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Kenneth J. Gergen Mary Gergen um convite ao didlogo Tradugao Bureau Translations ‘Construcionismo Social objetivas ¢ essenciais, mas em construgdes conjuntas de pesso- as em ditilogo que, deixando as grandes narrativas em suspenso, “desaprendem’ e, assim, podem criar novos principios. Carla Guanaes 16 Capitulo 1 O cenario da construcio social Uma dramitica transformagdo vem tendo lugar no’ mundo das ideias, ¢, por toda parte, as tradigdes estéo sendo questionadas. ‘Aumenta a incerteza em relagao aos padrdes universais ¢ oficiais, de verdade, objetividade, racionalidade, progresso € moralidade. Enquanto a inseguranga bate incessantemente & porta, questio- na-se a fé em todo lugar. Entretanto, dessa situagio tumultuada emergem novos didlogos e novas vozes de esperanga para a exis- téncia humana. Sio conversagées que cruzam continentes € cul turas, fazendo-se acompanhar de um grande nimero de novas ptaticas profissionais ~ nas organizagdes, na educagio, na ter pia, na pesquisa ¢ na assisténcia social, no aconselhamento, na solugdo de conflitos, no desenvolvimento da comunidade e em muitas outras areas. ‘Varios nomes jé foram atribufdos a essa revolugéo de pensa~ mento e de praticas, sendo frequentes denominagées como “pés- -fundamentalismo’, “pés-empirismo’, “pos: uminismo” € “pés- -modernismo”, Entretanto, entremeada em todos os debates est a nogao da “construgao social” ou seja, a criagao de sentido atra- vvés de nossas atividades colaborativas. A construgao social niio é de autoria de um nico individuo ow grupo, nem tampouco exclusiva e unificada; ela pressupde um significativo comparti- Ihamento entre diferentes comunidades. Os contrastes, tensdes € incertezas nao intimidam, uma vez que a tentativa de estabelecer 7 Construcionismo Social PIFERENTES “VOCES” A PARTIR DE DIFERENTES PONTOS DE. VISTA Agora, vamos tomar vocé, leitor, como objeto da nossa aul voce ¢ 0 que vocé fiz? Imagine-se de pé, di de pessoas com 0s mais variados estilos le vida, ériundas de diferen. \es regides do mundo. Cada pessoa olharii para vocé e dri o que ve iante de si, podendo resultar em algo assi quem é te de um grande grupo Para um Voce é Bidlogo “um mamifero” Cabel ‘orte do ano passado” Professor “alguém que tem potencial” Homose “heterosexual” Cristio fundamentalista m pecadoc” aif Mie n sticesso surpreendente” Artist “um excelente modelo’ ‘ ligeiramente newnstico” ima composigao atémica” Banqueiro “um futuro cliente” Médico 1m hipocondriaco” Hindu stado imperfeito de At Amante i Ifaluquiano* Se nao houvesse ninguém para identifieé-lo, quem voce seria nesse caso? Serd que vocé realmente seria algo? A ideia fundante da construsio social parece bem simples, mas, 20 mesmo tempo, é profunda. Tudo que consideranios real é resulta. do de uma construsdo social. Ou seja, de maneira mais contundente, Nada ¢ real, 2 menos que as pessoas concorciem que assim o sea * Habiant de faluk um ac de coais nas las Cannas, prterconos aos Estados Fedevados ‘a Hicronésia Nalingua dos habanles de, “Lge igica ane 20 Occenario da construgao sock Sua voz cética poderia replicar: “Quer dizer que a morte nao é real?” ou “o corpo?*, ou “o Sol?”, ou “esta cadeira?”