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Jorge Miglioli ACUMULAGAO DE CAPITAL E DEMANDA EFETIVA Tese de livre Docéncia apresentada & Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Filosofia e CiSncias Hunanas. Campinas 1979 UNICAMPp BIBLIOTECA CENTRAL Indice rntRopugho . Att 7] IBI DE SAY E SUAS IMPLICAGOss L 1. A longa vida da lei de Say L 2. Formlag#o e significado da "lei" 7 3. Implicagées da "lei" 20 [EB] WARK: ACUMULAGAO DE CAPITAL REALIZAGKO DA MAIS-VALTA 49 1. 0 eireutto do capital dinhesro . 49 2. Reprodugdo simples e ampliada do capital 52 3, Condigdes materiais da reprodugio 53 4. Oferta e demanda de forga de trabalho 56 5. Composigao material da produgdo 59 6. 0 dinheiro na acumulagao de capital Th 7. 0 problema da reelizagéo da produgao 78 8. Elementos pare ume teoria da demanda efetiva “85 [3] ROSA JUXEMBURGO: ACUMULAGEO DE CAPITAL E MERCADOS DXTERNOS 96 1. Formulag&o do problema 66 2. Solugdo do probleme 7 i 107 3, Conquista e ampliegéo de -merondos externos 116 4. Os erros na teoria de Rosa Luxemburge 126 [4] KALECKT: A DINAMICA DAS ECONOMIAS CAPITALISTAS 3go 1. Introdugfo 140 2.0 esquema de reprodugdo 1eT "3, Deterninantes dos lucros (equag&o simpliticade) 153 i:4. Determinantes dos lucros (equegéo completa) 160 5, Finenciuneaty dos geetos 170 +6, Lieros, saldrios e renda nacional 183 7. Determinantes do consumo dos capita 192 8. Determinentes. do seldo de exportagao e do AéLicat orgament4rio . 200 9. Determinantes do investimento 208 I¥@RoDUgKO 1. OBJETO DE ESTUDO © problema da demanda efetiva — que até entéo sé era abordado pe- los economistas "heréticos", desligados da tradig&o cldssica e néo-cldssica — findlmente genhou destaque na aécada de 1930 6 a partir def inseriu~se definitivamente na literatura econémica,, Es8a mudenge (de radical implicagio pera uma série de questdes) « se deveu &s obras de trés autores de diferentes formacdes teéri- cas: por ordem de entrada em cena, o sueco Cumnar Myrdal, 0 polo~ nég Michel Kalecki e¢ o inglés John Kayngra Keynes, (1) A matriz teérica de que partiu Myrdal é constitufde pela Escola sustrface e por Wicksell, mas sua contribuig&o pera o esclareci- mento do problema da demanda efetiva é a maiis limitada das trés. Amatriz teérica que serviu de base a Keynes & bem menos "nobre': Thomas Malthus, J. A, Hobson e outros menos conhecidos, como Sil- vio Gesell, Pelo menos essa é a matriz reconhecide pelo proprio Keynes, mas na verdade ele sofreu influéicias de outros estudiosos mais "distintos" do que os dcima citados, como Wicksell e Alfrea Marshall, cuja obra principal (Principles of Ecorionics, muito bem conhecida por Keynes) contém elgumas sementes da questSo de demen- da efetiva, De todos, fof Keynes quem obteve o maior reconhecinen: ‘to "pelo desenvolvimento da questo; isto se deve, em grande parte, ao fato de ele jA ser, quando escreveu sua Generel Hheory, um eco~ (2) 9 tratarho de tyrtal £01 publicado en sueco em 1931 © em elex mao em 1933; em inglés, cob o tftulo a ‘onetary Equilibrium, apa- rece em 1939, 0 primivo trabalho teérico de Kalecki. foi publica- do em polonés em 1933 e em frencés ¢ inglés em 1935. 0 livro de Keynes (The General Theory of Buployment, Interest ana Money) -eur- giu em 1936, nomista de projeggo mundial. Contude, tratou do probleme foi Kelecki, toman&o por base « econémica marxiste. 2 preeisament! ® corrente marxiete Ligada & questGo da demande efetiva que con te trabalho. do pre Quando i elaborow seu prime: pel da demanda efetiva no processe de aevmlagdo cep no moviments efol (mais especiticamente, pitelistas), jé hev manda ef Mista, Nessa. literatura o. problons. da de cide -ent&o comé.’o problema da’ "Fealizag#o" © edimo.o probiesa. ox "nereados" Esse.toma havi’ sido omplomente Giscutido no Ti séevlo XIX e no ir fei do I, particwlemente: poles a pratices russos. Contudo, no ‘nfoie da década ‘de 1930 eke hav mente @esaparcei.ac de-cena. Bin nosso entender’, esse desspareci~ tonto pode sex éxplicads por aor motives b&sivos? primeinoy. 0° fato de. Binin tor ori ticedo “toda agusles ane haviant eolocedo en Primero “planoa questo aos meresdas no procecso de desen- velvimentto ao capi talismas segiindo, con o estabeies mento io "aixismo oficial", por Stélin no, tim da eéeada de 1920, 8 por sigo de Lénin‘em. face do assunto foi elevada ao‘ nivel de doc, Assim, o problema da realizacio, que era um ponte’ controvertiao, sumiu da literatura marxista por longo tempo, 6 até hoje encons trenos alguns. tééricos marxistas que idéntifical o problena-da domenda efetiva (que; com ovtra desi nAgho, nada mais €°do “que eclizegio) come tin toma td o.vslho problem de “buiguesa" em eua, versao keyn'és sisna. ; que no era un warxiste oficial, rétomou o Kalecki, ‘por assunto. A grande crise econémica mundial de 1929-33. abalou- profundemente a produg&o polonesa, eujo n{vel em 1933 havie v observave que a produce decrescia apesar de haver equipamento de capital e forga de tratalho suficientes para manter a econo- min operando em nivel muito mais alto, Se havia disponibiliaade de capacidade produtiva, a queda da produgio sé poderia ser ex- plicada como uma erise de realizacdo, uma restrig&o de mercados, wna incuficiéncia de demanda efetive, Para formlar sua interpre tagfo, ‘Kalecki recorreu As concepgies de Marx, Rosa Iluxemburgo e ‘Tugan~Baranoveki — os sutores gue maiis diretamente o.influencias rem, Has a obra de Kelecki, ao fugir do padr&o (de conteddo e. linguegen) do marxismo oficial, acabou sendo identificada como + ena. Sonente a partir da segunda metade da década de 1950 keyne sua formagZo marxista foi sendo pouce a Ppouco. reconhecida — en grande parte gragas & divulgesSo Go oun obva por Peul Baran, Poul Sweezy e Joan Robinson. : Como jé dissenos, no presente trabalho pretendenos estuder a quest&o da demanda efetiva (ou, para semnos mete preeisos, 0 pa~ pel da-realizagdo da masiswalia no -procesco ae acumlagiio capita~ Lista) no pensemento econdmico marist. Assim fancndo, darenos especial destaque & obra de Kalecki, posto que,-em nosso enten der,, foi com esse autor, que a referida questo encontrou seu ma lon desenvolvimento, : 2. CONTEGDO DO TRABALHO 0 presente trabalho 6 constituféo de quatro cepftulos, onde sfo examinados, em seqténcia, os seguintes assuntoc: (1) a influén- cis Ge chamada "lei de Say" sobre a teoria econémica ortodoxa; (2) as concepgdes de Harx a respeito do processo de acumlacio capitalista e do papel exereido pele deman a ofetiva; (3) as “inovacSes" introduaidas yor Kosa Iuxemburgo ue teoria de Neen; (4) a obra de Kalecki acerca das econonias capitalistas madwras, na qual ele esclarece a importfnete Ga realizagtio de mats-veliay vi Cremos ser conveniente esclarecer desde logo dues. eventuais indagagéest (1) por que comegamos este trabalho pelo estudo da "lei de Say"? (2) por que dedicamos