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Revista Brasileira de Geociências Luciana Andrade Reis et al.

32(1):27-42, março de 2002

A BACIA DE ANTEPAÍS PALEOPROTEROZÓICA SABARÁ, QUADRILÁTERO


FERRÍFERO, MINAS GERAIS

LUCIANA ANDRADE REIS1, MARCELO A. MARTINS-NETO1,2, NEWTON SOUZA GOMES2, ISSAMU ENDO2
& HANNA JORDT-EVANGELISTA2

ABSTRACT THE PALEOPROTEROZOIC SABARÁ FORELAND BASIN, IRON QUADRANGLE, MINAS GERAIS, BRASIL The Sabará
Group is a 3 - 3.5 km thick sequence composed of schists, meta-sandstones, meta-siltites, meta-conglomerates, meta-diamictites, meta-rhythmites and
phyllites, whose protoliths are greywackes, sandstones, siltites, conglomerates, diamictites, rhythmites and pelites. The rocks of the Sabará Group
record a significant change of depositional setting and sediment source comparing with the rest of the Minas Supergroup. The Sabará Group occurs
suitable for sedimentological-stratigraphical analysis in the Dom Bosco syncline, Moeda syncline and in the Serra do Curral. The Sabará Group was
divided into the following ten facies, which occur in the field arranged in coarsening-upward (CU) successions: massive conglomerate (debris flow),
coarse diamictite (debris flow), fine diamictite (debris flow), mixed greywacke (mass flow), arkosic greywacke (mass flow), tabular sandstone
(turbidity currents), rhythmite (turbidity currents), siltite (low-density turbidity current), pelite (deposition of suspension) and black shale (deposition
of suspension). These facies deposited in a talus fans/submarine fans/basin system tract. The Sabará Group represents foreland basin deposits related
to the Transamazonian Orogeny. The clast suite of the diamictites and conglomerates points to erosion and reworking of supracrustal sequences (Minas
Supergroup and Rio das Velhas Supergroup) and uplifted basement. The Sabará Group provenance plots show mixed source areas, predominating
intermediate igneous and quartzose sedimentary provenance, although felsic and mafic igneous also contributed. These data indicate a
compartmentalized, complex source area. The tectonic setting plots indicate a provenance from active continental margin/continental magmatic arc.
The Sabará Group represents probably a Transamazonian compartmentalized foreland basin development during deformation uplift and erosion of
Archean and Paleoproterozoic deposits of the Mineiro Belt. The Sabará basin, based on the location of its deposits and petrofacies, can be divided into
three sub-basins: Antônio Pereira-Ouro Preto-Mariana-Rodrigo Silva, Lagoa das Codornas and Sabará-Belo Horizonte-Ibirité-Fernão Dias sub-basins.

Keywords: Basin analysis, depositional model, Sabará Group, Paleoproterozoic, Iron Quadrangle.

RESUMO Grupo Sabará é uma seqüência de 3 – 3,5 km de espessura, composta por xistos, metarenitos, metassiltitos, metaconglomerados,
metadiamictitos, metarritmitos e filitos, cujos protólitos são grauvacas, arenitos, siltitos, conglomerados, diamictitos, ritmitos e pelitos. Este grupo
ocorre de forma susceptível a uma análise sedimentológico-estratigráfica no Sinclinal Dom Bosco, Sinclinal Moeda e na Serra do Curral. O Grupo
Sabará foi dividido, neste trabalho, nas seguintes fácies, que ocorrem organizadas em sucessões em granocrescência ascendente (CU): conglomera-
do maciço (fluxo de detritos), diamictito grosso (fluxo de detritos), diamictito fino (fluxo de detritos), grauvaca mista (fluxo de massa), grauvaca
arcosiana (fluxo de massa), arenito tabular (correntes de turbidez), ritmito (correntes de turbidez), siltito (estágios finais de correntes de turbidez), pelito
(deposição da suspensão) e folhelho negro (deposição da suspensão), depositados em um sistema de leques proximais/leques submarinos/bacia. O
Grupo Sabará representa os depósitos de uma bacia do tipo antepaís relacionada com o Evento Transamazônico. Os clastos presentes nos diamictitos
e conglomerados indicam retrabalhamento de seqüências supracrustais e do embasamento (Supergrupo Minas, Supergrupo Rio das Velhas e o
embasamento soerguido). Os diagramas de proveniência plotados para o Grupo Sabará apontam para uma mistura de áreas fontes, predominando a
proveniência ígnea intermediária e sedimentar quartzosa, embora proveniências ígnea félsica e ígnea máfica também ocorram, indicando
compartimentação da área fonte. Os diagramas de proveniência por ambiente tectônico indicam uma proveniência de margem continental ativa/arco
magmático continental. O Grupo Sabará representa provavelmente uma bacia de antepaís compartimentada, formada durante a deformação,
soerguimento e erosão dos depósitos arqueanos e paleoproterozóicos do Cinturão Mineiro, de idade transamazônica. Esta bacia foi dividida em três
sub-bacias: Sub-bacia Antônio Pereira-Ouro Preto-Mariana-Rodrigo Silva, Sub-bacia Lagoa das Codornas e Sub-bacia Sabará-Belo Horizonte-Ibirité-
Fernão Dias com base na localização geográfica dos depósitos do Grupo Sabará em relação ao embasamento e supracrustais do Quadrilátero Ferrífero
e nas suas petrofácies.

Palavras-chave: Análise de bacias, modelo deposicional, Grupo Sabará, Paleoproterozóico, Quadrilátero Ferrífero

INTRODUÇÃO O Grupo Sabará (Renger et al. 1994, ou (Renger et al. 1994 - “fácies sin-orogênica do Evento
Formação Sabará de Gair 1958, Dorr II 1969) é uma seqüên- Transamazônico”).
cia e de 3 - 3 5 km de espessura composta por xistos, filitos, As hipóteses mais recentes indicam para o Grupo Sabará
metarenitos, metavulcanoclásticas, metaconglomerados e uma deposição em uma bacia do tipo de antepaís relacionada
metadiamictitos (Dorr II 1969, Barbosa 1979, Renger et al. ao Evento Transamazônico, cuja sucessão seria do tipo flysch
1994, Alkmim & Marshak 1998). Não existem na literatura (Barbosa 1968, Dorr II 1969, Renger et al. 1994, Noce 1995,
modelos deposicionais sistematicamente construídos para esta Alkmim & Marshak 1998).
unidade, apenas hipóteses de trabalho, erigidas na sua maioria O presente trabalho, em caráter inédito, tem como objetivo
através de mapeamentos geológicos (Dorr II 1969 - “eugeos- a caracterização da evolução sedimentar do Grupo Sabará, vi-
sinclinal do Geossinclinal Minas”), estudos de integração de sando a apresentação de um modelo deposicional para este
dados tectônicos (Alkmim & Marshak 1998 - “bacia de grupo, bem como checar a hipótese de deposição em bacia de
antepaís da Orogênese Transamazônica”) e/ou geocronológicos antepaís. O estudo teve um caráter multidisciplinar, integrando

1 NUPETRO – Núcleo de Geologia do Petróleo - Fundação Gorceix, Ouro Preto/MG


2 Departamento de Geologia Escola de Minas Universidade Federal de Ouro Preto - Caixa Postal 173 - 35400-000 - Ouro Preto/MG,
lucianaandradereis@hotmail.com - neto@degeo.ufop.br

