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b Lumenfuris|Bditora eclurenjuris.com.br tres, Joan iis io Lz da Sg ina oP Meal Rosa como fi ase aon dts Luis Caos eta Casa Sep Gatco Mao esi Peto ia Hee Cath eras Pao Harel Pose Lina Diego rato Cangos seas Bane Fi hasnt fi va ed Naresoooie cide Maro Bara eo aro 28 ore Jn Toc Mas eee Pater. arate Fssico Me eo ose En Red St Aes Roe. Uae ad Lieto arnde eto Gaston ana i acto one Tog on (Gel Care Sey Gua Consteo be Maris Jung ib Sd enor) uasete Con oa ended Anda Sete oi fata Cs Wart ee ‘tr Bo Gus Sua Fie Sede Ro deo eee dsr sas 208420, ‘em 0011-09) tata) Tele 224-005 Sio Palo (ein, un Carla vse, cP oe0 is lacy = $60 Pik = SP "ee 908-280 Ea vera tia se de Ase aes Bijan Gome eae ins eas lg) Sep cod sa Stiga com Fo reo = "Wa se 1764 ‘Sit Gata (gas) isha Als ants ‘ttn oeinness com rants -S0 8) 981-059, Keity Saboya Ne Bis in Idem Histéria, Teoria e Perspectivas Editora Lumen Juris Rio de Janeiro 2014 4. CONTRIBUTO PARA A DENSIFICAGAO, DO PRINCIPIO DO NE BIS IN IDEM Depois de relatados os aspectos universais do principio do ne bis in idem, sua evolugio e sua configuragio nos mais diversos cenétios de cireito interna- cional e estrangeiro, aliados & constatagio da inexisténcia de diferenga estru- tural entre o ilfeito penal ¢ o ilfeito administrativo, & chegado 9 momento de indicar o que se entende como o verdadero sentido e 0 alcance de um dos mais basilares prinefpios de tutela da liberdade do homem. ‘Assim, considerando-se que a presente investigagdo € motivada pela ne- cessidade de compreender os horizontes do principio do ne bis in ‘dem, espera-se contribuir, por meio das proposigées adiantes enunciadas, com o debate sobre a necessidade de se atribuir concretude as garantias por ele enunciadas. ‘Sem abdicar do que ja foi assegurado, pretende-se ir mais além, abrindo-se novas vias de reflexio, descobrindo-se novos ou, melhor, genufnos senticos do principio do ne bis in idem 4.1. Significado Em respeito & unidade que deve ter © pensamento juridico, retornando-se as bases do direito ético, como forma de reconstrugio da traduso genuina do prinespio do ne bis in idem, entende-se que este deve corresponéer a um prin pio geral de diteito, clevado, hodiernamente, a direito fundamental do indivs- dluo, pelo qual se provhe a pluralidade de consequéncias juridicas derivadas de uma s6 conduta e sob os mesmos fundamentos. Preferiu-se no utilizar, na conceituagio proposta, expressGes como prO- sso, julgamento, pena ou sangao, optando-se por incluir no espectro de prote- ‘cho dado pelo principio do ne bis in idem uma proibigio fundac na impossiili- dade de repetigao de qualquer consequéncia juriica de nature:a sancionadora ddecorrente dos mesmos fatos e dos mesmos fundamentos, a qual bem expressa a percepgao sistémica aqui invocada. 153, Isso porque, por forga dla unidade do ius puniendi do Estado, consistindo 0 tlireito administrativo sancionador e o direito penal em manifestagdes de uma "mesma singularidacle, qualquer consequéncia de natureza punitiva aplicada por ‘esvas esferas possui aptidio de gerar os efeitos do ne bis in idem, ‘No sentido aqui preconizado, cita-se a observagio de Muioz Clares, para quem, pela mesma razio pela qual “o toque da tecla de um piano dé Tugar a um Ainico som, um s6 fato deve dar lugar a uma s6 consequéncia jurfdica estabele- ida pelo direito sancionador"> que, aplicada uma determinada sangio a uma especifica conduta, ocorre © exaurimento da reag3o punitiva ou, como diz o Tribunal Constitucional da Bspanha, “la reaccién punitiva ha quedado agotada’* proibindo-se a multipli- ‘cago dos efeitos juridico-punitivos advindos de um mesmo fato, Importante também mencionar-se que a proibigo de qualquer “gravame” incidir negativamente duas vezes sobre o mesmo assunto nao é exclusiva do direito punitivo, sendo possfvel encontrar manifestagdes dessa proibigdo em as~ suntos alheios 8 esfera sancionatéria,™ como jé notara Deméstenes, quando se insurgiu contra a lei de Leptino.5* Enfim, nao se olvidando do pensamento de Quintiliano, quando disse que a férmula bis de eadem ve ne sit actio ndo era muita esclarecedora (genus 513, MUNOZ CLARES, José, Ne sin lem y dercho penal efinicn, patloiay contain, Mut Editorial DM, 2006. p. 259, 5 FSPANHA. Tabunal Constuckial STC. 15411990. Dispontvel em: chupiieww, tribunaleonstiucioacr>, Ace ems 13 se, 2009 515. No smile desa assertive, traz-se colo oseguint ula: “a ncidncia da taxa SELICa tus de jue mort, a parti da entrada em vigoe do atasl Cid Civil, em janeiro de 2003, exla 8 Jncleneiacumlativa de correo moet, sob pena hain den” BRASIL, SoperionTebunal de Justi. Angas EDel nv Ag MOISISIPR, Rel. Ministra Nancy Arihi,Tereira Tura, jbeado cm abr, 201, Le: 16 ab, LOL. aids: havraijustica seo Fico existe qu a contibuige, an de recoherPIVCafins sobre suas vee, pogase ests aneamas cunribuigdes (que ineidem sale ‘eceita beta) cami sobre valor do creditamento elativs ao inaumoe, Ocoreia, nesta sug Iipottica, fs in em, pois 0 vendedor do esumo i eecolhi, em tee, a conriigSo que eat sobre esa tecita": BRASIL, Supevi Tibunal de Jntiga, REsp HIS27HPR, Rel. Minstns Hermon ‘Benjamin, Segunda Turma, jlgado cm: 16 at 2010, De: 04 fev 2011, 516 A lei de Leprino dca respec 3 situago no. penal, cspciicamente imuniade ebutéia, havo Demdstenes, cm seu discus, aura que [| as his prem procade udiialmente duas vee ‘contra @ mesma pesca pelos mesos ftos, quer se tate de ag cv de pestagio de coms ‘ou de qualquer outro peta dese wénor". MAIA, Rado Te. O principio dane Bs in idee 8 ‘Conscituigs rasleira de 1988, Ble cinco da Esta Super dy Minstvo Plc da Uni An 4,0. 16, jet, 2005p. ex iure obscure), apresenta-se 0 significado do principio do ne bis in idem, em uma sfntese mais ampla possfvel, como o direito do individuo 2 unicidade de (re)ago do Estado contra a mesma pessoa, com base nos mesmos fatos € nos ‘mesmos fundamentos. 4.2, Fundamento No capttulo 1, foram relatados que so multiformes as rationes atribu- {das pela doutrina ao prinespio do ne bis in idem, Sem embargo da extrema relevincia daqucles fundamentos, objetivando-se ser coerente & proposigéo formulada quanto ao sentido do ne bis in idem, defende-se que a ratio desse prinefpio fundar-se-ia na interdigéo de uma quase ilimitada possibilidade sancionatéria do Estado, como efeito ou consequéncia do anterior exercicio do ius puniendi. Ressalta-s ser rechagados. Até porque, analisanclo-se as razées neles aduzidas, percebe-se que, na verdade, correspondem a reflexos da impossibilidade ce determinada infragao & lei continuar gerando efeitos, a ndo ser, evidentemente, de cunho execut6rio, apds a prolagao de decisio definitiva sobre tal questio. ‘Com efeito, nos enunciados invocadas a favor dos principios da legalida- de, tipicidade, proporcionalidade e culpabilidade como fundamentos do ne bis in idem, encontram-se expresses que traduzem fielmente a impossibilidade da renovagao do ius puniendi estatal em face dos mesmos fatos e fundamentos, que isso nfo significa dizer que os outros argumentos devam a sabe a) oprinespio do ne bis in idem configura-se como direito fundamental do cidadao frente & decisio do poder piblico de castigé-l por fatos que jf foram objeto de sango como consequéncia do anterior exercicio do ius puniendi;* 1 Siac cr qn nf qu spe Beco eat Wh aban Spo rai stare arse OTE Ice SUSESIAES Sat cen te Buen ty sw ste a Suan jamal SD) 201, Dagotlen chips fecsoens S120 S18 ESPANHA spd msc i de nf 17199 (ae abn BOE {Bn B95 Dupont cipfrnw > Aut om 0 0 185 in serem institutos estreitamente correlat b) uma ver exercida a potestade sancionadora sobre um fato, j no mais se permite 0 seu exercfcio;*® ©) a aplicagio de determinada sangio a um fato espectfico tem como pretensio esgotar o desvalor nela contido;* ¢ 4) a sangio legalmente prevista hé de ser considerada “aurossuficiente”, sob uma perspectiva punitiva:*! Por outro lado, no so poucos os que fundamentam o principio do ne bis idem na forga preclusiva da autoridade da coisa julgada. Todavia, apesar de onados, nfo sio coi sntes. Ademais, coisa julgada nao € a tinica instituigao que pretende salvaguardar o prinefpio do ne bis in idem, tampouco tem exclusivamente esse mister E que a coisa julgada é um elemento imunizador dos efeitos que a sentenga projeta para fora do processo.