especial atengdo & obra de Kalecki (0 que se reflete no fato de o correspondente capftulo ser o mais longo dos quatro)? Comecemos pelo primeiro ponto. A "Lei dos mercados" de Say (segundo & quel.a produgfo gera “gua prépria demanda, o que implica nao haver restrig%o de dena da para a continua expans& da economia) foi adotada por Ricardo @ por John Stuart Mill e depois incorporada aos fundamontos de ortodoxia néo-cldssica, tendo influenciado profundamente o en- tendimento de todo wn conjunto de questdes. Um exame superficial da teoria da acumlagio de Marx, baseaéo apenas em seus esquemas de reproducdo ampliada, pode Levar & fal- sa conelusio de que também Marx seguia, embora sem o saber, « "lei dos mercados" de Say; isto porque, nesses esquemas, ele ado~ tava a hipétese de continua aeumlagSo de capitel, deixando ee lado as possfveis restrigdes impostas pela insuficiéncia de denen da. Foi desse modo que Tugan-Barenovski, por exemplo, utilizou-se dos esquemas de reprodugéio. Até mesmo Rosa Iuxeinburgo, mima pase sagem de seu livro sobre Acumulacdo de Capital, chegou a inter pretar dessa forma a teoria de Marx, como veremos no eaptiulo 3. Was essa interpretagao 6 totalmente infundada, Marx devotava grande desprezo por Say e por sua "lei dos mercados" e nfo perdo- ava Ricardo por té-1g adotado e defendido. Podemos afizmar cue fol precisamente ao criticar a vers%o ricardiana dessa "lei apli- ceda & andlise do processe capitelista de acwmlaoSo que Merz eo~ riegou a formuldr sua concepg%o a respeité da importancia da reae lizagéo da maiis-valia. Isto pode ser constatado em seu livro Zeo~ alia (especificamente na parte relative a Ricerao, onde Marx trata da acumulacio de capital e das crises). vii Voltamos ent& a perguntar: que faz, no comegs do presente tmabalho, um estudo da "Lei de Say" e de suas influéncdas? Exis- te um claro motivo para comegar o trabalho com esse estudo: pre- tendemos mostrar como a referida "lei" — com todas suas implice- gdes — encontra-se fortemente enrafzada no pensamento econémico ortodoxo a partir de Ricardo, e isto serve, entre outras coisas, como pano de fundo para ressaltar o quanto, nessa questo (para ficormos apenas nessa), 0 pensamento econémico marxigta se dife~ rencia da corrente ortodoxa. Em suna, enguanto os econonistas or todoxos levaram mais de wa século — eontado de Ricardo a Keynes — para deseobrir a inporténcia de demanda efetiva no funcionamento das economias capitalistas, a teoria marxiste desde o infeio 34 destacata essa questao, © segundo ponto a esclarecer.se refere A especial atencSo dada a Kelecki, 0 fato de’ o capftulo correspondente a Marx ter a meta- de do mimero de p&ginas do capitulo relative a KaYecki n&o signi- fica que atrituimos a Marx uma importfncia menor, ou que o trata mos como um simples *precursor de Kelecki".(@) tsto & tolice. Os motivos de termos dedicado maior espago a Kalecki so: (1) sua obra_é velativamente povco conhecidd.e merece ser mais estudeda; (2), especificamente na quest&o da demande efetiva (que & 0 tema central do presente trabalno), sua obra & mats completa e mais clara do que e de Merx (para nfo mencionar a de Rosa Iuxeuburgo e outros autores), Quento e este segundo motive, ¢ preciso ressaltar que Marx nao ee deizou inteiramente eselarecide o questZo do papel da Gemenda efe- tive no funelonamento des. econonias capitelistas. Na verdade, suas D (2) no preféeto & segunde edigie de sew Livro Ai Essay on Marxdan Economies (Londres, Macmillan, 1966}, Joon Robinson. esereve que Fiero Sraffa a aticeva dizendo que cla "tratava Marx como um pow- i"; e ela coneorda em que bd une co conhecido. precursor de Kaleci certa verdade neasa brineadeira. viii 'eoneepgoes sobre © assunto se encontram dispersos em éiferen- tes partes de sua obra (tanto em Q Capital como nas eoriag da Mais-Valia), néo constituindo. uma completa e integral formulagao do problema, Tanto isto € verdade que deu lugar ‘a wna série de atvidas, eo livro de Rose Luxemburgo sobre AcwmilcSo de Capttal & evidente exemple disto. Com Kalecki a questo da demanda efetiva pessou e ser o pré- prio ponto de partida para a interpretagio do movimento das eco- nomias cepitalistas, e por isto mesmo sua formulagdo do problema tinha de ser mais abrangente do que a de Marx, onde a realizagao da mais-velia era vista apenas como uma das faces do processo ca~ pitalista de aeumulagao. Queremos aproveitar o momento para fazer uma comparacdo entre Marx e Kalecki no tocante & anélise do processo de acwmlagao, Considerando esse processo como um todo, a anélise de Kaleoki 6 mais limitada, porque se atém &s condigées de realizagée da netic -valia dentro desse processo, enquanto Nerx trata n&o apenas des~ sas condigdes (embora, como dissemos acima, seu tratamento néo seja completo) mas tambéu das condigdes de eriagso da mats-valia, Sejamos mais claros. Marx trata da-maiis-valie, ou lucro, tento pe- lo Angulo de sua geragéo (a qual 6 explicade pela exploragéo da forga de trabalho assalariade) como pelo prisma de sue realizagio, que determina quanto do luero produsido on poteneial € efetivenen- te auferido pelos cspitalistas; mas embora Narx tenha estudedo exaustivamente o processo de criag&o de mais-valia, o processo de sua realizagao nao ficou devidamente eselarecido. Com Kale: acontece o contrério: ele se dedicou exclusivamente ao exame do + 3 processo de realizagao. Nesse sentido espeeffico, sua andliise das economies capitalistas é unilateral. Bm nosso entender, 6 essa unilat realidade que explics certes deficifncias de sua andlise. Onde isto se torna maiis evidente & Ax, em sua.concepgdo dos determineantes do investimento, Kalecki for- mulou diversas explicagdes desses determinantes, mas jamais fi- cou, ele mesmo, satisfeito com elas. 2m todas essas explicacdes ele abordou o assunto inteiremente pelo fngulo da dewanda efeti- va; somente em sua tiltima tentativa ele abandonou esse enfoque, passando a coneiderar a concorrtncia entre os capitalistas como o principal determinante do investimento, concorréncia esta que sé. pode ser bem entendida quendo examinada pelo @ngulo da cria- gio ae mais-valia. En cua ultima formlagao dos determinantes do investimento, Kalecki simplesmente voltou & explicegdo dada pelo + préprio Marx. (Este assunto seré tratado na ultima segio do capi~ tulo 4.) Segundo dissenos antes, wm outre motivo para dedicarnos mais espago & obra de Kalecki € o fato de ela ser relativemente pouco conhecida, E mesmo quendo conhecida, ela & fregitentemente coloca~ da ao lado da Teoria Geral de Keynes. Apesar de sua contribuicao para esclarecer a formagZo marxista de Kalecki, Joan Robinson, por exemplo, jomeis deixa de comparé-1o com Keynes’ 0 mesmo foi feito, em escala ampliada, por George Feiwel. ‘3)- wattos poneos so ‘0s estudos sobre os fundamentos marcltas da obra de Kelec- 1a.