no quadro das actividades económicas118.
116 O exemplo flagrante as Constituições liberais do século. XIX ver PAHULA, OVÍDIO. Pág. 33.
117 O Capitalismo é um sistema que integra, como essencial padrão cultural, científica e tecnológica que
corresponde um elevado índice de civilização, e a um tipo de civilização que busca o progresso constante, que
se radica no espírito de competição ou concorrência, o dinamismo e a inovação constante da economia, isto
é, busca incessante de novos produtos, novos mecanismos e novas técnicas. Entretanto, evolução histórica
permite distinguir fases ou tipos ou formas principais no sistema capitalista, designadamente:
- Capitalismo nascente, ou pré-capitalismo, ou capitalismo comercial e financeiro que nasceu na economia
urbana da europa no século XV-XIX, actividade financeiro de moeda e crédito vai se destacar e
institucionalização dos bancos e bolsa de valores.
- Capitalismo industrial – deu-se na Inglaterra e norte da América na XVIII (revolução industrial) na sua
primeira fase a maquinofactura que vai substituir a manufactura na sua segunda fase do capitalismo
industrial acorre no século XX, com utilização tecnológico mais sofisticado a descoberta do computador.
- Capitalismo de Maturidade – capitalismo tardio, social ou amadurecido, (capitalismo guiado) que vai
consistir na intervenção do Estado na economia para superar os desníveis ideológico, desemprego, saúde
segurança social e bem-estar. Mais desenvolvimento ver o prof. FRANCO, ANTÓNIO SOUSA, - Noções de
Direito da Economia, vol. I, AAFDL, 1982-1983, Pág. 118-120.
118 Ob. Cit. Pág. 35.
119Cfr. FRANCO, ANTÓNIO SOUSA, – Direito da Economia. Pág. 122.
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Manual de Direito Económico Francisco Mário
b) Constituição Económica Liberal
São aquelas que caracterizam com o intervencionalismo do Estado nos vários domínios da
Economia na defesa do interesse público.
120 Ibidem.
121 Ibidem. 265.
122 Ibidem. Pág. 269.
123 Em conformidade com a rectificação nº 1/14, sobre o Decreto Legislativo Presidencial nº 10/13, de 22 de
Novembro publicado no Diário da República nº 225, I Série que aprovou a “Pauta Aduaneira dos Direitos de
Importação e Exportação” que vai regular a cobrança do imposto de consumo na importação.
Mas contudo, segundo o pensamento do Dr. DIGÉNESES DE OLIVEIRA, entende que este documento veio para
proteger a indústria nacional da concorrência externa, e aponta algumas vantagens e desvantagens:
a) Desvantagens
- Aumento dos preços.
- Especulação dos preços.
- A procura de bens e serviço no Mercado Informal.
- Aumento de produtos sem qualidade de produção e fabrico (pirateados ou contrabandeados).
- Aumento de situações que comprometa à saúde e a integridade pública do Consumidor.
- Outras.
b) Vantagens
- Protecção da Industria Nacional.
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Manual de Direito Económico Francisco Mário
identificado como um dirigismo administrativo, porque se realiza através do Direito
Administrativo da Economia.
Portanto, a nova pauta aduaneira apresenta isenções de alguns produtos como o arroz, óleo, massa etc.. Está
medida é tomada para que certos produtos (básicos) cheguem às mãos do Consumidor final a preços baixos
(cesta básica). É necessário que esses preços estejam fiscalizados conforme estabelece o Decreto Presidencial
nº 206/11, de 29 de Julho que aprova as “Bases Gerais Para Organização do Sistema Nacional de Preços”,
respeitando ainda outros pressupostos inerentes nesta Lei de forma estancarmos a especulação dos preços
destes bens. Associação Angolana dos Direitos do Consumidor (AADIC), Site: www.aadic.org. consultado em
28 de Novembro de 2014.
124 As Empesas Públicas (E.P.) regem no seu funcionamento pelo Estatuto das Empresas Públicas nº 2/2013,
de 3 de Setembro, Lei de Bases do Sector Empresarial Público, e de algum modo pela Lei nº 1/04, de 13 de
Fevereiro, Lei das Sociedades Comerciais.
Por conseguinte, os trabalhadores vinculadas as empresas públicas (E.P), regem-se pela disciplina laboral
prevista na Lei nº 7/2015, de 7 de Junho e diferentemente os funcionários e agentes administrativos
vinculados à Administração Pública, regem pela disciplina laboral do Estatuto disciplinar dos funcionários
públicos, Decreto nº 33/91, de 26 de Julho.
125 Programa de Aquisição dos Produtos Agro-pecuários (PAPAGRO).
126 Cfr. PAHULA, OVÍDIO, – Pág. 35-36.
127 As experiencias históricas de socialismo se apresentam em três fluxos principais – Doutrinas socialista do
séc. XVI – XIX Socialismo utópico de TOMÁS MORE; Socialismo tecnocrático de SAINT-SIMON; o socialismo
cooperativo de ROBERT OWEN e de FOURIER, o socialismo de PROUDHON; o socialismo catedrático Alemão;
o socialismo científico de KARL MARX - Alemão) Por outro (socialismo revolucionário, igualitário colectivista,
nacionalista, e comunista). FRANCO, ANTÓNIO SOUSA, – Direito da Economia. Pág. 125 e ss.
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Manual de Direito Económico Francisco Mário
e) Constituição Económica Mista
São aquelas que consagram no seu texto, o princípio de Estado Democrático de Direito
(exemplo ilustrativo o art. 2º, da CRA) como regime político.
b) Autoritárias
São aquelas em que o sistema económico combina com o regime político totalitário da
economia, é pois o monopólio do regime político no poder e caracterizado pela inexistência
de direitos fundamentais económicos sociais e culturais128.
128 Regimes totalitários vigorou em Portugal antes 25 de Abril e nos demais Países como Coreia do Norte e
Cuba.
129 Ob. Cit. Pág. 37.
130 Ob. Cit. Pág. 38.
131 Vide Art. 1302º, do CC.
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Manual de Direito Económico Francisco Mário
2.2. Função da Constituição Económica
Podemos assegurar que a Constituição Económica desempenha dentre outras funções que
decorrem do seu objecto e natureza ou dimensão das respectivas normas e princípios
jurídicos de que deve relevar, em primazia a natureza constitucional dos mesmos e comum
a todos os objectivos específicos de que se constitui, assim Constituição Económica
desempenha as seguintes funções:
Entretanto, a constituição económica desempenha uma função que não deixa reflectir
certas dimensões preceptivas dirigidas aos destinatários das respectivas normas,
“máxime”- ao Legislador, os Tribunais e à Administração Pública que lhes limita as suas
acções em termos de eficácia vinculativa e do princípio da proporcionalidade132.
De todo modo como nota conclusiva deixamos expresso o traço de que no geral no Estado
democrático de Direito as constituições económicas desempenham as seguintes funções:
Delimitação dos poderes do Estado, das entidades menores e dos grupos sociais no domínio
económico;
132 Cfr. Com mais desenvolvimento, JOÃO, DOMINGOS FRANCISCO, - Temas Essenciais do Direito da Economia
Angolana, escolar editora 2014, Pág. 45.
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Manual de Direito Económico Francisco Mário
Definição dos elementos jurídicos do sistema económico e do regime económico, bem como
dos princípios gerais da ordem jurídica económica;
Formulação de tarefas económicas gerais do Estado e de critérios jurídicos para selecção dos
objectivos da política económica;
- Segundo Prof. SOUSA FRANCO, o âmbito da Constituição Económica, deverá quanto muito,
ser delimitado com o recurso a critérios económicos, isto é, em função do sistema
económico das instituições ou de outras realidades subjacentes, onde os factores
económicos teriam um papel determinante;
- Para Prof. JORGE MIRANDA, sustenta que a Constituição Económica surge na relação
dialéctica que existe entre a norma constitucional e a realidade económica em jeito de
síntese das duas primeiras posições e que nós demos nota como posição adoptada, basta
recordarmos a relação entre o direito e economia para curar a “vexata quaestio”.
Ressaltar que nesta relação umbilical do Direito e da Economia, o Direito Económico não
vai se ocupar de todas matérias do tecido patrimonial, apenas aquelas questões atinentes
a regulação e supervisão económica em função da ordenação e direcção económica que se
revelem fundamentais em termos jurídico-económicos, pois que o âmbito da Constituição
Económica radica no essencial do Direito Económico e nos seus princípios gerais.
Segundo JOÃO PACHECO AMORIM, citando Prof. PAZ FERREIRA, o âmbito ou conteúdo e
sentido da Constituição Económica, situa-se em dois modelos económicos que podem ser
normativizados por uma Constituição, e que são designados de modelo de direcção central
e planificada e modelo de economia livre ou de Mercado133.
133 Apud, AMORIM, JOÃO PACHECO, - Direito Administrativo da Economia, Almedina 2014, Pág.100-101.
134 Pois que, podem combinar as seguintes opções:
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Manual de Direito Económico Francisco Mário
insular sistema ao respeito dos princípios estruturantes da CRA, designadamente: o
Princípio da Democracia Económica e da Iniciativa Privada e, do Estado Intervencionista,
Regulador e de Justiça Social.
Todavia este tema foi doutamente desenvolvido com brio assinalável pelo Mestre da escola
do Lubango Prof. OVIDIO PAHULA, que deu balizas antes não referencias à evolução da
Constituição Económica de Angola depois da independência.
Entretanto, vamos trilhar este caminho e dar nota nesta tese do ilustre Prof. do Lubango e
projectarmos uma nova divisão sobre as épocas históricas da evolução do
constitucionalismo económico angolano.
Regras Consuetudinárias
Tratados Internacionais
Este princípio aflora a base económica socializante e embora afirme nominativamente, “ex
professo”, o socialismo, apenas o faz em modelos literalmente eufemísticos de metas de
inspiração socializante136.
136 Cfr. GUERRA, JOSÉ ARMANDO MORAIS – Direito da Economia Angolana. Pág. 91 e ss.
137 Vide in Lei Constitucional Angolana de 11 de Novembro de 1975 (artigos 5º, 8º, 9º, 10º, 11º, 12º, 14º, 17º,
e 18º).
138 Cfr. FRANCO, SOUSA – Noções de Direito da Economia – 1º Volume, reimpressão. Pág. 133 e ss.
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Manual de Direito Económico Francisco Mário
1- Subordinação do Poder Económico ao Poder Político (art. 3º, 4º e 89º, da CRA);
12- Limites Materiais, Temporais e Circunstanciais (art. 233º, 235º, 236º e 237º, da
CRA).
139Cfr. GUERRA, JOSÉ ARMANDO MORAIS, - Direito da Economia Angolana, edição ESCHER, 1994, Pág. 90.
140 Cfr. PAHULA OVÍDEO, - Evolução da Constituição Económica Angolana, casa das ideias editora 2009,
Pág.97
- 1976 (Lei nº 71/76, de 11 de Novembro),
- 1977 (Lei nº 13/77, de 7 de Agosto),
- 1978 (Lei constitucional revista de 7 de Fevereiro de 1978),
- 1979 (Lei nº 1/79, de Janeiro),
- 1980 (Lei constitucional revista de 23 de Setembro de 1980),
- 1986 (Lei nº 1/86, de 1 de Fevereiro),
- 1987 (Lei nº 2/87, de 31 de Janeiro),
- 1991 (Lei nº 12/ 91, de 6 de Maio),
- 1992 (Lei nº 23/92, de 16 Setembro)
86
Manual de Direito Económico Francisco Mário
As revisões constitucionais que a Lei fundamental sofreu no período compreendido entre
1975-1991 não mudaram, no essencial, a Constituição Económica, porquanto a revisão de
7 de Fevereiro de 1978, por exemplo, só veio reforçar os comandos jurídicos económicos
da economia planificada e a forte intervenção do Estado na economia “opção socialista -
marxista” decidida pelo Iº Congresso do MPLA - Partido do Trabalho do então partido-
Estado, ou seja, partido único141.
A Lei Constitucional angolana na sua versão inicial, ainda que de modo implícito, aflorava
no seu conteúdo o princípio da independência político-económico erigido pelos pilares
jurídicos que afastam as relações económicas coloniais, neocoloniais e imperialistas, onde
o bem-estar social do povo explorado durante a época colonial constituía uma prioridade
absoluta, sem perder de vista a erradicação total da exploração do homem pelo homem142.
141 Cfr. Artigos 2º e 9º, da Lei Constitucional revista de 7 de Fevereiro de 1978, com alteração completa da
redacção do artigo 9º e com a consagração hoc sensu do centralismo democrático e da propriedade socialista
dos meios de produção.
142 Vide. Artigo 1º, da Lei constitucional de 11 de Novembro de 1975, cuja redacção completa é a seguinte:
“A República Popular de Angola é um Estado soberano, independente e democrático, cujo primeiro objectivo é a
total libertação do povo Angolano dos vestígios do colonialismo e da dominação e agressão do imperialismo e a
construção dum país próspero e democrático, completamente livre de qualquer forma de exploração do homem”.
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Manual de Direito Económico Francisco Mário
CAPÍTULO III
3.4.- Livre acesso e reservas Públicas (art. 38º, 93º e 95º, da CRA);
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Manual de Direito Económico Francisco Mário
CAPÍTULO IV
Comummente entende-se na génese jurídica que o princípio pode ser definido como (…)
regra que se funda num juízo de valor e que constitui um modelo para acção (…)143/144.
Mas para RONALD DWORKIN, o termo princípio diz respeito à um tipo de norma cuja
observação é um requisito de justiça ou equidade, ou de alguma outra dimensão moral. Ao
fundir pretensões jurídicas e morais, o texto da norma faz com que a validade de um direito
dependa não de uma determinada regra positiva, mas de complexas questões de ordem
moral e da necessidade de um direito sensível a estas questões, por natureza não redutíveis
à regra positiva145.
143 Vide in Universal, Dicionário integral de língua portuguesa, textos editora 2010, 3ª edição Pág. 1210.
144 Há que se estabelecer as diferenças entre princípios e valores. Desta forma, os valores são conceitos
axiológicos, não contêm uma ordem ou uma proibição e sim uma valoração. A valoração pode ser de tipo
comparativo de dois objectos se diz que um tem maior valor que outro, expressando-se juízos de preferência
ou equivalência. Neste caso, o modo de interpretar o valor é, então, mediante juízo comparativo - juízo de
ponderação – já que se trata de estabelecer uma medida, equilíbrio. Em outros casos, podem ser
classificatórios.
Os princípios jurídicos estabelecem comandos, proibições e permissões, o que não ocorre com os valores,
sendo que estes também enfrentam um juízo de ponderação, destinado a estabelecer o “seu peso” no caso
concreto. Cfr. WORKIN, RONALD. O império do direito. Tradução de JEFFERSON LUIZ CAMARGO; revisão
técnica de Gildo Sá Leitão Rios. São Paulo: Martins Fontes, 2003, Pág. 20-25.
145 Cfr. PRATA, HELENA, - Lições de Direito Económico, Pág. 32. No mesmo sentido, RONALD DWORKIN
estabeleceu uma diferença entre as normas e os princípios, exemplificando com um facto famoso, em que
ELMER assassinou o avô por envenenamento, e sabia que o testamento deixava-o com a maior parte da
herança, mas desconfiava que o velho pudesse alterar o testamento pelo facto de casar-se. O crime foi
descoberto e ELMER foi declarado culpado e condenado a alguns anos de prisão. Estaria ele habilitado a
receber a herança, mesmo tendo assassinado o avô? A Lei de sucessões de Nova York não afirmava nada
explicitamente sobre uma pessoa citada em um testamento poderia ou não herdar, segundo seus termos se
houvesse assassinado o testador. O advogado de ELMER argumentou que, por não violar nenhumas das
cláusulas explícitas na Lei, o testamento era válido, e que ELMER, por ter sido citado num testamento válido,
tinha direito à herança. Declarou que, se o tribunal se pronunciasse a favor das filhas, estaria alterando o
89
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Já VEZIO CRISAFULLI, entende que o princípio é, toda norma jurídica, considerada como
determinante de uma ou de muitas outras subordinadas, que a pressupõem,
desenvolvendo e especificando ulteriormente o preceito em direcções mais particulares
(menos gerais), das quais determinam e, portanto, resumem, potencialmente, o seu
conteúdo, sejam (…) estas efectivamente postas, sejam, ao contrário, apenas dedutíveis do
respectivo princípio geral que as contêm146.
testamento e substituindo o direito por suas próprias convicções morais. Todos os juízes concordavam que
suas decisões deveriam ser tomadas de acordo com o direito. Nenhum deles dizia que, naquele caso, a Lei
deveria ser alterada no interesse da justiça. Surgiram, assim, muitas divergências. No caso de ELMER, a Lei
não era vaga, nem ambígua. Os juízes divergiam sobre os termos da Lei, porque divergiam sobre o modo de
interpretar a verdadeira Lei nas circunstâncias especiais daquele caso. O juiz GRAY defendia uma teoria aceita
naquela época – da interpretação literal – e desta forma, não havia nenhuma ressalva tácita. Ele insistia de
que a verdadeira Lei, interpretada de maneira adequada não continha excepções para os assassinados.
Assim, conferiu o direito a ELMER. O juiz, para explicar a sua decisão, fundamentou dizendo que a perda da
herança seria uma punição a mais, já que ELMER tinha cumprido sua pena na prisão, e que o avô poderia tê-
lo beneficiado mesmo assim. Os estudantes de direito que se deparam com esta teoria, definem-na de
“doutrina mecânica”. Já o juiz EARL usou uma teoria da legislação muito diferente, que dá às intenções do
legislador uma importante influência sobre a verdadeira Lei, pois atribuiu valor à intenção dos legisladores,
como se estivesse implícito na própria letra, pois nenhum legislador pode ter em mente todas as
consequências ou respostas. O juiz EARL não se apoiou apenas na teoria da intenção do legislador, mas
considerou outro princípio: o da interpretação das Leis conforme o contexto histórico, levando-se em conta
os princípios gerais do direito, ou seja, os juízes deveriam interpretar uma Lei de modo a poderem ajusta-la
o máximo possível aos princípios de justiça. Assim, o ponto de vista de EARL predominou, e ELMER não
recebeu sua herança. (DWORKIN, RONALD. O império do direito. Tradução de JEFFERSON LUIZ CAMARGO;
revisão técnica de Gildo Sá Leitão Rios. São Paulo: Martins Fontes, 2003, Pág. 20-25.
146 Ibidem., Pág. 33.
147 Apud. BONAVIDES. Curso de Direito Constitucional. 12. ed. São Paulo: Malheiros, 2002, Pág. 232-235.
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Manual de Direito Económico Francisco Mário
dessa noção, os princípios do Direito Económico podem reportar as definições gerais e
específicos de um sector de actividade económica com cariz constitucional ou ordinário.
Portanto, a violação de um princípio é muito mais grave do que infringir uma norma
jurídica, uma vez que a inobservância de um princípio significa uma ofensa não apenas a
um mandamento obrigatório, mas a todo o sistema jurídico.
Outro assunto que merece atenção da nossa abordagem, é quando os princípios entram em
colisão, ou seja, quando um princípio proíbe e a outro permite, um deles tem que ceder à
outro. Isto não significa que um dos princípios passa a ser inválido, nem que seja incluída
uma cláusula de excepção. Um dos princípios precede à outro. Na verdade, os princípios
possuem diferentes pesos e que prevalece o de maior peso.
Mas, quando entram em confronto dois princípios – em, que um prevalece sobre o outro -
as regras que dão concreção ao que foi desprezado são afastadas, e essas não se aplicarão
a determinada hipótese, ainda que permaneçam integradas, validamente no ordenamento
jurídico. Por exemplo, importante sublinhar o entendimento de JOSE VIEIRA DE ANDRADE,
para quem “a dignidade da pessoa humana, enquanto conteúdo essencial absoluto do
direito, nunca pode ser afectada – pois está é a garantia mínima que se pode retirar da
Constituição148.
148Cfr. ANDRADE, JOSÉ CARLOS VIEIRA DE. Os direitos fundamentais na Constituição portuguesa de 1976.
Coimbra Almedina, 1987, Pág.293.
91
Manual de Direito Económico Francisco Mário
4.1.1. Principais Funções
- Papel Ordenador;
- Papel Programático; e,
- Papel Regulador.
Mas logo aí assumem uma relevância substancial, uma vez que a ordenação que obtenha
não é inócua para as soluções finais.
Os princípios podem assumir um papel programático – isto é, constituem uma base sobre
o qual o legislador poderá, depois erguer novas normas. A Constituição tem conhecido
níveis programáticos.
Os princípios resultam da elaboração científica, ao contrário das normas, que se obtém pela
interpretação, os princípios exigem toda uma tarefa alargada de estudo e de arrumação
jurídica-científica, por vezes criadora. Isto significa dizer que a elaboração de princípios
constitui uma tarefa indeclinável do estudo de qualquer disciplina jurídica. Seja como for
existe uma unanime ideia que no campo do Direito Económico tem aplicação os princípios
gerais do Direito privado, designadamente:
149 Cfr. CORDEIRO, MENEZES,- Direito Bancário, Almedina 2010, Pág. 205.
92
Manual de Direito Económico Francisco Mário
individuais e interesses da classe no poder, – A nobreza e o clero, e o Direito e Lei eram
interpretados simplesmente nas instituições predefinidas, nomeadamente: o “Clero, a
Igreja e a Universidade”; entretanto, ela surge basicamente ligada às duas matérias nas
quais revela melhor que qualquer outra, a condição dos súbditos e cidadãos livres, dos
membros de uma comunidade150, precisamente na definição dos delitos e das penas
(Princípio da Legalidade Penal) “Nullum crime Sine legem” e o estabelecimento de tributos
(Princípio da Legalidade Tributária) “Nullum tributo Sine legem”.
Mas, HANS KELSEN, da escola germânica, já havia estabelecido o Estado de Direito como
um Estado de legalidade, porque actua por via do Direito positivamente identificado com
legalidade e não porque defende ou se sustente numa particular ideia do Direito151.
150 Cfr. NUNES, ELISA RANGEL.- Lições de Finanças Públicas e Direito Financeiro, 3ª edição 2011, Pág. 78 e
79.
151 Cfr. NOVAIS, JORGE REIS. – Contributo para uma Teoria do Estado de Direito – Almedina 2006. Pág. 121 e
122.
152 Ver o art. 1º, do CC.
153 Cfr. CANOTILHO, J.J. GOMES. – Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 7ª edição – Almedina, Pág.
256.
93
Manual de Direito Económico Francisco Mário
económico que lhes aprouver de acordo o exposto no desenho legal do art. 1º, 6º e 37º, da
CRA.
Por conseguinte, a democracia é uma forma de governo em que todos cidadãos elegíveis
participam directamente ou através de representantes eleitos.
Como sustenta SIMON BLACKBURN158, (…) críticos, apesar disso, sugerem que democracia
política é estéril, a menos que seja acompanhada supletivamente pelo um poder noutras
esferas, principalmente na área económica.
Pois que, como certamente se observa, nitidamente na Lei o elemento volitivo é o mandato,
na medida que são os eleitores que escolhem o candidato com o seu programa económico-
social, todavia, este mandato é assinalável como um mandato especial, ou seja, é um
mandato de Direito Público, diferente de Direito Civil159.
156 Cfr. MONCADA, LUÍS CABRAL DE, - Manual Elementar de Direito Público da Economia e da Regulação,
Almedina 2012, Pág. 81-82.
157 CLÍSTENES, grande orador e foi considerado um dos pais da democracia ateniense que ampliou a
Desde logo, torna-se líquido afirmar que a representação pública de natureza económica
do Agente Económico, inscreve-se em sede da democracia económica impetrada na Lei
formal, como vem ilustrativamente desenhado no proemio do epitáfio legislativo do art. 2º
e 21º, al. c), da CRA e noutros planos jurídicos normativos da dimensão de Leis ordinárias
e qualificados como princípios de Estado Democrático de Direito. O que significa dizer, toda
actividade económica é susceptível de um crivo à luz da democracia económica presidido
pela soberania popular (...).
Por seu turno, LUÍS CABRAL DE MONCADA, assegura que a Constituição caracteriza o
Estado de Direito como democrático o conteúdo respectivo, tal como está previsto
precisamente no art. 2º, da CRA e, por via disso, segundo ele, pode consistir na realização
da democracia económica, social e cultural160.
Daí que, a democracia que se afere na Constituição, de certo modo está na realização de
objectivos económicos constitucionais, não obstante ser largamente política é obviamente
também deve ser interpretado no aspecto económica, que se funda no Estado social que vai
implicar, desde logo, uma política económica estadual posto ao serviço de determinados
objectivos e finalidades do alto nível da ordem económica vigente.
160 Cfr. MONCADA, LUÍS CABRAL DE, - Direito Económico, Pág. 74.
161 Cfr. MIRANDA, JORGE/MEDEIRO, RUI – Constituição Portuguesa anotada, Pág. 112, Anotação nº XIX.
162 Ver os arts. 29º, 37º, 38º, 39º e 78º, da CRA. E da Lei de Delimitação de Sectores, nº 5/02, de 16 Abril.
96
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Entretanto, esta afectação de direitos económicos, inter alia, visam em certa medida,
o cumprimento das incumbências do Estado de promover o aumento do bem-estar social -
económico e da qualidade de vida das pessoas em especial dos mais desfavorecidos, que
vai consubstanciar-se nos seguintes axiomas de direitos e deveres fundamentais:
Assegurar a igualdade de oportunidades e, operar as necessidades e correcções das
desigualdades da distribuição da riqueza do rendimento; designadamente através da
intervenção económica do Estado na política fiscal, eliminar as assimetrias regionais ou
sociais existentes entre o campo e a cidade, de um lado, por outro lado, mitigar as
assimetrias naturais com enfoque do litoral e interior; (art. 89º, da CRA).
O Estado de Direito é um Estado de Leis, sendo a Lei, por definição, uma norma geral e
abstracta, obriga e protege de igual forma todos cidadãos sem descriminação no plano
económico. De tal sorte, a eficácia deste entendimento da igualdade formal é inegável e
continua a ser uma das traves mestra do Estado de Direito, e, de justiça social, de modo
inequívoco o legislador angolano sem hesitar consagrou com clarividente no art. 23º e 90º,
da CRA, para evitar quaisquer manifestação no território jurídico da descriminação
económica.
Porém, é nesta perspectiva que incumbe ao Estado angolano promover a igualdade real
entre os cidadãos angolanos à luz do cumprimento e da consolidação da Constituição
Programática previsto no art. 21º, da CRA, alíneas b), c), d), e), h), i), j), k), m), p), e q); da
igualdade material art. 23º, da CRA (igualdade formal).
Desde logo, como nitidamente se observa, através deste traçado legal, ou seja, com este
primado legal, entende-se por maioria da razão, que, serão assim, considerados
tecnicamente inconstitucionais aquelas medidas discriminatórias que não sejam
163 Mas desenvolvimento Vide VAZ, MANUEL AFONSO, - Direito Económico, 3ª edição, Coimbra, 1994, Pág.
132.
164 Ob. cit. Pág. 128 e ss.
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Manual de Direito Económico Francisco Mário
justificadas por diferenças substanciais, ou que, estabeleçam deveres ou direitos
desproporcionais à desigualdade que pretenda combater165.
Por conseguinte, nesta teia de abordagem, o princípio da igualdade visa realizar a justiça
económica e social no seio da sociedade angolana, para concretizar este desiderato, o
Estado cria princípios empíricos por via legal para tentar acertar o ponteiro da balança da
justiça da igualdade material-vertical e horizontal que vão dando a força jurídica à norma,
e, para o cumprimento obrigatório e vinculativa de todas instituições sociais, impondo a
exigência da generalidade e abstracção das medidas de tratamentos económicos desiguais,
evitando desta feita, privilégios pessoais, ou situações pelo que seriam inconstitucionais
tais tratamentos.
A igualdade em matéria da economia não está afirmada isoladamente em lado nenhum. Não
passa de uma aplicação da igualdade dos administrados, a qual é considerada como um
princípio geral do Direito e mesmo, a maior parte das vezes, é citada na primeira fila dos
princípios gerais do Direito167.
Existe, todavia, uma consagração escrita, e das mais célebres, de pelo menos, um dos
diversos aspectos da igualdade (e aquele que tem o alcance mais geral), designadamente, a
igualdade perante a Lei.
Entretanto, essa consagração da igualdade perante Lei, figura na Declaração dos Direitos
de 1789, no art. 1º («Os homens nascem e permanecem livres e iguais em direitos») e art.
6º («A Lei deve ser a mesma para todos, quer para proteger, quer para punir»). «Todos os
cidadãos são iguais aos seus olhos».
165 Ibidem, Pág. 132. No mesmo sentido vide o acórdão do Tribunal Constitucional nº121/10, do caso SME.
166 Cfr. MONCADA, LUÍS CABRAL DE, - Direito Económico, Pág. 181.
167 Cfr. LAUBADÈRE, ANDRÉ DE, - Direito Público Económico, Pág. 274-276. Explica que - (…), Mas a tomada
em consideração das diferenças de situações não é o único dado que é preciso ter em conta para apreciar o
carácter ilegal de uma medida discriminatória. Uma jurisprudência constantemente afirmada considera,
efectivamente, por outro lado, que uma ruptura de igualdade, aqui real, ou dito de outro modo, uma
verdadeira descriminação, pode não constituir absolutamente uma ilegalidade quando aparecer justificada
por considerações tiradas do interesse geral. Esta reserva do interesse geral foi afirmada nomeadamente num
aresto – estranho, aliás, ao domínio económico – que é um dos mais célebres em matéria de aplicação do
principio de igualdade, o aresto de 9 de Março de 1951, Societé des concerts du conservatoire, Dr. Soc. 1951,
Pág. 368, conl. Letourneur, not. RIVERO (ilegalidade da medida tomada pela administração da radiofusão
francesa afastando qualquer nova transmissão de uma sociedade, com desconhecimento da igualdade de
tratamento «sem que nenhum motivo tirado do interesse geral pudesse justificar essa decisão»).
168 Ibidem.
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Manual de Direito Económico Francisco Mário
deste modo, ela mesma tem, este título, ao um nível constitucional; (como vem expresso no
art. 23º, da CRA). Sustenta ainda este autor que, o princípio da igualdade proíbe a
Administração de tomar medidas discriminatórias, isto é, medidas que levem a tratar
diferentemente os administrados que se encontrem em situações comparáveis, ou por
outro lado, e, ao contrário, medidas que levem à estabelecer uma assimilação entre pessoas
que se encontrem em situações diferentes.
Continua este autor na sua modesta obra de Direito Público Económico, e, nós, nesta sede
privilegiamos cita-lo com alguma frequência, que, – “Esta imprecisão voluntária explica-se
facilmente pela dificuldade que o direito experimenta, como sublinhamos mais atrás, em
apreender os fenómenos económicos e domina-los. Esta dificuldade não impede que a
regulamentação económica seja abundante em todas as matérias (este ponto não sofre
contestação), mas ela inspira o reconhecimento às autoridades administrativas de muito
vastas liberdades de apreciação nas decisões particulares que têm de tomar; as suas
competências são muito mais discricionárias que vinculadas.
A Lei deixa-lhes frequentemente a possibilidade de serem exercidas» por fases (coup par
coup)» a fim de que as decisões se possam adaptar melhor às realidades; o Direito
Económico, diz-se normalmente, é um identitário direito «realista» ou «factual» ”171.
169 Ibidem.
170 Ibidem. Pág. 112-113.
171 Ibidem.
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Manual de Direito Económico Francisco Mário
sectores da administração, pois a maleabilidade, entendida no sentido que aqui toma, é
evidentemente susceptível de engendrar riscos de arbitrariedade e discriminações172.
Posto isso, à luz dos excertos telegráficos de LAUBADÈRE, podemos afirmar, que o princípio
de igualdade jurídica no plano económico, complexa-se na medida em que as desigualdades
naturais são ténues, vamos tomar alguns exemplos pragmáticos: se quisermos tratar a
igualdade entre homens e mulheres temos que atender um critério da diferença natural do
género sexual, que todo caso atento a sua constituição física e anatomia do corpo humano,
daí privilegiar uma igualdade vertical do tratamento desigual e discriminatório em relação
ao outro género (v. g; associação das mulheres empresárias angolanas em detrimento da
Associação dos Empresários Angolanos, Ministério da Família e Promoção da Mulher;
Instituto Nacional da Criança; Selecção Nacional Feminina de Futebol; Basquetebol;
Andebol; etc.) e critério da igualdade horizontal tratamento igual de oportunidades de
acordo as aptidões capacidades, ou seja, a meritocracia de cada Agente Económico (v.g.
associação de empresários angolanos do qual fazem parte os membros da representação
do género feminino, câmara dos despachantes oficiais de Angola etc. mas noutras
agremiações os homens nem por isso)173.
Como dizia, estes critérios ou princípios são impérios próprios da construção da sociedade
humana para atingir a igualdade, ou seja, para não igualizar através de um mecanismo
político autoritário os resultados diferentes do exercício de liberdade de cada um, também
conhecida por justiça comutativa prevista e consagrada no art. 90º, da CRA e art. 16º, do
CGT, que prescreve este último enunciado legislativo, porém, devem é criar-se as condições
para que cada um, sobretudo os mais necessitados, tenham acesso a um certo número de
bens básicos indispensáveis, para a partir daí exercer adequadamente a liberdade que lhe
assiste174, pois que, igualdade constitucional tolera a desigualdade, o que não tolera é a
exclusão175.
Dado que, no limiar do século passado começou-se a sentir cada vez mais necessidades de
proteger os direitos fundamentais das pessoas e os seus haveres, seja ela como individuo,
172 Ibidem.
173 Em Angola o Decreto Presidencial n.º 222/13, de 24 de Dezembro, - sobre a «Igualdade de Género – Política
Nacional de igualdade e Equidade de Género», assim, uma Directiva das Nações Unidas que estipula uma
quota de representação do género feminino nos órgãos colectivos ou individuais na ordem de 30% e em
Angola a concertação social quanto esta matéria é vincada nos 40%, logo, é um dos países de África onde há
justiça da igualdade de género.
174 Cfr. MONCADA, LUÍS CABRAL DE, - Direito Económico, Pág. 181.
175 Ibidem., Pág. 175.
176 Ob. Cit. Pág. 423.
100
Manual de Direito Económico Francisco Mário
bem como membro de grupos sociais organizados, contra os monopólios privados ou do
Estado177.
Todavia, a Constituição; (art. 29º, da CRA), assegura, antes de mais, à todos o acesso ao
direito, de ponto de vista formal, mas na realidade o acesso ao direito é restrito e não
limitado, visto que, “só”, quem tem consciência dos seus direitos económicos consegue
usufruir os bens a quem eles correspondem e sabe avaliar as desvantagens e os prejuízos
que sofre quando não pode exercer ou efectivar, ou quando muito eles são violados, ou
restringidos (Cfr. o art. 10º, DUDH).
Este princípio, em linhas gerais explicita no essencial de que a justiça deve ser assegurada
pelo Estado para que os Agentes Económicos possam ter acesso ao Direito e a Justiça, seja
quem for a sua condição económica, isto significa dizer que, o Agente Económico tem
direito à informação jurídica ou consulta jurídica; (art. 29º e 40º, da CRA), o direito ao
patrocínio judiciário e assistência judiciária; (art. 195º, da CRA), direito de escolher um
Advogado; (art. 67º, da CRA e do art. 11º, da DUDH); e de nomeação oficiosa; (art. 67º, nº
5, da CRA).
Pois que, em síntese, a “Justiça” não pode ser denegada por falta ou insuficiência de meios
económicos como indica o art. 196º, da CRA e na especialidade material a Lei nº 15/95, de
10 de Novembro, Lei da Assistência Judiciaria, o Estado assegura, as pessoas com
insuficiências de meios financeiros, mecanismos de defesa pública com vista à assistência
jurídica e ao patrocínio forense oficioso a todos níveis, para salvaguardar os direitos
subjectivos económicos e (re) estabelecer a paz económica no seio da comunidade, de
modo que a riqueza circule harmoniosamente entre ao Agentes Económicos.
Ressalvar que o nosso sistema jurídico refere-se de patrocínio judicial e nomeação oficiosa
como meio de assegurar o acesso à Justiça pelo Estado, pois que, em contrapartida a
Constituição angolana não consagra no seu art. 29º, da CRA e o art. 4º, do Código do
Processo Tributário Angolano, Lei nº 22/14, de 5 de Dezembro, nem qualquer outro
dispositivo legal consagra o acesso ao Direito e aos Tribunais de forma gratuita, ou seja,
não é, tendencialmente gratuito, sendo neste contexto justificado o estabelecimento de
exigências de uma contrapartida pela prestação de serviços de Administração da Justiça
através do OGE – por via da despesa fiscal em sede de benefícios fiscais ou isenções fiscais,
(Princípio da Redistribuição da Riqueza), como vem orientado legalmente pelo legislador
constitucional de 2010, no art. 102º, da CRA e art. 16º, Código Geral Tributário, (Leis-
177Cfr. AAVV, CATARINO, JOÃO RICARDO /GUIMARÃES, VASCO BRANCO, – Lições de Fiscalidade, Almedina
editora, 2012, Pág. 102.
101
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Previdência) que reporta todo seu conteúdo preceitual que nós infra reproduzimos
religiosamente para melhor entendimento do instituto:
artigo 16.º
1. Os benefícios fiscais só podem ser criados por Lei, a título transitório e excepcional, com
finalidades de política económica, social, cultural, ambiental ou quaisquer outras de relevante
interesse público e reconhecido pela Constituição.
2. A criação dos benefícios fiscais respeita o princípio da igualdade e deve ser fundamentada
com os seus objectivos e prever a receita a não arrecadar.
3. Os benefícios fiscais constituem despesa fiscal que deve ser prevista no Orçamento Geral do
Estado.
5. As situações que a Lei qualifique de não sujeição tributária resultantes de medidas fiscais
estruturais que estabeleçam delimitações negativas da incidência dos impostos, não são
consideradas benefícios fiscais”178.
Posto isso, como em verdade se observa, as custas do processo são pagas, salvo o
mecanismo que goza legislador na ampla liberdade na fixação dos montantes das custas
inerentes ao acesso a Justiça, ao Direito e aos Tribunais.
178 Mas desenvolvimento, vide o Código Geral Tributário aprovado pela Lei nº 21/14, de 22 de Outubro, com
início de vigência em 1 de Janeiro de 2015.
179 Ob. Cit. Pág. 441.
102
Manual de Direito Económico Francisco Mário
do «mínimo vital» de acesso justiça económica, gera uma inconstitucionalidade, não apenas
por omissão de normas adquiridas e da sua garantia, mas por violação de um direito
subjectivo180.
Sendo assim, pode-se concluir, como é evidente, que, o acesso à justiça é suportado pelo
Estado através da despesa orçamental do tipo de despesa de transferência – pagamento
dos honorários dos advogados através da ordem dos advogados de Angola e, da despesa
fiscal181 - isenção das custas do processo (redistribuição da riqueza). Portanto o acesso a
justiça opera-se por via do Auxilio do Estado que é efectivamente uma adequada prestação
do Estado no âmbito das suas funções e, pois não é uma caridade, porquanto que é um
direito subjectivo fundamental, de natureza substantiva182.
180 Cfr. Acórdão do Tribunal Constitucional Português nº509/02. E Acórdão do Tribunal Constitucional de
Angola nº 121/10 e Acórdão nº122/10.
