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@lhares Palavras-chave Brecht Teatro io Peps ddaticas Bhs escedade tx SERA QUE “O MAIS IMPORTANTE DE TUDO EAPRENDERA ESTAR DE ACORDO”? Uma resenha critica de Aquele que diz sim e aquele que diz ndo, de Bertolt Brecht Amilton de Azevedo Bacharelem Teatro e Especilista em Diregio Teatal pela Escola Superior de Artes Célia Helena (ESCH), Leciona Bitica e Estudos sobre 0 Ensino di Teatwo e atua como assistente de coordenagio do curso de Graduagio em Teatro da ESCH. E artista-pesquisador, ditetor ato, dramaturgo e profesor. Resumo: © presente trabalho realiza uma reflexto sobre a pesa Aquele que diz sim e aguele que diz nio, de Bertolt Brecht, O autor considera principio, os pontos de contato~ seja por assimilasio ou por oposiga0 —entreaadaptagio brechtiana eo espeticulo Né, Tanks. A seguis analisaas sit io individualmente,suscitando as diferengas nas citcunstincias de cada fibula. quediz sim eAquele que diz Por fim, duas breves, escolar) antecedem a conclusio, scrita entre 1929 ¢ 1930, Aquele que diz sim ¢ aqucle que diz nao & a adaptagao de uma adaptacio. Baseando-se na tradu 20 de Arthur Waley de Taniké (The Valley- Hurling — O ritual do langamento do vale, em tradugdo de EGGENSPERGER ¢ NAMEKATA, 2013), um Né japonés, Brecht se apropria da situa- ‘40 proposta pela peca original - mesmo passando pelos cortes feitos pelo inglés ~ mas altera seu mote: em The No Plays of Japan, onde a tradugao foi publicada, Waley afitma que a pega ‘lida com as cexigéncias impiedosas da religiao” (WALEY, 1922, p. 189, tradu Trata-se da viagem de um Professorjuntoa pe regrinos para um ritual de escalada de montanhas; a0 se despedir de um aluno que vivia apenas com a mie pois seu pai havia morride, este pede para acompanhitlos a fim de rezar por sua mae doente, ‘Quando, em um momento da viagem, ele também adoece, é submetido 20 Grande Costume de que 0 do autor), 1s propostas em Aquele iticas de encenagdes (uma montagem profissional e outra produzida no ambiente “aquele que filha deve serabatido” (WALEY, 1922, p. 194, tradugao do autor) e assim 0 & Apés isso, Waley resume o canto fina, contando o desdobra- ‘mento da pesa em uma rubrica (Quando os peregrinos chegam ao cume da monta: nnha, eles oram ao seu fundador, En no Gydja, ¢ 20 Deus Fudé para que o garot volte & vida. Ei res. posta a suas ores, um Expt aparece categan 2 [espnto]ocoloca ramente, trilha doo garoto em seus braves aos pés do Sacerdote e 50 © Caminho Invistvel que En no Gyéja abriu quan do cruzou do Monte Katsuragiao Grande Pico sem descer ao vale. (WALEY, 1922, p. 195, tradugio do autor), Esta rubric final 6 © que gera a maior difere entre a tradugio de Waley e Aqucle que diz sim (mes mo com alguns trechos aparecendo ipsisliteris em Aauele que diz nao, &na anterior que se verificaa maior influéncia de Taniks) pelo desdobramento metafisi- coeum final feliz. ‘Além deste final, as grandes diferengas surgem em detalhes do texto que mudam todo 0 mote da peva. B através destas pequenas alteragies que em “Aguele que diz sme giosa desaparece, Brecht trata em sua pega’ de ques- tes pertinentes ao sacrificio do individuo em prol do coletivo (ou, também, em prol de uma tradigio cle que diz nda a temic rl vvazia); uma temstica claramente politica assim como em grande parte de sua obra ‘Aquele que di sim é escrito antes de Aquee que diz no, seguindo quase &risca a tradusio de Taniks, de Waley. A adaptacio se da no mote da viagem ~ se na esa Né esta se dava como um ritual de ora pera escolar brechtiana & pela busea de remédios ¢ instrugdes de médicas que vivem além das monta- nhas