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Lélia Gonzalez Por um feminismo afro-latino-americano Ensaios, intervencdes didlogos Organizacio: Flavia Rios e Marcia Lima 1 reimpressdo QZAH Racismo e sexismo na cultura brasileira Cumé que a gente fica? Foi entdo que uns brancos muito legais convidaram a gente pra uma festa deles, dizendo que era pra gente também. Negécio de livro sobre a gente. A gente foi muito bem recebido e tratado com toda consideracao. Chamaram até pra sentar na mesa onde eles tavam sentados, fazendo discurso bonito, dizendo que a gente era oprimido, discriminado, explorado. Eram todos gente fina, educada, viajada Por esse mundo de Deus. Sabiam das coisas. E a gente foi se sentar la na mesa. S6 que tava tao cheia que nao deu pra gente sentar junto com eles. Mas a gente se arrumou muito bem, procurando umas cadeiras e sentando bem atras deles. Eles tavam tao ocupados, ensinando um monte de coisa pro crioléu da plateia, que nem repararam que se apertasse um pouco até que dava pra abrir um espa- ozinho e todo mundo sentar junto na mesa. Mas a festa foram eles que fizeram, © a gente no podia baguncar com essa de chega pra cé, chega pra la. A gente tinha que ser educado. E eta discurso e mais discurso, tudo com muito aplauso. Foi ai que a neguinha que tava sentada com a gente deu uma de atrevida. Tinham chamado ela pra responder uma pergunta. Ela se levantou, foi li na mesa pra falar no microfone e comecou a reclamar por causa de certas coisas que tavam acontecendo na festa. Tava armada a quizumba. A negrada parecia que tava esperando por isso pra baguncar tudo. E era um tal de falar alto, gritar, vaiar, que nem dava mais pra ouvir discurso nenhum. Té na cara que os brancos ficaram brancos de raiva e com azo, Tinham chamado a gente pra festa de um livro que falava da gente e a gente se comportava daquele jeito, catimbando a discurseira deles. Onde jé se viu? Se eles sabiam da gente mais do que a gente mesmo? Se tavam ali, na maior boa vontade, ensinando uma porcio de coisa pra gente da gente? Teve uma hora que nao deu pra aguentar aquela zoada toda da negrada ignorante e mal educada. Era demais. Foi ai que um branco enfezado 7B Asai, partiu pr: rioulo que tinha pegado no microfone pra a cima de um criow ‘Bi Pra fal: rtiu pt \s brancos, Ea festa acabou em briga 1s brancos. E a festa quem teve a culpa? Aquela neguinha atrevida, or 6s, i la neg ora Sengg Agora ta queimada entre os brancos,y, ‘Agora, aqui pra n dado coma lingua nos dente: tive 7 é lou n Tham ela até hoje. Também quem mand me s Et ana entrada caga na sajj.n dizendo que “preto quando nao cagi 82 na aidy jo saber se comportat? Nao ¢ ity, que eles vivem A longa epigrafe diz muito além do que ela conta, De saida, © que se percebe 6a identificagio do dominado com o dominador. E isso ja foi muito bem analisado por um Fanon, por exemplo. Nossa tentativa aqui é a de uma i, dagacio sobre 0 porqué dessa identificacdo. Ou seja, 0 que foi que ocorrey para que o mito da democracia racial tenha tido tanta aceitagao e divulgaciop Quais foram os processos que teriam determinado sua construcao? O que é que ele oculta, para além do que mostra? Como a mulher negra é situada no seu discurso? O lugar em que nos situamos determinar4 nossa interpretacao sobre 9 duplo fenémeno do racismo e do sexismo. Para nés 0 racismo se const ui como a sintomdtica que caracteriza a neurose cultural brasileira. Nesse sen- tido, veremos que sua articulacao com o sexismo produz efeitos violeatos sobre a mulher negra em particular. Consequentemente, o lugar de onde falaremos pde um outro, aquele que habitualmente vinhamos colocando em textos anteriores. E a mudanga foi se dando a partir de certas nocées que, forcando sua emergéncia em nosso discurso, nos levaram a retornara questao da mulher negra numa outra perspectiva. Trata-se das nocdes de mulata, doméstica e mie preta. Em comunicacao apresentada no Encontro Nacional da Lasa (Latin Ame- ican Studies Association) em abril de 1979,) falamos da mulata, ainda que de passagem, nao mais como uma nogio de carter étnico, mas como uma Profissio. Tentamos desenvolver um pouco mais essa nogao em outro traba- tho, apresentado num simpésio realizado em Los Angeles, na Ucla, em maio do mesmo ano? Ali falamos dessa dupla imagem da mulher negra de hoje: mulata e doméstica. Mas ali também emergiu a nocao de mie preta, colocsda numa nova perspectiva, Mas ficamos por ai Nesse meio-tempo, participamos de uma série de encontros internacio nais _ ane tratavam da questo do sexismo como tema principal, mas que ce a sexismo na cultura brasileira