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A bacia de antepaís paleoproterozóica Sabará, Quadrilátero Ferrífero, Minas Gerais

dados petrográficos/petrológicos, litoquímicos, de fácies Faixa Araçuaí, de idade brasiliana. São reconhecidas na região,
sedimentares, estratigráficos e tectônicos. além de complexos granítico-gnáissicos (Noce 1995), uma su-
A área estudada encontra-se dividida em três setores: Setor cessão tipo greenstone belt de idade arqueana (Supergrupo Rio
I (Antônio Pereira, Mariana, Ouro Preto e Rodrigo Silva), Se- das Velhas) (Carneiro et al. 1998), além de supracrustais do
tor II (Lagoa das Codornas) e Setor III (Sabará, Belo Horizon- Paleoproterozóico (Supergrupo Minas e Grupo Itacolomi)
te, Ibirité e Rodovia Fernão Dias), definidas de acordo com a (Dorr II 1969, Machado et al. 1996, Alkmim & Marshak
distribuição dos afloramentos do Grupo Sabará (Fig. 1). O alto 1998) (Fig. 2).
grau de alteração das rochas e a escassez de afloramentos limi- O Supergrupo Minas é uma sequência metassedimentar de
taram a área de estudo. idade paleoproterozóica (Babinski et al. 1991), interpretado
como uma bacia intracratônica (Chemale et al. 1994) ou como
Contexto Regional O Quadrilátero Ferrífero ocupa uma uma sequência supracrustal de plataforma com substrato
área de aproximadamente 7.190 km2 na porção central do Es- siálico (Marshak & Alkmim 1989). As rochas do Supergrupo
tado de Minas Gerais, encontrando-se parcialmente inserido no Minas foram sujeitas ao metamorfismo da fácies xisto verde
extremo sudeste do cráton do São Francisco e parcialmente na atingindo a fácies anfibolito nas porções leste, sudeste e nor-

Sabará
Belo Horizonte

SETOR III Serra do Curral

Sinclinal
Ibirité Gandarela

Igarapé Sinclinal Moeda

SETOR II
La g oa d as
C o d orn a s

Sinclinal
Complexo Santa Rita
do Bação
Mariana
Rodrigo Silva Ouro Preto
S eto r I
SETOR I

Sinclinal Dom Bosco

0 13 26km

LEG ENDA
G ru po Itacolom i C ida des
G ru po S a bará E strada S ão P a ulo -
B elo H orizon te
S up erg rup o M ina s
E strada d e F erro C entral
S up erg rup o R io das Velhas do B ra sil
E m b asam e nto Lo ca lização a proxim ada d as
coluna s e stratigráfica/
S eto re s E stu dado s sedim e ntológicas levantadas

Figura 1 - Mapa de localização das áreas estudadas (setores) dentro do Quadrilátero Ferrífero, indicando localidades citadas
no texto.

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Luciana Andrade Reis et al.

detríticos do sobreposto Grupo Itacolomi dão uma idade de


1,75 G a
G rupo 2059 ± 58 Ma (Machado et al. 1996).
Ita co lom i

2,12 G a
PETROGRAFIA E PETROLOGIA O Grupo Sabará é
G rupo
constituído pelos seguintes litotipos: metaconglomerados,

P a le o prote ro z óic o
S a bará metadiamictitos, metarenitos, xistos, metaritmitos e filitos. A
Tabela 1 mostra uma síntese relacionando litotipo metamórfico
S u p e rg ru p o M in as

e protólito sedimentar.
Fm . Barreiro
Fm . Taboões
G rupo Fm . F êcho do Fun il FÁCIES SEDIMENTARES O Grupo Sabará é constituído
P irac ica ba
Fm . Cercadinh o pelas seguintes fácies sedimentares (Tabela 2),definidas através
de um levantamento sedimentológico sistemático: conglomera-
G rupo Fm . Gandarela
Ita bira Fm . Cauê
2,4 G a do maciço (Gm), diamictito grosso (Dg), diamictito fino (Df),
Fm . Bata tal
grauvaca mista (Wm), grauvaca arcosiana (Wa), arenito tabu-
G rupo lar (A), ritmito (R), siltito (S), pelito (P) e folhelho negro (Fn)
C ara ça Fm. M oeda
Gr. Tama nduá
(Figs. 3, 4, 5).

G r. M aq uiné RELAÇÃO VERTICAL DAS FÁCIES As fácies do Gru-


po Sabará estão arranjadas em sucessões de aproximadamen-
A rq u e a n o
G r. N ov a Lim a te 760 m de espessura em granocrescência ascendente (CU -
coarsenig-upward). Várias sucessões em CU de aproximada-
S u perg rupo
R io das Velha s mente 8 a 280 m, hierarquicamente inferiores, ocorrem dentro
das sucessões maiores (Figs. 6, 7, 8, 9, 10, 11). Estes interva-
G r. N ov a Lim a los correspondem a intervalos tectono-deposicionais, que são
2,61-2,78 1 G a
definidos como intervalos estratigráficos com fácies genetica-
E m b as am ento 2,9-3,21 Ga
mente relacionadas, depositadas durante um período tectônico
distinto dentro de uma fase tectônica da bacia (Da Silva 1993).
Cada intervalo tectono-deposicional representa um evento
M e ta c o n glo m e rad o s F o rm açõ e s F e rrífe ra s progradacional com seqüências em CU. As porções finas basais
M e ta d ia m ic tito s M e ta re n ito s representam taxas de geração de espaço de acomodação maio-
B a s a lto s , k o m atiito s res que de suprimento sedimentar, enquanto os topos mais
M e ta p e lito s grossos indicam que o suprimento sedimentar suplantou a ge-
M e ta v u lcâ n ica s G ran itó ide s ração de espaço com o tempo.
G na is se s, m ig m atito s D iq u e s m á fic o s Os intervalos tectono-deposicionais, presentes na região de
Ouro Preto (Setor I, Figs. 6, 7), iniciam-se normalmente com
C a rb o n a tos grauvacas mistas e, localmente, com grauvacas arcoseanas,
embora alguns intervalos tectono-deposicionais comecem com
ritmitos, pelitos ou folhelho negro (Fig. 6). À medida que as
Figura 2 - Coluna estratigráfica do Quadrilátero Ferrífero condições proximais avançavam, estas fácies gradaram para
conforme Alkmim & Marshak (1998). fácies mais grossas, tais como diamictitos finos e grossos. Os
intervalos tectono-deposicionais que iniciam com ritmitos,
pelitos ou folhelho negro gradam para grauvacas e/ou arenitos
deste do Quadrilátero Ferrífero (Herz 1970). Esta unidade está antes de atingir as fácies mais grossas (Fig. 6). Localmente,
em contato tectônico com o Supergrupo Rio das Velhas e os tem-se a passagem de pelitos para diamictitos finos, sem a de-
complexos granito-gnáissicos (Machado et al. 1996). Estrati- posição das fácies intermediárias (grauvacas ou arenitos). Al-
graficamente, o Supergrupo Minas é composto pelos grupos guns intervalos tectono-deposicionais evoluem de forma dife-
Tamanduá, Caraça, Itabira, Piracicaba e Sabará (Dorr II 1969, rente, ou seja, iniciam com grauvacas, gradam para pelitos,
Alkmim 1987, Rodrigues et al. 1993). O Grupo Sabará (Bar- novamente gradam para grauvacas e, posteriormente, para
bosa 1968, Renger et al. 1994), antiga Formação Sabará de diamictitos.
Gair (1958), é a unidade superior do Supergrupo Minas, con- Na Lagoa das Codornas (Setor II, Fig. 8), o intervalo
sistindo de um espesso pacote de 3 - 3,5 km de espessura com- tectono-deposicional inicia-se com grauvacas que gradam para
posto por rochas clásticas localmente intercaladas com sedi- siltitos, pelitos, novamente siltitos, e posteriormente gradam
mentos químicos e rochas vulcânicas. para diamictitos grossos. Neste intervalo, observa-se a deposi-
Segundo Machado & Noce (1993), a idade da deposição do ção de um pacote pelítico entre os pacotes de diamictitos, re-
Grupo Sabará pode ser balizada pelo Evento Transamazônico, presentando provavelmente uma queda no suprimento
no intervalo de 2125 e 2045 Ma, com duração de cerca de 80 sedimentar para a bacia ou um pequeno pulso de subsidência.
m.a.. A idade máxima para a deposição do Grupo Sabará é O suprimento de sedimentos é novamente retomado e deposi-
balizada pela datação U-Pb de um zircão detrítico idiomórfico tam-se então as fácies proximais como diamictitos grossos e
com 2125 ± 4 Ma (Machado et al. 1989,1992) ou 2131 ± 5 Ma conglomerado, mostrando a progradação do lobo deposicional.
(Machado et al. 1996), idades coincidentes com o início do Na região de Ibirité (Setor III, Figs .9, 10), os intervalos
Evento Transamazônico. A idade mínima para o Grupo Sabará tectono-deposicionais são formados por fácies mais distais, ou
não foi ainda bem determinada. Datações U/Pb em zircões seja, por grauvacas, arenitos, siltitos e pelitos. As fácies mais

