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Copyright © 1997 by Eric Hobsbawin Grafia atalizada seguida 0 Acordo Ortognifica da Lingua Portuguesa de 1990, gue entrou ern vigor na Brasil ei 2009 Titulo original On History Capa Jeff Fisher Preparagiio Cristina Penz Revisto Juliane Kaori Renato Potenza Rodrigues Indice remissivo Gabriela Morandini tualizacao ortografica Verba Editorial Dados Internacionais de Catalogago na Publicagio (civ) ‘Camara Brasileira do Livro, sp, Bra: il) SNS eS ek Hobsbawm, Eric J., 1917-2012 Sobre histéria / Eric Hobsbawm ; sradugio Cid Knipel Moreira. — Sio Paulo: Companhia das Letras, 2013. On History, 59-2218-9 1. Histéria — Filosofia 2. Historiografia 1. Titulo, cpp-901.07 1. Histéria : Filosofia ¢ teoria : Estudo ¢ ensino 901.07 2013 Todos os direitos desta edi¢do reservados a EDITORA SCHWARCZ S.A. Rua Bandeira Paulista, 702, ¢j. 32 04532-002 — Sio Paulo — sp Telefone: (11) 3707-3500 Fax: (11) 3707-3501 www.companhiadasletras.com.br www.blogdacompanhis.com.br ra 2.0 SENTIDO DO PASSADO a STAT se Os caprtiulos Seguintes rentam esbocar as Ges entre assa.do, blesente e futuro que inter estd baseado em O presente capital éncia de 1979 sobre * promovida bela revista Past and Dublicado em seu numero SS (maio de 1972) sob 0 tituly 1 S questoes”. SW ER ay > : = . § & : & 8 a i a = R S a A comunidade humana é situar-se em Telacao ao seu Passado (ou da Comunidade), ainda que apenas para Tejeitd-lo, assado é, um componente inevitavel da or Padrées ciedade humana. O problema Para os historiado- aes res € analisar a natureza des ssado” na socieda- ; ~= eee de e localiz mudancas e transfor; dro para o presente: Teoricamente, cada geracao Copia e repro- duz sua predecessora até onde seja possi el, € se considera em 27 falta para com ela na medida em que t nesse intento. Claro que uma dominagio total do passado exchaizia todas as mudan- gas € inovagdes legitimas, e é improvavel que exista alguma sociedade humana que nao reconheca nenhuma delas. A inova- Gao pode acontecer de dois modos. Primeiro, 0 que é definido oficialmente como “passado” é ¢ deve ser claramente uma sele- ¢ao particular da infinidade daguilo que é lembrado ou capaz de ser lembrado. Em toda sociedade, a abrangéncia desse pas- sado social formalizado depende, naturalmente, das circuns- tancias. Mas sempre terd intersticios, ou seja, matérias que nao participam do sistema da historia consciente na qual os homens incorporam, de um modo ou de outro, o que consideram im- portante sobre sua sociedade. A inovagio pode ocorrer nesses intersticios, desde que nao afete automaticamente 0 sistema e, portanto, nao se oponha automaticamente 2 barreira: “Nao é desse jeito que as coisas sempre foram feitas”. Seria interes- sante investigar que tipos de atividades tendem a permanecer assim relativamente flexiveis, além daquelas que parecem ne- gligencidveis em um dado momento mas podem se mostrar diferentes numa ocasiao posterior. Pode-se sugerir que, ficando! as outras coisas como esto, a tecnologia no sentido mais amplo pertenga ao setor flexivel, e a organizacio social e a ideologia ou sistema de valores, ao setor inflexivel. Porém, na auséncia de estudos histéricos comparativos, a pergunta deve permanecer em aberto. Certamente existem muitas sociedades extrema- mente voltadas para a trad ies ritualizadas Axpassado_aceitaram a introducio relativamente subita de novas culturas agricolas, novos meios de ocomocao (como os cavalos entre os indios norte-americanos) e novas armas, sem nenhum sentido de perturbagio do padrao fixado pelo passado. Por ou- io ido, provavelmenteeristam outsas oade poeeo trenton das, que resistiram até mesmo a uma inovacio dessa ordem. Q O “passado social formalizado” é claramente mais rigido, | uma vez que fixa 0 padrfo para 0 presente. Tende a ser o tri- = : : pe bunal de apelacao para disputas e incertezas do resente: a lei € iguatao costume, sabedoria dos mais velhos, em sociedades 26 iletradas: Os documentos gue consagrain Soe Ppassado £ que, com isso, adquirem certa autoridade espiritual, fazem oO mesmo em sociedades letradas.ou Parcialmente letradas. Uma comuni- pela memoria de sua Posse no passado (quase com certeza trans- mitida sistematicamente de uma geragao para a seguinte), ou por escrituras ou decisées judiciais da era colonial, sendo as presente. i Isso nao exclui uma certa flexibilidade ou até inovagio de facto, na medida em que 0 vinho novo possa ser vertido no que, pelo menos na forma, so velhos reci ientes. Negociar carros usados parece ser uma extensao bastante aceitavel de negociar cavalos para ciganos que ainda mantém o nomadismo, pelo me- Nos quais a inovacdo pode ser reformulada como nao inovaca te e radical, mas pode-se supor que existam apenas poucas ma- neiras de legitimé-la. Ela pode ser disfarcada como retorno ou redescoberta de alguma parte do passado erroneamente