mo re _ pacts d priam espaco para a discussio do racismo tam| ‘eal . Nossa experiéncia ment jito enriquecedora. Vale ressaltar que a militancia politica no Movi- en Negro Unificado era um fator determinante de nossa compreensio ‘equest30 racial. Por outro lado, a experiéncia vivida enquanto membro do remo Recreativo de Arte Negra e Escola de Samba Quilombo nos permi- sora percepcao de varias facetas que se constituriam em elementos muito ntes para a concretizacio deste trabalho, E comecaram a se delineat, import aquilo que se poderia chamar de contradigées internas, para n65; O fato€ gue, enquanto mulheres negras, sentimos a necessidade de aprofundar nossa reflexdo, em vez de continuarmos na reproducio e repetico dos modelos que nos eram oferecidos pelo esforco de investigacio das ciéncias sociais. Os textos 96 nos falavam da mulher negra numa perspectiva socioeconémica que elucidava uma série de problemas propostos pelas relacdes raciais, Mas ficava (eficaré) sempre um resto que desafiava as explicagdes. E isso comecou anos incomodar. Exatamente a partir das nogGes de mulata, doméstica e mae preta que estavam ali, nos martelando com sua insisténcia. Nosso suporte epistemoldgico se da a partir de Freud e Lacan, ou seja, da psicanilise. Justamente porque como nos diz Jacques-Alain Miller, em sua Teoria da Alingua: © que comecou com a descoberta de Freud foi uma outra abordagem da lin- guagem, uma outra abordagem da lingua, cujo sentido s6 veio A luz com sua retomada por Lacan. Dizer mais do que sabe, nao se saber o que diz, dizer outra coisa que nao o que se diz, falar para nao dizer nada, nao so mais, no campo freudiano, os defeitos da lingua que justificam a criagio das linguas formais. Estas sio propriedades ineliminaveis e positivas do ato de falar. Psicandlise € 16- gica, uma se funda sobre o que a outra elimina. A anilise encontra seus bens nas latas de lixo da logica. Ou ainda: a andlise desencadeia 0 que a légica domestica? Ora, na medida em que nés negros estamos na lata de lixo da sociedade brasileira, pois assim determina a logica da dominacao, caberia uma indaga- sao via psicandlise. E justamente a partir da alternativa proposta por Miller, Ou seja: por que 0 negro é isso que a logica da dominacio tenta (e consegue muitas vezes, nds sabemos) domesticar? O risco que assumimos aqui é o do ato de falar com todas as implicagdes. Exatamente porque temos sido falados, nin m™ que no ter fala propria, 64 crlanga que a pelos adultos) que neste trabalho agay, numa boa cle f infantilizados (injans € a4 porque mn " naterceira pessoa nossa propria fala, Ou sey A primeira coisa que a Be do acha que é natural. Qu o lixo vai falar, € ue percebe nesse pape de raCismo & gue je negro vem mais € que viver na miséri, 5” alidades que nfo esto com nada: jy,” |, criancice etc. ¢ tal. Dai muni » Ora, porque ele tem umas qu dade, incapacidade intelectual pela policia, pois nao gosta d é malandro é ladrio. Logo, tem que ser preso, nay, pode serpivete ou trombadinha * pois filho de py, naturalmente, € cozinheira, faxineira, server, a. Basta a gente ler jornal, ouvir radio ¢ ver qué ponsal seja perseguido é malandro, e se mente. Menor negro s6 peixinho é, Mulher negra, trocadora de énibus ou prostitut televisio. Eles nao querem nada. Portanto tém mais € que ser favelados Racismo? No Brasil? Quem foi que disse? Isso & coisa de americano, agy maura ue le trabalho, sabe? Se nag trabalh nao tem diferenca porque todo mundo é brasileiro acima de tudo, gracas, Deus, Preto aqui é bem tratado, tem o mesmo direito que a gente tem, Tanto € que, quando se esforga, ele sobe na vida como qualquer um. Conheco um que é médico; educadissimo, culto, elegante com umas feig&es tao finas,. Nem parece preto. Por af se vé que 0 barato é domesticar mesmo. E se a gente detém 0 olhar em determinados aspectos da chamada cultura brasileira a gente saca que em suas manifestacbes mais ou menos conscientes ela oculta, revelando, as marcas da africanidade que a constituem. (Como é que pode?) Seguindo por ai, a gente também pode apontar pro lugar da mulher negra nesse processo de formacao cultural, assim como pros diferentes modos de rejeico/integracio de seu papel. Por isso, a gente vai trabalhar com duas nogdes que ajudardo a sacar que a gente pretende caracterizar. A gente té falando das nogoes de cons: ciéncia de meméria. Como consciéncia a gente entende o lugar do des- conhecimento, do encobrimento, da alienaco, do esquecimento e até do saber. B Por ai que 0 discurso ideolégico se faz presente. Jé a memoria, a mnrthien saber ave conhece, esse lugar de