$4) Gon o presente trabalho esperancs contribuir para isto. (3) gitimo artigo de Joan Robinson sobre esse tema ericontra-se em Oxford Bulletin of Zoonomies and Betatioties, fevereiro de 1977 (mimero especial dedicado « Kalecki), Ver‘ também, nesse mes- no mimero, © artigo de prime Eshag, "Kaleckits Péliticel Beonom: A Comparison with Keynes". De George R. Feiwel, The Intellectual Capital of Michal Kalecki, Knoxville, The University of Tennessee Press, 1975 (ver particularmente os dois primeiros capftulos), (4) mitre esses poucos, deve~se mencionar o-artigo de Merteno Dtantonio, "Kalecki e i] Marxismo neiro-margo de 1976. Na introdug&o que eserevemos pare o Livro de Cientistas Soci em Studs Storici, n® de jar enseios de Kalecki na série "Grende is" da Bdito~ ra Atica procuremos abordar, embora resumidemente, essa questo, 3. © QUE FALTA Como dissemos antes, 0 presente travelho pretende ser um estudo do pensamento marxista sobre a quest&o da demanda efetiva, Para ser um estudo mais ebrangente do que realmente 6, seria preciso incluir elguns temas que foram deixados de ledo. Intre eles des- tacamos o das crises econédmicas e as contrituigdes de certos au- tores. A nao inclusio deeses temas fol intencional, pelas razdes que passamos a explicar, As crises econédmicas estado intimemente relacionadas com a rea~ lizagao da mais-valia, a tal ponto gue uma corrente do pensamento narxiste ac interprota como’ sendo fundamentalmente crises de rea~ Ligagao — isto é, momentos em que uma parte da produgho criada ou potencial n&o encontra mereados, n&io pode ser vendida, gerando as conhecidas mazelas das crises econémicas: queda do nfvel de ativi-~ Gases, aumento do desemprego, etc. Assim, 6 dificil tratar do pro~ Dlema da realizagio sem falar dae orises. Apesar disso, preferimos i n&o fazé-lo. As erises (ou, mais genericamente, o movimento efeli- co das economias capitelistas) € um dos pontos mai’s-controvertidos na literatura merxicta (e na literatura econdmica em geral), heven- do pelo menos trés posicdes divergentes: quais sejom, as interpre- tagSes dag crises como uma @ificuldade de realizagao, ou como um Fesultado do desequilfbrio setorial, ou como uma consediiancia da tendéneiea decrescente da taxa de lucro. A discussiio desse tena seria necesseriamente longa e por isto deixamos a questo das eri- ses fora de nosso trabalho; somente en um ou outro capftulo refe- rimo-nos circunstencialmente a clas. Poderianos também ter inclufdo neste trabelho dois outros ca~ pitulos, e chegamos a pensar em fazé-1o. Um desses capfiulos, que deveria vir em seguida & discussfo da "lei de Say", tretaria da. queles autores’ que, na mesma época ou depois de Ricardo (como, bor exemplo, T, R. Walthus, S. de Sismondi, J. K, Rodbertus), de fun modo ov de outro opuseram-se & concepgio ricardiana de que a acumulacgio de capital n&o encontrava obstéculos por parte da de~ manda, ©, nosse sentido, poderian ser considerados’ como "precur- sores" de Marx. 0 segundo désses capfiulos, o qual seria inserido entre o capftulo referente @ Marx eo relativo a Rosa Luxenturgo, abordaria o debate ecerca do problema da realizagio (ou dos mer~ cados) que envolveu vdrios estvdiosos de Marx (marxistas e nao narxistas) na Russia no fim do século passado e no comego do a tual: alguns "populistas" (narodniks), alguns "marxistas legeis" Lénin. (como eram chamados), Tugen-Baranovski, V. I Acontece, porém, que grande parte desses dois imaginados cepf- tulos j& foi exposte por Rosa Iuxemburgo na segunda parte de seu livro Acumlagao ae Capital. Além disto, examinando o assunto mais cuidadosamente, coneluimos que, com raras excecdes, os menciona~ dos autores nada ou muito pouco contrituiram para elucidar a ques- tao além de simplesmente se oporem (e 4s vezes nem isto) & "lei de Sey", Assim, os dois imaginados capftulos tornam-se dispensd- veis; seu interesse seria puramente "ilustrativo"s Talvez precisemos ser um pouco mais explicitos a respeito de Qugan-Barenovski e Lénin, Algumas concepgdes do primero destes dois autores tiveram uma certa influéncia sobre a obra de Kaleo- ki (conforme reconhecido por este Ultimo) e, por isso, pode pare- cer que ele fez grandes contritvigdes para o desenvolvimento do problema da demande efetiva. Mas nfo é verdade, Tugan—Daranovski excluia’a possibilidade de insufici@ncias da demande efetiva em sua visio do protesso capitalists dc scwnulagic., Repetindo a "lei de Say", ele esereve que "a produgéo capitalista eria um mercado 2 para si mesma't e "Vipto que & expans&o da produgao 6 ilimiteds em si mesma, o mercado, a capacidade Ge absorver seus produtos, tanbén n&o tem limites".(9) 0 curiono § que, para chegar a essa (5) arenserito ge Rosa Iuxemburgo, The Accum) (Londres, Routledge, 1963), cap. 23, p. 311. ion of Capi tal donelus&o, Tagan-Baranovski recorreu aos esquemes de reprodugao ampliada de Marx. :;, A efetiva contribuigSo de Tugan-Beranoveki estd apenas em res~ saltar a import&ncia da demanda por novos bens de capital na ex- pans&o dos mereados. Opondo-se & ingénua idéia de gue toda produ- c&o 6 voltada para a satisfagdo de necessidades humenas, ele in- siste em que o capitalismo é um sistema (denominado de "antagéni- co" por Tugan) onde as mereadorias so produzidas para darem Lu~ eros, nio importando se elas satisfazem ou nao es necessidades hunenas. Assim, 0 capitalismo pode expandir-se produzindo bens de consumo ou méquinas que serviréo para a produgéo de outras m&qui- nas. A insuficitncia de demanda por bens de consumo (que é a tese dos chamados "subconsumistas") nfo constitui necessarlamente um obstfeulo A expansdo da economia: qualquer que seja o nivel de consumo, 0 volume total da produg&o continua a crescer se o nivel de investimento (a demanda por novos bens de capital) for sufici-~ entemente alto para cobrir a diferenca entre o produto nacional eo consumo. Lamentavelmente, porém, Tugen-Baranovski conelufa dat que os capitalistas tendem a investir desse modo, ao que re~ sulta n&o haver insuficiéncia de demanda, ou restrigao de mereado. Considerando ainda que os novos investimentos eriam uma demands adicional por bens de consumo dos trabalhadores (resultante do acréseimo no volume de emprego), seria mantids uma certa "propor- go” entre o investimento eo consumo; somente wma ruptura nessa "proporgio" (no caso, wma queda do investinento abaixo do nivel necessério) poderia levar & crise econ ° 3 Qtento a Lénin, ele se limitou, em geral, 2 repetir os argu- mentos de Marx e a criticar os que setam da linha. Na parte de critica, ele combateu principalmente as teses dos nerodnil (po- ade de wa desenv puli'stas russos) que n&o view possi b: capitalista na Rt sia, porque esse pafs n&o dispunba de wn nerca~ do interno suficiente para absorver a produgéo cepitelista (tendo addi ‘em vista ser a economia russa basicamente agricola, com vm crim