esqueci- da ou abandonada, ou pela invencao de um Principio anti-histé- tico de forca moral superior prescrevendo a destruigio do pre- finigio, quando sociedades tradicionais so langadas em um contexto de mudanga social mais ou menos drastica, ou seja, quando a rigida estrutura normativa do passado é tensionada até © ponto de ruptura e pode ser entao incapaz de funcionar “ade- quadamente”/Embora a mudanga e inovagao que surgem por imposicao e importagao de fora, aparentemente desvinculadas de forcas sociais internas, nado precisem necessariamente afetar o sistema de ideias que uma comunidade mantém acerca da no- vidade — ja que @ questo de sua legitimidade € resolvida por force majeure — em tais ocasides, mesmo a sociedade extrema- mente tradicionalista deve chegar a algum tipo de acordo com a inovacao circundante e invasora. E claro que ela pode decidir, rejeita-la in toto, e dela se afastar, embora essa soluc3o ew te seja vidvel durante longos periodos. Acrenga de que o presente deva reproduziz-o-passado nor- malmente implica um_ritmo_positivamente lento de mudanca hist6rica, pois, CaSO contrdrio, nao seria nem pareceria realista, exceto a custa de imenso esforgo social e do tipo de isolamento que acabamos de mencionar (Como acontece nos BUA com os ™ amish e outras seitas modernas semelhantes). Enquanto a mu- danga — demografica, tecnolégica ou outras — for suficiente- mente gradual para ser absorvida, por assim dizer, por incre- mentos, pode ser absorvida no passado social formalizado na forma de uma histéria mitologizada e talvez ritualizada, por uma modificagao técita do sistema de crengas, pela “distensdo” da estrutura normativa, ou por outras maneiras. Até passos muito drasticos e isolados de mudanga podem ser absorvidos dessa maneira, ainda que talvez a um grande custo psicossocial, como aconteceu na conversao forgada de indios ao catolicismo apés a conquista espanhola. Nao fosse assim, seria impossivel ocorrer 0 significativo grau de mudanga histérica cumulativa experimentado por toda sociedade documentada, sem destruir a forca desse tipo de tradicionalismo normativo. Todavia, ele ainda dominava grande parte da sociedade rural do século x1x e mesmo do século Xx, embora “o que sempre fizemos” deva ter sido claramente muito diferente, mesmo entre os camponeses i ¥. bilgaros de 1850, do que havia sido em 1150, A crenga de que a “sociedade tradicional’ Seja_estatica e imutdvel € um mito da © Obstante, at€um certo ponto de mur ecer “tradicional”. 0 molde do passado ssente, ow-assim se imagina, nal, por maior que seja sua importancia numérica, € €nviecs>™ 2 um pouco a discussdo. Em muitos 8Spectos, esses campesinatos muitas vezes sio apenas uma parte de um sistema s mico — ou mesmo do qual, em algum lugar, as mudangas ocorrem livres da versio camponesa de tradic3o, ou no quadro de tradicdes que possibi- litam maior flexibilidade, como, por exemplo, as tradicées urb tas. Enquanto a mudanga rapida em algum lugar do sistema| nao alterar as instituicdes e relacdes internas de maneiras para na corte, diante da busca leviana de uma moda sempre mutével € imoral. dominio do assado nao implica uma imagem de imobilidade social, E compativel com Vises ciclicas de mudan- ———— Social alte! com visdes ciclicas de mudan. ¢a_histérica, e certamente com _a regressio @ a catastrofe (ou Seja,o fracasso em reproduzir 0 assado). E incompa: ivel coma ideia de Progresso continuo, II Quando a mudanga social acelera ou transforma a sociedade Para além de um certo ponto, o passado deve cessar de ser 0 Padrao do Presente, e pode, no maximo, tornar-se modelo para ° mesmo, “Devemos voltar aos caminhos de nossos antepassa- ” ee : dos quando ja nio os trilhamos automaticamente, ou quando 29 er ae | nao € provavel que o facamos. Isso implica uma transformagio fundamental do proprio passado. Ele agora se torna, e deve se ‘ 1 ee OE moa, € Ceve Se tornar, uma mascara par: ri a nao expressa a repe- tica i ue ocorreu antes, mas agdes que sao, por defini- ae ne te retroceder 0 reldgio, isso nao restabelece de fato os velhos tempos, mas meramente certas partes do sistema formal do passado consciente, que agora sio funcionalmente diferentes. Prova disso foi a tentativa mais ambiciosa de restabelecer a s0- ciedade camponesa de Morelos (México) sob Zapata Aquilo que havia sido quarenta anos antes — apagar a era de Porfirio Diaz € retornar ao status quo ante. Em primeiro lugar, nao podia restabelecer realmente 0 passado, j4 que isso envolvia certa re- constru¢ao do que nao podia ser rememorado com precisao ou objetividade (por exemplo, os limites exatos das terras comuns em disputa entre comunidades diferentes), para nao falar da construcao do “que deveria ter sido” e portanto se acreditava, ou pelo menos sé imaginava, ter existido de fato. Em segundo lugar, a odiada inovacao nfo era um mero corpo estranho que de algum modo havia penetrado