inscrigdes ae eee i 7 nie foi escrita, 0 lugar da emergéncia da i ee cae -esara como ficsao. Consciéncia excluio : fa em que é 0 lugar da rejeicao, a cons: se sovivno Ma CHIENE bristled auction » expressa como discur exp discurso dominante (ou efeitos desse discur, 40) rm ce 4 imposicao do que sogo de . meméria tem suas asticia joxo “ a através das mancadas do di s, jgncia. O que a gente vai tentar é sacar esse jo iscurso da do de dialética. B, no que se refere iene Se aud dada culvara, ocultando @ meméei Y ela, consetene cintura; por isso, ela fal cia, afirma como a verd seul conse 60 ai das duas, também a i gente, A crioulada gue a conseignea fiz tudo pra nossa hist6ria sere sada de con squecida, tirada de cena papela pra tudo nesse sentido." $6 que isso ta ai... ¢ fala, Anega ativa Mulata, mulatinha, meu amor Fui nomeado teu tenente interventor (Lamartine Babo) Carnaval. Rio de Janeiro, Brasil. As palavras de ordem de sempre: bebida, mu- Iher e samba. Todo mundo obedece e cumpre. Blocos de sujo, banhos a fanta- sia, frevos, ranchos, grandes bailes nos grandes clubes, nos pequenos também. Alegria, loucura, liberdagem geral. Mas hé um momento que se impoe. Todo mundo se concentra: na concentracao, nas arquibancadas, diante da tv. [As escolas vao desfilar suas cores duplas ou triplas. Predominam as du- plas: azul e branco, verde e rosa, vermelho e branco, amarelo e preto, verde e branco € por ai afora. Espetaculo feérico, dizem os locutores; plumas, paetés, muito luxo e riqueza. Imperadores, uiaras, bandeirantes ¢ pioneiros, prin- cesas, orixés, bichos, bichas, machos, fémeas, salom@es ¢ rainhas de sabé, marajés, escravos, soldados, s6is e luas, baianas, ciganas, havaianas. Todos sob 0 comando do ritmo das baterias e do rebolado das mulatas que, dizem alguns, nao esto no mapa. “Olha aquele grupo do carro alegorico ali. Que coxas, rapaz.” “Veja aquela passista que vem vindo; que bunda, meu Deus! cologia do branqueamento. Pois * O melhor exemplo de sua eficicia esta no barato da ide iculagao 1o de mulato, quem foi o primeiro na sua articulays do “seu” Oliveira Vianna. Branqueamento, n40 bra da gente pra mal aceitara presenca da gene jogo uum esquema pra gente “se comportar mbarca nessa. foi justamente um crioulo, apelidad em discurso “cientifico”. A gente té falando importa em que nivel, é 0 que a consciéncia c Se a gente parte pra alguma crioulice, ela arma k como gente”, E tem muita gente da gente que s6 ¢! ° Ensaig, . i ser gostosa assim li em cas 5 fa mexe a barriguinha. Vai ser 8 — m louco, bicho- rebolantes e sorridentes ra seus avidos suditos na civilizada da lingua francesa. Conto de fadasy ja democracia racial, p ¢ Olha come el: “Blas me deixai 1 s rainhas,distribuindo bejos E14 vao elas, 4 o nesse feérico espeticulo... § fag a fossem béngaos pal ee vem de “fée”, fada, aqui é od © mito que se trata de reencenar aq se ritocarnavalesco que 0 mito € atualizado com yy. a instante que a mulher negra se transform, i, Ica a “mulata deusa do meu samba mente no momento do sua forga simbélica. E é ness so ‘ » We passa do inocente/ tirando 0 $038eg0 da penn. po que a vemos eM Sua Méxin, a e exclusivamente na rainha, ni com graca/ fazendo pirraga/ fingin' + desfiles das escolas de primeiro gruy io, Aliela perde seu anonimato € se transfigura na Cinderela do asfalo ‘ada, devorada pelo olhar dos principes altos € loiros, vindos 4. Ja, Estes, por sua vez, tentam fixar sua imagem, Eno: exaltaca adorada, dese} terras distantes s6 para vé- estranhamente sedutora, em todos os seus detalhes anatémicos; € 0s flashes se sucedem, como fogos de artificio eletrdnicos. E ela dé o que tem, pois sabe que amanhi estara nas piginas das revistas nacionais e intermacionais, vig, e admirada pelo mundo inteiro. Isso sem contar o cinema e a televisio. Ej vai ela feericamente luminosa e iluminada, no feérico espetaculo. ‘Toda jovem negra que desfila no mais humilde bloco do mais longinguo subiirbio sonha com a passarela da Marqués de Sapucai. Sonha com esse so- nho douradb, conto de fadas no qual “A Lua te invejando fez careta/ Porque, mulata, tu nao és deste planeta”. E por que nao? Como todo mito, o da democracia racial oculta algo para além daquilo que mostra. Numa primeira aproximagio, constatamos que exerce sua violén- cia simbélica de maneira especial sobre a mulher negra, pois o outro lado do endeusamento carnavalesco ocorre no cotidiano dessa mulher, no momento em que ela se transfigura na empregada doméstica. & por ai que a culpabi lidade engendrada pelo seu endeusamento se exerce com fortes cargas de agressividade. E por ai, também, que se