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Qautor « HEDRO Buraiswo: NACUO, nescen na ‘regito de Umpahua Nipepe, provincia do Niassa, provaveluente cot 6 de Abril de 1962. Os seus documentos, porém, falam de ‘Mét! Ribtad, provincia de Nampula, para onde passow a viver apenas a partir de 1975. Ficha Técnica Titulo: Autor: Capa: Arranjo Gréfico da Capa: Editora: @ Composigio e Impressio: ‘Tiragem: ‘Registado no INLD sob o n°: ‘Caso Montepuez - Grande Reportage Pedro Nacuo Pedro Nacuo Noticias Publicagdes Noticias Publicagdes Noticias para todo espago mogambicano Noticias 1500 exentplares 2030/RLINLD/2001 Agradecimentos: Dr. Ivala John Supeta Dr. Naroromele Pelo encorajamento Caso Montopuer ~ Grande reportagem 5 APRESENTACAO Esta ndo é obra literdria. Hé-de ser, provavelmente, uma grande reportagem de quem esteve, desde o primeiro dia, ligado ao assunto que pela primeira vez, de tanto repetir, apelidou-o de “Caso Montepuce” ,terminologia que toda.a lmprensa nacional e estrangeira assou a usar para se referir a manifestacdo politica da Renamo- Unido Eleitoral, numa cidade a sul da provincia de Cabo Delgado, no dia 9 de Novembro de 2000 e tudo 0 que se the seguiu, corolério do cardcfer violento com que o protesto se revestiu em Montepuez. Nao vai ser diferente daquilo que 0 autor foi escrevendo e publicando em todo este perfodo, valendo-se da op¢do do joraal para 0 qual irabatha, de evitar que o tratamento do assunto passasse de repérter em repérter, por demasiado delicado e substancialmente localizado. Mais tarde soubemos que foi uma boa opcao, pois chegamos a provar que os outros Srgdas de informagdo que nao conseguiram evitar isso cairam na malha das deturpagées, simplesmente porque interromperam a cobertura elou trocaram muitos jornalistas no terreno. . Nao se espere, por isso, a opinido do autor, pois ele trard ds actos tal como eles se apresentaram e na devida altura fomos publicando. Uns foram confirmados pelo tempo, este que ser, igualmente, responsdvel de o fazer, futuramente, em relagao aos outros; hé os que ficaram imediatamente rectificados, como 0 rapté de Germano Joaquim, entdo administrador do estratégico distrito de Montepuez, ainda outros viriam a ser desmentidos ou reiterados pelo competente Tribunal que julgou os envolvidos nos dois principais crimes que a manifestagao criow 6 : Caso Montepuez~ Grande epertagom Sim, hd due, id cgora, referir-se a dois crimes, nomeadamente de Rebelidéo Armada e outros seus acompanhantes, bem assim o de Homicidio Qualificado, também acompanhado por outros. A reportagem ndo vai inutilizar, tdo-pouco valorizar as conclusias ou coniecturan dae dramas camnninnten, ann vejam definitivas quer sejam circunstanciais. Nao interferird, outrossim, nas interpretagdes de indole politico-partidério, pois, hd que repett- lo, vird despida de subjectivismos que ndo sajam aqueles que .provenham das fontes que 0 mais elementar e bdsico jornalismo aconselha em cada etapa episodial. . Se vale a pena (re)publicar 0 “Caso Montepuez” , 0 leitor dird, erante aquele que 0 autor considera o primeiro na nossa jove democracia multipartidéria, em que os excessos (extralegais) de um ¢ do outro ladorforam levados a Tribunal. Nao se mentird, se se disser que pela primeira vez 0 pegar em armas, assaltar ou ocupar instituigdes publicas e oficiais, em Mogambique, foi levado ao julgamento com os réus assistidos Jjuridicamente por advogados; também vale a pena recordar que em nenhum momento pés-independéncia, salvo possivel exapero, um agente da autoridade, aparentemente respondendo ao cardcter belicista da acgdo encimada ou equivalente, foi julgado e condenado or ter agido fora das balizas legalmente estabelecidas. * Se se concorda com isso ¢ porque parece que daqui em diante nem os politicos nem os policias actuardo como na tristemente célebre manifestagdo de 9 de Novembro, porqué, entdo, ndo eternizar estes factos juntando-os em algum documento disponivel para todos? Atencdo, para terminar! Sei que haverd gente a dizer que ndo encontrou no livro o que gostaria fosse escrito. Para essa corrente 0 conselho € que-escreva o que resta, porque Montépuez passou a ser wn nome que ndo vai morrer com uma simples reportagem, tendo em conta que ainda os Tribunais véo falar do caso, pois hd recursos de arte a parte, como disso nos aperceberemos nas paginas que iremos folheando adiante, O Autor Dedicatéri: A Arasita Ao Aufaque, meus filhos que gostaria nao vissem nunca 0 que papé vin em Montepuez Caso Montepuer ~ Gra reportage PREFACIO O livro que caro leitor tem em suas méios néo se'pode chamar de uma obra literdria, na verdadeira acepgdo de palavra. E, no entanto, uma prosa jornalistica onde se denota um esforco de narrativa préprio de um repérter que viveu de perto os acontecimentos que resultaram na morte colectiva de quase uma ceniena de cidadzos directa ou supostamente implicados nas manifestagées anti- governamentais, organizadas pela Renamo-Unido Eleitoral no {fatidico dia 9 de Novembro do ano 2000, naquele que sempre foi a pacata cidade de Montepuez, a 210 km a sul de Pemba, provincia de Cabo Delgado. E uma prosa de facil leitura, como alids 0 so todas as pegas jornalisticas, sem metéfora ou recurso és chamadas figuras de estilo. E um livro que, tal como uma boa prosa jornalistica, assenta em fontes vivas, crediveis, e, como tal facilmente verificdveis. Trata-se, como se diz na gtria jornalistica, de uma “reportagem de fundo” , onde sobressai o relato circunstanciado dos factos que a corporizam, convidando de mancinko o leitor a reviver quase virtualmente o ambiente que envolveu os acontecimentos objecto desta rosa; dat que escrever bem ndo seja sindnimo de “dicionarizar” a palavra e 0 verbo, Pelo contrério, tanto a palavra quanto 0 verbo devem ser simples e directos para que a mensagem sem meselas de “erudigdo” que o autor usa, da primeira a tiltima pagina, adopta-se ‘erfeitamente ao estilo de grande reportage que constitui o primeiro “parte” de Nacuo fora das paginas quotidianas do “Noticias”, seu berco nestas lides de “escreviver” que é uma constante de alguns de 10 Caso Montepuez ~ Grande reportagem nd que sabemos fazer pequenos nadas que se publicam no n° 55 da Rua da Lapa, seu bergo... Como colega mais velho e quigd pouco mais experiente que 0 meu amigo Nacuo, restam-me apenas palavras de encorajamento na certeza de que no futuro podemos ter um escritor e jornalista, sem prejuizo da sua primeira funcdo que é ade “contador do quotidiano” de todos e de cada mogambicano. Bom proveito caro leitor Benjamim Faduco Jornalista, colega e amigo do autor aso Montepuez Grande reportagern oO Primeiro Crime ul 13 Esquecera-me que no dia 27 de Outubro, Manuel de Lima Mario, representando a Associagio dos Desmobilizados de Guerra (AMODEG) convocara a Imprensa na “2397" da Avenida 25 de Setembro, sede da Orgunizacio, para, entre muitas coisas falar da manifestagdo que se agendava para Novembro. De Lima dissera ento que naquele momento pretend falar 2 nagfo sobre as medidas preventivas conta possveis Aistarbfos no scio dos desmobilizados. Foi interessante ouvir isso da boca de um candidato derrotado para “presidenciais” do municipio de Pemba, nas primeiras eleigies autérquicas, em 1998, Manuel de Lima concorrera como independente Na conferéncia de Imprensa, De Lima diz. que os desmobilizados no vio aderir as manifestagGes politicas, porque a sua organizagio privilegiavaa resolucdo dos conflitos por via negocial, através doalcance de consensos, porque o pais, sendo dos mais pobres do mundo} emprestando um quadro desolador a nivel econémico,-nio se deveria acrescentar a isso, a guerra ou qualquer tipo de destruicao. Eles querem nos divicir, disse, para alcangarem interesses que no tém naéa a ver com aqueles que lutaram, tanto de um como de outro lado, sendo por isso vitimas de interesses obscuros que muitas vezes no tém nada a ver com a defesa da Patria. © partido que atigar, advertiu De Lima, a nova guerra, seré vitima das suas préprias forgas, mesmo aquelas que ainda detém armas em defesa dos seus responséveis, nao vao aderir. Nunca serviremos de novo, interesses alheios as nossas vidas, terminou o orador, dizendo estar a falar em nome de 180 desmobilizados de ambos os lados (Governo e Renamo), que se encontravam entdo desocupados. Disso me escuecera, como disse, Esquecera-me, igualmente, que estava, 12 dias depois, na uinta-feira esperada em todo o pats. Néo havia raz6es para pensar nurd —_—— dia especial, afinal, manifestr-se em si ndo tinha nada de anormal. Estava a memorizar textes no Telex, quando Paulo Ali, meu colega fa Dologayas do jomal vhataa w minha miaiy direot eolabarnorn, Pascoela, porque pela Avenida 25 de Setembro vinha um mar de gente em direego ao centro da cidade. O mar de gente j6 estava junto a Praga os Herdis Mogambicanos gritando palavras de ordem e reclamando votos pretensamente roubados. J4 se aproximavam do escrit6rio do “Noticias”. Foi quando me lembrei de que, afinal,estava no dia 9 de Novembro. Continuei, mesmo assim, sem ligar 2 nada e envolvido na correcgio automética dos textos que & T-1200 ia armazenando, O mar de gente, entretanto, era esperado'na rotunda e esquina entre a 25 de Setembro ¢ a Avenida Eduardo Mondlane. Eram policias armados a arent sinal para que os protestantes continuassem oiseu caminho sem desviarery pela Eduardo Mondlane acima. ‘A marcha ficou momentaneamente barrada pelo cordio dos agentes a Lei e Ordem, para logo a seguir ser furado pelos manifestantes aparentemente furiosos 40 mesmo tempo que se ouvem os primeiros tiros. Erami balas de treino,falsas. Peguei no meu bloco, esferogréfica e © pequeno gravador. Foi apenas dar uma volta e apinhar-me entre 03 manifestantes para ir ver a situagio de frente, colocando-me entre 08 policias e o mar de gente. ‘A agitagdo cresce quando os manifestantes descobrem que as.balas aio eram mortferas. Vamos, estas balas nfo matam a ninguém, grta um manifestante aos meus ouvicos, mais para os scus coreligionsrios que se iam dispersando aos primciros tiros da policia. Voltaram a juntar-se, desta feita pelo passeio junto a dependéncia do Banco Standard Totta, a seguir no vizinho Banco Austral, com inteng6es claras de quererem usar a Avenida Eduardo Mondlane que passa pelo palicio do govemador provincial. Os policias ficaram “tocados” pela ousadia, vai daf verem-se homens «4 empunharem as armas qual se faz.em pleno combate, De longe Narciso ‘Razo, um adyunto do superintendente da pollcia, mais eonheeldo pela alcunha CIDADAO, dirigia e controlava a forga de protecgio, departamento de que ¢ chefe. Fazia-se transporlar num carro da corporagio e de repente 0 repérter vé que da mesma Viatura'saem balas para distribuigdo pelos agentes em ac¢lo. Pedimos ao CIDADAO para que dissesse 0 que estava a acontecer, ao que respondeu: NAO POSSO Caso Montepuez ~ Grande reportagem 15 DEIXAR O EXERCITO PARA RESPONDER A IMPRENSA. Rimos. ‘As balas acabadas de distribuir comecam a ser usadas contra o maior distico do mar, de gente. Ficou furado repetidas vezes até 20, imeconhecfvel. Chamou a atengio 0 facto de que, desta vez, as balas cheiravam a p6lvora. Eram verdadeiras ¢ na insistencia em no acatar a oordem de parar com a marcha ou prosseguir pela avenida da qual vinham cos manifestantes, um deles 6 atingido na pea e na regio do abd6men, transportado imediatamente para 0 hospital provincial. Isso mobilizou 0s rep6rteres que ae fizeram aquela Unidade Sanitéria no mesmo minuto que 0 carro que trazia o ferido. © resto dos manifestantes, ante aquela realidade, dispersou-se indo colocar-se um pouco ao longe, debaixo duma frondosa drvore, junto a0 jardim infantile ainda outros acotovelaram-se na varanda do escritério da Delegagfo do “Noticias”, onde pouco tempo depois seriam, escorragados. Seguiv-se a curiosidade jomalistca de querer saber como as coisas estariam no resto da provincia, Puxo a agenda ao encontro de mimeros de telefones das sedes distritais que me pareciam mais, ‘vulneraveis. Pelo 44.000 falo com Le6ncio Julai, administrador de Chitre, sul de Cabo Delgado, fazendo fronteira, através de Namapa, com a provincia de Nampula. O dirigente diz que pelo menos até & altura do nosso contacto a atitude da Renamo havia sido cooperativa pois aceitara corrigir a traject6ria que inclufa a passagem pela administragio e zona comercial que se pensava viesse perturbar, tendo se feito apenas pela Estrada Nacional, até ao Bairro Muajaja Pelo ntimér0 47000 das TDM consigo entra em contacto com Mecuti, 50km ao encontro da costa maritima. Magido Ali, igualmente administrador distrital, disse nomeadamente que os manifestantes, marcharam, grtaram as palavras que Ihes convinham e foram-se embora sem provocar nenhum distirbio. Do outro lado da bafa, Pemba-Metuge, asecretéria que me atende na secretaria da Administraglo informa que a marcha estava a ter lugar na Sinica artéria ali existente, que é,afinal, a estrada que vai até Quissanga. A propésit, era imperioso contactar Quissanga, mas néo estava ninguém; alifs no foi possivel o contacto; saltei para Mocimboa da Praia. Os manifestantes aqui estiveram aglomerados diante do nosso edificio que fica também a escassos metros do Partido Frelimo, responde o operador das TDM, na manh daquela quinta-feira. eo Caso Montepuez ~ Grande reportagem Montepuez?! Nada! De novo uma ligagao para Quissanga, para ouvir 2 policia a dizer que os manifestantes haviam assaltado 0 edificio da Administracao Distrital, A fonte ‘alow em 4 feridos em resultado da ‘entativa de