pesinato extreriamente pobre); @ eventual alternativa serio, en- t&o, conquistar wn mercado externo, mas também isso se moctrave improvével, porque todos os mercados externos jA se achavam sob dominio das existentes poténcias capitelistas. in respondia, porém, que essa tese era falsa, Frimeiro, porque era desnecessd~ rio apelar para um "mercado externo" a fim de tentar resolver o problema. Segundo, porque “o mercado interno para o capi talismo (6) é eriado pelo desenvolvimento do préprio capitalismo", ow se- jo, para desenvolver-se 0 capitalismo nfo precisa de um prévie mercado intermno;° esse mercado vai sendo criado © empliado no me~ aida em que o capitalismo se expande. At& ef tudo bem. Mas acontece que, em seu afa de combater a éese dos narodniks, Lénin passou a minimizer a importancia da questSo da realigzag&o, e, assim fazendo, contrituiu para refrear o desenvolvimento dela, Essa atitude teve adicionais conseqtén~ ismo — suas concepgdes clas posteriormente, quando — com o stali foram convertidas.em dogmas. Vejamvs como ele trata da questéic, Para comegar, ele re a disoussio acerca da vealizacao da matis-valia, que centrel, para o problema éa realizagio @o capital pital este que 6 constitufdo néo sé dc capital fixo mas também dos bens intermedidrios). Por exemplo, aco -criticar dois autores narodmiks, Lénin esereveuz ‘ambos autores reduzem todo o problema da realizegao do produto res= R pealizdc&d da mais-valia, ovidentemente imaginando que Jizagdo do capital constante n&o apresenta. dificuldades, Essa ingénua opinido contém um profundo erro, que 6 & fonte de to- é dos of demais erros da teovia narodnix da realivag%o, Na ree~ “ia a de explicar a realizagio do eapi'tal constante. /iemin, op. cit., cap. 1, segdo 4, p. 44,77 Je, a dificuldade de explicar'a realixdgao é precivsomente (6) vy. 1. nenin, The Development of Capi tel, Progress Publishers, 1964; cap. 1, sec%o 9, p. 69. sm in Russia, Moscou, xiv Dizemos nés que o profundo erro estd precisamente. em acentusr a realizagéo do capital constante, porque a maior dificuldade é a de explicer a vealizag&o da mais-valia, Para produzir, os capi-~ 4 stas precisam comprar as moreadorins que conetituem seu capi- tal. constante; quando un capitelista efetua sua produgio, ele con~ pra de outros capitalistas esses mercadorias; quando se considers a produgdo em conjunto, os capitelistas esto comprando essas mer- ‘cadorias uns dos outros, ou seja, elas esto sendo vendidas, rea~ lizadas. Logo, na produgso total, a porte eorrespondente ao valor do capital constante 6 automaticamente realizada (vendida) no pyré~ prio processo de produgdo, Com a parte equivalente A mais-valia totel-isso ndo acontéce, e af esté o grande problema, (Este é o tema central a ser discutido a partir da seg&o 7 do capftulo 2.) Alterando o eixo central do problema, Lénin passa e discutir ¢ realizagio do capital constante em ternios de reposig&o (por novo capital) do capital desgastado na produgHo, o que é também um es~ tranho modo de colocar o problema, Tem-se af a nitida impresséo 4 que, com isso, Bénin quer destocar a atengdo de um ponto extrema— mente controvertido (a realizagao da mais-valia) para outros temes 4 suficientemente esclarecidos por Marx; quais sejam: (1) 0 erro de Adam Smith em ndo computer o capital constante no valor totel da produgao, ¢ (2) a inter-relacgdo entre o departamento produtor de meios de produgdéo (capital constante) e o departamento produtor de bens de consumo. E nesse ponto Lénin transforma o problema da realizagho inteiramente num problema de inter-relagdo entre os ée~ partementos (ver, na cittada obra, a seco 6 do capftule 1). 4, AGRADECIFENTOS 80, quero: deixar registrados meus ag: Concluindo esta cinentos aos coleges L % Gonvaga Belluzzo e Sérgio Silva, que sé discutiram comigo algumes partes do preaente trabalho mas tem- vém manifestaram profundo interesse por todo ele e incentivare a escrevi-lo. A IKI DE SAY E SUAS IMPLICAQOES 1. A LONGA VIDA DA LET DE SAY Isto que hoje em dia denominamos pomposamente de "lei de Say" ou "Lei dos mercedos" de Say (que para o leigo em Economia pode pa~ recer algo de um rigor cient{fico compard4vel ao teorema de Pit4— goras, & lei da gravidade de Newton ou & teoria da relatividede de Einstein) nio passava originalmente de uma concepg&o nao muito pretensiosa do economista francés Jean-Baptiste Say (1767-1832), +o pouco pretensiosa que ele mesmo e infringie no mesmo livro em que a formulava. Infelizmente, porém, para o desenvolvimento da acsim eheuna Ciéncia Econémica, David Ricardo (1772-1823) no apenss aceitou @ concepgio de Say como também procurou aplicdé-~la coerentemente no estudo de certos problemas que a envolvia, como, por exemplo, no problema da acumulagéo de‘capital. B como Ricaréo — juntamente com geu antecessor Adam Smith (1723-1790) ~ foi o autor que weior influéacia exerceu sobre a evolucdo @o pensamento econdmico, 2 concepgdo de Say foi paesada adiante como wm dos principios in- questiondveis da Economia Polftica cldssica., E def, com a ajuda considerével de John Stuart Mill (1806-1873), ele foi também in~ corporade pela Economia néo-cléssica, no. pouco que esta escola deixou a respeito do ramo hoje entitulado de Maeroeconomia. Parece que. nem.mesmo.o nome de Say aplicado & famosa concenclo seja-justificdvel, Em primeiro lugar porque nao‘ teria sido ele o autor original da concepcSo. Esta teria sido tomada, segundo } " da idéia de James Mill (1773-1836), pai de John Stuart, de accréo com @ qual exixte um "equilfbrio metaffsico entre vendedores ¢ compradores". (+) am segundo lugar porque todo o prestfgio gore (L) Vejo-ce K. Marx, Meorias da Heis-Valia, vol. II, cap. sobre "A Acumulacgao do Capital e as Crises", parég. 4, p. 26 da e@icd ~ pela concepgSo se Geve no a Say; mas a Ricardo e, depois, a John Stuart mir, (2) Todo 0 rancor ou, pelo menos, o desaprego de John Waynara Key~ nes por Ricardo, manifesto em diversos momentos da obra do primed xo, parece decorrer do fato de ter sido Ricardo o responsével pela incorporagao da “lei de Say" ao corpo principal da Eeonomia Polfti- ca ortodoxa, Sobre este essunto, comparando Ricardo e Malthus (1766-1835) — 0 qual recusava o princ{pio formulade por Sey —, é famose a seguinte afirmagéo de Keynes: Ricardo conquistou a Inglaterra t&o completamente como a Santa Inguisic&o conquistou a Espanha. N&o apenas foi sua teoria acci-~ ta pela City, pelos politicos e pelo mundo académico, mas tam- bén encerrou 9. controvérsia; o outro ponto de vista desapareceu inteiramente; deixou de ser discutido. (3) argentina (Ediciones Brumdrio, Buenos Aires, s.d.). 