constata que os termos “mulata’ € “doméstica” sio atribuigdes de um mesmo sujeito. A nomeacao vai dependet da situagio em que somos vistas." * Nesse sentido vale apontar Para um tipo de experién efiro-me a08 vendedores que batem & port e periéncia muito comum. Ri ‘a de minha casa e, quando abro, perguntam gentilmente ‘s pacismoesexismo na cultura brasileira acis 8 te da uma volta seagen! pelo tempo da escravidao, pod a interessante, Muita coisa que explica essa confi ® Pode encontrar muita jusa ois 10 toda que o branco faz coma gente porque a Bente € preto, Pra gente que é preta enta cera que a8 avés da gente, as mucamas, fzetamalguma cons gene mena gente desse jeito? Mas 0 que era uma mucsmar © ee ? O Aurélio assim define: Mucama. (Do quimbundo mu’ kama “amésia escrava")$. Bras. A moca e de estimaco que era escolhida para auxiliar nos fe sccm . nossos) Parece que © primeiro aspecto a observar é 0 proprio nome, signific proveniente da lingua quimbunda, eo significado que nela possul N ea Outro aspecto interessante é 0 deslocamento do significado no diconirio, on seja, no cédigo oficial. Vemos af uma espécie de neutralizacio, de esvaziamento no sentido original. O “por vezes” é que, de raspio, deixa transparecer alguma coisa daquilo que os africanos sabiam, mas que precisava ser esquecido, ocultado. Vejamos 0 que nos dizem outros textos a respeito de mucama. June E. Hahner, em A mulher no Brasil, assim se expressa: ‘Aescrava de cor criou para a mulher branca das casas-grandes e das menores con- dices de vida amena, facil ena maior parte das vezes ociosa. Cozinhava, lavava, passava a ferro, esfregava de joelhos o chéo das salase dos quartos,cuidava dos filhos da senhora e satisfazia as exigéncias do senhor. Tinha seus proprios filhos, odeverea fatal solidariedade de amparar seu companheito, de sofrer com os ou- tros escravos da senzala e do eito e de submeter-se aos castigos corporais que The exam, pessoalmente, destinados. O amor para a escrava [..] tinha aspectos de verdadeiro pesadelo. As incursdes desaforadas eaviltantes do senhor, fills € parentes pelas senzalas, a desfagatez, dos padres a quem as Ordenagées Filipinas, com seus castigos pecunirios e degredo para a Africa, n20 intimidavam nem faziam desistir dos concubinatos e mancebias com as escravas.’ ma vez, constato como a a saiu e, mais WI dame est4?”, Sempre Ihes respondo que @ madame sai ° oas al costuma faze Somos vistas pelo “cordial” brasileiro, Outro tipo de pergunta We oe em lugares piblicos: “Vocé trabalha na televisio?", ou ‘Voce é artista?”. Ba gi significa esse “trabalho” e essa “arte”. & Ensaio Mais adiante, citando José Hondrio Rodrigues, ela se refere a mento do final do século xvim no qual o vice-rei do Brasil na por de suas funcdes de capitio-mor um homem que manifestara “ UM doy, 4 exclyi, baixos sen ” e manchara seu sangue pelo fato de ter se casado com uma ne mentos Bra, jg vs e aneira a consciéncia naqueles tempos, observa-se de que maneira a (evestida de 5, carater de autoridade, no caso) buscava impor suas regras do jogo: coneubj nagem tudo bem; mas casamento € demais. Ao caracterizar a fungao da escrava no sistema produtivo (Prestacao de bens € servicos) da sociedade escravocrata, Heleieth Saffioti mostra sua articulacie com a prestacao de servigos sexuais. E por ai ela ressalta que a mulher gy acabou por se converter no “instrumento inconsciente que, Paulatinamente minava a ordem estabelecida, quer na sua dimensao econdmica, quer na sug dimensao familiar’ Isso porque o senhor acabava por assumir Posicées antie. condémicas, determinadas por sua postura sexual; como havia Negros que dis. Putavam com ele no terreno do amor, partia para a apelacZo, ou sj, a torturg 2 venda dos concorrentes. Ea desordem se estabelecia exatamente porque as relagdes sexuais entre os senhores ¢ escravas desencadeavam, por mais pr ‘arias e animais que fossem, processos de interagao social incongruentes com as expectativas de comportamento, que presidiam a estratificacdo em castas, ‘Assim, ndo apenas homens brancos e negros se tornavam concorrentes na dis Puta das negras, mas também mulheres brancas e negras disputavam a atencio do homem branco? Pelo que os dois textos dizem, constatamos que o engendramento da mulata e da doméstica se fez a partir da figura da mucama. E, pelo visto, nio € por acaso que, no Aurélio, a outra funcao da mucama esta entre parénteses. Deve ser ocultada, recalcada, tirada de cena, Mas isso nao significa que nio €steja af, com sua malemoléncia perturbadora, E 0 momento privilegiado em que sua presenca se torna manifesta é justamente