dispersto dos insurrectes pela policia. O adhninistradorestava 4 descansar no palicio, depois do ambiente agitado e tenso. Mlacomia, quem responde é o oficial das TDM que diz: aqui eles s6 olocaram fotografias ao lado da Administrago, amotinaram-se até as 24horas, altura em que se retiraram, mas hanve ewan tampa dle dieparoe ue cessaram logo a seguir, porque os manifestantes cumpriram com a saida do local que a policia estava a proibir, Montepuez?! Nada! Parese que os funcionérios das Telecomunicagées sairam por motivos de seguranga, pensava, Mais uma ronda pela cidade de Pemba, a capital provincial, um ambiente de medo, de desolagdo, Agostinho Romio Simbe, (que Deus 0 tenha), comandante provincial da PRM, anda doente, mesmo assim vimo- Jo na posigao da sua forza junto ao palicio do governador, trajado a civil, um fato de caqui ameticano, escoltado por um ntimero nio vulgar Ge agentes seus. A posigdo que visita esté igualmente armada como se se tatasse de uma verdadeira guerra, Véem-se MGs, bazookas e morteiros frente ao palacio. reporter regressa & Redacgic ainda sem ter a ideia definitiva do “Iead”” que teria o texto a cnviar & sede do jomal. Ha, ao mesmo tempo, ‘murtas nformagoes que urge confirmar, algumas das quais contraditorias. Entre os manifestantes havia quem portava uma arma de fogo, diz. a policia. A arma de fogo havia sido arrancada a um agente da policia, izem os manifestantes, Assim nfo ha satisfagéo, principalmente porque ainda nao tenho informagées de Montepuez, Aos pingos, entretanto, comeca-se a ouvir que o admi Germano Joaquim havia sido feito refém, na companhia de dois poticias, para além de terem assaltado a cadeia local donde retiraram todos os presos. Em Balama a polfcia confrontou-se com manifestantes do que sesultou trés mortes. Prontos, a tarde vai alta, ha que chutar o texto e os elementos existentes acham-se suficientes para a noticia tomar corpo. ‘Vamos aisso: “Tés mortos ¢ cerca de de2 feridos 6 0 balango do confronto havido entre os manifestantes da Renamo-Unido Eleitoral e a policia na provincia de Cabo Delgado, a avaliar pelaé informagdes de que dispimhamos até ao prinoipio ds tarde de ontem. Os wes mortos Caso Montepuez ~ Grande reportage 17 reportados pela polfcia sao do distrito meridional de Balama ¢os feridos de Quissanga e cidade de Pemba, dois dos quais a merecerem cuidados intensivos..." vidas no.testam de que dali em diante e, certamente por muito mais tempo, 0 tema a actualizar era a manifestagio de 9 de Novembro. Era preciso apurar 0 ouvido e a vista para nfo escapar nenhum dado substancial, porque tratava-se daqueles acontecimentos que se comportam come acldentes trdgivos vomo forravidtior, naufiégion ow moeme terramotos. Em cada momento espera-se mais algum entre 0s escombros, pelo que os némeros nio sto definitivos. A noite foi passada em branco dada a ansiedade profissional de querer saber mais, e a dificuldade hhumanamente justificivel de nlo ser possfvel estar ao mesmo tempo em toda a provincia. Que amanhega para sabermos mais, era o desejo, Caso Montepuez — Grande reportage. Montepuez Vira Nacao Grande regortagem 21 ‘86 as 14 horas do dia 10 de Novembro, imediato ao 9 fatidico, é que foi possivel entrar em contacto telef6nico com Montepuez. Afinal, a central Local, acabada de inaugurar a escassos meses, havia sido evacuada. funcionério das TDM, entio contactado, contou que o edificio novo havia somo uma destrutexo pela mao dos mantfestantes, que sc estava a funcionar com recurso a0 tnico telefone da antiga central. A nova estagio terrena ficou sem os fios, porque foram arrancados. Os manifestantes exigitam chaves ao supervisor da agéncia de Montepuez ¢ fizeram lé dentro 0 que quiseram. Depois fizeram-no refém tendo-se escapulido quanto'os revoltosos assaltavam a Administracdo. Varios documentos foram extraviados. . palacio do administrador distrtal foi também Yandalizado pelos manifestantes, muitos dos quais empunhavam armas de fogo. Nao escaparam a destruigdo 0 mercado central, a cadeia e 0 comando distrital da PRM, Os bers roubados, incluindo armas retiradas da arrecadagao do comando da polfcia foram transportados numa viatura da UDAAS, havendo, porém, informagdes de que alguns dos quais estdo a ser devolvidos. final, Germano Joaquim nfo se achava presente aquando da manifestagio, Fora, em missio de servigo a Nampula participar num seminério. Quem se julgava raptado € feito refém era o seu director distrital de educago, Félix Adelino, que sempre o substituiu quando auscnte, cutretaute sao ¢ salvo, refugiaio numa casa de um conhecido. © némero de mortos que algumas informagées fixavam em 12 subira para 16, segundo confirmagdo das autoridades sanitérias locais, 0 ambiente era de constemagao ¢ Into. Ainda havia feridos naquela tarde em que familiares de algumas vitimas mortais reclamavam os corpos dos seus entes. O hospital estava a enfrentar caréncias acentuadas de 2 _ Caso Montepuez - Grande repertagem sangue para socorrer feridos graves e niio havia resposta positiva aos apelos para a doacio ao mesmo tempo que aumentavam os receios de que o nimero de mortos pudesse subir mais Fen preaiee junter muita rapidamenta baine alamonton pare nt dia seguinte abrirem a pagina 3, em forma de noticia/reportagem. E 0 que aconteceu e cada vez mais ficava a ideia de que mais vezes podertamos escrever sobre Montepuez, ‘Ainda em Pemba, com efeito,saimos a rua para ouvir que os membros da Renamo que estiveram na manifestaglo daquela quinta-feira, maioritariamente trazidos dos postos administrativos de Murrebué, distrito de Mecufi e Mieze, em Pemba-Metuge, haviam sido mobilizados 2 lem a capital provincial receberem o lider da organizaglo, Afonso Dhlakama e nio para mafchar contra o que fosse. Disseram-nos que 0 nosso presidente chegaria na quinta-feira e como tem acontecido sempre, Vieram-nos buscar para ecebé-lo condignamente. E por isso que viemos za véspera ¢ passamos toda a noite a cantar e dangar em preparacdo da recepgao do chefe, AA fonte que foi interpelada no Hospital Provincial, onde visitava familiares seus feridos c ali internados, ndo deu o nome do responsével a Renamo que teria ido a Murtebué mobilizar nos termos ats referidos. Quando amanheceu, prosseguiu, comecamos a distribuirmo-nos os Aisticos cantando e danando, mentalizados que a Policia nfo faria nada contra nés, razo porque mesmo depois das primeiras balas no nos assustamos, sabiamos que no matavam. (Quando a marcha passa pela firma Osman Yacub,o participante aqui citado sentiu que o quadro jé era outro, contrério a0 que se havia desenhado previamente, Tentou-se invadir 0 estabelecimento, alegadamente porque se tratava de uma sociedade ém que o Presidente 4a Repiblica tem acgdes, facto pronta ¢ posteriormente negado por Cassamo Selemane, trabalhador sénior da mesma c que foi na cireunstincia molestado até que um deles reprovou a atitude dos seus colegas no desfile, "Esta revelagao veto, mals tarde, juntar-se& inforniagdo de que a maior parte das pessoas que se manifestaram em Montepucz provinha dos postos aadministrativos de Nairoto e Mirae, 40 quilémetros de longe em relaga0 a sede distrita, razdo porque estava a ser dificil localizar os familiares das vitimas mortais cinteressados em doar sangue para salvar os feridos. Caso Montepuez - Grande reportagem 23 Escrevo na tarde do dia 13 de Novembro, segunda-feira, para ser Publicado na quarta-feira, Junto a isso a informago de que, mais uma vex, o niimero de mortos se havia elevado, desta feita para 32, com 0 porvciments de mais porous 9 que havia doontes evacuation tanta pare © Hospital Provincial de Cabo Delgado, como para o Central de Nampula, a corresponiler com a delicadeza do seu estado de satide. A policia jéestava a efectuar detengdes, tanto nos bairros periféricos dacidade de Pemba como em Montepuez, daqueles directamente ligados #0 acto que foi cousiderado mais tarde ilegal e sobretudo repugnante. Viaturas da corporagio cruzavam a cidade apinhadas de detidos em ireeglo & esquadra ou a0 Comando Provincial. parece o Procuradot-Chefé da Repiiblica, em Cabo Delgado, Arone ‘Nhaca, a prometer que seria reatado o julgamento dos primeiros 79 individuos nas méos da policia eafirma haver instrug6es para a detengio de outros tantos, principalmente em Montepuez, onde ainda se pensava haver antigos guerrilheiros da Renamo armados. Um nome, entao salta para a lauda: Secundino Manuel Cinquenta. Trata-se de um funcionério, segundo informagdes mais tarde colhidas na Direcgo Provincial das Obras Pablicas, que chegou a ser chefe do Departamento dos Recursos Humanos, mas na altura estava afecto ao Departamento de Eaificagbes. Estava a set procurado por ter sido ele, na convicgdo das autoridades, que vindo de Pemba organizou os manifestantes em Montepueze na sua fuga terd deixado cair a sua agenda onde constava um plano militarmente elaborado, com vista & ocupagao de instituigées estatais naquela cidade. Hoje mesino voltarei pela noite dentro para a Redacgio. Vou buscar ‘mais dados sobre algo parecido com a detengao de um substituto do ‘Comando Distrital da PRM, em Montepuez. S6 assim poderei dormir sem nenhuma divida comigo préprio. Ora bem, jé se confirma que 0 substituto do comandante distrital da PRM, em Montepuez, encontra-se detido por ordens da Procuradoria «da Reptiblica a nivel da provincia, no seguimento das investigagdes em ccurso sobre a violenta manifestagio que a Renamo-UE protagonizou, ha perto de uma semana, Trata-se de um novo dado que desponta com caracterfsticas de traigdo, sc bem que mais agentes da policia, de patentes relativamente superiores, esto a ser procurados & luz de maridatos de captura emitidos, igualmente, pela Procuradoria na provincia. AS investigagGes tém estado a encontrar alguma conivéncia de certo wa ___ Caso Montepuee ~ Grande reportage sector da Policia, razo porque, segundo se aventa, tera sido aparentemente fécil a tomada temporéria da cidade de Montepuez, bem assim 0 acesso ao paiol da Policia, Enguanto isso, o delegado politico da Renamo em Montepuez, Joko ‘Maulana, que se pusera em fuga aquando da presenga do contingente policial ido de Pemba, para reforgar a profecgaa da cidade, entregou-se as autoridades judiciais. Maulana foi diversas vezes citado pelos seus correligionatios como tendo sido ele a liderar a manifestagao ¢, nas palayras dos deponentes, ele proprio passaria a administrador de Montepuez, assim que o plano fosse bem sucedido e algumas vozes foram ouvidos a dizer que Maulana, naquela quinta-feira, chegou a passar uma refeigdo no palicio do administrador local. ‘Na sua primeira apatigao, Todo Maulana veio com a versio de que a Policia é quem comegou a disparar contra os manifestantes e que o plano de ataque © ocupacao, jé apreendido, tera sido feito a posterior, alegadamente para evitar confusdo a partir de oportunistas. Entretanto, o Procurador-Chefe da Repiiblica, Arone Nhaca, emitiu uma exortagdo aos reclusos que se encontravam a cumprir as suas penas, na Cadeia Civil de Montepuez e que foram soltos pelos insurrectos, a se aproseutarein aa nulodidades. A Precuraduria garuhte que cles nfo sera0 julgados pela sua participagio voluntéria ou involuntéria na mais violenta, manifestagdo de que hé membria, que se saldou em mais de trés dezenas de mortos ¢ avultados danos materiais. © Tribunal Judicial Provincial de Cabo Delgado por seu tuo continua a julgar parte dos 79 detidos em conexio com o crime & soubemos que 0 niimero de julgados j se aproxima’a dezena, havendo Jfcondenados a penas que variam entre 2 ¢ 4 meses de prisio efectiva texto acabaria por ser publico no dia 16 de-Novembro, altura em que me apercebo da necessidade de fazer um trabalho mais circunstanciado, mas que interessaria quando fosse acompanhado pela imagem. Nao tardou que César Bila fosse despachado da sede do jornal para juntos irmos a Montepuez. Foi uma coisa de 24 horas, pelo quie na uarta-feira ele j& se encontrava em Pemba, pronto para 0 que desse © viessb. Tal sianificava ir a Montepuna. Caso Montepuez - Grande reportagem Substitutos dos Substitutos 25 Caso Montopuez — Grande reportagem 27 Antes de tudo, era necessério ouvir as bocas pembenses, certas vezes muito siteis para quem pretende trabalhar um assunto com um ndmero diversificado de fontes. Elas falavam insistentemente da coincidéncia havida no facto de que a 9 de Novembro, dia.da manifestagio, muitos responsaveis encontravam-se ausentes dos seus habituais locais de trabalho, © governador provincial nfo se achava em Mogambique, pois fora a uma daquelas viagens que as vezes trazem investidores. Estava nos Emiratos Arabes Unidos, integrado numa delegagdo de emprestrios € govemnantes mogambicanos. Deixou um director para substituto, naquilo que em Cabo Delgado acostumou chamar-se coordenador do Governo. © comandante provincial da PRM, (que Deus o tenha) estando em. Pemba, embora estivesse sem actividade por justificada doenga de que padecia: no seu lugar o director da Ordem e Seguranga, junto do Comando Provincial, que acabava de vir transferido, e que era 0 chefe méximo. O director provincial da Policia de Investigacdo Criminal, PIC, estava ‘gualmente ausente, Encontrava-se em Portugal para uma dessas viagens que se acaba vindo com mais alguma coisa na bagagem profissional. 0 seu chefe de instruclo representava-o enquanto tudo corria normalmente. 