.. A lista é infi- a. E preciso ter muita clareza quanto a este ponto: os constru- cionistas sociais no dizem “no existe nada’, ou “nao ha realida- de"; a questao importante é que quando as pessoas definem o que “realidade’, sempre falam a partir de uma tradicao cultural. Sem “diivida, alguma coisa aconteceu, mas, para descrever este fato, é necessirio que o mesmo seja representado a partir de um ponto de vista cultural particular — numa linguagem particular ou por intermédio de um meio visual ou oral particular, A titulo de ilustragio, se dissermos “o pai dele morreu”, na maioria das vezes estaremos falando a partir de um ponto de vista biolégico. Construimos 0 acontecimento como a cessagio de determinada fangao corporal (muito embora até os médicos Possam discordar quanto a definigao de morte, pois um cirur- io diferente dade um clinico geral). A partir de outras tradicdes, poderfamos inda dizer “cle foi para o céu’, “ele viverd para sempre no cora- gio especialista em transplantes pode ter uma o sio dela’, “este ¢ 0 comego de um novo ciclo de reencarnagao” “foi aliviado de seu fardo’, “viverd no legado de suas boas obras" “sua vida ter continuidade em seus trés filhos’, ou “a compo- sige atOmica desse objeto foi alterada’, © que mais hé para ser dito fora de qualquer convengao relativa ao entendimento? Para @ pequena Julie, 0 acontecimento pode, de fato, nao ser absolu- tamente fora do comum, Para 6 construcionista, a questio nao ¢ “nada existe’, mas sim “nada existe para nés’, ou seja: é a partir das nossas relagdes que o mundo se faz preenchido com 0 que nés concebemos como “érvores’, “sol’, “corpos’, “cadeiras” ¢ as- sim por diante. 2 Construcionismo Soci Dos jogos de linguagem aos mundos possiveis A ideia bésiea do construcionismo social 6 ao mesmo tempo, simples e desafiadora. Outras dimensdes vio se revelando & medida que exploramos ambitos mais amplos das ideias cons- tucionistas. Comegamos focalizando a linguagem, m veremos, nossos interesses se ampliam rapidamente para todas as formas de vida cultural Linguagem: da imagem a pritica Por muito tempo consideramos a linguagem como uma for: ma de imagem, Quando os cientistas fazem seus relatos acerca do mundo, supomos que suas palavras sejam o retrato fiel de suas ob- servagdes, Da mesma forma, procuramos noticidrios que nos pro- Porcionem uma descrigo precisa dos acontecimentos. Embora Possa parecer bvio, o simples processo de dar nomes ais pessoas ~ Franks Sally, Ben e Shawn ~ é bastante emblemitico, Porque es- ses individuos dificilmente vieram a0 mundo com seus cra pendurados. Os pais Ihes atribuiram esses nomes ¢, neste sentido, foram arbitrarios. Exceto, talvez, por questio de tradigao familiar, Frank poderia ter sido chamado de Ben, Robert, Donald ou rece. ber qualquer outro nome. Mas, antes de tudo, por: que lhes foi atri- buido um nome? A principal razdo é a praticidade. Se, por exem- plo, precisarem falar a respeito do bem-estar de Sally, verificar se ela esta se alimentando bem, se é preciso trocar sua fralda, ou se Seu irmaozinho Frank esta com citimes, seus pais utilizam um ome para realizar essas tarefastipicas de bons pais e, mais tarde, Precisarao do nome para outros fins préticas, como matriculé-la na escola e perguntar a Sally por que chegou tio tarde em casa, De maneira geral, tanto as palavras que usamos como os nomes que ~“ 24 O-cendria da construgao social atribuimos uns 20s outros sio usados para efetuar relagdes. Nao sto nagens do mundo, mas ages préticas no mundo, Isto € ficil de entender no caso de expressdes como “Pare!” “Pe- igo!” ou “Jogue a bola!”, em que podemos ver como os nomes pré- Prios sao titeis do ponto de vista social. Entretanto, jé no fica tao Sbvio no caso de noticias, descrigdes cientificas ou quando se trata de contar a alguém como foi o seu dia; nestes casos, as palavras parecem funcionar como imagens e podem ser verificades quanto a sua exatidio. Mas considere novamente: 0 fato de um relato pa- recer ser “exato” ou ndo é algo que iré depender de uma tradicao da comunidade (lembre-se do exemplo dos vétios “vocés" no inicio do capitulo), Como cada tradigio tem seus proprios critérios de juizo, acreditar ou ndo