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Precisa de técnica. Nao é complicado. Observe. © autor € aquele que tem a ideia e recorre ao narrador mesmo que seja um narrador inominado — para contar e, o que é ébvio, para narrar — que movimenta o que pensa, o que cria. Mesmo que, em algum instante, parega falar de suas experiéncias de autor; mesmo assim, e ainda assim, o narrador & que conta; foi criado para isso. E gesto espontineo. Mais simples ainda: o autor é a ideia; o narrador; a pratica. $6 em casos muito especiais o nartador tem o mesmo ponto de vista — outro momento decisivo do autor. Simples, assim: 0 autor escreve, o narrador conta. Quem € 0 autor de Grande Sertéo — Veredas? Joo Guimaries Rosa, nio é mesmo? Mas quem narra a historia? Riobaldo. Jodo Guimaraes Rosa é Riobaldo? Nao, Riobaldo é 0 narrador. E pronto, Quem é o autor de A Pedra do Reino? Ariano Suassuna, com certeza. Mas quem narra, Ariano Suassuna? Nao, Quaderna. Ento, os dois sdo grandes escritores, mas nao narradores. Portanto, o inicio, o principio de toda escrita de criagdo literdria: o narrador. 1. O narrador pede a palavra Dessa forma, um esquema que facilita, na verdade, o trabalho: 0 autor pensa o texto mas precisa de um personagem — ou mais de um— que possa desenvolvé-lo, primeiro contando uma histéria rasa ¢ linear, numa espécie de esbogo ou de argumento, recorrendo, em seguida, as estratégias taticas. E o autor pode, entre outras coisas, fazer rascunhos, anotagdes, montagens. E ai decide por um narrador, ou varios narradores, para contar a histéria. O narrador é 0 personagem mais importante, aquele que vai tornar conereto que até aquele momento era abstrato. Isso é um dos fundamentos da obra de criago literéria. De forma que 0 autor deve estar preparado — e muito bem preparado — para obter 0 maximo de resultados técnicos diante que uma hist6ria que parece esponténea. E que deve chegar mesmo ao leitor com o maximo de espontaneidade. Uma constatagao definitiva: o narrador deve usar o maximo de sofisticagao para chegar ao leitor como maximo de simplicidade. Para comego de conversa vamos observar A hora da estrela, de Clarice Lispector, um verdadeiro manual de criagdo literdria, Manual de criador para criador. De quem inventa para quem precisa inventar. Nao se preocupe com os manuais classicos, eles devem servir de base, de conhecimento, de dominio, mas s6 0 criador esté preparado para ajudar, para ensinar, a outro criador. Os estudos vio alimentar sua capacidade inventiva, mas a criagao ¢ obra individual e particular. E preciso, portanto, dominar as ferramentas para depois dar o salto, a transcendéncia que transforma 0 oficio — os estudos, 0 aprendizado, a determinagdo — em arte. Os pintores sdio mestres nisso: primeiro fazem estudos individuais detalhados de maos, de rostos, de bustos, depois recorrem aos modelos e, s6 mais tarde, enfim, obra. Quando uma melodia chega aos seus ouvidos passou por toda uma série de movimentos, desde o instante em que ¢ feita a primeira partitura, naquilo que chamo de Impulso — ou Primeiro Impulso, conforme os criadores da genética da criagdo —, passando pela Intuigaio — mudangas ligeiras nos primeiros momentos, e sé mais tarde alcangando a finalizagao —, através da Técnica e da Pulsagao Narrativa. Clarice escreveu um romance, digamos, para ensinar a arte de escrever romance porque era uma romancista, mas poderia recorrer ao ensaio. Conhecia os segredos, 0 sacrificio que é encontrar uma boa técnica, que também é sempre diferente de uma para outra pessoa. Tudo isso porque também, de uma forma ou de outra, misteriosamente, precisava passar seus segredos para outros escritores. Ela acreditava nestas palavras muito fortes de Autran Dourado: Sé aceite opinido de quem sabe fazer bem e ja fez um bom texto literario, O resto mais é palpite de quem desconhece 0 assunto. Nao Ihe dé ouvidos, e sobretudo so leia bons e competentes autores que sabem e ja mostraram como se escreve bem, os chamados donos da palavra escrita como aquele que “imperador foi da lingua portuguesa’, que era como o poeta Fernando Pessoa 0 chamou, 0 padre Anténio Vieira. (Breve manual de estilo e romance. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2003, p. 8.) Agora é preciso definir de forma direta e esclarecedora. Objetiva. Autor é narrador? Nao. Quem explica melhor? Clarice Lispector, coma autoridade "de quem saber fazer bem". Ela ensina: Historia — determino com falso livre-arbitrio — vai ter uns sete personagens e eu sou um dos mais importantes, é claro. Eu, Rodrigo SM (A hora da estrela, Rio de Janeiro: Rocco, 1998, pp. 12-3) Pronto, sem questionamento ou ditvida: o narrador nao é Clarice Lispector; o narrador é Rodrigo SM. Clarice a autora. $6 mais uma vez: o narrador é o principal personagem do autor. Veja isso sempre com muita ateng’io — Rodrigo é o representante de Clarice, mas nao é Clarice. E a voz, a escrita da autora. Nao é ela, todavia. E para que Rodrigo exista e tenha um ponto de vista, ele proprio aerescenta: “"Relato antigo, este, pois nao quero ser modemoso e inventar modismos a guisa de originalidade." (Ahora da estrela, op. cit., p. 13.) 2. Intimidade autor e narrador © narrador ¢ 0 seu papel na narrativa, Rodrigo nao é Clarice, é "um dos mais importantes" personagens da hist6ria, Claro, absolutamente claro. E um personagem — embora nao participe da escrita intrigando, movendo-se, festejando —, chama-se Rodrigo ¢ tem um ponto de vista definid "nao quer ser modernoso e inventar modismos a guisa de originalidade". Esta bem? Nao é assim? Isto existe também na intimidade do autor. E, por isso, ele pede ao narrador que, embora saiba

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