o da exaltacao mitica d2 mul ata nesse entre parénteses que é 0 Carnaval. Quanto 4 doméstica, ela nada mais é do que a mucama permitida, a4 Prestacao de bens e servicos, ou seja, o burro de carga que carrega sua familia a dos outros nas costas, Daf ela sero lado oposto da exaltacdo: porque st : : 5 vistas no cotidiano. E é nesse cotidiano que Podemos constatar que somos Vis" acismo ¢ sexismo na Cultura brasileira 83 como domésticas. Melhor exemplo disso sto os mulheres negras da classe média, cada ver aapeoee de disc las’ ou estarem “bem vestidas” (afina, “bon span a aniincios de emprego, €uma categoria “prance” ann Como vemos a“brancas” ou “clarinhas”). Os porteitos dos ediffeins gen BTbUwel pelaporta de servico, obedecendo instrugoes dosing eens entrar que as “comem com os olhos” no Carnaval ow ce € preta s6 pode ser doméstica, logo, entrada timinacio de adianta serem seducada nos indicos brancos (os mesmos tenha sido esqui ‘al & justami 7 quecida. Esta a Mas & justamente aquela negra andnima, habitante da perferia nas | nas bai- xadas da vida, quem sofre mais tragicamente os efeitos de sess Jidade branca. Exatamente porque é ela oe oa Rersivel calpabi , que sobrevive na base da prestacdo de servicos, segurando a barra familiar praticamente sozinha. Isso por seu homem, seus irmaos ou seus filhos sio objeto de perseguiczo a sistematica (esquadrdes da morte e “maos brancas" estdo ai matando negros & vontade; observe-se que sio negros jovens, om menos de trinta ance, Pog outro lado, que se veja quem é a maioria da populacdo carceraria deste pais) Cabe de novo perguntai como € que a gente chegou a este estado de coisas, com aboli¢fo e tudo em cima? Quem responde é um branco muito importante (pois é cientista social, uai) chamado Caio Prado Jr. Num livro chamado Formagdo do Brasil contempordneo, ele diz uma porcao de coisas inte- ressantes sobre o tema da escravidao: Realmente a escravidao, nas duas funcdes que exercerd na sociedade colonial, fator trabalho ¢ fator sexual, nao determinara senao relagdes elementares € muito simples. [...] A outra funcao do escravo, ou, antes, da mulher escrava, ins- trumento de satisfacdo das necessidades sexuais de seus senhores e dominadores, nao tem um efeito menos elementar. Nao ultrapassara também o nivel primario e puramente animal do contato sexual, no se aproximando sendo muito remota mente da esfera propriamente humana do amor, em que 0 ato sexual se envolve de todo um complexo de emogoes € sentimentos to amplos que chegam até a fazer passar para o segundo plano aquele ato que afinal Ihe den origen En Sdiog Depois que a gente 1é um barato assim, nem da vontade de dizer y, a jt Mas vamos Quanto 208 dois Fares apon,, i los porgue é um pra Ihadinha, de novo, No texto de Heleieth, jy Flag los, 6 s6 dar uma ol von dentro do mesmo espago dIsCUrSiVvo EM qUe ele seo istro € outro, vamos da vo de que branco nao trepa, mas comers” MCLE ate ie necessidade. E, ainda por cima, diz que ap, _— im, tender, pois nao? Mas, na verdade, aga. ve que conjugad i um baile no aut cou, Mas nosso reg exposto, a gente tem sexual, ¢ que chama tesio de nossa chamadinha também p. Pe aimp' s6 tira sarro, Assim no da pra dA. Pois 0 texto possuii riqueza de sentido, na medida em que é uma express: gue chamariamos de neurose cult Sdo nstroi modos de ocultamento do sintoma porque isso jp, ‘ssa construgao 0 liberta da angustia de se defrontay de, o texto em questao aponta para além dq privilegiada do tural brasileira. Ora, sabeme, 8 que o neurdtico cor traz certos beneficios. E: com o recalcamento. Na verda gue pretende analisar. No momento em que fala de alguma coisa, negando 7 ele se revela como desconhecimento de si mesmo. Nessa perspectiva, ele pouco teria a dizer sobre essa mulher negra, seu ho, mem, seus itmaos ¢ seus filhos, de que vinhamos falando. Exatamente porque ele hes nega o estatuto de sujeito humano. Trata-os sempre como objeto. Arg mesmo como objeto de saber. E por ai que a gente compreende a resisténcia de certas andlises que, ao insistirem na prioridade da luta de classes, se negam aincorporar as categorias de raca ¢ sexo. Ou sejam, insistem em esquecé-las"* E retomando a questao da mulher negra, a gente vai reproduzir uma coisa que a gente escreveu ha algum tempo. As condig6es de existéncia material da comunidade negra remetem a condicio- namentos psicolégicos que tém que ser atacados e desmascarados. Os diferentes indices de dominacao das diferentes formas de produgao econémica existentes i Brasil parecem coincidir num mesmo ponto: a reinterpretagao da teoria do Tugar natural” de Aristétees, Desde