181 A despesa fiscal – consiste juridicamente, nas situações de renúncia de receitas tributárias que seriam
103
Manual de Direito Económico Francisco Mário
- Acesso a Justiça e Tutela Jurisdicional Efectiva (art. 29º, CRA e 4º, do CPT)185;
Desde logo, os direitos fundamentais, nos termos do art. 57º, nº 1, da CRA, só a Lei pode
restringir direitos, liberdades e garantia, estabelecendo-se uma reserva de Lei formal
restritiva. De acordo com este preceito, determina-se que essas restrições só podem ser
feitas mediante a Lei formal da AN.
Com efeito, o art. 164º, da CRA, determina que apenas a AN tem competência para legislar
em matéria de direitos, liberdades e garantia, bem como para aprovar restrições e
limitações aos mesmos189.
Neste contexto pode inferir por maioria da razão que a AN dispõe de uma reserva de
competência exclusiva e absoluta, na medida em que não pode autorizar intervenção de
outro órgão de natureza legislativa ou não.
Ora bem, o princípio pelo respeito pelos direitos fundamentais é tido como um importante
princípio conformador e estruturante da ordem constitucional económica, pois que,
consiste na exigência do respeito pelos direitos fundamentais; liberdades; garantias e
direitos económicos (…)190, dos sujeitos económicos sejam elas pessoas singulares, ou
pessoas colectivas (de Direito Público e Direito Privado).
Todavia, este princípio, resulta da primazia que gozam os direitos fundamentais sobre as
normas e actos do sistema jurídico, porque as referidas normas limitam o legislador e a
Administração Económica e, sendo por via disso, como decorre da Constituição, os direitos
de liberdades e garantias e, demais de direitos fundamentais de natureza análoga são de
Cfr. MACHADO, JÓNATAS/COSTA, PAULO NOGUEIRA DA, - Curso de Direito Tributário, Coimbra Editora,
190
O que significa dizer, a relação do Sistema Económico com os direitos fundamentais exige:
Em última análise, este princípio visa procurar o justo óptimo equilíbrio entre o
crescimento económico e desenvolvimento económico-social, atento a distribuição e
redistribuição da riqueza.
Pois que, o Sistema Económico pode ser utilizado em conjunto com outros meios, para
desmantelar a estrutura de concentração do poder económico podendo accionar os
mecanismos de restrições de direitos económicos pela via legislativa e da administração,
assente na qualificação constitucional, mobilizando para o efeito, os princípios gerais do
Estado Democrático de Direito, bem como, outras opções valorativas orçamentais
previstas, nos termos do artigo 28º, nº 2, da CRA, sob desígnio do instituto da “Reserva do
possível”192.
191 Ibidem.
– Tem acontecido exactamente em Angola em alguns círculos a figura de empresário político numa autêntica
promiscuidade económico, tabua rasa para a delinquência económica em sede de tráfico de influência junto
das instituições financeiras, imunidades e branqueamento de capitais, fuga ao fisco evasão fiscal e, tudo mais
(o nosso realce). Como afirma o Presidente do Tribunal de Contas de Portugal, Dr. GUILHERME D`OLIVEIRA
MARTINS “a Corrupção começa no favor e termina no crime” – entrevista no jornal de negócios dia 5 de
Dezembro de 2014.
192 A ideia da Reserva do Possível é frequentemente associada à alegação de insuficiência de recursos
apresentada pelo Estado como forma de se eximir do cumprimento de suas obrigações no campo dos direitos
económicos e sociais. A invocação da cláusula da reserva do possível serviria como uma escusa, ou seja, livre-
trânsito, utilizado de forma genérica pelos entes estatais, para não concretizar os direitos fundamentais.
Como decorrência dessa concepção, a cláusula da reserva do possível tem sido muito criticada. Há quem
entenda que o argumento estatal relativo à ausência de disponibilidade financeira não pode ser aceite, uma
vez que cabe ao Estado implementar os direitos fundamentais, especialmente aqueles previstos na própria
Constituição.
Há, porém, quem entenda que o argumento pode ser aceite em determinadas hipóteses, pois não há como
negar que os recursos financeiros são limitados, ao passo que as necessidades dos indivíduos são ilimitadas,
devendo ser compatibilizadas com os recursos existentes. Observa-se, assim, que a ideia corrente de reserva
do possível está ligada à insuficiência dos recursos estatais para tornar efectivos todos os direitos previstos
106
Manual de Direito Económico Francisco Mário
4.8.1. Sub Princípio da Reserva do Possível
O Princípio da Reserva do Possível, pode ser considerado um sub-princípio do Direito
Económico, e que numa primeira aproximação pode ser entendida como uma excepção de
não cumprimento da realização dos direitos fundamentais proclamadas na Constituição,
mas não um livre-trânsito de inobservância do cumprimento dos direitos fundamentais,
sendo por esta linha, como aquela actividade financeira que consiste de certo modo na
satisfação gradual das necessidades económicas e sociais colectivas através do OGE,
(art.21º, al. c), e 28º, nº2, da CRA, ou seja, dito de outro modo, consiste na actividade de
exercício financeiro por via orçamental de afectação e gestão dos recursos escassos, para
na Constituição Política de Angola de 2010, sendo a expressão relacionada, portanto, com a situação
económica do Estado angolano.
Todavia, a despeito deste entendimento os recursos estatais são de factos finitos e que diversas questões
podem ser levantadas em termos de custos relativos à realização dos direitos, mas por vezes tem sido
negligenciado como escapatória do poder político em não satisfazer este ou aquela necessidade.
Com efeito, considerando a cláusula da reserva do possível tal como formulada, ela se relaciona muito mais
com a razoabilidade das pretensões dos indivíduos perante o Estado, a determinar o que é possível ou não
ser exigido da colectividade, do que propriamente com a noção de escassez de recursos económicos para
atender à estas pretensões, noção com a qual a expressão é usualmente identificada.
Porquanto que, como amiudadamente se observa, desde os tempos remotos até hoje, os
recursos financeiros são sempre limitados que largamente poder-se-á tomar iniciativas de
delimitação dos direitos económicos por via de medidas administrativas, também tem sido
citado por algum sector da doutrina financeira como instituto de escolhas públicas ou
grandes opções, que na nossa opinião, não pode ser entendida como uma galáxia de
constelações de escolhas organizadas de elites do poder político, ou de um círculo de
Agentes Económicos padronizados nas escolhas tidas como colectivas que serve de veículo
para satisfazer os seus intentos.
Portanto, esse Sub-Princípio não pode ser tida como livre transito para incumprimento das
obrigações do Estado perante Agentes Económicos (…), sob pena do abuso do direito
económico e social negativo e, entrar imediatamente em confronto com Princípio
hierárquico da dimensão constitucional (art. 1º, da CRA) e universal (art. 1º, da DUDH).
Sendo assim, deve sim ser entendida na perspectiva de razoabilidade e proporcionalidade
económica e financeira ao respeito os limites impostos pela CRA e pela Lei.
Desde logo, a iniciativa privada e livre concorrência, são assim, dois princípios básicos
cumulativamente para o funcionamento da economia, bem como, para a materialização da
democracia económica, pois que, a iniciativa possibilita a sua livre composição e
reutilização produtiva195.
Entretanto, Em Angola este princípio tem sido desvirtuado pela promiscuidade dos
políticos ou agentes administrativos que desempenham funções do topo na Administração
Pública e poderes de decisões, de se exporem na improbidade pública (directa ou por
interposta pessoa de família ou testa de ferro), de auto iniciativa privada de manifeste
cabritismo económico empresarial (Político – Empresário).
Porém, não havendo a separação entre o público e privado e, assaz assim abalam, também,
a transparência, imparcialidade e democracia económica como princípios quotados na
orientação da Administração Pública.
194Cfr. AVV. DOS SANTOS, ANTÓNIO CARLOS /GONÇALVES, MARIA EDUARDA/MARQUES, MARIA MANUEL
LEITÃO, – Direito Económico-5ª Edição Reimpressão/2004, Pág. 42 e 46.
195 Ob. Já Cit. Pág. 77.
196Cfr. VIERA, JOSÉ ALBERTO, – Direitos Reais de Angola, Pág. 245 e ss.
197 Ob. cit. Pág. 547.
109
Manual de Direito Económico Francisco Mário
A Propriedade como direito real pleno de conteúdo positivo na sua máxima extensão
densificado nos seguintes caracteres com amplitude económica:
Poder de uso;
É, portanto, natural que exista uma conexão funcional entre dois direitos200. O direito de
propriedade é um direito subjectivo digno de protecção legal pelo Estado art. 38º, nº 3, da
CRA.
O Estado angolano orienta o desenvolvimento da economia, desde logo, esta ideia cintilante
de ordenação económica radica na obrigação do Estado de cumprimento dos direitos
económicos fundamentais previstos na Constituição Económica, bem como nos
instrumentos económicos Internacionais através do Plano.
141.
111
Manual de Direito Económico Francisco Mário
que prossupõe uma actividade coordenada do Estado em prol da obtenção de certos fins.
Já o intervencionismo é caracterizado por empirismo no quadro das finanças, ou seja,
finanças intervencionistas, através das quais o Estado pretende obter da sua actividade
financeira fins de ordem socio-económica e não apenas de arrecadar receitas.
Dirigismo Produtivo é aquele que vai incidir na produção de bens e serviços ex:
estabelecimento das quotas de captura do pescado e respectiva veda em certas épocas de
algumas espécies com incidência no carapau e caranguejo, proibição de importação de
cimento produzido no exterior, entre outros que constituem manifestamente o dirigismo
no plano produtivo.
202 Cfr. MONCADA, LUÍS CABRAL DE, - Lições de Direito Economico, U.L. Porto Pág. 18.
203 Vide o Pacote legislativo do célebre, Programa de Saneamento Económico e Financeiro (S.E.F.).
112
Manual de Direito Económico Francisco Mário
económicos mais significativos204. Ex: alvará comercial, licença para exercício da actividade
de transporte rodoviário público urbano e inter-provincial, licença para construção de
imóveis e etc.
Com efeito, um dos pilares do desenvolvimento deve assentar na livre iniciativa privada
nacional – dos cidadãos, das famílias e das instituições económicas angolanas.
Para o efeito, cumpre ao Estado criar e oferecer, segundo um princípio do tratamento mais
favorável, prioritário, ou preferencial, as condições jurídicas, materiais e institucionais que
contribuam para atenuar as desigualdades concorrenciais com investidores estrangeiros,
ao mesmo tempo que contribuam para fomentar sinergias entre investidores privados
nacionais e estrangeiros, dito de outra maneira, o fomento vai significar cidadania
económica (art.18º, da Lei nº 14/03, de 18 de Julho, Lei do Fomento do Empresariado
Privado Nacional)206.
204 Cfr. FRANCO, SOUSA – Nações de Direito da Economia, 1º Vol. Reimpressão, edição AAFDL Lisboa, 1982-
1983, Pág. 266 e ss.
205 Preâmbulo da Lei n.º 14/03, de 18 de Julho, Lei do Fomento Empresarial Nacional.
206 Vide as prescrições do Artigo 18º (Cidadania económica)
Porém, certamente este princípio traduz-se num objectivo do postulado constitucional que
se prende com o papel activo do Estado a desempenhar na economia não estatal, centrada
numa óbvia ideia de estimular actividade económica e proteger os pequenos grupos
empresariais através das políticas fiscais, creditícias, taxa de juro bonificados, aval do
Estado, política agrícola, comercial e industrial. Como vem consagrado nos artigos 21º, al.
c), p) e q); 89º; 90º e 91º, da CRA, a Protecção das Micro, Pequenas e Médias Empresas é
alargada e concentrada pela Lei ordinária nº 30/11, de 13 de Setembro.
Porém, esta promoção para sua materialização tende como base de um regime de disciplina
vincada no art. 3º, da LFEN, que densifica de certo modo o respeito aos subprincípios de
intervenção do fomento do empresariado privado nacional de acordo os alinhados que se
seguem:
207 Apud, AVV. DOS SANTOS, ANTÓNIO CARLOS /GONÇALVES, MARIA EDUARDA/MARQUES, MARIA
MANUEL LEITÃO, – Direito Económico - 5ª Edição Reimpressão/2004, Pág.148 e 149. A empresa consistia,
na definição de M. CAETANO, numa «organização em que se combinam o capital fornecido por pessoas
colectivas de direito público com a técnica e o trabalho para produzir bens ou serviços destinados a serem
oferecidos no mercado mediante um preço que cubra os custos e permita o funcionamento normal do
empreendimento», sendo entendido como uma espécie do género instituto público (MARCELLO CAETANO,
Pág. 372 e 378).
208Cfr. MONCADA, LUÍS CABRAL DE, - Manual Elementar de Direito Público da Economia e da Regulação,
Ora bem, portanto, o fomento empresarial comporta algumas modalidades que o Estado
sufragou para sua intervenção, ou seja, a intervenção do Estado nesta matéria privilegia
através dos seus adequados instrumentos económicos, formas de fomento do
empresariado privado nacional, como dizíamos, para promover a cidadania económica,
temos as seguintes tipologias de fomento; (art. 22º, da LFEN): Incentivos Ficais; Apoios
Financeiros; Apoio Técnico e Direitos, Privilégios e Garantias Patrimoniais Especiais.
a) Tarefas fundamentais do Estado, Direito do Ambiente; (art. 21º, al. m), da CRA) de
conservação e protecção da natureza, meio ambiente do espaço ecológico e património
cultural da humanidade, e;
b) Direitos Fundamentais, ao Ambiente; (art. 39º, da CRA), direito subjectivo público
de abstenção geral universal.
115
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Como lembra que os direitos subjectivos foram desenvolvidos pela primeira vez na
Alemanha pelo SAVIGNY, por via do Direito Administrativo, porque em Roma, ou seja, os
romanos desconheciam os direitos subjectivos públicos209.
Qualquer modo, o Estado com estas novas funções administrativas, desponta então o
Estado administrativo212.
209 Cfr. CORDEIRO, ANTÓNIO MENEZES, «Teoria Geral do Direito Civil, Sumários das Lições dadas ao 2º ano
jurídico 1986/87, Vol. I», Pág. 176. Refere que no direito romano, a pessoa que, nesse ordenamento, detivesse
uma posição favorável que lhe conferisse uma particular protecção do Estado, dispunha de uma “Acção”, isto
é, da possibilidade de, junto de um magistrado, obter uma injunção que, caso se verificassem os competentes
e alegados factos, habilitassem o juiz a determinar medidas concretas…
210 O Estado Social entra em crise a partir dos anos 70 e começa-se a discutir a crise do modelo de Estado
social como principais sintomas, ver com mais desenvolvimento vide o Prof. Doutor PEREIRA, VASCO DA
SILVA, «Para um Contencioso Administrativo dos Particulares». Pág. 56.
211Cfr. SILVA, VASCO PEREIRA da, «A Busca do Acto Administrativo Perdido», Pág. 74.
212 Ob. Cit. Pág. 74 ss.
213 Cfr. MARIO, FRANCISCO – Relatórios de Mestrado Científico, - Direito Constitucional e Administrativo de
Ambiente 2013 FDU – Lisboa, Pág.12 e segts – neste sentido, esta relação entre a Administração implica, desde
logo, o reconhecimento dos direitos subjectivos dos particulares perante os Poderes Públicos, todavia, esse
reconhecimento não surge como uma opção abstracta, mas sim, surge como uma exigência da opção
constitucional concreta na ordem jurídica assente na dignidade da pessoa humana, cujos direitos
fundamentais vinculam directamente os Poderes Públicos.
Além disso, os direitos subjectivos não resultam, exclusivamente da Constituição, podendo resultar de um
regulamento administrativo ou do acto administrativo (VASCO SILVA). E no caso angolano pode resultar de
um direito não escrito, ou de usos e costumes.
Para SAVIGNY, o direito subjectivo seria um poder de vontade. Tal poder deveria ser entendida, como
reconhecimento ao sujeito titular do direito, de um âmbito da liberdade independente de qualquer vontade
estranha.
Assim, MENEZES CORDEIRO define o direito subjectivo como uma permissão normativa específica .
Por sua vez, MIGUEL TEIXEIRA DE SOUSA, define o direito subjectivo, «como situação subjectiva, que resulta
de uma permissão de acção ou de omissão»
Para o Prof. Doutor JOÃO CASTRO MENDES, o direito subjectivo, é o poder conferido pela ordem jurídica para
prossecução de interesses. Por seu turno o MANUEL DE ANDRADE, entende que o direito subjectivo consiste
num poder ideal de vontade reconhecido pela ordem jurídica ao seu titular.
Para a doutrina perfilhada pelos administrativistas, tem defendido outra orientação sobre os direitos
subjectivos, assim, OTTO MAYER, define o direito subjectivo como o «poder de vontade, conferido ao sujeito
para seu benefício, delimitando a sua vontade conferido aos poderes da vontade dos outros sujeitos» . Mas
MAYER além de primeiramente negar a existência dos direitos subjectivos interroga-se no meio do caminho
quando foi interpelado pelo seu compatriota BUEHLER, e rejeita a sua proposta do direito subjectivo,
116
Manual de Direito Económico Francisco Mário
administração meramente agressiva para tornar-se uma nova modalidade de
relacionamento de carácter duradouro para além da vida e morte214.
Parece não é o caso da Constituição Angolana, entende-se quanto esta matéria que o
legislador constitucional foi feliz ao consagrar no seu texto legal o “Direito Fundamental ao
Ambiente, como direito individual ao ambiente, já fora da lusofonia em alguns Países como
Alemanha, Países Baixos e Finlândia, individualizando o ambiente como fim e tarefa do
Estado e da comunidade215.
Já LUÍS CARLOS BATISTA, doutrinador brasileiro, e também soa a voz do seu hino no
mesmo sentido e, por conseguinte Profª. CARLA AMADO GOMES, de Lisboa, conhecida pela
tese franciscanismo jurídico-ecocentrismo, ou direitos poligonais, não consideram o direito
subjectivo do ambiente como direito fundamental económico, pelo facto, não satisfazer o
critério dos elementos da relação jurídica, precisamente na dificuldade em determinar ou
atribuir um direito subjectivo a um sujeito, objecto e garantia no âmbito da relação jurídica.
Pois, segundo estes autores, os direitos em presença apresentam uma larga abstrariedade,
indeterminabilidade, quanto a tutela, legitimidade processual, responsabilidade, terminam
afirmando, que o direito subjectivo do ambiente é de fruição comunitária por carência
judicativa individual, podem colidir com outros direitos fundamentais, no exercício de um
direito fundamental por parte do seu titular pode chocar com exercício de outro direito
fundamental, por parte do outro titular (…), que o classifica de colisões próprias e
impróprias216.
Por seu turno, os Profs. FIGUEIREDO DIAS e VASCO DA SILVA, também partidários da
conhecida lógica antropocêntrica - os fundamentalistas moderados, qualificam o direito ao
ambiente tal como descrito na Constituição, como direito subjectivo público, porquanto no
direito do ambiente, o particular é, pois, titular de direitos subjectivos públicos, que
considerado que a ideia de um «poder sobre o Estado é uma concepção equívocas». Assim, segundo MAYER,
«os direitos subjectivos que nós procuramos, devem ser configurados como um poder sobre uma parcela dos
poderes públicos, que a ordem jurídica atribui ao seu titular para o benefício da sua vontade».
Já o Prof. MARCELLO CAETANO - diz que aparentemente um individuo podia ser titular de posições jurídicas
substantivas em face da Administração, mas o conteúdo desses pretensos “direitos subjectivos” em nada se
distinguia das normas jurídicas objectivas, não sendo eles mais do que meros reflexos do direito objectivo.
Finalmente, JORGE REIS NOVAIS entende que o direito subjectivo revela-se estruturalmente na possibilidade
de o particular se autodeterminar numa área juridicamente tutelado, que se traduz na possibilidade de poder
exigir ou pretender o comportamento (positivo ou negativo) ou de produzir automaticamente efeitos
jurídicos213.
Depois desse desfibramento das teorias acima referenciadas, a nossa posição filia-se na tese eclética
formulada pelo Prof. MARCELLO CAETANO e JORGE REIS NOVAIS, pois que vai de encontro com a natureza
jurídica da dupla qualificação do direito fundamental ao ambiente como direito subjectivo e como estrutura
objectiva com conexão colectiva autónoma.
214 Ibidem. Pág. 76
215 Alemanha art. 20º. Finlândia. Art. 20º. Ob. cit. Pág. 16.
216 Cfr. AAVV, BATISTA, LUÍS CARLOS - «Revista de Direito do Ambiente e Ordenamento do Território nº 16-
Para o Prof. VASCO PEREIRA DA SILVA, diz que na dimensão objectiva, podem ser
decompostas em (i) norma de competência negativa, (ii) critério de interpretação e de
conformação de toda a ordem jurídica, (iii) princípios de natureza prospectiva ou
programática221.
217 Cfr. MONCADA, LUÍS S. CABRAL DE - «A Relação Jurídica Administrativa» para um novo paradigma de
compreensão da actividade, da organização e do Contencioso Administrativo, Coimbra 2009. Pág. 14, 15.
218 Cfr. MARIO, FRANCISCO, Ob. Cit. Pág. 13. Neste sentido (…), a relação jurídica administrativa
intersubjectiva tem por conteúdo a disciplina de um direito subjectivo ou interesses da colectividade, para
cuja defesa a ordem jurídica atribui o poder ao respectivo titular e que se analisa numa pretensão dirigida ao
outro sujeito da relação. Aqui também pode ser requerido os direitos fundamentais potestativos públicos que
corresponde ao poder de o particular produzir unilateralmente e inelutavelmente efeitos jurídicos que se
impõe a todos, pelos mesmos, ao Estado - tendo em conta a soberania estadual e o respectivo monopólio do
poder, poderá configurar-se ao lado passivo como estado de «sujeição», e não como dever de suportação
«obrigacional» mesmo que naqueles casos em que o exercício do poder altere a ordem jurídica sem implicar
formalmente uma alteração da esfera jurídica do destinatário. Porém, os direitos fundamentais potestativos
públicos ao ambiente constitui um mecanismo de intervenção do titular de um direito na esfera alheia.
Todavia, para protecção dos direitos fundamentais ao ambiente lhes são atribuídos direitos de intervenção
por via do mecanismo do procedimento administrativo, assim como tutela judicial efectiva (seja pela via de
recurso de anulação, seja pela via das acções de defesa de direito de indemnização) no âmbito da
responsabilidade civil extra - contractual da administração em matéria de ambiente é alargada em
responsabilidade objectiva, independentemente da culpa, isto significa funda-se no dano.
219 O nosso realce.
220 Cfr. NOVAIS, JORGE REIS - «As Restrições aos Direitos Fundamentais não Expressamente Autorizados pela
Mas com uma conexão autónoma, isto quer dizer que, as terras tituladas pelas
comunidades tradicionais, podem ser tituladas pelas famílias e individualmente, nos
termos do art. 22º, nº 2, da Lei de Terras de Angola.
Portanto, é na instituição que se realiza o direito objectivo que vai constituir a tarefa
fundamental do Estado como uma norma programática prevista na Constituição222. Os
direitos fundamentais ao ambiente na sua dupla qualificação apresentam um lado jurídico
individual, enquanto garantem aos seus titulares a um direito subjectivo público, e um lado
institucional objectivo, enquanto garantias constitucionais e administrativas (art. 200º, da
CRA), no âmbito de liberdade juridicamente ordenados e conformados, pois que, neste
seguimento os direitos fundamentais surgem como direitos autónomos sem qualquer
dependência, complementaridade ou instrumentalidade, mas antes uma relação de
integração223.
Qualquer modo, na seara jurídica discute-se a problemática da teoria dos direitos difusos
avançada por alguns autores, para qualificar os direitos fundamentais ao ambiente no
plano económico, por não se identificarem com as duas teses de direitos subjectivos e
direitos objectivos ao ambiente, que, claro são direitos da cúpula dos direitos económicos.
Para esclarecer esta símile de controvérsias, vamos recuar no tempo para aferir a sua
paternidade, que segundo a história os direitos difusos tem a sua fonte jurisprudencial na
doutrina juspublicista italiana224, quando foi confrontada pela primeira vez com a
legitimidade de certas associações que em juízo pretendiam fazer valer um interesse “sui
generis”, tentando reagir contra actos lesivos ao ambiente, foi a partir daquele momento
que se começou falar dos direitos difusos.
Assim, na opinião da Prof.ª CARLA AMADO GOMES, da escola de Lisboa, defende (…) a
concepção de interesses difusos, se não é incorrecta, está saturada de ambiguidade, pelo
que, segundo ela, deve ser interpretada com muitas cautelas: porque em primeiro lugar, o
interesse de uso de um interesse colectivo não é difuso, mas individual; em segundo lugar
o interesse difuso é uma fórmula processual que pretende aliar duas realidades antónimas,
222 Vide normas programáticas na Constituição de Angola art. 21º, 85º, 89º e 98º, da CRA.
223 Ob. Cit. Pág. 61.
224 O conceito do interesse difuso resulta justamente da importação de uma criação jurisprudencial italiana -
“interessi difusi à fruição de bens da colectividade -, forjada para explicar o alargamento da legitimidade
processual a titulares de posições jurídicas substantivas diversas, quer do direito subjectivo, quer do
interesse legítimo, GOMES, CARLA AMADO - «O Risco de Modificação do Acto Autorizativo Concretizador de
Deveres de Protecção», Coimbra 2006, Pág. 120.
119
Manual de Direito Económico Francisco Mário
pois que, a individualização de um interesse e a comunitarização de um bem de utilidades
indivisíveis; em terceiro lugar, e sobretudo, porque o interesse difuso, apesar das suas boas
intenções partindo de um propósito puramente processual, redunda numa construção
invertida de uma posição jurídica substantiva para a qual há que encontrar alguma
correspondência material225.
Mas antes, como evidência um dos expoentes crítico deste entendimento doutrinal, o Prof.
VASCO DA SILVA, defende que, é preciso que se retorne à “infância difícil” do Contencioso
Administrativo para que se perceba o paradoxo então gerada da compreensão francesa do
princípio da separação de poderes vincada numa “promiscuidade entre Administração e a
Justiça” aportada num Administrador-Juiz, que era atentatório ao princípio de separação
de poderes227, para censurar com sublinhada nota a figura de interesses difusos, visto que,
neste tipo de Administração, os indivíduos eram vistos como meros objecto do Poder
Público, ou seja, súbditos da Administração Pública do tipo do modelo clássico de Estado
Liberal228.
É mister saber antes a relação jurídica administrativa que serve do conceito quadro que vai
explicar os vínculos entre a Administração e os particulares para podermos qualificar a
natureza jurídica do direito ao ambiente.
225 Apud. CUNHA, ILDA PORCILA, Interesse Difuso ou Direitos Subjectivos (Relatório de Mestrado em Ciências
Acções do Novo Processo Administrativo», Almedina, Coimbra 2005, Pág. 49, 50 e ss.
228 Ob. Cit. Pág. 264.
120
Manual de Direito Económico Francisco Mário
eles possuem uma alma pública e um corpo privado” por protegerem uma série de
interesses pluri-individuais em áreas conexas (…), assim sendo tem sido definido o
interesse difuso - “como direito a paz pública, a segurança pública e ao meio ambiente”
(RICARDO RIBEIRO CAMPOS)229.
A Lei Fundamental não constatamos os interesses difusos, mas contudo em alguns espaços
jurídicos – legais refere-se minguamente dos interesses da colectividade, que muitos
autores amiudamente têm crismados de interesses difusos, que o Prof. JORGE MIRANDA os
classifica de direitos de interferência prevista na regra da norma (art. 9º, al. e);52º; 53º;
64º; 67º;78º e 90º, da Constituição da República Portuguesa e por nós aqui no nosso
ordenamento jurídico, os “direitos de interferência”230, encontram o assento no art. 21º ;
39º e 74º, da CRA).
Mas não obstante a isso, na Lei do Consumidor consagra o interesse difuso, outro sim,
curiosamente uma norma processual que está prevista no art. 186º, al. d), da CRA, reporta
que o Ministério Público tem competência de defender os interesses colectivos e difusos
para abranger o demais direitos não previstos taxativamente no texto legal, bem como,
segundo o nosso entendimento constitui uma clausura aberta processual análoga em
homenagem ao princípio da clausura aberta substantiva do art. 27º, da CRA.
Na nossa opinião, são realidades distintas que não se reconduzem a este esquema da
geografia jurídica do direito ao ambiente, pois que, é uma forma diferenciada, que a ordem
jurídica utiliza em diferentes técnicas de atribuir as posições jurídicas de vantagem, mesmo
que os resultados sejam iguais231.
Para protecção desses direitos que lhes são atribuídos direitos de intervenção no
procedimento administrativo, assim como tutela judicial efectiva (seja pela via de recurso
de anulação, seja pela via de acções de defesa do direito de indemnização) no âmbito da
responsabilidade civil extracontratual da Administração em matéria de ambiente é
121
Manual de Direito Económico Francisco Mário
alargada em objectiva responsabilidade independentemente da culpa, isto significa funda-
se no dano, ou seja, responsabilidade objectiva.
Pois que, aonde existe actividade económica suscita sempre o cumprimento das regras
ambientais, ou seja, onde existe actividade económica há possibilidade de ocorrer danos
ecológicos, patrimoniais e culturais. Daí que a tutela do ambiente é um valor constitucional
independente e hétero determinante dos comportamentos económicos dos agentes
económicos, que vai para além do planeamento e do desenvolvimento232.
Porque, por extensão, abarca a conservação e gestão dos recursos naturais e o combate à
poluição que se configura nos princípios do Direito do Ambiente, nomeadamente:
- Princípio da Prevenção; previsto na al. c), do art. 4º, da Lei de Bases do Ambiente nº 5/98,
de 19 de Julho;
- Princípio do Poluidor Pagador; previsto na al. g), do art. 4º, da Lei de Bases do Ambiente
nº 5/98, de 19 de Julho.
Para todos os efeitos, a intervenção económica neste domínio é assegurada através dos
mecanismos e instrumentos de ordenamento do território ocupação dos espaços
territoriais de forma regrada que salvaguarde a defesa dos interesses de segurança
territorial no plano do equilíbrio ecológico, da conservação do património histórico e
cultural, bem assegura a segurança interna do território, das pessoas e as suas riquezas.
Todavia, para alcançar o desiderato anunciado, é mister adimplir com a pauta de princípios
ordenador do território fundamentais, designadamente:
Respeito e efectivação dos direitos, liberdades e garantias fundamentais, art.30º a 56º, CRA;
232Cfr. MONCADA, LUÍS CABRAL DE, - Manual Elementar de Direito Público da Economia e da Regulação,
Almedina editora-2012, Pág. 94.
122
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Utilidade Pública, art. 37º, da CRA;
Classificação e qualificação dos solos, art. 15º, art. 36º e 37º, da Lei do Ordenamento do
Território;
Desenvolvimento económico-social e qualidade de vida das populações, art. 39º, 21º, 85º,
89º, e 90º, da CRA;
Zona de edifícios habitacionais ou bairros fiscais de alta renda, média e baixa renda.
Zona urbana de edifícios públicos sociais, saúde, educação, desporto escolar, cemitérios,
parques sociais, geológicos e infantis, jardins e avenidas, largos e rotundas, viadutos e
pontes aéreas de peões.
Zona urbana de infra-estruturas militares, bases áreas, quartéis, bases marítimas e docas
de marines militares, bases de logística, bases de paióis de armento de guerra e explosivos,
centro de armas nucleares, misseis e rampas de lamento, campos de carreira de tiro, portos
militares e etc.
a)Aterros sanitários;
Zona Costeira
a)Praias;
c)Marginais e falésias;
d)Portos pesqueiros;
O ordenamento do território, além do plano urbanístico, temos os planos rurais para fins
agrários e aproveitamentos das águas e energia:
124
Manual de Direito Económico Francisco Mário
4.10.2. O Turismo
Não se pode falar de economia ambiental sem tocar no assunto do turismo como indústria
limpa.
Água, mar, terra, o clima, o frio e calor, ventos, sol, sucessão de dias e noites, chuvas,
constituem factores gerador de fontes de recursos do turismo, pois hodiernamente o
carácter dinâmico do “Sector do Turismo”, como criador de emprego, potenciador da
igualdade do género, factor de combate à pobreza, captador de divisas e difusor da imagem
do País no exterior, entre outros, impõe a corte do poder económico a necessidade de
criação de condições para o seu desenvolvimento sustentável.
Entretanto este desafio, coloca o País numa situação de emergência no âmbito do Mercado
de turismo ecológico e cultural, pois que, Angola dispõe de recursos turísticos, culturais,
históricos e naturais, que lhe privilegia no Mercado regional da SADC e noutros Mercados
Internacionais.
Pelo que, perante este desafio de actividade económica tão lucrativa impõe a regulação
jurídica para tutelar o interesse público, nos termos da CRA e da Lei nº 9/15, de 15 de Junho,
Lei do Turismo.
Porém, Turismo, - “pode ser definido como deslocação temporária de pessoas para destinos
diferentes da sua residência habitual por período superior a 24 horas, por motivos de lazer,
negócios ou outros, utilizando as facilidades de alojamento, restauração e outras bens e
serviços oferecidos no local”.
Por outro, actividade turística, consiste na actividade comercial que concorre para o
fornecimento de prestações de alojamento, de restauração e/ou satisfação das
necessidades das pessoas que viajam para o seu lazer ou por motivos profissionais, ou que,
têm por finalidade um motivo de carácter turístico.
Porém, neste sector de actividade existe os agentes económicos que nele operam e os
órgãos de regulação pública e privada.
125
Manual de Direito Económico Francisco Mário
d) As Administrações Comunais;
e) As Entidades de Gestão das Áreas de Interesse Turístico;
f) O Instituto de Fomento Turístico enquanto instituição pública de fomento e
promoção do turismo;
g) Autarquias Locais.
126
Manual de Direito Económico Francisco Mário
DE OLIVEIRA (…), diz que entrou-se na chamada sociedade de consumo ou de
abundância233.
O princípio económico de defesa do consumidor visa limitar, prevenir eventuais abusos nas
relações de consumo. Conclui-se e reportando a síntese do doutrinador da escola do
Lubango RAÚL RODRIGUES, atento dois aspectos que tem singular importância,
designadamente:
Por este raciocínio, por vezes o consumidor é elevado simplesmente a aderir (contrato de
adesão deve sempre respeitar os imperativos da disciplina das cláusula gerais dos
contratos, prevista na Lei nº 4/02, de 18 de Fevereiro, Lei Sobre as Cláusulas Gerais dos
Contratos).
233 Cfr. RODRIGUES, RAÚL CARLOS DE FREITAS, – O Consumidor no Direito Angolano, Almedina -2009, Pág.
22.
234 Ob. Cit. Pág. 54.
235 Ob. Cit. Pág. 186.
236 Lei nº 15/03, de 22 de Julho, Lei da Defesa do Consumidor.
237 Lei nº 4 /02, de 18 de Fevereiro, Lei Sobre as Cláusulas Gerais dos Contratos.
238 Acção Popular, - não é um mecanismo processual autónomo, mas sim é o alargamento da legitimidade
Na tutela dos direitos do consumidor no cômputo geral visa garantir os seguintes bens
jurídicos240:
Seguramente, isto é, que vamos saber, partindo primeiro da valência doutrinal de cariz
constitucional lusa do Prof. MELO ALEXANDRINO, que de ponto vista dogmático hipotisa
no seu repertório que os limites – são grandezas negativas, que tanto podem estar
enunciadas numa norma constitucional, como numa disposição legal ou numa regra do caso
(art. 164º, al. c), da CRA), de um lado, por outro, os limites são grandezas positivas que tem
de ser protegidas (art. 165º, nº 1, al.) b); c); d); e; f); g); j); k); i); m); n); p); q); r) e t), da
CRA241.
Para o Prof. REIS NOVAIS, as restrições em sentido estrito são situações normativas do
poder público (“leis restritivas”, na fórmula da nossa Constituição) modificativas do
239 Cfr. MAGALHÃES, CARLOS, – Defesa do Consumidor, a Responsabilidade Civil do Fornecedor, escolar
editora 2010, Pág. 25 e ss.
240 Cfr. PAHULA, OVÍDIO, – Evolução da Constituição Económica Angolana, casa das ideias 2009, Pág. 126.
241 Cfr. ALEXADRINO, MELO, - Direitos Fundamentais, Introdução Geral, Principia editora 2011, Pág.123 Pág.
121.
128
Manual de Direito Económico Francisco Mário
conteúdo dos direitos fundamentais e que do ponto de vista da sua dimensão subjectiva,
são desvantajosas ou negativas para os titulares reais ou potenciais dos respectivos
direitos. Conclui este autor afirmando que, - “neste sentido estas restrições são normas que
suprimem, impedem, diminuem ou dificultam o acesso dos titulares ao bem jusfundamental
protegido e, nessa medida, afectam a prossecução autónoma de fins pessoais garantida
objectivamente pela titularidade daqueles direitos fundamentais242.
Os limites dos direitos fundamentais económicos - são normas que, de forma duradoura,
excluem directamente os âmbitos ou efeitos de protecção ou que são fundamentais
susceptíveis de afectar as possibilidades de realização de normas jusfundamentais.
Os limites, podem ser, segundo a construção de FRIEDRICH KLEIN, citado pelo Prof. MELO
ALEXANDRINO, de dois tipos fundamentais: Limites de Garantias e de Reservas.
242 Cfr. NOVAIS, JORGE REIS, - As Restrições aos Direitos Fundamentais não Expressamente Autorizadas Pela
Constituição, Coimbra editora 2010, Pág.227.
243 V.g., alguém atear fogo na sua propriedade, ou apostar no jogo de fortuna e azar e perder todo o seu
Mas, o instituto do Abuso do Direito está desenhado na Constituição, o que significa dizer,
no caso justificativo é admitido excepcionalmente ao Estado (tutela pública) e aos
particulares (tutela privada)249, fazer intervenções restritivas e limitativas250, dos Direitos
Económicos Fundamentais em sede do Abuso do Direito.
244 Apud. ALEXANDRINO, MELO, - A Estrutura do Sistema de Direitos, Liberdades e Garantias na Constituição
Portuguesa, Vol. II, Colecção Teses, Almedina editora 2006, Pág. 460.
245 Ibidem. Pág.122.
246 Ibidem. Pág. 123.
247 Existe diferença entre restrições e restrições limitativas de direitos económicos, mas desenvolvimento
ver ALEXADRINO, MELO, Direito Fundamentais Introdução Geral, Principia editora 2011, Pág.123.
248 Lei civil art. 334º, do CC.
249 É o caso da intervenção restritiva do direito de Retenção, art. 45º, da LGT.
250 Limite aos limites em última instancia tem como sua fonte de garantia à Lei vide art. 115º, da LGT. Ob. Cit.
251 Cfr. MIRANDA, JORGE, - Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, 5ª edição Coimbra editora 2012. Pág.
421.
252 S.E.F. - Saneamento Económico e Financeiro.
253 Apud, FERREIRA, EDUARDO PAZ, – Direito da Economia, - Lisboa AAFDL-2003. Pág. 19.
- Preferimos tratar de Pré- Constituição por configurar-se nas leis constitucionais provisórias ou transitórias
que antecederam à actual Constituição definitiva de 2010.
131
Manual de Direito Económico Francisco Mário
assegurando a justa repartição do rendimento nacional, a preservação do ambiente e a
qualidade de vida dos cidadãos.
4.16.1. Mercado
O Mercado - pode ser definido como sendo o encontro entre produtores e consumidores
dentro de um determinado espaço e em Angola divide-se em Mercado Formal (oficial) e
Mercado Informal (não oficial) de bens e serviços.