0 mesmo j& ha~ via sido assinalado por Jolm Stuart Mill. Schumpeter, entretanto, nfo concorda com isso, alegando que a obra de James Mill, Comme’ onde se encontra o famogo prinefpio, 6 posterior (de 1808) a0 Livro de Sey, traits « Ver Joseph Schumpeter, History of Economic Analysis (Londres, Allen & Unwin, 1954), parte III, cap. 6, §4, p. 62). A verdsde, porém, é que a ed@ic&o de 1803 do livro de Say quase nada continhe a respei~ to do discutido princfpio; este sé viria a ser formulado na segun~ @a edicéo (de 1814) do livro. Veja-se Mourice Dobb, Political, nomy and Capitaliem (Londres, Routledge & Kegan Pavl, segunda edi- gio, 1940), cap. 2, p. 41, nm (2) io cago de David Ricardo, veja-se o cap, 21 de seus Principlen of Political Beonony aid Taxetion (originalmente publicado em 1817); no caso de John Stuart Mill, 2 i ( de 1848), especialmente livro III, cap. 14, (G3) 5, t, Keynes, the General 2a (Nowa Torque, Harconré, World, 1964), cap. 3, 93, Pp 32. Sobre o mesmo ussunto, veja-se também o ensaio sobre Malthus no Livro de Keynes, Essaye i Norton iibrary, 1963), espec jography (nove etigdo, K. Torque, isimente p. 102 e seguintes. Se a "lei de Say" foi to prejudicial assim para o desenvolvi- mento da Giénela Beonémica e se, ao mesmo tempo, mostrava~se téo conflitante com o mundo real que ela pretendia explicar (como ve~ remos adiante), como poderia cla ganhar tamanha aceitac&o por par- te tanto da teoria como ds polftica econdmica e menter-se intocada por mais de un sécvlo, isto é, desde os Principles of Political nomy and Saxation, de Ricardo, de 1817, até a décadea de 1930? E esse longo domfnio da "lei de Sey" 6 ainda mais intrigente quendo consideramos que, durante todo esse tempo, houve autores de maior ou menor inporténcia ~ os denominados “heréticos", como Naltinis, Warx, Rosa Luxerburgo, Aftalion, e outros menos eonhecidos — ave se opuseram firnemente a tal concepedo. Para encontrarmos wita resposta para esta indagacgav, de pouco nog adianta examiner o desenvolvimento “interno” da Boonomia Poli~ tica, como se a "lei de Say" decorresse de outros prinefpios de Beonomia, isto , como se fosse uma concluséio postulacional, assin como a Geometria ou o Céloulo matemftico. Pare obter uma resposte temos de recorrer ao que se convencionou chamar de Sociologia dx eiéneia. . SI Dentro desta. linha, Michal Kelecici — en um discurso na Univer~ sidade de Varsévia, quando recebeu o t{tulo de doutor honori cea sa, em 1964 — apresenta duas razdes para o domfnio da “lel de Say" por +20 longo perfodo. Antes, porém, de abordar este ponto, € pre- ciso esclarecer, embora sumariamente, que a "lel de Say" estabele~ cé gue toda produg&o encontra uma demanda, ou seja, que toda rende (walérios e lucros) 6 inteixamente gasta na compra de mercadorias e servigos, e, portauto, nfo pode haver um excesso ée produchc ou renda em relagiio & demanda ov 4s despeses efetivamente reelizedas, EB dof decorre uma série de outras conclusdes & serem exeminadae mais tarde. As duas razdes apresentedas por Kalecki , en primeiro lugar, o fato de a "lei de Say" representar o interesse da classe cxpite- lista, e, om segundo lugar, ser ela aparentemente confirmada ooti- f ia dimanente pelas experiéncies dos individuos no trato de suas eco~ nomias pessoais. Como disse Kal em seu diseurso: Uma doutrina que exelufa a superprodugdéo geral fazia o sistema capitalista aparecer como plona wtilizagio to copag 60 uM dos recursos prodvtives ¢ despresnva as flutuagSes efelicas co~ mo sendo insignificantes friegdes. Essa apologética era fecili- tada pela aplicagao & econ economia individual, na qual clears @ 2 S 5 m todo da expordéncia mente wm consume menor signi-~ fics wna poupanga maior. Mas enquante o renda de um indivieuo é fixa, a Fenda nacional num sietema capitalista & determinad pelas decisde @a de qualquer um deste cor de constmo ¢ de investinente, sendo que ume que+ mponentes de mofo nenbum leva auto~ maticamente s um aumento do outro. Assim, ja /experiéneie indivi~ owtras pelavres, Temos af wma resposta adequada, aue leva em conta tanto a fungée social da "Lei de Say" — enquento euporte teérico do capitelisme ~ como a base desse “lei” na experiéncia dos indivfdues no trate de suas cconomies pessoais, Paltaria, porém, screscentar ume otra vero, nada despresfvel quanto o assunto em pauta é & evolucic = ou melhor, a felta de evoluciio — de une ciénele: qual seje, o simples comodicuo intelectwal, que leva & votina e & adogSo seri os estabelecidos. Esta razéo 6 imprescindfvel tice de princfpi explicar por que certae concepgdes subsietem mesmo depois de teren cumprido sey papel social de justificar ou velidar teoricancni un Getexminado sistema ou os interesses dominantes dentro desse siate~ ma, ea partir 6e entZo tornerem-se imitets ov até mesm contré aos interesses do sistema, Un cxempla Say" que persistia en scbreviver meemo quanto es cada ves mein & das crises e depressdés econéwicas italismo exigiam novas Kalecki, "Por que a Eoonemia ofnda nde 6 uma on Polson setewbro de 19 veoncepgdes que ~ antes mesmo de poderem ser usadas para justifi- car o sistema — fossem titeis para dar uma solucfo As préprias cri- ses e depressdes. Wao & por coincidéncia que a derrubada da “lei de Say" dentro mesmo da Economia Folitica ortodexa tenha oecorrido com a maior oftse econdmica por que passou o capitalismo, ou seja, imediatamente depois da erise de 1929-32. Para compreender a permenéncia da "lei de Say" talvez ceja im portente observar que apés John Stuert Mill ele, embora estivesse emtutida em mitas das principals concepedes da Economia ortodoxa (néo-cldssica),.porica atengSo recebia dos economistias que, cons~ ciente ov inconscientemente, a adotavam, Mesmo Alfred Marshall (1842-1924}, que heréare diretamente de Mill o princfpio de say, ) ndo lhe Gedica qualquer anélise em separado, tomando-o gomo um postulado da Economia. Uma das poucas excegdes 6 constitvfda por Fred M, Taylor, em cujos Principles of Eoonomies encontram-se el- gumas p4ginas espécificamente sobre o assunto.'©) & & eurioso no- tar que A. C. Pigou — um dos destacados economistas ingleses que sucederem a Mershall e cuja otra, segundo Keynes, constitufa a versio moderna da tradicéo "“eldssica" — jamais tenhe feito expli-~ citanente referénoia & "lei de Say". (7) Keynes se refere a0 proliLe- (5) Veja-se 2 citagio que A. Marshall, Principles of Economies (oiteva edig&o, Nova Torque, Macmillan, 1948, cap. 13, §10, p. 710), faz de Mill acerca da referida "lei". (5) pea i, Saylor, Principles of Economies (Nova Torque, Ronela, 1921). Segando Lawrence R. Klein, The Keynesian Revolwéion (eegun~ aa edig&o, Londres, Macmillan, 1968, p. 443, cete livro de faylor foi duronte muitos anos usado como manual nes universiéades ameri- cenos, Taylor seria, portanto, un dos principals divulgadores da “lei de Say" entre of economistas americenos formados nessa época. (1 peo mens este & & conelus o de Alvin H, Hansen, om A Guide eg (Nova Torque, MeGraw Hill, 1953), cap. 1, p. 17. ‘ma do seguinte modo: A doutrine: fie Say, como apresentada