0 comandante distrital da PRM, em Montepuez, esteve em Michafutene, srredores de Maputo, no centro de formagdo dos quadros do ministério ‘aque pertence. Apareceu, por sua indicago, um agente da sua confianca para 6 substituir e chamou substituto, Jé dissemos que o administrador distrital de Montepuez, no dia 9 de Novembro, encontrava-se na vizinha provincia de Nampula, num semintrio de uma organizagao nao-governamental estrangeira que est ‘ajudar alguns projectos em determinados distritos de Niassa, Nampula € Cabo Delgado. O:seu director de educagio, como sempre, € que 0 substituta i 28 ‘caso Montepuez ~ Grande reportagem lista dos ausentes era longa, mas nao interessava ao reporter ter ‘numa altura em que no havia tempo para espebulagées, mas sim para factos no terreno. . a ser substituidos, por outros teoricamente mais competentes, assim que 0 9 de Novembro se ansformou em saugue, vioieneta, desordem € medo. Estivamos, eu e 0 Bila, na boleia do principal substituto, o Ministro das Pescas, Cadmie! Fetiane Muthemba, que recebera ordens de correr para Cabo Delgado, na quarta-feira que calhou a 15 de Novembro de 2000. Vinha substituir legalmente 0 govemador provincial, porque 0 quadro que se havia criado nao se compadecia com acges de um jinior director ou coordenador. Precisava de um homem que desse ¢ recebesse informagdesiorientagdes directamente ao/do Governo Central. ‘A colina era de 11 viaturas escoltadas por policias fardados a pingo de chuva, portantc em campanha, armados de instrumentos que matam de pequeno e grande calibre, com aquela corrente de balas ao pescogo ¢ na cintura, sinal de que famos aonde ainda o clima de guerra estava patente. O siléncio sepuleral dos homens na coluna s6 era contrariado pelo roncar das méquinas andantes a velocidades que variavam conforme ay conaigoes que a estrada FembarMontepuez, permltia, muito antes ta sua reabilitacZo pela empreiteira italiana CMC — Estero, SPA. Todos estivamos nervosos. Confesso que pensei amiudadas vezes quio frégil era a nossa paz, que de um momento para outro se podia retornar a. uni Lalaua 91/2. Um Maluana, Nipatako, Muiravale, etc, Mais nervosos ainda-estavam os motoristas. Nao foi por acaso que aquele a quem Ihe haviam confiado o novo carro.da Direcedo do Trabalho ndo péde travar a marcha e foi embater na viatura que ia & sua frente e por pouco o carro do Partido Frelimo ia comendo o que transportava os jomalistas, nlo fosse a habilidade ¢ destreza do homem do volante que ‘muito rapidamente decidiu desvid-lo um pouco para a margem direita da estrada, Tudo acontecia naquelas covas e buracos, umas vezes imprevistos e outras vézes escondidos pela Agua das chuvas. Pouco depois das $ horas os carros estacionavam frente a0 palécio ddo administrador. Uma pequena reuniao (ou pequeno aimogo) & porta fechada, teve iugar, antes que Cadmiel Muthemba se decidisse'a visitar os pela manifestagao. Havia muito material. Nao havia cra muita capacidade de reunir apressadamente tants e diveisificados elementos, &s vezes contraditérios, para produzir uma informagio a publicar num jomal da estatura do Noticias. A responsabilidade apareceu sem ser dada por quem quer que fosse. Dispensamos a boleia da comitiva governamental para nos determos nos detalhes do acontecimento, dai nao regressamos no dia 16 a Pemba, donde partirfamos para Quissangs. Estava de longe claro que Montepuez erao maximo. Rodamos a cidade, os rolos do Bila ndo acabavam e as canctas do escriba, idem. O bloco de notas, esse ia acabando e molhava-se amiide de suor do seu portador, até que nos pareceu momento para nos alojarmos, de preferéncia no Complexo Zavala, Bairro de Nacate, que informagées diziam ser a proveniéncia da maioria dos manifestantes residentes em Montepuez. Ocolega da imagem ficou rio quarto 1 € a mim coube 2, mas apenas para guardar a pasta, porque tudo o que se estava a passar cA fora era noticia, Preferivel era sentar-se na esplanada, sorvendo um copo de Encanto ¢ saciando-se das novidades que todos os movimentos-das pessoas representavam. Bila quis um banho que fo interrompido porque ‘© chamei de urgéncia, na companhia da sua NIKON. Teve que vir com algumas partes do corpo a deixarem ver a espuima do sabonete e, cis que The apontei a imagem: um mar de gente (criangas e jovens) conduzindo ‘um casal de velhos amarrados com cordas nos seus membros superiores, em direogdo esquadra que funciona junto ao Comando. Ficdmos de 16 para 18 de Novembro. Ninguém de nés sonhou sobre o que viria a acontecer na noite seguinte com 7 detidos na cela da Policia. O faro Jomalistico nem conseguiu aproximar-se dessa realidade, mesmo no dia seguinte, pelo que nada mais substancial havia naquele momento. Alifs, ‘0 jomalista nao 0 é pela quantidade nem qualidade do material que colhe, mas sim pela quantidade e qualidade do material que publica, pontualmente. [Nao era Sabendo que alguént morrera na cela em Montepuez. que no dia 19 me decido a escrever seis laudas do panorama que se vivia naquela pacata cidude. Seno, de chofre, seria noticia que rifo precisasse de tantas Taudas! Penso que néo teré sido, igualmente, por que tipo de telepatia que os editores 56 encontraram o espago para tanto material, todo importante, s6:no dia 22 de Novembro. Era para ocupar duas paginas do 30 Caso Montepuez ~ Grande reportagem PRIMEIRO PLANO. Vamos ler na integra. “Uma cidade sem Renamo fisica, € comg se pode considerar Montarnas e.0 da Nevertire en 2000, Marsbras a rimpatiaanta data partido, empurrados por um punhado de cabecas e ideias estranhas 20 ‘que queriam, entanto que tai, participaram naquilo que foi a mais violenta ‘manifestagio jamais realizada no territério nacional, que nada teve de diferente com uma verdadeira invasio por uma forga armada. Desde entio os mogambicanos pertencentes ao partido da perdiz ou fagiram ou esconderam-se, por um lado pelo peso da responsabilidade ‘moral e material que a consequéncia da manifestagao Ihes mostra a olhos vistos, por outro lado, porque como Ihe compete, a autoridade institutda cesté 2 exigir a explicacdo legal de tamanha crueldade. Hi, entretanto, 0 que se pode considerar de excessos, mesmo das autoridades, sobretudo quando admitem que a caga ao homem passe a ser a forma de ir neutralizando os presumiveis participantes da manifestagio. & que quando a tarefa se dé aos responsaveis dos bairros, tal como assistimos, comega a vinganga interpessoal, nalguns casos sem nenhuma relagdo com a participagdo ou nio no acontecimento do negro 91de Novembro. Na verdade, hoje em Montepuez, sio vizinhos que identificam determinados membros da Renaino ¢ véo dai amarré-los e conduzi-los ‘40 Comando da Policia da Repiblica de Mogambique. O trabalho politico € mobilizativo parou, dat no seja possivel travar tais procedimentos, por isso Montepuez é uma cidade fantasma, abandonada mesmo, preque cada um nio sabe se pode ou nio ser confundido com um membro da Renamo ou com quem esteve na manifestagéo. << Vai levar tempo para que as pessoas se esquegam do fatidico acontecimento. Ainda ha marcas, hé pessoas no hospital, como quatro agentes da Policia que na altura da nossa presenga acabavam de assistir morte de mais um seu colega, na enfermaria, o agente Xavier Tuahir, Num cantinbo, uma cama hospitalar, ooupada por um outro agente da Foucit, Albino Adeling, que em primeira pessoa acredita no poder mégico que os Naparamas tm. Nao entende como nfo conseguiu abater ninguém e acabou sendo capturado. Estavamos convencidos que a manifestagdo consistiria, como sempre, num desfile e concentrago em determinado local para falarem o que quisessem, diz o agente da PRM. Case Montepuez - Gronde roportagem 31 No entanto, prossegue ele, tempo depois ouvimos disparos de uma arma de fogo. Osubstituto do comandante sugeriu que entrssemos, igqualmente em acelioy mas estando 1é o adiunta de auperintendente de nome Angelo, este disse para nfo nos envolvermos em tal aventura, porque seria diffeil saber como 0 grupo contrério estava Preparado. Entiio disse: nés que estamos aqui no Comando, nao podemos disparar, mantenhémo-nos aqui no nosso posto. Mas 0 fogo ja estava a intensificar-se e cada vez mais a aproximar-se do Comando, © nosso interlocutor, na companhia de um seu colega, pretenden ir roteger a zona da Escola Secundéria e do Lar dos Estudantes, quando ‘vé um numerose grupo de pessoas, a maior parte delas empunhando armas, ‘Também pus-me a disparar, mas falando a verdade, acabei todas as balas da minha arma e eles no morriam, vieram apanhar-me comegaram a espancar as partes mais sensiveis do meu corpo Jevaram-me a delegagio deles. No Comando da Policia a selvajaria esta patente em tudo 0 que-6 canto. Desde agentes mortos, aos processos espalhados € rasgados. Montepuez, que nunca sofrera: uma acgZo armada, mesmo durante a guerra dos 16 anos, teve a triste recordagao qué hoje pode ser vista também na Caéeia Civil, nas oficinas do Conselho Municipal, Administragao, palécio do administrador e no edificio das Telecomunicagdes de Mogambique. Nas oficinas e parque do Conselho Municipal, trataram de-levar'20 bicicletas apreendidas aos seus donos por falta de diferentes requisitos camarérios, descalgaram a viatura do presidente do municipio, levando consigo os pneus depois de partirem os vidros péra-brisas. Adriana Jodo e Fatima Dias, s80 duas funcionarias das TDM, ‘em Montepuez, que sem preverem 0 que aconteceria, se mantiveram nos ‘seus postos até que Viram 0 grupo acercar-se do edificio, Fugiram com ‘outros colegas indo fechar-se na casa de banho. ‘Adriana diz que ficaram na casa de banho das 9 as 18 horas, juntinhos, ‘numa altura em que nem a diferenca sexual comtava. Os manifestantes assaram para a casa anexa onde levaram loiga diversa, carregaram ccarimbos, resmas ¢ trés rel6gios de parede acabados de comprar, © caos reinava na cidade e os alvos a atingir multiplicavam-se, 32 caso Montepues ~ Grande reportagem_ incluindo estabelecimentos comerciais, onde pretendiam comida, cigarros, entre outros produtos. ‘Chegaram aqui e obrigarani-me que lhes desse trés sacos de arro7, am nalio de Glen, um volume de cigarros ¢ a seguir obrigaram-me que fechasse a loja, testemunbou um comerciante. ‘Alima Maita, é natural de Lichinga, provincia do Niassa, veio a Cabo Delgado, precisamente na regido de Montepue7, com o seu marido, que era cagadar e acabou perdendo-o. Vive no Bairro de Napai. Na terca-feira, que calhou 7 de Novembro, um tal Mustafa, da Renamo, chegou a Napai alistou quemideveria participar na ‘manifestagdo da quinta-feira. ‘Como Alima Maita, ha quatro mulheres, Rosalina Lengue diz que a sua mobilizagdo'passou por uma hipotética independéncia nacional que se alcangaria depois da manifestagao. ‘A tal independéncia é esta, diz apontando para uma pequena ferida provocada pelas escaramugas. Aqueles que nos enganaram j4 nao estio aqui, nem sabemos onde foram. ‘Ainda se chora em Montepuez. A 'nossa Reportagem chegou a casa de cada um dos membros da Policia perecidos e encontrou win ambiente de dor, com os familiares a deitarem lagrimas sempre que pessoas cstranhas se thes aproximam, tanto para o necessério consolo como para ‘o apuramento de mais dados a respeito das circunstincias em que 0s seus maridos, pais, tios ou primos morreram. Cerca de dezena e meia de criangas em idade escolar ficaram sem pais, S6 dos agentes da Policia mortos. A lista de vitivas aumentou € ‘muitos projectos caseiros foram Agua abaixo. © Govemo diz. que vai garantir que nenhuma crianga dos agentes ‘mortos em consequéncia dos acontecimentos de 9 de Novembro perca a frequéncia das aulas e acompanharé o evoluir da sua carreira estudantil, tal como Cadmiel Muthemba vincou, na sua qualidade de substituto do ‘governador da provincia de Cabo Delgado. | © jovem Flavio, natural de Tete, encontrava-se em Montepuez no ada viotemta munigestayG0. Esté ali « ostagias, dopois da sua formacio em enfermagem, no centro de Natite, em Pemba, Na sua vida nunca havia assistido alguém a morrer € 0 seu baptismo aconteceu quando teve que receber um ferido grave que 15 minutos depois vitia a morrer. © primeiro doente (ferido) que recebi morreu passados 15 Caso Montopuez ~ Grande reportagem ca de reportag 33 minutos. Foi 0 meu baptism: it megs Fol men bapismo, ao que ge seguirem muitos moras Flavio integrou ainda uma equipa médica que recolhia feridos com a ambulncia existente no Hospital Rural de Montepuez. Conta que cada vez que ia socorrer um doetite, os homens da Renamo revistavam a ambulancia para se certificarem que ela nao levava armas, - Numa dessas vezes apontaram-nos o cano de uma arma aqui no escogo. Foi quando vi que um homem, num segurido, pode decidir amorte de um outro homem. Isto aconteceu quando um policia ferido Ja na sede da Renamo, estava a chorar e logo um dos manifestantes- chefe, disses este esta a fazer barulho, acaba li com ele,.: segui ‘uma metralhada que de facto acabou com aquele agente. Flavio viu também um policia a ser amarrado ao pescogo com uma corda ¢ a seguir ser queimado vivo, ¢ exclama; naquele dia eu no entendo como escapei! Deixemos disso, vamos ao quartel certificar se de facto hi armas que estiveram nas mos dos insurrectos. Estamos habituados a que “quem conta um conto aumenta um ponto”, Bila incarisével, quem éramos nés oer sr seas fasta nina (cansa-se) se sem sermos vgindos Delos nose hes + 6s préprios, que estivamos a trabalhar et total de 8549 munigbes 6 quanto o quartel das FADM recebeu ao dia em que nos encontrévamos em Montepuez, : comida para atas qu eda trm sido develvda pelos homes ta Rena, prcizasamentearancadas da Policia, va verdade, tudo leva a crer que, pelo seu estado de enferrujamento, estariam algures ente a stim alg reals