O comportamento do “Homo Economicus” é tão complexo para que se tire alguma análise
que fidelize uma resposta das questões que a sociedade apresenta, mas na ciência jurídico
económica tem sido assinalado o aparecimento do Mercado Informal como falha do
Governo, ou falhas de Regulação do Estado e cujas consequências imediatas repercutem na
procura de produtos que o Mercado deixou de produzir ou fornecer ao consumidor que
algum sector da doutrina tem apelidado de falha do Mercado ou recessão do Mercado, que
em resposta à esta falha, o Mercado. Pois como o homem precisa de satisfazer as suas
necessidades, vai criar alternativas informais ou paralelas ao Mercado Formal e
burocrático restringido, ou limitado por regras por causa dos bens serem já escassos.
Portanto, na actual situação económica existe para efeitos a reforma económica através do
programa de transformação do Mercado Informal para o Mercado único formalizado nos
132
Manual de Direito Económico Francisco Mário
termos do PREI, Decreto Presidencial nº 84/14, de 24 de Abril, que estabelece as bases
gerais de transformação do Mercado Nacional Único, cujas instituições encarregue para
execução do referido programa são: INAPEM, BUE, conforme o estipulado nos art. 3º e 8º
do PREI, do Decreto Presidencial nº 84/14, de 24 de Abril, bem como o estabelece o Decreto
Presidencial nº 206/11, de 29 de Julho que aprova as “Bases Gerais Para Organização do
Sistema Nacional de Preços” e no Programa de Aquisição dos Produtos Agro-pecuários
(PAPAGRO)., que vigora desde 2014.
Não usa papel, não faz contabilidade prática os preços em função dos clientes;
Transparência e Liberdade: tudo é visível e porque é informal, é livre porque não está
preocupado com as regras jurídicas;
Imediatismo: não está voltado para o futuro, mas sim para a solução de problemas pontuais
e actuais.
Porquanto, à luz do Sistema de Economia de Mercado, os planos indicativos não dão ordens;
enunciam objectivos e preferências (opções) e contêm recomendações e não prescrições.
Este carácter traduz-se no objecto das disposições dos planos, nomeadamente no Plano
Nacional como nutrificado pela Lei do planeamento nacional angolano art. 5º, al. c), que
obviamente prescreve o seguinte:
255 Lembra o Plano Marshall que visou a recuperação da Europa pós - guerra de 1945, 2ª guerra mundial. O
referido plano ficou conhecido por “ PLANO MARSHALL” em homenagem ao ex-secretário do Estado dos
EUA - GEORGE CATLETT MARSHALL, que ganhou o Nobel da Paz de 1953, pela criação do plano que ajudou
a reconstruir a Europa na pós-guerra e morreu em 1959.
Na França houve o PLANO DE “MONNET” O Plano Monnet era um plano de reconstrução da França proposto
pelo funcionário público Jean Monnet após o final da Segunda Guerra Mundial. No plano era proposto que a
França obtivesse controlo sobre o carvão e aço das zonas alemãs do Vale do Ruhr e Sarre para poder usar
esses recursos e levar a França ao índice 150% quando comparado com a produção industrial do pré-guerra.
O plano foi adoptado por general Charles de Gaulle no início de 1946.
E na Rússia (URSS) o PLANO “COMECON” (Council for Mutual Economic Assistance, Conselho para Assistência
Económica Mútua) foi fundado em 1949, e visava a integração económica das nações do Leste Europeu.
Os países que integraram a organização internacional foram a União Soviética, Alemanha Oriental (1950-
1990), Tchecoslováquia, Polónia, Bulgária, Hungria e Romênia.
Recentemente países da zona euro devido a crise do subprime, é uma crise financeira desencadeada em 2006,
a partir da quebra de instituições de crédito dos Estados Unidos, que concediam empréstimos hipotecários
de alto risco (em inglês: subprime loan ou subprime mortgage), arrastando vários bancos para uma situação
de insolvência e repercutindo fortemente sobre as bolsas de valores de todo o mundo, Portugal e outros
países da Europa foram obrigados a pedir ajuda financeira externa e que ficou conhecido como o programa
de assistência económica e financeira, ou regaste financeiro do FMI, ou seja, ajuda externa desde 2011,
designado de Troika (troika tem vários significados, designadamente):
1. Trenó puxado por três cavalos
2. Conjunto de três pessoas ou coisas, tric
3. Grupo de trabalho ou delegação composto por três membros
(Do russo Troïka, «trio»).
E em Angola o Programa de Saneamento Económico e Financeiro de 1988, conhecido como S.E.F. e
sucessivamente seguiram mais outros programas, ou planos gizados pelo governo do Eng.º JOSÉ EDUARDO
DO SANTOS.
134
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Em primeiro lugar, encontram-se aí abundantes análises de situações, de dados
económicos e de evolução.
É o que indica a Lei que contém a aprovação do Plano: «O Plano é aprovado como quadro
dos programas de investimentos para o período (…) e como instrumento de orientação da
expansão económica e do progresso social»256.
Desde o princípio como afirma ANDRÉ DE LAUBEDÈRÉ257, que estas questões foram
discutidas e continuam a ser. O problema da natureza jurídica do plano é efectivamente um
problema embaraçoso e difícil.
256 Cfr. LAUBADÈRÉ, ANDRÉ DE, - Direito Económico, Pág. 318. Escreve este autor francês que, - carácter
operativo distingue sem dúvida, no seio da planificação indicativa, os planos de tipo francês dos documentos
de tipo holandês, que não passam de previsões postas em números, com fim de informação sem incitamento.
É aquilo que por vezes se exprime dizendo que plano francês, se não é imperativo, é pelo menos activo. Mas
nem por isso deixa de ser simplesmente indicativo.
No V plano, preferiu-se a eventuais correcções empíricas e improvisadas, uma fórmula de levantamento
sistemáticos, chamada fórmula dos «pisca-piscas» ou dos «sinais de alerta»: as variações susceptíveis de se
produzirem em determinados domínios (nível geral de preços, equilíbrio das trocas externas, situação do
emprego, etc.) deveriam arrastar, se ultrapassassem determinadas marcas, a aplicação de medidas correctas
ou mesmo a mudança explícita de um objectivo do plano.
Mas, a inovação mais importante do VII Plano, no que diz respeito à aplicação da ideia dessa mentalidade,
reside na técnica dos programas de acções prioritárias, que corrigem os efeitos dessa mentalidade –
reafirmada em si mesma – através de um regime mais bem protegido contra as eventuais mudanças,
reservado à determinadas acções seleccionadas.
Nesta ordem de ideias, para evitar que as variações da conjuntura fizessem abandonar determinados
objectivos essenciais, já o VI Plano tinha previsto, para certos equipamentos, «declarações de prioridade» que
os tornavam beneficiários de envelopes quinquenais de autorizações de programa assim como de
«programas finalizados», caracterizados pelo facto de que ai eram reconhecidas como prioritárias não apenas
as despesas de equipamento complementares.
A ideia fundamental desta concepção é que, sendo simplesmente indicativo, o plano só terá possibilidade de
êxito se for «aceite» pelas pessoas interessadas na sua aplicação e até se for por elas sentido como uma obra
colectiva, uma espécie de bem comum, uma linha de conduta que elas têm interesse em seguir.
Esta ideia, que constitui o correctivo do carácter indicativo do plano, é talvez inerente à natureza de qualquer
plano deste género; não é por isso menos verdade que se pode apresenta-la com uma marca própria da
planificação francesa, ela revela o seu espírito e exprime-se na técnica chamada «elaboração concertada», que
os autores do Plano Monet evocavam declarando que «a execução dos programas se deveria fazer dentro de
uma economia concertada e não dentro de uma economia dirigida de carácter burocrático e corporativo».
Podemos dizer que a planificação foi, deste modo, a terra natal da concertação antes que esta última se
tornasse objecto de uma aspiração muito mais geral em matéria económica e mesmo nos outros sectores da
vida administrativa.
257 Ibidem.
135
Manual de Direito Económico Francisco Mário
A razão disso está nas características muito particulares, que acabamos de indicar, do acto
planificador, em particular no seu carácter simplesmente indicativo optativo.
Tradicionalmente o acto jurídico define-se como acto que visa produzir efeitos de direito,
modificar o ordenamento jurídico existente e, tratando-se do acto jurídico público, como
um acto prescritivo, imperativo ou ainda normativo, isto é, introduzindo na ordem jurídica
uma norma, uma regra.
Com efeito, é certo que o Plano, por si mesmo, não impõe nada às Empresas económicas
privadas, aos administrados. Não lhes é oponível, no sentido de que eles são absolutamente
livres de não seguir as suas recomendações. E, por outro lado, ele também não pode ser
directamente invocado por eles em justiça: os interessados não poderiam pretender anular
uma decisão da administração pela razão de que ela não estaria conforme a esta ou aquela
recomendação do Plano, nem reclamar indeminização pela razão de que lhes teria sido
recusado determinado benefício previsto no Plano.
O Plano está mesmo privado de eficácia jurídica no que diz respeito aos investimentos
públicos que prevê. Não podem dar lugar a compromisso do Estado a não ser nos limites
determinados por autorizações de programa votadas nas condições determinadas pela lei.
Mas esta afirmação obriga a perguntar, por um lado, em que categoria de actos jurídicos se
pode classificar o Plano, por outro lado que consequências devem ou deveriam ser ligadas
ao reconhecimento da juridicidade do Plano258.
258 Cfr. LAUBADÈRÉ, ANDRÉ DE, - Direito Público Económico, Pág. 326. Esta consideração leva muitos juristas
a pensar que o Plano n ao é um acto do âmbito do Direito. O Plano nesta opinião, é um acto técnico e político,
não jurídico; cria obrigações morais, não obrigações no campo do direito, não pertence à ordem jurídica. O
Plano, se não do ponto de vista das suas formas, processos e graus de elaboração, pelo menos do ponto de
vista da sua natureza profunda, seria, em suma, uma declaração governamental de política económica
aprovada pelo Parlamento, análoga a parte económica de uma daquelas declarações ministeriais através das
quais um novo chefe do governo expõe, quando entra em funções, a política económica que conta seguir
durante o período em que ficará poder e recolhe um voto de confiança equivalente à aprovação do programa
exposto.
No que diz respeito especialmente às próprias obrigações dos poderes públicos, como admitir que
Estado não seja em nada obrigado juridicamente pelo Plano que aprovou e propôs ele mesmo aos
interessados, incitando-os, ainda por cima, a embrenharem-se em direcções definidas e que, tendo-o
promulgado, ele possa lavar as suas mãos a esse respeito? «O Plano constitui um compromisso solene da
Nação para consigo mesma».
136
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Plano no Ordenamento Jurídico Económico Angolano, consiste pois, em um instrumento de
política económica, e, constitui um limite à actuação do Mercado e exprime a supremacia
do Poder Político sobre o Poder Económico259.
Portanto, o plano angolano tem natureza misto, porquanto que na sua qualificação pode ser
entendido como um Plano indicativo para entidades privadas, isto é, facultativo, ou
optativo para os agentes económicos do sector privado da economia, dai torna um
instrumento de política do governo destituído de juridicidade, de um lado, e, por outro lado,
deve se entendido como um Plano Imperativo para entidades públicas, desde logo, vincula
Pág. 91.
137
Manual de Direito Económico Francisco Mário
todas as entidades do sector empresarial público, cujo império dos seus comandos é de
algum modo, de cumprimento obrigatório, tendo por via disso, carácter de um acto jurídico
ineficaz, porquanto, o Plano é acto técnico político que constitui um compromisso solene
da Nação para consigo mesma.
Neste contexto, o princípio da economicidade - pode ser definido como aquele através do
qual se busca a concretização dos objectivos constitucionalmente traçados por uma linha
de maior vantagem, isto é, de forma mais viável possível para o suprimento de determinada
262 Estado Económico consiste no Estado lucrativo – capitalista e nunca no Estado de caridade que produz
bens e serviços e doa aos seus cidadãos, o Estado nunca distribui a riqueza por via gratuita, mas sim por via
de retribuição de rendimentos (renda, juros, trabalho, imposto, taxa e isenções fiscais, incentivos e etc.), se
assim o fizer será um Estado válido, aí impera, segundo o adágio popular “ quem não trabalha não como”.
263 Cfr. LOBÃO, JULIÃO - Finanças Comportamentais, quando a economia encontra a psicologia, editora, Actual
- 2012, pág. 11. “Homo economicus – no desenvolvimento dos seus modelos, as finanças racionais pressupõem a
existência de um agente económico ideal com características muito especificas designado homem económico
(homo economicus)”.
Os economistas assumiram que o estudo das acções económicas do homem poderia ser feito abstraindo-se
as outras dimensões culturais do comportamento humano: dimensões morais, éticas, religiosas, políticas, etc.,
e concentraram seu interesse naquilo que eles identificaram como as duas funções elementares exercidas por
todo e qualquer indivíduo : o consumo e a produção O Hedonismo, que afirma que o homem está sujeito, tal
como os animais, à Lei natural dos instintos e que portanto se encontra implícita a procura do prazer, do bem-
estar e a evitação da dor.
O Utilitarismo, cujo autor principal é JOHN STUART MILL (1806-1873) afirma que o que é útil é valioso e
contrapõe o prazer calculado ao irracional, classificando os prazeres nobres e pobres.
O Sensualismo segundo CONDILAC (1714-1780) afirma serem os sentidos a fonte do conhecimento, dai
consubstanciar-se nos seguintes princípios fundamentais do conceito “homo economicus”:
1- A razão psicológica essencial a toda a actividade humana é o interesse pessoal. Este primeiro
princípio é então afectivo, pois define a única razão da actividade económica;
2- O homem não obedece senão à razão;
3- O sujeito é universal, o interesse pessoal e a racionalidade são validos em todos os lugares e em
todos as épocas.
4- O homem está perfeitamente informado, tem conhecimento da totalidade das consequências de
todas as possibilidades das acções que se lhe oferecem;
5- O homem vive o presente num tempo linear, não se lembra nem tem a capacidade de prever;
6- Ele está só e portanto livre dos outros homens, ou seja, não existem determinismos que lhe sejam
exteriores.
Com base nesta construção abstracta, que os economistas construíram sobre um corpo teórico
unanimemente aceite, elaboraram-se leis económicas que se encontram em todas as obras fundamentais: a
Lei da maximização da utilidade e leis sobre a utilidade marginal, aplicadas ao consumo e à produção.
264 Capitalismo ou socialismo.
138
Manual de Direito Económico Francisco Mário
necessidade, seja esta de que ordem for, não apenas patrimonial, mas também social,
política, cultural, ética e moral265.
Segundo a Advogada de Minas Gerais (Brasil) CLÁUDIA MARIA SILVEIRA, profetiza que
muitas vezes, a solução mais vantajosa para a situação não se trata daquela mais lucrativa
em termos financeiros, capitalistas. Tudo dependerá da finalidade que se busca atingir. Se
se almeja, por exemplo, o alcance da instalação telefónica em meios rurais de difícil acesso,
apesar de ser uma obra extremamente dispendiosa e de pouco retorno financeiro, em se
concretizando tal meta, o objectivo social terá sido realizado, embora não sejam auferidos
lucros em matéria de rendas mas sim de benefícios para a população266.
O que significa dizer que, maior vantagem há-de ser adequada aos objectivos
constitucionalmente definidos. Permite, desta maneira, a opção mais justa ou
recomendável, em política económica, a ser realizada pelo aplicador ou intérprete da
norma, quando da realização concreta de situações hipoteticamente previstas. O ideal é que
se consiga conciliar aquilo tomado como certo economicamente, com o considerado justo
juridicamente. Em caso de incompatibilidade, deve prevalecer o justo.
265Cfr. SILVEIRA, CLÁUDIA MARIA, - Advogada em Belo Horizonte (Minas Gerais) art. Direito Económico e
Cidadania-fonte intenet.http://jus.com.br/946428-claudia-maria-toledo silveira.Consultada 10/2/2014.
266Ibidem.
267Ibidem.
268Cfr. MONCADA, LUÍS CABRAL DE, - Direito Económico, 5ª edição, 2007, Pág. 331
139
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Em síntese quando um jurista está perante um conflito entre o Direito e a Justiça deve
pensar sempre no valor imanente e suprema da justiça, isto é, deve escolher a justiça,
porque nem todo Direito é Justiça269.
Através deste princípio fica obrigada as entidades públicas acomodar a sua gestão
económica a um aproveitamento racional dos meios humanos e económicos e financeiro de
que dispõe minimizando os custos de produção de distribuição comercialização de modo a
puder responder na maior escala possível às necessidades que se propõe satisfazer. É
corolário do princípio da economicidade que visa criar as condições para que a
rentabilidade empresarial seja possível271.
O que significa dizer o Estado quando esta regular ou intervir na economia visa alcançar a
eficiência e não abstruir.
140
Manual de Direito Económico Francisco Mário
sentido formal. Daí, ser considerando a figura central na hierarquia da intervenção do
Estado sobre a Economia.
Assim sendo, para todos efeitos académicos vamos dar a noção de algumas figuras:
4.19.1. Nacionalizações
A nacionalização em sentido restrito pode ser definida, segundo o Prof. EDUARDO PAZ
FERREIRA, como uma medida coactiva que opera a transferência da propriedade de
Empresas, participações sociais universalidades de bens, prédios rústicos e/ou urbanos ou
ainda de outros bens das pessoas privadas para as entidades públicas por razões política
económica e social272, por conseguinte o instituto de nacionalizações tem assento
constitucional previsto no art. 97º, da CRA., e art. 11º, da Lei de Terras nº 9/04, de 9 de
Novembro.
1º- A nacionalização opera sempre por via coactiva, não se podendo falar de nacionalização
se tiver havido uma compra pelo Estado de bens privados;
2º- É preciso que se verifique uma transferência efectiva da propriedade dos bens que
deixam de se integrar no sector privado;
3º- A nacionalização tem sempre uma motivação de ordem económica e social, visando que
os bens atingidos fiquem ao serviço do interesse geral273.
4.19.2. Privatizações
Em sentido restrito, define-se a privatização como uma medida através da qual o sector
público cede à iniciativa privada meia de produção, para que esta os explore com maior
eficiência e racionalidade.
- KEYNES, apareceu neste momento para defender pela 1ª vez a intervenção do Estado, no
sentido do investimento público em tempos de recessão ;
Todavia, o certo é que verificou-se pois as intervenções estatais em Angola naquela época
foram feitas por dirigentes de todos ramos de actividade e Governadores de Província com
assinável intervenção de facto coberto do calor fervor da revolução, contrariando desta
feita a legalidade do disposto no Decreto – Lei nº 128/1975.
274 Cfr. AVV. DOS SANTOS, ANTÓNIO CARLOS /GONÇALVES, MARIA EDUARDA/MARQUES, MARIA MANUEL
LEITÃO, – Direito Económico-5ª Edição Reimpressão/2004, Pág. 143.
275 Cfr. ABRANTES, MARIA LUÍSA, - As Privatizações Em Angola (Ensaios), Pág.43.
276 Itálico também é nosso.
142
Manual de Direito Económico Francisco Mário
O Estado ao intervir na economia deve respeitar o “Princípio da Subsidiariedade”, que a
nossa Constituição não consagrou expressamente, por conseguinte, este princípio
encontra-se consagrado em muitas constituições.
Antes responder a vexata quaetio vamos procurar examinar o que significa subsidiariedade
e depois fazermos o jus do princípio em apreço.
De acordo com aquele princípio, como sustenta o CABRAL DE MONCADA, o Estado deve
respeitar a liberdade e a vitalidade económicas do indivíduo e dos corpos intermédios
espontaneamente formados no seio da Sociedade Civil. Naquela última Encíclica afirma-se
que ao intervir directamente, irresponsabilizando a sociedade, o Estado assistencial
provoca a perda de energias humanas e o aumento exagerado do sector estadual, dominado
por uma lógica burocrática e sem a preocupação de servir os utentes, com enorme
acréscimo de despesas.
Ao Estado fica reservado um papel subsidiário no sentido residual, não devendo intervir na
economia para além do estritamente necessário (princípio da necessidade) e do princípio
da proporcionalidade.
277 Cfr. MONCADA, LUÍS CABRAL DE, - Manual Elementar de Direito Público da Economia, Almedina, 2012,
Pág.103.
278 A subsidiariedade é referida no art. 23º (o “art. europeu”). É reconhecido como central para a união
económica e é estrutural para a UE. O princípio é uma regra de atribuição de competência, pois limita a
actuação da UE no interesse da manutenção da esfera de actuação nacional e dos poderes dos Estados-
Membros. O novo tratado europeu refere que as decisões e as acções só devem ser tomadas a nível europeu
se o seu objectivo não puder ser mais bem alcançado através de acções a nível local, regional ou nacional (o
anterior tratado referia-se apenas a acções a nível nacional).
143
Manual de Direito Económico Francisco Mário
4.20.2. Sub - Princípio da Necessidade Económica
A intervenção só se justifica assim se necessária para evitar situações de desequilíbrio
económico e social, ou quando apresenta natureza supletiva por um corpo social, apenas
por si, não lograr certas actividades por falta de meios ou desinteresse.
279Ibidem.
280 Cfr. PIZARRO, SEBASTIÃO NÓBREGA, - Contrato de Outsourcing. Coimbra, 2010. Pág. 6-25. Neste sentido,
Outsourcing – é uma palavra de origem anglo-saxónica composta por “Out” que significa fora e “Soure” ou
“Sourcing” que significa fonte. O Outsourcing ter a ver com a terciarização de serviços ou subcontratação que
é assume três características: produção tecnologia de informação e processo de negócio. E pode ser
classificado como Outsourcing público ou privado. Ex. Serviços de informática, jurídico, segurança, cantina,
transporte, refeitório, limpeza (nos estabelecimentos públicos hoje maioritariamente é feito pelas empresa
privadas) e etc.
Este contrato económico muitas vezes é confundido com o contrato de prestação de serviços previsto no
art.1154º cc. a diferença radica intrinsecamente no conteúdo literal da norma do código civil do art. 1154, in
fine, sendo que o contrato de serviço pode ser oneroso ou gratuito enquanto que o contrato de outsourcing é
sempre oneroso.
281 Cfr. MONCADA, LUÍS CABRAL DE. - Manual Elementar de Direito Público da Economia, Almedina, 2012,
Pág.103.
144
Manual de Direito Económico Francisco Mário
CAPÍTULO V - ADMINISTRAÇÃO ECONÓMICA E OS SEUS ÓRGÃOS
Por tal razão, a inexistência de uma organização administrativa estadual levou a que, ao
tempo, as tarefas administrativas fossem executadas de forma descentralizadas pelo clã,
pelos aristocratas e por pequenas associações de estirpe no âmbito de competência própria
autónoma.
Ora, neste contexto e nesta época histórica, o Direito emanava da consciência moral e
religioso, ou seja, o Direito, o costume e a religião eram a mesma coisa e ordenavam o sentir
e as necessidades da comunidade.
Foi, porém, em Roma imperial que se afirmou as preocupações de criar um Estado assente
numa expressão territorial e num poder político complexo, provendo a ampla necessidade
colectivas como defesa, segurança interna, assuntos financeiros e económicos, cunhagem
da moeda, comunicações, abastecimento de água, infraestruturas de resíduos,
funcionamento de mercados, transportes, ensino, cultura e até lazer283.
Mas a partir do momento em que o Estado intervém de uma maneira mais acentuada
(intervencionismo) e sobretudo de uma forma mais diversificada, através de acções de
géneros muito diferentes, põe-se o problema do ordenamento do poder económico central,
que não pode ser capazmente resolvido pelas fórmulas do Estado liberal284.
282 Cfr. CARDONA, MARIA CELESTE. – Contributo para o Conceito e a Natureza das Entidades
Administrativas Independentes, Almedina editora 2017, Pág.78.
283 Apud. CARDONA, MARIA CELESTE. – Contributo para o Conceito e a Natureza das Entidades
145
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Esta questão diz respeito, antes de mais, à escolha de uma instância ministerial285. Porém,
esta procura de uma implantação ministerial da Administração Económica que lhe sirva e
que assegure a sua unidade de direcção encontra duas espécies de dificuldades.
Esta Administração territorial assenta sobre duas necessidades que convém distinguir
cuidadosamente e que fazem surgir, no interior da própria Administração territorial, art.5º,
da CRA e uma segunda distinção, a da Administração Estadual (art.8º e 199º, da CRA) e a da
Administração Local (art.8º e 201º, da CRA).Há dois níveis de órgãos da Administração
Económica: CENTRAL E DESCONCENTRADO.
O que corresponde aos Estados unitários onde as funções executivas de política económica
são exercidas, ou pelo menos controladas, pelo executivo central. A este nível os órgãos
principais da Administração Económica são: o Conselho de Ministros e sua Comissão
Permanente, e a Equipa Económica, bem como os diversos Ministérios.
287 No mesmo sentido Cfr. LAUBADÈRÉ, ANDRÉ DE, - Direito Público Económico, Pág. 158.
288 Ibidem. Pág. 205.
147
Manual de Direito Económico Francisco Mário
a) Comissão Económica (Decreto Presidencial nº 217/12, de 15 de Outubro);
b) Comissão para Economia Real (Decreto Presidencial nº 218/12, de 15 de Outubro);
c) Comissão para a Política Social (Decreto Presidencial nº 219/12, de 15 de
Outubro);e,
d) Conselho Nacional de Concertação Social (Decreto Presidencial nº 220/12, de 15 de
Outubro);
Portanto, além dos órgãos que fizemos menção no ius constituend existe uma cláusula
aberta constitucional (art. 198º, nº 3, da CRA) para ser preenchidas através
institucionalização das autoridades administrativas independentes em Angola.
148
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Os argumentos de natureza ideológica combinavam-se, então, com a reacção às falhas de
intervenção de um Estado especialmente activo na área económica e social, tanto por via
da participação directa na produção e prestação de bens e serviços, mediante Empresas
Públicas, como pela orientação, controlo e disciplina da actividade económica privada,
evidenciando uma alegada ineficácia do Estado Providência para gerar os resultados
económicos e sociais pretendidos, enquanto garante de condições básicas de vida a todos
cidadãos292.
A essa condenação vigorosa não era também alheio o elevado custo financeiro do sector
público, que respondia por défices orçamentais persistentes e aparentemente
incontroláveis, exigindo dos Governos o recurso sistemático ao empréstimo com as
repercussões inevitáveis seja no volume da dívida, seja na estrutura da despesa. Portanto,
tratava-se de uma reacção substancialmente reforçada não apenas pelos rumos da
integração na SADC, mas também no sentido da construção do grande Mercado interno e
mas ainda pelo processo de globalização económica293.
A primeira razão justificativa da regulação está, assim, associada à própria garantia dos
Mercados e da concorrência. É que, abandonado a si mesmo, o Mercado pode configurar
derivas por efeito de concentração monopolista de Empresas “ententes” entre Empresas,
abusos de posição dominante ou práticas restritivas da concorrência, em geral, importando
portanto regular o Mercado para garantir a concorrência.
292 AZEVEDO, MARIA EDUARDA, -Temas de Direito da Economia, Edições Almedina, 2013, Pág. 133 – 194.
293 Ibidem.
149
Manual de Direito Económico Francisco Mário
operadores, tendo de aceitar-se um só e tornando inviável o cumprimento das regras de
fluidez e atomicidade próprias dos mercados em concorrência.
É o que se passa, mormente, com as chamadas “indústrias de rede”, em que é necessária uma
entidade reguladora dotada de autoridade e independência para garantir o acesso de todos
os operadores em condições equitativas. A solução reside, então, em regular externamente
a entidade incumbente da rede – pública ou privada -, estabelecimento os mecanismos de
acesso de produtores e consumidores à rede, bem como a remuneração da operação da
rede294.
Por fim, uma última razão está relacionada com o propósito de garantir as obrigações de
serviço público, que subsistem mesmo após a privatização e liberalização das Empresas
Públicas e o afastamento dos antigos mecanismos de exclusivo público, que outrora eram
inerentes ao modelo em que dominava a antiga responsabilidade directa do Estado pela
provisão de serviços públicos.
É esse conjunto de factores que justifica, no momento actual, que a actividade de regulação
se haja transformado na função mais característica do Estado na esfera económica. Veja-se,
entre outros, MITNICK, para quem a regulação é o “controlo público administrativo da
actividade privada de acordo com regras estabelecidas no interesse público”; ou J. C.
STRICK, que encara a regulação como “a imposição de regras e controlos pelo Estado com
o propósito de dirigir, restringir ou alterar o comportamento económico das pessoas e
empresas, e que são apoiados por sanções em caso de desrespeito”; ou, ainda, MAORAN,
que considera a regulação como o sistema pelo qual “a discrição dos indivíduos ou
instituições é restringida por via da imposição de normas”; ou, por fim, FRANCIS, que
assimila a regulação “a intervenção do Estado nas esferas de actividade privada, para
realizar finalidades públicas”296.
294 AZEVEDO, MARIA EDUARDA, -Temas de Direito da Economia, Edições Almedina, 2013, Pág. 133 – 194.
295 Ibidem.
296 AZEVEDO, MARIA EDUARDA, -Temas de Direito da Economia, Edições Almedina, 2013, Pág. 133 – 194.
150
Manual de Direito Económico Francisco Mário
corresponde à intervenção do Estado na economia por outras formas que não há
participação directa, abarcando o conceito todo o envolvimento do Estado no
comportamento económico das Empresas Privadas e ficando apenas de fora a participação
directa estadual na própria actividade económica.
Acontece que o termo tem igualmente conhecido um outro sentido que associa a regulação
à “institucionalização de entidades independentes aptas para estabelecer os esquemas
regulativos das regras do jogo económico e dirimir os conflitos em domínios sectoriais
política e economicamente sensíveis”297.
Perante uma tão considerável controvérsia doutrinal sobre a matéria, há mesmo quem
ponha em dúvida a possibilidade de se poder identificar um conceito geral de regulação.
Uma posição compreensível visto que, no essencial, as categorias jurídicas ligadas ao
fenómeno, por terem sido originariamente concebidas e desenvolvidas nos ordenamentos
jurídicos norte-americano e anglo-saxónico, por tradição menos apegados a processos de
fixação de categorias formais e mais adversos a grandes sistematizações jurídicas, viram-
se privadas de uma densificação dogmática adequada.
Acresce que há ainda quem contraponha a regulação económica designada de estilo antigo
(“Old Style Regulation”), que se confunde basicamente com a experiencia secular norte-
americana, à regulação de estilo moderno (“Modern Style Regulation”), identificada com a
regulação desenvolvida nas últimas décadas do século XX na Europa em consequência do
movimento das privatizações298.
297 Ibidem.
298 Ibidem.
151
Manual de Direito Económico Francisco Mário
intervenção pública no Mercado, que há de ser entendida como um controlo prolongado
exercido por uma actividade a que a comunidade reconhece uma especial relevância social.
A fórmula sugere um dever de garantir a realização de certos fins de interesse público, que
subsiste na esfera do Estado. O Estado de Garantia, abandonado o encargo de promover,
por si mesmo, a provisão de bens e serviços – entretanto privatizados -, é interpelado a
assumir uma tarefa nova de garante da realização de dois objectivos ou interesses
fundamentais: quer o correcto funcionamento dos serviços e sectores privatizados; quer a
realização dos direitos dos cidadãos, mormente o direito a beneficiar de serviços de
interesse geral.
299 AZEVEDO, MARIA EDUARDA, -Temas de Direito da Economia, Edições Almedina, 2013, Pág. 133 - 194
300 Ibidem.
301 Ibidem.
152
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Em larga medida, a responsabilidade pública de regular comprova que o Estado contínuo
portador de uma relevante e incontornável missão a desenvolver na economia e, em geral,
nas actividades privadas, sinalizando a manutenção e perpetuação das tarefas públicas.
Neste sentido e por aplicação directa e cumulativa destes critérios entendemos que todas
entidades criadas com fundamento em preceito ou com estatuto constitucional expresso,
como é o caso do Banco Nacional de Angola e Provedor da Justiça, devem ser qualificadas
como Autoridades Públicas Independentes e nessa medida, equipadas aos demais órgãos
de soberania previstos na constituição.
302 AZEVEDO, MARIA EDUARDA, -Temas de Direito da Economia, Edições Almedina, 2013, Pág. 133 - 194
303 Apud.CATARINO, LUÍS GUILHERME, - Regulação e Supervisão dos Mercados de Instrumentos Financeiros
Fundamento e Limites do Governo e Jurisdição das Autoridades Independentes, Edições Almedina, 2010,
Pág.17 e 304.
304 CATARINO, LUÍS GUILHERME, - Regulação e Supervisão dos Mercados de Instrumentos Financeiros
Fundamento e Limites do Governo e Jurisdição das Autoridades Independentes, Edições Almedina, 2010,
Pág.17 e 304.
153
Manual de Direito Económico Francisco Mário
São, assim, Autoridades com estatuto de entidades quase soberanas. Pois a sua organização
e funcionamento está directamente subordinado ao texto constitucional; as suas
atribuições e competências são exercidas sem dependência de qualquer critério modelador
ou coordenador do exercício das suas actividades.
Estas Autoridades não são, pois, entidades integradas na Administração Pública pelo que,
por tal razão, não estão vinculadas a observar o princípio da unidade de acção previsto na
Constituição.
Esta “refundação” da intervenção pública foi analisada a partir dos seguintes métodos de
abordagem:
Os interesses públicos que devem ser prosseguidos são os que resultarem das concepções
prevalecentes de cada momento histórico que, por assumirem tal qualificação, devem ter
assento constitucional.
305CARDONA, MARIA CELESTE, - Contributo para o Conceito e a Natureza das Entidades Administrativas
Independentes, AS AUTORIDADES REGULADORAS, Edições Almedina, 2017, Pág.57-67
154
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Esta afirmação é fundada na ideia de que ao Estado continua a ser imputável a
responsabilidade pública de garantia da realização de certos valores e a satisfação do
interesse público.
(iv) Orgânica própria – os Institutos possuem corpos sociais configurado na sua típica
identidade orgânica: órgãos colegiais – Conselho Directivo e Conselho Fiscal; órgãos
unipessoais – Director Geral coadjuvado por adjuntos e Presidente do Conselho Fiscal
conjunto pelos vogais. Vide art. 20º, e ss., da Decreto Legislativo Presidencial nº 2/2013,
de 25 de Junho.
(v) Tutela (de mérito e de legalidade) - faz depender da autorização prévia do Ministro
de Tutela, ou do Ministro das Finanças para conformação legal ou de mérito dos actos
que impliquem dispêndios financeiros e;
Os Institutos Públicos são diferentes das Empresas Públicas e podem ser classificados em
termos do critério do princípio da especialidade, designadamente:
306Assim sendo, os Fundos Públicos como o Fundo Soberano, é sublinhado certamente numa asserção
conforme o nosso entendimento, como sendo uma ferramenta financeira de intervenção económica directa
do Estado na economia ao nível interno e internacional e constituído pelos activos financeiros de propriedade
do governo com diversos objectivos, ou seja, funcionam como veículos de investimento internacional e
mecanismo de políticas públicas. Distingue-se das Empresas Públicas por razões óbvias já definida pelos
arautos do Direito Administrativo, apesar serem propriedade do Estado, com diversos objectivos e destinadas
a obter fins lucrativos, mais desenvolvimentos, vide, MARIO, FRANCISCO; - «FUNDO SOBERANO
ANGOLANO», Relatório do Mestrado, FDUL, Lisboa 2013, Pág. 17 e ss.
156
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Os Institutos Públicos o se regime laboral é sui generis, ou misto pois alguns aproximam-se
aos serviços públicos em sentido clássico no caso os Institutos do Sector Administrativo e
outros assumem estrutura de cariz empresarial, no caso dos Institutos Públicos do Sector
Empresarial ex vi lege art. 11º, do Decreto Legislativo Presidencial nº 2/2013, de 25 de
Junho.
Entretanto, devido à apatia do FMI face o actual fenómeno da crise que perdura quase dez
anos, os BRICS (Brasil, Rússia, Índia e África do Sul) como possível alternativa de nova
ordem económica mundial e, a quanto isso, na margem de cá do mediterrânio (na Europa),
o Dr. EMANUEL SANTOS, qualifica como “Serpentes Orçamentais” 311, a dívida soberana dos
actuais países da zona euro, aliás, se assim quisermos dizer, ditos de países do sul, ou
periféricos da zona euro, especialmente: Portugal, Espanha, Itália e Grécia.
307 Ibidem.
308 Cfr. PAZ FERREIRA, EDUARDO - Crónicas de anos de Chumbo - 2008 -2013. Pág. 266.
309Embora a África do Sul e o Egipto tenham a parte de Leões, há 16 países emergente dos quais conta-se
Angola. Mais desenvolvimento ver o VIJAI MAHAJAN «O Despertar da África», editora actual, 2013, Pág. 49.
310 Cfr. MAHAJAN, VIJAI «O Despertar da África», editora actual,2013, Pág. 152.
311 SANTOS, EMANUEL AUGUSTO – «Sem Crescimento não há Consolidação Orçamental» Finanças Publicas,
Ora bem, quanto aos Fundos Soberanos, apresentam-se, indubitavelmente, como um dos
novos actores do sistema financeiro internacional, todavia, esses novos actores vêm de
encontro com o padrão previamente existente, no qual os investimentos privados exibiam
proporções muito maiores que os investimentos públicos e, já hoje em dia, a coisa é bem
diferente.
Assim sendo, para compreender a lógica do desiderato dos Fundos de modo geral, vamos
buscar construções elaboradas em torno da sua qualificação com destaque a já trilhada pela
doutrina brasileira313, nos termos do qual aduzem uma grelha de algum modo considerado
atípica, mas que, os arruma de acordo as características a seguir:
Fundo governamentais;
Fundos que não possuem obrigações com quotistas, diferentemente dos fundos de
pensões;
Esta classificação apresenta distonia quanto a sua estrutura legal, por causa do
ordenamento jurídico nacional, sistema político, a forma do governo vigente e da origem
do Fundo, desde logo, a classificação supra não é pacífica porque muitos Fundos estão
intrinsecamente ligados aos governos e aos bancos centrais314,e, os outros Fundos, nem por
isso, ou seja, estão separados do Banco Central ou formalmente do Governo315.
Fundo de estabilização.
Pode ser definido como aquele Fundo que busca amortização dos impactos causados pela
oscilação dos preços dos recursos naturais nos orçamentos fiscais dos governos e na
economia como um todo, neste contexto procuram também diminuir o custo de
312Parece que o grupo dos BRICS, insatisfeito com actual direcção do sistema económica mundial, aventa-se
a hipótese de estarem a tentar a ensaiar o estabelecimento de uma nova ordem económica mundial paralela
ao FMI e BM, tudo aponta que o Banco ficará sedeado na África do Sul, e, Angola participa como observador
fonte- angonotícias de 27 de Março de 2013.).
313Ob. Cit. Pág. 16.
314É como da noruega-gogernmentpensiofund, ob. cit. Pág.16.
315É o caso de korea investment corporation.
158
Manual de Direito Económico Francisco Mário
carregamento das reservas internacionais ao auxiliar as autoridades monetárias em
esterilizar o excesso de liquidez;
É aquele que procura investir em activos de longo prazo, para que a receita gerada por
recursos naturais escassos seja utilizada por várias gerações presentes e vindouras;
Entende-se como aquele Fundo que gerência os investimentos dos governos em empresas
nacionais e estrangeiras e;
Estes Fundos na sua monta não se restringem a um objectivo específico. Na nossa opinião,
apesar a classificação acima destacada estar adjacente de satisfazer o interesse da nossa
investigação, mas ainda assim, o modelo aqui referenciado por agora não perfilhamos, logo,
vamos ver uma outra taxinomia convencional de produção supra nacional, ou seja, de uma
instituição internacional da ordem económica e financeira mundial o FMI316/317, que os
classificam de modo legal e o qual nós adoptamos, porquanto privilegia o critério de
destrinça de fonte de recurso, objectivos institucionais e o escopo do investimento,
conforme a categorização que se segue:
São aqueles Fundos típicos dos países exportadores de recursos naturais, que têm como
objectivo proteger o orçamento público e a economia destas oscilações dos preços das
matérias-primas (commodities) exportadas para o mercado internacional, e serve como
um instrumento do Estado de actuação anti-cíclica, capaz de reduzir o impacto da
volatilidade destas exportações.