*Assentado, substancialmente, na estabilidade definitiva das dlecisbes judiciais exclui a possibilidade de reexame, dentro do mesmo processo, de questdes ja decididas — coisa julgada formal. Igualmente, desde que resolvida a pretensio processual, em termos finals, o contetido dessa decisio irradia-se extraprocessualmente, impedindo no apenas a renovagiio da relagéo processual resolvida, mas, principalmente, a vedagio de qualquer ‘outro procedimento, no mesmo jufzo ou em jufeos posteriores, sobre 0 objeto do processo transitado em julgado ~ coisa julgada material. 59. 30 ou sm 3 156 ESPANHA. Tribunal Supremo. STS de 26 de febren de 1985, Disponivel em: , Acco en 21 des. 2011 GARCIA ALBERO, Ramin. 2 Eaicorial, 1995... om sin ken” material y concurs de eyes pels. Bests: Codecs RAMIREZ TORRADO, Maria Lounles. El priipio nom bis iim en ef dnb ambiental “administrative sancimado. 2008, (Tese de dourorainenis) - Universid Carlos II de Med, Gata, 2008. p 180-181, DINAMARCO, Cindi Rang. nati de diva prsesua civ. Sto Pauly Maeios, 2001 V. 3. p. 295. Diferntemente do que pensavam os romano, heemamence, sven depois da ‘snstrugo erica de Litman, da primeita metade do s6ulo XX, prevaleceo entendimento de que autora da cvisajulgada no & 0 efit da senna, mis ua uaa, um modo dese de ‘manifstarac dos seus efitos, EDMAN, Enrico Talli. Eficsia atorilae da senonga Todide por Alfredo Buzaide Benvindo Aires 3, Rio de Jancis Forense, 1984p. 05-06 Ressalt-se qué no hi doisinstitutos frees atu, represents pol oie ull ormal «pela materia Trat-se de dos aspects do mesmo fensenen de intablia, ambos esponsiveis Quanto aos efeitos da coisa julgada, costuma-se dizer que sio dois os seus elementos, Um positivo, que € a proibigao de que se decida uma pretensio pro~ cessual resolvida em processo anterior, de forma diversa a0 j6 decidido, e outro negativo, que é a proibigao de que seja reformulada a pretensdo processual j4 decidida.*" E é quanto a esse éltimo aspecto que tradicionalmente se vincula 0 prinefpio do ne bis in idem & coisa julgnda.** Eeevidente que a consequéncia mais importante — ou mais imediata — do principio do ne bis in idem & a proibigio de cunho processual, consistente na luplicidade de procedimentos. E admite-se que essa manifestagao dos efeitos do ne bis in idem & exercida ou cumprida pelos efeitos negativos da coisa julgada. Entretanto, essa fntima conexio que guarda 0 prinefpio do ne bis in idem ‘coma coisa julgada nao corresponde & matriz fundamental desse postulado. Isso porque a coisa julgada tem por finalidade conferir estabilidade e seguranga para Tange alicia “ngs ila onal mera este vende ee fre de dus faces no de ts diet”. DINAMARO, ‘Sone Rang esas dedi pocenal ch Sto Pole: Maine, 20 V3. 8.296 524 Eeornnte afimagdod qu accsjulgad penal pd, anisms, vec exladente de exste fhe meanoe fnve Seto fang, neative yn core gogo Te que ato jus outhe »fungao pie de sta jaan peel # pode termina, psalm, “Eo tpatuc stag, conte de seu ets Entant,resa, pe compe, fest Jan i slg mad A uence nam Mate ton ecg, epee tn cin aii Mtn aque nm nero da cin va trl per esis i lo srepi Nonc emit ARMENTA DEU Tc, esimes de debe fel perl Made Marl om, 2004 pI DELAOLIVA SANTOS, Anis Sore lacnargua Chhoti vnrunae» foal cn examen de apelin dl run ostacina. Madi: Eton ce iil xe de te ‘Conrad Eon Ramin ec SA 19... Sobre fi [SS Ard ctl as po SPs: ids Tun une En fii feta pt da i ia Pros ea coon 00.9 9 nin ‘Alsen Grin mien aus opts exten de Pe GRINOVER, Ata Plein Efi ¢ node da ees pl So Pau Revita dow “awa, 1. 2 525 CARNELUTT race Leechns ae el pce pa Tad pur Soig Sent Mem, Becme Ac ces ues Boch & Cl 950. V 4p. BLD sma ras par Fenech Ssh owen seen gc J i a Di ee meena entra pa ded roca com ome ij. y nts ‘Ewa pnt nspoers emir unger dso qu » te Jo poreso fa seen sare FENECH, Mic Dec peal pa Mal: tonal abo S.A 55. SPe"9" As ann prs Colac a contra pig Job i encom to Tpcoda crn pel COLDSCHMI, Jones Pola yeisdl ese fe Bhrclonas Bac, 133, p38 1s7 8 satide do sistema juridico, especificamente das relagdes juridicas atingidas pelos efeitos da sentenga, enquanto © prineipio do ne bis in idem tem por Inisstio proteger, de forma direta, a situagéo jurfdica do cidadso, assegurando- the protegao de natureza individual, representada pela unicidade da (relagho punitiva estatal. ‘Nao se nega, contudo, que o principio do ne bis in idem influencie positi- ‘vamente a imagem da justiga, com reflexos mediatos nos indices de respeita- bilidade e de confianga da sociedade no funcionamento de tal sistema. Assim como nao se olvida de que a coisa julgada até cumpre uma das finalidades do Principio do ne bis in idem, mas nao esgota o seu aleance, mesmo porque nio € © instrumento exclusivo de sua materializagao. Tanto € assim que a proibigio (ne) de duplicidade de consequéncias puni- tivas (bi) opera efecos impeditivos, inclusive nas hipsteses em que, pelo menos em sentido proprio ou estrito, nao se pode falar de autoridade de coisa julgada quanto ao primeiro julgamento ou quanto & primeira penalidade imposta, E af reside a diferenga qualitativa entre a protegao individual exercida pelo prin do ne bis in idem ea que resultaria da autoridade da coisa julgada, Enquanto esta tem apenas vocagio para proteger a estabilidade de uma decisto, aquele protege a situagdo juridica individual decorrente dessa decisio, evitando que a decisio de uma outra autotidade punitiva, em aplicagao de regras ou pressupostos diferentes (e pot isso, sem possibi- lidade de pér em causa a palavra, a juris dictio da autoridade que se hhouvera jé pronunciado), possaalterar a situao jf definida,526 Por outro lado, haja vista 0 imbricadlo vineulo entre a coisa julgada e 0 principio do ne bis in idem, ha até quem afirme que a relagdo entre taisinstitutos Seria em sentido inverso a acima analisada, tendo a coisa julgada o seu funda- mento na proibigao do bis in idem, Frederico Isasca ¢ um dos que sustentam que “o prinefpio do caso julgado tem as suas mais profundas raizes no direito romano, ou talvee mesmo antes, surgindo como corolétio légico do non bis in idem" 526 RAMS, i Costa. Ne isn dem e Uni Earp, Comin: Cabra Editors, 2009 82 SU ISASCA, Froderio, Aegan substancial dos fates elena no proc pal portagud,2 el Cojo: Alasdina, 1999. p 215. No mesmo snide: DE LA OLIVA SANTOS, Andie Sabre ka ‘a ual: civil, comteneiso-adnnistrativa y penal, con examen de la jurisprudence! tual 158 No entanto entende-se que nfo ha, pelo menos de forma precisa, como aclarar a natureza dessa inter-relago, a ponto de indlicar se a coisa julgada teria, ‘ou nfo, set fundamento na proibigao lo bis in idem. Nesse sentico, transcreve- se observagio de Leén Villalba: Quem veio antes, ¢, portanto quem influiu em quem, a proibigio de Bs idem oo institut da cls jl? Responder» es pet a rior, uma tarefaimpossvel, 4 que paraiso tia que se deter Tuma com ext o momento precio de ascinento daca insttuo tbem como as fungées que ambos cumpriam. Nesse sentido, devemos recordar a confusio criada na utilizagio de ambos insitstos nos marcos i a 10s que posteriormente do process formulatio ea interposigo de requisitos que gerou uma identidade pritica em sua aplicagio. Durante esse perfodo a ‘maxima [lo ne isin idem] tilizava-se como justifiativae com a mesma finalidade que a excepto rei iudicatae vel in idudiciuon deductae, isto 6 para obstaculizar a renovagio de novas diligéncias judiciais e, portanco, foram-lhe estendidos os mesmos requisites (1. Com efeito, a incompreensio histérica decorrente da vinculagio do prin- cpio do ne bis in idem a coisa julgacta, acentuala pela concorréneia dos mesmnos requisitos no reconhecimento de ambos os institutos, deve-se & aplicagio da sndxima bis de eadem rene sit acto, no direito romano, para impedit a renovagio cde questio julgada. pat surge a necessidade de serem analisados os argumentos invocados pelos juristas romanos nessa questo. Até porgue, considerando-se a quase inexisténcia de literatura sobre essa questo no direito Atico, hi realmente de ‘buscar-se em fontes relativas a0 diteito romano os tragos elucicetives da matriz estrutural desse principio. a ne Habitualmente, considera-se a civilizagio romana oe a marriz reito modern. Todavia, nfo se hé de olvidar que foi na Grécia onde ocorreu a transformagio revoluciondtia do pensamento humano, tanto que, nos estudos do direito romano, reconhece-se plenamente a estreita influércia da filosofia ces Ay 1991 p25. Ades Tonatvacional, Madr Editorial Grntso de Estas Ramin Ai 2. Ail PARDO, Ms RUBIO, wal Ei amie del tas beri inion i idem on la jigprudeniaconatiuconah Disponve em: . Aco es 09 ago, 2012 VILALIA, Fic Acct dessin Fee Uency nein Bc ch, 907 159 frega na construgto do raciocinio juridico romano.