aépoca colonial aos dias de hoje, pereebest uma evidente separaco quanto ao espaco fisico ocupado por dominadores¢ dominados.O . O lugar natural do grupo branco dominante sao moradias saudavels * Que se leia 0 fornal do Brasil de 28 out. leia 0 Jornal do Brasil Se eee ee Fo ae cate dé mats um caso de dscriminagio raial de uma mulher neg racism, mi seus “ciimplices", afirmat Fo foi 052 e moe sexismo ma cultura brasileira pois? 5 sgnuadas nos MAIS belos recantos da cidade ou do campo e d gaspor diferentes formas de policiamento que vio desde vide Protegi- os fe : totes, capita mato, capangas eC até a policia formalmente constituida. De: Capitaes de vsobradoaté os belosedificiose residéncias atuais,o —— van eee yjo lugar natural do negro é 0 oposto, evidentemente: da on seonewmo ortigas. ivasbes, alagados ¢ conjuntos “habitacionais” (jd nvala as favela, - |. No aso do grupo dominado o que se constata sio familias nteiras a a 'as amontoadas em eubiculos cujas condigbes de higiene e satide so as mais precarias, Alé aqui também se tem a presenca policial; s6 que nao é para proteger, mm a reprimir, violentar e amedrontar. E por ai que se entende por que o. 7 aa natural do negro sejam as prisdes. A sistematica repressio policial a ° e : cariter racista, tem por objetivo proximo a instauracao da submissio psicol6; = através do medo. A longo prazo, o que se visa é 0 impedimento de = forma de unidade do grupo dominado, mediante a utilizacao de todos os a que perpetuem a sua divisio interna, Enquanto isso, 0 discurso dominante just fica a atuacao desse aparelho repressivo, falando de ordem e seguranca sociais."° Pelo visto, e respondendo & pergunta que a gente fez mais atras, parece que agente ndo chegow a esse estado de coisas. O que parece é que a gente nunca saiu dele. Basta a gente dar uma relida no que Hahner e Heleieth disseram. Acontece que amucama “permitida”, a empregada doméstica, s6 faz cutucar a culpabili- dade branca porque ela continua sendo mucama com todas as lets. Por isso ela éviolenta e concretamente reprimida. Os exemplos nao faltam nesse sentido; se agente articular divisio racial e sexual de trabalho fica até simples. Por que seré que cla s6 desempenha atividades que néo implicam “lidar com o piblico”? Ou seja, atividades onde nao pode ser vista? Por que os antincios de emprego falam tanto em “boa aparéncia”? Por que sera que, nas casas das madames, ela so pode sercozinheira, arrumadeira ou faxineira, e raramente copeira? Por que é “natural” que ela seja a servente nas escolas, supermercados, hospitais etc. € tal? E quando, como no famoso caso Marli* (que tem sua contrapartida no caso Aézio,** que, afinal, deu no que dew), ela bota a boca no trombone, denunciando * Sobre Marli, ver nota p. 49. ™ Gonzalez se refere ao caso de Aézio da Silva Fonseca, servente de pedreiro, qué aparece enforcado na 16' Delegacia, na Zona Sul do Rio de Janeiro, apés ser preso sob acusagoes de assédio, em 1979. (N. O.) Ensaio, ens de sua raca? Ai as coisas ficam realmen He Pre ‘Sum, : ; le de nao assumi-a. Deu pra sacar Ag.” Ben fo que estao fazendo com hom tase hd que se dar um jeito. O} pabilidade mediante a estratégia se parte para a ridicularizacao ou se ag, “ ulares sao us te os programas radiofénicosditos populares S80 USCITOS€ verging, Ja que defende seu crioulo das investidas po}, é i ais 1620 caso Aézio tai de Prova). Que se ese, em explica arte de ridicularizar a criou (ela sabeo que vai acontecer ale ses programas, Afinal, um dos meios mais efciences 4 lc 1, €rir daquilo que a provoca.J6.0 c480 Marl, + Por que ela tem que se esconder. B sérig Porgu e as segdes policiais de: fagira angistia é ridiculariza exemplo, é levado a sério, to a sério se trata do seu irmao (¢ nao do seu homem); portanto, nada melhor Para ney, tralizara culpabilidade despertada pelo seu ato do que o gesto de folcloriza-a, de transformé-la numa “Antigona negra”, na heroina, tinica e inigualavel. Com iggy amassa andnima das Marlis é esquecida, recalcada. E tudo continua legal nesse pais tropical. Elementar, meu caro Watson Eporai quea gente entende por que dizem certas coisas, pensando que estin xingando a gente. Tem uma misica antiga chamada “Nega do cabelo duro” que mostra direitinho por que eles querem que o cabelo da gente fique bom, liso ¢ mole, né? E porisso que dizem quea gente tem beicos em vez de labios, fornalha em vez de nariz e cabelo ruim (porque é duro). E quando querem elogiar dizem quea gente tem feicdes finas (e fino se ope a grosso, né?). E tem gente que acredita tanto nisso que acaba usando creme pra clarear, esticando os