que uma testemunha esteja falando a verdade & algo que dependerd do fato de cla utilizar ou néo a mesma forma de linguagem que usamos, Se os incorporadores estéo promovendo 0 desenvolvimento e criando novos bairros ou destruindo espacos abertos é algo que depende do que cada um entende por “desen- volver”: Neste sentido, “falar a verdade” 6 falar de uma forma que confirme a tradigio de uma determinada comunidade. Jogos de linguagem ¢ 0s limites de nosso mundo famoso filésofo Ludwig Wittgenstein introduziu a metéfora dlo jogo de linguagem, que permitiu mostrar como as palavras que ‘usamios se encontram embutidas em sistemas de regras ou em con- vengdes compartilhadas, Isto é algo que pode ser facilmente verifi- eado no caso da Gramatica, onde tem regras comuns que nos impedem de dizer “ela vai em praia” ou “bola bateu ele” Contudo, em qualquer cultura existem muitos jogos de linguagem diferentes, 0u seja, existem muitas convengies locais usadas para descrever ¢ 25 Construcionisme Social © Ponto de vista de um jornal brasileiro, usa o termo “Império” em tom irreverente, indicando que a vitér apenas uma preten- so e que o futuro pode se provar diferente. A tiltima manchete, ecoando a visio de alguns paises arabes, sugere que a “vitéria’ seria to somente uma “ocupagio” temporiria e que as forcas ira- uianas estariam se escondendo em meio a populagio ci tas para voltar apés a partida das tropas americanas, Os eventos narrados podem ser idénticos, mas a descricéo dos “fatos” depende da tradigao segundo a qual cada um estiver escre- vendo. Para o bem ou para o mal, cada tradicio possui seus préprios valores e, neste sentido, nao éxistem descrigées isentas de valores. pron- Vocé poder objetar e dizer que “inquestionavelmente os fatos das ciéncias naturais sio neutros em termos de valores”. Mas ana- lise mais uma ver: por que aceitamos como imparcial a ideia de que a ciéncia médica “cura” doengas? Isto ocorre porque, em geral, atribuimos valor a certas mudangas que os médicos ajudam a pro- mover no corpo humano e este valor ¢ representado pela palavra “cura. Se alguém descrevesse os mesmos procedimentos médicos como “interferéncias nos processos da natureza’, considerarfamos fal declaracao parcial. Da mesma forma, se vocé reduzit 0 mundo a linguagem da fisica, da quimica ou da biologia, a linguagem da '-20 moral” deixar de existir. Se continuar falando exclusivamen- teem termos cientificos, o langamento de uma bomba atémica em Nagasaki ow a realizagao de experiéncias biolégicas com prision 798 nos campos de concentragio deixario de ser questées de “as- sassinato” ou de “moral’, jé que essas palavras'éio elevantes para a ciéncia como tal. Da mesma forma, forcas militares podem atacar um pais ¢ simplesmente falar dos milhares de civis mortos como sendo um “dano colateral” Certamente as cigncias naturais pos- 28 suem valores, porque analisam dados de forma a permitir que as fi nalidades de previsio e controle possam se cumprir; seus discursos estao atrelados a esses propésitos. Se alguém permanecer exclusi- vamente no Ambito de uma determinada tradicao, outras tradigdes de valor serdo consideradas irrelevantes ou sero reprimidas. Pluralismo radical A maioria das p tas de nossas categorias sio construidas socialmente. Toclos sabe- mos, por exemplo, que existem infindéveis clesacordos quanto a0 significado d as tende a concordar com 0 fato de que mui- justice ‘amor’, Entretanto, muitas pessoas resistem is ideias construcionistas quando as mesmas se re- ferem a0 mundo fisico, ao mundo pré-linguistico do diretamente Lua é feita de quei- Jo”? Que insensato seria responder “verdadeira”! E nao é também Sbvio que 0 mundo é redondo e que as estagdes mudam na