o organismo social como al- guma bala alojada na carne e que poderia ser cirurgicamente removida, deixando 0 organismo substancialmente 0 mesmo que era antes. Representaya um aspecto de uma mudanga social que nao podia ser isolado dos demais e, por conseguinte, apenas poderia ser eliminado a custa de se mudar muito mais do que 0 visado na operacao. Em terceiro lugar, o mero esforco social de retroceder o relégio mobilizava, de modo quase inevitavel, for- Sas que possufam efeitos de alcance mais longo: os camponeses armados de Morelos se tornaram um poder revoluciondrio fora de seu Estado, ainda que seus horizontes fossem locais ou, no maximo, regionais. Dadas as circunstancias, a Testauracao se transformou em revolugao social. Dentro das fronteiras do Estado-(pelo menos enquanto durou o poder dos camponeses) provavelmente ela girou os ponteiros do reldgio mais para tras do que estavam realmente na década de 1870, cortando vin- culos com uma economia de mercado mais ampla que existia, 30 mesmo naquela €poca, Considerada na perspectiva nacional da revolugdéo mexicana, seu efeito iria‘produzir um México novo e sem precedentes Hist6ricos.! Dado i elecer um passado perdid nao pode ter sucesso completo, exceto em To vials (com a_testauracao de edificios ef , tentativas nesse sentido ainda serao feitas e norma mente serao seletivas. (O caso de uma regio camponesa Wtrasada que tenta restabele er tudo que ain- da existia na meméria viva 6, em comparacao, analiticamente irrelevante.) Que aspectos do passado serio selecionados para o esforco de restauracio? Os historiadores tendem a observar a frequéncia de certos clamores Por-restauracdo — em favor da antiga lei, da velha moralidade, da religiao de antigamente e assim por diante — e bem poderiam ser tentados a generalizar inicialmente, partilhada pelos trabalhadores Turais sem terra), foi, contudo, um elemento importante de Propaganda radical e, de vez em quando, perseguido com mais decisio, Entretanto, deve-se fazer uma distinggo, mesmo na ausén- cia de um modelo geral Util de tal restauracao seletiva, entre restauracao da velha moralidade ou religiao visa ser efetivo, Se for bem-sucedida, entao, teoricamente, nenhuma garota tera, digamos, relacdes sexuais pré-conjugais ou todo mundo ira a igreja. Por outro lado, o desejo de restaurar, literalmente, os edificios bombardeados de Vars6via depois da Segunda Guerra Mundial, ou inversamente derrubar determinados registros de 31 inovagio como 0 monumento a Stélin em Praga, é simbdlico, mesmo admitindo nisso certo elemento estético. Poder-se-ia Supor que isso acontece porque 0 que as pessoas desejam real- mente restaurar € muito vasto e vago para atos especificos de restaura¢ao, como, por exemplo, a antiga “grandeza” ou a anti- ga “liberdade”. A relaco entre Testaura¢ao efetiva e simbélical pode realmente ser complexa, e ambos os elementos podem estar sempre presentes. A restauracio concreta do prédio do Parlamento, na qual Winston Churchill insistia, poderia ser justificada em bases efetivas, ou seja, a preservacado de um pto- jeto arquiteténico que favorecia um padrao particular de poli- tica parlamentar, debate e ambiente essenciais ao funcionamen- to do sistema politico britanico. No obstante, como a escolha anterior do estilo neogético para os edificios, ela sugere tam- bém um forte elemento simbélico, talvez até uma forma de magia que, ao restabelecer uma parte pequena mas emocional- mente carregada de um passado perdido, de algum modo resta- belece 0 todo. Porém, mais cedo ou mais tarde, é provavel que se atinja um ponto em que o passado jé no possa mais ser concretamen- te reproduzido ou mesmo restaurado. Nesse momento o passa- do fica tao distante da realidade atual ou mesmo lembrada que no final pode se transformar em pouco mais que uma lingua- gem para definir em termos histéricos certas aspiragdes de hoje que no so necessariamente conservadoras. Os anglo-sa- x6es livres antes do Jugo Normando, ou a Merrie England antes da Reforma, sido exemplos conhecidos. Assim é também, para dar um exemplo contemporaneo, a metdfora de “Charlemag- ne”, usada j4 desde Napoleio 1, para propagar varias formas de unidade europeia parcial, seja por conquista pelo lado francés ou alemio, seja por federacio, e que visivelmente no pretende tecriar nada parecido, ainda que remotamente, com a Europa dos séculos vit e x. Nesse caso (quer seus proponentes real- mente acreditem ou no), a demanda de restabelecer ou reeriar um passado tao remoto que possui pouca relevancia para o presente pode ser igual a inovacio total, € © passado assim in-, 32 IE vocado pode se tornar um artefato ou, em termos menos lison= jeiros, uma fabricacdo, O nome “Ghana” transfere a historia aa} uma parte da ATfica para outra, geograficamente distante ¢ historicamente bastante diferente. A pretensio sionista de, re- tornar a pré-didspora passada na