Geralmente os recursos destes Fundos são contigenciados para protegê-los das oscilações
de preços e das incertezas com relação às estimativas das reservas. Desta forma, os
recursos são poupados em épocas favoráveis dos preços das exportações de matérias-
primas dos recursos não renováveis para que possam ser aplicados em períodos de crises.
Este é o caso dos Fundos dos países do Oriente Médio, da Rússia e da Noruega (produtores
de petróleo); da Botsuana baseado na extracção de diamantes e do Chile grande produtor
mundial de cobre.
316Nota técnica, Panorama sobre os Fundos de Riqueza Soberana 2009, IPT- instituto de pesquisas
tecnológicas, Pág.3.
317 No mesmo sentido Cfr. FREITAS, MARIA CRISTINA PENIDO DE, «Fundos de Riqueza Soberana», Funda
Este tipo de Fundos tem como objectivo principal de aumentar a taxa de retorno das
reservas internacionais, já que há uma redução dos seus custos fiscais, com a reaplicação
de parcela dos recursos em activos com maior rentabilidade, mas também há um risco
maior;
Fundos de Desenvolvimento.
Os Fundos que são criados para apoiar projectos económicos e sociais de interesse nacional
em alguns países, principalmente em infra-estruturas, como potencial da promoção do
desenvolvimento local;
Compreende-se que esses Fundos tem como objectivo de assegurar os recursos para o
pagamento de passivos fiscais associados a um maior grau dos compromissos
previdenciários, ou seja, previdência social.
Portanto, a decisão de aplicação dos recursos dos Fundos Soberanos sendo uma receita
consignada no orçamento, desde logo, geralmente o dispêndio financeiro prende-se com os
objectivos de realização de despesas de investimento e de capital em termos de regras de
Finanças Públicas e Direito Financeiro, tendo em conta os dois aspectos essenciais que
balizam o desiderato dos Fundos, nomeadamente:
Além disso, há ainda um efeito importante no que se refere aos “Fundos” provenientes de
recursos não-renováveis que centra-se na política macroeconómica, ou seja, na influência
da política fiscal e da taxa de câmbio, que vai dar uma competitividade nos factores de
produção dos diversos sectores económicos.
Nesta percepção parece ficar claro que os Fundos são de cores diferente em relação as
Empresas Públicas (E.P. designação comum na ordem jurídica portuguesa e angolana) e os
Fundos de Pensão, pelo facto das fronteiras constitutivas da sua natureza jurídica e o
escopo convencional dos Fundos traçado pelo FMI.
160
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Assim sendo, o Fundo Soberano, é sublinhado certamente numa asserção conforme o nosso
entendimento, como sendo uma ferramenta financeira de intervenção económica directa
do Estado na economia ao nível interno e internacional e constituído pelos activos
financeiros de propriedade do governo com diversos objectivos, ou seja, funcionam como
veículos de investimento internacional e mecanismo de políticas públicas318.
O Fundo Soberano, distingue-se das Empresas Públicas por razões óbvias já definida
pelos arautos do Direito Administrativo, apesar serem propriedade do Estado, com
diversos objectivos e destinadas a obter fins lucrativos. Por outra faixa também
distinguem-se dos Fundos Públicos de Pensão que são de propriedade dos seus membros,
cujos objectivos são definidos nas obrigações dos beneficiados, sendo que, os seus recursos
provêm das contribuições dos pensionistas319, ou refinanciado por via de consignação de
receitas no orçamento à uma entidade com estes fim.
Tendo por conseguinte, assinalado que estes investimentos provenientes dos Fundos
Soberanos tiveram benefícios macroeconómicos manifestos na economia mundial, mas
qualquer forma os Países receptores “ab initio”, levantaram uma questão pertinente de
desconfiança e, questionavam se o escopo conduzido pelos Fundos Soberanos, se seria na
verdade redutível ao investimento e de maximização do lucro? Ou se supostamente por
detrás dessa concentração de riqueza não estaria um cunho político que poderia
largamente afectar a segurança económica dos Estados hospedeiros e consequentemente
à concorrência dos Mercados?
Portanto, o impacto dos Fundos Soberanos nas economias globais, prende-se na cedência
de capital aos Bancos ocidentais que foi fundamental para minimizar o risco sistémico324,
decorrente de eventuais falências generalizadas, de um lado, de outro lado, nos países
emergentes titulares dos Fundos Soberanos servem como amortecedor dos choques da
crise bem como para poupança intergeracional e potenciar a promoção do
desenvolvimento económico e social, mas também é bem verdade de algum modo
apresentam fragilidade quanto a sua estrutura jurídica, gestão e transparência por causa
dos ordenamentos internos.
162
Manual de Direito Económico Francisco Mário
2000 – 2014, considerados anos de altos preços do petróleo e o seu regime jurídico assenta
na Constituição Programática, não de modo expresso, mas implícito (art. 21º e 89º, da CRA),
regra geral no capítulo de organização económica e fiscal, que resulta da descentralização
financeira institucional, ou federalismo financeiro. O que a doutrina brasileira designa de
autarquia financeira não territorial, no âmbito do fenómeno da autonomia administrativa
que âncora na figura de institutos públicos no sentido mais amplo.
Que esse interesse público, segundo Prof. DIOGO FREITAS DO AMARAL328, muitas das vezes
são interesses próprios alheios ao Estado, ou seja, eventualmente contrário aos do Estado,
e poderão por conseguinte, nessa medida, na ideia defendida pelo Prof. MARCELLO
CAETANO329, ser impugnados contenciosamente actos de órgão do Estado ou propor
acções contra o Estado. Isso significa dizer que os actos do Fundo Soberano são
impugnáveis por via contenciosa por próprio Estado e este contra o Estado? Não nesta sede
do nosso relatório, mas qualquer modo, a autonomia financeira não se esgotam nos
institutos, segundo Prof. Doutor SOUSA FRANCO330, hoje em dia há pluralidades de forma
que pode revestir o sector público financeiro (Administração Pública do Estado, lato sensu,)
- e os subsectores institucionais financeiros- Empresas Públicos e Institutos Públicos.
Neste sentido escalpelizando a mesma matéria, diz o PAZ FERREIRA (…) o que é certo é a
mingua no nosso ordenamento de um corpo de normas que genericamente, regule o
estatuto jurídico dos institutos públicos, nada impede que o concreto estatuto de um dado
instituto aponte, a menos na regulação do seu pessoal, para a adopção de um regime
essencialmente de natureza privada, pois que, a questão central dessas figuras resulta
precisamente da natureza híbrida de que revestem oriunda do Direito Administrativo 331,
uma vez que se encaixam, nas realidades distintas do Direito Administrativo e empresariais
pelo facto serem menos claros e insuficientes quanto a sua integralidade do seu regime
jurídico e, em especial a grande diversidade de figuras que se acolhem em função da sua
actividade. Conclui, afirmando este autor, que tendem abandonar à área da administração
pública para se integrarem no universo empresarial do Estado332.
163
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Parece perfilhável esta tese do mestre da doutrina de Lisboa, pois que, no mesmo
seguimento se pronunciou o Dr. CARLOS TEIXEIRA, administrativista da Escola de Luanda
- UAN333, classifica os institutos em critérios que se regimentam no actual Decreto
Legislativo Presidencial nº 2/13, de 25 de Junho334, cujo regime geral está previsto no art.
6º e 7º e consequentemente o regime financeiro esta previsto no art. 11º, do Decreto
Legislativo Presidencial nº 2/13, de 25 de Junho.
Mas de qualquer forma, como Fundo financeiro autónomo o seu regime legal formal está
previsto no art. 96º e 104º, da CRA, que combinam materialmente como art. 39º, 40º do
LQOGE335, da Lei nº 15/10, de 14 de Julho. Pois é, efectivamente neste diploma onde estão
densificados os traços típicos do seu regime jurídico, e, as regras de organização,
estruturação e funcionamento, gestão financeira e patrimonial, e que, circunscreve-se nas
características seguintes:
Não tendo base territorial ou corporal, prosseguem interesses definidos na lei, no quadro
da Administração Central do Estado.
Tutela e Superintendência exercida pelo Titular do Poder Executivo (art.5º, do DLP nº 2/13
e art. 6º, nº 1, do Decreto Presidencial nº108/13, de 28 de Junho).
São criados, modificados e extintos por Decreto Presidencial, sob proposta fundamentada
do membro do executivo que tutela o sector no qual se integra a actividade da entidade a
criar (art. 16º, do DLP nº 2/13).
Na evolução histórico o FSDEA ressalte-se que, surgiu como já asseguramos nos termos do
nº 1 e 2 do art. 6º, da Lei do OGE para o exercício do ano de 2011, através da aprovação de
“Reserva Financeira Estratégica Petrolífero” de uma receita por consignação de receitas
333 Cfr. Dr. CARLOS TEIXEIRA, Professor de Direito Administrativo da Faculdade de Direito da Universidade
(Pública) Dr. António Agostinho Neto de Luanda- UAN, colóquio sobre os Institutos Púbicos proferido na
Província de Malanje em 2009.
334Decreto Legislativo Presidencial nº 2/13, de 25 de Junho. Aprovado pela Assembleia Nacional dia 21 de
Março de 2013 e publicado no Diário da República Iª série nº 119, de 25 de Junho «Que Estabelece as Regras
de Criação e Estruturação dos Institutos Públicos» que alterou o Decreto-Lei nº 9/03, de 28 de Outubro.
335 LQOGE - «Lei-Quadro do Orçamento Geral do Estado nº 15/10, de 14 de Julho».
164
Manual de Direito Económico Francisco Mário
inscrita no orçamento do exercício daquele ano económico, com objectivos de no futuro
próximo de despender esta receita na realização de despesa de capital e investimentos em
infra-estrutura de base336.
Por via disso, cabendo a sua gestão o Presidente da República nas vestes do Titular do
Poder Executivo e foi com esta lei de autorização financeira do Poder Legislativo, que o
Titular do Poder Executivo ficou habilitado nos termos do exercício das suas funções e
competências constitucionalmente consagrado no art. 120º, da CRA de intervir na ordem
económica de institucionalizar a gestão da reserva petrolífera à uma entidade
administrativa criado por Decreto Presidencial nº 48/11, de 9 de Março que viria ser
designa-se de «Fundo Soberano de Angola», por Decreto Presidencial nº 108/13, de 28 de
Junho. Esta entidade carecia de uma qualificação jurídica, ou seja, definição da sua natureza
e regime jurídico, abrindo desta feita uma talisca de discussão em alguns círculos da
doutrina, visto que, o quadro apresentava-se de algum modo incipiente e lacunoso.
Assim, tem-se discutido em torno da natureza jurídica dos institutos públicos, que
amiudadamente a doutrina dominante, da Escola Nova de Lisboa, presidida pelo Professor
Doutor DIOGO FREITAS DO AMARAL, a quem na sua concepção vê nos institutos públicos
como um substrato institucional autónomo, diferente do Estado ou dele desmembrado,
pois a Lei confere personalidade jurídica.
Desta forma, podemos classificar o FSDEA, apesar ter predicados peculiar, aliás, no
momento político asténico angolano em que foi lançado, porquanto as forças políticas
estavam preocupadas com ascensão ou manutenção do poder, ou de impugnar os
resultados eleitorais339, evidencia-se como um dos Institutos Públicos do sector económico,
porquanto que, filia-se no panorama nos princípios de descentralização administrativa
imprópria, ou dito de outro modo na linguagem coloquial, desconcentração administrativa
personalizada ao nível central, no âmbito da devolução de poderes340,desde logo, integra à
336 Portanto, não vem especificado as infra-estruturas de bases onde serão investidos esses Fundos
Financeiros, ficando definido apenas no nosso entender estruturas de base de vias de comunicação, água e
energia.
337No direito francês designam de Estabelecimentos Públicos como sinónimo de Institutos Públicos, vide
CAETANO, MARCELLO, - «Manual do Direito Administrativo Vol. I», Almedina 2010, Pág.188.
338 Cfr. AMARAL, DIOGO FREITAS DO, - «Direito Administrativo vol. I», Pág.355.
339 Porque o sistema do governo angolano é tido de partidos porque são eles que concorrem as eleições
através de listas.
340 Mais desenvolvimento ver, DIAS, JOSÉ EDUARDO FIGUEIREDO/OLIVEIRA, FERNANDA PAULA, in «Noções
Por esta razão, a sua autonomia é mitigada, pois além da intervenção do Poder Executivo,
paradoxalmente o DP nº 48/11, com as alterações do DP nº 24/12, de 30 de Janeiro, confere
ao FSDEA, poderes creditícias equiparados ao Estado previsto no art. 162º al. d), da CRA,
estão consagrados no art. 8º, do DP nº 48/11, com as alterações do DP n.º 24/12, de 30 de
Janeiro. Mas já curiosamente os institutos Públicos na sua generalidade, lhes são vedados
os poderes creditícios (o cheque em branco) passivo e activo (art. 11º, nº2, do DLP nº 2/13).
O que significa dizer, sem margem de pesar de errar, afirmar que, o Fundo Soberano não
gozo de uma autonomia material, claro que, a sua autonomia formal prescrita na Lei
reconduz-se a uma dependência privilegiada por causa do sistema de governo adoptado na
Constituição de 2010 e pela Lei dos Institutos Públicos de natureza económica, configurado
no Decreto Presidencial nº 108/13, de 28 de Junho.
Nesta esteira de pensamento, podemos considera-lo como um súper Instituto Público por
causa do volume de activos financeiros sob sua gestão, dos objectivos que persegue e o
sector de actividade transversal definida para sua actuação no âmbito da delimitação e
coexistência de sector da economia, identificada como uma área ou sector de reserva
absoluta, aliás, quanto muito menos da reserva relativa do Estado, bem como os poderes
creditícios passivos e activos que lhe foi conferido pela destacada Lei dos Institutos
Públicos e pelos seus Estatutos de Regulamento.
Portanto, podemos dizer que é um Estado financeiro dentro do outro Estado financeiro341.
Mas qualquer feição, na ciência jurídica económica e financeira, o FSDEA, é entendida como
ferramenta financeira de intervenção económica directa do Estado angolano na economia
ao nível interno e internacional, constituído pelos activos financeiros de propriedade do
Estado, com diversos objectivos, ou seja, funciona como veículo de investimento 342,
nacional e internacional, e é, um mecanismo de políticas públicas cuja natureza jurídica é
uma pessoa colectiva pública dotada de personalidade jurídica com autonomia
administrativa, financeira e patrimonial (art. 2º, do Decreto do Decreto Presidencial nº
108/13, de 28 de Junho), inscreve-se como um Fundo Público de Investimento e de
poupança geracional.
341 Como sustenta o FRANCO, SOUSA, - “ A autonomia financeira orçamental dos Institutos Públicos constitui
um mundo a parte em termos orçamentais”, Pág. 354.
342 Art. 3º, nº1, do Decreto do Decreto Presidencial nº 108/13, de 28 de Junho.
166
Manual de Direito Económico Francisco Mário
CAPÍTULO VI- ECONOMIA PÚBLICA
O poder político e a economia encerram uma relação secular e intrínseca. Com efeito, o que
nos interessa, nesta análise, é pois aflorar o tipo de relação que encerra o poder político e a
economia.
É efectivamente quando o Estado usa o seu “ius imperii” com a finalidade de modificar a
actuação livre e normal do mercado, recorrendo a meios344 que visem modificar o
comportamento dos sujeitos económicos, sem, no entanto, alterar o quadro geral das
actividades económicas. Por conseguinte, a intervenção económica pode ser directa ou
indirecta no âmbito do plano de uma actuação versátil e variável do Estado na actividade
económica. Entretanto, a “actuação estadual tenta modificar a forma natural como esses
agentes actuariam sem tão pouco tomar ele próprio decisões relativas à utilização de bens
e satisfação de necessidades sociais ou estaduais (isto é, sem ser ele próprio sujeito
económico) ”345.
Nas distintas estruturas sócio – económicas346, - é notório que o Estado pode actuar, ele
próprio, como sujeito económico, colectivo ou social, chamando junto de si a satisfação das
343 Cfr. FRANCO, ANTÓNIO L. DE SOUSA, – Finanças Públicas e Direito Financeiro – Volume I e II 4ª- Edição –
11ª- reimpressão – Almedina. Coimbra – 2007 – Pág. 8.
344 Por exemplo: Restrição de créditos de determinados sectores, fixação de quotas do mercado, produção de
disposições directamente limitativas, restrições financeiras, agravamento dos impostos, simples movimentos
de persuasão e, até, coação psicológica.
345Ibidem.
346 FRANCO, ANTÓNIO L. DE SOUSA, Pág. 46 - 47 – Estruturas Sócio-Económicas – “é a forma como se
configuram numa dada economia, quer os seus elementos extra – económicos (condições geográficas,
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Manual de Direito Económico Francisco Mário
necessidades, em todo ou em parte, da colectividade; sem prejuízo da sua actuação em
zonas tradicionais, tais como a defesa, segurança e justiça.
Tem sido o incessante questionamento sobre o por que razão o Estado intervém no
domínio económico, atento que o Estado deveria apenas dedicar-se as principais funções
que se prende com a defesa, segurança e justiça. Pelo que, tem sido apontadas vários
motivos, dentre elas afiguram-se as razões elencados pelo MUSGARAVE sobre a
intervenção do Estado na economia com fins de cumprir as elementares funções
económicas designadamente: Afectação, Redistribuição e Estabilização.
347 Por exemplo: correios e telecomunicações, certas modalidades de crédito, rádio e televisão, etc.
168
Manual de Direito Económico Francisco Mário
(iii) Correcção das falhas de mercado através de monopólios naturais, bens públicos
e efeitos externos348.
A função económica de afectação tem como missão a eliminação das falhas do Mercado em
relação ao abastecimento de bens públicos, correcção das externalidades, aumento e uso
racional dos recursos. Para o efeito, é necessário conhecer os traços essenciais dos bens
públicos, cuja natureza não é possível o seu fornecimento pelo Mercado: Bens Públicos que
são aqueles que reúnem duas características distantes: A não-exclusão e a não-rivalidade.
Não-exclusão - entende-se a impossibilidade técnica de, uma vez que o bem em causa esteja
a ser fornecido, impedir potenciais consumidores de beneficiar dele;
Não-rivalidade - quando o consumo do bem por um agente não afecta a sua disponibilidade
para os restantes consumidores. Os bens públicos, por serem comuns, escasseiam no
Mercado por causa do fenómeno (free rider), isto é, do desejo das pessoas de os utilizarem
de forma gratuita.
Os bens públicos no Mercado teriam um grau sub óptimo de produções, visto que as
pessoas que os utilizam esperariam sempre pelo pagamento dos mesmos através do jogo
da “boleia”, tendo em atenção ao fenómeno de não-rivalidade e não-exclusividade349.
348Cfr.CRUZ, JOSÉ NEVES, – Economia e Política — uma abordagem dialéctica da escolha Pública — Coimbra
– Editora 2008 Pág 23.
349 Vide. PAHULA, OVÍDIO, – Estudos sobre o Sistema Jurídico – Económico Angolano, Principia 1ª edição 2008
Pág. 73 e ss.
(iv) Inteligência.
(v) Astúcia.
A distribuição da riqueza nem sempre traduz uma “Justiça”, isto é, depende dos juízos de
valores sociais, e ainda, a vontade das maiorias em democracia ou mesmo das elites
dominantes; bem assim, a uma análise profunda e harmónica em sede dos padrões da
ciência económica.
Todavia, “o exercício simultâneo das três funções do Estado pode gerar conflitos e
ineficiências, pois, existem objectivos implícitos em cada uma delas que conflituam com as
outras funções”351.
II- Dirigismo (direcção económica) existe quando o Estado formula objectivos globais e
pretende propô-lo, ou até impô-los, aos sujeitos económicos. Dirige assim a sua
actividade económica (em vez de se limitar a corrigi-la), embora com respeito pelos
princípios essenciais da liberdade económica e pelo mercado como instrumento
regulador354.
A aplicação a cada tipo de bens ou serviços dos vários regimes de preços é feita por
Despacho do Decreto Presidencial, ou Ministério do Comércio, tendo em consideração os
dois critérios apontados.
Com efeito, o Decreto Executivo Conjunto n º 33/96, de 1 de Julho, veio conter a tendência
desmedida da subida de preços no mercado, quanto ao regime de preços livres, fixando a
margem de lucro a ser praticada pelos agentes económicos em cada transação.
Entendendo-se como agente económico em cada transação: O produtor; O
importador/grossista; O retalhista.
Desse modo, e porque até a presente data não foi ainda definida pelo Ministério das
Finanças as regras para elaboração de propostas para fixação e alteração dos preços e de
aplicação do disposto no presente diploma, mantém-se em vigor o Decreto nº 14/96, de 1
de julho, o Decreto n º 72/97, de 24 de Outubro e o Decreto nº 33/96, de 1 de Julho.
De acordo com os diplomas referidos, os preços dos bens ou serviços vendidos no Mercado
interno podem ser submetidos aos seguintes regimes: de preços máximos, de preços
declarados, de preços contratados, de preços de margem de comercialização fixada, de
preços vigiados e de preços livres, em sinopse passamos a descrever a noção de cada um357:
Preços livres - são todos os demais, portanto, se os bens ou serviços não se encontram
sujeitos a um dos regimes anteriormente apontados, seguramente o montante do preço
determina-se pelos mecanismos do mercado, ou seja, pela Lei da oferta e da procura.
nas condições previstas no concurso anunciado publicamente. Esta mobilidade é utilizada pelos organismos
do Estado quando pretendem efectuar aquisições de grande vulto, como a aquisição de determinado
equipamento para os hospitais, exército, escolas, etc.
358 A Direcção da Investigação das Actividades Económica foi extinta em 2014 e incluída no SIC - serviços de
investigação criminal.
359 Cfr. VAZ, MANUEL AFONSO, – Direito Económico, 3ª edição, Coimbra Editora 1994. Pág.354-356.
174
Manual de Direito Económico Francisco Mário
A de Fomento, atribuindo benefícios ou incentivos aos sujeitos económicos (privados ou
equiparados)360.
6.10. Intervenção Unilateral – o Estado pode intervir por via unilateral, proibindo ou
autorizando certas actividades em determinados sectores, cujo veículo normal
desta intervenção são os regulamentos e os actos administrativos de eficácia
externa que são meios de excelência da autoridade.
6.11. Intervenção Bilateral - é a forma de intervenção do Estado Convencional, ou seja,
contratual, configurado no fenómeno de económica concertado ou economia
contratual, cujo meio ou instrumento de intervenção do Estado funda-se no
Contrato.
6.12. Intervenção Indirecta, - quando o Estado age como agente de regulação
económico-social e regula o acesso à actividade económica, regula a concorrência e
regula o consumo.
6.13. Intervenção Directa – quando é o próprio Estado que assume o papel de agente
económico produtivo criando Empresas Públicas ou actuando através delas,
intervindo nos circuitos da comercialização, se adquire produtos através dos
organismos de coordenação económica (ANGOSEMENTES, MECANAGRO, FADEPA
etc.) ou importações através de monopólios legais.
Todavia, por seu turno, o CABRAL DE MONCADA - defende que os poderes intervêm
directamente na economia, quando prosseguem objectivos directamente económicos,
represente-se sobre a economia ex: medidas de política fiscal, operações de open market,
que visem absolver o poder de compra, bonificação de juros, abertura de linhas de crédito
a favor da construção de infra- estruturas sociais, definição de certos regimes jurídicos,
fixação de rendas etc. com efeitos imediatos e mediatos na economia361. Neste caso
estaremos em presença de intervenção do Estado sobre a economia. E quando o Estado cria
Empresas Públicas e administra directamente o ente de Direito Público ou Privado,
estaremos em presença da intervenção do Estado na Economia.
360 Cfr. FRANCO, ANTÓNIO SOUSA, – Direito da Economia, 1º Volume, ed. AAFDL. Pág. 300.
361 Cfr. MONCADA, LUÍS CABRAL DE, - Direito Económico, 5ª edição, Pág. 42.
175
Manual de Direito Económico Francisco Mário
6.15. Intervenção sectorial – quando o Estado adopta medidas de organização e
disciplina de determinado sector da produção ou concede credito bonificado ao
determinado sector da economia. (ex. Agricultura, turismo, industria, exportação ou
importação de matérias-primas para indústria nacional).
6.16. Intervenção pontual ou avulsa – é quando o Estado adopta pontualmente medidas
concretas através de um contrato-programa de uma Empresa em situação
económica difícil.
Com efeito, foi antiga Lei nº 9/95, Lei das Empresas Públicas nos seus arts. 1º (conceito) e
7º ss sobre as formas organizativas e actividade empresarial do Estado, revogado hoje pela
actual Lei nº 11/13, de 03 de Setembro, Lei de Bases do Sector Empresarial Público que
confere a primeira delimitação do que, latu sensu, pode-se designar por Empresas Públicas,
como compreendendo o que a Lei expõe amplamente por formas organizativas da
actividade empresarial do Estado que divide quatro fases da história, designadamente:
Importa assinalar que Estado assume duas formas jurídicas do Estado Empresário,
designadamente: Serviços Públicos Económicos personalizados – transporte público,
museus, universidades, biblioteca, institutos públicos empresariais, serviços de telefonia
pública, correios e postal; e, Empresas Públicas.
Porém, actualmente o Sector Empresarial Público através das Empresas constituídas pelos
fundos públicos desenvolvem actividades nos principais sectores da economia,
designadamente:
Este quadro da economia pública principal fonte de receitas públicas, afigura-se como base
do PIB (Produto Interno Bruto) tanto ele Potencial como o Real que notadamente
caracterizam as Finanças Públicas angolanas de “Finanças Patrimoniais”, por causa da sua
fonte de receita ser de algum modo monolítico – fiscais identitária do Estado empresário
totalitário mitigado e sintomático do federalismo fiscal institucional.
O Sector Empresarial Público Angolano é integrado por Empresas detidas pelos capitais
públicos, ou maioritariamente públicos e participações minoritários do Estado.
362 Neste sector destaca-se como Empresas Públicas: SONANGOL, ENDIAMA, MECANAGRO,
ANGOSSEMENTES e EDIPESCA.
363 Neste caso refere-se: ENDE, PRODENG, TAAG, CFL, CFB, CFM; PORTOS (Luanda, Lobito e Namibe).
364 Destaca-se as Empresas: SECIL MARITIMA, TCUL; BPC, BCI, BAI, BE, BDA; ENSA; IMOGESTIN;
177
Manual de Direito Económico Francisco Mário
apesar ser anódino o seu conceito, mas vamos dar o jus nas tradicionais construções
avançadas pelos economistas e jurista que se postula no seguinte alinhamento:
367 Apud, ABREU, JORGE MANUEL COUTINHO DE, - definição de Empresas Públicas, Separata do Vol. XXXIV
Suplemento ao Boletim da Universidade da Faculdade de Direito de Coimbra, 1990, Pág. 30.
368 Ibidem, Pág. 31.
178
Manual de Direito Económico Francisco Mário
pessoas colectivas podem ser de Direito Público ou de Direito Privado (territorial ou
patrimonial) com ou sem fins lucrativos.
Pessoas colectivas de Direito Público: são aquelas que de alguma forma detêm poder de
imperium, ou seja, podem emitir comandos ou decisões desde logo executáveis. Têm
funções próprias da autoridade estadual369.
Empresa Pública - pode ser definida como, «uma unidade económica criada pelo Estado,
através dos mecanismos legais formados por capitais próprios, em termos percentuais o
Estado detém 100% do capital social, ou financiados pelas entidades públicas, cujo escopo é
a produção, distribuição e comercialização de bens e serviços, visando a prossecução do
interesse e o desenvolvimento nacional estratégico»370, (art. 3º, da LBSEP). ex: TAAG;
ANGOLATECOM; PORTO DO NAMIBE; CAMINHO DE FERRO DE MOÇÂMEDES; SONANGOL;
etc.371.
Pelo que, da definição acima referenciada pode-se, desde logo, extrair três (3) elementos
tradicionais constitutivos das pessoas colectivas, designadamente:
O actual ratio leges nos permite ver que o presente regime não exclui das Empresas
Públicas, as Sociedades de Capitais Públicos. Sociedades Comerciais em que o Estado ou
outras entidades públicas detenham a totalidade das participações e as sociedades de
economia mista controladas pelo Estado, ou por outras entidades públicas e, por maioria
de razão, as sociedades não controladas e as Empresas intervencionadas pelo Estado.
369 Ex: autarquias locais – pessoas colectivas de população e de território, Universidades Públicas, massa
patrimonial - Empresas Públicas.
370 Definição entre aspas também é nossa.
371 Organização e estrutura das Empresas Públicas vide Lei nº 11/13, de 3 Setembro.
372 Elementos constitutivos das pessoas colectivas:
1. Substrato: Conjunto de elementos que servem de base à criação das pessoas colectivas;
2. Elemento pessoal: os elementos que se associaram para prosseguir o fim comum, muito peso nas
associações;
3. Elemento patrimonial: conjunto de bens, ou massa patrimonial de que é titular a pessoa colectiva
para que possa prosseguir os seus fins; e,
4. Elemento final: finalidade comum ou colectiva - ser determinado ou determinável - ser possível
física ou legalmente - não ser contrário à Lei ou ordem pública - não ofender os bons costumes.
179
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Empresas Públicas que não sendo outro tipo, ou forma jurídica de Empresas apenas
representada de uma forma de definição do âmbito latamente compreensivo da
titularidade estatal empresarial, ou seja, qualquer for a forma organizativa, ou forma
jurídica da terminologia, que tem sido adoptado.
373 Cfr. JOÃO, DOMINGOS FRANCISCO/QUEIROZ, FRANCISCO. – Lições de Direito Económico de Angola, Zoe
editora. 2018, Pág. 301.
374 Apud. JOÃO, DOMINGOS FRANCISCO/QUEIROZ, FRANCISCO. – Lições de Direito Económico de Angola,
Quanto a orgânica das Empresas Públicas o actual regime oferece, em alternativa, duas
tipologias de órgãos internos colegiais (Conselho de Administração, e o Conselho Fiscal
vide art. 45º, da LBSEP), na eventual transformação (art. 46º, nº 1, da LBSEP), ou em
substituição do Conselho de Administração seja criada, por razões ponderosas o Conselho
de Coordenação Estratégica e Comissão Executiva (art. 48º, da LBSEP), e, órgãos
unipessoais executivos – não executivos (PCA e Administradores Executivos e não
Executivos) e fiscais (Presidente do Conselho Fiscal e Vogais).
Com efeito, o Conselho de Administração apesar do nomen júris ser igual ao de um dos
órgãos das sociedades anonimas, não é um órgão executivo, em sentido estrito. É mais
híbrido, tanto quanto lhe competem não só a orientação geral pela aprovação preliminar
dos instrumentos de gestão a serem aprovados pelas tutelas sectorial e financeira, a
apresentação das propostas de nomeação dos directores, a ratificação dos preços a praticar
como também a aprovação dos regulamentos internos da Empresa, e enfim, a elaboração
de relatórios anuais e apresentação à homologação tutelar governamental juntamente com
as contas de gestão e o parecer do Conselho Fiscal.
a) Por nomeação pelo Titular do Poder Executivo mas por indicação ou sob proposta
ministerial do PCA, dos Administradores Executivos e não Executivos;
Por conseguinte, como notadamente se observa no art. 45º e ss, da LBSEP ao apontar no
seu preceito a fisionomia do Conselho de Administração e da Comissão Executiva da
Empresa suscita desde logo um entendimento áspera de como de uma direcção e gestão
colegial se tratasse, por não configurar a categoria do PCA na proa do exercício unipessoal
dos poderes executivos de gestão e representação da Empresa, sendo certo que a sua acção
deve ser sempre exercida naturalmente e coadjuvado pelos Administradores Executivos.
Portanto, este ratio legis nos parece reforçada pela fonte de designação dos mesmos, na
medida em que os Membros do Conselho de Administração ou da Comissão Executiva,
sendo nomeados pelo Ministro de tutela (ainda que, no caso das grandes Empresas, sob
proposta dos Conselhos de Administração) representam os membros da confiança política
do Governo377.
O elenco de competências contidos no art. 47º, da LBSEP, ressaltam poderes todos eles
tipicamente de gestão, ou Administração da Empresa e o Executivos, designadamente:
Pelo seu turno o Conselho Fiscal (art. 49º, da LBSEP) é composto por um(1) Presidente e
dois (2) vogais e são propostos pelo Ministro das Finanças e os vogais são propostos, um
377 Ibidem.
182
Manual de Direito Económico Francisco Mário
pelo Ministro responsável pelo Sector Empresarial Público e o outro pelo Ministro que
tutela o Sector da Actividade.
Cumpre notar, no que se refere a intervenção dos trabalhadores a Lei apresenta uma
lacuna, diferente do que ocorria no tempo do partido - Estado, fase que antecedeu à
Constituição Económica de 1992. Entretanto, nada obsta como direito fundamental se
indica em sede da Constituição Económica de 2010, onde se remete a intervenção destes
para os estatutos de cada Empresa a definição das formas mais adequadas de a efectivar,
tendo em atenção o disposto na Lei sobre o controle e a gestão pelos trabalhadores378.
Relativamente à sua natureza jurídica, ainda, nos termos densificado no art. 3º e 40º, da
LBSEP, têm uma base jurídica institucional, pois única sócio é o Estado, não tendo por
conseguinte, sócios o que as distingue claramente das Sociedades Comerciais, Empresas de
Domínio Público, Participações Públicas Minoritárias que têm uma configuração jurídica
societária fundada numa base pessoal de sócios.
Entretanto, uma outra especialidade das Empresas Públicas consiste na sua particular
estrutura orgânica, também distinta da das Sociedades Comerciais. Pois, na sua estrutura
orgânica, os corpos sociais (órgão) de existência obrigatória são efectivamente o Conselho
de Administração e o Conselho Fiscal, apesar de algum modo admitir-se a possibilidade de
criação da Comissão Executiva, nada inibe que sejam criados, no interior das Empresas
Públicas, os Conselhos Regionais com funções consultivas, nas Empresas de Serviços
Públicos, e quando assim a sua dispersão geográfica o justifique. Porém, trata-se
precisamente de verdadeiros órgãos de representação de interesses na gestão das
Empresas Públicas379.
378 Cfr. JOÃO, DOMINGOS FRANCISCO/QUEIROZ, FRANCISCO. – Lições de Direito Económico de Angola, Zoe
editora. 2018, Pág. 304
379 Cfr. JOÃO, DOMINGOS FRANCISCO/QUEIROZ, FRANCISCO. – Lições de Direito Económico de Angola, Zoe
Por conseguinte, há teses entre na doutrina dominante cuja discussão incide sobre os
institutos do Direito Administrativo de Tutela e da Superintendência, donde a Tutela cabe
na administração autónoma, autarquias, locais e associações públicas e, por seu turno a
Superintendência na administração indirecta Empresas Públicas e Institutos Públicos.
Assim sendo, a Superintendência - pode ser definida como o poder conferido ao Estado
(exercido pelo Governo), ou a outra pessoa colectiva de fins múltiplos, como as autarquias,
de definir os objectivos (fixar directivas e recomendações) e guiar a actuação (orientar) das
pessoas colectivas públicas de fins singulares colocados por Lei na sua dependência
(institutos públicos e entidades públicas empresariais).
184
Manual de Direito Económico Francisco Mário
administrativa, técnica ou financeira – e oportunidade das decisões da entidade
tutelada)380.
Com efeito, o ponto de ruptura sobre estes dois institutos sempre esteve na legislação
extravagante e no discurso político onde se verifica o uso indiscriminado e sem rigor dos
dois conceitos, ignorando-se deliberada ou inocentemente a delimitação a constitucional e
doutrinal. Foi por isso que o legislador consagrou claramente a sua superintendência como
modo de intervenção do Governo na Execução do controle sobre as Empresas Públicas.
Assim, a intervenção do Executivo (do Titular do Poder Executivo) nas Empresas Públicas,
deve hoje limitar-se á definição do enquadramento geral da actividade da Empresa, tendo
em atenção a sua compatibilização com as políticas económicas globais e sectoriais do
Executivo, à fiscalização geral da actividade da Empresa e a autorização, ou aprovação dos
actos de maior importância na vida quotidiana das Empresas Públicas, ou cujas implicações
possam transcende-la, deixando os gestores a liberdade necessária para resolverem os
problemas de gestão corrente. No entanto, cumpre notar que a prática em Angola tem
demonstrado no sentido do Executivo ultrapassar rapidamente a visão estrita dos poderes
de Tutela.
Entretanto, o Titular do Poder Executivo representa o órgão de Tutela que designamos por
central, tanto é no Executivo em que residem originariamente as competências tutelares de
380Cfr. AV. OLIVEIRA, PAULA FERNANDES / DIAS, FIGUEIREDO EDUARDO JOSÉ. Noções Fundamentais de
Direito Administrativo. 3ª Edição, Almedina, 2013. Pág. 89.
381 Cfr. JOÃO, DOMINGOS FRANCISCO/QUEIROZ, FRANCISCO. – Lições de Direito Económico de Angola, Zoe
Porque a Lei contínua, porém, a reservar ao Titular do Poder Executivo alguns poderes de
controlo, quer em razão da respectiva natureza legislativa regulamentar (art. 44º, nº 1 e 2,
da LBSEP) quer em razão da grandeza e importância para a economia nacional das
Empresas, a aprovação da sua criação (art. 12º, da LBSEP) e nomeação de Presidentes dos
Conselhos de Administração. Portanto Tutela neste caso é exercida pelo Ministério da
Economia.
Por seu turno e, inversamente que acima for referenciado, o Ministro da Finanças lhe é
atribuído as competência de tutelar as matérias de natureza tipicamente financeira como
vem definido pela previsão legal taxativa, designadamente:
186
Manual de Direito Económico Francisco Mário
(i) Uma primeira dimensão é a da legalidade dado que, segundo a melhor doutrina,
a tutela não se presume é nos dados pelos princípios da legalidade e da
orientação, ou enquadramento geral implícito, ou explicito nos art. 29º, LBSEP
(finalidade de âmbito), art. 13º, da LBSEP (conteúdo da Tutela) e outros da Lei
nº 11/13.
(iii) A terceira dimensão é prescrita pelo art. 44º nº 2, da LBSEP ao definir, na linha,
aliás, clássica da doutrina a relação tutelar, não como uma relação de
subordinação hierárquica relativamente ao Governo mas que pressupõe toda
uma autonomia cujo regime é o legalmente prescrito e que tivemos de analisar.
(iv) A quarta dimensão delimita dos poderes é-nos detalhada, precisamente, pela
definição dos poderes tutelares o conteúdo da Tutela» supratranscrito e de que
relevam a aprovação dos instrumentos previsionais de gestão, planos,
orçamentos anuais e plurianuais, ou de prestação de contas.
(v) Uma quinta dimensão delimitadora dos poderes tutelares (alias já estreitamente
conexa com a primeira e os princípios da legalidade e do enquadramento geral,
revela do objecto) estatutário da Empresa estatal, com o qual o exercício dos
poderes tutelares se devem confrontar.