Nova observivel. E Inglaterra? Mas analise novamente: se considerarmos que o que é real deriva de acordos entre comunidades de pessoas, as alirmagies da verdade devem se encontrar no Ambito dessas relagdes. Ou, mais uma ver, a verdade s6 pode ser encontrada dentro da comunidade; Porque fora da comunidade hd o silencio. Neste sentido, os constru- cionistas sociais nao adotam as verdades universais, nem a Verdade com “V" maitisculo, as vezes chamada de Verdade ‘Transcendental. Naturalmente existe a verdade com um “vy” mintsculo, ou Seja, a verdade decorrente dos modos de vida compartilhados dentro de um grupo. As vezes, ess¢ grupo pode ser enorme, como © grupo que comumente declara que 2 + 2 = 4, Se uma crianga disser que a resposta a sera imediatamente corrigida, Por outro lado, os matematicos poderiam dizer que a resposta 4 esta 29 Construcionismo Social Ciéncia versus veligiio? A maioria dos cientistas acredita que existe um mundo real ¢ um mundo material independente das pessoas e, além disso, acredita ser possivel descobrir esse mundo por meio de uma medigao sis- temitica (telescdpios, microscépios etc.),e representé-lo com pre- cisio por meio de sistemas simbélico: ¢ por formulas matemticas. Os cientistas geralmente argumen- tam que, através de seus métodos, eles conseguem chegar cada vez mais perto do mundo como ele realmente &. O sucesso aleangado pelas iniciativas cientificas, desde a erradicagao de doencas fatais inclusive pela linguagem até o controle da energia atémica, levou muita gente a aceitar o poder da ciéncia como a revelagao da Verdade sobre o mundo. Nem todas as ideias construcioni: vas cientificas, mas, certamente, desafiam a ideia de que a ciéncia revela a Verdade. Tampouco 0s frutos da ciéncia justificariam tal reivindicacao, Uma pratica efetiva de terapia, por exemplo, nio torna Verdadeiras as palavras utilizadas para descrever ou expli- car tal pratica. Este € um ponto importante porque, durante sé- culos, foram usadas afirmagdes relativas & Verdade cient ‘as desvalorizam as iniciati- desacreditar as afirmagies das tradigo A ciéncia serviu de baluarte numa luta de poder em que 0 contro- le da sociedade foi arrancado a forga das instituigdes religiosas. Diz-se que a ciéncia trata da verdade, enquanto as tradigées giosas ¢ espirituais se baseiam em fantasias ou mitos. espirituais ou religiosas. i= © construcionismo proporciona tifa héva maneira de ver este antagonismo. Tanto a tradigi0 cientifica quanto a religiosa/espiri- tual tém suas prdprias maneiras de construir 0 mundo; cada uma delas encerra determinados valores e aprova determinadas formas 32 ‘O-cenaiio da construsio social Nao hé forma de comparagio direta entre a verdade das tradigdes e a verdade da ciéncia, visto que qualquer tipo de men- suragio se dé necessariamente em uma realidade construida por alguma tradig20. Nao podemos medir a verdade do espiito por meios cientificos, assim como nao podemos avaliar a verdade da ciéncia através da sensibilidade espiritual. Além disso, as duas tra- digdes produzem frutos de acordo com seus préptios termos: no aso das tradigdes cientificas, sao os foguetes espaciais ¢ a energia atomica; a0 passo que, pa as tradig6es religiosas, sao as institui- 8es preocupadas com o ser humano e vis6es da boa moral. Nenhu- ma das duas pode produzir em seus préprios termos o que @ outra oferece. O construcionismo nos pede que eliminemos a tradicional oposigdo Ciencia versus Religiio, Preferivelmente, adotamos uma Posigdo de “ambas/e” quando somos convidados a explorar as con- sequéncias positivas e negativas de cada uma delas, Foco do capitulo Poclemos ver F 0 construcionismo social como um permanente diilo- g0 sobre as fontes daquilo