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Transformando o planeta Pleistoceno foi um periodo de instabilidade climética com um impacto consideravel nos padres de distribuigo dos organismos sobre a face da Terra. Foi um periodo de extingBes, mas também uum periodo de evolugao, pois as novas espécies que estavam surgindo adquiriram a capacidade de competir nas condigdes de mudangas rapidas. Entre esses grupos em evolucao encontravam-se os rimatas, ¢ estes mamiferos estavam prestes a gerar uma espécie que teria um impacto muito maior na biogeografia da Terra do que o causado pela Era do Gelo. Esta espécie foi a nossa prépria, Homo sapiens. Nossa chegada ao planeta foi 0 arauto do inicio de uma transformagao global. © surgimento dos humanos bist6ria fossil dos humanos ainda é muito incompleta, mas cada ano que passa traz a Inz novos [materiais fosseis, que ajudam a preencher as lacunas e proporcionam um quadro mais detalhado sobre como surgiram anatomicamente os humanos modernos. Os primatas do Novo Mundo e do ‘Velho Mundo tornaram-se separados ha cerca de 40 milhdes de anos, sendo o ramo do Velho Mundo ‘© ancestral dos humanos. A separagio entre o ramo ancestral humano ¢ 0 dos grandes macacos aparentemente ocorreu por volta de 7 milhdes de anos atrds (Fig. 11-1) [I]. A principal fonte de evidéncia sobre esta estimativa é baseada na semelhanga genética entre humanos € chimpanzé quase 99% da genética humana s4o compartilhados com os chimpanzés, portanto suas divergéncias evolucionérias devem ser relativamente recentes em termos geol6gicos. Em 2002, Michel Brunet e seus colaboradores de pesquisa [2] descobriram seis exemplares de ossos fésseis (um cranio e partes inferiores da mandibula) que tinham semelhangas com hominideos ¢ foram classificados como uum novo género na linha evolutiva dos humanos. Foram denominados Sakelanthropus tchadenss. Até centio a maioria dos achados associados evolugao dos humanos primitivos tinha sido descoberta na Africa oriental, mas esse conjunto de fésseis veio do Chade, na regido o Sahel, ao sul do Deserto do Sara. A fauna féssil associada com o achado desses hominideos sugere uma data no Mioceno Posterior, entre 6 ¢ 7 milhdes de anos atrés. Assim, se a estimativa da genética para a separagio da linha evolutiva dos macacos for correta, 0 Sahelanthropus pode ser um dos primeiros organismos na linha de desenvolvimento dos humanos, em oposigio a linha dos grandes macacos. ‘Ainda existe controvérsia se houve apenas uma linha de desenvolvimento que surgiu do ancestral ‘comum com os chimpanzés ou se houve uma série desordenada de cruzamentos que culminou no desenvolvimento da linha dos humanos. Em qualquer um dos casos, a separagao da linha dos homi- nideos envolveu mais postura bipede, cérebro maior ¢ grande destreza manual. Enquanto a linha dos chimpanzés permaneceu no dossel inferior como um animal florestal, os ancestrais do homem. tomaram a diregio dos bosques e grasslanés. A descoberta dos fésseis do Sakelanthropus na regizo do Transformondo.o Poneto 783 Peietoceno Procene 16 Fig. 11.1 Esquema mostrando o possivelrelacianamento entre as inhasevalutvas das hemingdecse das grandes macaces. [A divergincia entre as duas acorreu em terno de 7 milhées de ance atris, De acerde com Carroll (1) Sahel sugere que 0 processo evolucionario do hominideo ocorreu em uma drea extensa € no de forma localizada na Africa Oriental. O cranio do Sakelanthropus é marcante pois tem as caracteristicas do chimpanzé quando visto por trés, mas na vista frontal € muito parecido com 0 Australopithecus, um género de hominideo que veio a ser muito importante cerca de 3 milhdes de anos depois. Sua descoberta forneceu grande sustentacdo para aqueles que preferem pensar na evolucao humana como linhagens de um tinico ramo porque apresenta exatamente a combinagao das caracteristicas ‘que se poderia esperar neste caso. Osrestos fosseis de Australopitecos que sucederam a0 Sakelanthrepus foram amplamente registrados ras regides oriental ¢ meridional da Africa, sendo que as descobertas mais antigas foram feitas na Tanzania e na Etidpia, com datagao aproximada de 4 milhoes de anos atras. Entre os fosseis desse eriodo existe 0 esqueleto parcial que ficou conhecido