As Empresas Com Domínio Público – são aquelas unidades económicas criadas pelo Estado,
sob forma de sociedades comerciais em que o Estado detenha uma participação em termos
percentuais de mais de 51%, do capital societário, art. 4º, da LBSEP, cuja actividade por ele
desenvolvida é disciplinado pela Lei das Sociedades Comerciais382, vide o art. 2º, da LSC, ex.
BCI, BPC, BAI, etc. Criação de Empresas.
A iniciativa de constituição de uma Empresa Pública ou com Domínio Público cabe: Para as
Empresas de interesse estratégico, ao Titular do Poder Executivo, ouvindo o Ministro
responsável pelo Sector Empresarial Público e o Ministro responsável pelo Sector de
Actividade da Empresa, ou por iniciativa destes; nos termos do art. 12º, da LBSEP e para as
restantes Empresas Públicas e de Domínio Público, ao Ministro responsável pelo Sector de
Actividade, ou ao Governador Provincial, com o aval do Ministro Responsável pelo Sector
Empresarial Público.
Importa realçar que neste domínio, o Poder Económico Angolano pode criar unidades
económicas (Empresa de Interesse Estratégico) nos termos autorizado pelo art. 13º, da
LBSEP, mas sem descurar ao respeito do plasmado na Constituição no art. 95º, da CRA,
sobre as reservas do Domínio Público, mas, a proposta de criação de uma Empresa Pública,
ou com Domínio Público, deve incluir um estudo de viabilidade técnica (art. 14º, da LBSEP).
Pois que, neste sentido as Empresas Públicas, ou com Domínio Público, como sendo de
interesse público estratégico visam entre outros aspectos económicos, ex vi lege, art. 13º,
da LBSEP, os seguintes:
382A tipologia das sociedades no ordenamento jurídico angolano à luz da Lei nº 1/04 de, 13 de Fevereiro,
definido no art. 2º da LSC, são as seguintes:
1- Sociedades por Comandita por Acções; (Comanditas por Acções);
2- Sociedades por Comanditas Simples; (Comanditas Simples);
3- Sociedades em Nome Colectivo; (& Cª. ou Companhia);
4- Sociedades por Quotas; (Lda.), e;
5- Sociedades Anónimas; (S.A.).
6- Sociedades Cooperativas.
E sociedades comerciais unipessoais Lei nº 19/12, de 11 de Junho. Classificam-se nos termos do art. 2º as
seguintes tipologias de sociedade:
a) Sociedades quotas (Lda. «SU»).
b) Sociedades anónimas (S.A. «SU»).
Por conseguinte estão vedados a constituir ou transformação os previsto no art. 17º, da LSU.
188
Manual de Direito Económico Francisco Mário
(xii) Volume de investimentos efectuados ou previstos pelo Estado.
Para todos os efeitos para alcançar estes objectivos económicos além do prévio estudo de
viabilidade económico, sendo certo deve - se observar os princípios orientadores do Direito
Económico, (art.13º, da LBSEP), nomeadamente:
Por conseguinte, já o outro critério de classificação das Empresas com Capitais Públicos,
reside no seu âmbito territorial que não obsta que a mesma Empresa seja concomitante
congruente aos dois critérios, apesar do nosso legislador ainda não ter disciplinado em
termo legais o regime e que em termos operativos deve vincular.
189
Manual de Direito Económico Francisco Mário
administrativa e prestação de contas, deixando de algum modo a Administração Local do
Estado sem poder de actuação e controlo sobre esta ou aquele Empresa Pública de âmbito
nacional instalada naquele circunscrição territorial da Província.
Portanto, esta incompreensão jurídica que se trava nas relações administrativas entre os
poder da Administração local do Estado e o poder da Administração das Empresas Públicas,
tem criado tensões ao nível da Administração Pública do Estado por causa da indefinição
do critério da classificação legal das Empresas Públicas em Angola e consequentemente a
sua relação com os poderes da Administração Local e os poderes da Administração Central
no âmbito da fiscalização, controlo e prestação de contas ou mesmo prestar informações
concretas da actividade que desenvolvem naquele localidade da Província ou Município.
A nossa legislação consagra o jus económico que consubstancia-se com Empresas Públicas
de poderes e prerrogativas de autoridade de que goza o Estado, designadamente quanto à
expropriação por utilidade pública, infra-estruturas afectas a serviços públicos ou
licenciamento e concessão de utilização do domínio público.
Cfr. AV. DOMINGOS FRANCISCO JOÃO/QUEIROZ, FRANCISCO - Direito Económico de Angola, Zoe, 2018.
384
Pág. 309.
190
Manual de Direito Económico Francisco Mário
seja admitida para Empresas de Serviço Público, em regime de monopólio ou exercendo
actividades no domínio da defesa.
191
Manual de Direito Económico Francisco Mário
CAPITULO VII - MICROS, PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS
É importante assinalar que em termos jurídicos legais não são enquadradas como MPME
nem destinatárias do tratamento diferenciado as seguintes entidades:
b) Em cujo capital participe outra empresa que não seja MPME, independentemente
do tipo societário em causa;
d) Que seja filial ou sucursal, no País, de uma Empresa com sede no exterior do País;
Assim, quanto ao critério do volume de negócio ou sua dimensão, as Empresas podem ser
classificadas:
Entretanto, as Pequenas Empresas abreviadamente PQ, são aquelas que empreguem mais
de 10 e até 100 trabalhadores e/ou tenham uma facturação bruta anual em Kz superior ao
equivalente a USD 250 mil e igual ou inferior a USD 3 milhões (art. 5º, al. b), da Lei nº 30/11,
de 13 de Setembro, Lei das Micro, Pequenas e Médias Empresas).
Médias Empresas abreviadamente ME, são aquelas que empreguem mais de 100 até 200
trabalhadores e/ou tenham uma facturação bruta anual em Kwanzas superior ao
equivalente a USD 3 milhões e igual ou inferior a USD 10 milhões (art. 5º, al. c), da Lei nº
30/11, de 13 de Setembro, Lei das Micro, Pequenas e Médias Empresas.
193
Manual de Direito Económico Francisco Mário
CAPITULO VIII – NACIONALIZAÇÕES, CONFISCO E FIGURAS AFINS
8.2. Noção
A nacionalização em sentido restrito pode ser definida, segundo o Prof. EDUARDO PAZ
FERREIRA, como uma medida coactiva que opera a transferência da propriedade de
Empresas, participações sociais universalidades de bens, prédios rústicos e/ou urbanos ou
ainda de outros bens das pessoas privadas para as entidades públicas por razões política
económica e social386, por conseguinte o instituto de nacionalizações tem assento
constitucional previsto no art. 97º, da CRA., e art. 11º, da Lei de Terras nº 9/04, de 9 de
Novembro.
1º- A nacionalização opera sempre por via coactiva, não se podendo falar de nacionalização
se tiver havido uma compra pelo Estado de bens privados;
2º- É preciso que se verifique uma transferência efectiva da propriedade dos bens que
deixam de se integrar no sector privado;
3º- A nacionalização tem sempre uma motivação de ordem económica e social, visando que
os bens atingidos fiquem ao serviço do interesse geral387.
386Cfr. FERREIRA, EDUARDO PAZ, - Sumários da Economia, AAFDL 1996, Pág. 290.
387Cfr. FERREIRA, EDUARDO PAZ, - Sumários de Direito da Economia 1996, Pág. 290. Neste sentido vide
Acórdão do Tribunal Constitucional Português nº 39/88, de 9 de Fevereiro, in D.R. 2ª série nº 35, de 11 de
Fevereiro de 1988.
194
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Segundo o renomado Professor de Lisboa Doutor EDUARDO PAZ FERREIRA, citado pelo
Prof. PAULO ALVES PARDAL388, - destaca que uma nacionalização implica uma
transferência efectiva da propriedade dos meios de produção, por via coactiva, para
entidades públicas, devido a razões de política económica e social389, estes autor defende,
salientando, porém, que as motivações subjacentes podem ser da mais diversa ordem, tais
como:
Retaliatórias (v.g., nacionalização, com diz o Prof. ALVES PARDAL, - sem indemnização das
acções detidas por um Estado terceiro numa Empresa no caso empresa de direito angolano
em retaliação de idêntica medida tomada por esse Estado sobre acções detidas pelo Estado
angolano); em Angola aconteceu em 1975, com algumas situações dos portugueses;
388 Apud, AAVV, PARDAL, PAULO ALVES, - Direito da Economia Vol. I. editora AAFDL. Lisboa 2014. Pág. 172-
174.
389 Ibidem. Pág. 172.
390 Ibidem. Neste sentido explica o lustre Prof. Doutor ALVES PARDAL, que ao que tudo indica, o BPN
encontrava-se envolto em irregularidades que o conduziram a consideráveis perdas ocultas, tudo isto ainda,
aliando ao manifesto receio parte do Governo português de um efeito de contagio sobre o sector bancário
nacional a braços com especiais preocupações no contexto de uma crise financeira internacional despoletada
no ano anterior, “por motivos de excepcionais e especialmente fundamentados, tal se revele necessário para
salvaguardar o interesse público”, o que se traduz numa porta aberta à actuação do executivo nesta matéria,
isto não obstante deverem ser observados “princípios da proporcionalidade, da igualdade e da concorrência”
em cada nacionalização, podem ser objecto de apropriação pública, por via de nacionalização, no todo ou em
parte, participações sacias de pessoas colectivas privadas, escapando, assim, os bens e patrimónios. Com
efeito, em tese, podem existir duas modalidades de transferência da esfera privadas para a esfera pública por
via de nacionalização: uma opera-se a transferência de participações sociais pelo que se mantem a estrutura
empresarial (como todo o seu património), alterando-se, assim, a titularidade das participações sociais;
noutra a transferência incide sobre bens, direitos e obrigações.
195
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Económico»391, suportado pelos activos do Estado mas mantido alguns accionista do antigo
Banco, isto, transcreve-se, segundo a ideia cunhada pelo Prof. de Lisboa, ALVES PARDAL,
(…) podem existir duas modalidades de transferência da esfera privada para a esfera
pública por via de nacionalização: uma opera-se a transferência de participações sociais
pelo que se mantém a estrutura empresarial (com todo o seu património), alterando-se,
assim, a titularidade das participações sociais; noutra a transferência incide sobre bens,
direitos e obrigações (…)392.
Posto isso, retira-se deste excurso de exposição telegráfica, e que, cumpre-nos, todavia, no
nosso entendimento dar antes uma noção de nacionalização para melhor compreensão,
assim sendo, define-se como, - “uma forma directa e imediata de intervenção do Estado na
Economia que consiste no acto de soberania mediante o qual se transfere a propriedade e
bens vitais dos particulares para economia estatal, com a simultânea transferência, ou
modificação da respectiva gestão por razões de política social e do interesse público” 393. Ou
seja, como queiram entender neste aresto, é transferência de titularidade e gestão da
propriedade privada para esfera jurídica do Estado revestido por acto de soberania de
forma de Lei no sentido formal, nos termos permitidos pela Lei fundamental de magnitude
económica de Angola; (art. 97º, da CRA) e legislação ordinária; (Lei nº 3/76, de 3 de Março,
designada de Lei dos Confiscos e Nacionalizações).
Uma outra questão que deve merecer atenção especial nesta sede, prende-se com a figura
económica da irreversibilidade das nacionalizações. Pelo que na antiga Lei Constitucional
consagrava no seu art. 13º, da LC, curiosamente, o legislador não hesitou em reconduzir o
princípio da irreversibilidade das nacionalizações que na monta projecta-se de modo
reputado no art. 97º, da CRA, reporta-nos que:
Significa este preceito legal, que já não perante um amplo princípio de irreversibilidade das
nacionalizações, mas também para a salvaguarda da validade e da eficácia dos actos de
nacionalização e confiscos operados no passado que constituem o núcleo duro da revolução
de 1975; não mais nacionalização com um fim-função de construção do socialismo, mas sim
no âmbito do intervencionismo do Estado por questões económicos pertinente de interesse
público e estratégico.
Por último depois das nacionalizações abre-se o escape de desregulação para privatizações
e reprivatizações.
Ainda que a Lei o não contemple expressamente, este efeito estaria implícito na natureza
do acto de nacionalização, ou pelo menos em cada acto casuístico de nacionalização. A Lei
nº 3/76, de 3 de Março, prevê expressamente que: “os direitos relativos aos nacionalizados
consideram-se transmitidos para o Estado para todos efeitos legais, independentemente de
quaisquer formalidades, ónus ou encargos que sobre eles impendam”.
Esta transferência “ope legis”, para o Estado de direitos dos ex-titulares dos bens objecto de
nacionalização, representa uma aquisição originária de direitos reais e não derivada, pois
não depende da existência de um direito real anterior.
394 Poisque a figura da privatização, pode ser entendida no sentido amplo, que a é transferência por alienação
total ou parcial da Empresa ou de bens do Estado, e sentido restrito, é entendido como reprivatização, como
já dissemos que é a transferência da propriedade do Estado nacionalizada e voltar para esfera dos
particulares.
197
Manual de Direito Económico Francisco Mário
8.4.2. Efeitos Periféricos
O objecto das nacionalizações limita-se exclusivamente aos bens das empresas. Assim, os
efeitos periféricos referem-se a parte ou o todo da universidade dos bens, direitos e
obrigações que a empresa representa na ordem jurídico-económica. Qualquer modo,
podemos distinguir assim, quatro efeitos periféricos:
198
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Quanto ao elemento pessoal este vê-se reduzido a um único sócio o Estado, – se e enquanto
não forem integrados outros sócios. Trata-se de um caso de sociedade unipessoal
consentida pela legislação sobre nacionalizações, ao arrepio da legislação comercial.
Todavia, esta sociedade unipessoal continua a ser regida pela legislação comercial em tudo
que não contrarie aquela legislação.
Resulta assim que, rigorosamente, neste caso, não se está perante uma nova Empresa, mas
sim perante uma pessoa jurídica com alteração em alguns dos seus elementos estruturais.
Em caso de dissolução, ope legis, da sociedade, constitui-se em regra uma nova Empresa
estatal.
Portanto, importa assinalar que além das nacionalizações temos outras figuras afins das
nacionalizações que em seguida vamos abordar.
8.5.1. Confisco
O Confisco - é uma figura jurídica similar até certo tempo à nacionalização, mas tem um alto
pendor punitivo (art. 3º, nº 3/76, de 3 de Março). Por isso é considerado como uma figura
afins as nacionalizações por fundar-se precisamente no Direito Penal Económico na
panóplia dos temas de intervenção estadual concreta unilateral que incide sobre os bens
patrimoniais abandonados pelos Agentes Económicos.
Em Angola Lei do confisco foi inspirado na ordem jurídica argelina dos biens vacants, como
devolução ou perda para o Estado de bens patrimoniais abandonados.
199
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Já no Direito Francês no período medieval servia como penas parcelares no concurso real
das penas, isto é, servia como pena principal (como matéria de usura) e como pena
acessória (no caso de rapto, homicídio, adultério)395.
O confisco tem natureza de um acto administrativo praticado sob forma de Lei material
susceptível de ser impugnado por inconstitucionalidade.
Portanto, neste plano de demolições por regra não há direito subjectivo de indeminização
para os não portadores de títulos de propriedade, quando muito, haverá para as populações
evacuadas e dos imóveis demolidos o direito à uma compensação de um terreno e materiais
395 Cfr. AV. DOMINGOS FRANCISCO JOÃO/QUEIROZ, FRANCISCO - Direito Económico de Angola, Zoe, 2018.
Pág. 284.
396 Vide o Acórdão Tribunal Supremo de Angola Proc. nº 103/2004, sobre anulação do despacho de anulação
8.5.3. Reversão
A Reversão - consiste na transferência dos bens dos particulares para esfera patrimonial
do Estado em função da extinção do organismo ou pessoa colectiva, ou por “rés nullium”,
abandono, o seu património reverte-se à favor do Estado, vide art. 166º, do CC e art. 11º,
do Decreto Presidencial nº 92/2016, de 4 de Maio, Regulamento de Aquisição Gestão e
Abate da Frota de Veículos Automóveis do Estado, art. 12º, do Decreto Presidencial nº
177/10, de 13 Agosto, Instruções de inventariação dos Bens Patrimoniais Públicos, art. 47º
e 52º, da Lei das Águas, Lei nº 6/02, de 21 de Junho.
Pois bem, em termos conceituais, a Requisição Administrativa ou Civil consiste num acto
pelo qual em casos excepcionais legalmente previstos, em que uma autoridade pública
exige dos cidadãos mediante indemnização a prestação de certos serviços à cessão de
coisas móveis ou utilização temporárias de certos bens para ocorrer às necessidades
ingentes, art. 37º, da CRA; art. 1309º e 1310º, do CC e do Decreto-Lei 36:284, de 17 de Maio
de 1947. Porém, importa assinalar os acontecimentos recentes da pandemia Covid -19, nos
termos do Decreto Presidencial nº 81/20, de 25 de Março, estabelece ipso iuris no nº 3, do
398 Não se aplica de facto e não Direito, por falha do regulador daí que, por questões de política social e para
evitar tensões de convulsões ásperas o Estado tende de conciliar no plano de redistribuição da riqueza por
via de auxílio do Estado que é uma prática anti-concorrencional no Mercado imobiliário.
399 Estes factos de demolições aconteceu na Província da Huíla e no corredor da linha férrea dos Caminhos-
de-Ferro de Moçâmedes em que eram confundidos com a expropriação para utilidade pública enquanto os
expropriados muitos deles, nem todos, não tinha título de propriedade dai que as suas pretensões em
tribunais de justiça foram julgados improcedentes.
201
Manual de Direito Económico Francisco Mário
art. 2º do citado diploma legal, a possibilidade de requisição de direitos de propriedade e
de iniciativa económica privada, para prossecução do interesse público.
O Repatriamento Coercivo e Perda Alargada de Bens é pois, uma figura nova que visa
essencialmente resgatar os bens do Estado que foram indevidamente transferido para
esfera patrimonial dos Agentes Económicos dentro do País e no exterior.
Porque, após do Poder Executivo ter deparado com um balanço patrimonial e financeiro
deficitário resultante da gestão da coisa pública irregular do regime anterior, ensaiou
através de Lei medida com respaldo dos representantes dos Agentes Económicos na
Assembleia Nacional, mas foi devidamente escrutinado tendo sido aprovada por maioria
dos representantes dos Agentes Económicos do Partido que suportam os Poderes Públicas
da Administração Económica e, em prima facie, como dizia, foi efectivamente aprovada uma
Lei de tipo clemencia económica e financeira temporária, Lei nº 9/18, de 26 de Junho, Lei
de Repatriamentos dos Recursos Financeiros, que de algum modo possibilitava os Agentes
Económicos detentores de fortunas surripiados na esfera patrimonial do Estado para que
pudessem restituir voluntariamente o indevido naquele prazo de seis (6) meses indicado
pela já mencionada Lei ordinária.
Acontece porém, a lide dos Agentes Económicos em voga não realizou o reclamado pelo
novo Poder Económico saído das eleições gerais de 2017. Foi assim que o legislador
angolano produziu a Lei nº 15/18, de 26 de Dezembro, Lei de Repatriamento Coercivo de
Capitais que visa essencialmente fazer recuperar os activos que o Estado ficou sem eles a
aquando da gestão improbe dos agentes administrativos no passado recente.
A classificação do instituto em análise afigura-se ortodoxa, visto que algum sector ou como
facilmente se observa sem mas tivergersões, entendem que esta matéria devia ser estudado
no âmbito do Direito Penal, excluir-se-ia o Direito Económico, pois o rácio essendi da
Mas esta visão escamba-se na medida que existe uma intrínseca relação jurídico -
económico entre o Agente Económico e Poder Económico, cujas consequências influenciam
o Mercado e a concorrência. Daí, deve ser examinada na perspectiva heterodoxa por
comportar matérias económicas e criminais cujo desígnio de estudo reputa-se
hodiernamente no plano do Direito Penal Económico.
Assim, o Repatriamento Coercivo de Capitais e Perda Alargada de Bens tem natureza mista
ou hibrida, porque é um crime subjacente por via disso tem pendor económico punitivo –
em sede dos crimes económicos e nada obsta que seja tratado nesta sede ou
interdisciplinar.
203
Manual de Direito Económico Francisco Mário
CAPITULO IX - O SECTOR EMPRESARIAL PRIVADO DA ECONOMIA
De acordo com normativo do Código Civil angolano trata a sociedade como um contrato de
sociedade nos termos do disposto no art. 980º, do CC, pois as Sociedades Comercias são
também pessoas jurídicas (art. 5º, da LSC) que tem como necessariamente por objecto a
prática do acto do comércio revestido em actos de natureza objectiva e subjectiva, ou seja,
desenvolve certa actividade económica empresarial em comum destinada à produção,
distribuição e comercialização de bens serviços de consumo, que não seja mera fruição, cuja
finalidade é o lucro económico.
Sociedades por comandita por acções; (Comanditas por Acções) art. 201º, da LSC e
Sociedades por comanditas simples; (Comanditas Simples) art. 201º, da LSC.
Nos termos do art. 2º, da LSC, as sociedades que tenham por objecto o exercício de uma
actividade comercial têm de adoptar um dos tipos previstos no Código. Vigora aqui o
princípio da tipicidade ou do “numerus clausus”.
Mas também existem normas supletivas ou dispositivas, devendo notar-se que, os termos
do art. 10º, n º 4, os preceitos dispositivos “só podem ser derrogadas pelo contrato de
sociedade, a não ser que este expressamente admita a derrogação por deliberação dos
sócios”.
As sociedades que tenham exclusivamente por objecto a prática de actos não comerciais
podem adoptar um daqueles tipos, ficando sujeitas à Lei comercial. São as sociedades civis
sob forma comercial.
402Cfr. ALMEIDA, ANTÓNIO PEREIRA DE, - Direito Angolano das Sociedades Comerciais, com a colaboração
de Fátima Freitas, Advogados em Associação com Miranda Correia Amendoeira & Associados, 2ª Edição,
Coimbra Editora 2012, Pág.16 e ss.
205
Manual de Direito Económico Francisco Mário
A vantagem económica destas sociedades é fundamentalmente o mais fácil acesso ao
crédito por causa da responsabilidade ilimitada dos sócios.
São, de longe, o tipo societário mais utilizado na prática por corresponder à estrutura típica
da pequena e média Empresa.
São o tipo característico das Empresas de maior dimensão. O seu capital mínimo
corresponde ao montante em Kwanzas equivalente no valor de USD 20.000,00 e deverão
ter, em princípio pelo menos, 5 accionistas. Os accionistas respondem apenas pela
realização das acções de que são titulares.
A sua estrutura orgânica também é mais pesada, sendo sempre necessário um perito
contabilista ou contabilista efectivo e outro suplente e uma Mesa de Assembleia Geral.
Contudo, a orgânica social das S.A. é do tipo das Empresas Públicas, que é constituído por
um corpo sociais colegiais e unipessoais executivos e fiscal.
Assim, os órgãos sociais colegiais são Assembleia Geral dos Accionistas, Conselho da
Administração e Conselho Fiscal. Entretanto esses órgãos colegiais são presididas pelos
órgãos unipessoais, em primeiro lugar pelo Presidente da Mesa da Assembleia Geral –
órgão não executivo, no segundo pelo Presidente do Conselho da Administração (PCA) -
órgão executivo e em terceiro e ultimo o Presidente do Conselho Fiscal. Podendo Conselho
403ALMEIDA, ANTÓNIO PEREIRA DE, - Direito Angolano das Sociedades Comerciais, com a colaboração de
Fátima Freitas, Advogados em Associação com Miranda Correia Amendoeira & Associados, 2ª Edição,
Coimbra Editora 2012, Pág. 16 e ss.
206
Manual de Direito Económico Francisco Mário
da Administração ser composta pelos Director Geral e Directores de áreas técnicas, ou
Administradores Executivos e não Executivos das áreas e um Presidente do Conselho Fiscal
podendo também ser coadjuvado pelo um Vice-Presidente do Conselho Fiscal e vogais.
207
Manual de Direito Económico Francisco Mário
CAPITULO X – SECTOR ECONÓMICO COOPERATIVO
Por seu turno na antiga Prússia (Alemanha), foram constituídas, a partir de 1849, as
cooperativas de crédito e de consumo406.
“Será considerada como cooperativa, seja qual for a constituição legal, toda a associação de
pessoas que tenha por fim a melhoria económica e social de seus membros pela exploração
de uma Empresa baseada na ajuda mínima e que observa os Princípios de ROCHDALE”407 .
Num primeiro relance, verifica-se que às cooperativas lhes são atribuída uma especial
utilidade em Angola na actividade agrícola, pesca e de algum modo pouco significativo na
defesa do consumidor, na promoção habitacional (como bem lembra a cooperativa do lar
do Namibe, de Moçâmedes), sendo também mencionadas a propósito da educação e saúde.
Mas o que é decisivo é determinar o sentido global deste conjunto de normas, que está longe
de ser uma simples soma de preceitos dispersos e alheados uns dos outros, um leque de
mensagens normativas avulsas.
407 Ibidem.
408 Ob. Cit. Pág. 181.
409 Ibidem.
410 Cfr. NAMORADO, RUI, - Introdução ao Direito Cooperativo, Almedina Editora, 2000, Pág. 131.
411 Cfr. NAMORADO, RUI, - Introdução ao Direito Cooperativo, Almedina Editora, 2000, Pág. 171-175.
209
Manual de Direito Económico Francisco Mário
As Cooperativas são definidas como pessoas colectivas autónomas, de livre constituição, de
capital e composição variáveis, que através da cooperação e entreajuda dos seus membros,
com obediência aos princípios cooperativos, visam, sem fins lucrativos, a satisfação das
necessidades e aspirações económicas, sociais ou culturais daqueles412.
Como se vê, os valores em causa são explicitados em dois grupos distintos. O primeiro
projecta-se, em primeira mão, na actividade das cooperativas como organizações. O
segundo dirige-se directamente aos cooperadores enquanto tais.
Por último, a terceira tese, vendo uma profunda diferença qualitativa entre escopo
cooperativo e escopo lucrativo, qualifica a cooperativa como associação.
De tudo o que foi dito, pode, portanto, concluir-se que admitir que as Cooperativas podem
ter fins lucrativos é pôr em causa a sua identidade e a sua razão de ser, abrir caminho à
confusão, com riscos acrescidos de perturbar gravemente o desenvolvimento cooperativo.
416 Ibidem.
211
Manual de Direito Económico Francisco Mário
como um instituto de Direito Económico e da coexistência sectores de propriedade, ou seja,
à forma como a propriedade em Angola pode ser titulada pelos Agentes Económicos.
Mas por conseguinte, esta actividade crismada como comunitária, por vezes societária ou
Empresa, entronca e tem o seu campo de eleição, como se denota, em três áreas de sector
da actividade, nomeadamente: agricultura, pesca e sector social. Daí, considerar que o
legislador consagrou com especial atenção um sector cooperativo, designadamente:
Cooperativismo Estimulado
Aquela que a sua constituição é impulsionado por movimento social, político e económico
que é externo ao pensamento dos seus fundadores.
Cooperativismo Espontâneo
Aquela que advém da criatividade ou iniciativa dos cidadãos com cultura associativa para
realizar uns dos fins económicos lucrativos ou altruístas com base no postulado
Cooperativo.
Cooperativismo Obrigatório
Consiste numa imposição legal que obriga os interessados caso queiram desenvolver uma
actividade económica lucrativa ou altruísta em regime de cooperativo e terem benefícios
decorrente da intervenção do Estado, constituírem cooperativas.
212
Manual de Direito Económico Francisco Mário
II - Entretanto o ordenamento jurídico cooperativo angolano desenhou através da Lei nº
23/2015, de 31 de Agosto, o “numerus clausus” do qual estão alicerçados a tipologia de
Cooperativas no critério jurídico-legal do formato organizacional e do objecto social,
nomeadamente417:
Cooperativas Polivalentes
São aquelas que abrangem mais de uma área de actividade relacionadas ou conexas, desde
que estejam em organizadas por secções.
11.1. Introdução
Porém, o instituto do Abuso do Direito está desenhado na Constituição, o que significa dizer,
no caso justificativo é admitido excepcionalmente ao Estado (tutela pública) e aos
particulares (tutela privada)419, fazer intervenções restritivas e limitativas420, dos direitos
económicos fundamentais em sede do Abuso do Direito.
Em caso e dúvida os direitos devem prevalecer sempre sobre as restrições (in dúbio pro
libertate), isto significa que as leis restritivas devem ser interpretadas senão
restritivamente, pelo menos sem recurso à interpretação extensiva e à analógica421.
Na história de Angola afigura-se os bens dominiais da comunidade tribal e clãnica que eram
da pertença e uso da colectividade, insusceptível de apropriação individual por negócio
inter vivos ou mortis causa, destes bens avultam os caminhos públicos, prados de pastagem,
fauna e flora, caminhos públicos cemitérios, bebedouros de águas, nascentes de água, rios,
lagos e lagoas e etc.
421.
214
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Na idade média não havia rigorosamente uma delimitação dos bens da classificação dos
bens do domínio público do reino ou do império devido o poder absoluto aristocrático
pessoalizado no Rei ou no Imperador.
Esta dificuldade levou a destrinça da titularidade entre os bens dominiais com finalidade
de interesse colectivo e do interesse aristocrático.
Seja como for, entende-se como Bens do Domínio Público, - o conjunto de coisas que o
Estado, autarquias locais ou autoridades tradicionais aproveitam para a prossecução dos
fins, usando poderes de autoridade, ou seja, através do Direito Público, incluindo os bens
que se destinam ao uso de todos422.
Os Bens do Domínio Público são caracterizados de ponto de vista técnico como Bens
Impenhoráveis e Inalienáveis, isto é, não podem ser vendidos, nem apreendidos, nem
dados como garantia jurídica creditícia contratual ou extra-contratual do cumprimento das
obrigações art. 95º, nº 3, da CRA., art. 822º, e ss., do CPC., também os Bens do Domínio
Público são caracterizados como Imprescritíveis, isto é, não estão sujeitos a aquisição
originaria prescritiva “usucapião”, ou seja, não são usucapíveis – através do direito de posse
adquirido pelo uso prolongado, pelo que, a posse do Estado é legalmente inquestionável,
art. 95º, da CRA., art. 27º nº 3, 4 e 5, da Lei de Terras (LT).
Aeroportos e aeródromos;
Portos e cais;
422 Nosso.
215
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Barragens, represas, valas e canais;
São aqueles Bens de Domínio Privado do Estado que incidem sobre os direitos dos bens
móveis e imóveis que se encontram sob administração ou tutela de órgãos e instituições do
Estado, para o cumprimento das suas atribuições.
São tomados como exemplos nesta sede: todos os móveis, imóveis e veículos que são
utilizados pelo Estado para cumprir as suas atribuições, como por exemplo, os cacifos, as
secretárias, o prédio da administração, o prédio da escola, as carteiras das salas de aulas,
os livros das bibliotecas, a motorizada dos serviços de supervisão, os Bens dos Institutos
Públicos e Empresas Públicas e etc.
Por conseguinte, destes, destacam-se os de uso especial, ou seja, aqueles que são
indispensáveis para a realização das actividades pelas instituições do Estado – sendo assim
inalienáveis e impenhoráveis. Pois que são Bens de Utilidade Pública, isto é, - são Bens de
Utilidade Pública -, aquelas coisa que tem aptidão para satisfazer as necessidades
colectivas, resultando exclusivamente da Lei. Por exemplo, equipamentos cirúrgicos são
bens de domínio privado de uso especial, pois são considerados de Utilidade Pública. A sua
216
Manual de Direito Económico Francisco Mário
gestão não pode depender de decisão administrativa, mas deve obedecer aos princípios do
direito do cidadão à saúde e à protecção social.
Portanto, a Lei indica uma prescrição configurado no art. 93º, da CRA. Porém, através desta
disposição legal, o legislador constitucional orienta quais das actividades económicas são
efectivamente vedadas a outros Agentes Económicos, nomeadamente:
- Produção, distribuição de material de guerra art. 11º, al. a), da Lei nº 5/02, de 16 Abril.
- Actividade bancária, respeitante às funções do banco central e emissor art. 93.º da CRA e
art. 3º, nº 1 e 6º, da Lei nº 16/10, de 15 Julho, Lei do BNA. E art. 11º, al. b), da Lei nº 5/02,
de 16 de Abril, Lei de Delimitação de Sectores da Actividade Económica.
Entretanto, dessas reservas absolutas nem é tudo é absolutamente vedado aos particulares,
ou seja, aos Agentes Económicos de Direito Privado, porque, por exemplo, o legislador
ordinário entendeu abrir a mão para fazer jus as eventuais participações dos particulares
neste Mercado Monopcioníca conforme o previsto na al. a), do art. 11º, da Lei nº 5/02, de
16 de Abril, isto é, a produção, distribuição e comercialização de material de guerra.
217
Manual de Direito Económico Francisco Mário
- Serviços básicos postais – art. 12º, nº 2 al. a), da Lei nº 5/02, de 16 de Abril.
Portanto, a reserva de controlo que compreende as áreas acima destacadas podem ser
desenvolvidas por Agentes Económicos do sector público, ou sociedades participadas com
capitais do Estado onde detenha posição privilegiada ou dominante nos termos do art. 12º,
nº 1, da Lei nº 5/02, de 16 de Abril.
Conquanto que esta reserva de controlo pode ser enquadrada na excepção do acesso
actividade económica como restrições limitativas.
Os afigura-se os Bens do Domínio Privado – são aqueles que incidem sobre os direitos dos
bens móveis e imóveis que se encontram sob administração, ou tutela dos órgãos e
instituições do Estado, para o cumprimento das suas atribuições que a princípio estão
sujeitos ao regime de propriedade estatuído na Lei civil, que serve para todos, ex vi lege art.
96º, da CRA., e art. 202º, nº 1, do CC.
Ora bem, são tomados como exemplos nesta nota: todos os móveis, imóveis e veículos que
são utilizados pelo Estado para cumprir as suas atribuições, como por exemplo os cacifos,
as secretárias, o prédio da administração, o prédio da escola, as carteiras dos alunos, os
livros das bibliotecas, os bens dos Institutos Públicos e Empresas Públicas e etc.
Com efeito, o Estado não pode alhear-se da sua responsabilidade pela prestação de um
serviço de interesse geral, mas não pode ignorar que o Mercado e a Concorrência são hoje
o mecanismo normal de articulação da decisão económica423.
Todavia, a conciliação entre as duas linhas de força passa pela figura da concessão, centrada
na reserva relativa dos Bens do Domínio Público do Estado. O Estado mantém a titularidade
de serviço que a Empresa proporciona, com os devidos poderes (regulatórios) de controlo
423 Ibidem.
218
Manual de Direito Económico Francisco Mário
e fiscalização, e o concessionário gere efectivamente a Empresa por sua conta e risco e em
seu nome.
Pelo que, ao abrigo do disposto na dimensão da norma do art. 13º, da Lei nº 5/02, de 16 de
Abril, estabelece que constituem reservas relativas do Estado as actividades económicas
compreendidas nas seguintes áreas:
- Saneamento básico art. 13º, al. a), da já citada Lei nº 5/02, de 16 de Abril;
- Produção, transporte e distribuição de energia eléctrica para consumo público, art. 13º,
al. b), da Lei nº 5/02, de 16 de Abril;
- Exploração de serviços portuários e aeroportuários art. 13º, nº 2, al. d), da Lei nº 5/02, de
16 de Abril;
- Transporte aéreo regular de passageiros domésticos art. 13º, nº 2, al. f), da Lei nº 5/02,
de 16 de Abril;
424 Ibidem.
219
Manual de Direito Económico Francisco Mário
CAPITULO XII – FENÓMENO DAS PRIVATIZAÇÕES
As privatizações de ponto de visto histórico podemos dizer que foi a partir de finais da
década de 70, do século XX, em certos meios políticos, académicos e empresariais começou
– se a proliferar a ideia de que há um conjunto de decisões ao nível da alocação de recursos
económicos, que são mais eficiente e eficazmente tomados pelo sector privado do que pelos
decisores da Administração Pública.
Pelo que, de igual modo, generalizou-se ainda a tese de que a propriedade privada facilita
o crescimento, a internacionalização e a integração das Empresas em espaços
multinacionais, não só porque desaparecem – ou pelo menos são minorados – os
condicionalismos políticos inerentes a operações de fusão, aquisição troca de
participações, ou as simples alianças estratégicas com outras Empresas, mas também
porque a influência de capitais privados liberta a Empresa dos constrangimentos de
crescimento e expansão inerentes à necessidade de garantir o equilíbrio das contas
públicas425.
425 AZEVEDO, MARIA EDUARDA, - Temas de Direito da Economia, Edições Almedina, 2013, Pág. 133 e ss.
220
Manual de Direito Económico Francisco Mário
12.2. Os Objectivos das Privatizações
Os debates desenvolvidos nas duas últimas décadas de século passado não deixaram de
porem em foco os efeitos nefastos de uma intervenção estadual excessiva, fruto da
sedimentação de múltiplas regulamentações, em particular quando implicavam a presença
e actuação do Estado como Agente Económico activo em Mercados competitivos. Seria
nesse processo que iria integrar como parte importante o movimento das privatizações,
que se havia difundir por todo mundo.
a) Privatização Substancial.
Privado.
426 AZEVEDO, MARIA EDUARDA, - Temas de Direito da Economia, Edições Almedina, 2013 Pág. 133 e ss.
221
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Assim, no ordenamento jurídico económico, as privatizações obedecem os seguintes
objectivos:
Porém, avulta ainda a contratação de bens ou serviços pelos poderes públicos com
entidades privadas (outsourcing) que assim se substituem aos fornecedores públicos que
427 Ibidem.
222
Manual de Direito Económico Francisco Mário
consiste numa perspectiva de «desintervenção», o que não correspondeu, portanto, ao
desaparecimento da regra jurídica como garante da disciplina da produção e consumo dos
bens e serviços sociais em causa. Portanto, a complexidade respectiva requer a norma
jurídica, sucedendo apenas que ela é agora com frequência de origem não estatal428.
12.3. Conceito
Conclui esta autora angolana definindo que, a privatização como “o acto através do qual o
Estado transfere para o sector privado, a propriedade e a gestão de unidades produtivas de
bens produtivos ou de recursos naturais, anteriormente na titularidade e/ou gestão do
sector público, ou outros sectores de produção não privados”.
Pelo que, essas entidades vão efectivamente exercer poderes atribuídos pelo Estado no
âmbito da privatização ou desregulação económica, designadamente:
Cfr. AV. DOMINGOS FRANCISCO JOÃO/QUEIROZ, FRANCISCO - Direito Económico de Angola, Zoe, 2018.
430
Pág. 438.
431Cfr. CARDONA, MARIA CELESTE, - Contributo para o Conceito e a Natureza das Entidades Administrativas
Independentes ( As Autoridades Reguladoras) teses Almedina, 2017, Reimpressão Pág.160.
224
Manual de Direito Económico Francisco Mário
(v) Competências informativas e de divulgação (publicações, jornadas de
estudos)432.
Ora bem, vamos precisamente descrever as propriedades temáticas das modalidades das
técnicas de privatizações acima enunciadas:
Portanto, esta técnica de privatização visa eliminar a regulação estadual e criar os espaços
vazios e devolver ao sector privado uma área de regulação até então exercida em exclusivo
pelo Estado, ou fazer o reenvio para os regimes de auto-regulação( profissional, técnica,
operacional, ou de funcionamento do Mercado).