terra de Israel-era, na pratica, a negacio da historia real do Povo judeu por mais de 2 mil anos.: Histéria fabricada é bastante , ainda que devamos distinguir entre suas utilizagées meramente ret6ricas ou analj- ticas e as que implicam uma genuina “restauracio” concreta Qs radicais ingleses dos séculos XVIla XIX dificilmente pretendia: voltar 4 sociedade da Pré-conquista; 0 “jugo normando” para eles era basicamente um dispositivo explicativo, os “anglo-sa- x6es livres”, no maximo, uma analogia ou a busea de uma ge- > nealogia, como ser4 considerado adiante, Por outro lado, movi peel Mentos pacioualinas modernos que quase podem ser definidos, “has palavras de Renan, como movimentos que esquecem a his- “téria, ou entendem-na mal, porque seus objetivos nao defini-los, €m maior ou menor rau, €m termos histéricos © ta aplica mais obviamente a definigo do territério nacional, ou galeses até a adocao do hebraico como lingua secular falada e os Ordenshurgen da Alemanha Nacional Socialista. Todas elas, é | preciso re. etir, ndo sao, em sentido algum, “restaura Ges” ou ) gum, “Testauracdes | Mesmo “renascimentos”. Sao inovacées que usam ou pretendem usar elementos de um passado histérico real ou imagindrio. Que tipos de inovaco procedem dessa maneira, e sob que Condicdes? Movimentos nacionalistas so os mais Sbvios, j4 que a historia é a matéria-prima mais facil de trabalhar no processo de fabricar as “nagdes” historicamente novas em que esto en- Bajados, Que outros movimentos Operam dessa maneira? Pode- Mos dizer que certos tipos de aspiragdo sio mais propensos que Outros a adotar esse modo de definicao, como, por exemplo, aqueles relativos 4 coesio social de grupos humanos, aqueles que encarnam o “sentido da comunidade”? A OE CONIA pergunta deve sei deixada em aberto, I O problema de se Tejeitar sistematicamente o passado apenas surge quando a inovacio é identificada tanto como inevitave] quanto como socialmente_desejavel: quando representa “pro- gresso”. Isso levanta duas uest6es distintas: como a inovagao em si é identificada e legitimada, € como a situacio que dela eriva sera especift isto €, como um modelo de sociedade sera formulado quando o passa |i no puder mats ornecé-lo). A primeira € mais facil de responder. i Sabemos muito pouco sobre o processo que transformou as : Spas eed 3 palavras “novo” e “revolucionério” (conforme empregadas na linguagem publicitéria) em sinénimos de “melhor” e “mais desejavel”, e nesse ponto hi muita necessidade de pesquisas. desejavel”, P pesq) Porém, parece que a novidade ou mesmo a inovacso c ‘onstante € aceita mai. rontamente na medid. refira ao con- le ana sehr + terse it en eS cifncia e A tecnologia, 74 que grande parte desse controle é obviamente vantajOSO_mesmo i ici istas. Sera que jd houve algum caso sério de luddismo dirigido contra Sicicletas ou radiotransistores? Por outro lado, conquanto cer- tas inovacdes sociopoliticas possam parecer atraentes a algun. poderiam, na verdade, achar dificil conceber mudanca constan- te em tais relagdes. Nos casos em que até a inovaco material de “utilidade” palpavel € rejeitada, geralmente, talvez sempre, a jf ee nsec explicagao esti nogmedadda Anovagao social, ou seja, da ruptura que ela acarreta, A inovagio, tao obviamente titil e socialmente neutra que é aceita quase automaticamente por pessoas de algum mado fa_ miliarizadas com *a mudanga tecnoldgica, praticamente nao suscita nenhum problema de legitimacao, F de se supor (mas terd sido o tema efetivamente investigado?) que mesmo uma atividade tao essencialmente tradicionalista como a religiao institucional popular. tenha €ncontrado pouca dificuldade em positivo permanente contra 0 seu oposto, ou como um processo de “correcao” ou “tetificacao”, 0 triw. a0 sobre 0 absyr- do, do conhecimento sobre a ignorancia, da “natureza” sobre 0 “antinatural”, do bem sobre o mal. Ma ‘Periéncia bdsica d. ltimos dois sé iad ‘a Constante e Continua, que Ele se converte na descoberta da historia co-. d mo um proce: udanea direcional, le desenvolvimento ou " # mudanga se torna, portanto, sua prdpri gitima- » Mas com isso ela se ancora em um “sentido do passado” transformado. A Fisica e politica (1872), de Bagehot, é€um bom 35) exemplo disso no século XIX; conceitos correntes de “moderni- zacio” ilustram versdes mais singelas da mesma abordagem. Em suma, 0 que agora legitima o presente e 0 explica nao é 0 passado como um conjunto de pontos de referéncia (por exem- plo, a Ma ;om mesmo como duragao (por exemplo, a era das instituicdes parlamentares), mas 0 passado como um processo de tornar-se presente. Diante da realidade avassalado- ra da mudanga, até mesmo o pensamento conservador se torna historicista. Talvez porque a retrovisio seja a forma mais per- suasiva de sabedoria do historiador, ela se ajuste melhor a eles que 4 maioria. Mas e quanto aos Me também requerem_previso, para