que acreditamos ser 0 conhecimento do lo racional, do verdadeiro e do bom ~ com ficativo na vi to, tudo & sig- ideias construcionistas se encontram abyigadas icado e de agao. O guarda-chuva constru 10s movimentemos através das tradigSes para absorver, amalgamar ¢ recriar. Ao mesmo tempo, a3 préprias idcias co as também devem e nnscendental, Ao escrevermos estas pa ificado junto com ve € 5€ nossas palavras sto verdad como sendo um guarda-chuva sob 0 qu todas as tradigées desig ‘0. Como esperamos poder demon: lem muitos novos e promissores caminhos a frente. 33 Construcionismo Social natureza das coisas — seja qual for o status social, as realizagdes ou a aparente genialidade do er de colocar as coisas’. A partir dai, também nos conscientizamos \ciador — & apenas “uma maneira de que poderia ser de outra forma, Cada maneira de construir 0 mundo sustenta certas tradigdes, carregadas de valores particu- lares, a0 passo que, simultaneamente, ignora tudo o que estiver fora delas. Assim, nossa curiosidade sobre quais tradigoes esto sendo respeitadas ou nao esto sendo questionadas e que vozes se Jam ou estio sendo abafadas & despertada, Comegamos a nos questionar, por exemplo, que tipo de mundo é construido por um determinado noticiario, por um discurso politico ou por um con- junto de textos cientificos. Quem é favorecido, quem ¢ margina- lizadlo? Sera que queremos realmente abragar essa nova maneira lade critica tem se difundido cada vez mais no mundo ocidental. Estamos nos tornando mais de construir o mundo? Esta sensi sensiveis as formas pelas quais a televisio constréi vi grupos ~ afro-americanos, mulheres, italianos, idosos, e assim por diante Alguns programas da midia nos alertam sobre a forma pela qual 98 “fatos so tramados” por politicos e como a ideologia politi- ca se encontra sutilmente embutida nos noticidrios. Os Pais estio muito preocupados com as atitudes consumistas que a televisio passa aos filhos. Tudo isso aponta para um posicionamento cri- tico diante dos mundos construidos por outros, e, neste sentido, © conhecimento académico construcionista apenas expressa uma ampla sensibilidade que ja se encontra em movimento. Na esfera académica, essa orientagdo critica tornow-se extrema- mente agucada ¢, nesse sentido, as teéricas feministas exerceram um papel bastante relevante. Ja suas primeiras contribuigées nos fizeram perceber os vieses sutis subjacentes a palavras tais como “humanidade’, “policial € "presidente"; alids, atualmente, muitos 36 Da critica & reconstrugao questionam a representaio masculina de Deus. Outros grupos que também sentem 0 peso opressivo da cultura dominante sobre suas formas de vida juntaram-se as académicas feministas. Hoje, muito deste pensamento critico est também presente nos Estudos Afto-americanos, nos Estudos Orientais, na Teoria Queer’, nos Es- tudos Culturais, entre outros. No préximo capitulo, exploraremos © trabalho especifico do movimento da “educagio critica” QUEM TEM 0 PODER? 0 FSPERMA OU'0 OvULO? Um poderoso exemnplo de tfabalo feminists etico Gncshurase’ndles tudo de Emily Martin sobrecos textos médicos que destrevem's preceseo da fertilizacio humana’ A’ autora observa que a ni Populares segue um padrio de conto de fdas, ‘sperms ativos (08 herdis da’ histria) se esforea lutando contra gran- des adversidades para inyadir a fortaleza e penetrar no Ovulo-Princess, Enquanto isso, a princess permanece, passivarsemte sentads 4 cop do feliz heroico vencedor do combate.'A fertlizacio'é o final feliz bbem-sucedida conquista'€ herd Como tessalta E plicasio biolSgica da fertlizacao agrega autoridade ciemtiica a0 antigo mito cultural do macho poderoso e ative ¢ da fémea passiva e indefesa an dceee ere