para curar uma epicemia que atingea cidade, O Menino vai unto, entao, nao para orar pela Mae, mas para buscar os remédios pessoalmente. No meio da viagem ele adoece ¢,a fim de seguir em frente, os Estudantes dizem ao Professor que ele deve ser dei xado para tris, pois hd uma passagem pela gual nao & possvel caregi-lo ~ ¢ € quando este vai falar com 0 ‘Menino que surge questio do costume: Como voeé ficou doente ¢ nio pode continua, ‘vamos ter que detzar vocé aqui, Mas 6 justo que se pergunte aquele que ficou doente se se deve volar por sua causa, E 0 costume exige que aguele que ficou doente responda: voeés nio devem voltae (BRECHTT, 1988, p 223), © Menino entio responde “conforme o costu- me’ mas, com medo de morte sozinho, pede para ‘serjogado no vale ~ nao é este o costume, como em, ‘Tank —e os'Tiés Estudantes entio ojogam, “nenhum mais culpado que o outro” (BRECHT, 1988, p.224), “lawificada como uma pega diditica, das primeiras escitas por ee, foi, mais expecificamente, chamada de “pera escolar Musicada por Kurt Weill foi enderegada a alunos do ensino médio publico da Alemanha (as pesas diaticas poderiam ser encenadas por nio atores, de forma que, ao represent ses intpretes jf extaram 'sprendendo’) Gaupo de store sinos Aa ESCH emeenaem sdapags de Agu ued sin cojule que dwt de Berit Brecht Diteio de Dies Ot name SNA, 2013, Ft odo Cals, @lhares 8 Aquele que diz néo é escrita mais tarde no ‘mesmo ano, ‘devido a polémica que suscitou em fungao do carster passive do menino que é levado Amorte para nao se contrariar ” (EGGENSPERGER e NAMEKATA, 2013) em conjunto com uma versio modificada da primeira ~ & sobre esta versio das duas pegas que este artigo trata Dee fato, é em Aquele que diz ndo que se atesta de forma mais evidente as propostas do teatro brechtia. ro; 0 mundo coma passvel de mudangas, a possibi lidade de transformacao e interferéncia no destino do. homem ¢, principalmente, a necessidade da reflexio sobre o que é feito porque “sempre foiassint ‘As pegas comegam e se encerram com cangées do Grande Coro. A que inicia ambas éa mesma: (© GRANDE CORO © mais importante de tudo é aprender estar de acordo. Muitos dizem sim, mas sem estar de acordo. -Muitos nao sio consultados, e muitos Estao deacordo com o erto, Porisso: (© mais importante de tudo € aprender estar de acordo, (BRECHT, 1988, p.217 225), Ja que encerra pelos desdobramentos diferen tes de cada peca a partir da resposta do Menino, se altera, Em Aquele que diz in, ele &jogado no vale. Em Aquele que diz no, todos voltam a cidade de onde sa am juntos: Brecht ope o sentimento de culpa daqueles que levaram a cabo o antigo costume a0 de covardia dos que 0 rompemy; nao a um ato de coragem, como talver fosse esperado, Dessa forma, nio é possvel fechar uma compreensao sobre o inicio da fabula: 0 que é estar de acordo? O Menino, ao concerdar com, © antigo costume, nfo s6 ests de acordo com a trad <0, como também com o que ele mesmo havia con. cordado por saber dos riscos da viagem. Jé quando diz nio, é levantada pelos Estudantes a questio do bbom senso ~ no é este nada mais se junto de acordos entre uma sociedade que discere fo um con- ‘o certo do errado? Por vivermos em um mundo mu- tavel, tal conjunto de acordos dependem de valores que, assim como a sociedade, estio em const ‘1 formagao. “Preciso & de um novo grande cos- tume, que devemos introduzir imediatamente: © costume de refletr novamente diante de cada nova iagao" (BRECHT, 1988, p. 231) — se o mais im- portante de tudo é ‘omais importante de tudo é aprender ase manter em movimento com © mundo; com suas mudangas ¢ novas eantigas necessidades