specificar um futuro diferente de tudo dg/passado? Fazer isso sem algum tipo de exemplo € extraordinariamente dificil, e muitas vezes aqueles mais dedicados a inovac&o sao tentados a procurar algum, por mais implausivel que seja, inclusive no proprio passado, ou, 0 que ven a dar no mesmo, na sociedade “primitiva” considerada como uma forma do passado humano que coexiste com seu presente. Socialistas dos séculos XIX e XX indubitavelmente empregavam “comunismo primitivo” mera- mente como um suporte analitico, mas 0 fato mesmo de empre- garem © termo indica a vantagem de se poder dispor de um precedente concreto até mesmo para 0 que nao tem preceden- tes, ou pelo menos um exemplo de modos de resolver proble- mas novos, por mais inaplicaveis que sejam as efetivas solugdes dos problemas andlogos do passado. E Aes que nao hd nenhu- ma necessidade teérica de especificar o futuro, mas na pratica a demanda de prever ou montar um modelo para ele é forte demais para ser desconsiderada. Uma espécie de historicismo, ou seja, a extrapolagdo mais ou menos sofisticada e complexa de tendéncias passadas para 0 futuro, foi o método mais conveniente e popular de previsio. Em todo caso, a forma do futuro é vislumbrada mediante a procura de pistas no processo de desenvolvimento passado, de forma que, paradoxalmente, quanto mais esperamos inovacio, mais a histéria se torna essencial para déscobrir.como ela sera. ae ee Esse procedimento pode'ir desde o muito ingénuo — a visio do futuro como um presente maior e melhor, ou um presente maior e pior, tao caracteristica das extrapolacGes tecnoldgicas ou antiutopias sociais Pessimistas — até o intelectualmente muito complexo e intenso; mas, essencialmente, a historia con- tinua a ser a base de ambos, Entretanto, nesse ponto surge uma contradicao, cuja natureza é sugerida pela conviceio de Karl Marx na suplantacio inevitdvel do capitalismo pelo socialism , simultaneamente, da extrema relutancia em fazer mais que algumas declaracées muito gerais sobre como seriam realmente as sociedades socialista e comunista. Nao se trata somente de bom senso: a ca idade de dis i déncias gerais nio nhecidas. Também indica um _conflito entre um modo SSEn- cialmente historicista de analisar como o futuro vird ue Supoe tem sido a exigéncia universal de modelos programdaticos de sociedade, ou seja, uma certa estabilidade. A utopia é, por natu- Teza, uma situac4o estavel ou autorreprodutora, e seu a-histori- a descrevé-la. Mesmo os modelos menos utépicos da “sociedade boa” ou do sistema politico desejavel, por mais que concebidos te estavel e previsivel de instituigdes e valores, que nao serg perturbada Por tais circunstancias, Nao h4 nenhuma dificulda- de teérica para definir sistemas sociais em termos de mudanga continua, mas, na pratica, parece haver pouca demanda para isso, talvez, Porque um grau excessivo de instabilidade e impre- visibilidade nas relacdes sociais seja particularmente desorienta- dor. Em termos comtianos, a “ordem” acompanha o “progres- $0”, masa andlise de uma nos diz pouco sobre 0 padrao desejavel do outro. A hist6ria deixa de ser Util no instante mesmo em que mais Precisamos dela.* Dessa forraa-podemtos ainda ser obrigados a remontar ao passado, de certo modo andlogo ao seu uso tradicional coma repositorio de precedentes, ainda que agora fazendo nossa sele- ¢40 a luz de modelos ou Programas analiticos que nada tém a ver com ele. Isso é particularmente provavel na concepeio da “sociedade boa”, j@ que a maior parte do que sabemos sobre o bom funcionamento de sociedades € o que foi aprendido empi- ricamente no curso de alguns milhares de anos de convivéncia em grupos humanos em uma variedade de modos, talvez com- plementado pelo estudo recentemente em moda do comporta- modernos. Assim, 0 que aconteceu aos pobres deslocados pel intensa construcio de estradas de ferro do século x1x Para os coragées das grandes cidades pode e deve lancar luz As possiveis consequéncias da intensa Construcao vidria urbana no final do século XX, e as vérias experiéncias de “poder estudantil” em universidades medievais nio deixam de ter relagdo com projetos para mudar a estrutura constitucional de universidades moder- nas.’ Entretanto, a natureza desse processo muitas vezes arbi-' trario de assado para auxiliar a previsao do fu- turo requer uma andlise mai ue tem recebido até hoje. Por si s6, nao substitui a construcio de modelos sociais adequados, com ou sem investigacio histérica, Meramente re- flete € talvez em alguns casos atenue a insuficiéncia presente. i TV: Estas observagées casuais estao longe de esgotar os usos sociais do passado, Porém, embora nao se possa empreender aqui nenhuma tentativa de discutir todos os outros aspectos, dois problemas especificos podem ser sucintamente ménciona- dos: os do passado como genealagia e como cronologia. 