jetrar nd: 6yuld| passivo. Mas sera ‘mesmo, assim? EmilyMartin:indaga’o-que veriamos'se ncsea histOria retratasse, um exstico Ovulo-S cin dos esperinas ¢ destréit -Svulo:se transforma na'forga’dominante-e nossa correu no video muda completamente... * user Suis na righ. Teoria Queer delende que ogre uma canstudo socal ee, por leno, sidenicades, pap8soaaregdes soni dos indvcuos no slo ura esha igo to relaconados a ua sci tedgeananaluezahura; io aresomassocaimarte ve, ‘tives de deserparhar um ou vis popes sents, De modo geal 2 Teoia Cupar base alt slots feminists baseadasradictaria homam x mulher, dando macrangeo aaa recees0s ‘socos ons qu sexualzam a seca como un odo de oa a etroseoualzar oufoone, semua nsttiies,disousos,dtetos, Nest set, a Teria Quer se dstngue de Selsos gay sis, os cansiera quo essas cura: souls orem nommazadas eo aponsm pea a mudanga social Oalointeresso em estar otavesismo, a arsonusdade a nstenualtads bam como 3 cures sexes ndo-negemtnicas crectezadas pela subnersdo pls rompers ‘omnomas socalnents resis de comporamento sonal ou amcraso (NR) 37 Construcionismo Soci majoria das pessoas no mundo. Nao que isto faga com que esta orienta, seja errada, mas nos permite dar um passo além de nossas certezas ¢ indagar sobre os prés ¢ os contras desta con- cepgdo. © que podemos ganhar com essa forma de construir 0 mundo? O que podemos perder? Quais sio as alternativas? Certamente pode-se dizer muita coisa em favor do individua- lismo, como, por exemplo, que a vida é significativa e importan- te para muitas pessoas, porque elas se sentem amadas, honradas ¢ valorizadas pelo que sao. E, para a maioria de nés, nao existe melhor alternativa a democracia. Ao mesmo tempo, o individu- alismo tem suas desvantagens. Do ponto de vista individual somos instados a ver 0 mundo social como se ele, basicamente, fosse constituido de seres isolados. Aprendemos que nao pode- ‘mos penetrar na mentes dos outros e, assim sendo, nao pode- mos conhecer ou confiar totalmente nos outros. O pressuposto de que cada um esti apenas preocupado consigo mesmo exige um treinamento moral para que passemos a nos preocupar com os demais. A autoavaliagao transforma-se na nensio essencial em torno da qual vivemos nossas vidas, com medo de sermos tratados com desdém, procurando ser sempre melhores do que 0s outros. Num mundo individualista, as relagdes sao relegadas a um segundo plano, porque sao tratadas como artificios que, pro- vavelmente, demandam tempo e que sio essenciais apenas nos casos em que nao somos autossuficientes. E exatamente nesse ponto que as ideias construcionistas vio deslanchar. Se uma determinada constragio do eu ou do mun do vai contra o nosso bem-estar, somos instados a desenvolver alternativas. De fato, a partir da perspectiva construcionista, sto as relagbes, € nao os individuos, que constituem a base da so- 40 Da critica & reconstrugao ciedade, Vamos ampliar esta possibilidade, no porque a visto relacional seja a verdadeira, mas porque, ao entrarmos nessa construgao, podemos promover novas e mais promissoras for- mas de agao. O significado como agao coordenada Geralmente falamos de significado como algo que mora nas men- tes dos indivicuos. Pressupomos que as palavras sejam a expressio ‘externa das elucubragdes internas da mente. Quando perguntamos aalguém “O que voce quer dizer com isso?” esperamos que o in- terlocutor esclarega seus pensamentos privados, Esta concepgio de significado encontra-se prdxima ao cerne da tradigio individualis- tae considera o individuo como a fonte de todo significado. Entre- tanto, além de seu vies individualista, esta concepedo também gera um problema insolivel para 0 entendimento humano, porque, se 0 significado