Assim, muito cedo esta tendência doutrinária foi sendo concebida para que certos serviços
públicos regulados pelo Direito Público passassem para estar subordinadas (a sua
actuação) a regimes do Direito Privado, mas como entidade de natureza pública (a sua
personalidade jurídica).
Contudo, é assim que funciona a fórmula utilizada nos contratos laborais nas Empresas
Públicas em que o regime disciplinar laboral segue a forma típica das relações jurídicas de
Direito de Trabalho Privado (LGT) distinto do regime do funcionalismo público (Decreto
33/91). O significa dizer as entidades públicas quanto a sua criação e os fins seguem o
432 Cfr. CARDONA, MARIA CELESTE, - Contributo para o Conceito e a Natureza das Entidades Administrativas
Independentes (As Autoridades Reguladoras) teses Almedina, 2017, Reimpressão Pág. 160.
433 Ob. Cit. Pág. 162.
225
Manual de Direito Económico Francisco Mário
regime público, e, as formas de organização, regulação e gestão são preferencialmente pelo
recurso ao Direito Privado434.
Todavia, a Privatização que se afere pode ser de dois (2) degraus, nomeadamente:
Pelo que, neste seguimento, as relações entre a Administração Públicas e o Direito Privado
são:
434 Cfr. CARDONA, MARIA CELESTE, - Contributo para o Conceito e a Natureza das Entidades Administrativas
Independentes ( As Autoridades Reguladoras) teses Almedina, 2017, Reimpressão Pág.164.
435 Exemplo ilustrativo da privatização organizativa da Administração indirecta do Estado: a transformação
Consiste naquelas situações em que mediante o acto ou contrato, são atribuídas a pessoas
singulares ou colectivas privadas competências de gestão ou exploração de determinadas
tarefas administrativas até então desenvolvidas através de serviços públicos.
Neste caso como afirma a MARIA CELESTE CARDONA, a responsabilidade pelo eficiente
funcionamento da tarefa administrativa continua a ser do Estado ou de outras entidades
públicas que, por isso, gozam de amplos poderes de fiscalização, conformação e
sancionatória sobre o modo como é exercida a gestão ou exploração do serviço436.
Portanto, o recurso a esta técnica de privatização tem o seu enfoque nas parcerias –
públicas – privadas, os contratos públicos económicos e outsourcing.
Neste caso de privatização no sentido das acessibilidades a uma actividade económica até
certo momento vedado à iniciativa privada. Estamos em presença de reservas públicas de
actividades económicas (absolutas controlo e relativas) porém, no regime de reservas de
controlo vigora em Angola a regra do modelo de autorização, ex. actividade bancaria,
seguro, telecomunicações nos termos previstos na Lei nº 05/02, de 16 de Abril, Lei da
Delimitação de Sectores da Actividade Económica.
A privatização do capital social de entidades empresariais públicas é a regra com maior uso
em Angola e compreensível na linguagem jurídica corrente na tradicional doutrina
económica, pois, consiste na transferência de titularidade do capital social detida total,
maioritariamente ou minoritário pelo Estado para uma entidade privada, cuja
transferência pode operar-se de modo total ou parcialmente.
436Ob. Cit. Pág. 165. No mesmo sentido Cfr. GONÇALVES, PEDRO COSTA, - “ Concessão de Serviços Públicos”,
Combra, 1999.
437 Apud. CARDONA, MARIA CELESTE, - Contributo para o Conceito e a Natureza das Entidades
Administrativas Independentes (As Autoridades Reguladoras) teses Almedina, 2017, Reimpressão Pág.167.
227
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Para nós a Privatização poder entendida, ou seja, definida como: “uma forma de
desintervenção do Estado na economia (desregulação económica), que consiste na
transferência de titularidade da propriedade pública ou da gestão para o sector privado”,
nos termos balizados pelos art. 97º, da CRA e da Lei nº 10/19, de 14 de Maio, Lei de bases
das Privatizações.
O que significa dizer, existem duas modalidades de preferências legais autónomos e não
cumulativos -, preferências legais patrimoniais (art. 20º, da LBP) e preferências legais
laborais (art. 28º, da LBP) este ultimo é o mais operante por se tratar de um direito
228
Manual de Direito Económico Francisco Mário
fundamental de trabalho, ou seja, o emprego que está constitucionalmente consagrado,
vide art. 78º, CRA.
De acordo com o Universal Dicionário Integral Portuguesa440, este enfatiza e dá-lhe, como é
perceptível, significados diversos que possibilitam abarcar e responder a várias situações
que se projectam na comarca do instituto de controlo, designadamente como: vigilância
superior; orientação fiscalizadora; verificação correctiva; conferência; revisão; dominação.
Em sede constitucional, como dogmatismo conceitual não se deve alhear da realidade que
quer explicar e de como a teoria não deve deixar de ser um veiculo de conhecimento dessa
realidade etimológico do conceito de controlo. Esta pré-compreensão subjaz ao controlo
constitucional a ideia geral de fiscalização da actividade dos poderes públicos para evitar
ou sancionar arbitrariedades e abusos de autoridade.
De tal sorte, o controlo das privatizações configuram-se nos limites e restrições da actuação
da Administração Pública no domínio económica para o equilíbrio de poderes em função
do dos princípios da legalidade, imparcialidade, proporcionalidade e do interesse público,
são pois, corolários do Estado constitucional democrático que se expressa tanto pela
existência de uma complexa rede de limitações do poder como de múltiplos controlos
através dos quais, as limitações se articulam ambas as vertentes e são efectivamente os
elementares alicerces de identidade do Estado constitucional democrático económico.
Nos regimes democráticos, o Tribunal de Contas, ou órgãos com competência similares têm
como missão fundamental, o controlo da gestão financeira pública, informar os cidadãos
439 Mas desenvolvimento vide. BARATA, CARLOS LACERDA. – Das Obrigações de Preferência, Coimbra
editora, reemp. 2002, Pág. 12 e ss., COSTA, MÁRIO JÚLIO DE ALMEIDA. – Direito das Obrigações 9ª, edição
revista e actualizado 2001, Pág. 412 e ss.
440 Dicionário Integral Portuguesa, colecção Universal Texto Editora Angola, Portugal, Moçambique, Brasil,
Pág. 412.
229
Manual de Direito Económico Francisco Mário
através dos seus representantes (no parlamento) de como são geridos, em vários planos,
os recursos financeiros e patrimoniais públicos que na realidade lhes pertencem e o
eventual e consequente apuramento de responsabilidades nos termos legalmente
definidos.
Por outro lado, este controlo da actividade financeira pública, através das observações e
recomendações formuladas, representa também uma missão pedagógica e um contributo
para o equilíbrio da vida financeira.
O nº 1 do artigo 60º da Lei nº 13/10, de 9 de Julho dispõe que para além dos aspectos
referidos no nº 1 do art. 7º, o parecer do Tribunal de Contas sobre a Conta Geral do Estado
deve, igualmente, incidir sobre:
12.10. Reprivatização
Reprivatização – também é a transferência de propriedade do sector público até então
nacionalizado, confiscado, expropriado pelo Estado para esfera jurídica económica dos
particulares por mecanismo de alienação do património do Estado. Em termos jurídico
legais, “ex vi lege”, art.4º, al. i), da LBP, as privatização é a transferência total ou parcial da
propriedade de uma Empresa, feita de forma onerosa, do domínio público para sector
privado, em que o adquirente esta inserido no sector privado típico, sendo que a Empresa
em causa, já tenha anteriormente pertencido ao sector privado.
Pode dar-se pela via da pura privatização (quando originariamente pertenceram ao Estado
e forma posteriormente transferidas para o sector privado), ou pela via da Reprivatização
12.11. Devolução
A Devolução – é a privatização de um bem do Estado que anteriormente já tinha pertencido
ao sector privado tiver sido transferido para sector público (por via de nacionalização e
confisco ou figuras afins) para antigo proprietário, art. 97º, da CRA.
12.12. Redimensionamento
Redimensionamento - não é uma figura do Direito Económico, é apenas uma terminologia
adoptada para a dimensão empresarial que se pretendia mais diminuta no que a função
empresarial do Estado diz respeito.
231
Manual de Direito Económico Francisco Mário
CAPITULO XIII – DIREITO DE CONCORRÊNCIA E LIVRE INICIATIVA ECONÓMICA
Sendo que umas das preocupações centrais do Direito da Concorrência é efectivamente que
as Empresas possam, por recurso a expedientes anti-concorrencionais como por exemplo,
a redução estratégica do volume de produção, o aumento de preços, a diminuição dos níveis
de qualidade dos produtos, a supressão da inovação, ou liberdade de escolha dos
consumidores, adoptar uma política de Mercado que, em ultima instância, se tenha como
lesiva do bem - estar dos consumidores442.
O economista escocês ADAM SMITI 1776 afirmou nos seus escritos sobre a riqueza das
nações o seguinte: (...) O sistema óbvio e simples de liberdade natural”, é afirmado como o
melhor sistema econômico possível. Todo homem fica perfeitamente livre para buscar os
seus próprios interesses, à sua própria maneira, e para concorrer, com seu esforço e com
seu capital, com o esforço e o capital de outros homens ou tipos de homem. O soberano fica
completamente livre do dever de supervisionar o esforço particular das pessoas e de dirigi-
lo para as finalidades mais adaptadas ao interesse da sociedade”444.
Comummente diz-se que o homem não é livre, pois que, predicam os conoclastas do saber
filosófico que o livre é o animal irracional, pelo que, sendo certo que o homem é um ser
racional, actividade económica é efectivamente um dado natural, que é precisamente o
prolongamento das liberdades individuais e geradoras da riqueza445.
Seguramente, o homem goza de liberdade por causa dos limites que lhe são imposto pelas
leis da natureza e da Sociedade já fidelizadas no silogismo filosófico. Dito isso, podemos
recortar a dogmática do exame relativo ao conceito que se afigura à Concorrência como
liberdade no Mercado.
442 Cfr. LOURENÇO, NUNO CALAIM, - Vendas Subordinadas e agrupadas Estratégias de Projecção de Poder de
Mercado, Almedina 2013, Pág.35.
443 Ibidem.
444 SMITH, ADAM. 1776, Pág.169.
445 Ob. Cit. Pág. 7.
232
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Certamente, a Concorrência possui, despretensiosamente, uma pluralidade de significados,
que variam de acordo com o contexto em que empregamos o substantivo, não será menos
correcto afirmar que entendimento preferencial que hoje lhe assiste está relacionado com
a sua compreensão económica. Assim, ela convoca mediamente um conjunto de vacúolos e
teorias dogmáticas a que usualmente aquele anda associado: Liberdade, Mercado, Oferta
e a Procura446.
Sendo assim, a Concorrência - como um instituto jurídico económico tem sido abordado
nas distintas vertentes, mas ela repousa na lei de procura e oferta que vai determinar o
preço e a qualidade de bens e serviços.
Para melhor compreensão do instituto vamos sufragar algumas ideias doutrinárias que
contribuíram para análise mais formulado do conceito de Concorrência.
Mas, para além, da harmonia da economia, também a harmonia social é através de livre
funcionamento do Mercado. Ao assegurar que as decisões e os actos individuais se
compatibilizam entre si e concorrem para prossecução do interesse comum, através do
mecanismo da mão invisível de ADAM SMITH448, que vai de certo modo permitir a obtenção
de um resultado socialmente óptimo geral.
446 Neste sentido vide. LOUREIRO, FLAVIA NOVERSA, - Direito Penal de Concorrência, Almedina, Teses 2017
Pág.29.
447 Cfr. FREIRE, PAULA, - Eficiência Económica e Restrições Verticais, AAFDUL, 2008, Pág. 30.
448 Apud, FREIRE, PAULA, - Eficiência Económica e Restrições Verticais, AAFDUL, 2008, Pág. 31. SMITH,
233
Manual de Direito Económico Francisco Mário
A concorrência encerra duas modalidades que vamos particularmente reputar com algum
detalhe sucinto para uma pré-compreensão, designadamente:
Sendo assim, um Mercado de Concorrência seria aquele em que a formação dos preços se
daria pelo ajustamento recíproco da oferta e da procura, através de uma plena liberdade
de comportamentos dos Agentes Económicos, determinados pelo objectivo da maior
vantagem individual e com influência infinitesimal nas quantidades oferecidas e
procuradas e nos preços de Mercado” 451.
A definição de PAULO SAMUELSON, citado por CARLOS BAPTISTA LOBO, reporta-nos que,
a concorrência imperfeita verifica-se numa actividade, ou num grupo de actividades,
sempre que os vendedores individuais são concorrentes imperfeitos enfrentando curvas
da procura não horizontais, detendo, por tal motivo, um certo grau de domínio sobre o
preço452.
Depois desses arestos cumpre-nos, todavia, concluir e alinhar uma noção a seguir, -
«Concorrência - é o sinónimo de competição dos Agentes Económicos no Mercado, através
da Lei da procura e oferta, sob vigilância do Direito da Regulação e Supervisão dos Poderes
Públicos/Privados que compõem a Direcção Económica»453. Este princípio encontra-se
recortado no art. 89º, nº 1, al. c), da CRA.
451 Cfr. LOBO, CARLOS BAPTISTA, Concorrência Bancaria? Almedina editora, 2001, Pág. 158.
452 Apud, LOBO, CARLOS BAPTISTA, Concorrência Bancaria? Almedina editora, 2001, Pág. 160.
453 Nosso realce.
234
Manual de Direito Económico Francisco Mário
conjunto de regras tendo por objectivo simplesmente a prevenção e repressão de situações
em que o comportamento das Empresas lesam intoleravelmente certos interesses
públicos454.
A actuação do Estado visa, pois, não combater o oligopólio, mas para garantir que sua
actuação seja competitiva e não cartelizada.
Entretanto, uma das práticas típicas concorrenciais proibidas que podem modificar o
Mercado são:
- DUMPING DE PREÇOS
- PREÇOS PREDATÓRIOS
- MONOPÓLIOS
- OLIGOPÓLIOS
- DUOPÓLIOS
- CARTEL
- JOGOS
- PREÇOS PREDATÓRIOS
- VENDAS SUBORDINADAS
- VENDAS AGRUPADAS
454 Por exemplo no caso particular da crise do Mercado Cambial que deflagrou-se em 2015 uma das condições
para os Mercados de Câmbios poderem ser considerados como Mercados de Concorrência pura e perfeita,
seria a não intervenção do Banco Central, e essa não-intervenção implicaria a total ausência de controlo das
taxas e das operações de câmbio, isto significaria adoptar um sistema de câmbios flutuantes, e a própria
neutralidade da política interna para com os movimentos de capitais, e, de uma forma geral, para com os
pagamentos externos. Mas por conseguinte, a partir de 2018, o BNA desregulou o Mercado de Câmbios
através de sessões de leilões semanais, pelo que em 2019 passaram a ser diários e comercializados pelos
bancos comerciais através de sistemas de câmbios flutuantes.
Mas contudo importa assinalar que a influência da política monetária interna, a utilização das
reservas de câmbio (reservas de divisas ou reservas internacionais) cabe Banco Central e o controlo dos
câmbios através das medidas de política económica geral (disposições para combater a inflação (A inflação
tem, normalmente, duas causas principais, a redução da oferta, de um lado e de outro, o excesso de consumo),
medidas para incrementar o desenvolvimento económico, etc.), e que o Banco Central pode interferir
directamente na entrada e saída de capitais, por meio da manipulação das taxas de juro e restrições ou
limitações de acesso dos Agentes Económicos ao Mercado de Cambio determinando assi m taxa de cambio,
ou seja, câmbios administrativos (câmbio oficial).
235
Manual de Direito Económico Francisco Mário
- AUXÍLIO DO ESTADO
O termo vem do verbo inglês “to dump”, que significa, segundo o dicionário Inglês-
Português do MARQUES, despejar, descarregar, esvaziar, desfazer-se de algo, livrar-se de
algo. É comummente associado ao Direito Comercial e Económico, referindo-se ao
fenómeno da baixa dos preços de determinados bens como consequência da instalação de
Empresas produtoras em Países com mão-de-obra mais barata455.
Na se pode falar do Dumping de preços sem antes descrever a figura jurídica do preço, pois
é sobejamente definido como expressão monetária do valor de um bem, ou ainda o valor
que o consumidor esta disposto a pagar no acto da compra desse bem.
Porém, o preço tem critérios determinam (custo, concorrência e o elo do valor). O preço
tem a ver com o Mercado (Mercado de trabalho- salário; Mercado Cambial – taxa de cambio;
Mercado de Crédito – taxa de juro; Mercado Financeiro – quotação na bolsa.
Por conseguinte, o fenómeno do Dumping não é recente há relatos de sua prática, ainda no
século XIX, por produtores americanos. O primeiro documento normativo parece ter
surgido no Canadá, em 1904, por meio de uma Lei de repressão ao Dumping Social.
Dessa forma, passa a dominar o Mercado e impor preços altos. Trata-se de termo usado em
comércio internacional e é reprimido pelos governos nacionais, quando comprovado.
Porém, nosso ordenamento jurídico consagra a proibição dessas práticas (art. 21º; 22º,
nº3; 23º; 89º e 90º, da CRA).
É uma prática restritiva da concorrência que tal deve ser proibida essencialmente nas
economias menos desenvolvido na medida em que torna-se uma prática agressiva de
O Dumping pode ser negativo ou positivo, isto é na doutrina brasileira “O zeroing” que
consiste em ignorar margens de dumping negativas (vendas acima do valor normal, caso
que não se qualifica como dumping) nos cálculos totais, contabilizando-as como zero.
Apenas os casos em que vendas abaixo do valor normal forem feitas (margens de dumping
positivas) serão contabilizados, fazendo com que a simples oscilação de preços ao longo do
tempo seja interpretada como comércio desleal, identificando-se, pois, o Dumping.
Portanto, o Dumping de preços hodiernamente pode ser Dumping Social aquele que incide
nos contratos de trabalhos de mão-de-obra barata ou instalar as fábricas em países
subdesenvolvidos onde o salário mínimo quase é inexistente, Zonas Francas ou Paraísos
Fiscais e Sociedades Offshore que influenciam no produto final à custa do sacrifício da
classe trabalhadora ou dos povos autóctones, e por conseguinte, criam as chamadas
economias de tipo subterrâneas de um lado, por outro é um Dumping de preço em concreto
que acima já referenciamos.
Assim, nos termos legais a nossa Constituição sublinha art. 21º;22º, nº 3; 23º; 89º e 90º, da
CRA como prática desleal.
456 Nosso.
237
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Empresas de um País venderem seus produtos, mercadorias ou serviços por preços
extraordinariamente abaixo do valor de Mercado para outro País, por determinado período
de tempo, com vista a prejudicar e eliminar os fabricantes de produtos similares
concorrentes no País de origem.
13.4.3. Monopólio
O termo Monopólio provem do grego clássico, monos que significa "um" e polein que
significa "vender", o Monopólio - é a exploração sem concorrente de um negócio ou
indústria, em virtude de um privilégio e que pode ser Monopólio Natural ou Monopólio de
Demónio e Coercivo.
Portanto é a posse ou o direito sobre um bem ou serviços com carácter exclusivo. Ter o
Monopólio é possuir ou desfrutar da exploração de maneira abusiva, é vender um produto
ou serviço sem concorrente, por altos preços. Deter o monopólio é uma situação em que
uma única Empresa domina a oferta de determinado produto ou serviço, isto é, quando o
Mercado é dominado por uma estrutura monopolista e não pelas leis de Mercado,
garantindo-lhe o súper lucro é o caso da microsoft460.
457 Tempo de, ou, estação de cacimbo e de chuvas, como é conhecido na lide doméstica da meteorologia
angolana.
458 Estas práticas também acontece quando certa Empresa está pressionado com as datas do vencimento do
O “O Caso Microsoft” veio reavivar o problema nuclear com que a política de defesa da concorrência se
confronta: até onde confiar no Mercado, ou a partir de quando é imperioso intervir correctivamente no seu
funcionamento.
Trata-se de apurar como proceder quando a estrutura dos mercados permitia que as empresas obtenham
uma significativa base de poder. Neste contexto, permitir que Empresas com poder de Mercado concorram
entre si constitui uma forma de dissipação reciproca de poder, ou dai apenas resulta a substituição daqueles
vários poderes por um único e poderoso poder de monopólio? E, a extensão deste poder será perniciosa ou,
pelo contrário, o seu exercício traduz-se em resultados eficientes e benefícios para os consumidores que não
podem ser reproduzidos por hipotéticos concorrentes?
Assim, neste caso, as instâncias de defesa da concorrência foram chamadas a decidir em que circunstâncias e
em que medida uma empresa dominante deve ver limitada a sua capacidade de concorrer agressivamente, a
fim de defender a respectiva posição de mercado. Por outro lado, esta questão passou a ser equacionada sob
um diferente prisma, registando-se, por parte dessas instancias, uma maior atenção dispensada à evolução
da concorrência a longo-prazo, baseada na inovação, por comparação às anteriores e tradicionais
preocupações, centradas na concorrência a curto-prazo, designadamente, ao nível dos preços.
238
Manual de Direito Económico Francisco Mário
A maioria dos Países possuem um conjunto de Leis para impedir a formação de monopólio
e o nosso ordenamento jurídico económico não alheia-se desses comandos, “ex vi lege”, art.
21º; 22º, nº 3; 23º; 89º e 90º, da CRA, apesar que os Monopólios surgem devido a
características particulares de um determinado Mercado, ou devido a regulamentação
governamental.
Alguns Factos:
A vida da Empresa norte-americana Microsoft foi marcada por uma rápida e impar expansão.
No espaço de uma década, a Microsoft foi adquirindo quotas progressivamente mais elevadas no Mercado da
produção de sistemas operativos. A dimensão da sua posição de Mercado e as repercussões das suas
actuações cedo deixaram de poder ser ignoradas por concorrentes, instancias de defesa da concorrência e
consumidores.
O sucesso meteórico desta Empresa é, em grande parte, explicado pela forma de organização por ela
adoptada. Ao contrário das Empresas dominantes no Mercado, a Microsoft concebeu uma estratégia
concorrencial inovadora, assente em duas ideias essências: separar o Mercado de software do Mercado de
hardware e privilegiar relações cooperativas, de longo prazo, com fabricantes de hardware.
Através desta actuação, a Microsoft logrou impor o seu padrão tecnológico, apesar das reconhecidas
características de qualidade de produtos concorrentes. “O software do sistema Macintosh era excelente, mas
a Apple não permitiu (até 1995) que mais ninguém fabricasse hardware onde este pudesse ser instalado (…).
Erros como a decisão da Apple de limitar a venda do software do seu sistema operativo ao hardware fabricado
pela Empresa, voltarão a ser frequentemente cometidos no futuro”.
A decisiva opção pela maximização do lucro, no longo prazo, fez com esta Empresa abdicasse de proceder a
licenciamentos a preços mais elevados e com maior liberdade de actuação por parte dos licenciados, para em
vez disso, conceder licenças mais baratas, fortemente condicionados. “O objectivo da Microsoft era escrever
e fornecer software para a maioria dos computadores, sem se envolver directamente no produção ou
comercialização de hardware. A Microsoft licenciava o software a um preço extremamente reduzido porque
apostávamos na venda de grandes volumes como forma de ganhar dinheiro.
Como consequência, a Microsoft foi condenada a pagar uma multa recorde, a cessar as infractoras e a não
voltar a proceder desse modo, ou a adoptar actuações com objectivos e efeitos semelhantes.
Mas os aspectos mais relevantes dessa reportam-se à condenação em tornar a informação de
interperacionalidade disponível e em permitir a sua utilização, em termos razoáveis e não discriminatórios,
em garantir a actualização dessa informação e em dar a conhecer, aos potenciais interessados, os termos em
que podem obter tal acesso. Como esta interface information se encontra protegida por direitos de
propriedade intelectual, a Microsoft tem direito a receber remuneração razoável.
Restrições Verticais
O “caso Microsoft” teve, como questão central, determinar se existiu, ou não, utilização abusiva de uma posição
dominante, com vista à monopolização do Mercado.
Como decorre do exposto, a celebração de contratos contendo restrições verticais foi um dos principais
instrumentos dessa alegada estratégia de monopolização.
Exclusividade
A exclusividade foi apreciada, num contexto de práticas de monopolização, pois a Microsoft foi acusada de
utilizar instrumentos contratuais com o intuito de exclusão de rivais.
A Microsoft celebrou vários acordos com fabricantes de computadores, com fornecedores de acessos e de
conteúdos de Internet, bem como com vendedores independentes de software.
Nestes contratos, raramente se exigia a exclusividade completa, mas sim um tratamento preferencial para
Internet Explorer. No entanto, também se condicionava o acesso ao Windows à aceitação destes contratos, ao
definirem-se condições especial acesso àquele sistema operativo, como contrapartida da promoção do IE e
de limitações à possibilidade de utilização do Netscape. O facto de a Microsoft ser, claramente, detentora de
um poder de Mercado ao nível dos sistemas operativos para computadores pessoais foi portanto,
determinante na conformação desses acordos.
239
Manual de Direito Económico Francisco Mário
13.4.4. Oligopólio
A nossa Constituição sublinha nos art. 21º;22º, nº 3; 23º; 89º e 90º, da CRA e sanciona estas
práticas de concorrência desleal no sistema económica angolano.
13.4.5. O Duopólio
Historicamente o termo vem do grego clássico que significava inicialmente de “dyo” (dois)
+ polein (para vender), que hodiernamente significa uma falha de Mercado de tipo
específico de oligopólio em que apenas dois produtores existem em um Mercado.
Este termo é geralmente usada apenas quando duas Empresas têm o controlo dominante
do Mercado. No campo da organização industrial, normalmente se estuda o duopólio como
se este fosse um oligopólio devido à sua simplicidade conceitual.
Trust – Ocorre quando Empresas ou grupos que, sob uma mesma orientação, mas sem
perder a autonomia, reúnem-se a fim de dominar o Mercado e suprimir a livre
concorrência. São grandes grupos ou Empresas que controlam todas as etapas da produção,
desde a retirada de matéria-prima da natureza até a distribuição das mercadorias. Pode ser
vertical (visam controlar de forma sequencial a produção de determinado género industrial
desde a matéria-prima até o produto acabado, sendo que as Empresas podem ser de
diversos ramos), ou horizontal (constituídos por Empresas que trabalham com o mesmo
ramo de produtos).
240
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Entretanto existem basicamente dois tipos de duopólio que radicam-se nos seguintes
modelos:
Modelo de Duopólio de BERTRAND: entre duas Empresas, sendo que cada uma assumirá
que a sua concorrente não mudará seus preços em resposta à queda da quantidade
produzida. Quando ambos usam esta estratégia, eles chegam a um equilíbrio de NASH462.
(ao contrário da abordagem de COURNOT). No entanto, os pressupostos são idênticos aos de COURNOT, que
o produto é homogéneo, que as Empresas têm a capacidade de responder a qualquer demanda e o custo de
produção é idêntico para ambas as Empresas.
241
Manual de Direito Económico Francisco Mário
reagem aos benefícios do concorrente, como resultado, a interdependência dos lucros e as
decisões criam um padrão de interacção estratégica.
13.4.6. Cartel
Já de ponto de vista técnico jurídico o Cartel - consiste num acordo (também caracterizado
como conluio) explícito ou implícito entre concorrentes para, principalmente, fixação de
preços ou cotas de produção, divisão de clientes e de Mercados de actuação ou, por meio
da acção coordenada entre os agentes económicos nacionais ou internacionais
participantes no Mercado, eliminar a concorrência e aumentar os preços dos produtos,
obtendo maiores lucros, em prejuízo do bem-estar do consumidor.
A diferença é que os benefícios totais (como o mais possível obter no Mercado) são
distribuídos entre os produtores. As suas principais actividades centrar-se sobre os preços,
463O Duopólio pode, portanto, ser estudado em função da concorrência simples para introduzir a teoria dos
jogos.
242
Manual de Direito Económico Francisco Mário
oferta limitada disponível, dividir o Mercado e compartilhar os benefícios464. Hoje, o termo
é geralmente aplicado aos acordos que regulam a concorrência no comércio internacional
no caso da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo).
13.4.7. Jogos
É sabido que os Jogos tem como alguns registos históricos nos séculos recuados antes do
século XVII, experimentados pelos italianos GALILEU HUYGENS, PASCOAL e BERMOUILI,
no desenvolvimento de cálculos de probabilidade e, no passado não muito recente do
século passado o francês EMILLE BOREL465, sustentava nos seus escritos em 1921, das
implicações dos problemas económicos, sociais, psicológicos e militares na teoria dos jogos,
ou simplesmente simulações de uma situação social e económico que se projectam numa
avaliação antecipada.
Todavia, que no entender desta asserção tais situações avaliadas neste sentido possam
influenciar o futuro das decisões e comportamento dos Agentes Económicas466.
Neste sentido, Jogos – pode ser entendido como um conjunto de regras que governam o
comportamento de um dado número de Agentes Económicos individuais, ou agrupados de
ponto de vista de Mercado relevante geográfico ou de produtos dominados por Agentes
Económicos (batoteiros) jogadores individuais ou agrupados no Mercado467. Porém, o jogo
é uma sucessão de lances e partida é uma sucessão de escolhas468.
464 Defensores dos cartazes afirmam que eles ajudam a estabilizar os mercados, para reduzir custos de
produção, para eliminar tarifas elevadas, equitativamente, distribuir os benefícios e beneficiar os
consumidores. Seus detractores apontam para que, quando não há nenhuma competição, os preços são mais
elevados e menor oferta. Hoje considera que suas desvantagens superam suas vantagens e muitas vezes são
definidas limites legais para restringir o desenvolvimento de novos posters Cartaz (organização ilegal).
Poster ou cartaz são os termos que se relacionam com uma grande organização ilícita ou um conjunto de
organizações criminosas que estabelecem acordos de auto - protecção, colaboração e partilha de territórios
(lugares) para desenvolver as suas actividades criminosas. Nos Estados Unidos da América, o termo com o
qual eles identificam organizações criminosas é o de "máfias", distinguindo-se em primeiro lugar, a "máfia
italiana", mas extensivamente é também designada a "máfia russa" "a máfia chinesa" entre outras coisas, deve
notar-se que a chamada "máfia mexicana" refere-se a uma organização americana, cujos membros são,
basicamente, "ciganos".
No caso das organizações criminosas nativas de países latino-americanos, são chamados para estes maneira
imutável como cartazes e Cartel de Drogas como de Mendelin na Colômbia de Pablo Escobar.
465 Cfr. BOREL, ÉMILE, (1871-1956) - "Probabilidade e Vida" (Le Probabilites et la Vie, edição francesa de
243
Manual de Direito Económico Francisco Mário
13.4.8. Abuso de Posição Dominante
O Mercado Relevante constitui o conceito chave de concorrência, pois que, o Estado não se
preocupa com formação de Monopólios, Oligopólios, Duopólios ou Posição Dominante, mas
sim, as estereotipadas práticas destes, e, censuradas pelo Direito como práticas ilícitas que
podem alterar o Mercado. Daí o Mercado Relevante vai dividir-se em Mercado Relevante
de Produtos e Mercado Relevante Geográfico.
Ora, quando isso não acontece, vislumbra o abuso da posição dominante no Mercado
Relevante Geográfico atentatório à democracia económica e do Estado de Direito (art. 2º e
78º, da CRA).
Ausência de uma relação razoável do preço cobrado com o valor económico do produto, e;
Porquanto, que a posição dominante pode-se considerar quando uma Empresa que está em
condições de actuar no Mercado Relevante de forma independente relativamente aos seus
clientes, fornecedores e seus concorrentes, (posição de presunção inilidível).
A Posição Dominante segundo RICARDO JUNQUEIRO, “ diz respeito a uma posição de poder
económico detida por uma Empresa que lhe permite afastar a manutenção de uma
concorrência efectiva no Mercado em causa e lhe possibilita comportar-se, em medida
apreciável, de modo independentemente em relação aos concorrentes, aos seus clientes e,
finalmente, aos consumidores”473.
Porém, esta posição do Mercado Monopcioníca, não se proíbe em que os acordos visem o
melhoramento da produção e dos bens e serviços, porque o Estado não preocupa-se com
471 Cfr. O caso da Microsoft nos sistemas operativos (PCs) dos computadores pessoais e o sistema operativos
para outros computadores (e.g. Servidores) não pertencem ao mesmo Mercado de produtos vide Acórdão TG
de 17.9.2007. Proc. T-201/o4, Microsoft Corporation/Comissão Europeia Col II-3601.
Outro caso Angolano o vasilhame de garrafa da cerveja N´gola e da Cuca pertencem o Mercado de produtos
diferentes, desde logo, não são substituíveis, estamos em presença do Monopólio hipotético.
472 Cfr. JUNQUEIRO, RICARDO BORDALO, - Abusos de Posição Dominante, Almedina editora 2012, Pág. 21 e
ss.
473 Ibidem, Pág. 60
245
Manual de Direito Económico Francisco Mário
as posições de domínio das Empresas ou de Monopólio do Mercado à montante ou à
jusante474, pois que, a Concorrência pretende alcançar a concorrência pelo mérito.
A nossa Constituição sublinha nos art. 21º;22º, nº3; 23º; 89º e 90º, da CRA como prática
de concorrência desleal, à luz da Lei nº 5/18, de 10 de Maio, Lei da Concorrência, de um
lado, por outro, configura-se no acto típico do ilícito económico penal sancionável em sede
da Lei nº 3/2014, de 10 de Fevereiro, Lei Sobre a Criminalização das Infracções Subjacentes
o Branqueamento de Capitais.
O que significa dizer que uma Empresa está nesta condição quando ela não dispõe de
alternativas equivalentes na obtenção de fornecimento de bens e serviços de distribuição
asseguradas por número restrito de Empresas em condições idênticas a que deveria ter se
tivesse alternativas de outros parceiros comerciais num prazo razoável (vide art. 10º, da
LConc.).
474 Mercado a Montante- é aquele que constituído de infra-estruturas essências como cabo de fibra óptica,
rede de alta tensão e media de transporte de electricidade (Mercado Grossista) e Mercado a Jusante – é
aquele que é constituído pelas infra-estrutura essenciais de rede de distribuição doméstica da electricidade
(Mercado Retalhista). Neste caso de Mercado a Montante e a Jusante em Angola há Empresas rigorosamente
públicas com presença dominante em ambos Mercados e que são verticalmente integradas. O caso das
Empresas dos petróleos “ SONANGOL” das energias “ PRODENG”, “ENDE” e de águas.
475 Cfr. Art.102º, TFUE. (tratados de Funcionamento da União Europeia).
476 Descontos Condicionais - são aqueles que tem como objectivo de compensar o comportamento do cliente
em função do volume de compras efectuadas durante um período que podem ser por objectivos
individualizados (quando incidem individualmente sobre o comportamento do cliente) ou normalizados
(aqueles em para todos clientes para que objectivo é igual para todos os clientes ou para o mesmo grupo de
clientes. - Descontos Não Condicionais - são aqueles que é concedido apenas a uns clientes não outros, ou seja,
são atribuídas em função de uma qualquer comprador.
246
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Já o “Abuso da Dependência Económica”- é contudo uma das facetas das práticas restritivas
da concorrência que é menos divulgado no sistema económico angolano a julgar pela
incipiente cultura jurídica nestas matérias.
477A transação corresponde a uma transferência de direitos de propriedade, distinguindo-se de uma mera
noção de troca ou transferência física de bens e serviços (…). A partir desta noção ganham relevância
características “exteriores” à própria troca, mas de notória relevância económica, como os custos da opção
por uma das alternativas em presença (custos de oportunidade) e os custos de negociação. Assim, o recurso
ao mecanismo de preços pressupõe custos de procura dos preços relevantes, bem como custos de negociação
e de celebração de contratos, individualizados para cada uma das transações efectuadas. Dizer que os custos
de económicos não são puramente tecnológicos- subsumíveis a uma produção -, mas também de transação,
ou seja, de especificação daquilo que é trocado e de imposição dos acordos. Cfr. FREIRE, MARIA PAULA. –
Eficiência Económica e Restrições Verticais, AAFDL 2008, Pág. 189.
247
Manual de Direito Económico Francisco Mário
tenham por objecto ou efeito, falsear ou restringir de forma sensível, a concorrência
no todo ou em parte no Mercado que se traduz dentre outros comportamentos que
o comerciante pode adoptar uma conduta de forma concertada, fixar de forma
directa ou indirecta os preços de compra e venda, transações ou interferir na sua
determinação em diferentes estágios do processo económico, limitar, controlar a
produção, distribuição de bens e serviços e repartir o Mercado e limitar o acesso de
novas Empresas no Mercado (Cfr. art. 12º, da LConc.).
No Direito Civil, “Venda” é estudada em sede das Obrigações que proclama a sua definição
nos axiais termos jurídicos legais, bem como a sua constituição, vicissitudes, cumprimento,
garantias e a extinção da venda, ou simplesmente o “Contrato de Compra e Venda”, como
vem regulado no Código Civil sob a lupa do art. 875º, do CC, cujo objecto do contrato incide,
248
Manual de Direito Económico Francisco Mário
em regra, sobre uma coisa móvel dentro do comércio e tem dupla natureza, isto é,
obrigacional e real (art. 879º, do CC)478.
Venda Subordinada pelo Contrato - porquanto, o cliente lhe é imposto no contrato que titula
uma cláusula de compra e venda do produto subordinante, a obrigação de também adquirir
o produto subordinado. Ex. A venda de um computador (subordinante) e que sai com um
outro produto como a impressora (subordinada), todos da mesma marca, ou do mesmo
produtor. Outro ex. o contrato de venda de serviços fornecimento de energia eléctrica
doméstica (subordinante) insere-se a cláusula no contrato de a Empresa fornecer e a
montagem exclusiva dos contadores por eles predefinidos ou fabricados (subordinada).
478Há assim, a par dos contratos obrigacionais, isto é, dos que criam modificam ou extinguem relações
creditórias (quoad constitucionem), os contratos reais ou com eficácia real (quoad efectum).
249
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Por conseguinte, tal situação em análise pode resultar da circunstancias de o vendedor
desencorajar de ponto de vista económico os produtos subordinados há outro fornecedor
(subordinação), isto normalmente acontece quando o vendedor adopta as políticas de
descontos, oferta de bónus, ou qualquer outra forma de marketing comercial que deia
vantagem ao consumidor e induza-o à preferir na compra do produto subordinado.
Venda Subordinada Dinâmica - ocorre quando o vendedor exige que, com a compra de um
determinado produto, o comprador adquira, também todas as unidades de que necessite
de um segundo nível. Isto acontece por ex. na venda de uma máquina de café o vendedor
obriga que o comprador adquire as respectiva cápsulas de café479.
Importa assinalar que o Mercado é tão dinâmico que o Direito tem de acompanhar os
passos deste desenvolvimento comercial, assim, dizer que a Venda Agrupada não é
estanque, pois também, comporta duas modalidades, designadamente:
479 Cfr.
LOURENÇO, NUNO CALAIM, - Vendas Subordinadas e Agrupadas Estratégias de Projecção de Poder de
Mercado, Almedina 2013, Pág. 35.
250
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Compra e venda de um computador com a respectiva mesa monitor teclado colunas de som
e impressora, pode o consumidor optar pela compra de um dos componentes
individualizados480.
Em 1963, ano que foi abordado de forma concisa pela primeira vez na Comunidade Europeia
e anunciou-se as várias formas de Auxilio do Estado consubstanciados nos subsídios
directos, isenções fiscais, taxas de juros bonificados ou preferenciais, garantia de
empréstimos, condições favoráveis, ou negócios gratuitos na aquisição de terrenos, ou
instalações, fornecimento de bens ou serviços em termos preferenciais, indemnização de
prejuízos e outras medidas de efeitos equivalentes, custos de operações de créditos, taxas
de redesconto preferenciais garantia de dividendos, dilação nas cobranças fiscais e sociais,
participações em capital social, suprimento de compensações financeiras, conversão de
dívida, cessão de créditos em condições preferenciais e tarifas especiais482.