38 faa ipsa 9 tlie Tar EAR Oath Q_sentido do passado como uma continuidade coletiv: experiéncia mantém-se Surpreendentemente importante, mes- Hho part aGueles mais coricentrados na inovagio e neon, de que -novidade € igual a melhoria: como testemunha a inclusao universal da “histéria” no Programa de todos os sistemas educa- cionais modernos, ou 3 busca de ancestrais (Espartaco More, Winstanley) pelos revoluciondrios 1 NOS Cuja teoria, se so imarxistas supée sua irreleyAncia, O que exatamente os marxis- tas modernos ganharam ou ganham com o conhecimento de que havia rebelides de escravos na Roma Antiga —que mesmo supondo-se que tivessem metas Co £5 estavam, segundo ‘propria anilise desses marxistas, fadadas ao fracasso ou a pro- duzir resultados que tran am escasso suporte As aspiracées dos comunistas modernos? & evidente que a sensacao de pertencer auma tradicio antiquissima de rebeliio fortiece satisfac3o emo- cional, mas como © por qué? Serd ela analoga a sensagao de continuidade impregnada nos curriculos de histéria e que apa- rentemente torna desejavel que os estudantes aprendam sobre a existéncia de Boadiceia ou Vercingetérix, rei Alfredo ou Joana 7 juele corpo de informagées que (por razGes mas raramente investigadas) “devamn saber leses ou franceses? A atracdo do passado tradic&o, como “nossos antepassados”, é eve ser assim, Essa dificuldade naturalmente € muito menor no caso de uma forma mais familiar de genealogia, aquela que busca sus- tentar uma autoestima incerta, Os novos burgueses buscam do que senteni estar faltando dessas coisas em seu passado real ~~ guer esse sentimento seja ou nao justificado.* A perguntg Mais interessante relativa a tais exercicios genealécicas é se ou quando tornam-se spensaveis. A experiéncia da moderna so- 39 ciedade capitalista sugere que podem ser ao mesmo tempo permanentes e€ transitérios. Por um lado, os nouveaux riches do final do século xx ainda aspiram as caracterfsticas da vida de uma aristocracia que, apesar de sua insignificancia politica e econémica, continua a representar o status social mais elevado - (0 chateau rural, o diretor-executivo da Renania que caca alces € javalis nos ambientes implausiveis de repuiblicas socialistas, e assim por diante). Por outro, os edificios e o décor em estilo neomedieval, neorrenascentista e Luis xv da sociedade burgue- sa do século XIX, em certa etapa, deram lugar a um estilo deli- beradamente “moderno”, que nao sé se recusava a recorrer ao passado mas desenvolvia uma analogia estética duvidosa entre inovacio artistica e técnica. Infelizmente a tinica sociedade na histéria que até hoje fornece material adequado para o estudo da relativa atragio de ancestrais e da novidade é a sociedade capitalista ocidental dos séculos XIX e XX. Seria arriscado gene- ralizar com base em uma amostra tinica. Finalmente, consideremos o\problema da onologia) que nos leva ao extremo oposto da possibilidade de generalizacao, uma vez que é dificil pensar em alguma sociedade conhecida que, para determinados objetivos, nado ache conveniente regis- trar a duragio do tempo e a sucessio dos eventos. Claro que existe, como observou Moses Finley, uma diferenga fundamen- tal entre um passado cronolégico e um passado nao cronologi- co: entre 9 Ulisses de Homero e o de Samuel Butler, que é concebido de modo natural e nada homérico como um homem de meia-idade voltando para uma esposa idosa depois de vinte anos de auséncia. Certamente a cronologia é essencial ao senti- do histérico moderno do passado, ja que a histéria é mudanca d 1 i irecional. O anacroni é um. u ¢ alarme ime- ii ara_o historiador, e seu valor de choque emocional em uma sociedade totalmente cronolégica tal que se presta 3 facil exploragao nas artes: Wacbeth em Toupagem moderna hoje se vale disso de uma maneira que um Macbeth jacobino obvia- mente nado conseguia. A primeira vista a cronologia é menos essenci TS ee ee mouros que lutam entre si nas Procissdes espanholas da Pascoa, ou até mesmo fora do tempo: a relacao cronolégica reciproca é meramente irrelevante. Se Horacio da Ponte contribuiu com seu exemplo para romanos mais recentes antes ou depois de Mucius Scaevola é algo que sé interessa a Pedantes. De modo similar (para tomar um exemplo moderno), © valor dos macabeus, os defensores de Masada ¢ Bar Kokhba, para os israelenses mo- dernos nada tem a ver com sua distancia cronolégica em relacio a eles € entre um e outro, No momento em que o tempo real é introduzido nesse passado (por exemplo, quando Homero e a - Biblia sio analisados pelos métodos da moderna erudicao his térica) ele se transforma em alguna outra coisa. Esse processo -» Socialmente perturbador e um sintom sformacao social * { forma de genea é evi logias e crénicas, por exemplo, € evidentemente vista das exigéncias do estudioso moderno, os historiadores pres- ‘aram menos atencao & Pergunta sobre até que ponto so inade- quados as exigéncias sociais das proprias