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A bacia de antepaís paleoproterozóica Sabará, Quadrilátero Ferrífero, Minas Gerais

Tabela 1 - Síntese relacionando litotipo metamórfico e protólito sedimentar do Grupo Sabará.

ROCHA P R O T Ó L IT O
D E S C R IÇ Ã O
M E TA M Ó R F IC A S E D IM E N TA R
C la sto -su p o rta d o s, p o lim ític o s, m a l se le c io n a d o s, c om se ix o a m ata c ã o d e m e ta re n ito
M e ta c o n g lo m e rado C o n g lo m e ra d o b ra n co , c in z a e rosa e , su b o rd in a d a m e n te , g ra n itó id e, q u a rtz o , x isto c a rb o n o so e
fo rm a ç ão ferrífe ra, c o m g ra u d e a rre d o n d a m e n to v a ria n d o d e su b a rre d o n d a d o a
su b a n g u lo so . A m a triz é p e lític a , p o d e n d o o c o rre r m a triz g ra u v a q u e a n a
G râ n u lo s a b lo c o s a n g u lo so s a su b arre d o n d ad o s d e m e ta ren ito s, fo rm a ç ã o fe rrífe ra ,
d o lo m ito , filito s, g ran itó id e s e q u artz o . M a triz c o m po sta p o r se ric ita e c lo rita , m a is
M e ta d iam ictito g ro sso D ia m ic tito g ro sso fra ç ã o a re ia (fin a a g ro ssa, m a l se le c io n a d a ) c o m p o sta p o r fra g m e n to s d e q u a rtz o
m o n o e p o licristalin o , m e ta c h e rt e o p ac o s. A m atriz v erd a d e ira (1 5 % ) c o n fu n d e -se
c o m p se u d o -m a triz
G râ n u lo s (ra ro s seix o s e c a lh a u s) su b -a n g u lo so s a sub -arre d o n d a d o s d e g ra n itó id e s, m e-
M e ta d iam ictito fin o D ia m ic tito fin o tare n ito s, d e fe rrífe ra fo rm a ç ã o fe rrífe ra , d o lo m ito , filito s e q u a rtz o . A fra ç ã o are ia d a
m atriz (fin a a g rossa , m a l sele c io n a d a ) é c o m p o sta po r fra g m e n to s d e p la g io clá sio , m i-
c ro clin a , q u a rtz o e o p a c o s, in c lu so s n u m a fra ç ã o p e lític a c o n stitu íd a p o r c lo rita e sericita
F ra ç ão a re ia c o m po sta p o r q u a rtzo m o n o e p o lic ristalin o e fra g m e n to s lític o s
p re d o m in a n te m e nte d e filito s. L o ca lm e n te fra g m e n to s d e feld sp a to s. A m atriz é
X isto m isto G ra u v a c a m ista c o n stitu íd a p o r m ica b ra n c a , se ric ita , b io tita e m a lg um a s a m o stra s, le u c o x ê n io , lim o n ita
(se c u n d á ria ), e o pa c o s
S e ric ita -q u a rtz o- G ra u v a c a R ic a e m c o m p o n en te s fe ld sp á tic o s e , su b o rd in a d a m e n te , co m po n e n te s q u artz o so s e
fe ld sp a to x isto a rco se a n a lític o s (g ra n itó id es)
M a l se le c io n a d o s, fin o s a m é d io s, c o m p o sto s, n a re giã o d e Ib irité , p o r q u a rtz o m o n o e
p o lic ristalin o , fe ldsp a to s (p la g io c lá sio e m ic ro c lin a ) e m e ta c h e rt. A m atriz , lo ca lm e n te
A re n ito p re se n te , é c o m p osta p o r q u a rtz o , a lb ita , ep id o to , o pac o s, se ric ita e c lo rita . A re n ito s d a
M e ta re n ito
q u a rtz o so re g iã o d e O u ro P re to sã o c o m p o sto s p re d o m in a n te m e n te p o r q u a rtz o m o n o o u
p o lic ristalin o (7 0 a 9 0 % ), m ic a b ra n c a, c lo rita, a n tigo rita e c lo ritó id e e m a lg u m a s
A m o stra s, lim o n ita e o p a c o s
C o m p o sto s p o r lâm in a s m ilim é tric a s p re d o m in a n te m e n te d e q u a rtzo e lâ m in a s ric a s e m
se ric ita e clo rita . A lg u m a s lâ m in a s sã o c o n stitu íd a s p o r q u a rtz o , se ric ita e c lo rita e m
M e ta rritm ito R itm ito
p ro p o rç õ e s a p ro x im a d a m e n te ig u ais. N ív e is filític o s ric o s e m se ric ita , c lo rita , m in e ra is
o p a c o s p rism áticos e q u a rtz o g ra n u lar e a lo n g a d o .
M e ta ssiltito S iltito F in a m e n te la m in ad o s, c o m p o sto s p o r q u a rtz o e se ricita
C o m p o sto s p o r sericita e e m p e q u e n a p o rce n ta g e m , q u a rtz o , o p a co s e z irc ã o , a p a tita ,
F ilito P e lito
e p id o to e tu rm alina c o m o a c essó rio s. E m a lg u m a s a m o stra s o c o rre ze ó lita
F ilito N e g ro F o lh e lh o N e g ro G ra fito so s (c a rb on o so s)