O Aval - é uma operação de crédito que tem lugar quando uma Empresa celebra um
contrato de empréstimo ou de financiamento com outra entidade, ficando a pessoa
480 Cfr. LOURENÇO, NUNO CALAIM, - Vendas Subordinadas e Agrupadas Estratégias de Projecção de Poder de
Mercado, Almedina 2013, Pág. 44.
481 Cfr. LOURENÇO, NUNO CALAIM, - Vendas Subordinadas e agrupadas Estratégias de Projecção de Poder de
251
Manual de Direito Económico Francisco Mário
colectiva pública que avaliza, vinculada a todas obrigações contratuais estipuladas se a
avalizada não cumpre.
Se o Aval funciona, como quem declara, se a avalizada não cumpre, a pessoa colectiva
pública fica ope legis sub-rogada nos direitos do credor, com o privilégio creditório nos
termos do art. 733º, do Código Civil.
É este o regime do Direito Civil do Aval, o seu regime de Direito Público consiste no facto
de o Estado passar deter poderes especiais de fiscalização sobre a actividade da Empresa
beneficiária e no facto de poder unilateralmente transformar-se de credor em sócio, tendo
o Aval funcionando. Trata-se, neste caso, de uma estatalização parcial485.
Está figura quando não for bem doseada poderá constituir o clientelismo económico ao
favorecimento de um grupo de elite de Agentes Económico, apesar desfavorecido, mas
entra em contradição com o princípio da igualdade e do Mercado e livre concorrência, tem
pois, repercussões negativas (externalidade económicas negativas), sancionável nos
484 Cfr.
FRANCO, ANTÓNIO LUCIANO DE SOUSA, Pág. 142. Ainda sobre o Aval do Estado, ver:— NUNES, ELISA
RANGEL – o Aval do Estado – conceito, enquadramento, regime jurídico de prestação e controlo financeiro
pelo Tribunal de Contas – VISLIS – Lisboa – Julho de 2005.
485 Cfr. CABRAL DE MONCADA, LUÍS, - Direito Económico, centro de cópias U. L, 1983, Pág. 251-253.
252
Manual de Direito Económico Francisco Mário
termos do art. 14º, 23º e 89º, da CRA, salvo por excepção permitida pelo legislador no plano
de fomento e incentivos fiscais e protecção de Micro, Pequenas e Médias Empresas.
Por seu turno o financista PAULO NOGUEIRA DA COSTA, exprime que “o controlo financeiro
não representa uma finalidade em si mesmo; ele faz parte de um sistema cujo objectivo é a
detecção de infracções ou desvios aos princípios da legalidade, economia, eficiência eficácia
da gestão financeira pública”487.
486 Cfr. VASCONCELOS, PEDRO CARLOS BACELAR DE – Teoria Geral do Controlo Jurídico do Poder Público,
Edições Cosmos de Direito, 1996, Pág. 104. No mesmo sentido dizia o VLADIMIR ILICH LENINE que « a
confiança é boa mas o controlo é melhor… confie mas verifica», Cfr. HESSE, HELGE. – A Historia do Mundo em
50 Frases, casa das letras 1ª edição 2011, Pág. 179.
487 Cfr. COSTA, PAULO NOGUEIRA DA – O Tribunal de Contas e a Boa Governança, Contributo para a Reforma
Portanto, a ausência destes requisitos não se pode falar de independência das autoridades
independentes em Angola.
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Manual de Direito Económico Francisco Mário
Executivo (art. 4º, da L Conc.) e o seu financiamento é assegurado pelo OGE e os demais
entidades sectoriais.
Será que estamos diante o Direito Penal Económico? Propendemos pela humildade atitude
negativa, porquanto não se quer dar azos aqui de autonomizar o Direito Penal Económico
do tradicional Direito Penal positivo primário.
Ora bem, partindo do princípio de que é mister estudar o Direito para entender o Mercado,
o Direito Penal na tutela daquela tríade dos bens jurídicos dos Agentes Económicos (a
dignidade da pessoa humana, o património e os interesses da colectividade) tem sido
chamado em ultima como instituição jurídica, ou seja, deve esgotar-se todos mecanismos
489 Apud. CATARINO, LUÍS GUILHERME. – Regulação e Supervisão dos Mercados de Instrumentos Financeiros,
tese, Almedina 2010, Pág.577- AAV. COSTA, FARIA. DIAS, FIGUEIREDO – “o Direito Penal entre a sociedade
Industrial” e a “Sociedade de Risco” in Estudos em Homenagem ao Prof. DOUTOR ROGÉRIO SOARES, Coimbra
2001. Pág.583-613.
490 Cfr. CATARINO, LUÍS GUILHERME. – Regulação e Supervisão dos Mercados de Instrumentos Financeiros,
255
Manual de Direito Económico Francisco Mário
jurídicos para resolver à questão em conflito e o Direito Penal como ultimo mecanismo a
ser convocado para efeito.
O Direito Penal como Direito do estudo crime e das penas a sua intervenção visa
efectivamente a tutela da liberdade de concorrência e a manutenção da ordem da
estabilidade do Mercado e a correspondente garantia da livre circulação da riqueza entre
os Agentes Económicos, que tradicionalmente competia ao Direito Administrativo e com
eventual auxílio do Direito Civil que tem mais edificações jurídicas desenvolvidas e antigas.
492Neste sentido vide. LOUREIRO, FLAVIA NOVERSA, - Direito Penal de Concorrência, Almedina, Teses 2017
Pág. 229.
256
Manual de Direito Económico Francisco Mário
as práticas restritivas da concorrência e os aspectos relacionados com o tratamento da
concorrência desleal.
O que significa dizer as duas realidades fazem instituto de concorrência e, por via disso, são
bens jurídicos económicos digno de tutela penal por constituírem direitos económicos
fundamentais previstos na Constituição (art. 21º e 89º, da CRA).
Pois bem, não baste proclamar legalmente o crime, é efectivamente essencial desenhar os
pressupostos ou elemento do tipo objectivo do tipo do ilícito.
Nesta linha que acabamos de descrever, o bem jurídico, não tem de ser efectivamente
lesionado, ou seja, o efeito de restrição da concorrência não tem de ocorrer, pois que, o
comportamento em causa é em si próprio considerado perigoso para aquele bem, desde
que, através do juízo ex ant, o julgador considere que a conduta projectada era susceptível
de afectar a tranquilidade do bem jurídico – Mercado.
493Neste sentido vide. LOUREIRO, FLAVIA NOVERSA, - Direito Penal de Concorrência, Almedina, Teses 2017
Pág.305.
257
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Já o crime de dano, não se censura os acordos estabelecidos sensível a concorrência, ou
seja, não diz respeito ao conluio dos Agentes Económicos no Mercado, mas sim, os efeitos
decorrentes da execução do conteúdo programado do tal conluio.
Note-se que existe diferença dos crimes patrimoniais (furto, roubo, extorsão, burla, burla
por defraudação, infidelidade, etc..) e crimes cometidos no exercício de funções públicas
(peculato, corrupção, participação económica em negócio, recebimento indevido de
vantagens, etc…) crimes financeiros (branqueamento de capitais, evasão fiscal, fuga ao
fisco, abuso de confiança fiscal, falsificação de títulos de créditos e etc.).
Portanto, sem querer galgar mais para além da média do Direito Económico Penal (Direito
Penal Secundário) o crime de mera actividade económica, o crime de perigo económico e
de dano económico, em linhas gerais afigura-se no essencial no crime do resultado.
Todavia, as sanções penais económicas positivas podem revestir vários esquemas que
visem combater a criminalidade económica ou infracções de colarinho branco e colarinho
azul494, cujos bens jurídicos são os valores supra-individuais, ou seja, interesses da
494 Crimes de colarinho branco – são crimes cometido por agentes de alta sociedade, já os crimes de colarinho
azul são os cometidos pelos agentes de extracção social inferior.
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Manual de Direito Económico Francisco Mário
colectividade. As sanções económicas são tipicizadas na doutrina jurídico-penal como
sanções patrimoniais avaliáveis em dinheiro tipicamente pecuniárias e extrapatrimoniais,
onde cabem a restrições e mesmo privativas de direitos de liberdades fundamentais
económicas como retirada de autorização de actividades económicas, ou profissional de
um individuo. A Lei da Concorrência densifica no art. 21º e ss, as infrações as
correspondentes sanções jurídicas.
Qualquer infracção à Lei tem carácter económica e social perigosa, ela perturba a ordem
legal vigente, contrário aos interesses da sociedade e do Estado. As sanções jurídicas
económicas penais visam através do Estado proteger a ordem económica legal, e incute nos
Agentes Económicos e aos cidadãos a consequência de necessidade do cumprimento das
prescrições das normas legalmente emanadas cujo desígnio é protecção dos interesses
públicos da comunidade económica.
Assim, sanções jurídicas criminais económicas – são as que se definem pela utilização de
medidas de condenação criminal económica. Estas sanções não são apenas um castigo pelo
crime cometido, mas também tem o objectivo de correcção e redução dos condenados no
espírito da relação honesta com actividade económica e do trabalho, o cumprimento exacto
das Leis, o respeito da vivência económica e social, assim como a prevenção do
cometimento de novos crimes tanto pelos ex-condenados (prevenção especial) como por
novos indivíduos ou Empresas (prevenção geral).
13.6.1. Noção
Apud. JESUS, ANTÓNIO JOSÉ DUARTE DE. - Branqueamento de Capitais - Estudo Empírico dos Últimos
496
anos em Portugal, Dissertação do Mestrado em Direito – Universidade Autónoma de Lisboa 2016, Pág.10.
260
Manual de Direito Económico Francisco Mário
outra origem não criminosa, tornando assim o capital reutilizável e podendo adquirir bens
pagos com este capital justificado497.
Pois bem, branquear capitais é, grosso modo, o processo ou procedimentos que visam
transformar liquidez proveniente de actividades ilícitas, como a droga, a corrupção,
terrorismo, contrabando, lenocínio, peculato, tráfico de menores ou doutras fraudes
económicas, em capitais reutilizáveis legalmente por dissimulação da fonte e do verdadeiro
proprietário dos fundos.
A doutrina tem avançado teoricamente três (3) fases do processo de lavagem de dinheiro,
que muitas vezes acontecem simultaneamente:
497 Cfr. JESUS, ANTÓNIO JOSÉ DUARTE DE. - Branqueamento de Capitais - Estudo Empírico dos Últimos anos
em Portugal, Dissertação do Mestrado em Direito – Universidade Autónoma de Lisboa 2016, Pág. 8.
498 Vide. SATULA, BEJA. – Branqueamento de Capitais – Dissertação do mestrado Universidade Católica
Portuguesa 2010.
261
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Essa prática encontra predileta zona de conforto da sua actuação nos Paraísos Fiscais499 e
nos Offshores500. Baste lembrar os escândalos da Panamá papers, Luanda leacks, cuja
actividade criminosa de branqueamento de capitais desenvolveu-se nos paraísos Fiscais e
através de sociedades Offshores.
Já dizia celebre Sócrates antes de Cristo que “ É mais difícil guardar um segredo do que um
carvão aceso na boca”, máxima que demonstra a propensão natural do homem em revelar
aquilo que não deve. Em boa verdade, não há segredos absolutos e, portanto, o segredo
bancário à semelhança dos restantes segredos profissionais tem uma natureza relativa,
porquanto deve ceder quando valores antagónicos igualmente protegidos pelo direito e lhe
sobrepõem em termos proporcionais nos termos do art. 57º, da CRA e 335º nº 3, do CC.
No figurino actual das economias de Mercado globalizados são qualificados como factos
ilícitos típicos subjacentes ao branqueamento:
1. O lenocínio;
3. A extorsão;
5. O tráfico de armas;
8. A fraude fiscal;
9. O tráfico de influências;
499 Paraísos Fiscais - é uma região geograficamente limitada, caracterizada por proporcionar aos não
residentes a isenção ou redução de impostos (em relação ao País de residência).
500 A designação do termo inglês offshore, significa em português, «no mar alto» […] são sociedades em
paraísos fiscais, Países que decidiram atrair investimento através da atribuição de benefícios às Empresas
que queiram ter a sua sede nesses territórios. Uma técnica de marketing legítima, já que cada território
soberano pode estabelecer os seus impostos. Esta prática, em fazer uso dos mecanismos legais permitem que
sejamos menos penalizados pelo Estado é um direito que nos assiste a todos.
Dizem os especialistas que não é imoral nem ilegal, mas o facto de estas sociedades poderem ser
representadas por um (“testa de ferro”), não se revelando quem as detém de facto, favorece a imagem de que
há qualquer coisa a esconder, pois muitos casos em que os Offshores têm permitido a “lavagem de dinheiro”,
com a conivência destes Paraísos Fiscais que mantêm a lealdade dos seus clientes, em troca de facilitarem a
falta de transparência, portanto alguns países adoptam a política da isenção fiscal, cuja razão primeira é atrair
investimentos e capitais estrangeiros. Apud. JESUS, ANTÓNIO JOSÉ DUARTE DE. - Branqueamento de Capitais
- Estudo Empírico dos Últimos anos em Portugal, Dissertação do Mestrado em Direito – Universidade
Autónoma de Lisboa 2016, Pág. 28.
262
Manual de Direito Económico Francisco Mário
10. A corrupção;
25. Desporto.
263
Manual de Direito Económico Francisco Mário
34. Emissão de facturação falsa e sobre- facturação ou sub – facturação501.
35. Empresas de fachada / Fraude Fiscal (evasão fiscal, fuga ao fisco e carrossel do
IVA502/503).
Note-se, portanto, que a noção de culpa psicológica reúne dois elementos essenciais,
designadamente:
501 Sub-facturação nas exportações: isto é, vendem uma mercadoria ao estrangeiro por certo preço e declaram
que venderam apenas por preço diferente. Assim, só entra no País uma parte do valor da exportação, ficando
a diferença no estrangeiro. Sobre-faturação nas importações: isto é, compram uma mercadoria ao estrangeiro
e declaram que compraram por certo preço. Ou seja, conseguem assim enviar para o estrangeiro mais divisas
do que as necessárias.
502 O IVA é um imposto geral sobre o consumo de bens e serviços, incidindo sobre as transações que integram
as diversas fases do circuito económico, desde a produção, passando pela distribuição grossista, e culminando
por fim no retalho. A virtualidade do IVA assenta na mecânica do seu modus operandi: a tributação do valor
acrescentado proporcionado por cada agente económico ao longo da cadeia operativa, ou seja, em vez de uma
tributação monofásica, ora na fase grossista ora na fase retalhista, pretende-se um sistema de tributação
plurifásica em que o somatório do valor acrescentado em cada momento corresponda ao montante de
imposto devido pela transação realizada a final entre o operador económico e o consumidor final (como se
de uma tributação monofásica se tratasse), para evitar o efeito cascata do imposto.
503 Sendo o IVA um imposto obrigatório em todas as transacções comerciais e prestação de serviços,
exceptuando as transmissões isentas, uma das formas mais frequentes de praticar fraude fiscal no IVA,
consiste na não emissão de factura, consequentemente não liquidando o IVA, que é devido ao Estado. Esta é
muito comum nas pequenas empresas, nas vendas que efectuam ao consumidor final.
Há também empresas que embora emitam a factura correspondente às transacções comerciais ou prestações
de serviços que praticam, no entanto não entregam o IVA liquidado ao Estado. O Estado não recebe o IVA
liquidado e tem de o reembolsar ao contribuinte, que o reclama ou o deduz no valor do imposto a pagar. Este
tipo de fraude no IVA é conhecido como fraude carrossel.
264
Manual de Direito Económico Francisco Mário
(ii) A previsibilidade do resultado danoso, “pressuposto lógico e psicológico
de sua evitação”.
Ressalte-se que a concepção subjetiva da culpa vai exigir o elemento vontade, liberdade do
agente na violação do dever de conduta expresso no dolo (directo, necessário e eventual)
ou na negligência (consciente e inconsciente) (vide art. 26º, do Código Penal).
Dizia celebre Luther King da sua memória, “O que me preocupa não é nem o grito dos
corruptos, dos violentos, dos desonestos, dos sem caráter, dos sem ética. O que me preocupa é
o silêncio dos bons.” (Martin Luther King).
No entanto, na discussão doutrinária destacam-se três bens jurídicos com valor axiológico
de protecção jurídico – legal, designadamente:
3. A realização da justiça.
2. Imigração ilegal;
4. Fenómeno religioso;
8. Peculato;
9. Tráfico de influência;
265
Manual de Direito Económico Francisco Mário
11. Valores mobiliários (passe de transferência de jogadores e dos treinadores,
privatizações das Empresas do sector empresarial público e etc.);
12. A Cábula ou fraude escolar (nas provas, trabalhos de pesquisa do final do curso, plágios
e fasciação de títulos e certificados académicos nas instituições de ensino superior), são
todos grosso modo ilícitos subjacentes ao branqueamento de capitais, pois que, a partir por
exemplo da “cábula” ou fasciação de títulos e certificados académicos o infractor, como é
evidente, terá de se usufruir de vantagens através de acesso de emprego que lhe
proporcionará os rendimentos salariais consideráveis e com esses proventos adquirirá
bens e serviços lícitos no Mercado.
Lei nº 15/18, de 26 de Dezembro, Lei Sobre Repatriamento Coercivo e Perda Alargada de Bens.
266
Manual de Direito Económico Francisco Mário
CAPITULO XIV – OS CONTRATOS ECONÓMICOS
14.1. Introito
Hoje em dia, porém, o caso paradigmático dos contratos administrativos verifica-se entre a
Administração e os particulares conquanto que aquela intervenha na sua qualidade de
sujeito estatutário do direito administrativo e não segundo um modus actuandi acessível
aos sujeitos privados. O que não é difícil de perceber se tivermos por base o critério
estatutário, ou critério do «direito especial» do contrato administrativo, nos termos do qual
este «é um contrato que constitui um processo próprio de agir da Administração Pública e
que cria, modifica ou extingue relações jurídicas disciplinadas em termos específicos do
sujeito administrativo, entre pessoas colectivas da Administração ou entre a Administração
e os particulares504.
Actividade económica de exploração de bens do Estado, por exemplo, CFM, TAAG, PORTO
DO NAMIBE, podem ser confiadas parcialmente ou totalmente a entidades privadas ou
públicas com observância à disciplina definido na legislação da Delimitação de Sector de
Actividade Económica (art. 92º, da CRA, e da Lei nº 5/02, 16 de Abril), para desenvolverem
actividades económicas lucrativas, consubstanciadas nos contratos de concessão ou
gestionária.
504 Cfr. NABAIS, JOSÉ CASALTA, - Contratos Fiscais, Reflexões Acerca da sua Admissibilidade, Coimbra Editora,
1994, Pág. 65.
505 A contratação pública está sujeita a seguintes modalidades nos termos da referida Lei art. 23º, da LCP:
a) Concurso Público – que consiste no sistema aberto, em que elevado valor das aquisições
envolvidas ou por outras razões materiais, podem concorrer todas as entidades, públicas ou
privadas, nacionais ou estrangeiras que reúnam os requisitos exigidos em abstracto, no aviso ou
no programa;
b) Concurso limitado por prévia qualificação – consiste no sistema aberto, mas que exige uma
prévia selecção (procedimentalizada ou não) das Empresas pela entidade contraente.
c) Concurso limitado sem apresentação de candidatura – é um sistema de contratação pública em
que a entidade contraente convida as pessoas singulares ou colectivas que considera idóneas e
especializadas, para apresentarem as suas propostas.
d) Procedimento negociado – é um sistema de contratação pública que consiste no convite aos
interessados, em geral ou limitadamente, para apresentarem as suas candidaturas ou propostas
267
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Vamos tratar a seguir a descrição dos contratos económicos e as convenções e os contratos
económicos de concessão.
A noção de «Contratos Económicos» - pode ser definido como sendo aqueles que
constituem um meio de o Estado pôr em prática as suas políticas económicas, tendo como
objectivo assegurar a coerência dos comportamentos das Empresas com aquelas políticas.
Trata-se de contratos de atribuição, que têm por causa-função a atribuição de uma certa
vantagem ao contratante da Administração, celebrados com fins de intervenção
económica506.
Esses contratos assumem características especiais que têm levado a que se ponha em
dúvida a sua natureza de verdadeiros contratos. Essas dúvidas resultam, essencialmente,
do facto de haver em regra lugar à celebração de contratos económicos quando as
Empresas interessadas preencham os requisitos previamente fixados na Lei, o que faz com
que o princípio da autonomia da vontade inerente à liberdade contratual fique por isso
limitado.
No entanto, a favor da natureza contratual, verifica-se que este tipo de contrato apresenta
como traço comum, a aceitação pelas Empresas de certas obrigações em contrapartida de
prestações a que o Estado por seu lado se obriga.
depois de analisadas e valoradas são objecto de discussão e negociadas com entidade contraente,
a fim, de harmonizar com interesse público…
Os concorrentes geralmente devem apresentarem o caderno de encargos – o caderno de encargos pode
ser definido num contracto administrativo como um o conjunto de documentos escritos que determinam
as condições do contrato. Este conjunto é complexo e a nomenclatura dos documentos que o constituem
conheceu alterações de aplicação. Ela compreende actualmente:
1º Documentos gerais, que são o caderno das cláusulas administrativas gerais.
2º Documentos particulares, que o caderno das cláusulas administrativas particulares, vide,
ANDRÉ DE LAUBADÈRÉ, ibidem.
506 Ibidem.
268
Manual de Direito Económico Francisco Mário
pode o Estado alterar ou rescindir unilateralmente as disposições contratuais, a não ser
com fundamento em incumprimento da outra parte.
Não obstante, talvez se esteja mais próximo da realidade se se admitir que se trata de
contratos especiais, que integram elementos de Direito Público e elementos de direito
privado.
Contudo, se, em todos os casos, tratar-se de acordos, não parece todavia que se possa
sempre falar de contratos, segundo CABRAL DE MONCADA, o «Contrato da Administração
Económica» - é um acto administrativo preparatório que serve de ponto de partida a um
acto administrativo que culmina com a aplicação à entidade privada de um regime legal ou
regulamentar. O dispositivo convencional não tem efeitos contratuais, por exemplo as
convenções sobre os benefícios fiscais.
Os Contratos Económicos em caso de litígios geralmente elegem o foro comum nos termos
do art. 66º, do CPC, ou a jurisdição voluntária nos termos disciplinado pela Lei da
arbitragem voluntária; (Lei nº 16/03, de 25 de Julho).
Ainda assim, podemos em primeiro lugar, mencionar contratos muito comparáveis aos
contratos de realização dos objectivos intervencionistas, mas, marcados pelo objectivo
iniciativo em vista do qual eles são concluídos. A marca própria que o objectivo assim
prosseguido imprime a estas convenções não as impede de constituir, como os precedentes,
verdadeiros contratos.
14.2.1. Contratos-Programa
Tratam-se de contratos que têm como objectivo principal permitir a execução de um plano,
apesar de poderem ser utilizados na prossecução de outros objectivos não relacionados
com o plano (por exemplo em matéria de política ambiental). Caracterizam-se por
conterem um programa amplo e escalonado no tempo, de actividades ou acções a
desenvolver e de resultados à obter pela Empresa ou Empresas contratantes, nos termos
269
Manual de Direito Económico Francisco Mário
do Decreto nº 78/01, de 19 de Outubro, Contratos Programas entre o Estado e as Empresas
Públicas.
O Aval do Estado – é uma garantia soberana dada pelo Estado para cumprimento das
obrigações creditícias de uma Empresa do sector pública ou privada e tem efectivamente
lugar quando uma Empresa celebra um contrato de empréstimo ou de financiamento com
outra entidade, ficando a pessoa colectiva pública que avaliza, vinculada a todas obrigações
contratuais estipuladas se a avalizada (afiançada) não cumpre.
É este o regime do direito civil do Aval, o seu regime de direito público consiste no facto de
o Estado passar deter poderes especiais de fiscalização sobre a actividade de Empresa
beneficiária e no facto de poder unilateralmente transforma-se de credor em sócio, tendo
o aval funcionado. Trata-se, neste caso, de uma estatização parcial508.
Nesta forma de fomento o Estado declara tornar a responsabilidade pelo reembolso das
obrigações emitidas por uma Empresa. A garantia é dirigida à generalidade dos credores e
não a credores determinados. A subscrição de obrigações pelo último aforrador é assim
incentivada pelo patrocínio do Estado.
507 Cfr. O caso do micro crédito concedido pelas instituições financeiras não bancarias através do BUE e
operadas pelo BPC- banco de capitais públicos no ano de 2012, não foram restituídos aos cofres do Estado ou
tido como fundos perdidos poderá se configurar nesta sede do instituto de ajudas financeiras do Estado.
508 MONCADA, LUIS CABRAL DE. - LIÇÕES DE DIREITO ECONÓMICO, Centro de Copias, U.L Porto 1985.
271
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Esta medida é particularmente importante em situações, como a actual, em que o preço do
crédito, ou seja, a taxa de juro é muito alta.
Com efeito, o Estado não pode alhear-se da sua responsabilidade pela prestação de um
serviço de interesse geral mas não pode ignorar que o Mercado e a concorrência são hoje o
mecanismo normal de articulação da decisão económica.
509 Ibidem.
272
Manual de Direito Económico Francisco Mário
A concessão pode ser definida segundo CABRAL DE MONCADA510, como uma forma de
colaboração da Administração com os particulares na realização de infra-estruturas
públicas e na prestação de serviços que desonere parcialmente o Estado do financiamento
respectivo. De facto, a gestão privada de um bem público implica a sua reversão para o
sector privado da economia.
É por razões várias que o Estado, pela via de um monopólio de direito (monopólio natural,
de consumo, produção, distribuição de bens e serviços), reserva para si determinadas
actividades económicas, suprimindo em relação a elas a concorrência privada. Um
determinado número de grandes monopólios de Estado foram naturais e institucionais
porque só o Estado que pode produzir esses bens e serviços por motivos financeiros que
os particulares são incapazes ou por motivos de soberania do Estado e interesse público,
nomeadamente, monopólios fiscais, moedas, radiodifusão-televisão, portos, aeroportos,
caminhos-de-ferro, arsenal militar, forças armadas, polícia, Tribunais judiciais... Outros
ainda por razões administrativas, registo e notariado, capitanias, electricidade511.
Por esta última razão, a concessão de serviço público surge, ao lado dos Mercados,
simultaneamente como um modo contratual de relações da Administração com o sector
510 Ibidem.
511 Cfr. LAUBADÈRÉ, ANDRÉ DE, - Direito Público Económico, Almedina Editora, Pág. 246.
512 Ibidem. Pág. 388.
273
Manual de Direito Económico Francisco Mário
privado económico e como um modo de gestão dos serviços públicos económicos; deste
modo pode-se dizer que ela diz duplamente o respeito ao Direito Público Económico513.
As características desta instituição, que a definição dada atrás faz ressaltar, são as
seguintes:
Em primeiro lugar, é preciso notar que o objecto da convenção é aqui muito particular visto
que se trata de fazer funcionar um serviço público. A colectividade pública, em vez de
assegurar ela mesma o funcionamento do serviço público, encarrega disso um particular,
mas a actividade em questão não deixa por isso ser um serviço público, o que vai levar a
obrigações particulares da parte do concessionário e a um direito de vistoria da
Administração concedente ao funcionamento do serviço, do qual não se pode desinteressar.
Mas, por outro lado, o concessionário do serviço público é um particular (geralmente uma
sociedade comercial), que não aceitará gerir um serviço a não ser que veja nele um
benefício. É por isso que a concessão de serviços públicos, em princípio, não incide senão
sobre um serviço industrial ou comercial. É o jogo e a conciliação destes dados (carácter de
serviço público da actividade assegurada e carácter de pessoa privada do concessionário)
que vai comandar o regime da concessão de serviço público.
Por esta razão, o direito da concessão de serviço público faz parte daquilo a que chamamos
o Direito Público Económico clássico. Esta antiguidade não impede, de resto, que, sobre um
certo número de pontos, alguns dados recentes, aliás diversos, tenham podido introduzir
novos elementos jurídicos que teremos na ocasião de sublinhar a propósito de
determinados aspectos do regime da concessão.
Esta concepção puramente contratual foi abandonada porque se verificou que o objecto da
concessão que é a organização e o funcionamento de um serviço público, não pode
constituir, em si mesmo, objecto de um contrato. Admite-se, actualmente, que a concessão
de serviço público é um acto de natureza mista, parcialmente contratual, no sentido de que
este acto contém, justapostas cláusulas contractuais e cláusulas regulamentares.
Esta análise jurídica da concessão de serviço público que é hoje em dia muito geralmente
admitida (ainda que a expressão contrato de concessão continue a ser correctamente
empregada) arrasta importantes consequências no que diz respeito ao regime jurídico da
concessão514.
Outros são mais originais na medida em que, concluídos com os próprios administrados,
têm por objectivo obter destes últimos um determinado comportamento no sentido
desejado pelo Estado para a sua política intervencionista: chamar-lhe-emos convenções de
Administração Económica.
514Cfr. LAUBADÈRÉ, ANDRÉ DE.- Direito Público Económico, Almedina Editora, Pág. 402-403.
515 Ibidem. Pág. 422.
275
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Segundo LAUBEDÈRE; defende que o objecto destes contratos diz respeito ao
intervencionismo. Daí que os contratos económicos se distingam daqueles que
encontramos até aqui, tais como os de Mercados.
Eles não têm por objectivo alcançar prestações para o Estado, mas realizar a política de
intervencionismo concebida e dedicada pelo Estado. São instrumentos de realização desta
política. Normalmente, esta realização parece exigir mais o processo da prescrição
unilateral, mas o Estado prefere frequentemente, hoje em dia, recorrer ao contrato para
atingir objectivos que outrora procurava de preferência através da acção unilateral.
No que diz respeito aos parceiros, os Contratos Económicos são concluídos, como os outros
contratos administrativos, entre o poder público e parceiros privados516.
De acordo com o vocabulário judicioso de um autor (R. SAVY), entre os «actos jurídicos de
inspiração contratual», é preciso distinguir os «actos jurídicos de carácter contratual», e os
«actos jurídicos de aparência contratual»517. Duas razões principalmente podem provocar
dúvidas quanto à natureza contratual de alguns dos chamados «Contratos Económicos».
Para ilustre Prof. Francês de Direito Público Económico - ANDRÉ DE LAUBADÈRÉ, afirma
que para alguns desses actos, uma análise atenta do seu conteúdo faz ver que, embora
resultando de uma negociação e de um acordo, eles não constituem verdadeiramente
contratos. Efectivamente, segundo este autor que citamos recorrentemente, entende que,
nem todo o acordo é necessariamente um contrato.
Por conseguinte, de outro ponto de vista, a análise do estipulado no pretenso contrato pode
levar à negação dessa sua natureza, fazendo ver que na realidade as partes – ou uma delas
– não entenderam ligar-se através de verdadeiros compromissos precisos e imperativos,
mas apenas subscreveram aquilo a que se chama por vezes simples «Promessas de
276
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Comportamento» mais dotadas de um valor moral que jurídico, ou mesmo apenas
subscreveram simples «Declarações de Intenções»519.
Assim, parece assente hoje em dia que os actos diferentemente qualificados de «Contratos
Económicos» não constituem sempre na realidade autênticos contratos520.
Porém, sem dúvida que, para alguns deles, como veremos, esta qualificação jurídica se
justifica. Coloca-se, pois, a propósito deles, uma segunda questão que é a de saber se se trata
de Contratos Administrativos ou de Contratos de Direito Comum, questão que será
examinada mais adiante, a propósito do contencioso do intervencionismo económico.
Conquanto, alguns autores vêm mesmo nisso um tipo de actos jurídicos próprios do Direito
Administrativo Económico e revelador da originalidade deste último, actos que eles
propõem que se chamem «actos-programa» ou simplesmente Contratos-Programa
vinculados as Empresas Públicas. Por outro lado, a ausência de natureza contratual destes
processos não os priva necessariamente de eventuais efeitos jurídicos, que se situariam no
plano das responsabilidades por não-execução. Eles surgem como instrumentos de
dirigismo521.
Portanto, Contratos Económicos de Concessão podem ter nos termos do art. 6º da LBSEP
as seguintes modalidades:
519 Ibidem.
520 Ibidem.
521 Ibidem.
277
Manual de Direito Económico Francisco Mário
fronteira da Santa Clara - Cunene, contrato de exploração do parque infantil do Lubango,
contrato de exploração do Parque do Campismo de Praia das Miragens do Namibe, contrato
de exploração de vagões bares e cantinas dos Caminhos de Ferros de Moçâmedes, etc.
Entretanto na concertação social, o Estado não usa o seu poder de império e servir-se do
procedimento unilateral de regulação económica, porque se assim acontecesse, nada obsta
que se propugne numa desastrosa consequência jurídico-económica negativa com efeitos
imediatos na economia real e seguramente altere as variáveis das grandezas de
estabilidade macro-económicas, nomeadamente: emprego, inflação, taxa de juro,
crescimento económico (sobre o PIB), desenvolvimento social (redistribuição da riqueza)
e na micro-economia alteração dos preços e de sã concorrência.
Pelo que, em sede deste expectável interesse, o Estado Democrático de Direito vai exercer
a democracia económica participativa conciliando os interesses económicos dos vários
sectores económicos (público, privado e cooperativo) legalmente consagrado (art.92º, da
CRA) através do instituto económico de concertação social (art. 89º, al. g), da CRA), por
causa dos direitos de colisão ou de conflito.
Pois que, há colisão de direitos quando vários direitos concorrem, de modo que o exercício
de um deles impede ou prejudica o exercício de outros; mas se a Lei estabelece uma relação
de subordinação entre eles ou se coordena o seu exercício para o caso de conflito, é claro
que não há, então, uma verdadeira colisão.
Pode indicar-se como exemplo daquela subordinação do disposto no art. 768º, do CC522, ou
concertação social sobre o salário mínimo nacional entre os sindicatos representantes das
522Cfr. BASTOS, JACINTO FERNANDES RODRIGUES, - Das Relações Jurídicas, segundo o Código Civil de 1966,
Viseu Tipografia Guerra Lda. Editora 1969, Pág.12-13.
278
Manual de Direito Económico Francisco Mário
associações empresariais e o governo art. 161º, da LGT523, conjugados pelos art. 89º, al. g)
e art. 90º, da CRA.
Trata-se aqui de um limite extrínseco ao exercício dos direitos subjectivos dos Agentes
Económicos, como bem nos ilustra a prescrição do dispositivo jurídico-legal do art. 335º,
do CC, que transcrevemos o preceito normativo:
“1. Havendo colisão de direitos iguais ou da mesma espécie, devem os titulares ceder na
medida do necessário para que todos produzam igualmente o seu efeito, sem maior
detrimento para qualquer das partes”.
“2. Se os direitos forem desiguais ou de espécie diferente, prevalece o que deve considerar-
se superior.”
523 LGT – Lei Geral de Trabalho aprovado pela Lei nº7/15, de 15 de Junho que revogou a Lei nº 2/2000, de 11
de Fevereiro.
524 Vide CUNHA DE SÁ, FERNANDO AUGUSTO. - Abuso do Direito, Almedina editora 2005, Pág.246.
279
Manual de Direito Económico Francisco Mário
15.1. Noção
Parceria Público-Privada, pese embora a não existência de uma definição única de PPP, esta
pode ser entendida como um modelo de contratação pública utilizado na provisão de infra-
estruturas e serviços. Os sectores público e privado estabelecem uma relação (contratual
ou institucional), com responsabilidades preestabelecidas, para projectar, financiar,
construir e gerir uma determinada infra-estrutura e/ou disponibilizar um serviço.
Uma PPP pode consistir num contrato de concessão de obra pública ou serviço público e,
geralmente, inclui uma componente significativa de financiamento privado, na forma de
capital e/ou dívida assumida pela banca comercial ou pelos Mercados de Capitais525.
“É um contrato de longo prazo (“o contrato de PPP”) entre um parceiro do sector público e
um parceiro do sector privado;
Mediante pagamentos feitos ao privado ao longo da vida do contrato de PPP, seja pelo
Estado com recurso a dotações orçamentais, seja directamente pelos utentes ou
utilizadores através da cobrança de tarifas ou taxas;
525 Cfr. AVV. CRUZ, CARLOS OLIVEIRA, - O Estado e as Parcerias Público-Privadas, Sílabo Editora, 2012, Pág.
31
526 Cfr. POULSON, LAZARINO, Pág. 28.
280
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Esta definição, no dizer de CABRAL, citado pelo LAZARINO POULSON527, diz que, “suscita,
para já, algumas questões”, que passamos a tratar nos seguintes pontos:
ii) Parceiro Público Privado: O parceiro público é diferenciado – pode ser o Estado
(Administração Central ou Local), pode ser pessoas colectivas de população e território
como as Autarquia Locais ou outras pessoas colectivas públicas de fins singulares,
nomeadamente as Empresas Públicas e os Institutos Públicos;
Como se vê, o legislador angolano optou por uma definição mais restrita na senda de
YOSCOMBE, onde se destacam os seguintes traços529:
281
Manual de Direito Económico Francisco Mário
i) Contrato duradouro: Implica uma relação jurídica baseada na estabilidade e
continuidade entre uma entidade pública e uma privada. O legislador, de acordo com o
princípio da liberdade contratual (art. 405º, do CC), deixou ao critério das partes fixarem o
período de vigência das PPPs. Todavia, tendo em conta a natureza e objecto das actividades
que serão sujeitas à PPPs estamos em crer que serão contratos de médio e longo prazo;
Assim, uma Empresa Pública, uma Sociedade de Capitais Públicos pode ser envolvida numa
PPP. Noutra banda, o legislador consagrou uma norma específica para o co-contraente
público que merece a seguinte nota: Para já o legislador deveria fazer um elenco de
entidades privadas. Contudo, percebe-se que disse menos do que pretendia. Desse modo,
podemos concluir que para além das Empresas privadas (que são a regra) outras entidades
privadas de fins não lucrativos nomeadamente as associações, fundações ou ONG podem
vincular-se a um parceiro público mediante uma PPP.
Desse modo, fica proibida a constituição de PPPs em que a parte pública cobre todos os
custos, ou seja, nas PPP a entidade pública ou financia parte ou o ente privado suporta
sozinha o investimento.
530Já os Fundos Autónomos (fundações Públicas) podem ser parte de uma PPP. Contudo os fundos sem
personalidade jurídica não podem estar vinculados directamente a uma PPP. Por sua vez, os Serviços
Autónomos, designadamente Institutos Públicos Associações Públicas podem igualmente ser parceiro
público de uma oportuna PPP.
282
Manual de Direito Económico Francisco Mário
iv) Actividade à satisfação de uma necessidade colectiva: contrariamente aos outros
ordenamentos jurídicos que operam com o conceito de infra-estrutura, o nosso optou pela
expressão «actividade tendente à satisfação de uma necessidade colectiva». No fundo, são
expressões equipolentes. Falar de actividade tendente à satisfação de uma necessidade
colectiva é debruçar sobre uma «infra-estrutura», tal como uma estrada, ponte, ou ainda a
realização de um serviço de carácter público como a gestão de um hospital ou a exploração
de uma companhia aérea.