sociedades.) No sentido mais exten, iedades possuem mi- tos de criacio e desenvolyi ue implican} sucessio tempo- ral: as primeiras coisas cram assim, depois mudarar na. versamente, uma Concep¢eao providencial do universo ta implica aleum tipo de sucessio de eventos, pois a teleologia (mesmo se os seus objetivos jf foram alcangados) € um ti historia, Além disso, ela se presta de modo excelente & cronolo- 8'a, onde existir tal concepgio: como testemunham as varias especulacdes milenares ou os debates acerca do ano 1000 d.C., que giram em tomo da existéncia de um sistema de datacio. “mum sentido Mls preciso, o processo de comentar textos antigos de validade Permanente ou de descobrir as aplicagoes especificas da verdade eterna implica um elemento de cronolo- gia (por exemplo, a procura de Precedentes). Quase nao vale a pena mencionar que eélculos Cronolégicos ainda mais precisos podem ser exigidos para uma diversidade de objetivos econé- micos, legais, burocraticos, politicos e Tituais, pelo menos em : antigos para objetivos politicos. Em alguns casos, a_diferenca entre €ssa_cronalogia e a da hist6ria Moderna é bastante clar: ‘—procura de precedentes = : j I i i sta re- lag4o com 0 presente, o gue importa é a diferenca de circuns- tancias. Por outro la (©, 1ss0 nado parece esvaziar_o cardter da cronologia tradicional: g. A Dustoria, unidade de passado, presenre ¢ futuro, pode ser aloo universalm i fi Ciente que sejaa capacidade hum; = istrd al sO SES Possam langar luz nao 56 sobre 0 sentido do passado de socie- dades anteriores, mas sobre n. prio sentido, no qual a hegemonia de uma forma (mudanga hist6rica) nao exclui a Persisténcia, em diferentes meios e Circunstancias, de outras formas de sentido do pasado, E mais fécil formular perguntas que respostas, ¢ este ensaio fomou o caminho mais fécil em lugar do mais dificil. E no 42. entanto, pode ser que fazer pergunias, principalmente sobre as experiéncias que tendemos a tomar como dadas, nado seja uma ocupagao sem valor, Nadamos no passado como 0 peixe na agua, e-nio podemos fugir disso. Mas nossas maneiras de viver e de nos mover nesse meio Tequerem andlise e discussao. Meu obje- tivo foi o de estimular ambas, #8 mo antes de Lénin, a teoria marxiana nao dizia apenas “o que a historia nos mostra que acontecera”, mas também “o que deve ser feito”. Sabidamente, a experiéncia soviética do século xx nos ensinou que poderia ser melhor nao fazer “o que deve ser feito” sob condigées histéricas que virtualmente punham o sucesso fora do alcance. Mas essa licSo também poderia ter sido apren- dida da consideracao das implicacdes do Manifesto Comunista, Por outro lado, porém, o Manifesto — e essa nao é a menor de suas notaveis qualidades — 6 um documento que levava em conta o fracasso. Esperava que o resultado do desenvolvimento capitalista fosse “uma Teconstitui¢ao revolucionéria da socieda- de em geral” mas, como ja vimos, nao excluia a alternativa: “ruina comum”. Muitos anos depois, outro marxiano reformu- lou a frase como a escolha entre socialismo ¢ barbérie. Qual deles prevalecera é uma pergunta que devemos deixar para 0 século Xx1 responder. 400 NOTAS PREFACIO [pp. 7-12] 1. Joyce Appleby, Lynn Hunt © Margaret Jacob, Telling the Truth about History (Nova York, 1994). 2. Citado em Charles Issawi (ed. e trad), An Arab Philosophy of History Selections from the Prolegomena of Ibn Khaldun of Tunis (1332-1406) (Londres, 1950), pp. 26-7. 2.0 SENTIDO DO PASSADO [pp. 25-43] 1. Sou grato & espléndida biografia Zapata, escrita por John Womack (Nova York, 1969), onde encontrei detalhes sobre 0 movimento de Morelos. Essas aspiragdes pseudo-histéricas nao devem ser confundidas com as tentativas de restabelecer regimes historicamente remotos de sociedades tradi- cionais, que quase com certeza levam isso ao pé da letra: os levantes campone- ses peruanos até os anos 1920, por exemplo, que por vezes visaram restabelecer o Império inca, os movimentos chineses, registrados pela ultima vez na meta- de do século xx, para restaurar a dinastia Ming. Para os camponeses peruanos, os incas, de fato, nao eram historicamente remotos. Fram “ontem”, separados do presente apenas por sucessio imediatamente condensada de geracdes cam- Ponesas repetindo-se na realizagao daquilo que seus antepassados haviam feito na medida que assim o permitissem os deuses ¢ 0s espanhdis. Aplicar a crono- logia aos mesinos é introduzir anacronismo. 3. Valeria a pena analisar dessa maneira o estilo de argumentacao dos regimes revoluciondrios apés 0 triunfo de suas revolugées. Poderia esclarecer a aparente indestrutibilidade de “sobrevivéncias burguesas” ou teses como as da intensificagdo da luta de classes muito tempo depois da revolugao. 4. Claro que se admitirmos que “aquilo em que se estiver se tornando é correto”, ou pelo menos inevitdvel, podemos aceitar os resultados da extrapo- lagdo com ou sem aprovagio, mas isso nao elimina 0 problema. 