como “Lucy” e que forneceu grandes informa- ‘gBes anatémicas sobre os hominideos ancestrais. A esses f6sseis foi atribuida a denominago Austra- lopithecus afarensis, acredita-se que andavam eretos sobre as pernas posteriores _conclusio susten- tada pela extraordinaria descoberta de pegadas humanas fosseis em cinza vulcdnica na Tanzania [3]. O habitat em que esses organismos viviam era de savanas ¢ bosques abertos, longe das florestas tropicais densas, porém muito pouco se sabe, com preciso, a respeito dos seus modos de vida e dos nichos ecolégicos que ocupavam no ecossistema. Andando sobre duas pernas, é provavel que usassem. ferramentas com as mios livres, de modo muito parecido com o que os chimpanzés conseguem fazer, mas nao hé evidéncias de que fossem capazes de realizar grandes modificagdes nas ferramentas natu- 284 Copitulo Onze A dieta dos oustrolopitecos rais, De fato, andlises da estrutura 6ssea de Lucy € outros fésseis de A. aferensisindicam que eles nao possuiam a estrutura da mao apropriada para a confeccao de ferramentas [4]. Eles provavelmente se contentavam em utilizar os bastées e as pedras que encontravam. Independentemente do papel ecolégico que exerciam no ecossistema, devemos considerar esses hominsdeos primitivos mais uma espécie na complexa cadcia alimentar do ecossistema que ocupavam. Nao ha motivos para acreditar que tivessem mais influéncia do que qualquer outra espécie. Por volta de 2,5 milhdes de anos atras, ocorreram desenvolvimentos evolutivos na linha dos homi- nnideos e havia pelo menos trés espécies presentes na Affica Oriental (Fig. 11.2): duaseram espécies de Australopithecus, mas.a terceira era origindtia do nosso préprio género e foi denominada Homo habils. Essa espécie tinha o cérebro maior do que o de seus parentes ¢ ha evidéncias de que eram capazes de transformar ferramentas de pedra [6], demonstrando uma mudanga cultural que persistiria com conseqiiéncias marcantes ao longo da linha de desenvolvimento do Homo, De modo surpreendente, no milhao de anos seguinte nao ocorreu qualquer mudanga tecnolégica real em seqiéncia & cultura de confeccionar ferramentas. Apesar de o conhecimento da dieta ¢ do papel ecologico do Hf. habilis ainda ser fragmentado, acredita-se que houve um aumento na dieta de carnes. Em algum momento antes de | milhao de anos atrés surgiu em cena um novo hominideo, o H. ‘rectus, ¢ hd muitas razdes para crer que essa niova espécie foi produto direto da evolugao do H. habilis. Existem dois aspectos do H. erecus que sao significativos do ponto de vista biogeografico: primeiro, seus desenvolvimentos culturais e, segundo, suas mudangas de distribuigo. No aspecto cultural foram encontradas ferramentas de pedra muito mais sofisticadas, inclusive pegas que podem ser conside- radas machados, mas o que marcou significativamente 0 aspecto evolutivo do H. erectus foram as evidencias de que algumas populagdes usavam o fogo. Obviamente, esse ‘iltimo desenvolvimento dotou a espécie com a capacidade de modificar culturalmente seu ambiente da forma mais profunda {j8 ocorrida até entio. Embora o fogo fosse usado como um meio para preparacio de alimentos, seu Transformando o Ploneto 285 ‘Mines de anos 8° s ‘ausilepinecs ramious Arcestalcomum de hominidees chimoanzés Fig. 11.2 Esquema mais detalhade mostrando o passive inter-relacionamente de hominideos nes ‘ltimes 5 milhes de anes. A diverificagao des haminidess nas itimos 2 milhies de anos é evidence. Baseade ne esquema de Bernard Wood [7] auxilio potencial na caga certamente deve ter sido muito apreciado por esta espécie inteligente, © as conseqiiéncias devem ter sido sentidas no que diz respeito as novas restrigdes impostas a flora e 4 fauna das vizinhangas. A distribuigdo da espécie também causa interesse, pois esta foi a primeira do nosso género a ser encontrada fora da Africa, tendo se dispersado, por volta de | milhao de anos atrés, em direso a Asia Oriental, Java e sul da Europa, Algumas escavagées em Java indicam que -H. enctus pode ter sobrevivido no Sudeste Asistico até a dima Era do Gelo (50.000 anos atris , nese caso, teria ocorrido uma superposigao com a nossa propria espécie na area [8] ‘A tinica percepsio do modo de vida desses ancestrais da nossa espécie