grossas, como diamictitos e conglomerados ocorrem localmen- ambiente aquoso (Fig. 12). Portanto, o modelo proposto para
te em afloramentos esparsos, intercalados com diamictitos este grupo é de leque submarino com planície de bacia. Adici-
grossos. A Fig. 9 mostra um intervalo tectono-deposicional onalmente, conglomerados e diamictitos representariam leques
iniciando com grauvaca com finas intercalações de arenitos, de encosta proximais (Fig. 12).
que gradam para arenitos finos e médios. A maioria das cama- O modelo de leques submarinos proposto para o Grupo
das de arenitos ocorre amalgamada, representando provavel- Sabará é constituído por canal(is) de alimentação, declive da
mente a erosão ou não deposição dos pelitos. Na seção levan- bacia, leque superior, leque médio, leque inferior e planície de
tada a leste de Ibirité (Fig. 10), as fácies também são distais, na bacia. O leque superior normalmente é constituído por facies
sua maioria amalgamadas e arranjadas localmente em suces- de canal, intercaladas com leques de encosta proximais. O le-
sões em CU. Os intervalos tectono-deposicionais iniciam com que médio é formado por vários lobos canalizados ou não, en-
pelitos ou siltitos e gradam para arenitos finos ou médios. Nes- quanto o leque inferior é constituído por leques distais não-
ta mesma seção, aproximadamente em 154 a 166 m, observa- canalizados. Os leques canalizados alimentam os lobos
se um espessamento ascendente das camadas (thickening- deposicionais, sendo denominados de supraleques (Normark
upward), indicando provavelmente uma progradação do lobo 1978). As fácies do Grupo Sabará podem ser associadas ao
deposicional (Walker 1984, 1992). declive, ao leque e à planície bacinal (Mutti e Ricci Lucchi
1972), como mostra a Fig. 12. A alimentação do leque subma-
MODELO DEPOSICIONAL O modelo deposicional pro- rino foi feita, provavelmente, através de vários canais de ali-
posto para o Grupo Sabará corresponde a uma adaptação ao mentação que se dispersaram dentro da bacia.
modelo leque submarino de Walker (1978). As fácies do Gru- Outro modo de alimentação foi proporcionado pelos leques
po Sabará correspondem a depósitos de fluxo de detritos, flu- de encosta proximais, através de fluxos de massa oriundos de
xo de massa e turbiditos proximais, intermediários e distais em uma fonte relativamente próxima (Fig. 12). Desta forma, as

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Luciana Andrade Reis et al.

Tabela 2 - Fácies sedimentares do Grupo Sabará.

F eiçõ e s P ro c e sso s
F ác ie s C a ra c te rística s L ito ló g icas
S ed im e n tares D e p o sic io n ais
C o n g lo m era d o c la sto su p o rta d o c o m clasto s (seix o s a
Gm -
m ata c õ e s) p re d o m in a n tem e n te d e a re n ito b ran c o , c in z a m ac iç o , n ã o g ra d a d o ;
C o n g lo m era d o F lu x o d e d e trito s
E ro sa , lo calm en te p re d o m in a n d o e m b a sam e n to o u 1 0 -2 0 % d e m a triz
m ac iç o
d o lo m ito . M a triz silto-a rg ilo sa, lo c a lm e n te aren o sa
D ia m ic tito c o m c lasto s (se ix o s a m a tac õ e s)
su b a rre d o n d ad o s a su b a n g u lo so s p re d o m in a n tem e n te
d e a ren ito b ra n c o , c in za e ro sa , lo c a lm e n te
D g - D iam ictito
p re d o m in an d o e m b asa m e n to o u d o lo m ito , P ro p o rçõ e s v aria d as c lasto s/m a triz F lu x o d e d e trito s
g ro sso
su b o rd in ad a m en te q u a rtz o , p elito s e fo rm a ç õ e s
fe rrífe ras. M a triz g rau v aq u ia n a , lo c alm en te g ra fito sa o u
a ren o sa
D ia m ic tito c o m g râ n u lo s (lo c alm en te seix o s o u
c a lh au s e sp arso s) su b a rre d o n d a d o s a su b a n g u lo so s
D f - D iam ictito p re d o m in an te m en te d e em b a sam e n to e a re n ito s, e
P ro p o rçõ e s v aria d as c lasto s/m a triz F lu x o d e d e trito s
fin o su b o rd in ad a m en te d e q u artzo , p elito s, p e lito s
d o lo m ític o s, ch e rt, e fo rm a ç ão ferrífe ra. M a triz
g ra u v aq u ia n a, lo c a lm e n te g ra fito sa o u a ren o sa
G ra u v a c a c o m m atriz o ra silto sa , o ra arg ilo sa
(lo c a lm e n te g rafito sa ) e v a riad a s p ro p o rç õ e s d e
W m - G rau v ac a c o m p o n e n te s q u a rtzo so s e lític o s e, su b o rd in ad a m e n te ,
L o c a lm e n te b a n d a d a F lu x o d e m assa
m ista fe ld sp á tico s. L o c alm e n te c la sto s (g râ n u lo s a ca lh a u s)
e sp a rso s d e a re n ito b ran c o o u c in z a, e ,
su b o rd in ad a m en te , d e ch e rt e fo rm a ç ão fe rrífe ra
G ra u v a c a c o m alta p ro p o rç ão d e c o m p o n e n te s
fe ld sp á tico s e su b o rd in ad am e n te q u a rtz o so s e lítico s,
W a - G rau v ac a
ro sa e c o m m u ito ca u lim n a m a triz q u a n d o a lte ra d a . - F lu x o d e m assa
a rco se a n a
L o c a lm e n te co m g rân u lo s e sp arso s d e e m b asa m en to e
a ren ito s o u so m e n te d e e m b a sam en to
C o rp o s ta b u la re s c o m a lta ra z ã o
c o n tin u id ad e lateral x esp e ssu ra ;
A re n ito s m é d io s a m u ito fin o s, e m c a m a d as m ac iç o s o u , lo c alm en te , c o m g rad a ç ão
A - A ren ito c e n tim étric a s a m é trica s, a m alg a m ad a s o u sep a ra d a s n o rm a l, la m in a çã o p la n o -p aralela e /o u C o rre n te s d e
Tab u la r p o r c am a d as m ilim é trica s a m étric as d e p e lito c in z a e b an d a m e n to g ra n u lo m étrico e tu rb id ez
g ra u v aca . c o m p o sic io n a l e c lim b in g rip p les n o
to p o d a c a m a d a e /o u m arc as d e so la n a
b ase
R itm ito c o n sistin d o d e in te rc ala çõ es d e lâm in as d e
p elito , siltito e a reia fin a . A p re se n tam te o r d e g ra fite
L a m in a ç ão p la n o-p aralela, C o rre n te s d e
v ariá v e l. L o c alm en te co m g râ n u lo s a b lo c o s
R – ritm ito b an d a m e n to g ra n u lo m é tric o e tu rb id ez d e b a ix a
su b a rre d o n d ad o s a su b a n g u lo so s e sp arso s d e are n ito
c o m p o sic io n a l d en sid a d e
b ra n co , a m a re lo e c in z a. L o c a lm e n te , lâ m in as d e
a ren ito
L a m in a ç ão p la n o-p aralela, D e p o siç ão d e
S - S iltito s S iltito s c in z a, in te rc a la d o s o u n ã o co m are n ito ta b u lar
lig e ira m e n te b an d ad a su sp en são
P elito s silto -a rg ilo so s cin za . L o ca lm e n te a p rese n ta m D e p o siç ão d e
P - P e lito s L a m in a ç ão p la n o-p aralela
n ív eis a re n o so s su sp en são
D e p o siç ão d e
F n - F o lh e lh o su sp en são ;
F o lh e lh o s ca rb o n o so s e scu ro s L a m in a ç ão p la n o-p aralela
n eg ro c o n d iç õ e s
a n ó x ic a s

fácies mais grossas do Grupo Sabará, tais como as fácies Con- A fácies Grauvaca Arcoseana e, principalmente, a Fácies
glomerado Maciço, Diamictito Grosso e Diamictito Fino teri- Grauvaca Mista estão presentes nos lobos e nos interlobos,
am se depositado em leques de encosta proximais ou na parte ocorrendo em todas as partes do leque submarino e na planície
interna dos canais de alimentação. Estas fácies correspondem de bacia (Fig. 12).
a fases de grande aporte sedimentar para bacia, provavelmente Os turbiditos da Fácies Arenito Tabular ocorrem nas por-
em fases entre pulsos tectônicos, onde as taxas de suprimento ções mais distais dos lobos de supraleque, bem como nos leques
sedimentar eram maiores que as taxas de geração de espaço de inferiores, mostrando trends de proximalidade-distalidade (Fig.
acomodação. 12).