cabelos, virando Ieidi e ficando com vergonha de ser preta. Pura besteira. Se bobear, a gente nem tem que se defender com os xingamentos que se referem diretamente ao fato de a gente ser preta. Ba gente pode até dar um exemplo que pie os pingos nosis. Nao faz muito tempo que a gente estava conversando com outras mulheres, num papo sobre a situacdo da mulher no Brasil. Foi ai que uma delas contou uma historia muito reveladora, que complementa o que a gente ja sabe sobre a vida sexual da rapaziada branca até nao faz muito; iniciagdo e pratica com as crioulas. E ai que entra a hist6ria que foi contada pra gente (brigada, lone). Quando chegav# na hora do casamento coma pura, frigil e inocente virgem branca, na hora data! noite de nuipcias, a rapaziada simplesmente brochava. J imaginaram o vexame”E Onde € que estava o remédio providencial que permitia a consumacao das bodas? Bastava o nubente cheirar uma roupa de crioula que tivesse sido usada par “logo apresentar os documentos". Ea gente ficou pensando nessa pratica, tao coum intramuros da casa-grande, da utilizacdo desse santo remédio chamado caine po eseximo na cultura brasileira ai 8 ula depot destocado pra chiro de corpo on simplemente cect cer quando singem agente de negra sua, n@ ne por essas €outras também que da vontade de rir quando a sendocoivrodo “seu” Cato Prado Jr. Aquele trecho que a gente ges continu veda gente, citando tum autor francés em francés (66 que a gente traduz):" milagre do amor humano € que, sobre um instinto tao simples, 0 desejo, ele constréi weifcias de sentimentos os mais complexase delicados” ny tenia’ (grifos nossos)." m0 Brasil Co- Peloexposto, parece quenem Freud conseguiu definirneurose melhor do que [andre Maurois. Quanto & negativa do “seu” Caio Prado Jr, infelizmente, a gente sabe o que ele esté afirmando esquecidamente: o amor da senzala sé realizou omi- lagre da neurose brasileira gracasa essa coisa simplérrima que é 0 desejo. Tio simples que Freud passoua vida toda escrevendo sobre ela talvez porque nao tivesse o que fazer, né, Lacan’). Definitivamente, Caio Prado Jr. “detesta” nossa gente. ‘Auinica colher de cha que da pra gente é quando fala da “figura boa da ama negra” de Gilberto Freyre, da ‘mae preta’, da “bs”, que “cerca o berco da crianga brasileira de uma atmosfera de bondade e ternura’? Nessa hora a gente é vista como figura boa e vira gente. Masai ele comecaa discutirsobrea diferenca entre escravo (coisa) € negro (gente) pra chegar, de novo, a uma conclusio pessimista sobre ambos. interessante constatar como, através da figura da “mie preta’, a verdade surge da equivocagao.” Exatamente essa figura para a qual se dé uma colher de chi é quem vai dar a rasteira na raga dominante. & através dela que 0 “obscuro objeto do desejo” (0 filme do Buftuel) acaba se transformando na “negra vontade de comer carne” na boca da mocada branca que fala portugués. O que a gente quer dizer € que ela no € esse exemplo extraordinario de amor ¢ dedicagao totais como querem os brancos e nem tampouco essa entreguista, €ssa traidora da raca como querem alguns negros muito apressados em seu. julgamento. Ela, simplesmente, é a mie. E isso mesmo, éa mae. Porque a branca, na verdade, &a a gente pergunta: quem é que amamenta, que dabanho, acuidar, que ensina outra. Se assim nao que limpa cocd, que pée pra dormir, que acorda de noite Pr a falar, que conta historia e por ai afora? Ea mae, nao € Pois entio. Ela éa mae nesse barato doido da cultura brasileira. Enquanto mucama, ¢2 mulher; en- Pasi, 7 88 7 prancaachamada egieima sos Jestamengy f ao sfillhos do senhor, Ny, © parega, $08eF ye pra parir 0 Ja negra. Por isso a “mae preta” ¢ Xetey amy, ae, quanto “ba,éam’ que. po! a fungao m: impossivel que tae eferuada Pe rerna. F . Z erna, agente t4 dizendo que amie em fungao mati que he diziam respeit pra crianea ry ; Pte, esse infans, € a dita cultura brasiy sileig itoa leita respeito a internalizacao de aja y quando gente fala gssou todos 08 valOre Essa crianga, erna diz de outras coisas mais que vao fy ma aoexervé la, P Prado Je «. Afungao mat aumasérie como diz Caro a éopretugue a lingua materna rio da gente Bla passa Pra gente uuagem. E gracas aela, ao que ela passa, a gente entra na orden, porque éela que de nde por que, hoje, pouco tarde, n Alorey lingu Parte aoensinod: esse mundo de coisas que 8 Bente ya: do imagin chamar de ling) ; opai. culeura, exatamente mnomeia o pai ninguém quer saber mais de baba p; Teta, 56 Poraiagenteente soqueéum .