por Jon S. Mi11/ no é jamais cmposte, hoje em dia, desta forma crua, Ela ainda é, todavia, subjecente a toda a teorie cldssica, que entraria em colapso sem ela, Os econonistas contempor&neos, que poderiam hesitar em concordar com Mill, nio hésitam en aceitar conelu- 1 econo preniesa, (8? sées que requeren a doutrina de Depois do ataque frontal feito por Keynes em sua Teoria Geral, a "lei de Say" passou a merecer maior atencglo por parte dos eco- nomistas, (9) para finalmente ingresear ~ como ponto de referéucia da Beonomia "keynesianan(20) _ separando a Economia "celdssica' en todos os manvais de Macroevonomia. Néo hd, porém, pelo menos que seja de meu conhecimento, um es- tudo mais profundo da "lei de Say" e de ouas diversas implicagdes. Os manuais de Mecroeconomia, por exenplo, limitamse a apresenter uma resumida formulecio — nem sempre conveniente — dessa “lei” ¢ referi-la como sendo um elemento da tradigZo "cléssica" da Econo~ mia. (1) tum desses manuais, Ackley chega mesmo a dizer que a “let ral Theory, cit., cap. 2, §6, p. 19. (8) Keynes, the Ge (9) yer, por exemplo, Oskar Lange, "Say's-Lew ~ A Restatement ana Criticism", em Studies in Methenetical and Beononetries, Tae.University of Chicego Press, 1942; Joseph Schumpeter, Iiatory of Economic Analysis, cit., Parte Til, cap. 6, §4¢ Beonom: (10) xemes, os keynesianos e mesmo os pseuds-keynesianos denomi= nan de "cléssicos" a todos os economistas que, grosseiramente fa- & obra, o cap. 1, p. 3, n.). Para Mary, a Eronomia eléssice era com lango, precederam o préprio Keynes 1 (ver, nessa da Beort preendida quase que exclusivamente pela obra de William Petty, Adem Smith e David Fieardo; de Marx denominava de Economia Polftica "vulgar". ae cardo iniclavacse'o que (11) Ver, por exemplo: Dudley Ds 2 eynes, Nova Torque, Prewtice Ha Ackley, Macroeconomis:Theory, Nova lox 5; Edward Shapiro, Macroec i ie, Nove que, Harcourt, 1966, cap. 18. 7 fe Say" néo passa de un ertificio eriado pelos econonistas moder- nos para caracterizar a Economia “eldssica" ¢ que p ta "cldssico" em particular teria adotado essa lei com todas suas implicagdest As idéias que distutiremos sob o nome de "lei de Say" consti- reconstrufao pes tmem em parte um conveniente "home de palha' los ecovomistas modernos para representar o pensanento de seus predecessores "cldssicos". (...) Nonhum economiste "oldssico" individual adotou todas as idé 16gico estudioso Sisto 6, Say/. as agora atritufdes a esse mito (42) 0 que pretendemos mogtrar neste capitulo 6 que a "lei de Say" —apesar das contradigdes do prépric Say — efctivamente exerceu wna grande influéneia na formagfo da Economia Polftica a partir de Ricardo, o qual = seguido de Jobu S$, Mill ~ foi o tedrico que mais consistentemente adotou equela “lei*, Ascim, concentraremos nosso estudo sobre @ obra de Ricardo, estendendo~o &s vezes até as obras de Mill e de Marshall, Referéncias a autores posteriores seréo feitas apenas circwistencialmente, como exemplos de concep~ gdes apoiadas no prinefpio de Say. 2, FORMULAGAO 5 SIGNIFICADO DA “LET i a. A_"lei" No capf{tulo 15, sobre os mercados ("Des débouchés"), no livro I da segunde edicéio (1814) de sua .obra momie Politique, Jean-Baptiste Say escreveu o seguintes Yele.a pena notar que wm produto, tio loge ja owisda, nesse jnesmo ingtante gera um mercado para outros produtos em, toda. grandeza de seu préprio valor. Quando o. produtox dd.o tcque (22) goxrey, ope cits, pe 109. No texto citedo”@ima, onde se 1¢ “todas as idélas a) er "“toder wides" a Say, deve-se enter alidede, ninguém, a as implicagdes da lei de Say", porque, us no ser o préprio Sey, adotou tiodes suas id ' final a seu produto, cle esté ansicso para vendé-lo imediata~ mente, para quo o valor do produto ndo perega em suas milos. Nem esté ele menos ansioso para se utilizar do dinheiro que pode obdter, porque o valor do dinheiro também é pereeivel. Mas o Wmico modo de se desfazer do dinheiro ¢ pela compra ae um produto ou outro, Assim, 2 mera circunstincia da criacio de wn produto inedietanente wa meresdo para outros produtos. Essa concepgio(t3) passou a ser conheciéa abreviadamente como "Lei de Say" ov "Lei dos meveados de Say", ¢ Bs vezes 6 também mencionada como “lei da preservagdo do poder de compra", Essa con- cepgio tem sido traduzida, através dos anos, por uma eurta eftyme- Ho: “a produgho ceria sua prépria demanda", : © princfpio formlado por Say tem sido defendido atuelmente co- mo sendo vélido para as economies de produtoros simples, isto 6, onde cada familia seria proprictéria de seus meios de produgdo e troceria epenas o excedente de bene que ela mesma produz nas n&o consome. Acontece, todavia, que Say, Ricardo, Mill e todos os sub= seqientes adeptos do princfpio opresentado pelo primeiro nio este~ vam lidéndo com uma sociedade de produtores simples, mas sim com wma sociedade capitelista. Vejamos, portanto, como podemos tradu- air @ "Lei de Sey" no contexto de una econonte capitelista, Para comegar, lémbremo-nos de que o prego de um produto pode ser Gecomposto em trés partes: (1) 0 custo dos meios de producto ni LD ses 3 (2) os salitries pagos aos. trabalhadores ee em sua producio; (3) 6 vero avferido pelos capi talis tas. Lembremo-nos também de ove o proceeso de producto ffeien de (13). pn seu ldyro Commerce Defended (de 1808), Janes Hil] navia escrito: "A produgdo de mereadorias erie, ¢ é a dniea e universe? cause que ceria, m mercado para as mercadorias.”(7..) 0 poder de compra dé una nagic é medide exatamente por seu produto anual. ste mes= Quento mais avmenta o produto anual, mais se emplie, vor mo ato, o mercado nacional. (...) A demenda de ve nag&io € seupre iguel & produgéo de uma nagdo." (Pranserito de Maurice Dobb, op. eit., p. 41-42.) {um bem ou servigo é ao mesmo tempo o processo de geragio de um determinado valor (ou prego) correspondente a esse bem ou servi- go. Assim, a cada produto corresponde um dado valor (ov prego). Ao vender sua mercadoria, o capitelista obtém um montante de dinheiro exatamente iguel ao que é necessdrio para compré-la, Isto & 6twio e equivale & afirmagZo de que toda venda corresponde « vma compra de igual velor. Kas o capitaliste nfo compra sua prépria mercadoria, Com uma parte de sua receita ele adquire de outros capitelistas os melos de produgo necess4rios para manter em mo- vimento sua prépria atividade. Com outre parte, seu lucro, ele compra tambéx de outros capitelistas os bens de consumo de que precisa e um volume adicionel de meios de producio para ampliar sus atividade, A tercelra parte serve pera pagamento de saldrios aos trabalhsdores, que adquirem bens de consumo dos cepitalistas. Assim, de acordo com esse esquema, a receita total de wm capita lista se distritel de diferentes modos, entre diversas compras num valor totel igual Aquela receita, Remaencs a prépria produgSo, Os