*”Mesmo que nfo se possa atribuir aos gregos o titulo de juristas, no sentido intenso do vocAbulo, no se nega que eles foram os grandes te6ricos da insfilosofia®” : De outra sorte, ainda que nao haja consenso acerca da influéncia imediata do dreito da Grécia Antiga no direito romano?” no se nega que grande parte das fontes tedricas deste tltimo remete-se a0 direito grego"®. Muitos admitem, inclusi- ¥e, a existéncia, em Roma, de compilagio de les ¢ teorias jurtdicas da Grécia An- ia, principalmente de Atenas e Esparta. A respeito disso, Arnaldo Godoy afirma ue a Lei das XII Tibuas resultou da expedigao romana a Atenas, “gue percehida om os olhos de hoje sugete-nos operagtio pragmtica de direito comparado">* 539 BEVILAQUA, Cl sph: Livan Mss 17. 0407. Digna Aces em 3 29° USN, rs a ds LCase Gein 203.15 asi imp dit gre mdse da sss jr ew fun Fi Vers Comin dee race ro mt deals can cou val ef al pra cal As oes do dna dad mao CCERQUEIRA Fo Vena Dipti em chign/wweifegbe,Acconem Idee 210 cobjeto do direita, insticuigdes juridicas. Beasilia: Senado Federal, Conselho Editor on “ann SALDANA, Neon Alea donne Danaea che ‘wwwcunicap.be>, Acesso em: 31 jul. 2012, penton han crisis cag Apne ira on nf oo io say GODOY, Aral Sampain de Morne Notas faut deep appoado Dap chupada Acc os 3 ja 2012 Noma we a Reva don Tena 2008. p, 29. Hi, ainda, quom ateibua ao fils greg Hermodoro de Efeso, 160 Como mencionado no capitulo 1, o primeiro registro do principio do ne bis in idem no diteito romano deu-se, provavelmente, na Lei das Doze Tabuas, do final do século IV a.C,, na qual constava o impedimento do dis de eadem re ‘agerenelicea. Talvez esse tenha sido o embrido da garantia da coisa julgada.™ E corroborando a comunicabilidade do direito greco-romano, recorda- se que a legislagao de Sélon jé previa a possbilidade de insurgir-se contra a renovagao de questo jé julgada, que poderia dar-se por meio da exceprionem interropponito actioni ad eludendian id quod in intentionem consemnationemee deducuem est. No entanto foi na praxis romana, sobretudo durante perfodo formulério, que o impedimento de discutir-se assunto anteriormente arguico cm jufzo, nominado exceptio re in iudician deductae, passow a exercer a mesma fungdo da coisa julgada. E que, relacionado aos efeitos da litis contestatio, havia a extingio do ius ‘actionum, que era atrelado & propria relagao de direito material deduzida em juf2o~ deducta -, com efeito consuntive, expresso pela tegra obstativa de nova aco. Preclufa-se a possibilidade de discutir 0 “dedhzido”, tornando-se irele- vante a arguigao do “deduttvel” ~ aquilo que poderia ter sido deduzido. Para os romanos, o resultado do processo traduzia-se no bem da vida que ‘autor deduziu em jutzo (resin iudicium deducta). Dat a extingae da obrigagio e do direito de agdo, de forma satisfativa. Apés a celebragio da lis contesttio, 0 direito do demandante jé nao guardava qualquer vinculo com « questa discu- tida em jutzo, correspondendo a um novo direito, formado pelo vinculo proces- sual entre as partes, cujo resultado deveria obrigatoriamente ser por elas accito, 7 Tegslagin aeninse, wiht a is de Dicom © Solon, ROLIM, Luiz Antonin Insts de “Tito mmano, 2 So Paulo: Revs dos Tibunas, 201 p. 62-63 «p86, Para saber mais brea “feleniangao da cultura romana, incisive da juries ecomenda-e cesta: GODOY, Arnab ‘Sampaio de Mores, Dinos &historignafiajrdca, Curb: Jur, 2008 534 ROCCO, Atturo, Oper suridche: tracado della cosa giudiata come cause di estinsone dels suone pense. Roma; Soviets Essie del For alana, 1932 V. 2. p. 44-45, 595. PETIT Sane. Lega, iv IV. 1Vin WESSELING, Pesce al Juripradota oman ati ‘ontinens varies commentato, iis omasum Satins tem lassie aque cto vers Cinundorunt, explcarunilystrarunt (Googe «-Liveo), (74. p. 429. sponte ems ° A proptsito, as nstiutas de Gaio nfo permitiam que as pretenses acionsiveis fossem mais de uma vez efetivamente acionadas. Nao era possfvel nova demanda elo mesmo direito.™ Assim a aplicago, no direito romano, da méxima bs de ea- dem rene sit acti, também inuicada pela expressio bis de eadem re agere non lice foi a Solugo pragmitica encontrada para solucionar eventual concorrtncia de agbes. Independentemente do teor da decisio, decuzida a coisa em julgamento, 4 iio era Possfvel nova demanda pelo mesmo direto. E era por meio da excepto rein dca deductae, que se impestia a potestade de pletear nova acto, a qual restava perempta, 531 OLIVEIRA. Ca Ar Alva de on) lnc nnn ge do psa Part Alegee: Livraria do Advogado, 1997, p, 205. ’ . 538. LIEBMAN, Enrico Till. Ffcdcire auridade da seen. Trad poe Alfredo Baza Bevo ‘Altes 3. Rio de Jancino Forense, 1984, p. 2-03 4599. NEVES, Celso. Cis juga el Sto Pa: Revista dos Tunas 2971 pS. 590 LIEBMAN, op. cit.» 03, $41 “Quo ef cnr tr pr» imal let i # mec stn pcp ee tnt donnie ome ee os Str a np ean ma” BOLLOM, Os WT dase stn wns Tnghe mde Read Rls Gu Cans UN Eos 2003. p. 63-65, deol 162 ‘Observa-se, da mesma forma, que, no diteito romano, a significagio da res judicata era dada nao apenas pela consumagio da actio, mas igualmente pela forga criadora da sentenga, que poderia consistir em uma obrigegio a0 r6u ou ‘em uma liberagio do vinculo criado pela litis contestatio, E uma vez ditada essa “eondenagao” ou “absolvigio”, perimia-se 0 dieito “criado” pela sentenga. ‘Aida acerca do sistema processual romano, destaca-se que, até pela evel fo nee experimentada, com a superagio da vinganga taliGnica pam um dircito de litigar, concebia-se que o direito de ago, ao ser exerctaclo, consumnia-se integral mente, em razio da absorgdo do direito aleyado pelo vinculo processual defini. ‘Com isso, considerava-sea situagio satisfeita, em moldes semelhantes a0 que ocor- ria com a Vinganga, que, o ser posta em pritica, tinha-se como uma obrigagiio ‘cumprida, no sentido de ter sido “pago” inteitamente aquilo que se devia.” ese modo, entencle-se que, apesar dos referenciais do direito romano terem se voltado mais diretamente para a proibigao de ordem processual do ne bis in idem, deles extraem-se indicagies de que tal principio tem como base a impossibilidade de um mesmo ato gerar miitiplas consequéneias. Inclusive po- de-se aferir essa assertiva dos termos tradicionalmente encontrados nos estuxlos das fontes histSricas para justfiear a proibigo de mais de um pronunciamento pelas mesmas razdes, quais sejam, “consumir”, “perimit”, “exaurir”, “esgotar”, “absorver’, ‘por termo”, “extinguir”, facabar’, “cessat”, dentre outros. Em sentido semelhante, Musioz Clares,utilizando expressies que remetem a doutrina da coisa julgada no direito romano, aduz que a consungio é 0 “motor interno” do prinefpio do ne bis in dem. Por sso propde que poder. tal postulado ser denominado de “principio da equivaléncia consuntiva fatotipo”. E que, nes- sa perspectiva, para determinado fato, somente poderd ser a ele associada uma tinica consequéncia, na proporgao fatoftipo. ‘Ao explicar essa limitagfo, sustenta que: ‘Uma vez contemplada uma conduta, a aplicagio de um tipo penal ou de uma infragio administrativa e, portanto, de sua censequeéncia san- cionadora, consome o fato ¢ extingue sua vigéncia temporaria; logo, se 1 Estado, em um