de reflexao. snder a estar de acordo, entio uatra questio que pode ser levantada sobre o ria, qual seria aleitura caso nao houvesse algumas diferensas entre as stuagies apre texto é 0 queacon sentadas. Em Aguele que diz sim, a Mae se diz muito doente ~ apesar de conformada com a impossibil clade da cura ~ ea viagem & para buscar reméaios; 0 sactificio do Menino significa que podem seguir via gem_e curara epidemia. Em Aguele que diz ndo,a Mae Agua que de sin Ena os amigos param o cantil E deploraram os trstescaminhos do mundo E suas das leis amargas, Pé com péum ao lado do outro, Nabeira do abismo, De olhosfechados eles jogaram omenino, \Nenhum mais culpado que o outro. Ejogaram pedagos de terra E umas pedrinhas Logo.em seguida, (BRECHT, 1988, p.224) ‘Assim os amigos levaram o amigo levaram o menino de volta Lado alado,caminharam juntos, Aoencontro do desprezo, ‘Ao encontro da zombaria, de olhos abertos, Nenhum mais covarde que 0 outro. (BREK 232) pede que o Professor nio se preacupe com a doenga ca viagem ¢ de estudos, para aprender com os des mestres que vivem na cidade além das mont nhas ~ ela apenas cita que i também vivem grandes médicos; a recusa do Menino em seguir 0 costume a criagio do novo costume significam apenas um adiamento dos tais estudos. No entanto, em Aguele que diz néo, 0 assassinato do Menino & trazido & quest “grande costume’ langar quem nao consegue pros: seguir ao vale ~ em oposigio a um abandono pela necessidade de seguir viagem apresentada em Aquele pelo fato de ser um que diz sim. So problemiticas diferentes acerca de uma situacio semelhante. Dizer sim a0 sacrificio individual pela necessidade coletiva ¢ dizer nio por oposiséo a uma tradicao sem sentido. O mais importante de tudo, entio, é aprender a estar de acordo com a reflexao a partir das circunstincias que podem nos ser dadas ou impostas, mas nem por isso deixam de ser mu Antes da conchasio, seguem breves crticas de encenagies vistas recentemente de Aquele que diz sim ¢aguele que diz no. A primeira é uma montagem pro- fisional ea segunda, uma montagem dentro do am- biente académico — uma montagem de formatura de alunos do Bacharelado em Teatro da Es de Artes Célia Helena (ESCH, 2013): cola Superior Ensaio sobre o sim eo nao, do Teatro de Narradores Em cartaz no més de abril de 2014, no Teatro Jodo Caetano, é anunciada como livrementeinspirada na obra de Bertolt Brecht. Na verdade, 0 que se sendo cantado pelos atores é um amélgama en Anguele que diz sin e Aquele que diz nao; basicamente,a adaptagio se dé pela selecio entre os trechos de am bas as pesas para a constru 10 de uma dramaturgia ho sim e o no em uma encenagao em que assituagio nao se repete Seguindo a proposta original da pega, musica dae dita “épera escolar’, os atores cantam ¢ levam a0 extremo sua imobilidade ~ a in pretagio se di de forma muito suti,em algumas expresses facia; na realidade, esas pessoas no palco sio creditadas na ficha téenica como ‘cantores’ Assim, poder seia anular a ideia de qualquer interpretacao corporal en: ‘quanto representacio teatral ia cantada, com 0 acompa ahamento de um piano ¢ um belo arranjo das vozes; destaque paraapoténcia vocal do cantor que interpre tao Menino. Os personagens sao os mesmos da pega original ~ Mie, Menino, Professor, ‘Tiés Estudantes 0 Grande Coro este formado por quatro cantores. O diferencial da proposta, pelo qual a pega é tazida para a nossa realidade, é a duplicagio dos persona. gens do Menino e da Mie Alem dos que estio no paleo, dois atores es tio na rua, com mictofones e sendo projetados em streaming, com 0 video ocupando toda a parede do fundo do Joio Caetano