durante largo tempo. Porém, apenas uma So 102 armas: 42 AKM, seis semi-autométicas, trés pi 733, uma pistola de sinalizagdo, duas Walters, trés G3. oto FN, cnee armas de caca do tipo 7-7, uma ponto 22 sete Papachas. O perigo est no facto de que, a confirmar-se que as armas provenham de algum esconderijo da Renamo, algures no distrito de Mueda, como transparece, tendo em conta que do pail retirram 153 armas, a ser sim, portanto pensar-se-ia que se esté perante uma situago polvorosa, Quer dizer que nem corresriondem ao total das armas retiradas do paiol €, para mais, as devolvidas poderso no fazer parte das roubadas a Policia, eus, (Css0_Montepuez - Grande reportagem Segundo Crime 35 Caso Montepuer ~ Grande reportagem 37 Gase Montepuer~Grandereporiagem ST Naquéle domingo, que calhou a 19 de Novembro, fomos surpreendidos, quando trabalhando na Redacgfo chegou-nos 0 convite de algumas figuras bem posicionadas no Ministério do Interior e do Comando-Geral da Policia. Queriam falar alguma coisa para o mundo, Como acontece sempre que o's poderes se encontram a nora. Na casa do Juiz-Presidente do Tribunal Judicial Provincial de Cabo ‘Delgado estavam Nataniel Macamo, porta-voz do Ministério do Interior, Jofo Maunguel, outra alta patente da Policia, que na altura nem sabia que depois viria para comandante provincial da PRM, entre outras individualidades que falam alto, Macamo repreende os seus colegas da provincia por no terem levado a Imprensa para o trabalho de hé um dia. Afinal, em Montepuez os altos responstveis da PRM fizeram uma reunifo popular em que se falow das detengdes, a necessidade da vigilancia, entre outros pontos correspondentes ao ambiente tenso em que a cidade se encontrave mergulhada, Disse Nataniel Macamo que populares presentes a reunido haviart cexigido que ds eabecithas da manifestagdo que acabou se transformando- ‘onuma verdadeira guerra que deixou luto ¢ dor, para além de destraigdes de diferentes infra-estruturas, sejam julgados publicamente, Entre eles, Maria Sacur, um nome que salta para o bloco do repérter, pela primeira vez. O orador diz-nos que ela fora citada como tendo sido quem arrancou os érgaos genitais a um policia’que acabou perdendo a vida imediatamente. Disse ainda que no comicio por sie seus colegas rientado, os populares, visivelmente chocados, pediram que do grupo deve igualmente constar Secundino Cinquenta, Joo Maulana e um tal ; Sumai 38 caso Montepuez - Grande reportagem Queremos ver aqui a Maria Sacur, pretendemos saber e entender como que uma mie, uma muther,pode decidir-se a cortar o mais importante para a masculinidade de um homem, foram citados a ‘questionar. Dizia ento que ela usando uma faca de cazinha cortou os Grgdos genitais de um dos agentes da Policia ¢ foi exibindo-os gritando que estava diante de um celular e que estaria a falar com os dirigentes da Frelimo na capital do pais. O seu comportamento considerado sanguinério, conforme ainda o orador daqucla manhd, deixara os residentes de Montepuez inttigados, dai a cxigéncia do julgamento piblico. ‘Nessa altura, ouvia-se igualmente ‘que vozes se levantavam a apelidarem as primeiras penas, 2 a 4 meses de prisfo, como mutto simbélicas. Eu ha anos apanhei uma pena de 4 anos de prisio por um problema simples e pessoas que matam, destrocm, mutilam, privam outros dos seus Srgiios sexuais, apanham simplesmente trés meses de prisio, que justiga € essa, interrogava-se um dos participantes 20 comicio realizado e dirigido, em Montepuez, pela brigada de quadros superiores da PRM. ‘Na mesma conferéncia de Imprensa, 0 juiz José Sampaio, respondendo-nos disse que a actual organizacdo judicifria preceitua que determinado caso seja julgado no local onde ocorreu, mas em contrapartida questdes ligadas a competéncias nao satisfaziam completamente 0 disposto em tal documento legal. No caso, para alguns, 0 Tribunal de Montepuez no era competente, ‘por se utar de matérin quo oabia para além da policia correcional. Além disso, a razo porque muitos detidos se encontravam em Pemba estava no facto de que sendo a cadeia de Montepuez um dos alvos preferidos pelos manifestantes, por isso destrufda, nao havia lugar aonde pOr os detidos. ‘Sampaio, pela primeira vez, disse aquilo que jé despontava da reportageni e que estava escrito, mas publicar-se-ia deis dias depois. H& individuos detidos apenas por serem da Renamo, disse o magistrado, sem terem tomado parte na manifestagdo. Hé provas concludentes de {que muitos nfo participaram na manifestacao, simplesmente detidos por serem da Renamo, riterou, e nesses casos libertémo-los imediatamente. (Omtimero de julgados, ja atingira 08 50, todos processos classificados Caso Montepuer po 39 sumériose de que resultou a condenagio de alguns e absolvigaio de outros. Nessa altura os dados de que disptnhamos eram de 329 detidos, dos quais 156 em Montepuez.’ ‘Nem tudo isso resolvia as dividas que nés observadores tinhamos, Pontos ha verdadeiremente escuros para a explicagdo da forma como ‘Montepuez, com uma facilidade {mpar, foi tomado de assalto pelds manifestantes armados. Estando naquela cidade, a primeira novidade que se dava era de que se sabia, dois meses antes, que um grupo de ‘Naparamas estava a ser preparado militarmente para entrar em acco no dia’ein que tivesse lugar a manifestagdo que entio estava a ser sucessivamente adiada pelo lider da Renamo, Afonso Dhlakama. Seriam ‘lee a ancabegarem militarments a reivindionéio com mais membros da perdiz mobilizados nos bairros periféricos. [Nao deixou entretanto de estranha, igualmente, a atitude dos chefes da Policia que proibiram que os seus colegas entrassem em acgio respondendo ao ataque que estava a ser perperrado pelos manifestantes {que nfo tinham nada de pacifico. A outra penumbra relaciona-se com atitude das Forgas Armadas, diga-se como se disser, a respeito da ‘contengao que tiveram até ver que os seus colegas das forcas paramilitares cestavama ser dizimados por balas assassinas, numa atitude literalmente de invasto. Estas questdes foram colocadas a Nataniel Macamo que considerou © assunto de uma complexidade tal que, afinal as pessoas treinaram “um determinado tempo para poder tomar de assalto todas as instituigdes pablicas. A Policia foi mesmo apanhada em contrapé, principalmente porque nao se preparou para a eventualidade de a ‘manifestagao atingir os niveis de violéncia que atingiu, : Em Montepuez, a Policia diz que nao devia suspeitar de nada porque as associagBes ou partidos tém 0 direito de se reunirem tantas vezes quantas quiserem, sem que isso implique necessariamente uma preparagao de um acto criminoso. Em tudo isto o repérter sentiu muita coisa estranha. Uma conferéncia de Imprensa sobre o que aconteceu.a 210 quilémetros, na qual apenas hé citagoes das palavras dos que participaram... talvez.se tivesse ouvido eu prégrio, pensei, pelo que nio devo alinhar com suspeigdes, corno se eu nfo estivesse em Montepuez para escrever 0 que vi. A conferéncia de Imprensa fica embargada no bloco de notas ¢ na 40 ‘caso Montepus rande reportagem microcassete do pequeno gravador. Buscam-se outras ideias que se referem a recolha do material no terreno pelo jarnalista’e decide-se a eserever: Pela primeira vez emitindo claramente a sua opinito. Podemos er? “Quem vai ganhar com isso?” escolhi o titulo, mas pus-me na sequéncia das minhas ideias no bloco, antes que a T-1200 comegasse € ‘memorizar. De repente decido o contrério, penso que depois de 30 (trinta) dias era preférivel, pois antes poderia acontecer ainda muita coisa ( substiauto do governador provincial com as suas visitas aos locais visados pela manifestagdo. J4 esteve' em Quissanga sem ter sido acompanhado pelo repérter do principal matutino do pais, nfo havia, desde logo, muita importincia que suplantasse ao que Montepuez pode orpurtens, Anata val a Dalaste, Joulderme igualtnente por nile in Ne ‘quarta-feira vereta mancira como o jornal trata do assunto para saber se vale a pena prossegui-lo. Nem sei o que perco em nao acompanhar 0 governante a Balama, Nao tanto por este lugar, mas, de novo por causa de Montepuez. ‘Como todas as vezes em que um repérter esté bem disposto, mesmo estando em Pemba, hi aquele hdbito de uma vez a outra ligar para diferentes pontos, apenas para um como est. Umas vezes paraas figuras piblicas, mas muitas vezes para amigos que fazem parte do grupo de cidadios pacatos, daqueles que se criam em cada viagem de trabalho {que se faz. Sabfamos que Germano Joaquim, administrador de Montepuez regressa de Nampula. Melhor que ele ninguém me certificaria sobre se 0 substiuto legal do governador teria passado para Balama. Os dirigentes no poder gostam do café de Montepuez, mesmo quando o destino € Balama ou Namuno. ‘Uma vor feminina atende telefone, a quem pergunto se jé era possivel transferir a chamada para a Administragdo, pois tinha informagées de que uma equipa técnica das TDM havia reparado os estragos da rmanifestaglo, — O senhor administradot esté aqui mesmo. — Dé-the 0 auscultador, se faz 0 favor. Germano talvez pensasse que alguém teria sonhado ou até bufado sobre © que havia acontecido. © seu interlocutor nem sequer sabia. ‘Naquela sua voz de trovo, que s6 ela, a vor, e Administrago, pede-me a minha identficagzo, — Aquie familia. Entéo? Para além de tudo, como vai o resto? Soube A ue esteve em Nampula, mas acabei sendo induzido em erro e escrevi no jomal que havia sido raptado. Vai desculpar-me e ao jornal também. Eavida? * ~Tudo mal, ~ Porque? Nio ha moral. Morreram pessoas na cela da Policia, Muitas! Estamos agora nisso. Parece que chegam a 40! ‘Tentou satisfazer a minha curiosidade, pois dava para voltar aescrever, desta feita nfo a opinito cujo titulo continuava gravado no Telex. Com or, final da Adminstegdo, mss embargads de um homem que € 0 responsével méximo de um terrtério amaldigoado, De ionge nao dé escrever sobre isso, vale a pena voltar a Montepuez., ‘mesmo sabendo que estava Id hd dois dlas, pensel, antes de desligar. A! seguir um telefonema da Redacedo Central. O editor tinha uma informagao de fonte muito insuspeita, segundo a qual houve uma morte ‘massiva nas celas da Policia em Montepuez. Faga 0 favor, faga tudo 0 que estiver ao seu alcance, queremos essa pega até as 15 horas! (© que estava ao meu alcance era teleforiar para... saber se seria Possivel falar com o senhor substituto legal do governador provincial. ~ Nao € possivel, ele ndo regressou de Balama, embora a viagem fosse de ida e volta. Recebeu ordens para ficar em Morltepuez, onde ppemoitou, mas ainda é possivel que esta manhi regresse, uma avioneta fo levé-lo em Montepuez, Avionetal!! O.k., 0 que pode ser!? Em dois dias substituto,j4 quer avioneta de Montepuez para Pemba? Olhos para cima enquanto cesperamos pelo tempo. Afinal havia chegado no aeroporto ¢ o pirilampo a Policia nfo evitou que accionasse a sua sirene mesmo ali ao lado da Delegagio do Jomal. Aquilo foi s6 perseguir. Muthemba disse que queria falar as 15 horas do dia seguinte, pois estaria a preparar uma informaco ao Governo Central, Nao foi possivel engolir tal justificagdo. Insistimos e lé acedeu ao encoste e confirmou. Deu o suficiente para escrever. E 0 seguinte: “Oitentae trésreclusos morreram nos tiltimos dias na cela da PRM, ‘em Montepuez, 75 dos quais na noite de terga para quarta-feira, segundo confirmou 20 “Noticias” o administrador distrital, Germano Joaquim. ‘Trata-se de pessoas detidas em conexo com a sua participagto na ‘manifestagéo violenta da Renamo-Unifio Eleitoral. Ainda nfo so claras 42 Caso Montepuez ~ Grande reportayem as causas desta tragédia, havendo entretanto ideias avancadas que se referem a um hipotético envenenamento, asfixia ou ainda um pretenso poder mégico de antigos guerilheiros da Renamo que acabavam de set detidos, entretanto vacinados com a Parama. Tal grupo provinha de Nairoto. ; Cadmiel Muthemba, substituto legal do governador e Ministro das Pescas, vindo de Balama, acabou interrompendo a sua viagem de egresso, Interpelado, jé na capital provincial confirmou os factos. De acordo com 0 governante, ainda é cedoypara deteriminar a causa da morte dos reclusos, razo porque o Governo Central, j4 ao corrente do caso, peditt uma equipa de especialistas para o seu apuramento. Soubemos, por outro lado, que uma equipa proveniente da capital do pais, j4 se encontra no terreno para as autdpsias necessérias, dado 0 facto de muitas correntes'estarem a acreditar num eventual envenenamento. De acordo com outros pormenores relativos & morte dos 83 reclusos, 41 nossa Reportagem soube que sete perderam a vida de domingo para segunda-feira, um de segunda para terga, este em tratamento no hospital local 75 de uma noite para o dia, designadamente, da terga para a quarta-feira. ; No momento em que este trabalho estava a ser enviado ja se encontrava em Montepuez.o Procurador da Repiiblica, em Cabo Delgado, Dr. Arone Nhaca, bem assim 0 Juiz-Presidente do Tribunal Provincial, Dr. José Sampaio. Em contacto com a nossa Reportagem, o director provincial das Prisdes, nesta provincia, disse no ter sido informado pelo seu representante em Montepuez, mas para mais detalhes se dirigia aquela cidade eutiranion para aa inlairar da aoadide. Q nosso jornal prom trazer mais elementos acerca da tragédia, a partir do terreno”. O texto foi chutado as 15 horas, como se vai a Montepuez a tarde? quase impossivel quando se pretende ir de boleia. Amanbi, esperando 0s mini-bus ¢ os autocarros do grupo Mecula, fica tarde demais, porque até 16 j6 haverd muita coisa nova. Rapidamente