cepitalistes compram e vendem entre si os diferentes tipos de produtos (bens de capital fixo, bens interme- aiérios © bens de consumo) e pagam aos trabalhadores os saldrios que serao usados para a compra de bens de consumo. Em resumo, con~ sidere-se que as mercadorius so trocadas entre si (ineluindo-se af a forga de trabalho como mercadoria); ou seja, o processo de eireulagéio da produgio em seu conjunto é en do ceme gendo cons- titufdo por uma troca de produtos por produtes, o dinheiro senéc usado apenas como meio de troca, Esta é a esséncia da “lei de Say", que tanta confuse causou. Eoge mesmo esquema pode ser apresentudo de mode im pouco dife- rente se recorrermos a um gréfico muito utilivado nos manveis néo-eldssicos de Microeconomic, Como sabemos, na Eeonomia néo~ © existem capitaliotas, nem operdrios, nem qualquer outta Classe social. Yodo o esquema tedrico é montado sobre mea dicotomia bisica: de wm lado, as empresas produtoras de bens e servigos, operando como se tivessem vida prépriay de ovtro lado, os proprietdrios dos "fatores de produgio" (proprietérios ao ce pital e proprietéries do "fator trabalho"), que vendem de empr 889 os "servigos de seus fatores", recebendo em troca wm pagemen= to, que é a renda desses "proprietérios", Por seu torno, os "piro~ prictérios dos fatores de produgSo" conpram os bens e servicos produzides pelas empresas. Temos, portant EMPRESAS: -pe} FATORES DE 7 Rendas Produgio de bens e Venda de ben ge servigos _-[trabelho Recebimentos das empresas As setas em linha cheia representam fluxos em termos "reai's", e as setas em linha pontilheda exprossam fluxos em termes monetd~ rios. 0 fluxo de "servigos de fetores" 6 necessaxiamente igual ao sexrtan wh mesmo fox fluxo de “rendas", visto que ambos epenas repr to sob duas formas diferentes (ternos "reais" e "monetérios" do mesmo fenémenc). O mesmo acontece com a igualdade’ entre o Plus de "bens e servigos" e o fluxo de "rocebimeritos das empresas". Se, agora, supusermos que os dois prim nos fluxes resentacao da "Lei aos dois tltimos, tenos ume neva ex termos monetérios, ac rendas pagas pelas empresas. sio lgaeis As receites das empresas; ou, visto de outro Angulo, sio com as re das recebidas das empresas que “os proprietérios. de capittel e tre+ balho" pega a elas péloe bens @ sevigos que eles comprany ou, ot sume, as rendes doe cepitalictas e trabelhadores sio trocadas pe-~ las receitas das empresas. Im ternos reais, "oe servigos de faton res" sio trocedos pelos bens e sevigos produsidos pelas ewpresas. Nesse caso, computando~se tanto os “bens e servigos" como on "ser= vigos de fatores" na categoria geral de “nereadortas", temos ¢ es queme de que as mercadorias sio trocades por mercedorias. Ep mos concluir também que quanto mais as empresas produsirem, rcior seré o volume de rendas e, conseqttentemente, maior serd o volwne de vendas das empresas pora os “proprietérios de fatores"; om oun tras palavras, a produg&o estard gerando sua prépria demanda. No gréfico acims falta obsorvar um detalhe. A compra e venis de bens intermediérios utilizados no processo de produglo nde rece no gréfico, porque 6 wa processo que se a4 ent empresas (e nao entre estas e os "fatores de producto"), sdeasis, como a compra de bens intermedidrios por uma empresa € igual & venda desses bens por outra empresa, essas operagdes se anulon, b. A Troca de Produtos por Produtos Restan ainda alguns questSes fundamentais para se entender a “lei de Say". A primeira Gelas & a seguinte:por que os produtos se wro- cam por produtos (ou entéio, segundo a interpretagie ao gréfico, por que o& dois fluxes de cima s&o iguais aos dois.fluxos de bai- x0)? : vortanto, néo exeree influéucia no processo de producto © circu Lago. Assim, o fluxo de trensagSes em termos monetdrion pode ser Geixado de lado, como sendo um simples reflexo 60 fluxo real one se d& na trocd entre os produtos. Numa sociedade dé produteres: simples, cada fawflia é proprietdria de seus meios « objetos de trabalho e produz divetamente para seu préprio consumo, 03 tipos Ge bens ave uma famflia no consegue produsixr, ela os sdquire te ty outres famflies em troca dos excedentes de bens que cla produ Meeme que as trocas sejem realizadas com o auxtlio do @inhe cate nilo exerce af qualquer papel etivoy ov se; by nee procs Para ganhar dinheiro e, portanto, o dinheiro é apenas vm eleno de internediagio entre os produtes. Logo, o processo 6 essonoial- nente o da trocé de produtes por produtos. Ricardo assim se manifesta a reapei to deste problenar Nenhum honem produz a nfo ser com o obj vender, @ ele jomeis vende a nfo ser com a intencZe elenma owtra mereedori » gue pode ser imedi.atamente ele ow que pode contribuir para a produgfio futura. entéo, cle se torna necesseriamente ov o consumidor de seus préprios bens ov o comprador e consumidor des bens de alguna outra pessoa. (...) As produgdes s8o sempre. compradas por pro- dugSes ou por servi. 3% © dinheiro 6 apenas o mele pelo qual e LA a troca § efetuada, 14 Hotemos, de passegem, que o argumento de Ricerdo 6 um poveo diferente do de Say. Apeser ds.egude comprecns&o que Ricardo t do cepitaliono de cua época, no texto acima transevite parece que ele coloes 0 consumo como o objetive final da produgio, como estivesse tratando de uma sociedade de produtores simples e niio do capiteliono. Como se 1é no texto, o homen produz com o objeti de consumir; se ele vende seu produto, € con o fim de comprar ou- tra mercedoria que ihe seja "imediatamente wisl" ( vém poss# ser consumida logo), ov que Ine p constmo futuro. Jéno texto de Say, esta idéia n&o Entende-se af que o objetivo do “produtor" é 2 obtengic de um bem finel, mas n&o necesseriemente de conswiio; © se ele vende sua mer~ cadoria & porque o valor desta (valor de uso ou de trocs?) é pere- civel, e se ele procura comprar cutra mereadoria eom o dinhe obtido’ é porque o valor deste taabém.