exereicio abusivo do ius puniendi, pretende reiniciar a persecugao do fato, como tal, este jf foi consumid e, assim, no cabe Fi LEON VILLALBA, Francis avr de. Acumaacin de sancions penal 9am sentido y cance del principio nes in idem. Baeclon: Beh, 1998. p45 163 dle extrair nenhuma ov é le extrair nenhuma outra consequéncia, pois esse fat, no presente, jé niio tem vigéneia [Je no cabe revitalizé-lo de forma alguma® Seguindo essa linha, Juliette Lel lay lieur-Fischer afirma que reston erad: a noo ttaicional imitada ao eft precusvo procesual de respeito 4 cots i ip Es 7 principio hé de ser compreenido com base no prinpioda nici repressiva estatal, centrado na simples constatagio d ato delituoso, ndo pode ser dada mai ra""Pendondocabre 0 7 ser dada mais do que uma resposta."Pendend individuo ja julgado a possibilidade ck ease sibilidade de ser novamente processado ou condenas pelo Estado, pela prética de uma s6 conduta, rebaixa-se tal cidadio a objeto ‘ a do quase ilimitado ius puniendi do Estado. Permaneceria em “estado d vida suspensa” perante a ameaga de um novo proce i : i supens” pees m novo processo. E daf adviria a negagio Por isso & que, para Juliette Lelieur : , te Lelieur-Fischer, a matria estruturante do prin- ge done bis in idem funda-se na necessidade de ser respitada a dignided do » umano €, consequentemente, de valores como coeréncia e racionalidad lo ordenamento juriico, vedagfo 8 arbitrariedade e ingeréncia do Estado, FS frange juridica individual, legalidade, proporcionalidade, entre outros °° oo também & a opiniao de Vania Costa Ramos, ao sublinhar que o ne bis inden € um principio essen &efetivasio ca dgnidade do homer, como pro- ie omen aimprevisibilidade da agao estatal e contra a limitacao injustificada iberdade, defendendo-se 0 individduo dos abusos do poder do Estado. 543, MUNOZ CLARES, Jus. Ne his in im y deco pena: defini, patlogia M Blo DM, 2006p. 263 264 544 LELIFURLFISCHER. Ju. Lae eB em Du pipe de Fit ech 2 principe wi ct wpe. 200. (Te de dorama) « Unveni Pean Sorbonne (Pais), Pacis, 2005. p. 335 545 Mem, p 370.4 oy {Om nana in tg ke ut nb, ag ont inn: oon ona ae ae ea Sem eo ee ‘una ag de seer pin nto skin ‘one de ap a ds infants nn vnds O rao eel Scan ne lg prune haan aga ae ®ea pessoa e sobre o patriminio do individuo, obrigando a uma a sa ep son Son eva capi a ttn ps ea pani ns lel mesa teem ae ato tl al pees ton el |, ateavis da estigmatizagdo causa pela mera existéncia de ac roinivchn set an cea Jc uae peal cont na, so fniar psi, aig hnemmente ps lente lon ecg dessus 164 Por toclos esses argumentos, defende-se, na presente investigagio, que, “ajustadas as contas’, compensada a ago do cidado com a reagdo estatal, j4 no mais se permite a imposigio de qualquer consequéncia jurttica. E essa afir- ago nao se consubstancia apenas na perspectiva de consungio do fato em razio de anterior reagao punitive, mas também como forma de se coneretizar 0 principio da dignidade do homem. Como jé indicava Kant, a diferenca do homem dos demais seres € a sua dignidade. Sempre que o homem & tratado nao como um fim em si mesmo, mas como um objeto ou meio para se atingir determinadas finalidades, sua dignidade 6 violada.* E partindo-se dessa ideia, deve-se compreender que o principio da digni- dade humana impede que o homem seja convertido em objeto de persecugoes permanentes, como se a espada de Damocles estivesse sempre pendente so- Ire si. E que, considerando-se que a protegao da esfera de liberdade do cida- dio constitui um elemento essencial de realizagao do princfpio da dignidade humana, 6 ne bis in idem somente poderia ser cumprido quanclo baseado na ideia de limitagio do poder estaral. Isso porque, para cada ato delituoso no pode ser dada mais do que uma resposta. Do contrério, 0 homem seria submetido @ uma situagéo juridica in- definida, indigna com a condigio humana, assemelhando-se a “méquina de persecucéo” a um “epulio insaciavel, movida pela fobia de deixar impune 0 Thala © yatrianaiswfias pelo viadk® RAMOS, Vania Casta. Nes nie Unio Emp. Caine: Coit Editor, 2009, p, 94:95. S547 KANT, Immanuel Metfi dos cstamex Parte Prins metafsrs da doting do det. Lisbon Fedigdce 70,2004. p. {46-147 epuintes. Ainds Kant “Jo homem ~, de ums manera gral oo (ant sackmal ~ este conn it 6h sms apenas como kn pare any abit ets lagu vontde” KANT, Immanuel Fardancrty dt mea do ctr: caus srs So Paolo: Martin Claret, 2084, p 58. Consular tambm; COMPARATO, Fabio Kone. A firma src ds dit karan, 3. 0 Pano: Saraiva, 2003, p21 «seit 548 *A natueza humana do Homent~ Sinica plo signo da ibenlale = 2 razin de suo digniede. ‘Aniyullada a lbere, vilor-s-6 si dignidode™. RAMOS, Vinia Conta, Ne is mem e Unido uni, Coinfas Coiba Editor, 2099. p. 97 Sugere-se tambén console: BRASIL. Supe ‘Tribunal Foderal HC 91386, Relator(a Min. Ciloar Mendes, Segunda ‘Tarn, juga em: 19 fs 2008, Dfe-088 de 15 maio 2008. BRASIL. Supeem Tribunal Federal. HC STH, Rlatora) Min. Gilmer Mendes, Segunda arma, ua ems 21 fev. 2006, D 23 jun, 2006. p70. BRASIL. Supra ‘Tabural Federal Rl 3758, Relator(s Min, Cérmen Lici, Tribunal Pleo jalado em: 15 main 2009, De- 148 de 06 a. 2009. 165 hiporético réu" E, nos remy : E, nos tempos presentes, sob o signo dos valores edificantes dos Bstados Dene dle Dine, tl desierato jf nfo se contana com a necesséria tutela juridica da li s A oi : poste omi liberdacte dos individuos que esto sob o ius perse- Em suma, consolidando-s sa s lidando-se o que se analisou, propée-se, como fundamen- to axial do principio do ne bis in idem, o diteto de protegdo do individeo uni cidade da (te)agao punitiva estatal pel statal pelos mesmos fatos e fundam. no principio da dignidade do homem. mascara 4.3. Fungao Em face do significado e do fundamento do ne bis in idem a Ck n idem acima apresen- fas deprendese ae a fungao desse princtpio ha de sera interdigao eeu Ips ss woe arma conduta objetivada juridicamente, uma pluralidade de its juries seja de natureza material sea procesual. Besa pi so dever dase indspendntemente da aurora estatl qu a pronunce i que o campo de atividade do principio do ne bis in idem estende-se ‘mulkiplicidade de planos do ius puniendi do Estado, proibindo-se, a qualquer d se mmrosos agentes, So insttughey tbls juices apc cone outros, a realizagdo de qualquer segunda Beer? rales qualquer segunda (re)agao punitiva pelos mesmos fatos 5 CORDI, Low i dn ih en eospettive di valorizazione nello spazio euraped | ee 11,220.76, Gm ce Mr Clan Se aeeeeen eee tea a am ed fs MUNGE CLANS oh oat ni pay smn Eat OMEN Bhi Recenter es pr pt de st i tan metatntn ceee ee et see tors ea ln cl ie 7 tias constitucionais. A propisito, vide: SILVEIRA, Renato de_ 7 ‘rl nl vo snl IBCCRIN, Sn aay eos eI Ds 380 "No Estado de Dini : : ‘Neuadd Di pss ats ta Jt tebe oa val sani ds peronlde humana. O pce fe afew de eke ‘cultura ¢ consequentemente se submece aas limites te a aoe Shere ad he ga pon a ‘ alt cat dich dodo poco fed Rode fe: Maceo ooo ae ot one inernazkonate profil general 166, “Tradicionalmente, elenca-se na doutrina, como principais fungies do principio do ne bis in idem, a proibigo encartada na expressio nemo debet bis ‘yexari pro una et eadam causa (ninguém pode set submetido a mais de um pro- ccesso ou mais de uma investigacao pelo mesmo delito), bem como a interdigao consubstanciada na m&xima nemo debet bis puniri pro uno delicto (ninguém pode ser castigado duas vezes pelo mesmo delito) No entanto, tendo-se em vista a propalada unidade do ius prniendi do Estado, objetivando-se alcangar o espectro de protegio dado pelo principio do ne bis in idem, em sua integralidacle, em termos semelhantes ds percepgbes sisté- inicas sugeridas para o significado e fundamento de tal prinefpio, propoe-se, sob uma s6 perspectiva, a indicagio do seu eixo funcional. ‘Ademais, as chamadas dimensdes do principio do ne bis in idem no sio extensdes estanques, até porque o direito penal, além da indiscutivel interpe- netragéo com o direito administrativo sancionador, também exerce ~¢ recebe ~ influéncia do diteito processual penal.