e sendo 0 tinico “eenstio” da montagem. Em uma escolha que pode ser lida como um recurso ant‘-ilusionista, uma ferramenta pata oestranhamento do piiblico, no ha qualquer tentativa de esconder toda a parte técnica do teatro eda encenagio — tanto os técnicos quanto os equi- pamentos estio bem a vista do public Este Menino e esta Mae dialogam simulta neamente com a cena, utilizando o mesmo texto que esta sendo cantado ~ mas apenas em alguns Testo de Naradoresem Bw deBertt Breet Diego de José Femando de @lhares ‘momentos, prin saida da viagem 3s montanhas, eles interagem com passantes da rua, fazendo per tematica da pega: se se sacrificariam por alguém e também se morreriam em nome da politica —coin cidentemente, assistindo em uma sexta-eira santa ecom a temitica do Né, Taniké, ser religioso, uma senhora dizia que “nenhum sacrificio que fizermos serdigual ao de Jesus’; hi nesses momentos um en contro inesperado entre universos; odessa senho yuntas relacionadas & ra, 0.do momento em que essa fala surge em meio a0 canto que vem do paleo, o das referéncias do es pectador em relagio 3 obra e também de sua vida © atornarrador, que viré a interpretar 0 ‘Menino que vai a rua, inicia o espeticulo introdu: zindo a pega e fizendo uma critica: as pesas de hoje se fizem para 0 teatro ¢ nio para o piblico; Aquele que diz sim e Aquele que diz nio cram pegas “sem en- derego™ e firma que hoje “a historia foi para a rua E cle também quem fecha o espeticulo ~ apés 0 final de Aquele que diz sim, ele interrompe a cena, uitiizando uma adaptasao da resposta do Menino aos Ties Estudantes quando ele diz nio ~ ‘Aquele que diz’, nio tem que dizer’b: Ele também pode reconhecer que ‘2’ era falso” (BRECHT, 1988, p.231) ~eentranovamente no teatro, elaborando a conclusio de que devemos parar para refleir quai do isso se faz necessitio, mesmo que nio de acor do com velhos costumes. E encerra repetindo um 4uestionamento colocado no inicio; ‘onde esti os corais ensaiados?” quando, em resposta, todos can tama primeira fala do Grande Coro do espeticulo, Para além de propostas estéticas, interessante petceber que hi uma questio ética muito clara ¢ tum posicionamento quanto a isso: aguele que ndo é aquele que esté na rua. aordem vigente (0 Grande Costume), harmonia dda 6perae do ensaio; sua fala é livre esuas reflexdes mais urgentes © que esté dentro do teatro, em cima do pal 0, protegido por convensdes e cercado de iguais (© figurino de todos é semelhante, as vozes jun: tas formam uma composigio harménica ¢ sem dissonancias) s6 pode seguir o costume. Aquele que est fora, que ouve seus semelhan- tes ¢ recebe deles respostas distintas, aquele que aneo de si proprio, aquele que percebe seu instante pode pa rar para refletir sobre 0 que acontece por ter que acontecer, porter sido sempre assim. ‘Ao mesmo tempo, as pessoas ouvidas pelos atores, em sua maioria, afirmaram que nio mor reriam pela politica, mas que se sacrificariam por sua familia — aguele gue diz sim embasa sua respos tao fato de que sabia dos riscos da viagem e que tomou parte nela por causa de sua mie; 0 sacrfi- cio, assim, feito pela necessidade de sua mie ~“Foi esti inserido na sociedade, conte: pensando em minha mie / Que me fera partir. / ‘Tomem mes canti, / Ponham o remédio nele / E levem pata minha mae, / Quando vocés voltarem? (BRECHT, 1988, p.224). Acencenagio parece propor sua autoctitica ¢ sugere momentos de implosio, quando o sudio de fora ~ ou seja as respostas das pessoas ~ tomase ruido nas cangées ensaiadas ~ 05 atores no palco Jgnoram solenemente o que se passa no teldo ¢ as intromissdes sonoras; seguem cantando ~ mas no fim, ao se encerrar onde comesou, nie deixa cl © que quer dizer quando afirma tante é aprender a estar de acordo"; mantendo, as sim como Brecht, letura da obra problematizada — para além do que seria dbvio de inferir da situa- so mostrada. .