Revista Brasileira de Geociências, Volume 32, 2002 31


A bacia de antepaís paleoproterozóica Sabará, Quadrilátero Ferrífero, Minas Gerais

a b

c d

Figura 3 - Facies (a) conglomerado maciço (Lagoa das Codornas), (b) diamictito grosso (Lagoa das Codornas), (c) diamictito
fino (Rodovia do Contorno de Ouro Preto), (d) Pelito (Rodovia do Contorno de Ouro Preto).

a b

c d

Figura 4 - Facies (a) grauvaca mista (Estrada Real), (b) grauvaca arcoseana (Rodovia do Contorno de Ouro Preto), (c) arenito
tabular (Ibirité). Notar espessamento ascendente das camadas (“thickening upward”) da esquerda para a direita, (d) detalhe
de arenito turbidítico de Ibirité exibindo elementos da Seqüência de Bouma.

32 Revista Brasileira de Geociências, Volume 32, 2002


Luciana Andrade Reis et al.

a b

Figura 5 - Facies (a) ritmito (Rodrigo Silva) e (b) folhelho negro (Rodovia do Contorno de Ouro Preto).

300

9 50

4 50

250
9 00

4 00

8 50

3 50

200

8 00

3 00

7 50

2 50 150

7 00

2 00

100
6 50

1 50

6 00

1 00

50

5 50

50

5 00
0
0
S A r GSC M
e
S Ar G S eCM
S A r GS C M
e

Figura 6 - Coluna sedimentológico-estratigráfica da Rodovia Figura 7 - Coluna sedimentológico-estratigráfica da Estrada


do Contorno/Ouro Preto (Setor I). A- argila, S- silte, Ar- areia Real/Ouro Preto (Setor I). A- argila, S- silte, Ar- areia fina,
fina, média e grossa, G- grânulo, Se- seixo, C- calhau e M- média e grossa, G- grânulo, Se- seixo, C- calhau e M-
matacão. matacão.

Revista Brasileira de Geociências, Volume 32, 2002 33


A bacia de antepaís paleoproterozóica Sabará, Quadrilátero Ferrífero, Minas Gerais

12 0

12 0

11 0

110

10 0

10 0

90

90

80

80

70

70

60

60

50

50

40

40

30

30

20

20
10

10
0

F M G
Si G Se C M 0

F M
S i A reia
Figura 8 - Coluna sedimentológico-estratigráfica da Lagoa
das Codornas (Setor II). Ar- argila, Si- silte, Areia F- fina, M-
média e G- grossa, G- grânulo, Se- seixo, C- calhau e M- Figura 9 - Coluna sedimentológico-estratigráfica de Ibirité
matacão. (Setor II). Ar- argila, Si- silte, Areia F- fina e M- média.

A Fácies Ritmito pode ser denominada como um turbidito fácies (Fig. 12).
clássico de ambiente distal, ocorrendo no leque inferior e pla-
nície de bacia. Ritmitos com clastos (grânulos a blocos) A BACIA SABARÁ A suíte conglomerado-diamictito-
esparsos provavelmente depositaram-se nas bordas laterais dos grauvaca-arenito-ritmito-pelito-folhelho, pertencente ao Gru-
leques submarinos, permitindo que material mais grosso oriun- po Sabará, marca claramente uma mudança significativa do
do das partes proximais da bacia, atingissem porções mais pro- ambiente deposicional e da fonte de sedimentos em relação ao
fundas. Supergrupo Minas, que teria se depositado em plataforma es-
As fácies Siltito, Pelito e Folhelho Negro ocorrem como tável (Alkmim & Marshak 1998). Conforme discutido a seguir
depósitos de planície de bacia, intercalados com as demais
34 Revista Brasileira de Geociências, Volume 32, 2002
Luciana Andrade Reis et al.

210

5 20

50

300

100
5 00

200

250

40

4 50
200

90

190

150 4 00

30

100

80
3 50
180

50

20

3 00
0

70

170

2 50
10

60

SAr
160 214
2 00

0 210
SA r SAr SAr SAr

1 50

Figura 10 - Coluna sedimentológico-estratigráfica a leste de


Ibirité (Setor II). A- argila, S- silte, Ar- areia fina e média.

1 00
e de acordo com sugestões da literatura (Renger et al. 1994,
Machado et al. 1996, Alkmim & Marshak 1998), este grupo
representa provavelmente os depósitos uma bacia do tipo
antepaís relacionada com o Evento Transamazônico.
50
EVIDÊNCIAS DE DEPOSIÇÃO EM BACIA DE
ANTEPAÍS Evidências geocronológicas A deposição do
Grupo Sabará está associada ao Evento Transamazônico, no
intervalo de 2125 e 2045 Ma (ver datações no item Contexto
Regional acima), com duração de cerca de 80 m.a. (Machado 0
S A rGS CM
e Noce 1993). O início da sedimentação Sabará marcaria a fase e

de inversão tectônica da bacia Minas e suas rochas o produto


erosional do orógeno em construção.

Evidências petrogenéticas O trend de distribuição das


fácies do Grupo Sabará ratifica os dados da literatura que su- Figura 11 - Coluna sedimentológico-estratigráfica de Rodrigo
gerem uma fonte situada a E-SE (Dorr II 1969, Barbosa 1979, Silva/Ouro Preto (Setor I). A- argila, S- silte, Ar- areia fina,
Renger et al. 1994, Alkmim e Marshak 1998). Nos vários se- média e grossa, G- grânulo, Se- seixo, C- calhau e M-
tores estudados (ver Fig. 1), há evidências que corroboram os matacão.

Revista Brasileira de Geociências, Volume 32, 2002 35


A bacia de antepaís paleoproterozóica Sabará, Quadrilátero Ferrífero, Minas Gerais

ÁR EA F O N T E (O R Ó G EN O )
Fronte do cinturão C anal d e alim en tação
de ca valgam e nto
Fá cies Fá cies d iam ictito
D eclive den tro co nglom e rad o gros so e fácie s
da bacia m aciço dia m ic tito fin o

Leq ues de encosta


proxim ais
Leq ue
S uperio r Fá cies G rau vaca M ista
e a rco sean a Fá cies P elitos/
Leq ue Fá cies F olh eho N egro
cana liza do

Leq ue
Fá cies S iltito
M éd io Fá cies A renito Lob os supraleque
Ta bular
Turb idito clássico C anal
P ro xim al incisivo

Leq ue N ovo lob o


Infe rior Leq ue
supraleque
não -cana lizad o
Fá cies R itm ito
D istal
P lanície
de
bacia
Fo ra de escala

Figura 12 - Modelo deposicional proposto para o Grupo Sabará.