** De qualquer forma, apresenta-se a individuagdo do que é por ele proibido em uma triplice dimensio: processual, indicada pela maxima nemo debet bis svexari pro tna et eadam causa material, traduzida na expressio nemo debet bis pimiri pro wo delicto; € transversal, relacionada d impossbilidade de sobrepo- sigio de sangio administrativa e sangao penal pela mesma conduta objetivada juridicamente e com os mesmos fins. ‘Quanto a esta diltima problemstica, nominow-se tal inter-relagao de di- mensao transversal" do principio do ne bis in idem, pois, mesmo aqueles que nfo aceitam que o direito penal e o direito administrativo sancionador sejarn imanifestagies da unidade da potestade punitiva estatal, nao podem negar a ‘existéncia de congruéncia de valores em pontos de intersegio desses dois ramos do ordenamento juridico. FSI O dansko penal e 0 dito procesisal penal atuam como ua “cgncia penal bal” ou so uma ponpectivn de Nuns faces de uma mesta moods’, ecoahecento-se qu 0 prcesso penal cum Thclosiv, finaldades preventvas que aio consideradas estrtamente penis. PALMA, Maria Fernanda (coord). O pablo ena do proceso pana: ornadas de diretoprocessual penal edirsits fandamentais. Coimbes: Almedina, 2004p 4153. 552.0 term “transversal é aqui emprezado como a compreensdogohalisante Go conbeianent por rei de una (imegrago de apctos que featam islados uns dos wuts pla visio dstorcia do iciplnardade 167 No que diz respeito A dimensio ou extenséo processual do prinefpio do ne bis in idem, elenca-se, em apertada sintese, que se profbe, pelos mesmos fitos € fundamentos, mais de um processo no Ambito penal e mais de um processo no dmbito administrative ~ como também o tisco deles. Também nao se deve permitir 0 ajuizamento de processo penal ou de processo administrativo, quan- do a conduta imputacla ao acusado jtiver sido objeto de re(agao) estatal. Isso Porque, indepencentemente da natureza da autoridade processante, o principio dlone bis in idem hi de iradiar-se para todo o ordenamentojuridico globalmente ‘considerado, atingindo os procedimentas de natureza punitiva, Questo que se impse aclarar diz respeito a interface entre a dimensio Processual e a dimensiio transversal do prinefpio do ne bis in idem, especifica- mente quanto 20 momento em que deve se eleger a via processual adequada, concentrando-se em uma s6 unidade processual a persecugdo e o julgamento dos mesmos fatos que, aparentemente, configurem tanto ilcito penal como ili. to administrativo, Esse aspecto seré tratado. oportunamente no préximo capftu- Jo por ocasiao clo estudo das dimensdes clo principio do ne bis in idem no direito brasileiro e a busca da superagio de suas disfungdes. Por outro lado, dando-se cumprimento ao prinefpio do ne bis in idem, em sua dimensio material, profbe-se, em um tinico procedimento ou em procedi- mentos simultdneos ou, ainda, em procedimentos sucessivos, que uma mesma conduta sirva de supedineo a uma pluralidade de valorages jurfdicas com so- breposig6es punitivas. Impede-se, assim, quanto ao mesmo individuo, por idén- ticosfatos ¢ fundamentos, a imposigao de mais de uma sangfio, em sentido auto- ‘omo ¢ individualizado, assim como a associagao de mais de uma consequéncia juridico-repressiva. Por fim, ainda no que se refere a dimenso transversal do principio do ne isin ‘idem, protbe-se a aplicagao cumulativa de sangGes penais e sangGes administrativas. 44. Pressupostos de aplicabilidade do principio do ne bis in idem Como jf observado, os fortes contornos processuais do prinefpio do ne bis in idem dados pelo direito romano foram responséveis pelo desenvolvimento. dos pressupostos de operatividacle desse principio em moldes semelhantes 20s ilizados na identificagao dos limites da coisa julgada, que so a eadem persona 168 (mesmas partes), a eadem res (mesmo pedido) e a eadem causa petendi (mesma aes ae da jis dt, eed em rea, cro semen so sent de to proces que pe fim ao process, a eustncias deter mina de pera do principio do ie i er sere as seins identidade do sujeito infrator, unidade fética e unidade dos fursdamentos. Bi seguida, serao analisadas tais circunstancias. 4.4.1. Identidade de sujeito A verifiagfo do primeira presuposto de opeatvdad do pene co ne bis in idem nao apresenta maiores discussdes, exigindo-se tao oo que ne recaia sobre o mesmo sujeito passivo mais de uma consequéncia de naturez pankivaem face dos mesmosfitose comes furamente, Na aferig&o dessa unidade, o que realmente mbes) é"a ae lade ss do acs, eno o seu rome o iene fal Com to, somerte tem revi etd da prt pas, poco porta as pessoas ou refs constantes do polo ativo do caso j4 apreciaco, bem come a vitim ito passivo da infragao. ’ Oe aan a pla persecugio ova imposigio paralela de snes ina ; pessoa fica que at como representa o rg da psa jurlea eur prGpria pessoa juridica, constitiria vilagio do principio a Hn es vista que apenas formalmente tais sujeitos seriam considerados disti pone Tamsin se susten que no psi haveratononiasndonaders ete a pessoa fsa ea pesen uric, pos eta unicamets respon por deer nada conduta ilfcita por meio da extensio da culpabilidade da ressoa fisca, imports yrs coin ulgn,prtan sson dv réuem face ce determinade fato” 554 PEREZ MANZANO, Mercedes. La prohibicin constitucional de 169 Entretanto, além da auséncia da unidade de sujeito, considerando-se que a responsabilidade penal da pessoa juridca deve ser concebida autonomamente, fundada em uma culpabilidade prépria, nao se hé de falar em violaio do prin. hpio clo ne bis in idem pela acumulagiio de processos e/ou sangdes & pessoa fisica © A pessoa juridica. Isso porque a responsabilidade da pessoa juridica pode se centrar em um fato prdprio, decorrente da inexisténcia de medidas necessérias para prevenir, detectar © coibir fatos delitivos praticados por alguns dos seus shrigentes ou empregados. Dessa forma, a condutailfcta imputada a pessoa ju- ridica, na qualidade de autora funcional?* no se vincularia necessariamente 4 conduta praticada pela pessoa fisica, a despeito de nao ilidir a responsabilidade penal desta (critério acumulativo). ‘Apesar das interconexdes entre o comportamtento ilfeito da pessoa fisica ¢ da pessoa juridica, esta tem vontade e capacidade de agir proprias, a quais, ‘como jf destacava Jofo Marcello de Aragjo Jéinior, muitas vezes independem, até mesmo, da vontade dos seus dirigentes. Sobre a responsabilidade punitiva propria da pessoa juridica, reyistra-se @ recente modi -40 legislativa do Cédigo Penal espanhol (LO 5/2010), que, em seu art. 31 2 €3), adotou “culpabilidades independentes", na relagio entre a infrago cometida pela pessoa fisica e pela pessoa jurdico, no se havendo, por- tanto, em falar-se de violagao do prinefpio do ne bis in idem." Quanto & deter- inago das penas, foi acolhido o critério de “no translacao", estabelecenddo-se que as citcunstancias que afetem a culpabilidale ou agravem a responsabi do autor individual nao serdo relevantes para o coletivo* dade 585. Acerca da auuriafuneional das psoas jurica: VERVAELE, Jon A. E, La esponsabliad penal us y cn ef seno de a potion jurlica en Holanda: matrtnonioentve pragmatins y dayne juries. Rei de derecho ponaly ring. 1 198. p 153188. 388 ARAUJO JUNIOR, Joo Marella. Dus crimes sme u mem smimica Sho Pauhy Revista Joo Tribunais, 1995p. 64 387 Antes mesmo da weforma do Céitigo Penal espanbel pela LO 572010, j& ers esse sentido o éntendimento do Tibunal Consticuional (STC 188/2005, a culo excmypliicatin) e ds Thus Supremo da Espana (STS de 15 dete 2008, eee outa 388 Dispontel em: , Acesso ica no dirsito espanol, Zgla F {ndevido sm ide, quan se sencona nsultar: , clea nesponsiiade da pessoa pre defeuleram a inexisténcia de 0 pesson jurtica e uma peso ica, pois so pessoas € patrinvninsclramente diferenciados. ZUGALDIA ESPINAR, José Miguel (dt), Fundancnes de dencho pena: Pate General. Valencar Teant Io Blanch, 2010. 