foi proporcionada pela descoberta de uma langa de caga enterrada em depositos de turfa comprimida no norte da Alemanha [9]. Foram datados em 400,000 anos atrés, muito antes de qualquer conhecimento fossil de um remanescente de H. sapiens Essa descoberta sugere que os ancestrais da humanidade moderna, que ocuparam as regides ao norte da Europa, eram grandes cagadores. Sustenta 0 argumento de que a caga ¢ a matanga de animais com o emprego de ferramentas pode vir da era mais longinqua dos ancestrais humanos Nossa propria espécic, H. sopias (0 “homem sébio”), é uma aparisZo muito recente no planeta Muitos fragmentos fosseis de ossos que foram atribuidos & nossa espécie foram encontrados e datados entre 260,000 e 130,000 anos atrés [10]. Infelizmente, é smpossivel estabelecer uma data precisa, paras nossas origens, que a maioria dessesfragmentos nao foi datada adequadamente. Talvez as melhores datas venham de fosseis etfopes que foram definitivamente atribuidos ao H. sapiens ¢ que abrangem a faixa entre 160.000 e 154.000 anos atris (J. Com base na extensio dos fosseis espa- Thados, esses remanescentes sustentam a crescente evidéncia de que a nossa espécie surgis primeiro na Affica. Fora deste continente, as datas mais antigas vém de Israel, com 115.000 anos. Assim, aparentemente a populaso de humanos da Africa comegou a e expandir e dispersar-se para outras partes do mundo aproximadamente naquela época. 286 Copitulo Onze ‘Um problema que ainda nao foi totalmente resolvido é como estamos relacionados com uma segunda espécie de hominideos, o Homem de Neandertal (H. neanderthalesis), que também existiu naquela época. Indubitavelmente compartilhamos um ancestral, mas a questo é: quo recentemente? Foram descritos restos fosseis encontradios na Espanha [12] que podem ser interpretados como de um. ancestral comum, mas que nao se coaduna bem com as evidéncias das origens africanas das principais linhagens de hominideos. Evidéncias genéticas em DNA preservado de fésscis de Neandertal (13] (veja 0 Capitulo 13 para mais informagSes sobre esta técnica) indicam que essa espécie divergiu da nossa mais de 500,000 anos atras, e € possivel que os neandertalenses tenham tido origem em uma linhagem diferente de hominideos, talvez surgida a partir de outras formas originadas do HE. ectus, tais como 0 H. heidelbergensis ou 0 H. rhodesinsis [10]. Seja qual for a origem do Homem de Nean- dertal, éevidente que os dois tipos de humanos coexistiram durante a sltima glaciago, mas apenas uum se desenvolveu, o representante da nossa prépria espécie, Continua incerto se essa substituigo ‘envolveu a destruigao deliberada dos neandertalenses ou se foi conseqiiéncia de crazamentos, mas 0 fato € que no inicio do Holoceno, por volta de 10.000 anos atrs, havia apenas o H. sapiens. Mesmo antes do inicio da iltima glaciago, humanos estavam se dispersando para fora da Aftica, para o Levantet, ¢ também penetrando mais ao sul no continente afticano (Fig. 11.3). Em meados da glaciacdo, nossos ancestrais alcangaram o interior do continente asiatico, o norte do Mar Caspio ‘etambém se dispersaram através do Planalto do Tibet para o Sudeste Asiético. A Austria foi habi- tada por volta de 30.000 anos atras e a chegada dos humanos aos extremos da Europa ¢ da Asi Oriental ocorreu quando a glaciacdo estava no seu auge, por volta de 20.000 anos atrés. O povoa- mento das Américas comegou a partir da Asia Oriental. ‘Quando a iltima glaciagao estava no auge, um grande volume das 4guas mundiais encontrava-se aprisionado em geleiras ¢ nas calotas polares que se expandiram (veja Capitulo 10), 0 que significa que o nivel do mar dos oceanos da Terra estava consideravelmente mais baixo, talvez em cerca de 100m (325 pés). Regides que hoje se encontram submersas encontravam-se expostas como massas de terra, ¢ uma area substancial do Estreito de Bering, entre o que hoje € Sibéria e 0 Alasca, formou uma ponte terrestre conectando os dois continentes. Esta é a rota mais provavel para a colonizagao da América do Norte. Material fossil vegetal, datando de cerca de 24.000 anos atras, no periodo Fig. 11.9 Mapa apresentande a: provéveis retas de dispersio do Home sap a partir da Attica, nos éltimes 100,000 “Oriente, wa dire de