autores citados. A suite de clastos presentes nos diamictitos e


conglomerados indica retrabalhamento de seqüências Evidências geoquímicas Dados geoquímicos das rochas do
supracrustais e do embasamento (Supergrupo Minas, Super- Grupo Sabará (elementos maiores e terras raras) foram
grupo Rio das Velhas e o embasamento soerguido). plotados em diagramas de proveniência. As análises de rocha
No Setor I, o Grupo Sabará consiste de diamictitos, total dos elementos maiores, traços e ETR das grauvacas e
grauvacas, arenitos (pouco desenvolvidos), ritmitos, pelitos e pelitos das regiões de Ouro Preto, Sabará e Igarapé foram ob-
folhelhos negros. Os diamictitos grossos, constituídos predomi- tidas de Guitarrari (1999).
nantemente por clastos de arenito branco e cinza, apontam Os diagramas de proveniência plotados para o Grupo Sabará
para uma provável proveniência do Supergrupo Minas superior apontam para uma mistura de áreas fontes. As figuras 13a e b
(Grupo Piracicaba). Os diamictitos finos com clastos predomi- mostram que as rochas do Grupo Sabará correspondem predo-
nantemente de embasamento e arenitos, e subordinadamente minantemente ao campo de proveniência ígnea intermediária
de quartzo, pelitos, pelitos dolomíticos e formação ferrífera, e sedimentar quartzosa, embora ocorram amostras em todos os
bem como as grauvacas mistas, sugerem uma proveniência campos, indicando compartimentação da área fonte.
mista. As grauvacas arcoseanas ricas em componentes Os dados foram também plotados em diagramas de proveni-
feldspáticos e clastos esparsos de rochas granitóides indicam ência por ambiente tectônico obtidos em Rollinson (1993). A
proveniência do embasamento. Fig. 13c mostra que as rochas da região de Ibirité são deriva-
A suite de rochas pertencentes ao Setor II (conglomerados, das predominantemente de uma margem continental ativa e
diamictitos, grauvacas, arenitos e pelitos) sugere uma proveni- arco magmático continental, enquanto na Fig. 13d, estas mes-
ência de rochas supracrustais do Supergrupo Rio das Velhas e mas rochas correspondem predominantemente ao campo de
Supergrupo Minas inferior e intermediário (grupos Caraça e margem continental ativa. Apesar de algumas amostras caírem
Itabira), evidenciada pela composição variada dos clastos no campo de margem passiva, a proveniência provável para as
(arenito branco, cinza e rosa, chert, dolomito, quartzo, pelitos rochas do Grupo Sabará é de margem continental ativa/arco
e formações ferríferas). Neste setor, provavelmente não houve magmático continental. Os gráficos das figuras 13e e f mos-
contribuição do embasamento, evidenciada também pela au- tram grande dispersão, sugerindo uma proveniência mista.
sência de feldspatos nestas rochas. De maneira geral, os diagramas litoquímicos indicam uma
No Setor III, a suite conglomerados-diamicitos-grauvacas- proveniência de margem continental ativa/arco magmático
arenitos-pelitos aponta para uma proveniência semelhante ao continental, sugerindo, em conjunto com os dados macro e
Setor I, ou seja, rochas supracrustais do Supergrupo Minas microscópicos, ter sido provavelmente um orógeno a área fonte
superior (Grupo Piracicaba) e do embasamento. do Grupo Sabará.

36 Revista Brasileira de Geociências, Volume 32, 2002


Luciana Andrade Reis et al.

a) b)

F unção D iscrim ina nte 1 = - 1,773 TiO 2 + 0,607 A l2 O 3 + 0,7 6 Fe 2 O 3(total) - 1,5 M gO
+ 0,616 C aO + 0,50 9 N a 2O - 1,224 K 2O - 9,09
F unção D iscrim ina nte 2 = 0,4 45 TiO 2 + 0,07 A l2O 3 - 0,2 5 Fe 2O 3(total) + 1, 142 M gO F un çã o D is crim in an te 1 = 3 0,63 8 TiO 2/ A l 2 O 3 - 12 ,54 1 F e 2 O 3(total)/ A l2 O 3
+ 0,43 8 C aO + 1,47 5 N a 2O - 1,426 K 2O - 6,861 + 7,3 29 M g O / A l 2O 3 + 12 ,03 1 N a 2 O / A l2 O 3 + 35 ,40 2 K 2 O / A l 2 O 3 - 6,38 2
F un ç ão D is crim in an te 2 = 5 6,5 00 TiO 2/ A l 2 O 3 - 10 ,87 9 F e 2 O 3(total)/ A l2 O 3
+ 3 0,8 75 M gO / A l2 O 3 - 5,4 04 N a 2 O / A l2 O 3 + 11,112 K 2O / A l 2O 3 - 3 ,89

c) -3,5 -0,5
d)
5 4,8

M argem Passiva
F unção D iscrim in an te 2

1,5
A rco d e Ilha
O ceân ico
A rco
M agm ático
0 C ontinental

-3
M argem Continental
A tiva -4,3
-5

-5 -0,5 0 3,5 5 f)
F unção D iscrim inante 1

F unção D isc rim inante 1 = - 0,04 47 S iO 2 - 0,9 72 TiO 2 + 0,00 8 A l2 O 3 - 0,267 F e 2O 3


+ 0,208 FeO - 3,082 M nO + 0,140 M gO + 0,195 C aO
+ 0,71 9 N a 2O - 0,032 K 2 O + 7,510 P 2O 5 + 0,303
F unção D isc rim inante 2 = - 0,42 1 S iO 2 + 1 ,988 TiO 2 - 0,526 A l2O 3 - 0 ,551 F e 2O 3
- 1,610 F eO + 2,72 0 M nO + 0,881 M gO - 0,907 C aO
- 0,177 N a 2O - 1 ,840 K 2O + 7,2 44 P 2O 5 + 43,57

e)

A re n itos e p e litos de Ib irité


G rau va cas de O uro P reto, Iga ra pé e S a ba rá

P e litos de O u ro P reto e S a ba rá

Figura 13 - (a) - Diagrama de função discriminante para proveniência das suites arenito-pelito usando elementos maiores.
Campos para proveniência ígnea máfica, intermediária e félsica e sedimentar quartzosa. (b) - Diagrama de função discriminante
para proveniência das suites arenito-pelito usando razões de elementos maiores. Campos para proveniência ígnea máfica, in-
termediária e félsica e sedimentar quartzosa. (c) - Diagrama de função discriminante para arenito mostrando campos de arenito
de margem continental passiva, arco de ilha oceânico, arco magmático continental e margem continental ativa. (d) - Diagra-
ma discriminante log (K2O/Na2O) vs SiO2 para suites arenito-pelito, mostrando campos para margem continental passiva,
margem continental ativa e arco de ilha. (e)- Diagrama discriminante para arenitos, baseado em gráfico bivariante, para TiO2
vs (Fe2O3(total) + MgO) e (f) - gráfico bivariante para Al2O3/SiO2 vs (Fe2O3(total) + MgO). Os campos são arco de ilha oceâni-
co, arco continental, margem continental ativa e margem continental passiva (modificado de Rollinson 1993).

Revista Brasileira de Geociências, Volume 32, 2002 37


A bacia de antepaís paleoproterozóica Sabará, Quadrilátero Ferrífero, Minas Gerais