591. Ver tanbhinw De LA CUESTA, José Las. Respmsabllal penal de as perma juries an ol desc etl Dspoate ‘nu Aces em: 31 ju. 202, Resslen se ana an, aposar 170 Confirmando ainda mais a autonomia da responsabilidade penal da pes- soa jutidica, a novel legislagao espanhola permite a imputagao individual e ex- lusiva A pessoa jurdica, no exigindo a ocorréncia de concurso obrigatério ” f oa fisca e a pessoa juridica. ca Ne Brasil infliemente, no rem prevalecido esse entendimeno. Por aqui a tendéncia, sobretudo jurisprudencial, & de se conceber a respoasabilidade da ‘empresa, ndo de um ponto de vista independente ou originério, mas decorrente da conduta das pessoas fisicas. ; » w peasistemtic neti pla ei dos crimes ambient (Le. 9160598), que prevé ca juriica,*" costuma-se aceitar a imputa- a responsabilidade penal da pessoa jt ane {Gio de crime & empresa, caso também haja imputagao A pessoa fisica que atuou em ‘nome ou em bencfco daquel, a despito de recente decsio em setido conti dda Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (RE 548181/PR, Info. 714! fo rs tsb LO 32010 Re Ke ale 682009. 270. Disp 5 Dione em: Aces: 3020 na 5:9 Ape Jefe 2 aia er ss cn ents , Acesso cm: 30 nov, 201, 174 aplicadas em sentido autdnomo e individualizado, mas todas as erin substanciais de natureza repressiva ou restritiva de direitos em decor tica de um ilfcito* fo Pri para quea (ago ou resposta estatal sea considerada apt a ira Be efeitos done Bsn idem, exige- que a pretenso piv fen sido resi ‘ou imposta, em regra, por meio de sentengas judi is condensatérias oual . tériastransitadas em julgado, assim compreendidas aquelas nfo mais impu or recursos ordindrios. ; : . re gualtente e dé com as decsGes que tenham aptidéo de impr ule agdo pela mesina causa, por solucionarem defniivamente a pretensio proces seal puniiva, Iso ccare, por exemplo, em relago 8 deciso indi oe dtr ‘mina o arquivamento de procedimento investigatério em razio da ati 7 id db fro. Anda ue se tate de arguivamento de uma fase procetimenta ante riot & formalizagdo da acusaglo, considera-se tal decisio como causa proibitiva 5s termos do prinetpio do ne bis in idem. Pee lem co me o aguivamento de prvedimento investiga peal a ordenamentojuriobraeiro, €oxenado por autora jean sendo aadmitida sua reabertura quando nele resta afirmado que o fato nfo consti i \ovas elementos de prova.” e, mesmo na presenga de novos elementos ; . sain pefende-ve, ademis, que, com 0 cunprimento dss conigdes pone ddas em transagao penal, no € mais possivel a posterior instauragio de ago, a om ” dave que defere o arquivamento do inguétite policial, « pedide do Ministerio Pablico a ponpeeereneraperysare err ene thc doo eh inns rice pearance tan wwe pedido motivado (as rates invocadas}, do Ministérie Pabticn. |} — preclasia simular 175 qual se considera definitivamente extinta, te extinta, nos termos aceitos, jurisprudéncia brasileira.”® meee a stems © entendimento aqui proposto & que no se deve permitir a Tenovagdo do ius puniendi estatal depois de ter sido resolvido 0 caso penal por meio de sentenga ou decisio definitiva transitada em julgndo. ere outro lado, cumpre-se registrar que a decisiio que resolva definitiva- ene caso pena sind que proferia por ufo absolstamente incompetent ten aptidio para produit cs eto proibiivos do principio dome fs in idem. © porque o vicio processual decorrente da incompeténcia absoluta do jutzo Certespenie a um requisto de validade da relag juriica process, e nfo eexistencia, estando, pois, sujeita & preclusio absoluta depois do respect trfinsito em julgado." =e de Denim, pertinent cars o esto elaborado pelo Instituto Max-Planck le Direito Penal Estrangeiro e Internacional, denominado Proposta de Frei- nclusive, pela 51 Contre enentineno Jy Swprns Tun Fede to feo paces cot Droste gh lem dca donb cantina das ons cele ang Soa it eae campeon mo dap ct RAS Siren Trial ok RE 0072 GO. Ree in rar ao 1 2051-03925 100.8 xm cari oe men oct ea Ser Tinle upc Teun de i HC TSH, Rl nn ee Ms ats Hawes so el Quinta Tans, ili en 20 8 2 Hota ence ‘extintiva da punibilidade do acus trols julaieeompeans ‘wn dyn oe eae AT Ae ae sian mtn carderhac a solugio tender para est tio da cali Uperehreri ieee ‘mas inexisténcia dos atos praticados pelo oreeavers ‘ifaw rom tok lamar Adon neem rank {Shera tem brs greens = FeNAN Anau Soma Goi Hh ae ea 176 burg sobre as jurisdigées concorrentes e a proibigio de miltiplas persecugdes na ‘Unio Europeia. Nele proclama-se que as respostas dadas em procedimentos es- tatais aptos a impedir a renovagao do exereicio do ius puniendi nfo deveriam ser apenas as acima indicadas. E que, no espectro de protegao dado pelo principio do ne is in idem, todo *julgamento final”, no sentido de toda deciséo termina- tiva de procedimento repressivo que, salvo situagdes excepcionais, nfo pudler ser reiniciado, incluindo-se as decisSes pronunciadas por qualquer autoridade responsive ou competente pela persecugio estatal, teria o condao de irradiar 605 efeitos proibitivos desse principio” 4.4.3. Identidade de fatos e fundamentos (0 idem) ‘Quanto ao significado do termo idem, muito se discute sobre os balizamen- tos a serem utilizados na identificagio desse pressuposto de operatividade do principio do ne bis in idem, Essa problemética terminolégica deve-se sobretudo 8 ‘multiplcidade de formulas empregadas nos instrumentos normativos que disc- plinam essa matéra, tais como “delito’, “crime’, “infragio", “ates constitutivos de crime”, “fates”, dentre outros. De todos esses termos, parece que a expresso mais adequada para expri- ‘mir o genufno significado do prinefpio do ne bis in idem € a utilizada na Conven- ‘co Americana de Direitos Humanos: “o acusado absolvido por sentenga passa da em julgado nao poderé ser submetido a novo processo pelos mesmos fats” Costuma-se definir 0 termo “mesmos fatos® como fatos substanciais ou cessencialmente idénticos de um especifico comportamento delimitado por cri tétios objetivos, consistentes no mesmo contexto espacial e temporal Entretanto, a despeito de reconhecer-se que esse coneeito busca retirar lo espectto de protesao dado pelo principio do ne bis in idem qualquer vincula- ‘cio qualificagao juridica atribufda aos fatos, acredita-se que os indicativos de S72 BIEHLER, Anke, KNIEBOHLER, Roland: LELIEUR-FISCHER, Jultte; ESTEIN, Sibyl, Frau ropes om comcurent rss and the ct of rdf Yssctbs the Earn Union. rly inn Breisgau: lasrim, 2008p. 10-1 513. Disponiel ens ® Allém disso, se foi quanto & consequéncia mais imediata da proibigdo do bis in idem, tradicionalmente identificada com o efeito negativo ou limites obje- tivos da coisa julgada, que tal principio foi sistematizado pelos romanos e assim concebiddo quase exclusivamente até a primeira metade do século XX, mais uma faaio para procurar nas construgdes tedricas reerentes & definigao do objeto provessual a clarificagao da identidade essencial dos fatos como pressuposto de operatividade do principio do ne bis in idem, Em diregio a0'provimento final do processo, 0 juiz se depara, além do pe dido, com uma série de pontos relevantes, de direito e de fato, alegados ou nao pelas partes, devendo o juis, além de conhecé-los, também resolvé-los, Desse 515. PEREZ MANZANO, Mercedes. La pin comstucional de incurir en em lem. Valencia ‘Trane to Blanch, 2002, p92. 516. Nos pps links do ita penal se iene sbee anced de percep imegrala do cones de ‘680d plural he aes, else coma us go de mdbrencias abate no apenas ature 178 modo a coo deve ser stables no apenas sobre like, mas também juestdes a ela correlacionadas.” ane are une considera se ques presi do conesto de lide, o objet do proceso penal dove coresponer 3 pretenso process mantra em juz” Asim € que a cog hi de etal sobre 9 pretensio processtal, aqui concebida como reclamagio veiculada em jul a Es pretensi uma ve dada cr io do exsco da a, was na imputagdo de um fato conereto, definido como infragio. Daf enfatizar-se liggncia,conssente em considera nasa valorar 7 [sa nc ffs a dings capo e ee destituido de grande Fe te Sa as xcmanete cue nate See pon eal = Pm ncaa de confide nr pox pets de wm the imercradon cyte sete \ ea admitisse, aio seria essencial, me JARO, Aas. Dt pres fo Ree oe Fae 30. 