¢“omais impor Aquele que diz sim e aquele que diz nao, de alunos da ESCH com diresio de Daves Otani Apresentada nos dias 16 ¢ 17 de novembre de 2013, como montagem de formatura de uma tur ma do Bacharelado em Teatro da Escola Superior de Artes Célia Helena (ESCH), no Galpao da escola. Da mesma forma que na encenagéo an- terior, esta se valia de um jogo de perguntas ¢ res- postas ~ porém, este era feito pelos atores, antes do inicio da fibula, para o publico que iria assist. Questses polémicas e tangentes a0 nosso tem po eram feitas (de temas como aborto, religiso, dependéncia quimica; também de sacrificio, 0 dos Nartadores) ¢ as tinicas respostas aceitas eram ‘sim’ ou ‘nie’, nio dando espaco para grandes reflexdes. ‘Aencenagio,no entanto, dava espago nioape nas paraa reflexao do texto masia além. Havia uma nova adaptagao — se em Taniké havia o mote reli- 4gioso ¢ em Brecht este se torna social, o mote desta encenagio era ainda mais atvalizado: a epidemia cram as quest6es do nosso tempo; 0 jogo, a bebi- dao consumo desenfieado, Havia também novas cangies inserida,criadas pelo grupo, paraalém de trechos musicados do texto original. Ainda, apés a representagio de Aquele que diz sim e a de Aquele gue diz nao, os atores representavam cenas do nosso cotidiano, problematizando outras questoes per tencentes 20 dito “senso comum’ ¢ se utilizando da quebra de expectativas denteo do discurso dos personagens ~ como, por exemplo, na situagio em «que uma mulher evangélica grivida defendia o seu direito de abortar texto original aparecia adaptado a fim nao apenas de tomé-o contemporineo de acordo com © mote inserido na encenagio, mas também de aproximé lo daqueles atores em formagio e a um piblico menos acostumado com teatro enquan. to & no Ensato sobre o sim ¢0 ndo que se critica um teatro feito para o teatro, € aqui que ele se encontra mais com 0 pove; nio apenas por uma adaptagio textual mas pela proposta estética da encenasio. O didatismo da pega parece, aqui, ter encontrado 0 seu lugarpara além de um refinamento no discurso. como na encena Conclusio Aguele que dz sin ¢aguele que diz nio sio duas ppesas que, juntas, nio passam de dez piginas. No entanto, seu tamanho reduzido nao impede gran des reflexses, impressies ¢ criagbes a partir de suas poucas cenas ~ duas. E uma pega completa, com rubricas de cenogralia,indicagses de planos, suges- tees de ages. As ferramentas do Teatro Epico estio li: pre- senga do coro, narracio daagao, 0 canto,adialética Brecht apresenta em sua dramaturgia um poder de sintesefascinante, ondenada estécolocado semum motivo, seja este 0 divertimento ou a necessidade de gerar um estranhamento maior no public. A primeira vista, percebe-se a dialéticaimedia- tamente posta entre aquele que diz ‘sim e aquele que diz “nao”. Com uma leitura mais aprofunda- da, afloram questdes em cada uma das situacies individualmente e uma questio centralliga as duas o “estar de acordo’ Uma mesma situagio com dife- rentes perspectivas sobre ela pode revelar reflexdes _quase antagénicas, mesmo que as pesas ndo pos sam ser sobrepostas, Um Menino dizendo “nao” em Aquele que diz sim pode ser culpado pela mor- te de sua propria Mae e diversos outros cidadios doentes.Jé um que diz ‘sim’ em Aquele que diz nao seria mais uma vitima inocente dos “costumes Assim, nao hé uma tinica ‘moral da histéri’, algo serapreendide de forma passiva. Nao