5. Ver, por exemplo, Alan B. Cobban, “Medieval Student Power”, Past and Present, 33 (novembro de 1971), pp. 22-66. 6. A énfase dada pela popularizagao histérica russa primazia dos inven- tores russos durante os uiltimos anos de Stélin, excessiva a ponto de provocar 401 escérnio no exterior, ocultava na verdade as conquistas no geral extraording- rias do pensamento cientifico tecnolégico russo do século XIX, A magia numérica que parece ser um subproduto natural pelo menos das cronologias escritas, mesmo em sociedades bastante sofisticadas, talvez merega ser investigada: ainda hoje os historiadores acham dificil fugir a uni- dade “século” ou outras unidades arbitrdrias de datagio. 3.O QUE A HISTORIA TEN -\ DIZER-NOS SOBRE A SOCIEDADE CON TEMPORANEA lpp. 44-60] 1. Times Literary Supplement, 16 de margo de 1984, 6. DA HISTORIA SOCIAL AHISTORIADA SOCIEDADE [pp. 106-35] 1. Ver os comentarios de A. J. C. Rueter em LY Congrés International des Sciences Historigues (Paris, 1950), vol. 1, p. 298, 2. George Unwin, Studies in Economie History (Londres, 1927), pp. xxiii, 3 -9, 3. J. H. Clapham, .4 Concise Economie History of Britain (Cambridge, Conference Board, Social Aspects of Economic Development, Istambul, 1964) podem ilustrar as motivacdes divergentes por trés dessa nova preocupacio. A do presidente rurco da assembleia: “O desenvolvimento ou crescimento eco- ndmico nas dreas economicamente atrasadas é uma das questdes mais impor- tantes enfrentadas atualmente pelo mundo [...] Os paises pobres fizeram dessa questdo do desenvolvimento um elevado ideal. O desenvolvimento econémico Para eles est associado a independéncia politica ea um sentido de soberania”. Ade Daniel Lerner: “Uma década de experié: 0 equi a estabilidade politica” (pp. xxiii, 1). 5. A queixa de sir John Hicks € tipica: tard consideravelmente mais Proxima do tipi dores para ordenar seu material, de sorte que o Curso-geral da hist6ria poss: ser devidamente tragado} [...] utilizariam as Categorias marxistas, ou alguma versio modificada das mnesmas; uma vez que se dispée de pouca coisa no sen- tido de uma versio alternativa, nio é de admirar que o facam. Apesar disso, é 402 extraordindrio que cem anos depois de Das Kapital, aps um século durante 9 qual ocorreram enormes Progressos na ciéncia social, tio pouca coisa mais tenha surgido”: A Theory of Hconomic History (Londres, Oxtord e Nova York 1969), pp. 2-3, 6. Dessa forma, a amostragem de Marc Ferro dos telegramas e resolugdes enviados a Petrogrado nas primeiras semanas da Revolugio de Fevereiro de 1917 é claramente o equivalente a um levantamento Tetrospectivo de opiniio publica. E de se duvidar que pudesse ter sido pensada sem o prévio desenvol- vimento da pesquisa de opiniao para fins nao histéricos, M. Ferro, La Rei tion de 1917 (Paris, 1967). 7. Na conferéncia sobre Novas ‘Tendéncias em Historia, Princeton, Nova Jersey, maio de 1968. 8. Nao acham que pertencem & historia os artificios para introduzir nas sociedades um sentido de “complexidade crescente”. Podem, natur almente, ser legitimos. 9. P. Baran, The Political Economy of Growth (Nova York, 1957), cap: 2. 10. Para uma versio em inglés desse importante artigo, ver Social Science Information 9 (Fevereiro de 1970), pp. 145-74. IL. Cf. “Numa visio mais ampla da hist6ria urbana est em jogo a possi- bilidade de considerar como central ao estudo da mudanga social o process« societario de urbanizacio. Devem-se fazer esforgos no sentido de conceituar 3 urbanizagao de modo a representar efetivamente a mudanga social”: Eric Lam- pard em Oscar Handlin e John Burchard (eds.), The Historians and the Cit (Cambridge, Mass., 1963), p. 233. 12. Sobre as possfveis divergéncias entre realidade e classi icagdo, ver as discuss6es sobre as complexas hierarquias sociorraciais da Amética Latina colonia Magnus Mérner, “The History of Race Relations in Latin America”, em L. Foner e E. D. Genovese (eds.), Slavery in the New World (Englewood Cliffs, 1969), p. 221. 13. Ver A. Prost, “Vocabulaire et typologie des familles politiques”, Cahiers de Lexicologie, 14 (1969), 14. T. Shanin, “The Peasantry as a Political Factor”, Sociological Review 14 (1966), p. 17, 15. A. Dupront, “Problémes et méthodes d'une histoire de la p collective”, Annales: Econonties, Sociétés 1961), pp. 3-11. 16. Por “encaixar” quero dizer estabelecer uma ligaco sistematica entre Componentes diferentes, e por vezes aparentemente desvinculados, de uma mesina sindrome — as crengas da burguesia liberal classica do século XIX, por exemplo, tanto na liberdade individual quanto em uma estructura familiar pa- triarcal. schologie , Civilisations 16 (janeiro-fevereiro de 17. Aguardamos ansiosamente o momento em que a Revolugdo Russa pro- Piciard 20s historiadores oporeunidades comparivels pata 0 século Xx. 403

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