toma corpo a ideia de alugar um éarro que me levasse naquela mesma noite a dormir em Montepuez, para logo cedo voltar & recolha de elementos noticiosos, desta feita sobre este segundo crime. ‘inguin se pronuncav favor de wh fet abana de 6 ihc de Caso Montecuez ~ Grande ravartauern * meticais. A promessa dada na Gltima linha da noticia acabada de enviar devia ser cumprida, Joao Soares, diz, mas em brincadeira, que 0 seu Ford Leisure, MLV-68-90, pode muito bem chegar a Montepuez. Man- do-o chamar € conversamos a sério. © casro 6 a gasolina, nio tem tido muitos problemas, por isso nfo acho a dificuldade, sendo que, para mim, os 6 000 000,00MT dio muito bem, considerando sobretudo a sua preocupagao, para uma distancia de 210 quilémetros, Eram 18 horas quando tirei o primeiro dinheiro para o abastecimento a viatura,1é mesmo, na viagem para as bombas, Soares atropela uma crianca e 86 depois de resolver o problema é que vem, muito tarde, O carro esti encostado na Padaria Bessa. Estamos a mandar preparar sandes € refrescos para aguentar uma Viagem noctuma para Montepuez, nio se esquecendo, entretanto, do SAFARI comprado no take away. A prinetpio Pareceu que ocarroestavaa obedecer ea fazer favores ao carictr urgent 4a misséo, de fal forma que sonhivamos num jantar em Montepuez (Chegados a Silva-Macua, cruzamento das estradas Pemba/Macomia ou Montepuez/Macomia, salta-nos 0 “capom” da frente e jé tinha alguns arafuusos ausentes do lugar. Era preciso amarrar as fendas com borracha, Os lugares indevidamente apertados, entretanto, comegavam a deixar! escapar a gasolina. A viagem prosseguiu, com algiins de nés a dormir de cansago, quando um colega de viagem descobriu que a viatura estava ‘ander, precisamente nos sitios onde as borrachas mal podiam apertar ‘Vamos morrer carbonizados, gritou, na mesma altura em que todos, c4 fora, andévamos a’procura da areia ‘para apagar o incéndio, numa regio onde sé se podia encontrar ervas’e pogas de gua. O proprio Soares, inexperiente, como depois confessou, quis apagar a gasolina com Agua, © que Ihe valeu ume bofetada de um dos passageiros. A erva, embora muito mal, acabou sendo o remédio, Mas 0 carro, esse nao podia ir mais @nenhum sitio sem precisar de: ‘uma reparacdo, o motor, entretanto, ainda s€ podia aptoveitar Dormimos no carro. Aina aldeia Chimoio, entre Nanjuae Nenhupo Tudo o que aconteceu connosco, afinal, estava a.ser visto pelas Populagdes que ali vivem, nao sabfamos n6s, enquanto nfo amanhecia, Hé regides em que 0 socorro é palavra oca. Talvez, porque ali mesmo se desvia para a famosa‘ aldeia onde se encontra 0 hospital de um médico tradicional, sabe se Id. 44 Caso’ Montopie2 — Grande reportagem Verdade seja dita, ninguém se aproximou da nossa viatura, E eram apenas 20 horas. Mas amanheceu. A primeiraideia era apanhar qualquer ‘carro que passasse por nés, deixando o noss6 avariado a espera do socorro {que 80 poderia vir de Pemba, a cerca de 170 quilémetros. ‘Um camio cavalo, daqueles para transportar toros de madeira foi a primeira sorte, pelo menos nfo estava apinhado de gente, apesar de & « primeira vista nfio servir para transportar quem quer que fosse. Mas n6s podiamos ser até a madeira que todos precisam e transporta-se em carros Que tais. A sorte veio porque o condutor apercebeu-se de que no seria por uma mera neceésidade de chegar cedo a Montepuez que pessoas do nosso estilo precisariam de ir num carro daqueles. Acomodou-nos, felizmente, na cabina do monstro, onde encontramos até uma cama, ‘mantas, e tudo o que se aconselha para camides de longo curso. ‘Umas vezes assustava com a buzina do gigante, daquelas que mesmo ‘98 porcos de Nanhupo nio podem fingir que néo ouvirar. Chegamos, de novo a Montepuez, onde estivéramos havia menos de dois dias, por {sso nfo ser novidade sermos vistos pelos residentes. J estavamos a ser familinees, Primeiro, encontrar os médicos-legisas que se diziam estarem a trabalhar no caso desde o dia anterior, porque para confirmar que houve ‘martes era trabalho feito mesmo em Pemba. Ento hospedados na casa do BCM, num primeiro andar. Em tempo de pequeno.almogo, 0 juiz ‘Sampaio reconhece-nos e nos manda entrar. Havia a dificuldade de aceitar 1 refeiglo, as batas dos trés senhores mandados vir eram nojentas ¢ eles teimavam em se equipar para retomar as aut6psias. O Dr. Filipov, um russo afecto ao Hospital Central de Nampula, anatomopatologista, est a comer A vontade as suas sandes ¢ descobre que nés estévamos preocupados. Cheira bem, disse com humor apontando para a sua bata, quase a sair. Soubemos que.no grupo, para além do russo, estava o Dr. Sozinho Estefanio, cirurgido, e o Dr. Eugénio Zacariss, médico-Yegista, por sinal ochefe do grupo. E este que diz que 86 ag fim da manha € que pode falar para a Imprensa, mas que f6ssemos ver no terreno 0 que estava a ser feito. ‘Um cheiro iisuportivel cruzava o ar de Monitepuez, mesmo daqui da Administragio, Correios Igreja Cat6lica. Eram corpos humanos jé em velocidsde maxima em direcelo & putrefacglo. Se famos para aquilo, 0 ‘Caso Montepuez — Grande reportagem 5 que adiantava recear.... Na verdade, fizemo-nos & morgue, jé com méscaras, mas a vista também nao aguentava a tarefa de transportar 0 que se lhe apresentava a consciéncia do Homem. © Homem sabia que ‘lo eram sacos, eram pessoas que antes estavam vivas. O Homem cesqueceu-se que poderia tomar nota de algumas coisinhas para dizer 0 ‘que viu aos que se encontravam longe do acontecimento: Timidamente, © corpo trémulo, foi anotando o que parecia importante, mas com tudo fora do dono. ‘Ao meio dia, ali, um pouco antes, a equipa € reforgada por perites sul-africanos. Agora sim, ao meio dia, somos dados a saber que aasfixia, causa da morte de pelo menos 75 reclusos que se encontravam’ encarcerados na cadeia da Policia, em Montepuez. A’conclusio € da equipa médico-legista que se deslocou a esta cidade para os exames que se achavam necessérios, solititados pelo Governo mogambicano, Acequipa constatou, nomeadamente, que apesar de os cadéveres se encontrarem num estado de putrefaccao, depois de escolhides aleatoriamente, conseguiu examinar 33 corpos, e dos dados que consegui reunir, segundo conclu, a cela era de 7X3 metros, s6 tinha duas janelas, uma das quais perdialmente fechada e a porta blindads. Na cela estavam encarcerados 94 detidos que na opinito médica, era insuportével. As aut6psias efectuadas a 8 corpos deram para-ver que ¢les ndo apresentavam lesdes trauméticas, mas sim sinais de uma asfixia ‘mista resultante da associago de confinimento e sufocagdo indirecta, Do ponto de vista médico-legal, segundo @ Dr. Zacarias, nfo € postivel constatar o que se cr seja obra de'uma pretensa magia negra. Entretanto, contactados 4 dos 21 sobreviventes da tragédia, apresentaram a sua versio, voltando a ideia recusada pelos médicos. A equipa de peritos {ntermacionais recusa-se a falar, pretensamente porque iss0 6 s6 reservado ‘aquem the contratou, o Governo de Mogambique. A primeira reacgio no terreno, depois de tudo ter sido visto como uma morte de que se deveriaresponsabilizar alguém veio do substtuto, do Procurador-Chefe da Replica, Dr. Alfredo Rimela, que disse que 0" passo seguinte era a responsabilizago, Entdo 0 magistrado havia dits que gstava aberto um processo-crime contra desconhecidos, visando descobrir sob responsabilidadé de quem € que determinado erro ter sido cometido a ponto de 0s reclusos chegarem a perder a vida de forma ‘massiva, sem que ninguém se apereebesse, 46 Caso Montepues - Granda reportagem Por seu tumo, 0 juiz |e Sampaio, acrescentava que dos corpos autopsiados apenas dois se apresentavam com sinais de se terem alimentado nos trés dias anteiores 8 tragédia, Esta versdo reforgava 0 que nos havia dito 0 recluso sobrevivente, que era chefe da cela, de nome J6lio Vieira Lopes, segundo 0 qual, ficamos trés dias sem comer 0s pokcias diziam que estavam a cumprir as ordens do comandante distrital da PRM. Enquanto isso, esto a levantar-se aspectos de ordem legal que apontam 0 Conselho Municipal como tendo infringido certos ‘procedimentos preceituados na Lei e que tém sido normais em situagdes como as que rodeiam os acontecimentos de Montepuez. Diz-se que a edilidade ordenou o enterro de 42 corpos antes que eles fossem bservados porentidades competentes, bem assim reclamados pelos seus entes. Dr. Eugénio Zacarias disse, por exemplo que, nés observamos 33, outros 42 nio sabemos qual fot o destino a que se deu, se terio sido inumados sem observagio médica e nao sabemos a mando de quem. Por esta via, pensa-se em Montepuez que 0 processo de procura de responsaveis pelos erros em cadeia, vai desencadear um trabalho que pode levar tempo, provavelmente mais longo que o perfodo que levaram as detengdes apés a manifestagio da Renamo que teve lugar a9 de Novembro. ‘No terreno continuam especialistas de diferentes éreas de investigacio como forma de permitir a transparéncia que o processo requer em funcdo do comprometimento que © Governo apresentou para a explicagéo dos acontecimentos de Montepuez. que deixaram Iuto em muitas familias locais © ndo 6. Ouvidas as entidades oficiais ¢ cientificamente autorizadas a talar do acontecimento de Montepuez, refiro-me, a este segundo crime, sem ‘querer pér em causa as conclusdes dos especialistas das diferentes areas da Ciéncia, pois nfo temos competéncia para tamanha ousadia, cremos, porém, que para nio faltarmos ao cumprimento da nossa tarefa como jomalistas, devemos dizer tudo 0 que nos parece stil para compartilhar ‘com os noss0os leitores. (Os Naparamas, Nome que o repérter ouviu nos anos 80, primeiros como homens anti-balas que lutavam a0 lado do Governo na guerra que Caso Montepues - Granda raportaem 4 ‘opunha este a0 actual partido segundo mais votado, enguanto una forga de guerrtha. Eim Setembro de 1991, soube-se que, pela primeira vez, as contradigées da “PARAMA” haviam sido detectadas no seio da forga guerrilheira, foi na regio de Kaz1zo, distrito de Murrupula, em Nampula. £ dizer, também no seio da Ranamo, nfo se sabe se por trai¢go ou infiltragdo, havia Naparamas. Au cenas de Kazuzo, vieram a se repetir em Namilaze, Namahia, entre outros campos de batalbs, No caso da cela policial de Montepuez, para além da triste verdade que 6 assist a lo elevado niimero de corpos sem vida, de pessozs que morreram quase ao mesmo temo, uma experiéncia a nlo cobigar, por demais horripilante e extremamante insuportayel, temos para nés que & necessirio dizer que as explicagdts locais da morte daqueles concidados no passam simplesmente pela fata de ar que a Ciéncia encontrou como 2 causa principal e quake tnica Disseram-nos em Montepuez, que 0 nosso mal & que os juristas € 0s especialistas em medicina quer legal quer nfo, no tiveremn, como parece que ficaremos por muito mais tempo assim, nenhuma diseiplina que se detenha a estudar aquilo que eatre nés € chamado magia negra (ou africana). E tal como os letores se devem ter apercebido, o primeiro a pensar nisso, no caso de Montepuez, é oagente da Policia, Albino Adelino, que falando a nossa Reportagem, muito antes da tragédia dos 83 reclusos que morreram nas celas da corporacdo, disse entto que havia acabado 0 carregador de munigécs, disparando para a multidao que atingia, mas as, balas nio penetravam em seus corpos. Adelina, ao fim de 30 balas, foi apanhado a mio e seguiu-se o ajute de contas que hoje ainda The mantém intemado no Hospital Rural de Mantepuez. Eram os Naparamas, segundo a crenga local, e no $6, Os relatos dos reclusos sobreviventes & tragédia dos 75 ou 83, slo de novo muito contundentes quando falam de uma possibilidade de a tal magia ter contribuido para a morte, a0 lado da fome e da falta de ar, segundo contam quatro reclusos que ouvimos no terreno. Primeiro que tudo falam do liquido pegajoso que invadiu a cela até atingir uns centimetros ao enconto dos tornozelos, depois 0 fumto, assim ue entrou o grupo dos “Naparamas”, proveniente de Nairoto. Eles, segundo sio citados, disseram que dali a pouco morreriam, mas que havia outros que os viriam substtuir 48 Coto Montepuez ~ Grande reportage ‘A confusio que se gerou a seguir, de acordo com os nossos interlocutores, foi de tal modo indescriivel que nao parecia mua simples procura de ar. O siltimo dos quatro sobreviventes, contactados diz que, Jovem que é, nunca tinha visto o que pensa ter visto, bem como acha que se algum dia lhe disserem que os sews colegas de,cela, na sua maioria Naparamas, nfo morreram, era capazde aceitar. ara a Justiga, segundo resposta do Dr. José Sampaio, nio se vé a racionalidade deste fenémeno, por is ndo se pode pegar num assunto que se querunalisar a luz do ordenamento jurdico que o pais tem. Para & medicina, de acordo com o Dr. Eugénio Zacarias, em ternios de medicina legal nao tem cabimento a referéncia a tal fen6meno. A pancadaria gerada e de forma indiscriminada, incluindo sexos puxados, cencontra explicagdo no recurso ao facto de que qualquer situagdo de isputa pelo ar, mma circunstincia de afligdo colectiva ha excitagdo € traz revolta colectiva em todos os que necessitam do ar para viver. Portanto nao hé quem, hoje, possa dizer nfo ou sim a existéncia de tal fetigaria, porque os estudiosos que temos ainda-ndo descobriram a racionalidade dese fendmeno, muito embora, sendo afticanos, alguns se dirijam, vezes sem conta, ao poder desconhecido para resolverem uma variedade de afligdes das suas vidas. E vai levar tempo, até que tenhamos cientistas também para estudarem essa outra realidade. 