sol nascent. Regito de Meditereineo Oriental Tusqui, Siiae Bite) da Aa Mena. (NT) Transformondo.o Poneto 287 de expansio maxima do glacial, foi encontrado em Yacon e tem revelado muito sobre a natureza do ambiente nessa ponte de terra. Gramineas ¢ artemisia-da-pradaria (Ariemisa frigida) eram abun- dantes [14], portanto a vegetagio de tundra da estepe deve ter sustentado hordas de grandes herbi- -voros, incluindo os peludos mamutes, cavalos e bisbes. Os povos cagadores da Asia Oriental prova- vvelmente seguiram estas manadas em direcio ao Novo Mundo. A data exata da chegada ainda é controversa, porém evidéncias indiretas a partir da geografia das linguagens humanas sugerem que a invasio deve ter ocorrido antes do avanco principal da ikima glaciagao, cerca de 20.000 anos atrés, A pesquisa lingiistica de R. A. Rogers [15] revelou trés grupos distintos de linguagens nativas americanas centradas nas trés areas da América do Norte com refigios livres do gelo durante 0 auge da jiltima glaciagao (Fig. 11.4). Aparentemente as populagdes humanas foram isoladas nessas trés areas durante o maximo glacial e posteriormente se dispersaram para outras regides. A lingua extinta de Beothuk, que jé foi usada na Terra Nova, pode ser origindria de uma outra populagao isolada naquele refigio oriental ‘Uma outra explicagao consiste em trés invasbes separadas da América do Norte em relagao a Asia, que remetem aos trés grupos lingiisticos [16]. Um complicador para todas as teorias de povo- amento das Américas é a existéncia de ocupagées humanas ancestrais no sul do Chile, muito longe de Bering, o suposto ponto de entrada [17]. Esse assentamento no Monte Verde data de cerca de 12.500 anos atras, e assim é possivel que uma onda anterior de povos imigrantes da Asia Oriental tenha feito seu caminho até a parte mais meridional da América do Sul. Informagdes baseadas no estudo de cranios ancestrais nas Américas também esto levando a novas idéias a respeito do povoamento do continente. Fésseis de crénios humanos com idade superior a 10.000 anos sao muito raros, tanto na América do Norte quanto na do Sul, mas uma colegao de 33, 100" 20 60" = Low etigads cota hovcete o ba oo Ny cts bo oP sesera: Til ses congas tp0%m ae ie oo Fig. 11.4 Extensie méxima do shkime glacial (Wisconsin) na América de Norte mostrando as tcésdceas livres de gelo (efigias) que corcespondem aos ts grupos lingisties de natives americanos. Segundo Rogers el. [15]. 288 Copitulo Onze cranios que foi encontrada na Baixa California, América Central, tornou a histéria mais complexa [18]. A estrutura desses cranios é mais semelhante das populacdes sul-asiaticas do que as do nordeste. Tal fato suscita uma série totalmente nova de perguntas respeito dos modos de migragao, da quantidade de episodios de invasao € do grau de isolamento entre os primeiros assentamentos humanos nas Américas. A invasio a partir de Bering, no final da iltima glaciagio, aparentemente é a responsivel pela maior parte da entrada humana, mas também podem ter ocorrido outras levas que sobreviveram como grupos separados, como no caso dos assentamentos na Baixa California, que devem ter ficado isolados devido a aridez das regides vizinhas. Humanos modernos e a extinséo da megafauna dispersio da espécie humana durante a iltima glaciac3o foi acompanhada por uma alteracao Ina fauna da América do Norte ¢ da Europa, a saber a extingao de varias espécies de grandes mamiferos — a megafauna. Ha muito tempo foi assumido que essas extingdes foram resultantes das ‘mudangas climaticas, mas o antropélogo norte-americano Paul Martin sugeriu [19] que os humanos podem ter sido os culpados. Martin assinalou que a maioria dos animais que se tornaram extintos cram grandes mamiferos herbivoros ou aves que no voavam, que pesavam mais de 50 kg(1 10 libras) exatamente a parte da fauna que os humanos estariam fadados a cagar. Também assinalou que extingdes similares ocorreram em outras areas, mais ao sul do que a América do Norte, e sugeriu que o periodo dessas extingées variava, e que em cada caso 0 momento correspondia a evoluga0 ou chegada da raga humana com suas técnicas relativamente avangadas de caga. Na Africa, por exemplo, onde os humanos provavelmente evoluiram, a extingao