As rochas do Grupo Sabará, segundo Guitarrari (1999), sedimentar). A ocorrência de depósitos pelíticos sob depósitos
possuem fracionamento similares e fortes de ETRL (elementos grosseiros em uma sucessão sedimentar em CU é um excelente
terras raras de número atômico baixo), mostrado pela razão indicador de atividade tectônica episódica (Blair e Bilodeau
LaN/YbN = 5,96 –11,52. As metagrauvacas basais mostram um 1988), ou seja, geração “instantânea” de espaço e relevo dife-
fracionamento em ETRP (elementos terras raras de número rencial área fonte/bacia por evento de cavalgamento no
atômico alto) de TbN/YbN = 1,72, enquanto os pelitos interme- orógeno e resposta flexural na bacia, seguido por progressivo
diários mostram um padrão enriquecido de TbN/YbN = 0,84, preenchimento do espaço de acomodação durante períodos de
indicando concentração de minerais pesados como zircão e quiescência tectônica.
monazita. O gráfico de ETR Condrito-Normalizado (Fig. 14) O arcabouço estratigráfico do Grupo Sabará encontra-se
mostra uma anomalia de Eu negativa e um enriquecimentos organizado em sucessões em CU. Os dados em algumas colu-
em elementos leves para os pelitos, correspondendo, segundo nas (p.ex., Figs. 6 e 10) mostram sucessões maiores na escala
Taylor e McLennan (1985), a ambiente de margem passiva, de centenas de metros, englobando sucessões hierarquicamente
enquanto as grauvacas não apresentam anomalia de Eu e são
correspondentes à ambiente de margem continental ativa/arco
magmático continental. As grauvacas/pelitos basais, segundo La
Guitarrari (1999), não apresentam anomalia de Eu (EuN/Eu* = a)
1,0), enquanto as intermediárias apresentam anomalia negativa
de Eu (EuN/Eu* = 0,45), característica de rochas sedimentares
pós-arqueanas (Taylor e McLennan 1985). A presença ou au-
sência de anomalia pode indicar características diferentes her-
dadas de porções distintas da área fonte. Entretanto, a evolução
de grauvacas/pelitos basais sem anomalia de Eu (proveniência C
de arco magmático continental) para grauvacas intermediári-
as com anomalia negativa (proveniência de margem passiva) D
pode ser interpretada como uma evolução de bacia de antepaís B
retroarco para colisional.
Nas figuras 15a e b observa-se que as rochas no Grupo
A
Sabará estão plotadas no campo B (arco magmático continen-
tal). Todos estes diagramas são compatíveis com depósitos de
uma bacia de antepaís, pois mostram área fonte de natureza
mista e complexa, típica de um orógeno. Th Sc
Evidências sedimentológico-estratigráficas As caracterís-
ticas, distribuição e arranjo das fácies (Figs. 6, 7, 8, 9, 10, 11)
e a presença de fluxos de detritos, fluxos de massa e correntes
b) Th
de turbidez no Grupo Sabará são indicativos de ambiente de
leques submarinos (Fig. 16). O arranjo estratigráfico em suces-
sivos ciclos em CU mostra que a bacia foi controlada por pro-
cessos extrabacinais (geração de espaço e suprimento

C
D
B
A
Sc Z r/10

P e lito de S a bará
G ra uvaca d e Iga rapé

Figura 15 - (a) - Diagrama discriminante La-Th-Sc para


grauvacas; (b) - Diagrama discriminante Th-Sc-Zr/10 para
grauvacas. Os campos são: A, arco de ilha oceânico; B arco
magmático continental; C, margem continental ativa; D, mar-
Figura 14 - Padrão ETR para as rochas do Grupo Sabará. gem passiva (modificado de Rollinson 1993).

38 Revista Brasileira de Geociências, Volume 32, 2002


Luciana Andrade Reis et al.

Leq ues de
encostas proxim a is arenito, siltito e pelito. Os conglomerados e diamictitos da Sub-
Leq ues
S upe riores Lob os de Leq ues P lanície bacia Lagoa das Codornas, apesar desta sub-bacia encontrar-se
on te S uprale que Infe riores de B acia
aF próxima ao Complexo do Bação (Fig. 17), não apresentam
Áre
C a na l d e
clastos de embasamento. Isto sugere um fornecimento proximal
A lim e n ta ç ão em relação à bacia, com as rochas supracrustais dos
supergrupos Rio das Velhas e Minas.
NM A Sub-bacia Sabará-Ibirité-Fernão Dias, periférica ao
orógeno, é constituída pelas litofácies conglomerado,
diamictito grosso, diamictito fino, grauvaca, arenito, siltito e
pelito. Nesta sub-bacia os turbiditos são mais desenvolvidos,
indicando, a preservação de um ambiente mais profundo e/ou
distal (Fig. 17). As fácies mais grossas ocorrem de forma
esparsa, indicando que as fácies progradacionais finais não
C onglom e rado s A re nitos foram preservadas do soerguimento final por compensação
D iam ictito s P elitos/siltitos isostática (Jordan 1995) e posterior erosão.
folhe lh o ne gro
G rauvacas E m ba sa m en to/ CONTEXTO GEOTECTÔNICO DO FORELAND SABA-
oróg eno
RÁ A porção sul do Cráton do São Francisco é formada por
uma plataforma estabilizada a 2,6 Ga (Noce et al. 1998), cons-
Figura 16 - Figura esquemática do ambiente deposicional do tituída por gnaisses migmatizados, greenstone belts, plútons de
Grupo Sabará. granitóides e intrusões máficas e máficas-ultramáficas. Duran-
te a Orogenia Transamazônica (2,16 – 2,0 Ga), um cinturão
colisional em forma de arco, denominado de Cinturão Minei-
inferiores de espessura métrica a decamétrica. Este arranjo ro (Teixeira et al. 2000), desenvolveu-se nas margens desta
indica que o padrão da sedimentação do Grupo Sabará foi plataforma arqueana, formando plútons de granitóides, diques
marcado por altas taxas iniciais de geração de espaço de aco- máficos e depósitos do tipo flysh.
modação, em relação à taxa de suprimento sedimentar para a Segundo Alkmim e Marshak (1998), o cinturão de cavalga-
bacia, evidenciado pela deposição de fácies pelíticas. A presen- mento/dobramentos (Cinturão Mineiro) foi criado em respos-
ça de turbiditos de baixa densidade e/ou grauvacas mostra o ta a uma contração com vergência para NW, relacionada com
início da progradação clástica, cuja evolução de condições a acresção de um arco de ilha e/ou terrenos exóticos nas mar-
distais para proximais foi marcada pela presença de turbiditos gens leste e sudeste do Cráton do São Francisco. Neste evento,
e/ou grauvacas mais densos. A deposição de conglomerados e pode ter ocorrido o consumo de crosta oceânica e geração de
diamictitos subsequente mostra que as taxas de suprimento tonalitos de origem mantélica e trondhjenitos (2,162 – 2,124
sedimentar superaram a geração de espaço de acomodação. A Ga), seguido por intrusões de granitos crustais sin a pós-
superposição de fácies grossas sobre fácies distais evidencia a colisionais (Teixeira et al. 2000). A evolução da bacia Sabará
progradação dos lobos deposicionais com a migração progres- ocorreu durante esta época, com proveniência da erosão dos
siva do cinturão de cavalgamento/dobramento (Jordan 1995). depósitos arqueanos e paleoproterozóicos do Cinturão Minei-
As sucessões em CU em diferentes hierarquias significam a ro.
superposição de pulsos de subsidência episódica de diferentes
magnitudes. Conclusões O Grupo Sabará ocorre no Sinclinal Dom Bosco
(Setor I, Fig.1), Sinclinal Moeda (Setor II) e na Serra do Cur-
TIPO DE BACIA DE ANTEPAÍS A localização geográ- ral (Setor III), além de outras ocorrências sem afloramentos
fica dos depósitos do Grupo Sabará em relação ao adequados para os propósitos deste trabalho (sinclinais
embasamento e supracrustais do Quadrilátero Ferrífero, os ti- Gandarela e Santa Rita). Levantamentos sedimentológico-
pos de rochas e a variação composicional dos clastos e frag- estratigráficos permitiram a identificação das seguintes fácies:
mentos líticos presentes nas rochas dos diferentes setores do conglomerado maciço (fluxo de detritos), diamictito grosso
Grupo Sabará apontam para diferentes áreas fontes, sugerindo (fluxo de detritos), diamictito fino (fluxo de detritos), grauvaca
uma bacia de antepaís compartimentada (Fig. 17). Com base mista (fluxo de massa), grauvaca arcosiana (fluxo de massa),
nisto, a Bacia de Antepaís Sabará foi dividida em três sub-ba- arenito tabular (correntes de turbidez), ritmito (correntes de
cias: Sub-bacia Antônio Pereira-Ouro Preto-Mariana-Rodrigo turbidez), siltito (correntes de turbidez), pelito (deposição da
Silva (SB1), Sub-bacia Lagoa das Codornas (SB2) e Sub-bacia suspensão) e folhelho negro (deposição da suspensão). Estas
Sabará-Belo Horizonte-Ibirité-Fernão Dias (SB3) (Fig. 17). fácies ocorrem, de maneira geral, organizadas em sucessões em
A Sub-bacia Antônio Pereira-Ouro Preto-Mariana-Rodrigo CU, representando geração episódica de espaço e relevo dife-
Silva é constituída pelas litofácies diamictito grosso, diamictito rencial área fonte/bacia por evento de cavalgamento no
fino, grauvaca mista, graucava arcoseana, ritmitos, pelitos e orógeno e resposta flexural na bacia, seguido por progressivo
folhelho negro. Nesta sub-bacia, predominam os processos de preenchimento do espaço de acomodação durante períodos de
fluxos de massa, indicando proximalidade em relação aos fron- quiescência tectônica.
tes de cavalgamento e da área fonte. Trata-se provavelmente de O modelo deposicional proposto para o Grupo Sabará é de
um compartimento intermontano do foreland Sabará, do tipo leque submarino com planície de bacia e leques de encosta
piggy-back basin. proximais. Este modelo é constituído por canal(is) de alimen-
A Sub-bacia Lagoa das Codornas, também intermontana, é tação, declive da bacia, leque superior, leque médio, leque in-
constituída pelas litofácies conglomerado, diamictito grosso, ferior e planície de bacia. As fácies Conglomerado Maciço,