1H4 muitos comentarios que retomonas minhas reportagens, hé mbitas ‘versGes, mas essa tarefa ingrata de s6 falar dos outros, dé lugar a que ‘exprimamos a nossa maneira de ver as coisas, conjecturar, 0 que néo estou a fazer em todo esse perfodo. Agora que passaram trinta dias sobre ‘© acontecimento fatidico, vejo-me na possibilidade de, friamente, “ver” Montepuez como quem esté aqui todos os dias. J disse a alguns amigos ‘que corro 0 risco de me casar aqui por causa do caso que s6 ele, chama- se Montepuez. Tenho estado a ler jornais que nunca cé estiveram a fazer as suas interpretagbes, muito longe do que esté aqui a acontecer, néo encontro ninguém que esté a analisar o caso de forma desapaixonada, até aqui. Devo fazer um meu apontamento, dirigido para os Partidos Frelimo e Renamo, que representam a maioria do povo-mogambicano ¢, provavelmente, os tnicos responséveis deste acontecimento. Letnbro- ‘me, agora, que estava para escrever perguntando QUEM VAI GANHAR COM ISSO, quando interrompi, mas 0 t{tulo ainda mantém-se 6280 Montepuex ~ Grande reportagem 49 memorizado no Telex. Ok, era porqus, enquanto o substituto do governador provincial visitava os locais visados pelos manifestantes, entdo em Balama, acabéi recebendo a roticia da morte de detidos na cela policial de Montepnez, 0 que aquichamo o sogundo crime. Vou continvar a pensar conforme o meu titulg entao proposto. Com efeito, volvidos trinta dias bre a data das sangrentas ‘manifestagdes da Renamo que tiveram ligar em varios cantos e que Montepuez. € 0 exemplo celebremente trite, por ter envolvido 0 uso da forga para a tomada de assalto a algumas instituig6es estatais, hoje pode se dizer que a ninguém serviu o resultada ‘Acabo de regressar de mais uma viagem a Montepuez, das tanias feitas por quase todas as instituigdes e aganismos interessados, ¢ nés fizemos do local quase nossa machamba.Continua a ser a Assembleia da Repiblica quem ainda nao se fez Aquéa cidade meridional de Cabo Delgado, porque demorou miiito para sedecidir. (O quadro criado, todavia, primeiro pelamanifestagdo em si, que levou 8 morte de mais de 40 pessoas, incluindo agentes da Policia da Reptiblica de Mocambique, depois pelas subsequents deteng#es que abarrotaram as cadeias de gente que depois viria amorrer em massa, continua desolador. Agora que houve mortos, ¢ mares gratuitas, nfo adianta que 08 o€rebros de alguns partidos, se apresestem orgulhosamente perante 0 pblico, nem para arvorar maiorias e vitéias nem para comegar a pensar que em resultado do acontecimento triste poderaio ter tido mais pontos acima, A verdade ¢ gue todos perdemos, tasta chegar a Montepuez para nos apercebermos disso. Se algum dia a’Renamo-Unio Eleitoral pensou em, a partir da manifestagdo-impor a sua autoridade, ainia que simplesmente politica (© que nio aconteceu), 0 sangue que se verteu no dia 9 de Novembro nio vai, nunca, ajudar a dar esse passo. Cala morto deixa gente pensante que muito facilmente ge lembra de comeas coisas comegaram. Nao Por caso que os nossos entrevistados, memo antes das mortes massivas nas cadias da Policia, disseram-nos quenunca sabiam que a Renamo 0s levava a tio extrema situagio, que sabaria na morte de pessoas, incluindo eles préprios, bem assim de ouras na prisio, Nao € também por acaso que a banieira da Renamo sumiu dos mastros, no caso da Delegagao Politica, em Montepuez, o arrendatério doedificio que servia de sede, depois dos contecimentos aqui rferidos, 50 portacern decidiu rescindir do contrato de fxma unilateral. Ficou uma Renamo que d4 medo e pertencer a ela passmu a ser um risco. No caso em aprego Ido se sabe se 0 partido da “perdiz” ganhou mais pontos ou perdeu Lantos. O mais provavel é ter perdi, E quando a Renamo perde, quem nna verdade perde... somos nés. Se algum dia a Frelimo esteve sossegada em Montepuer, depois do dia 9 de Novembro de 2000, o quadro niio-continuow o mesmo, apesar os relat6rios epronunciamentos que muitas vezes server para embelezar 40 gosto de quem se pretende infommar a nivel central, o que é mau. ‘Na verdade, em Montepuez.quatdo a Policia admitiu que os populares podiam localizar os manifestantes para deté-los ¢ investigé-los como se achava pertinente, do grupo de populares ressurgiram os Grupos Dinamizadores e abriu-se a brechs de caga ao homem, mesmo aquele que nio estivesse na manifestagao, mas pertencesse & Renamo. Coni tal ctitude, resultante, sobretudo, dos animos entéo prevalegentes, o partido no poder, igualmente, perdeu aqueles que, descontentes com a actuacdo da Renamo no dia 9 de Novembro, jé ‘pensavam em se casar com 0 partido maioritirio de Mogambique. Tanto ‘num como no outro lado ndo so poucas as pessoas que se sentiram lesadas por causa destes dois grandes partidos, se quisermos ser sérios na andlise que pretendemos fazer. Quando falimos de pessoas estamos, como Obvio, a falar de votos dos familiares daqueles que morreram em consequéncia de uma atitude planificada por quem sequer ficou ferido e continua a usufruir de uma vida exageradamente desafogada, como € 0 caso dos mentores que em algum palécio ou mesmo na Assembleia da Repiiblica, programaram a morte de pessoas. ‘A ninguém fica bem 0 que esté a acontecer depois do dia 9 de Novembro. Uma situagio de guerra de verdade, s6 comprovavel por quem hoje vai a Montepuez. Nao hé, aparentemente, tensio que se veja, ‘mas ndo se pode dizer que a situagio voltou & normatidade, muito embora se possa afirmar que regressou & calma. As palavras calma, normalidade e tranquilidade, chocam-se continuamente em Montepuez, porque no’hé tempo de distingui-las, quando nao se pode falar sossegadamente da Renamo, da Policia ou da Frelimo, num meio que se achava mais democratico até pouco menos de dois meses. Caso Montepuez - Grande raportagem SI Nao se encontram aquelasmogas e npazes que enchiam 0 “ZAVALA” ogo ao cair da noite, usufruindo daquda miisica diversificadae toda na moda, simplesmente porque 0 completo hoteleiro e recreativo s6 ficou para quem veio de longe investigar mortes. A Renamo, essa é que de facto nfo pode ser pronunciado em Mentepuez. Ou te transformas num “monstro” sem quereres ou te acham un espiio dela ou de outro partido para ganhos inconfessdveis. Mesmo pissoas enlutadas tém o receio de se apresentarem como tais, porque quanto se hes pergunta quem morreu, usta dizer que se trata de um ente que esteve na manifestagzo, aquela que destraiu e matou tudo ¢ todos. O regresso a tranquilidace, quanto n6s, passa pela presengal das grandes figuras politicas deste pais, mesmo que nio seja, como chegou ser proposto por alguns observadores, local para as reuniGes Chissano! Dhlakama. O que se pensa aqui € que asferidas de Montepuez niio podem ficar muito tempo sem sarar, tratando-t de feridas que se vieram colar as cicatrizes que ainda ndo haviam sando. O efeito psicolégico de um encontro entre as maiores figuras politias do pais, em Montepuez, teria tum impacto que aceitaria a que no fim se.dissesse “MONTEPUEZ, TERRA DA PAZ", sobre as actuais paltvras do Montepuez.vigente, de guerra e sangue. Diztamos que 08 partidos devem valtar a Montepuez tao jé quanto possivel, para se irem expor ao seu eletorado. Que nfo sejam simples provocadores de confusées que depos deixam a responsabilidade da Policia ¢ dos érgaos da Justiga. Que véo entio a Montepuez, dizer: descillpem, fomos os responséveis, nde voltaremos nunca a fazer coisa igual ‘Se se demoram vai acontezer 0 quepara aqueles partidos débeis est @ acontecer. Membros, mesmo no kito do hospital, a langarem e centregarem 0s seus cartées emrentincinao seu idesl(?) devido ao siléncio daqueles que os empurraram para a defesa do seu projecto, que sumiram de verdade, porque sabem siraplesmente fazer feridas e nfo as saram. ‘Tem pois razio a Liga dos Direitor Humanos ¢ Desenvolvimento, Pois no hé quem manda fazer qualquer coisa ¢ quando o resultado desastroso cobardemente esconde a cabega, E Montepuez. até porque precisa mais do que qualquer outro lugar, da explicago, porque o acontecimento ndo soria tio surpreendente quanto fosse num Mocimboa a Praia, por exemplo, onde :udo esté claro quanto ao posicionamento 54 aso Montenuez - Grandereportegem quer da Procurtdoris, quer do Tribunal, nem mesmo ante a existencia de autos de notics, Por outzo lido, muitos presos estdo a ser libertados pela provincia fora a luz das medidas tomadas ¢ anunciadas por aquele magistrado, para quem intaessa que se perceba que este novo desenvolvimento nao quer dizer que os que esto a beneficiar da medida estivessem porventura em prisio irregular ou ilegal, porque na verdade a medida visa descongestionsr as penitenciérias. “Também descobrimos que alguns tinham sido daidos sendo meros participantes , outros ainda de quem se duvida a sia participago nos actos criminais que posteriormente tiveram lugar”, Bate grupode detidos, segundo a fonte, vai esperar o julgamento em liberdade, bemassim pediu-se ao Tribunal que pondere perante casos de mulheres ¢ velhos detidos. Em cumprimento dessa ordem soubemos que 375 detidos form provisoriamente ibertos, dos quais 250 em Montepuez, “Wna cidade dePemba ¢ 65 em Mocimboa da Praia. Em adigio soubemos que 0 Tribunal, em Pemba, mesmo depois de criar trés secgbes de cemergéncia,'nio se achava capaz de julgar estes individuos, por razses por demais Sbvias. HA os que pela pertingncia da sua detengié se devem manter nas diferentes cadeias da provincia e a Procuradoria diz ter seasbilizado 0 Governo no sentido de eriar condigdes de ventilagéo e fornecimento regular de bens alimentares ¢ de higiene, bem como melhorar a dita Pela primeira vez uma vor. oficial fala dos Naparamas, ris 0 ProcuraJor Provincial acaba de dizer que independentemente dos resultados médico-legais, far-se-4 um trabalho no sentido de perceber 0 fenémeno insistentemente colocado pelos sobreviventes tagédia de “Montepuer, ligado ao poder dos chamados Naparamas. ‘Teremos que ver o problema multiformemente, diz Arone Nhaca, dda que seja necesséria a intervengio de antropélogos, sociélogos, assim como homens a cultura incluindo ainda médicos tradicionais, Queremos produzir um processo completo que tenha uma credibilidade de todos os sectores sociais. ‘A outra Procuradoria, a militar, também jase mexe e fé-lo ordenando eter trés membros da Policia da Repiiblica de Mogambique,em conexio com as manifestagées que tiveram lugar em Montepuez. Entre eles esti Angelo Filomeno Romeu, um adjunto de superintendente, que havia Caso. Montepuez ~Grande reportagem 55 sido indigitadopan Montepuez, especificamente para os acontesimentos de 9 de Novembn, indo reforgar 0 contingente local por oasido da rmanifestagio e que acabou sendo ele pr6prio, segundo tem sido citado pelos deponeates da corporagio, incluindo Albino Adelno, ora hospitalizado em Montepuez, quem ordenou que nio se abrissefogo em Tesposta aos dispazos dos manifestantes da Renamo que jé egavam a fazer éstragos na ddade © ProcuradorChefe Militar, em Cabo Delgado, corond André Matemanga Nindi,disse que maise trés policias, incluindo o substituto do comandante distrital de Montepuez, o chefe das Operagdes, pimeiro ‘cabo Floréncio Auénio Rabisse, Alberto Lengueia, havent ainda indicagdes de que mais outros tantos, erdo intimados. Mais significative ¢ curioso ainda € que a Procuradoria Militar intimou, igualaente, 0 director provincial da Ordem ¢ Seguranga Péblica, junto do Comando Provincial da PRM, para declaragdes, mas que ainda nao se apesentou por auséncia em missio de scrvigo na companhia do govimador provincial, jéregressado. Disseram-nos, apenas para acrescentar, que 0 adjmnto de superintendente Angelo Romeu, havia pedido voluntariamenteirsforgat © comando de Montepuez.e o denominador comum, conforme palavras do coronel Matemanga, é que o crime de negligencia esté presmte em todos os presumiveis envolvidos, sob forma de desleixo, apatia, falta de sentido de responsabilidade, indisciplina ou ainda a ignerancia indesculpével ‘Ao fim deste.capitulo estamtos a saber que hé detidos de-um ¢ do outro crime, Nao temos nomes, sabendo apenas que Secindino Cinquenta, Jogo Maulana e outros tantos fazem parte do gripo dos rmanifestantes que os ibunais dizem que vao julgar. Vao jugar wmbém O spo de agentes ou oiciais da Policia qu se eré teat cas na morte dos mais de 80 detidos nas celas da c cariosidade € tanta... Sereno em Netemen A Enquanto isso, d4 para considerar que Montepuez.j& € ouro. O ‘movimento esté reposto, diga-se de passagem. Hoje vé-se a cidade de Montepuez a recuperar os seus hébitos, com as suas gentes, néos6 em movimento, como sobretudo, tal Ihes 6 peculiar, em pequenos tanto no “July” como no mercado municipal. menos ees A erosio também nfo se assustou de nada que tenha acomecido, 56 porque esta no tem ideias politicas nem patidérias. Bsté a,prosseguir 2 seu trabalho de ir comendo & cidade pedago a pedago até que um dia descubramos o maior culpado da falta de transitabilidade no interior da segunda maior cidade de Cabo Delgado: “Fantasia” € como os jovens chamam a competi¢ao de imitagdo de asica de renome nacional e intzmacional em que entram, igualmente ‘em jogo, a voz, traje, presenga em palco, que se aproximem ao artista imitado. ‘Trata-se do maior divertimento que Mortepuez tem, que se chama até citadinos de Pemba que aos fins-de-semana deixam a sua bela Wimbe Aresponsabilidade de visitantes. Deve-se accitar, na verdade, que Pemba sem Wimbe € quase nada, porque 0 resto € s6 saber inventar altos pregos de comidas, com peixe ou came a'sairem ametros dos restaurantes ou Iocais de diversio, Entdo