se encontra “dentro da mente do outro” ea tinica pista ‘do que acontece do expresses verbais, umais teremos a capa- cidade de entender 0 outro, Nunca chegaremos a verificar se esta- mos certos ou nao, a nao ser por meio do que o outro externaliza. Contudo, essas externalizagdes nos deixam no mesmo dilema, pois como poderemos saber 0 que significam? Entramos entio no que 08 estudiosos chamam de “circulo hermenéutico”, um intermindvel circulo no qual cada resposta simplesmente cria outra pergunta. A. melhor forma de escapar do circulo é abandonar a construcio de “um mundo interno” onde o significado € criado, Deixamos de nos concentrar no significado dentro da mente e focalizamos a manei- ra pela qual o significado ¢ criado na relagio, Passamos do “entre” para o “dentro” Mas como podemos entender o significado como algo relacional? AL Construcionismo Social Pense em uma animada conversa; para qualquer expressio, hi dezenas de complementos possiveis e significativos. Conforme cla vai se desenrolando, traz um resultado que é uma criagio to- talmente exclusiva, Aqui também é possivel ver 0 valor do jogo. ~ Quando concordamos em brincar ou em passar o tempo nos di- vertindo, dizemos e fazemos coisas que nio so propriamente convencionais. Novas sequéncias sdo geradas... 0 riso corre sol- to... € até mesmo novas percepgaes poderdo ser criadas. O “Eu” relacional Como € ser um ser humano? Qual é4 nossa natureza fundamen- tal? Bstas sio perguntas que nao nos fazemos com frequéncia, Porque mais ou menos pressupomos que nés, seres humanos, somos criaturas que tém a capacidade de tomar decisdes racio. nais, sentir emogGes ¢ desejos, recordar 0 tempo passado, ¢ assim por diante. Contudo, como jé mencionamos anteriormente, essas crengas comuns sé vieram a ter importdncia na cultura ocidental nos tiltimos séculos. Foi somente no século XVII, quando Des- cartes afirmou “Penso, logo existo’, que se tornow patente o fato de mos pensar € que o pensamento era chave para a exis- tencia de uma pessoa. Da mesma maneira, 0 conceito de “senti- mento” apareceu apenas por volta do século XVIII; nesse interim, outras qualidades humanas foram desaparecendo, Por exemplo, que podi de certa forma nos esquecemos da importincia da “melancolia’, tum estado emocional que foi descrito em certo momento como silencio macabro e stibitos acessos de raiva. A melancolia era algo ta0 dbvio no século XVII que Robert Burton escrevew um livro de 500 paginas a respeito de suas causas e curas. A “alma” foi tida como um fato da vida humana por anos, ao paso que hoje mui- tos a consideram um mito, Da mesma forma, nos imos sécu- 44 Da critica & reconstrugéio los, o livre-arbitrio tem sido considerado uma virtude exclu: iva das pessoas, embora para a maioria dos cientistas, cuja visio do mundo é determinista, o livre-arbitrio seja uma evidente ficeao. DOENGA MENTAL COMO DISCURSO DO DEFICIT Voct toma medicamento contra depressio? Conhece algum jovem que tenha sido diagnosticado como portador de TDA (Transtorno do Di fict de Atencio)? A resposta a essas perguntas ver sendo progressiva- mente afirmativa. Contudo, até o século XX, no existiam distirbios mentais com o nome de depressio ou déficit de atengao. E interessante observar que no ano de 1900 havia apenas um punhado de termos que ificavam as doengas “mentais” e, até o ano 2000, os profssionais da saiide ja haviam “descoberto” mais de 400 formas de doenca men- tal. Atualmente, a doenga mental representa am dos maiores gastos na area da satide nas Estados Unidos, ¢ os psicofiirmacos transformaram- nnitio. A medida que o discurso do déficit fica e essas deficiéncias se tornam de conhe-

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