é7 Arasteira ja esta dada, vale portuguesa. Muita milonga pra uma mironga s6 86 uma palavra me devora Aguela que 0 meu cora¢io nio dia (Abel Silva) le um d. Avelar Brandao, arcebispo da Bahia, Quando se leem as declaragies d sileira é um modo de regressio, dé quea africanizacao da cultura bra dizendo afinal de contas, o que ta feito ta feito. E 0 bispo dancou pra desconfiar. Porque, ai, Acordou tarde porqu texto que impressionow a gente exatal latinidade brasileira afirmando que esse barato chamad ou seja, uma Améfrica Ladina. Pra q a mina de ouro que a bogalidade euro} ie o Brasil ja esta e € africanizado. M. D. Magno tem um mente porque ele discute isso. Duvida da lo Brasil nada maisé do que uma América Africana, ue saca de crioulo, o texto aponta pra um: ypeizante faz tudo pra esconder, pra tirar de cena. E justamente por isso tamos ai, usando de jogo de cintw entende , ler. Embora falando, a gente, como todo mundo, v4 numa scou sua assinal u sobrenom™ ulrura bras ra, pra cenarse de escritus cura, sua e com? ‘leit Por isso a gente vai tentar apontar praquele que ta: marca c , seu selo (aparentemente sem sé-lo), seu jamegao, S€ pai dessa “adolescente” neurd ‘adolescente” neurética que a gente conhece como ¢ soa isnud a eM Boast awcio 9 spaquamto se flac pal td se alana de fungdo simboea por exceléncia, ys rato popular ae “Hitbox le minha filha, meus never sa ith a ; sto; filhos do meu " wi do". HUNgAO paterna é igo at, (muito m in questo de assum ' fo de axsumir - Jeter certeza, Hla nto é ou Ka SeNHO a fungio de ausen 4 entificas que a gente pode di uma auséncia, Fro nome de uma auséneia, O nome dessa auséne que promove a cast agho, B poral, gragay a Hee gy pameemea yer que, domo o #ero, cla 86 CANACLETZA COMO A eserita de ' a, digamos, & fo nome que se atribut d castragto, Ho que é que falta para e auséncia nao ser ausente, para completar essa série? Um objeto que niio hi, que é retirado d que é retirado de 6 que OS mitos e as construgdes culturais etc saida vio erigir alguma coisa, alguma fiego para colocar nesse lugar; ou seja, qual & 0 nome do Pai e qual é 0 nome do lugar-tenente do Nome do Pai? Por um motivo importante, porque se eu souber qual é 0 nome do lugar-tenente do Nome do Pai, acharei esse um (S)) que talvez no seja outra coisa s no 0 nome do Nome do Pai & por isso que a gente falou em sobrenome, isto é, nesse S, que inau- gura a ordem significante de nossa cultura. Acompanhando as sacacies de Magno, a gente fecha com ele ao atribuir ao significante Negro o lugar de S,. Pra isso, basta que a gente pense nesse mito de origem elaborado pelo Ma- rio de Andrade que é 0 Macunaima. Como todo mundo sabe, Macunaima nasceu negro, “preto retinto ¢ filho do medo da noite”. Depois ele branqueia como muito crioulo que a gente conhece, que, se bobear, quer virar nérdico. E por ai que da pra gente entender a ideologia do branqueamento, a logica da dominacao que visa a dominacao da negrada mediante a internalizacao € a reproducao dos valores brancos ocidentais. Mas a gente nio pode esquecer que Macunaima é 0 heréi da nossa gente. E ninguém melhor do que um her6i para exercer a fungio paterna.* Isso sem falar nos outros, como Zumbi, * O barato do Magno é chamar Macui naima de Maquina-iman, o erdi sem H. Sacaram? * Que se atente para o fato da permanéncia de Zumbi no imagindrio popular nordestino como aquele que faz as criancas levadas se comportarem melhor. “Se vocé nio ficar quieto, Zumbi vem te pegs.” Por ai a gente lembra nao 6 0 temor que os senhores de engenho tinham em face de um ataque surpresa do grande general negro como também a fala das mies, que, teferindo-se ao pai que vai chegar, ameacam os filhos de Ihe contar (ao pai) as molecagens destes. Que se atente também para a forca simbdlica de Zumbi como significante que cutuca aconsciéncia negra do seu despertar. Nao é por acaso que 0 20 de novembro, dia da sua morte Pha pelé. Que se pense nesse outro herdi ch qd an, pau Grande. Eles esto ai com : 0 reper, ascido em reenact populares 40 herdi. Os herdis oficiais n3, vp, sio produto da jogica da dominaco, nao tap tem, . nada g nder uma série de falas contra o 5 40 ne, de nao assungao da propria casttagien’ ‘ x a, a0, ndo € ladrao? Ladrao de qué? ra}, Por da pra entel odos de ocultagao, ie preto corre que P . Vex de Por que sera que dizem que preto, quando nig “aga e sera que um dos instrumentos de to; mura que sio como dizem que sera que oréncia falica ana saida? Por qu ‘a da Baixada € cham: no anus dos presos)? Por que sera que tudo acuily de preto? Por que sera que ao ler 0 Aurélis olissemia marcada pelo pejorative uma onip na entrada, cag utilizados pela polici

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