26 ies es asa Pa" ee ar pew pa ea sp 5 [Na grande maioria dos casos, inclusive, ¢ isso que ocorre. Porém, a like nao € nec oars desenvolvimento do process penal. Av contrérin, a lide & absulitamente cto dceyolimen Scio do proce BADARO, Gustavo Henrie Rishi ty cds anes uo ev bei 70 9 705 Ven LMNs Thc mrs onal Re sn ae ain 208 8 mtd docs eel, Cries, IES . AT" ois Frnsy 22 psn FES JENIOR, Sry Ca Lins © so peel nfo € pects preca procet,pol rete po pee ae econ een eae stinta (Estado-juiz) de uma conduta {et an nei ee un oi sa) don ermine, Inu real poe Tay oa eet con continence i ean Sopeocess 1a8 nunca seré uma pretenséo inexistente. , Sees nea Coase 330 Paubs: Revista dos Tribunals, ans to Rey in nem nF ee ee see pa sn esas sua oe tng Jpn FERNANDES rece Sane Ras dso apa Sa Pk Revit kr Tunas, 2002 p40 179, gue 0 objeto do processo penal no é a imputagio ou atribuigio em si, mas aquilo que foi imputado — 0 fato juridicamente relevante individualizado na Pega acusat6ria. Como dizia Carnelutti o juiz deverd emitir sua decisio sobre a afirmagdo de que uma pessoa — imputado— cometeu um fato previsto~ tpifica- do—por uma norma punitiva* E na tarefa de identificagao do significado de tais “fatos’, ha quem en- tenda que ele deve ser considerado apenas em sua individualidade hist6rica. Restringe-se a nogio de fato tao somente & conduta humana, que se delimita 8 partir de pardmetros espaco-temporais, tendo em conta o lugar e 0 momento ‘em que se produziu o evento material. Nessa concepgio naturalista, para fins de identificar o caso penal para de- Jimitar a proibigao de méltipla persecugio sobre os mesmos fatos, hé de conce- ber-se 0 conceito de “mesmos fatos" fundaclo na ideia de “Sequéncia unitaria de acontecimentos que formam uma unidade natural”, ou como “acontecimento hist6rico, ao qual se referem a clemanda e a sentenga do procedimento inicial, e, em cujo marco, o demandado deve haver realizado tum tipo delitivo como autor ou participe”.? No entanto, por mais que se entenda que o conceito de “mesmos fatos” relaciona-se aos elementos nucleares le determinado comportamento imputado ao acusado, na sun expresso material mais simples, tais como.a morte, a subtra- io, 0 constrangimento, entre outros, independentemente de sua qualificagao juridica, titulo, grau ou circunstdncias, nfo se pode esquecer que esse aconte- cimento somente é relevante, ainda que hipoteticamente, “como e enquanto violador dos valores protegidos pelas normias juridico-penais"** Por iso, conquanto constitua afirmagao recorrente de que, para a aprecia- 40 da proibigo do principio do ne bis in idem, deve-se entender o termo “mes. 581 CARNELUTTI, Francesco. Lecsones sabre el prices pal Talus ‘Buenos Aires FsicimesJuridicas Bosch & Cia, 1950. 4. p. 08 5382 “A identfcagio do to ndo se punta: pola qualifies juriica do ftw nem pola qualidade ou {quantidede do pena poi, sendo pela desidade de un acontscimento histo, iivduatizad na ss unklade natural endo a jurtico-penal, de ye se preter extrait conse jrion pal ‘qualquer que sj": FENECH, Miguel. Derecho proses pen 2, ed Madi: Labor, 1952, 543, 583 PEREZ MANZANO, Mercses. La prolicin conttcimal de mcuri en isn idem. Valencia Tirane to Manel, 2092. p91 584 ISASCA, Frderico. Alora sbstancial ds Coimbra: Alaina, 1999. p86 oe Saniogn Scns Mele. fasts sua reel nope pol fortaga,2 el 180 res fats” come fates eis histrios dlimitados por um meno contexte de tempo e epg se i de noe a eleva da perpectva norma do objeto do proceso. FE que ented du ato no determine de uy ‘modo matematico, até porque o que se leva ao conhecimento do trl rarely mano Seno neve o méito da tea naturals, ao exci dos elements ientfcadoes dese 0 conto a uaifeass jurt dca atribufda anteriormente aos fatos imputados,* a abo ave io problema nao deverd se esgotar apenas em referenciais natural sas, i Ds Ea determina da entiade do ato impressndve remetersea0 ae cad jurtica. Os process de subsungo so un camino ce mo dn “de ida e volta, nos quais se transita da informagio fética a norma juridica m8) 7 Der vs nati ds fa oe pote i tificar-se como objetos processuais quando eve cartes de a contemplas com uma especie de "nia jure gus endo apes punitive am feimeno jure, a ented de ates io per ria = te de concn nara, mas também de vlogs juries a repo dels. Asim, obervando-se que oacontecimento exterior o qual corpo cconduta tipica, é idéntico ao acontecimento histérico inp sree, ou sas elements so sustaeialmente cine, verfcad sag de equa pa fins de nine do pnp done isin dem’? ‘Nesse sentido, Figueiredo Dias considera o fato processual penal a8 cote, um pedago a vida o qual deve seranalisado a partir do conse a juridicas por eles geradas. Adverte que, para a identificagio dls fa FEF BARROSO, bo Migus: Eudes oer do press nal Lisbon: Vis Bitores, 2003 p18 6 ! ts . se ingessam em conseragd a valrage o dese negra 586 “O caclarecimento de que, pra a apieagto dessa re ; ues tem am sca neti serve pa expe fone ‘rlragajurtdica divert do mestno compartment coneret0, ees Seveahcetde a Wend psn at habit una na pesos penal ak om ce muta” NUNEZ Reand Gi} ada Je precuin pa Fae d.n 33 26 Bucs Ais Edens Depa, 986. p40. be 2 587. BINDER, A.Inrahccifn adeno procesl pol Buenos Aires: AS Hoe, 2008, p17 J nce i inn, Valois Taranto 588. MANZANO, Mercles, La prin consttuciomal de inci n i Blanch, 2002, p. 92, is Editoes, 2003. p46. 569 BARROSO, lo Miguo,Esudo sobre o obj do process penal. Lisbon: Vissi p 181 requisito de aplicagao do prinefpio ne bis in idem, deverdo ser ponderadas todas as questdes de fato, integradas por todas as possiveis questes de direitos que ‘possam ser suscitadas.*” Realmente, a pretensdo processual formulada em determinado proced mento somente se justfica se os fatos nele narrados tiverem relevancia nor. mativa, in casu, de caréter repressivo por subsungdo do fato hipotético a um tipo legal. Como observado pela doutrina que preconiza a utilizagio de teferenciais jurfdicos na construgio do conceito de “mesmos fatos', o fato processtal, como acontecimento, corresponde ontologicamente nao necessariamente a um nico ato, endo compreendido também por uma pluralidade de atos que se aglutinam fem tomo de certos elementos polarizadores. Eo juizo de subsungao dessa fragio individualizével do comportamento do agente pode ser dada em uma perspec- tiva social ~ quando a cindibilidade da unicidade fitica nfo for considerada “natural” -, em uma perspectiva da experigncia social da vida — por crtérios cde unidacle do “ponto de vista" da sociedade e do proprio agente ~ e também a Juz de uma perspectiva juridica — preveem e tipificam o fato.*! Assim, propde-se que, na del hhaja a conside decorrentes da interpretagio das normas que itago do conceito de “mesmos fatos”, ragdo tanto de referenciais pré-juridicos como de aspectos ormativos. E por “mesmos fatos” compreende-se, entio, o mesmo fato-base ou substancial constante da anterior imputagio ou, ainda, a mesma realidade historica ou nticleo central da infragao pela qual o acusado jé foi processado, juilgado ou condenado. ‘Também se inclui no significado de “mesmos fatos” a existéncia, ao ‘menos parcial, de identidade dos atos concretos de realiza¢ao dos tipos concorrentes. “Basta que haja uma porg’io comum no acontecer histérico dos objetos comparados”? Por isso & que, trazida a jufzo determinada atividade tipica de uma infrac #0, mesmo que faja mudanga de alguns dos elementos do tipo descritos no 590 DIAS, Jone Figuceto. Dio procesual ol Coimbra: Coimbra Editors, 2004.48. 381 ISASCA, Frederico, Alen substancil don Coimbra: Alosedina, 1999 p. 96, 592. GOMEZ ORBANEJA, Emilio; HERCE: Aes y Giraieas Ediciones, 1986. p, 22. facto sua reer no pes penal orugus. 