os pembenses encortram uma maneira de passar 0s fins-de-semana ou feriados. E s6 ir a Montepnez. Para tanto, 0 Complexo Zavala, espagoso, arejado ¢ feito ao natural, € 0 maior patrocinador dos concursos a que nos referimos, segundo nos confirma Ricardo Gimo, 0 “cabeca” principal das iniciativas juvenis que, regra geral, acabam em discotece a valer, quando a noite se faz adulta, De trés em trés meses hd um novo concurso;ofiltimo dos quais acabou levando muito tempo, porque 0 9 de Novembro ndo deixou de interferir nna vida normal dos jovens de Montepuez. Diz Ricardo que, coincidéncia ‘ou nfo no mesmo perfodo os patrocinadores travaram um bocado. NZo so muitos, entretanto, fala-se de Raul Cust6dio e Abdul Carima “uly”. Prémios? Mais satisfaco, alegria de bem usar o tempo, muito embora haja momentos em que os patrocinadores decidem gratificar os participantes mais votados. As vezes o primeiro classifiéado ganha um milhdo de meticais, o segundo setecentos e cinquenta, mas acima de tudo esté a diversi, ‘Numa das mesas, num cantinho, esté o administrador distrital, Germano Joaquim e 0 presidente do Conselho Municipal, Alberto Paissene, a assistirem aos ensaios para a tltima fase do concurso. Esto também a ocupar o seu tempo de lazer ¢ Germano nio se atrasa em acusar a lmprensa de nfo escrever “O outro Montepuez”, que nio aquele fatidico, sangrento, violento ¢ sobretudo um Montepuez.de mal, Este €0 outro Montepuez que vocés nfo escrevem: de alegria, de gente revigorada, que se esforga em esquecer-se 0 mais rapidamente possivel Caso Hontepuer — Grande reporiagem 37 do quese passou hé um més. E isto que 08 “outros queriam impedir, diz, ele mum desabiafo incontid Naverdade, 0 “Zavala” voltow a ser aquele lugur em que escolher 0 que sepretende custa: Mc Roger, SSP, Janota, entreoutros representados por pessoas que julgam poderem aproximarem-se as verdadeiros donos da Renamo, ~ Tribunal concluiu que foram as mesmas armas que viriam 4 ser utilizadas nos termos constantes do plano da agenda do.co-réu Secuntino Cinguenta, em cuja elaboragdo Rodrigues Bacar participou. Esta confirmagao pds @ nu os desempenhos de Cinguenta, que foi 0 primeiro aser ouvido pelo Tribunal, que afirmara que as armas entreques a0 quartel das FADM nio resultavam do arrombamiento do paiol, mas, sim da confiscagao aos agentes da Policia ou encontradas abandomdas por agueles na sua fuga precipitads, A acusagio aponta Rodrigues Bacar como quem no dit da manifestagio portava uma arma, antes e depois, ao que ele respande Nao scu e nunca fui militar. Depois explicou como foi morto e imdado © entéo director da Policia de Investigagao Criminal, PIC, na Brigada de Montepuer. Quando descobrimos que ele estava a disparar a partir de um esconderijo, a eausar mores, ¢ ainda deu sinal de rendigdo que s6 seviu para se aproximar de nés e em seguida voltar a carga, foi ento que se Ihe tomou. Bacar 6 directo ¢ justifica a guamicdo das instituigées pelos honens da Renamo dizendo que naquela altura {4 tinhamés tomado o pater, rninguém mandava aqui, isto tudo estava nas nossas mios. A lista dos ouvidos esté a aumentar. J4 passaram pela bamt do ‘Tribunal, Sumaila Apadre, Jaire John, Secundino Cinquenta e Rodrigues Bacar, sem ser esta a ordem seguida pelo Tribunal. John teré embaragado @ audiéncia quando disse que ndo tinha participado na manifesto, Pois encontrava-se no falecimento do seu sobrinho, Defendendo-se cantra © seu conhecimento da presenga de um naparama que vacinou alguns manifestantes contra eventuais balas, disse ter ouvido falar-se dissoum és antes, precisamente em Outubro daquele ano, numa reuniéo dirigida pelo searetério-geral da Renamo, Jodo Alexandre, quando publicamente aptesentou-se uma pessoa que disse ser major dos Naparamas ¢ que acabaya de abandonar a Frelimo juntando-se entéo a Renamo, que nmca Caso Montepuer ~ Grande reportagem ‘mais volbou a ver 0 individuo, nfo podendo dizer se ele estava ou nfo na ‘manifestagao, Pelas suas declaragdes, John fez entender que ficou detido simplesmente pot ser chefe do mticleo da Renamo no Bairro de Mirige, © que teré movido a Policia a pensar que estaria envolvido na manifestazio do dia 9 de Novembro. Segundo as suas palavras e para consubstanciar as suas afirmagdes, diz que eram policias acompanhados, pelos secretérios dos bairros ¢ de membros da OMM que iam indicando as casas dos membros da Renamo. _ JaimeJohn viria a ser detido no dia L1 de Novembro quando se dirigia a loja para comprar agticar destinado a ceriménia do terceiro dia do falecimesto do sobrinho acima citado. No dia 4 de Maio de 2001, Beatriz Buchili, representante do Ministério PGblico, requereu a acareacio de alguns que haviam sido couvidos, entre os quais José dos Santos Pintainho e Joo Maulana, por entender que havia contradigao nas respostas dos mesmos quanto a iniciativa de comegar a manifestago com ou sem a proteccao policial. Com efeito, Joao Maulana, tido como comandante da operagio, dissera que pouco antes da manifestago 0 comandante substituto da PRM fora, por trés vezes, a sede da Renamo, a tiltima das quais para informarque no havia disponibilidade de efectivos que acompanhassera ‘o cortejo, Ouvido José Pintainho, acusado de ter sido chefe das operacées, disse ter ido ao Comando Distrital da Policia para insistirna resposta as cartas escritas pela Renamo, pedindo protecgao na manifestagao, 0 iinteresse do Ministério Pblico nesta acareagio tinha em vista confirmaros facto constantes nos autos, segundo os quais, José Pintainho fazia parte do grupo previamente destacado para alguns pontos estratégicos de Montepuez. Estava em jogo confirmar, em relago a PPintaiiho, se Ihe coube a tarefa de neutralizaro substituto do comandante da PRM a partir do seu tiro, jé no Comando, a manifestagdo seria reatada. E neste ponto em que se quer apurar a luta céxpo a corpo que se registou entre Pintainho e o chefe das Operagdes do Comando Distital, peleja que acabaria em tiros. Pintainho conta que ainda chegou 20 comando, cumprimentou 0 substituto do comandante (chefe das Operagdes) ele zangado perguntou- ‘00 que é quer ia ali fazer e sem mais nem menos abarbatou-o. A seguir comecaram aos empurrdes até que perderam o equilfbrio. Cairam todos € sem que Pintainho se apercebesse das razOes daquilo, 0 seu contrésio Caso. Montepuez.~ Grande reportagem - 69 ordenou 4 um policia para que disparasse contra si tendo 6 feito atingindo-ona perna eno ombro. Este réuesté a ser considerado uma das pegas maisimportantes do processo, pincipalmente porque se diz ter sido ele que deu os tiros que doram inicio & manifestagio que acabaria com a ocupacis de instituigdes pablicas. Inputa-se-Ihe, por outro lado, a responsabilidale de decepagio dos drgdos genitais a um dos agentes da Policia. José Pintainho chegow a afirmar, no decurso da instruglo preparatéria que 0 objecivo da manifestagao era a ocupago do Comundo da Policia, palacio do administrador e 0 edificio onde funcioram os érgéos municipais. Disse ainda que Secundino Cinquenta équem matou posteriormente imolou um dos policias no Comanfo Distrital da comporagdo. Mas perante os jufzes desvalorizou as seas declaragdes anteriores, alegadamente porque teriam sido feitas sob um manto de medo ¢ tortaras infringidas pela Policia, Disse, entretants, em resposta & representaste do Ministério Pablico, que nfo foi obriguio a assinar as suas declaragées, muito embora ndo as tivesse lido na oyortunidade por se encontrar com a cara toda inchada. Beatriz, Buchili interessou-se entretanto, pela dentimia do réu José Pintainho relativa a possfveis torturas ¢ ameacas, parindo tanto dos agentes da Policia como de representantes de 6rgios judiciirios. Pintainho chegou a acusar Ant6nio Frangoulis, Arone Nhaca e Juna Macequesse de terem urdido um plano de eliminagaofisica de um gripo determinado dos manifestantes detidos, do qual ele fazia parte, Frangoulis viera a Cabo Delgado para reforg a equipa de investigagdo policial & qual mais tarde juntou-se Juma Marequesse, entio director provincial da PIC. Arone Nhaca era na altura 0 Ptocurador- (Chefe da Repiiblica na provincia, Pintainho diz ter ouvidaos tés a darem ordeins 20s oficiais de escala na cadcia de maxima segurmga, de separar © grupo dos restantes manifestantes, pretensamente paque havia um plano de os elimina © seriam mortos quando fossem tmnsferidos para 0s distritos. tal acco consistria no abate pelas costas pa dar aentender que se tratava de uma tentativa de fuga. (© julgamento prossegue. Nao'hé sibados nem doningos. Agora, depois de ouvidos todos os réus, chegou a hora dastestemunhas ¢ declarantes arrolados nos autos. Na bicha esto Allerto Paissene, presidente do Conselho Municipal de Montepuez, gre a altura dos acontecimentos encontrava-se a trabalhar, Carvalho Lepes Pia, agente R 280 Montepuez ~ Gra desenham 03 cantornos mais a decidir sobrea matéria da acusagio. Foi em tal oportunidade que Dra, Beatriz Buchili, Procurado- ra-Chefe, em Cabo Delgado, representando 0 Ministério Piblico, pediu Justica ao Tribunal julgador, tendo em atengo que da matésia constante ‘nos autos h4, na sua opinido, elementos de facto e de direito que fundamentam a acusagao contra, em primeiro lugar, Secundino Cinguenta ¢ Joio Maulana, que em co-autoria terdo cometido os crimes de rebelido armada e roubo qualificado. Na opiniéo do Ministério Pablico, Cinguenta ¢ Maulana, na ‘companhia de Rodrigues Bacar, afirmaram em Tribunal que conheciam © plano operativo constante da agenda e que foram eles a elabori-lo. Afirmaram, costudo, que o fizerain a posterior, pois entendiam haver a necessidade de proteger as instituigées ptidlicas contra possiveis oportunistas, assim que os seus titulares as haviam abandonado devido & violéncia que acompanhou a manifestago. Na opiniio da “menina”, jum menino da actual Terceira Classe no pais, nfo se deixaria levar por tal justificagao. Assenta a sua afirmagao no facto de se falar num plano de aces a fazer durante a manifestagao, como por exemplo, a necessidade de nela haver trés grupos de protecgio para cada policia Beatriz quer saber, por esta via se tendo feito depois da manifestacao © plano operativo, porque raziio constam os trés homens para cada policia, se entio nflo havia sequer um agente da corporacao, Na manifestaclo 10 homens em 3 grupos outra “deixa” que aquela magistrada do Ministério PGblico retirou da agenda de Secundino para que pode vit a lever o Tribunal reforgar a ideia de que o plano fora feito antes da manifestagao ter * Juger. Ainda mais, Beatriz Buchili questiona sobre a razfo de delinear estratégias e cticas, desdobramento para assalto a insttuigdes pablicas, se se pretendia guarnecé-las durante algumas horas, fechando inclusive as estradas que dao acesso a cidade de Montepue: Secundino Cinquenta diz que quando escreveu o plano estava muito nervoso, fora de si, mas Beatriz ndo acredita nisso pois, paraela, nfo ha erros ou nervosismo exacerbados que fagam com que no lugar de proteger se escreva assaltr. Os réus ocuparam as instalagdes do Comando Distrital da Policia, a Administracio, Cadeia Civil ¢ as TDM, usando manifestantes armados, por isso, A forca, Para o Ministério Pablico, que, diga-se de passagem, Caso Mentopues Grande reportage —_ 2B \ provar que os manifestantes traziam armas de foyo durante ‘A manifestagao, nfo importa que as tenham adquirido antes oudepois de sairem da sede da Renamo, mas a verdade & que quando asaltaram estavam armados. Cutra incongniéncia detectada nas alegagbes do Ministéris Pablico € quando os réus afirmam que ocuparam as instalagdes € itstituigées para protegé-las, porque se séntiam responsdveis pelos acontcimentos ‘A pergunta de Buchili €: como se sentiram responsaveis poractos que alegam ndo os terem cometido nem ordenado a ninguém fazé-los, pois sustentam, os manifestantes € que o fizeram de livre e éxponténa vontade ante um ambiente que se vivia A questio posta tem a ver com a legalidade de o fazer, tal como, para a representante do Ministério Pablico, nada tem a ver com qualquer tipo de protecgao 0 terem feito refeigées no palacio do administrador. ‘A abordagem a Zulficar Abdul Carimo, comerciante em Montepuez, para “dar” trés sacos de arroz ¢ umm de feijio, nao terd sido pecifica, no entender do Ministério Pablico, tal como, por acréscimo, 0 proprio comerciante declarou em pleno julgamento, quando chanado para declaragi Postas 2s coisas desta maneira, incluindo as outras provas enstantes os autos, mesmo o que disseram os declarantes, a Dr* Buhili acha haverem sido reunidos elementos mais que suficientes para furdamentar a.acusacio. Em relacdo aos restantes crimes de que os réus vemacusados, ‘0 Ministério Paiblico acha estarem sub-sumidos no tipo legal é rebeliao armada, Do que restou 4 Procuradora foi apenas chamar a tengo a0 ‘Tribunal, para uma série de situagdes agravantes contra, desigmdamente ‘4 premeditagio, convocagdo de outras pessoas para o cometimento do crime, ter sido cometido por duas ou mais pessoas, dele teremresultado outros males e a acumulagao ie crimes. Tendo mantido a acusagdo embora 0 Ministério Pabblica pediu a absolvigio de cinco co-réus, designadamente Jaime John Sumaila Apadre, Alfate Malumia ¢ Silvestre Paulo, por nao existiran provas bastantes de os mesmos terem comparticipado no crime. Tanbém em relagdo @ Armando Salvador Mondlane, 0 Ministério Pabli« sugeriu que, havendo muitas dividas sobre a sua participago nos cimes que pesam sobre os outros, ele bepeficiasse dessa diivida. Monilane, por alturas dos acontecimentos, como