hi algo sendo ensinado de uma forma hierérquica, do pal- co paraa plateia; o aprendizado se di no confronto entre nossa visio de mundo e a situagao apresenta- da pela pera. £ impossivel chegar a uma concluséo apenas pela situagao representada, hé a necessidade Daniel Bageno em ena de Agu que eam eagle gue dando de Berle Breet Diego de Daves tan, Exam SNA, 2018, Foto, Jodo Caldas. @lhares Leia Mesguta maeDiegs Santacem cena de Agade que dame Berto rec Diresiode Dave Ota Exame 6NA,2013, Foto: odo Cala eum comportamento ativo do piblico de refletir sobre o que viu, © que pensa sobre aquile, suas vi véncias e seu modo de estar no mundo. Brecht sempre e sente, tanto enquanto forma teatral como mensa ia para o momento pre gem social, Sua poética foi um urgente sopro de renovagio para um teatro que ja nio dialogavs seu proprio tempo; da mesma forma, © contetide de sua obra lidava diretamente com as questdes contemporineas a ela. No entanto, se podemos com afirmar que no século XX e nestes mais de oiten: ta anos que nos separam de quando Aquele que diz Sins eaquele que diz nao fot escrita,o mundo mudou consideravelmente, também nio é nenhum absur: do considerar que muito permanece. Dessa forma, o que se verifica dentro das duas encenagdes comentadas, sio as possibilidades de aproximagio a uma dramaturgia que, embora ¢s- crita por um autor absolutamente preocupado com seu tempo, possui certo cariter atemporal. O texto, em uma encenagio amalgemado com didlogos ex teriores, em outra atualizado, mantém sua poténcia central: colocar em cheque, a todo instante, nossas posigdes frente 20 estar no mundo, Portanto, mostra-se impossivel nio tragar pa ralelos com nossa realidade atual, de tantos ques tionamentos morais; um tempo de transicao que, seporum lado pode ser visto como devalores cada vez mais individuais em detrimento do coletivo, por outro, sio identificadas diversas iniciativas que par onde nio existem mais valores absolutos, o papel daarte nao pode ser o de apontar certezas, mas sim ‘0 denos abrir espagos de rellexio. “em ir contra esta corrente. Em uma sociedade Consequentemente, ainda hoje seguimos em busca daqueles que afirmam que “nio vai ser a zombaria e nao vai ser 0 desprezo que vao nos im- pedir de fizer o que é de bom senso, e nao vai ser ‘um antigo costume que vai nos impedir de aceitar uma ideia justa” (BRECHT, 1988, p.232). 3 Abstract: The present paper aims to reflect on the play He who says yes /he who says no, by Bertolt Brecht. “The author considers, at first, the contact points — by assimilation or opposition ~ between the brechtian adaptation and the No play Tanika. Then, he analyses the proposed situations in He who says yes and He swho says no individually, raising the differences of each fable. Lastly, two short critics of staged plays (one professional and the other produced inside the school environment) precede the conclusion. Keywords: Breit aire; Didactic Pays Ethics and Sete Referencias RECHT, Berl Ets soe tate, Tadug: Fema Pais Brando. Tos coetados por Siefied Unseld 2 ed. Rio de Jane: Nowa ones 2005 Tar complet: 12 lane Tadao: Wolfgang, Bader Marcos Roma Sant, Wi Sean Rio de Jane: Pate “Tera, 1988 v3 EGGENSPEKGER, Klaus; NAMEKATA, Mira Hom Brecht 0 “Teato NB: pea Tak Ana de Samp da ert Brest Sty, vel 12013 Dipontel em hip / enn ppg ontent/yloade/2013/10/ Brecht «Tato NNC3NBA poSiCS8A7 Tan SCENE pe Acesanem ID ot 2015, "TAPLOW Antony; WONG, Takewat (Org), Bret and Fat Anan “Tax Hong Kong: Hong Kong Universty Pres, 982 [WALBY, Arthur The No Pi of Japon Now York Aled. Kops, 19m,

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