é perecfvel. Deis: ance de lado o problema de suier uv que significa "perecfyel" para. Say, pode-se péreeber una difverenga nos argumentos ae Say e de Ricardo: para ests, se o produtor vende sua mereadorie & porque ele quer compe CG) yawia Ricardo, Principles 3 ononye (Penguin Books, 1971), exp. 21, p. 291-292. Dagui por obra seré Gesignade por ciples. outra; para Say, se o produtor vende sua mercadoria e logo om se- guida compra ovtra & porque tente o valor de sua morendoria como © 40 dinkeire por ela obtido séo pereciveis. fpesar dessa diferenga, Ricardo e Say concordem em trés pontos funcamentais: (1) embos parecem estar a referir-se a uma socieda- de de produtores simples, na qual o objetivo da producho é a pré- pria obtengfo do produto, nde importendo se essa obtengéo & dire- ta ou indireta, isto 6, se o produtor obtém a mereadoria através de sua prépria proéugio ow se por intermédio da troca; (2) 0 ai- nheiro constitui um simples instrumento de troca, nio exereendo « qualquer influéncia ‘sobre o processo de produgéio e cireulaghio; (3) dada essa fungée do dinheiro, na realidade os produtos se tro~ cam por produtos — "a eriegho ve um produto imediatamente abre un mercado para outros produto; como diz Say, ou “as produgdes sio sempre compradas por produgdes", como dis Ricardo, ou ainda, cone € mais usual dizer-se, "a produgio cria sve prépria demanda". ce. Fungo do Dinheiro Ainéa deritro de quest&d de que e: tamos tre. tanéo, cabe chanar a ateng&o pare o papel atritufde ao dinheiro. Como dizia warx, "6 @inkciro leva sempre junto a ci a posuttalicese ae orice, (29) Para Worx a-moeda podia servir como expressdo de valor G6e prodt- como inetmumente @e acumiLecdo e ontesciitanento. © simples fato da noede ser usade como intermedigrio entre ae trocas j& pode criar um probvleua para a circulagdo dos produtos: o capit imedi: prevoce um retardemento no Drocesso de isto, 0 capitalista usa o dinheire para « C5) x, warx, Yeovias de Mele-Val 5 Cite, pe 26, plo, com o fim de sevmilar dinheiro suficiente para ampliar seu capital}, isso provoca una interrupg&o no processo de cirenlaghe de mereadorias, entretanto - seja pera o prd; Ne Zormulagdo da “lei de Sey ou pare Ricardo ~, 0 dinheizo é visto no apenas como coneti~ tuindo somente um meio de troca, mas tambén como sendo gusto ine dintowente, Isto se explica, pera Say, pelo fato de o dinheiro sex pereefvel (desvalorizar-se) ¢, portento, o "produtor" nico desejar conservé-lo em suas mios, Pare Ricardo, a explicagio estd no fato sigho de bens de consumo ée o dinheive servir spenas para a eg e/ou de bens de produgfo para erierem bens de consumo no futuro, e, portento, os produtores ou possuidores de dinheiro nio terem rT motive para montero @inheiro em sues whos por mais tempo de que 0 necessdrio para edguiriren agueles bene. Assim, 0 uso do dink To como instrumento de troca n3o constitu problema pare a elreu Lago de mercadoriag, Main do que into, ‘6 Giikelro passa avexpres sar (apenas | tall valov Heninal Waltrede, « quel, efetivanente, se re liza entre as préprias mercagorias. a. Igueldade entre Produgho_e Demanda H& einda outro ponto fundamental a ser explicado'ne “led. de Say", Como o produtor de um determinate valor & também um comprador de produtos do mesmo valor, como os produtus se trocam por produtos, entio decorre daft que nao h& de prodvugio, ou seja, a Genan~ da $ igual A produgio. Nao resta diivida de que cada produtor, ao criar uma. determinada quantidade de bens ou servicos de certo vax lor, est&é avtomaticamente crianée para el mesmo.um potencial poder de compra de mesmo valor. Ou seje, a vende de seus produtos lhe fornece um- volume de dinheiro igual ae valor daqvela vends. Acon~ tece, entretunto, que os produtos eriedor ra economia como um todo sS0 de diferentes tines, inte é, téa diferentes valores de uso, servem a diferentes fins. Para que n&o howvesse execesso de produ~ Lg ¢ho, a a ntidede produsida de cade tipo de bem deveris ser do tal modo a atender exatemente A quantidede demandada-de cada bem. Do contrério, embora howvesse na economia eapacidade de ée qualquer tipo de bem (e isto é compra para toda s produg necesserismente acsim porque, como j&-se explicou, a sixples produgSo de um be gera ume igual cepscidade potencies] de com= pra), certos bens ou certas cuswkidedes de determnados bons pox deriam nfo ser conmprados. Neste ec: wos WR excesso de pro~ outro dug&o, ou, gulo, ua deficiéncia de denanda. a fol dada por Ricardo no capitulo + A resposta & este proble: 21 de seus Principles e em sua correspondéncia com Malthus, e suc responte. parccia tio convincente que pessou a ser adoteda ingues- ca ortodoxa até a déenda de 193C. tionadamente pele Ele argumentavat iv produsida em demasia, da Uma mercadoria particular pode s qual pode haver um tal abarrotamento no mercado que nao reem~ volse o capital nela despendido; mas isto n&o pode ceorver com : relacio a todas as mereadorias; = demande por trigo é limitads a demenda’ por sapatos. 2° pelas bocas que existem para come ecasacos pelas pessoas que éxistem pera usd~los; mas enbora ume comunidede, ou wna parte dela, po chapéus e sapstos que ela nossa ov deseje consumir, o mesmo néo sa ter tento trigo e tantos se aplics @ todas as mercadorias produzidas pele natureza ou pelo artesanato./Principles, cap. 21, p. 292-293,7 Ou seja, |a @emanda — em relagho a todos os tipos de mereadorics de bem pode estar sotisfelta, mas existird sempre wna dewenda in tiefeits por outro tipo de produto. Assim, com relagio & de: por 0 Oelerminade Lem, pode haver um exeegse de produgfo; 3 (16) Note-set fulemos agui de “Aenanda potencial™ gue, na. verdate, 20 « al & "necessidade", no sentido genérico deste Wtine + 2 sitvagio & outra: como dix Riearlo La produ nda efe’ Gontrepartida, haverd uma deficiéncia de producie de intimeros ove tros bens pard os quais existe demanda, Deste argumento resulta que embora possa haver um excesso de produgao, isto acontece ape- nas para certios tipos de mercadorias ¢ em caréter tempordrio. Consideremos ums mereadoria 4. qualquer. Suponhanos que por wt ou outro motivo a produgdo parcial on total dessa mereudoria no seja vendida: por exemplo, ou porque o capitalista que a produz superestimou a demanda por ela ou porsue seus eventuaits conouni- dores mdareaa de gosto. Assim, a produgfo da mereadoria A consti~ tui ‘apenas a criagho de wa eventual poder de compra para 0 eapita~ lista que a produziu, poder de compra que nfo se efetiva porque 5 mereadoria néo é vendida. EB a economia apresenta agora um excesso de produgio, igual ao valor da produg%o da mereadoria A. Se esta mercadoria nfo é vendida, igto significa que seus eventuais consu- midores nao a compraram e, portanto, dispdem de um montante de re~ cursos (ainheiro) que pode ser eplicado na aquisigiio de outras mereadorias. Assim fazendo, a producio destas tltimas serf estimu~ lada, No fim das contas, o ‘capital ueado na produg%o da mereadoria A se deslocaré para a produgdo daqueles bens de maior demanda e novo equilfbrio seré atingldo — no quel n&o naverd exeesso do pro- ducSo, isto 6, onde a demanda seré igual a producto, Evidentemente, nesse processo supde-se.a plena mobilidade de recursos ¢ plenc conhecimento, por parte dos capitelistas, dos re- mos onde eles devem aplicar scu capital. Isto é de fato o que diz Ricardo: Kéo € para se supor que ele /o produtor, o capitalistay * © para qualquer perfodo de tempo, estar mal informedo a respei. das mercagorias que ele pode produsir mais vantajosemente pare atingir o objetivo que ten em vista, qual seja, a posse de ou ré conti- tros bens; e, portanto, n&o & provdvel que ele produs nuamente uma mercadoris pera a quel ngo h4 demanda. cap. 21, p. 291,/ ‘rinciples,

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