PPPs são verdadeiros contratos administrativos, este acordo de vontade entre um ente
público e uma entidade privada que visa assegurar o desenvolvimento de uma actividade
tendente à satisfação de uma necessidade colectiva tem a natureza jurídica de um contrato
administrativo, na medida em que o co-contratante público possui, dentre outros,
privilégios.
Concebido com normas exorbitantes (regime de direito público), o contrato de PPP é regido
por normas de direito público que conferem ao Estado vários poderes tais como o poder de
planificação (Plano Geral das Parcerias Público Privadas), aprovação, promoção de
concursos públicos, avaliação e fiscalização. O contrato administrativo que resulta da
constituição de uma PPPs é sinalagmática implicando a prestação.
531 Cfr. POULSON, LAZARINO, - As Parcerias Público-Privadas, Almedina Editora, 2011, Pág. 83-84.
283
Manual de Direito Económico Francisco Mário
15.6. O Contrato de Prestação de Serviços
O contrato de prestação de serviço abrange dois tipos completamente diferentes um do
outro o contrato de transporte - é o contrato administrativo pelo qual um particular se
encarrega de assegurar a deslocação entre lugares determinados de pessoas ou coisas a
cargo da Administração; e o contrato de provimento, é contrato administrativo pelo qual
um particular ingressa nos quadros permanentes da Administração Pública e se obriga a
prestar-lhe a sua actividade profissional de acordo com o estatuto da função pública.
Devem constar do um Plano Geral das Parcerias Público-Privadas (PGPPP) que constitui
documento plurianual e multi-sectorial;
284
Manual de Direito Económico Francisco Mário
outros, os de natureza ambiental e urbanísticos, dos quais depende o desenvolvimento do
projecto, de modo a permitir que os riscos possam ser convenientemente distribuídos
entre os parceiros com melhores condições de suporta-los;
Todavia, podemos evidenciar que uma privatização é uma venda, e que implica o controlo
total e alteração da propriedade material do activo por um período normalmente ilimitado.
Nos casos em que o Estado vende a sua posição, transferindo a propriedade dos activos
para entidades privadas, por um período ilimitado, estamos perante um processo de
privatização.
285
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Por outro lado, uma das características das PPPs radica na assunção do risco pelo
particular, porquanto que, conceito de risco, tem sido o centro das discussão sobre PPP, é
indissociável do conceito de incerteza, embora não sejam totalmente equivalente como
sustenta SAVAGE, citado por CARLOS OLIVEIRA CRUZ/RUI NAMORO, pois que, a incerteza
é uma característica de alguns aspectos do universo.
Risco Político: eleições, greves, convulsão sociais, golpe de Estado, guerra e terrorismo.
Notem bem, - “quando a transferência de propriedade material não ocorre, ou quando esta
possui uma duração limitada no tempo, regulada por algum documento contratual
(estatutos, acordo parassociais e contrato de concessão de exploração e de gestão), finda a
qual a propriedade do activo retorna ao domínio público, então estamos perante uma forma
de PPP”534.
532 Cfr. AVV CRUZ, CARLOS OLIVEIRA, - O Estado e as Parcerias Público-Privadas, Sílabo Editora, 2012, Pág.
41.
533 Ibidem, Pág. 42.
534 Ibidem, Pág. 38-39.
535 É bruto quando consiste na criação de bens de produção durante um certo período de tempo incluindo a
substituição do material absoluto sem ter em conta as despesas efectuadas para a obtenção de receitas. É
Líquido quando consiste no acréscimo do capital de uma Empresa formando receitas depois de deduzidas as
despesas.
286
Manual de Direito Económico Francisco Mário
consoante o critério de obtenção de receitas nos termos definido pela Lei nº 10/18, de 26
de junho que veio regular as operações do Investimento Privado (LIP).
287
Manual de Direito Económico Francisco Mário
As operações cambiais só podem ser realizadas por intermédio de uma instituição
financeira autorizada a exercer o comércio de câmbios, de forma isolada ou
cumulativamente através das seguintes formas de transferência de fundos do estrangeiro:
aplicação de disponibilidades em contas bancárias, em moeda estrangeira, constituídas em
Angola por não residentes e importação de equipamentos, acessórios e materiais. Estas
operações de acordo com o art. 41º, da LIP, estão sujeitos as normas do regime cambial
vigente em Angola Lei nº 5/97, de 27 de Junho, com as recentes alterações.
Porém, temos que estabelecer, com alguns critérios da hermenêutica jurídica a diferença
que encerra entre o Sistema Financeiro e o Sistema do Direito Financeiro na ordem jurídica
económica e financeira angolana para subsumir o tema sub judice na adequada área jurídica
dos ramos de direito tradicional “summa division” (Direito Público e Direito Privado).
Todavia, na enciclopédia jurídica que nós tivemos acesso detida pela doutrina
portuguesa536; refere que o sistema financeiro - «reporta-se ao conjunto estruturado de
instituições, pessoas, actos, negócios e operações relacionados com criação dos Mercados
monetários, financeiros e cambial, com o crédito ou a transferência e a cobertura de
risco»537.
Destarte, feita esta comparação, dizer que, o sistema financeiro também por vezes nutre –
se do designativo de “Sector Financeiro” –, porque neste sentido, segundo concepção
defendida pela MARIA MANUEL LEITÃO MARQUES, postula de modo “que compreende o
536O conceito de sistema financeiro surge-nos desde modo como um construção doutrinária, elaborada a
partir da realidade económica e do quadro normativo relevante para efeito, Cfr. AAVV. FERREIRA, EDUARDO
PAZ/MORAIS, LUÍS SILVA “ Regulação Em Portugal: Novo Tempo: Novo Modelo? 2009, Pág. 40
537 Cfr. CÂMARA, PAULO – Manual de Direito do Valores Mobiliários, almedina editora 2009, Pág.16.
538 O Sistema Financeiro, funda-se nas instituições financeiras na proa – o BNA, vide art. 100º da CRA.
288
Manual de Direito Económico Francisco Mário
conjunto das instituições de crédito, Mercado de capitais e as Empresas que prestam serviço
de investimento, bem como as Empresas que operam no Mercado de seguros e de fundos de
pensões”539.
Ora bem, o Sistema Financeiro540, - visto nesta prisma, traduz-se no Direito do Sistema
Financeiro ou Finanças Privadas que comporta três distintas vertentes, particularmente o
Direito Bancário, o Direito dos Seguros, o Direito dos Valores Mobiliários e Direito dos
Mercados Financeiros541 (art. 99º, da CRA), que normalmente pode-se encaixar no ramo do
Direito Privado apesar hoje ganharem autonomia.
Por seu turno, a Escola de Coimbra, citado pelos ilutres Profs. GOMES CANOTILHO/VITAL
MOREIRA543, avançam com ideia e discutem com base o critério subjectivo e objectivo do
sistema financeiro previsto no art. 101º, da CRP e tal como o previsto no normativo do art.
99º, CRA. Estes autores fazem a destrinça do sector financeiro (e não sistema financeiro).
Em síntese, concluem que no sentido subjectivo, o Sector Financeiro - versa sobre a banca,
mercados financeiro e, no sentido objectivo, o Sistema Financeiro- versa sobre actividade
financeira (orçamento, sistema fiscal).
539 Apud, - FLOR, PAULA ADREGA - «Espaço Financeiro Europeu Integração, Regulação e Supervisão: que
Modelo?» in Revista da Banca nº 65 Janeiro/Junho de 2008, Pág. 83,citando AAVV, MARQUES, MARIA
LEITÃO/ ALMEIDA, JOÃO SIMÕES DE E FORTE/ANDRÉ, MATOS – “ Concorrência e Regulação (A relação entre
a Autoridade da Concorrência e as autoridades de regulação sectorial), Pág. 137.
540A expressão sistema financeiro pode ser utilizada num sentido objectivo, enquanto conjunto de normas,
institutos e mecanismos jurídicos que regem a actividade financeira em geral; no sentido subjectivo,
enquanto conjunto de instituições, empresas e organizações com intervenção directa na actividade financeira.
Cfr. AAVV. FERREIRA, EDUARDO PAZ/MORAIS, LUÍS SILVA “ Regulação Em Portugal: Novo Tempo: Novo
Modelo? 2009 Pág. 40
541Constituem disciplinas jurídicas, mas também de ponto visto económico são áreas com forte intervenção
dos Estado, o seja, intervencionismo do Estado no domínio económico que por vezes se confunde com
dirigismo económico (criação do sector público maior do que aquele que caracteriza um Estado
intervencionista “sic” há já ideia de direcção da economia) enquanto intervencionismo (há apenas uma ideia
de correcção) mas desenvolvimento ver o saudoso FRANCO, LUCIANO SOUSA, in Finanças Públicas e Direito
Financeiro, vol. I e II, Almedina, Coimbra 4ª edição, 13ª reimpressão 2010, Pág. 61 e 62.
542O Direito Financeiro, funda-se principalmente no instituto do “imposto tido como estabilizadores
automáticos do orçamento” vide art. 102º da CRA.
543 Apud – AAVV, MARQUES, GONÇALVES ALEXANDRA, Supervisão Comportamental Bancaria: Da Supervisão
Estes Mercados é que vai constituir as Instituições Financeiras que a seguir vamos tracejar
e produzir um sumário de Direito dos Mercados Financeiro.
Qualquer modo os grandes problemas surgem nas operações que resultam das práticas e
usos bancários daí surgindo verdadeiros contratos devidamente enraizados ao longo dos
anos consubstanciando-se em figuras contratuais atípicas que os profissionais bancários
que têm necessariamente de se socorrer ao disposto no art. 405º, do CC em conjugação com
a prática bancária devem ser os princípios orientadores nesta matéria, em geral para fazer
face à demanda que é característica do Mercado financeiro para configura-lo no actual
contexto macro-económico nacional se revela importante para enquadrar diversos
contratos em que figuram operadores residentes cambiais como também contratos em que
os residentes cambiais contratam com residentes não cambiais por forma a minimizar ou
suprimir os riscos derivados da flutuação cambial como também da remuneração do capital
inerente a estes contratos.
544 Cfr. AVV, MÁRIO, FRANCISCO – Supervisão Bancaria no Sistema Financeiro Angolano, Revista de Regulação
Medida Preventiva – trata-se no cômputo geral de Lei – Medida vertidas naquelas normas
injuntivas ou cogentes548, ou seja, proíbem ou condicionam previamente o exercício de
certa actividade económica dos agentes.
545Supervisão – significa (…) Acto ou efeito de dirigir, orientar ou inspeccionar. In Universal Dicionário
Integral de Língua Portuguesa, texto editores, Lda. 2010. Angola. Portugal. Moçambique. Brasil Pág. 1393.
546 CATARINO, LUÍS GUILHERME. - «Agencificação da União: Novo Meio de Regulação». In Revista de
Concorrência e Regulação. IDEF, ano III, nº 9, FDL.2012, Pág. 175.
547 AAVV. MARQUES, MARIA MANUELA LEITÃO, PEDROSO, JOÃO, - Manual de Introdução ao Direito, Saber
Neste sentido - define-se como normas injuntivas ou cogentes, aquelas normas que se impõem â observância
dos seus destinatários, cominando uma conduta ou vedando-a, independemente da sua vontade; podem ser
agrupadas em dois subtipos, designadamente:
a) Normas percetivas – são aquelas normas que impõem uma conduta, ou seja, são disposições legais
que impõem uma forma especial para celebração de um negócio jurídico, cuja inobservância de forma
compromete a validade do acto jurídico, assim, a prescrição legal nela prevista deve ser seguida ao
rigor pelo sujeito do Direito, sob pena de não obter os efeitos pretendidos decorrentes da declaração
do acto em voga. Ex. 875º e 1323º, do CC.
b) Normas Proibitivas – são aquelas normas que impedem ou vedam uma conduta do agente económico
(art. 877º e 989º, do CC).
292
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Medidas Repressivas – tem-se em vista a repressão de práticas ilícitas que como tal estão
tipificadas na lei, podendo dar origem a aplicação de sanções negativas. Ex: coimas, multas
e outras sanções de natureza penal.
Sustenta este autor que, a Supervisão, assenta assim na conjugação do objecto (garantia) e
formal (actividades limitadora da oferta dos particulares), defendendo a finalidade dos
objectivos que são legalmente consagrados (defesa da ordem e segurança pública, fomento
de actividades, promoção de interesses).
De uma forma sumário para bem perceber melhor a temática de Supervisão importa
destacar os modelos clássicos de Supervisão e daí indicar o modelo de Supervisão
Financeiro acolhido na ordem económica angolana, e, assim temos:
Os Sistemas (ou modelo Twin Peaks) – caracteriza-se pela repartição das responsabilidades
de Supervisão por duas entidades autónomos e independentes, tendo ambos poderes
transversais sobre todos os sectores do sistema financeiro, a repartição de competência e
efectuados em função da natureza prudencial ou comportamental da Supervisão.
Apesar de que na prática vê-se uma aproximação ao sistema misto, tendo em conta a tutela
e superintendência dos supervisores por entidades do Poder Executivo, designadamente o
Ministro das Finanças e Titular do Poder Executivo552, por causa da forma do governo
angolano consagrado na Constituição da República de Angola de 2010 que se configura no
sistema de governo presidencial-parlamentar553.
550 No Direito comparado português, é consagrado no art. 73º, 91º e 93º, do RIGICSF.
551 CMC- Comissão de Mercados de Capitais.
552 Ou a relação entre as entidades supervisoras e Poder Executivo.
553 Cfr. AVV, MÁRIO, FRANCISCO – Supervisão Bancaria no Sistema Financeiro Angolano, Revista de Regulação
O BNA no sistema financeiro angolano constitui uma fonte normativo de dimensão formal
e material do sistema, pode ser definido como uma pessoa colectiva de Direito Público
dotada de autonomia administrativa, financeira e patrimonial conforme plasma no art.1º,
da LBNA.
Por seu turno no Mercado Cambial, BNA é autoridade máximo do sistema financeiro que
supervisiona o comércio de divisas bem como a saída e entrada das reservas cambiais.
Entretanto, neste Mercado tão sensível e complexo constitui o eixo da soberania monetária
e de reserva dos recursos naturais nas relações estabelecidas com exterior, daí, porém, o
as autoridades monetárias tem proclamada um conjunto de medidas para assegurar e
preservar a soberania monetária de acesso as divisas que a princípio não é livre.
554 Cfr. AVV, MÁRIO, FRANCISCO – Supervisão Bancaria no Sistema Financeiro Angolano, Revista de Regulação
Podemos concluir à este propósito que o BNA e o Poder Executivo através da política
monetária criaram mecanismos institucionais de coordenação para fazer face à tarefa de
Supervisão com base consolidada (art. 21º, da LBNA), tendo em vista assegurar a
estabilidade, eficiência e solidez do sistema financeiro e, o cumprimento de regras de
conduta e a de prestação dos interesses dos clientes (Interesse Público).
297
Manual de Direito Económico Francisco Mário
No entanto, os seus órgãos são promovidos e destituídos, sob proposta do Ministro das
Finanças, pelo Presidente da República, enquanto Titular do Poder Executivo, nos termos
da al. d), do artigo 120º, da CRA e art. 17º; 18º e 19º, do Decreto Presidencial nº 141/13, de
27 de Setembro.
O ARSEG, é um Instituto Público do sector económico, Cfr. Art. 3º, da al. a), do Decreto
Presidencial nº 2/13, de 25 de Junho, Sobre as Regras de Criação, Estruturação e
Funcionamento dos Institutos Públicos), pois que, exerce as funções de supervisão no
quadro Administração indirecta do Estado no plano de desconcentração administrativa,
(Cfr. art. 8º e 199º, da CRA), sob a superintendência do Ministério das Finanças, (art. 10º e
11º, da Lei nº 1/00, de 3 de Fevereiro e do nº 4, do art. 6º, do Decreto Presidencial n.º
299/14, de 4 de Novembro), nos termos de garantias do exercício das suas funções os seus
quadros gozam de prerrogativas e imunidades, (art. 13º, do Estatuto Orgânico da ARSEG).
Portanto, ARSEG, como Instituto Público e organismo de Supervisão do sector dos seguros,
denota-se que é superintendido pelo Titular do Poder Executivo (art. 2º, nº 1, do Estatuto
de ARSEG) e tutelado pelo Ministério das Finanças, (art. 2º, nº 2, do Estatuto da ARSEG),
como organismo de Supervisão sob forma de instituto público, esta sujeita à jurisdição do
Tribunal de Contas nos termos da al. d), do art. 2º, da Lei nº 13/10, de 9 de Julho, Lei do
Processo do Tribunal de Contas no âmbito do controlo e fiscalização externa financeira e
internamente pelo Conselho Fiscal, (art. 15º, da al. d), do Estatuto Orgânico da ARSEG).
Sendo assim, as bolsas de valores são locais onde são negociados títulos emitidos por
Empresas de Capital Aberto. Desde o século XV, em plena Idade Média, cotas de
participações em companhias, metais precioso e moedas eram comercializados no meio das
ruas, nas calçadas, semelhantemente a qualquer outro produto vendido na época.
Assim, o Estado vedado por via legal essa possibilidade de arbitrariedade tributária de
agredir os bens dos particulares para satisfazer as necessidades da colectividade, viu-se na
necessidade de pedir empréstimos e endividar-se com promessa de pagamento diferido no
tempo cujos recursos teriam que socorrer-se também a uma receita creditícia de um
particular.
Daí foi crescendo a dívida do Estado com os seus credores, porque o Estado para pagar a
sua dívida tinha que contrair outro empréstimo para pagar a dívida. Todavia, obrigou o
Estado organizar um Mercado de dívida “BOLSA” - onde os investidores e aforradores
298
Manual de Direito Económico Francisco Mário
poderiam negociar, isto é, comprar e vender os títulos de dívida de acordo às regras neles
estabelecidos pelo regulador.
Acredita-se que a primeira bolsa de valores da história, foi um local onde os comerciantes
se reuniam para a realização de negócios relacionados a participações e cotas em Empresas
e que tenha surgido em 1487, na cidade de Bugres, Bélgica. O nome “Bolsa” se refere ao
brasão da família VAN DER BURSE, dona da casa onde as transações ocorriam, o qual era
constituído por um desenho de três bolsas.
Entretanto, a primeira acção comercializada em uma Bolsa de Valores que se tem registada
na história pertenceu à Companhia Holandesa das Índias Orientais e foi negociada em 1602,
na bolsa de Amsterdão.
O Mercado de títulos deve ser subdividido, por sua vez, em dois Mercados ou componentes:
Diz-se que a emissão é privada ou particular quando os títulos são emitidos para serem
subscritos por determinadas pessoas singulares ou colectivas em número previamente
estabelecido.
Já será uma emissão pública quando a comercialização dos títulos é feita publicamente,
através da imprensa, oferecendo a possibilidade a qualquer entidade individual ou
colectiva de subscrever títulos.
Por este facto, o lançamento de uma operação de oferta pública de valores mobiliários
depende do registo prévio da emissão na comissão que superintenda no Mercado de
valores mobiliários. O pedido de registo tem de ser acompanhado de uma série de
elementos que permitam conhecer a entidade emissora e a sua situação económica e
financeira, de modo a que a entidade supervisora possa proteger os aforradores
potencialmente interessados em subscrever títulos.
Em certos casos, a lei obriga que, além do registo na comissão acima referida, a oferta
pública de valores mobiliários seja autorizada pelo governo (por exemplo, emissões a
realizar no Mercado Nacional, mas em moeda estrangeira, emissões a realizar no Mercado
Nacional por Empresas e outras entidades não residentes no País, etc.).
299
Manual de Direito Económico Francisco Mário
- O Mercado Secundário - compreende activos financeiros que já estão em circulação no
Mercado e que são objecto de transacções nas bolsas de valores ou fora delas (no chamado
Mercado de Balcão), procurando assim facilitar a sua transmissão, a sua transformação em
liquidez.
As bolsas de valores não são mais do que Mercados estruturados e dotados de instrumentos
jurídicos adequados que permitem que se efectuem operações de compra e venda de títulos
já emitidos com transparência e relativa segurança.
Com objectivo de proteger os investidores, nem todos os títulos podem ser transacionados
nas bolsas. A Lei estipula um conjunto de regras para que um título possa ser admitido à
cotação, isto é, para que possa ser transacionado nestes Mercados.
Assim, desde logo, para que as acções de uma sociedade sejam admitidas à cotação, é
exigido a essa sociedade, entre outras, a prova de que:
1. Está a funcionar de acordo com a legislação geral e especial que lhe seja aplicável;
O legislador ordinário orientou através da Lei das Instituições Financeiras (LIF), bem como
através do Código dos Valores Mobiliários (CVM), atribuir as competências ao organismo
de Supervisão especializado neste sector à tarefa de supervisionar o Mercado de Capitais,
bem como o Mercado Regulamentado da Dívida Pública Titulada - A Bolsa de Dívida e
Valores de Angola (BODIVA), (vide, Decreto Legislativo Presidencial nº 4/13, de 9 de
Outubro, e o art. 18º, da Lei nº 22/015, de 31 de Agosto, CVM).
300
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Porém, a forma de provimento dos órgãos sociais da CMC é por via administrativa de
Despacho de nomeação e exoneração pelo Presidente da República, enquanto Titular do
Poder Executivo, nos termos da al. d), do art. 120º, da CRA e art. 9º, do Decreto Presidencial
nº54/13, de 6 de Junho, do Estatuto Orgânico da Comissão de Mercados de Capitais.
Os órgãos sociais do CMC, cumprem mandatos democráticos indirecto, por nomeação, cuja
duração é de cinco anos renováveis mais de cinco vezes, conforme reza o art. 8º, do Estatuto
Orgânico da Comissão de Mercado de Capitais.
Os jogos como contrato não são nos termos do art. 1245º, do CC., mas constituem fontes
das obrigações daí actividade jogo de fortuna e azar ser proibida ao acesso aos particulares,
(art. 7º, da LAJ), desde logo, constitui a reserva absoluta do Estado, (art. 5º, da LAJ),
podendo ser concedido com apertadas regras normativas as sociedades anónimas para o
seu exercício (art. 21º, da LAJ).
Assim sendo, o órgão Supervisão dos jogos pode ser definido também como uma entidade
de direito público, dotado de personalidade e capacidade jurídica e de autonomia
administrativa e financeira, à qual compete genericamente a regulamentação, Supervisão e
fiscalização das actividades de jogos de fortuna ou azar e afins.
301
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Em termos operativos os jogos movimenta uma massa monetária caracterizado no jogo que
os casinos realizam em que os potenciais jogadores submetem-se na álea da procura da
fortuna, de um lado, por outro lado, a casa de jogos através das máquinas automáticas,
procuram desta forma o lucro produzido pelos azarados, daí parece à denominação de
«Jogo de Fortuna ou Azar».
Relativamente quanto a tutela, como Instituto Público, esta sujeito a tutela do Ministério
das Finanças, de acordo o estatuído no n º 4, do art. 6º, do Decreto Presidencial nº 299/14,
de 4 de Novembro, relativamente ao controlo e fiscalização financeira, esta sujeito duplo
controlo; o controlo interno administrativo técnico (art. 51º, da LAJ) e o controlo externo
jurisdicional sob à jurisdição do Tribunal de Contas, nos termos da al. d), do art. 2º, da
LOPTC.
302
Manual de Direito Económico Francisco Mário
CAPITULO XVII – ANÁLISE ECONÓMICA DO DIREITO
17.1. Introdução
Surgimento da Analise Económica do Direito (AED) é um movimento de estudos surgidos
na década dos anos 60 do século passado que busca um maior diálogo entre Economia e
Direito.
Todavia de acordo com MARIA PAULA FREIRE, a aproximação entre o Direito e análise
económica não é uma tendência nova, é, sim um trilho a percorrer ao longo do qual se
suscitam inúmeras questões que merecem reflexão. O Direito de Concorrência evidencia
esse estreitamento de relações entre o jurídico e o económico, designadamente através do
crescente apelo a considerações de eficiência como fundamento de soluções normativas.
Por outras palavras, segundo a mesma autora sustetenta que, a subordinação dos sistemas
jurídicos a logica de eficiência impõe determinar as implicações normativas que podem ser
deduzidas a partir desse conceito, eminentemente económico556.
Porém, é de se notar que o movimento de Law & Economics possui diversas escolas ou
linhas de pensamento, cujo ponto único de convergência é o uso da Economia para a criação
de Leis “melhores”. Diferem, contudo, quanto ao modo de abordagem e realização deste
dialogo entre Direito e Economia, bem como na interpretação dos preceitos. Assim, dentro
deste movimento há a Escola de Chicago, a Escola da Escolha Pública, os Institucionalistas
e os Neo-institucionalistas, dentre outros558.
Qualquer modo, importa, portanto, não afastar a ideia de que o movimento do Law &
Economics não possui uma uniformidade de pensamento, nem possui ponto de partida bem
definida, tendo em vista a pluralidade de linhas de raciocínio dentro de si. Não obstante,
para este movimento, uma coisa é certa: o uso da Economia do Direito, de facto, pode trazer
Leis mais eficientes. Nas palavras de ANDRÉS ROEMER559.
556 Cfr. FEIRE, MARIA PAULA. – Eficiência Económica e Restrições Verticais. AAFDL. 2008, Pág.13.
557 Ob. Cit. Pág.13.
558 Apud, GUIMARÃES, LUCAS NOURA DE MORAES REGO, - Trabalhos publicados nos anais do XVIII
Congresso nacional do CONPEDI, realizado em São Paulo nos dias 4,05, 06 e 07 de Novembro de 2009.
Pág.998.
559 Ibidem.
303
Manual de Direito Económico Francisco Mário
“A AED surge como evolução e parte de um processo que busca capacitar a
interdisciplinaridade e pragmatismo da ciência jurídica. É uma disciplina que pretende ser
científica e racionalizadora das decisões públicas (ou privadas) e que tem como elemento
característico funcionar como elemento complementar (não substituta) do Direito.
Em resumo, a AED se apresenta como teoria económica aplicada à ciência jurídica, teoria
que por sua configuração e método de análise fornece ferramentas de previsibilidade ao
Direito, fazendo dele uma ciência pragmática, útil e pouco custosa”560.
- A segunda tradição é das escolas de Direito, nas quais a AED se desenvolveu a partir da
agenda do realismo legal. Esta ensinava que os estudiosos do Direito devem analisar a Lei
com a ajuda das ciências sociais, tal e como na prática. E uma das ciências a que os
académicos recorreram foi a economia”.
560 Ibidem.
304
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Entretanto, no campo do Direito Civil e do Processo Civil, a despeito de ser uma tópica
recorrente a discussão sobre celeridade processual, instrumentalidade do processo,
economia dos actos processuais, segurança jurídica, entre outros standarts jurídicos.
Todavia, estes estudos ficam apenas no âmbito da argumentação, sem parâmetros de
análise que realmente possibilitem compreender o aspecto da efectividade de algum
princípios processuais arguido face sua influência sobre o resultado do processo em si.
De acordo o esquema acima ilustrado pode-se entender desde logo que objecto económico
do Direito Processual é minimizar a soma dos custos administrativos e dos custos de erros
até chegar a decisão final calvinhado o princípio da eficiência, ou seja, a intervenção do
poder judicial deve ser eficiente sob pena de ser gerar externalidades negativas ao
consumidor de serviços jurídicos que o Estado produz, ou aquilo que se designa de falhas
do governo ou simplesmente a falha do Mercado por causa das garantias judiciais serem
ineficientes561.
Ora bem, qualquer sistema económico, diz que é desenvolvido porque o sistema judicial é
eficiente e garante a justiça económica com celeridade requerida, daí ser uma das fontes de
investimento estrangeiro.
Por exemplo, se as partes tivessem chegado a um acordo de transacção (art. 1248º, do CC.
e art. 287º, do CPC) nos mesmos termos do que seria a decisão judicial (art. 287º al. a), do
CPC), e que como se observa no ordenamento processual angolano é muito burocrático
para não dizer lento e que o processo poderá levar um percurso de 8 anos ou mais, pois
que, se as partes chegassem ao um acordo com certeza, através de resolução extrajudicial,
561 Nosso.
305
Manual de Direito Económico Francisco Mário
ou judicial obtida na tentação de conciliação (art. 508º, do CPC), ou por via transacção
judicial homologatória (art. 300º, do CPC) teriam as partes logrado e os custos
administrativos seriam bem menores, pois que por maioria da razão os acordos poupam
custos sociais.
Porém, no processo o demandante racional da acção judicial é aquele que somente vai
peticionar se o valor esperado da reivindicação judicial for superior aos custos de
apresentação da acção (Advogados, taxas, etc.).
Como acontece com os subsídios de família dos menores, atribuído a cada menor no salário
do pai ou da mãe, para ajudar a custear nas despesas domésticas da família, ora, ser tão
insignificante (KZ: 100,00 cada filho), os angolanos nem ficam preocupados tratar a
documentação para este beneficio social dos menores, simplesmente ignoram.
Porém, se num dia que o Estado entender aumentar o valor deste subsidio há de estimular
todos os pais para o registo das crianças e requerer à Administração Pública o tal beneficio
do subsidio de família que criaria enchentes nas instituições vocacionado para efeitos,
como no passado recente nos anos 80 do século passado, demonstrou esta experiência
nesta matéria em que um pai cujos vencimentos eram quitados em KZ: 15.000,00, bastava
ter 10 filhos cada um auferir KZ: 2.000,00, em termos aritméticos somava por mês KZ:
30.000,00), era bastante para criar custos Orçamentais ao Estado e incentivar mais
procriação dos angolanos, bem como uma agitação social de controlo e fiscalização desta
receita por parte dos pupilos e do cônjuge e, pela última instância pelo Procurador de
Menores junto dos Tribunais de jurisdição especializado.
306
Manual de Direito Económico Francisco Mário
17.4. Teoria Económica da Responsabilidade Civil
“Mesmo que não haja culpa, a política exige que a responsabilidade seja fixada onde quer
que ela reduza com a maior eficácia os riscos para a vida e a saúde inerentes a produtos
defeituosos que cheguem ao Mercado”562...
As pessoas muitas vezes prejudicam umas às outras na prática dos actos ilícitos v.g. um
senhora que altera as medidas de peso de venda batata ou arroz, ou que ofenda
corporalmente alguém e a vítima fica mais de 10 dias sem possibilidade de trabalhar e
descontado no salário por faltar no trabalho.
A vítima não pode intentar uma acção sob o direito contratual porque não houve violação
do contrato. Também não pode se basear no direito de propriedade, pois a integridade
física e reputação não são propriedades. Esses factos demonstram a necessidade de um
terceiro corpo principal do direito privado, além do direito contratual e do direito de
propriedade. Trata-se, pois, do direito dos actos ilícitos indemnizáveis economicamente.
O direito da responsabilidade civil diz respeito a relações entre pessoas para as quais os
custos de transacção de acordos entre os Agentes Económicos por vezes são elevados.
562 Cfr. COOTER, ROBERT; ULEN, THOMAS, - Direito & Economia, Porto Alegre Bookman, 5ª edição 2010,
apud, TRAYNOR, ROGER, Pág. 1.
563 Cfr. VARELA, ANTUNES, - Das Obrigações em Geral Vol. I, 10ª edição Almedina editora reimpressão 2000.
Pág. 518-523.
307
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Já a responsabilidade civil extracontratual resulta da infracção de um dever ou vinculo
jurídico geral, isto é, uma daqueles deveres gerais de abstenção imposto à todas as pessoas
e que correspondem aos direitos absolutos564, (art. 483º, CC).
Todo produto posto em circulação deve ter segurança suficiente para não acarretar danos
a outrem, pois, se o contrário acontecer, surgirá o correspondente dever de reparar e
análise económica da responsabilidade civil, em vez de se concentrar no acto ilícito civil,
procura estudar os efeitos económicos da responsabilização565.
Pois que, o modelo que se baseia a Análise Económico do Direito da Responsabilidade Civil
são os elementos do custo do dano e o custo de se evitar o dano566.
564 Ibidem.
565 Existem três requisitos, conduta, dano e o nexo causal, é o que gera a chamada responsabilidade civil
objectiva (causou dano a outrem, há a obrigação de repara-lo). Não há que se discutir se houver ou não culpa
do agente.
566 A probabilidade de um acidente diminui com o aumento da precaução, logo a função é decrescente; o valor
do prejuízo causando por um acidente é representado por A. Assim, o prejuízo esperado é dado por A que
também é decrescente; Seja o custo unitário da precaução, consequentemente, equivale à quantia total gasta
com precaução.
308
Manual de Direito Económico Francisco Mário
início de 1990, a SADCC tornou-se em Comunidade para o Desenvolvimento da África
Austral, adoptando a sigla SADC (sigla em inglês) em 1992. Em 1994, com o fim do regime
do apartheid, a África do Sul aderiu à SADC.
Importa referir que no seio da SADAC sempre existiram Estados-membros que eram
simultaneamente membros da SACU, União Aduaneira mais antiga do Mundo (fundada em
1910), que era administrada pela África do Sul, e que integrou inicialmente o Botswana,
Lesotho, Swazilândia e, posteriormente, a Namíbia.
b) Conselho de Ministros;
c) Comissões;
d) Comité permanente;
e) Secretariado; e
f) Tribunal.
309
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Mercado regional competitivo, que estabelece metas de crescimento económico e de
desenvolvimento sustentável567.
Este é, salvo melhor opinião, o modelo que mais se ajusta às necessidades dos Países em
vias de desenvolvimento.
Há quem considere (ainda que ironicamente) que existem dois modelos de integração
económica regional, designadamente:
1- O modelo idealista (utópico) que mais não é senão “construir paraísos no paple” (ex:
o modelo africano de integração…);
Não há nenhuma exigência no Artigo XXIV do GATT que indique que todo o comércio tenha
de ser liberalizado, também, não existe na OMC uma definição sobre o volume exacto ou
percentagem do comércio a liberalizar.
Trata-se de uma ambiguidade construtiva, que visa permitir que as partes envolvidas no
Acordo estabeleçam entre si a percentagem do comércio a liberalizar, mas por conseguinte,
foram identificados dois entorses que SE prende com a soberania e proteccionismo.
Aos Países da Europa do Leste, antes de aderirem à EU, foi-lhes permitido liberalizar até
41% do comércio substancial (ex: o caso do acesso oferecido pela Lituânia à Hungria em
1999; a Croácia ofereceu apenas 62% de posições pautais isentas de direitos à Eslovénia).
567 FERNANDES, FRANCISCO JOSÉ LOURENÇO, - Angola e os Desafios da Integração Económica Regional
Reflexões e Previdências, Edição e Comunicação, Lda., 2013, Pág.15-53.
568Ibidem.
310
Manual de Direito Económico Francisco Mário
Outros exemplos podem ser citados, entre os quais o caso da Moldávia. A EU concedeu à
Moldávia o direito de não assumir compromissos de liberalização do seu Mercado (ou seja
isenção de obrigações de reciprocidade) por considerar Moldávia como País pobre, sem
capacidade competitiva569.
Pode-se pois concluir que os Países da SADC fizeram uma leitura muito liberal do Artigo
XXIV do GATT (1994).
Angola e os demais Países, classificados segundo critérios das Nações Unidas como OMA,
deveriam disfrutar de condições mais flexíveis, ajustadas aos respectivos níveis de
desenvolvimento. Isto quer dizer deveria Angola liberalizar todo comércio, até ao ano 2015,
é realmente difícil de admitir como exequível aquele meta, porquanto teria que ser
avaliadas as consequências económicas e sociais dai resultantes (ex: os efeitos da
liberalização sobre a segurança alimentar e meios de subsistência rural, da pequena
industria, transportes, serviços e etc.).
Por razões de segurança e garantia de meios de subsistência rural, cada Estado Membro da
SADC deve ter o espaço de decisão política ilimitado, visando proteger melhor os
respectivos interesses nacionais nesse domínio específico e não proceder como a SADC
pretendia “a liberalização de todo o comércio até 2015”. Pois que os países mais
desenvolvidos do globo protegem a sua agricultura.
Ora vejamos:
Os EUA têm uma agricultura poderosíssima. Porém, as actividades agrícolas neste País têm
sido amparadas pelo Governo, há décadas atrás. Os EUA foram o maior defensor da
agricultura subsidiada, desde a criação do GATT (1947).
Entretanto, ao longo da década de 80, a PAC (Política Agrícola Comum) da União Europeia
caminhou um ano no sentido inverso, ampliando os estímulos actividades agrícolas e a
participação de seus produtos no Mercado mundial.
Actualmente, estes subsídios e apoios internos não estão a ser removidos na OMC ou nas
negociações dos Acordos de Parceria Económica entre os ACPs e a União Europeia.
A nível da SADC (ou no seio dos Países que integram a projectada ALC-Tripartida:
COMESA/EAC/SADC), existem Países que, eventualmente, concedem aos seus produtores
nacionais subsídios (de forma aberta ou velada, isto é, diluídos ao longo de uma cadeia
produtiva, dificultando a sua caracterização).
Será que os Países de Menor Desenvolvimento Relativo da SADC não devem ter o direito de
defender a sua agricultura?
Neste sentido o Poder Executivo angolano aprovou um subsídio dos combustíveis para
agricultura e pesca através do Decreto Presidencial nº 84/19, de 21 de Marco estabelece a
concessão de subsídios aos combustíveis para produção agrícola e pesca e aplicando-se
medida intervencionista de fomento estadual às actividades agro-pastoris para efeitos da
segurança alimentar, ou seja, fomentar actividade agrícola no País no sentido de acautelar
os desafios da concorrência no futuro da integração na zona económica da SADC.
570 FERNANDES, FRANCISCO JOSÉ LOURENÇO, - Angola e os Desafios da Integração Económica Regional
Reflexões e Previdências, Edição e Comunicação, Lda., 2013, Pág.15-53.
571 Cfr. FERNANDES, FRANCISCO JOSÉ LOURENÇO, - Angola e os Desafios da Integração Económica Regional
a) A Agenda Institucional
- Introdução de uma moeda regional para União Monetária da SADC até 2008.
Qualquer modo a integração que se pretendia comporta na sua agenda duas perspectivas
que a seguir vamos examinar.
De ponto visto jurídico, integra-se neste tipo de integração a Zona do Comércio Livre e a
União Aduaneira. Com efeito, nestas fases «inferiores» da integração económica, trata-se
fundamentalmente de eliminar as restrições quantitativas e taxa aduaneiras nos países
participantes da zona e de criar uma tarifa aduaneiras comuns numa união aduaneira573.
O Protocolo sobre as trocas comercias não é outra coisa que a ilustração da materialização
da primeira fase de um processo de integração económica. Com efeito, tem como objectivo
geral, «… estabelecer uma Zona de Comércio Livre, como um passo para a concretização da
União Aduaneira e subsequentemente a criação de um Mercado Comum» (n º 5 do art. 2 do
Protocolo).
572 CISTAC, GILLES - Aspectos Jurídicos da Integração Regional, Escolar Editora, 2012, Pág.20-23
573 Ibidem.
574 Ibidem.
313
Manual de Direito Económico Francisco Mário
o bem-estar económico, a melhoria dos padrões e da qualidade de vida, a liberdade e a
justiça social, paz e segurança dos povos da África Austral» (RISDP, 1.2.1.). Implica
igualmente, instituições supranacionais e uma integração avançada dos produtos, factores
de produção e um elevado grau de unificação das políticas monetárias, fiscais e outras575.
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575 Ibidem.
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9- Controlo Jurisdicional dos Dinheiros Públicos em Angola 2015 (Dissertação).
10- Manual de Direito Económico 2019 (Fasciculo).
11- Manual de Direito do Comércio Internacional 2019. (Fasciculo).
12- Manual de Direito dos Recursos Naturais 2019 (Fasciculo)
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Manual de Direito Económico Francisco Mário
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