de muitos grandes herbivoros aparentemente ocorreu antes daquela no Hemisfério Norte. No entanto, ¢ dificil datar esses episodios com preciso, € muito mais dificil ainda correlacioné-los a qualquer mudanga cultural dos hominideos naquele continente. Isto também é verdadeiro para as extingdes que ocorreram na América do Sul Os registros das extingdes foram estudados com maior detalhamento na América do Norte. Martin sugeriu que $5 géneros de grandes mamiferos (55 espécies) se tornaram extintos na América do Norte no final da iltima glaciacio (Wisconsin) — mais do dobro das extingdes que ocorreram na gslaciagao anterior, ¢ isto num momento em que o clima estava melhorando, Isto certamente parece sustentar a idéia de que algum agente diferente do clima tenha sido o responsdvel, e também parece ser razodvel suspeitar das atividades de caga dos humanos. Entretanto, o antropélogo norte-ameri- cano J. E. Grayson [20] mostrou haver um aumento similar no nivel de extingdes entre as aves da ‘América do Norte (variando de melros a aguias) nesse mesmo periodo, Por ser improvavel que os umanos ancestrais tenham sido os responsiveis pelas extingdes dessas aves, esta observacio langou diividas sobre a hipétese do papel de dominacio exercido pelos humanos nas extingdes em geral durante o Pleistoceno. Por outro lado, o fato de tantas espécies da América do Norte terem sido extintas ao mesmo tempo, (11.500 a 10.500 anos atrds) em que ocorreu a chegada de povos cagadores, enquanto na Europa as extingdes foram disseminadas por um periodo mais longo, proporciona um forte conjunto de evidéncias circunstanciais para sustentar os clamores de Paul Martin dos quais os humanos devem se envergonhar [21]. © debate continua, ¢ a extingao de tantas espécies diferentes de mamfferos pode nao ter sido causada por um fator isolado, mas existe um aumento crescente na quantidade de estudos em que o periodo das extingdes pode ser precisamente correlacionado com a chegada ou com a intensificagao dos assentamentos das populagées humanas. Um exemplo é dado na Fig. 11.5, que mostra as datas dos tltimos registros de esterco da preguica gigante de Shasta* em varios, sitios americanos [22]. Aparentemente a extingao ocorreu em varios locais | 1.000 anos atrés, coin- cidindo com um periodo em que as culturas de caca — 0 Homem de Clovis — eram muito ativas na regiao. Fica dificil negara conclusio de que as marcas da atividade humana tornaramese preco- Neots hase. (NT) Transformondo.o Poneto 789 1380012500 1750019500 9809 W500 7500 ‘nos por adecarboro BP Fig. 11-5 Datagies per radiocarbone de amosrat dos iltimesregistres de enterco da preguigagigante de Shasta, ne sude- ‘este des Estadas Unidas. A seta indica « momento em que as cagadares de Clavis encantravam-se em maior atvidade na regido. A maioria das ecorréacias diminuiu lego apés a chegada desse povo. Segundo Lewin [27 cemente perceptiveis no atual interglacial. Também fica claro que o impacto inicial das culturas ‘humanas foi essencialmente negativo em relagio & biodiversidade. ‘Talvez.o impacto negativo tenha sido muito maior do que a realidade da extin¢ao da megafauna na medida em que alguns desses grandes herbivoros devem ter atuado como espécies-chave (veja tépico ‘Ecossistemas e biodiversi- dade’ no Capitulo 5) com muitas outras espécies dependendo deles. Grandes alteracoes de habitats devem ter acompanhado a perda da megafauna e muitas espécies menores de animais, plantas € micrébios devem ter seguido para a extingao sem mais alarde. Ceara i ed 290 Copitulo Onze Domesticasio e agricultura Browne essas extingdes estavam ocorrendo em varias partes do mundo as populacdes humanas .que viviam no sudoeste da Asia experimentavam uma nova técnica para melhorar seus suprimentos alimentares. Na regiao fértil da Palestina e da Siria crescia algumas gramineas anuais de sementes ‘comestiveis 08 ancestrais dos nossos trigo ¢ cevada. Como muitas outras plantas, essas espécies estavam avangando para o norte com a melhora do clima e mostraram-se particularmente adaptadas para explorar as areas devastadas, de bosques em desenvolvimento, por grupos humanos para seus ‘campos ¢ assentamentos. Sem diivida os habitantes desses assentamentos logo descobriram o valor