os leitores se devem recorfar, estava ‘a cumprir uma pena de prisio na Cadeia Civil de Montepuez,tendo sido 74 ‘Caso Montepuez~ Grande reportegem forgatb a sair com a acgdo dos manifestantes. Onbem, Os advogados de defesa entendem queos seus constituintes so incentes, Agora silo trés na defesa, com a vinla de mais um. Eles explicam-porqué. Os crimes constantes nos autos s6 poderio ter sido cometidos pela Policia que descarregou conta os manifestantes desarniados ¢ a matar. Reiteram que o plano operativo constante do didrio 4e, Seaundino Cinquenta, foi feito depois da corifusio que se gerou, com © objesivo de proteger objectivos estratégicos da cidade de Montepuez, ‘com vista a prevenir actos de vandalismo praticadas por oportunistas (O lano no tinha objectivos militares, uma vez que as manifestagdes cram pucificas, em todo o pats, e nfo eram portadares de armas. Jorge Mabue que leu as alegagbes da defesa acrescentou ainda que o plano a {que serefere 0 Ministério Piiblico, longe de mencionar termos militares, as terninologias utilizadas, tal como delinear estatégias, tActicas de desdotramento e assalto aos lugares vitais, eram meras referéncias de ccasife, redigidas num ambiente de tensio, face aos acontecimentos resultantes da descarga policial sobre os manifestantes. Pan a defesa, a nlo coincidéncia aritmética entre os niimeros de 250 homens, pretensamente de proteceao da Renamo e asua soma em relagZo ‘0s lugares a protegcr, segundo a douta acusago, porque restam 140, € 4que foram retirados da famosa agenda de Secundino, 6 um dado de que na pressa de acusar cometeram-se ertos gritantes, Por outro lado, se 0 objectivo dos manifestantes fosse, segundo a defesa, a ocupagéo militar, precisariam de uma forga correspondente ao nimero de policias, uma ‘vez. que esta estava armada. Para que houvesse, continua, um combate entre os manifestantes ¢ a Policia, tomar-se-ia necessério que as duas partes beligerantes tivessem. ‘armas, 0 que nio aconteceu, pois a proporcionalidade dos meios bélicos pendia a favor da Policia. A ocupagao de instituigées piblicas, no entender da defesa, nao tem enquadramento legal, pretensamente porque foi transit6ria, das-10 as 20 horas daquele fatidico dia, como forma de assegurar a sua inviolabilidade por vandalos ¢ as instituigdes nao foram arrombadas, visto que se tratava de um dia normal de semana, sendo que as portas estavam abertas e assim deixadas pelos seus titulares, bem ‘como o facto de na cadeia os manifestantes teremi-se servido dus chaves para abri-la com o fim de soltar presos. ‘Nao concorda, outrossim, com tudo o que disseram os declarantes (ou testemunhas arrolados nos autos, nfo s6 por muitas vezes nio serem 15 coincidates, chegando mesmo a contradizerem-#e, como também considem queos declarantes estavam movidos de aninosidade de indole politico partidario. “...alinalidade da manifestagdo € legitima por fora da Lei, que nao carece d autorizagio, Quanto muito poder-se-ia inputar o crime de desot qualificada pelo facto de se ter verifcado uma reacgo contra w forgas policidis. Entretanto, tal fundamuntagao néo pode procedes, porquanto, essa mesma reaccdo resulta damanifesta atitude ilegal daPolfcia que deu origem & fiiria e descontrdo populacional a ponto de gerar um auténtico clima de vandalismo”, Ajuntam os defensoms, - Para les, todo ¢ qualquer acto que se seguiu aos lisparos da Policia configurt uma situagao clara de legitima defesa queexclui a figura da culpa. Adefesa diz que nem Secundino Cinguenta, rem Joso Maulana, matarame cazbonizaram quem quer que seja, pois néo hé nenhum dado indicadar disso ter sido por eles feito, tendo em anta ainda que a responsibilidade criminal € pessoal e individual, peb que no cabe 0 crime dehomicfdio qualificado ou voluntério simple. Ha, para adefesa, também circunstincias, desta feta atenuantes, pois na sua piniao, tiveram boa conduta, muito mais quando se trata do facto de terem entregue as armas a0 quartel das FADM, para evitar 0 ‘mal ou produsi-lo em proporgdes menores, bem asim a apresentagio voluntéria & autoridades por parte de alguns réws, entre os quais Secundino Cinquenta. Os ras ficaram presos porque participaram numa manifestacio, outros nan secuer tomaram parte, mas porque si simplesmente membros ou simpatizantes da Renamo-Unido Eleitoral, «to presos (...) independentemente de pertencerem aquele partite sio cidadaos mogambicanes, acima de tudo, e na esfera da nosa Constituigéo da Repiblica no sto categorizados pelos partidos a ue pertencem ou cconfissées, mas sim pelo principio da cidadania naconal, disseram os advogades para no fim pedirem ao Tribunal que julgasse, pois, os réus como cidadios nacionais e néo como membros ia Renamo, com cconsciéncia livre, sem interferéncias extemas 20 Trikunal. Cinco de Junho de 2001. Dia da leitura da senteaga dos chamados Iideres da manifestagio de 9 de Novemibro de 2000, Parrazées didacticas nfo quero dizer 0 que € que esta a acontecer desde 16 de Maio. Detenhémo-nos na sentenga. Ho (Caso. Montepucz — Grande reportage Com efeito, nove dos 11 dementos da Renamo-Unitio Eleitoral que Iideraram a manifestagdo viclenta na cidade de Montepuez, provincia ‘e Cabo Delgado, « 9 de Novembro de 2000, foram condenados pelo ‘Tribunal Judicial Provincial a penas que variam entre trés meses ¢ 20 anos de prisio maior. ' . ‘Trata-se de Secundino Mamel Cinduenta, Joko Maulana Cade, Latifo Alimo, Rodrigues Virgilio Baar ¢ José dos Santos Piniainho, que vo cumprir uma pena de 20 anos de prisdo, enquanto que a Sumaila Apadre, Sare Assumane, Silvestre Patlo Saja ¢ Armando Salvador Mondlane, coube-Ihes trés meses de prisio, porém, postos em liberdade por terem ‘cumprido em prisio preventiva a pena a que foram condenados, De acordo com o Tribunal, os primeiros cinco condenados deverso cada um, ficar encarcerado dois meses ainda, dois anos de multa & taxa (iftia de 2 mil meticais, o méximo de imposto de justiga pela pratica do crime de oposigio a execugiode trabalhos autorizados pelo Governo anos para impedir 0 exercicio da autoridade. Ainda vio condenados a dois tnos de prisdo, maximo de imposto de justica, um ano de multa a {axa didria de 2 mil meticas, pela pritica do crime de ocupacéo ilegal de insttuigdes pablices, dois anosde prisioe méximo de imposto de justiga © umn ano de mula & taxa didria de 2 mil meticais, pela pritica do crime de tirada de presos; vinte anos de pristo maior, o méximo de imposto de Justica, pela pritica do crime de rebelidio armada. O juiz que julgou 0 caso, Dr. Alfredo Phiri, disse que fazendo um ctimulo juridico resulta para cada um dos réus condenados na pena tiica de 20 anos de prisiio maior, méximo de imposto da justica, dois anos de ‘multa & taxa didria de 2 mil meticais, 100 tail meticais de emolumentos 2 favor da sua detesa oficiosa Em regime de solidariedade civil, segundo o acérd0 do Tribunal, vio pagar 20 milhdes de meticais aos herdeiros das vitimas falecidas, designadamente seis agentes da Policia da Republica de Mocambique ¢ 21 civis nio idenificados, mortos na/ou pela manifestagio, ‘Vao pagar ainta 10 milhdes de meticais a cada vitima sobievivente, ue nio se consegue quantificar,e 3 milhOes de meticais a mais pessoas, todas funcionéias das TDM, do grupo da nossa conhecida Adriana Pereira, pelos danos morais. No segundo grupo de condenados a trés meses de prisdo, mas jé em liberdade, destaque para Armando Salvador Mondlane, que por alturas dos acontecimentos encontrava-se a cumprit uma pena de prisio na Caso Montepuer ~ Grande reportegm 1 Cadeia Civil de Montepuez, tendo sido retirado pelos manifestantes de forma coerciva, mas cometeu a iregularidade de ndo se ter apresentado Posteriormente as autoridades, nesmo depois de apelos nesse sentido para aqueles que teriam invohistariamente engrossedo as fileiras dos insurrectos. ; © Tribunal disse ter provade que os réus cometeram os crimes de rebeliao armada, tirada de presos,toubo qualificado, oposigdo a execugo do trabalho das autoridades, danospara impedir o exercicio da autoridade, desobediéncia qualificad, entre outros. Depois de lida pelo juiz, que consumiu exactamente duas horss de tempo, sob medidas excepcionais de sepurangae uma presengainvdgar da imprensa nacional estrangeira, Phiri dirigiu-se aos réus que acdbavam sendo condenados clatificando que eles haviam pretendido tomar o poder pela forga, expulsando os titulares de edificios pablicos, mando para isso pessoas, a maior parte ddas quais nfo tinha a consciénciado plano dos seus ideres, bem assim a dimensio do que estavam a fazex ; Jaime John € Alfate Nacassara foram absolvidos por insuficiéncia de provas da sua participagdo na manifestaglo, segundoem devida altura se defenderam, como tendo sido detidos por apenas pertencerem a0 partido que organizara a manifesugao, pois um foi encontrado a regressar da sua machamba e outro no diada manifestagio esteve no funeral de um sobrinho. Entretanto, ainda no dia da sentenga, o Tribunal julgou quatro smanifestantes num processo sumirio de desobedincia quilifcada, Trata- se do processo que antes havia sido classificado como de querela, mas que o Ministério Piblico acabouretirando a acusagao de posse ilegal de amma de fogo. Para este caso concteto, cujo palco foi a cidade de Pemba, rno mesmo dia, o Tribunal disse que a manifestagao, a0 contrério do que os advogados de defesa insistiam, carecia, sim, de autorizagio, por ter sido realizada fora dos perfodos ¢ dias determinados por Lei. Por outro lado, no processo da manifestagio havia sido escolhido um itinerdrio que passa pr6ximo dos edificios pablicos ede alguns Gres de soberania, como € 0 caso do palécio do governador provincial, bem como néo acataram a interseccdo da Policia quando esta quis impedir 0 cumprimento do trajecto. Por isso0 Tribunal deliberou julgar procedente a acusagio do Ministrio Pablico e os réus culpados. ; ‘A convicgao do Tribunal, segundo o juiz Phiri, na valorizagio da rmatéria dos factos, assentou nas préprias declaragSes dos réus e nos Caso Montepuer - Grande reportagem documentos dos autos, Foi assim que este grupo, constituido por Napoledo Suete, Fernando Waeca, Namosza Ali Nassoro ¢ Martins Ali, foi condenado a penas indiviluais de 2 meses de prisio, maximo de imposto de justiga, um més demulta & taxa difria de 2 mil meticais e SO ‘mil meticais de emolumentosa favor da sua defesa. Todavia, uma vez a pena j4 cumprida, foram postes em liberdade. ‘Voltemos aos condenados #20 anos. A voz dos advogados, na pessoa de Jorge Mabue, que chefiavaa equipa de defesa dos réus, fez-se ouvir para dizer que a pena de 20 aos de prisdo maior a cada um dos cinco réus era extremamente pesade. Devia ter havido, na sua opiniio, uma espécie de doseamento das pmas, porque o grau de envolvimento dos cinco nao € igual, mas todos des apanharam os 20 anos. Achamos que este critério que foi utilizado pelo Tribunal é excessivamente pesado. Disse Malue, que por exemplo, José dos Santos Pintainko nio participou na manifestago parque jd se encontrava no hospital depois do confronto com a Policia, Ai fala-se de Iideres da manifestago, que irigiram directamente ¢ que eventualmente a tenham planeado, ha entretanto outros que ou 86 participaram ou, como Pintainho, no articiparam no resto da manifestagao. Pintainho, segundo o Tribunal, fazia parte dos 30 homens destacados para tomarem o Comando Distrital da Policia, antes que a manifestagio comecasse, o que aconteceu sem que tal no fosse depois de um batho de sangue. Haé-de ser por isso que os cmco réus condenados a 20 anos de prisio ‘maior recorreram, um gesto que foi do agrado do juiz que arbittou o aso, que confirmou. Estou stiseito com isso. E a primeira sentenga minha que sofre recurso. Gostei por ser um caso polémico que por outro ‘ado vai permitir que a sentenga que partiu da minha parte, seja revista, (Caso Montepuer ~ Grande reparigem Do Segundo Crime Cinco agentes da Lei ¢ Oem fazem-se a sala de audiéncia do ‘Tribunal Judicial Provincial deCabo Delgado, E 16 de Maio de 2001. A raziio didéctica a que me referievitava dizer que a sentenca do Primeiro Crime acontecia enquanto decerra o julgamento do segundo. ‘Temos pela frente, de novo Beatriz Buchili, Alfredo Phiri este ladeado por jufzes eleitos. Do outro lado, Jilio Mussa, um técnico do Instituto de Patrocinio © Assisténcia Juridica, IPAJ. Logo, este pormenor: Os ‘manifestantes da Renamo-UE, acebados de condenar, estavam assistidos por advogados contratados porquem quer que seja eos policias, Sujeitos «ere beneicidrios daquilo que o Estado criou para individuos carentes. Quem sto, afinal, os polieias? Dahalili Sumail, ex-comandante distrtal da PRM, em Montepsez, Terciano Mitale, oficial em servigo nos dias das mortes de presos na cela policial de Montepuez, Hordcio Nhoca, chefe da Penitenciéria, Baslio Guezane, comandante do pelotio de proteogdo © seguranga, mesms tarcfa para Hilério Chambone, tudo nos dias que se seguiram & manifestagio do dia 9 de Novembro, na sua tarefa de reforcar a seguranca da cidade contra os efeitos imediatos & realizagio do protesto, ‘A Procuradora-Chefe da Reptblica, em Cabo Delgado, diz que todos eles sio acusados de homicidio cualificado. A partida tem-se Dahalili Sumail, que como dissemos era comandante distrital da Policia em ‘Montepuez, que no tendo estado por alturas da manifestagio, acabou envolvendo-se no assunto com ordens que se acredita tenham ditado a superlotago da cadeia, bem assimna privagdo dos detidos a alimentago

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