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A bacia de antepaís paleoproterozóica Sabará, Quadrilátero Ferrífero, Minas Gerais

A A'

SE F ro n te d a S e rra d o C urra l/ NW
R o la M o ç a

SB 1 SB 2
SB 3

N íve l de ero s ão atu a l


a pro xim ad o

S B 1 : S u b -b a c ia A n tô n io P e re ira -M a ria n a -O u ro P re to -R o d rigo S ilv a


S B 2 : S u b -b a c ia L a go a d a s C od o rna s
S B 3 : S u b -b a c ia S a b a rá -B e lo H o rizo n te -Ib irité -F ern ã o D ia s

A' Belo Horizonte


Sabará

Serra do Curral

Ibirité

Igarapé Sinclinal Moeda


L EG EN D A
Lagoa SETOR
das II
C odornas G ru p o Ita co lo m i
G ru p o S a b ará
S u p e rg rup o M ina s
S u p e rg rup o R io da s Velha s
Complexo E m b asa m e nto
do Bação
C id a de s
Ouro Preto
S e to r I

0 13 26km

A
Figura 17 - Seção esquemática da bacia de antepaís compartimentada Sabará (modificada de Allen e Allen 1990) e sua loca-
lização esquemática no Quadrilátero Ferrífero (Mapa Geológico modificado de Dorr II 1963).

40 Revista Brasileira de Geociências, Volume 32, 2002


Luciana Andrade Reis et al.

Diamictito Grosso e Diamictito Fino ocorrem nos leques de ção de bacia de antepaís retroarco para colisional.
encosta proximais e na parte interna dos canais de alimenta- O Grupo Sabará representa provavelmente uma bacia de
ção. As fácies Grauvaca Arcoseana e Grauvaca Mista estão antepaís compartimentada, formada durante a deformação,
presentes nos lobos e nos interlobos, ocorrendo em todas as soerguimento e erosão dos depósitos arqueanos e paleoprote-
partes do leque submarino e na planície de bacia. Os turbiditos rozóicos do Cinturão Mineiro, de idade transamazônica. Uma
ocorrem nas porções mais distais dos lobos de supraleque e nos bacia do tipo compartimentada foi sugerida devido à localiza-
leques inferiores. A Fácies Ritmito (turbidito de ambiente ção geográfica dos depósitos do Grupo Sabará em relação ao
distal) ocorre no leque inferior, na planície de bacia e nas bor- embasamento e supracrustais do Quadrilátero Ferrífero, bem
das laterais dos leques submarinos. As fácies Siltito, Pelito e como aos tipos de rochas e à variação composicional dos
Folhelho Negro ocorrem como depósitos de planície de bacia, clastos e fragmentos líticos presentes nos diferentes setores
intercalados com as demais fácies. estudados. A compartimentação da bacia, atestada principal-
O Grupo Sabará representa os depósitos uma bacia do tipo mente nos ruditos que indicam proveniência local, aparente-
antepaís relacionada ao Evento Transamazônico. Os clastos mente se conflita com a proveniência homogênea e mais distal
presentes nos diamictitos e conglomerados indicam o sugerida pelos dados geoquímicos oriundos dos pelitos e
retrabalhamento de seqüências supracrustais e do embasa- grauvacas. Entretanto, o posicionamento estratigráfico superior
mento (Supergrupo Minas, Supergrupo Rio das Velhas e o dos ruditos indica que a compartimentação da bacia se deu nos
embasamento soerguido). Os diagramas de proveniência plota- seus estágios mais tardios de sua evolução, provavelmente no
dos para o Grupo Sabará apontam para uma mistura de áreas- estágio colisional, quando os compartimentos intermontanos
fonte, predominando a proveniência ígnea intermediária e teriam sido individualizados.
sedimentar quartzosa, embora proveniências ígnea félsica e
ígnea máfica também ocorram, indicando compartimentação
da área fonte. Os diagramas de proveniência por ambiente Agradecimentos Este trabalho é uma síntese da dissertação
tectônico indicam uma proveniência de margem continental de mestrado de LAR, desenvolvida no DEGEO/EM/UFOP sob
ativa/arco magmático continental. Estes dados em conjunto a orientação de MAMN, co-orientação de NSG e IE e colabo-
com os dados macro e microscópicos sugerem uma área fonte ração de HJE. Os autores são gratos a Fernando Alkmim do
orogênica para o Grupo Sabará. O gráfico de ETR mostra uma DEGEO/EM/UFOP pela indicação de vários afloramentos e a
anomalia de Eu negativa e um enriquecimento em elementos A.C. Pedrosa-Soares do IGC/UFMG pela ajuda na litoquímica.
leves para os pelitos correspondendo a ambiente de margem À Capes pela concessão de bolsa de mestrado a LAR. Ao
passiva (Taylor e McLennan 1985), enquanto as grauvacas não CNPq pela Bolsa de Produtividade em Pesquisa a MAMN.
apresentam anomalia de Eu e são correspondentes à ambiente Este trabalho foi quase inteiramente desenvolvido com recur-
de margem continental ativa/arco magmático continental. A sos financeiros próprios de LAR e MAMN, exceto alguns dias
evolução de grauvacas/pelitos basais sem anomalia de Eu (pro- de campo na região de Ouro Preto/Rodrigo Silva realizados em
veniência de arco magmático continental) para grauvacas in- conjunto com alunos da disciplina Trabalho Geológico do
termediárias com anomalia negativa (proveniência de margem DEGEO/EM/UFOP, ao qual prestamos nossos agradecimentos.
passiva) presentes nestas rochas pode representar uma evolu- Aos revisores da RBG pelas valiosas sugestões.

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Recebido em 10 de janeiro de 2001
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sedimentares e metamórficos na região do Quadrilátero Revisão aceita em 05 de março de 2002

42 Revista Brasileira de Geociências, Volume 32, 2002

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