nutricional dessas sementes, aprenderam a propagé-las e finalmente cultivé-las. Rastrear a ancestralidade de nossas espécies modernas de cereais ¢ dificil, mas a Fig. 11.6 repre- senta um esquema possivel para a evolugie do trigo moderno, bascado em um estudo sobre omimero de cromossomos em varias espécies nativas ¢ cultivadas, Indubitavelmente, o trigo selvagem original possuia um total de 14 cromossomos (sete pares) em cada céhula. O Triticum monococcum (nkorn) foi 0 primeiro trigo selvagem a ser utilizado extensamente como planta cultivavel. Provavelmente houve hibridacdo com outras espécies selvagens, mas os hibridos se mostraram inférteis, pois os cromos- somos nao podiam parear para a formagio dos gametas. Entretanto, a falha na divisio celular em um desses hibridos pode ter solucionado este problema, pois uma vez que o nimero de cromossomos T. spotoides (14) turin 28) (ommen | 7. timopreevi (28) \ 1. aestivum (42) ‘to depo) T. monoceccum (14) (ainkor). Fig. 11.6 A evolucio de modemo wige de pie. Esta é uma representa hipotétca, mas que representa os praviveis ‘cruzamentos entre eepécies de trge slvagens que levaram as primeiras formas demésticas do génere Tritcum © aes poste- ice com expéciesselvagens, com a duplicagie des cremotsomes, que acarretaram decremossemos. flores cruzamentes de trigo domé trige de plo, @s niimeros entre parénteses, apés ex nemes,indicam a quantida Transformondo o Planeta dobrou (poliploidia) o pareamento poderia acontecer e a espécies se tornariam férteis. Espécies poli- ploides hibridas e férteis formadas dessa maneira incluiram uma outra importante espécie cultivavel, ‘a emmer (T. turgidu), com 28 cromossomos. Ja 0 trigo de pao do periodo moderno (T aesticwn) possui 42 cromossomos e provavelmente surgiu como resultado de poliploidia conseqiiente da hibridagao da ‘emmer com alguma outra espécie selvagem, T.tauschi. Esta espécie é originaria do Ira e provavelmente cruzou com a enmerem conseqiiéncia do transporte daquela espécie de trigo para essa area através da migracao de populagdes humanas, Assim, povos agricolas ancestrais comecaram nao apenas a modificar seus ambientes, mas também a manipular a genética das suas espécies domésticas. Pesquisas mais sofisticadas utilizaram nao apenas a quantidade de cromossomos, mas identif- cacao por DNA de sementes de trigo. Manfred Heum, da Universidade Agricola da Noruega, ¢ seus colaboradores [26] analisaram 338 amostras da espécie de trigo mais primitiva, einkorn, que ainda cresce selvagem no Oriente Préximo, Seu objetivo era determinar a localizacao precisa da primeira ocorréncia de domesticagao do trigo. Eles adotaram duas premissas importantes como base para seu desde que ocorreu a domesticagao; e, segunda, que eles poderiam determinar a proximidade nas relagbes trabalho: primeira, que a constituigio do DNA das espécies nao se alterou substancialm entre as populagies de plantas de acordo com suas segdes especificas na seqiiéncia de DNA. Eles conseguiram localizar populagées de einkorn selvagem em uma regio das Montanhas Karacadag, no sudeste da Turquia e préximo ao Rio Eufrates, que proporcionaram evidncias genéticas de serem os ancestrais do einkorn domesticado. Sem sombra de diivida, a aplicagao de técnicas moleculares no estudo da domesticagao e da origem biogeografica de muitas plantas ¢ animais se tornard cada vez ‘mais importante na solugio de questoes cruciais, algumas ha muito nao respondidas Outras plantas selvagens do Oriente Médio também cresciam ¢ eram cultivadas por humanos (Fig, 11.7), entre as quais a cevada, o centeio, a aveia, o linho, a alfafa, a ameixa € a cenoura [27]. Maisa este, na bacia do Mediterrdneo, outras plantas selvagens foram também domesticadas, incluindoa ervilha, a lentilha, o feijao e a beterraba. Uma anilise de todos os dados acumulados nas investiga- Bes arqueolégicas da Europa mostra como essas plantas cultivaveis comegaram a ser gradualmente usadas de modo extensivo através do continente ¢ como novas espécies foram adotadas em regides ee trons tevin © Feito poco Aeoue EB rocen owes Wine coe os pom ae te om Aree ove a R moe Guam 6 a e foes aise “ee ~ ™ : Seam Ora 4 ont ok es ona wico o. 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