2. QUEMADA, Vicente, Daas races pel 10. Made 182 raz da repetigio da primeiro processo, nfo se admitiré nova persecucao, et 0 do objeto do processo. rutura basica do fato e manutengio 7 ok sertpor exemplo, sto considradas irelevantes, na construsso do conceto d “mesos fats, 8 ieunstncas de que cm una ds infages sexi ceo réncia de dano € na outra apenas de perigo, assim como que haja : rena do grau de gravidade das infragSes ou mesmo a realizagio de tipo delitivo na » jualidade de autor, coautor ou partécipe: ‘ seo gambéin se entendeindiferente, para fins de ineidéncia do pence d ne bis in idem, a mudanga de alguns elementos objetivos™ ou subjetivos do tipo Sat oe eames ee ae er ee ees eas nec fo aie eat a infagno ¢ 2 beng .J° BRASIL. Supremo Tribunal Federal. HC 64. a i. SMR ete enon eles snot ae zuc sendo o mesmo. MANZINI, Vincenzo. Trutado de derecho procesal penal e Jui Fe pneu SS ae ee vai porque 0 fato mortetem 0 mesma nicl operon ee eral Ld Lie eea chal es oral em face de eventual crime ‘Sid ks cnprl [Mom ses aig fd so co va ‘Str mr GREED FN Vo Nne nnn oS a Sao 40 sre cher senna“ Tek pace ib sab Seon J devo mani Capa pst) i Jt Mia so ple ie lr osteriormente pela mesma conduta, ainda que sub nova qualificaga ju Mn seman ot pon eso ees ASL: Sa Ta soja FS 8510, Rel ereza de Assis Moura, Sexta Turia, julgade em: Jr, He: F8STOR, Rel. Misra Marin There de . me Tide Soy tie OS ancl BONN AS DERE Anco Cg er ag Ho or si ce if Bie) Em ep a Ged pst proce pe a de este passe que foram absolvides no Proceso 1 00.0057425- te ims ns as aeedeeT eS er sto nto altera © contexte juridie da questi’ Sl inculpao nna 304 rnd documento as cate pe ng Bi ie Re eat fn Aan SCE Tr, Ace Relator: Desemarsaor Feral José Maria Lucena. Recife, PE, 240 2008 un. Disp ptr govh>, Acc 9. 2008 183 (io cle do renlindo do delito (Consumado e tentado), do modo d ‘uso do delito ou do valor do objeto material da infragio, = hipoteses, por nao provocar ruprura da identidade a pelo aualo aeusado tena sido proceso, julgado efou condenado. enti Se Dae acta por exempl, que em face de um sic fit, compre- enuldo como suago histrica concrets, aja imputaso de homicin doles Pesterormente, apts a absolvigdo com sentenga trasitala em jlzad, seia tive ago por homie culposo. E que, anton forma de homicio do- mo na de culposo, o nticleo central do acontecimento concretamente. imputado ao acusado permanece inal ——- Iterado, qual seja, o de provocar a morte e E importante realcar, ainda, que, embors, eventualmente, existam entre ves inpuragéesderengas de tempo, de gar, de modo de exccugso, ou mesmo do objeto do fato imputado, & i ‘a da . lo, € possivel a subsisténcia da identi nuclear do fato, devendo, para tanto, ser ana Sears mente ocorrido.” Na ditvida, deve-se c “ oa oa dleve-se invocar 0 consagrado “teste de Blockburges" wtilizado file Suprema = norte-americana para dirimir eventual controvérsia sobre '¢20, ou nao, do double jeopardy. No pardmetro estabelecido no julgamen- ‘0 do caso Blockburguer v. USA (1932),**se cada uma das ofensas praticadas ido o acontecimento singular- mitada 9 ogo Los ti 9 uma cons, & cote yea muta ds mt lin js agai na le en al ings Mim opal pn ai ‘apm ne lo arctic ene LEONE, Ce Fan Tradugio por Santiago Sentis Melendo, ‘ treo ra Tsp Sti Sot Mila, A Eo at 2 Ommenret eter eat cern a Sc aa eae ao -_ exta Turma, julgado em: O7 mar. 2006, Dj 27 mar. 2006 p. 333. " “me peetareienr sreoeenaranetrnee mica sie, rin can otto a Histnts, cujo ebjet & um acontecimento histéricn diverso do anteri a Reach halal dts pnecnnpoladig abun Dasa ses -conaspin is ei fae ene a an 398 ESTADOS UNIDOS DA AMERICA, Su A. Sema Conte, Bak {93 tel Sas Kp 30 rm Dp ca cgieerapeec, non Oj 2012 er ttn Bonn Oh 3 USL 6 GST 26 esses fray 184 exigit, para sua comprovago, um elemento diferente, nio se hi de falar e identidade de fatos.*” Pelo que se expés, conclui-se pela possibilidade de infringéncia a proibigao do bis in idem, se da comparagio entre duas imputagdes referentes & mesma conduta resultar que um aspecto do fato, ou sua totalidade, tive sido levado em cconsideragao para a formulagio de ambas as acusagbes. ‘Como diz Germano Marques Silva, os fatos constantes da infrago nova- mente imputada ao acusado so considerados os mesmos quando existe uma parte comum entre 0 fato hist6rico julgado e o fato histérico a jugar € ambos os faros tenham como objeto 0 mesmo bem juridico ou formem, como ago que se integra na outra, um todo do ponto de vista juridico.° ‘Alem do mais, nfo se hi de esquecer que, como estabelecido desde os ro- manos, 0s fatos imputados no processo compreendem o deduzico, assim como co dedutivel. Com efeto, a resolugao do caso penal, com a prolago de decisio definitiva, pbe termo ao contetido da pretensio processual penel, em sua tota- lidade, estendendo-se a proibigio de renovagio da demand no apenas sobre a “porcdo do fato” descrito no processo, mas sobre todo o fato, ainda que tenha hhavido deficiéneia na imputagio. ‘Assim, respondendlo a pergunta formulada no inicio deste t6pico, susten- tase que a proibigio (ne) de imposigio de mais de uma (bis! consequéncia juridico-tepressiva pela pritica dos mesmos fatos (idem) ocorre, ainda, quando ‘ocomportamento definido espaco-temporalmente imputado ao acusado mio foi trazido por inteiro para apreciagao do juizo. Isso porque 0 objet» do proceso {nformado pelo principio da consungfo, pelo qual tudo aquilo que poderia ter sido imputado ao acusadlo, em referéncia a dada situagao histérica, e no 0 fo, jamais poderd vira sé-lo novamente.*" E também se orienta pelos prinefpios da unidade e da indivisibilidade, devendo o caso penal ser: conhecido ¢ julgado na Tr cplicaa doutina, de acordcom esse recente, "para verifier se um msm atom tramags ‘Sonat uma rinagdo de dass povisis cotati ditt, o este 3 ser apd pra determine ehh dss ayn somente uma & 4¢ cada proviso dem a pv de wn fato ge 2 cua no teques” MAIA, Ralf Tage. O pinepio dn sin deme a Constiuigobras era de 1988 olin ‘onto da Esa Superior dy Minnie Pic da Unis 4, 1, abt 2905p. 3 1, Lourdes Estos Veo, 2000. V.3. p45 ee {600 SILVA, Gerinano Mangus. Caso de process ona 2 601 Pela intgraidade que deve ser 0 objeto do proces, exigese que cid PIOEESI, ete incesantemente "objeto ou objets qu © determinam a realizar seme imparts que 0 ovoe ‘dccrve incemplctamente mest JIMENEZ ASENJO, Enrique. Derecho pcs ona. Madi atrial Revista de Derecho Pivad, 1958. p. D4-138 185 sua totalidade ~ unitéria e indivisivelmente ~ sido, considerar-se-4 irrepetivelmente decicido. Como observa Eduardo Correa, a impossibilidade de renovagio de jul- samento seré estendida a todas as atividades que possam ser polarzadas. Concreta violagdo imputada, em sua totalidade e de forma esgotante, ie ‘ot nao sido apreciadas na sentenga, quer esta seja condenatéria, quer absolut’, tia. Aquilo, pois, que, devendo té-lo sido, i » que, lo sido, nfo se deci em de consider indireta ou tacitamente resolvido.* Sse conser mesmo quando nfo 0 tenha E pela preciso dos at aurgumentos, cumpre-se registrar 0 pensamento derico Isasca, quando consigna que: ee que transita em julgado € 0 a lo & 0 acontecimento da vida que, como e en- «quanto undo, se submeteu 3 aprecagdo de um tribunal. It sgn fea que tos os fos patcados pelo argulda ata decsio final que dretament stelaionem com o pedago devi apreciado e que con ck formam «alu una de send, ainda se efetvamente no fenham sido conhecidos ou tomatlos em consideracao pelo ecibunal, info podem ser posteriormente apreciados. Quer porque enguanto tant considera no sum suse dese snuconeay anno objeto de um proceso, Quer porgue sus aprecag voli ron falmnte a regra ne fs i de, entrand em abertoconflito com os tamentos do caso julgaclo. Quer ainda porque, fornecendo 0 Cédigo {OF DIAS jon Fai, Dnt ces ou Coin: ° ibe Ee, 2 os SANTOS Gi Mera, A tale spn oes Fal Ra ortguest de ciincia criminal, ano 2, fascfeulo 4, out-dez, 1992. p. $93 ee sep = 603 CORRELA, ard Hears iad Heng dio. A amid coca 3 CORREA nde inna, Coin Aled, shat uncemented imped areata cust sen tld con, re hee A ha ltrago do dominio da eos, aquinldasquatsqur autas ago eventualmerte aspen # anni propre, als cone a voltae a gave ee ite cannes nd 15 No nein panpn am vn glo etna a pedtica de circunstncia cae exon No som te rcs inate dtp pal ment eet: No ef) ed en ean, len cpa ons mes el ie de ad npr wate da val ada pao subsonic combi an camo dd eal crane Ass cans sforcramatin cares otro cas pe on ulin edn ies

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