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Raymond Quivy |) | MANUAL DE INVESTIGACAO \s EM CIENCIAS 4 ™ TRAJECTOS 1. ANTES DE SOCRATES — INTROBUCKO. ‘AGESTUDO DA FILOSOHA GREGA Gregory Basson 5, BLEMENTOS DB FiLOSOFIA DA CIENCIA Loonie Geymosat {6 D0 MUNDO FECHADO AO UNIVERSO INAINITO Nlexanée Koysé 11, GEOGRAFIA HUMANA —TEORIAS SUAS APLICACORS {, 0S GREGOS BO IRRACIONAL EDR Dodds 9, OCKEPOSCULO DA IDADEMEDIA EM PORTUGAL [Aste Joes Swraiva 10, ONASCIMENTO DEUMA NOVA FISICA Berna Coen 11. ASDEMOCRACIAS CONTEMPORANEAS ‘rend Lipase 12, ARAZAONAS COISAS HUMANA. Heber Simon 13, PRE-AMBULOS —08 PRIMEROS 16, CONSENSOB.CONELITO Seymour Marts Lipset 17. MANUAL DILINVESTIGAGRO EM CIENCIAS SOCIAS ‘Raymond Quvy e Li Van Campeshoedt 18, NACOESENACIONALISMO Test Gein 19, ANGOSTIA BCOLOGICA EO FUTURO avi Figueiredo 20, REFUBXOES SOBREA REVOLUCAO 21, ASOMBRA —BSTUDO SOBRE ‘XCLANDESTINIDADE COMDNISTA Sons Pacheco Persia 22, DO SABER AO FAZER: PORQUE. ‘ORGANIZARA CIENCIA Jo Curae 23, PARA UMA HISTORIA CULTURAL EH, Gombe 126 AIDENTIDADBROUBADA Sos Carlos Gomes da Siva 25, AMETODOLOGIA DA ECONOMIA ark Blog 26, A VELHA BUROPA EA NOSSA Soques Le Gott 27, ACULTURA DA SUBTILEZA— ‘ASPECTOS DA FILOSOPIA ANALITICA MCS. Loong DALIBERDADE (0, UM PBRIGO PARA, 31. DEMOGRAFIA EDESENVOLVINENTO: ELEMENTOSBASICOS) Adeling Tones “2, oREGRESSO DO POLITICO (Chal Moate 34 NOVAS REGRAS DO mézTODO socioLoaico ety Gildens POLITICAS SOCIAIS BM PORTUGAL, 39, ARQUEOLOGIA —UMABREVE urRODUGAO Paul Baa 40, PRATICAS EMETOBOS DE IRVESTIGAGAOEM CIENCIAS SOCLAIS {Lo Alirella, FrmgalseDignf, Jean Piero Fioraun, Cluiatun Maroy, Danie Rugooy lee de Sain-Georzer 41, A sREPOBLICA VELA» (1910-1917) 42, 05 NOVOS MEDIA EO ESPAGO POBLICO Regia Sats RAYMOND QUIVY LUC VAN CAMPENHOUDT MANUAL DE INVESTIGACAO EM CIENCIAS SOCIAIS ‘TRADUCKO JOAO MINHOTO MARQUES, MARIA AMALIA MENDES E MARIA CARVALHO REVISKO CIENTIFICA, RUT SANTOS, DEPARTAMENTO DE SOCIOLOGIA DA UNIVERSIDADE NOVA DE LISHOA gradiva ‘Titulo original francés: Manuel de rec! © Dunod, Paris, 1995 ‘Tradugio: Jodo Minhoto Marques, Maria Amdlia Mendes Maria Carvalho Revisdo cientifica: Rui Santos Capa: Armando Lopes Potocomposigha: Gradiva Impressio ¢ acabamento: Mane! Barbosa & Filhos, L.* Reservados os direitos para Portugal por: Gradiva ~ Publicagées, L." Rua Almeida e Sousa, 21, re, esq, ~ 1399-041 Lisboa Telefs. 21 397 40 67/8 —21 397 13 57 —21 395 34 70 Fax 21 395 34 7! ~ Bmail: geral@geadiva.mail pt URL: htipswww gradiva pt 42 edligao: Outubro de 2005 Depésito legal n.° 233 090/2005 gradiva Editor: Guilherme Valente Visite-nos na. Internet http://www-gradiva.pt Indice Preficio a 2.' edigio OBIECTIVOS E PROCEDIMENTO 1. Os objectivos ... 1. Obj -Concepsao did 3. alnvestigagion ei 2. 0 procedimento 2.1.Problemas de método (0 caos original... ou trés maneiras de comegar mal) 2.2.As etapas do procediment Prineira etapa APERGUNTA DE PARTIDA Objectives 2.3.As qualidades de pertinéncia zesuino da primelra etapa rhe pa. Trabalho de pica n° 1 formal de ma pert de pa- 3. E se ainda tiver reticéncias... Sequnda etopa A EXPLORACAQ, 49 49 51 37 ST 58 : 61" + Trabalho de aplicagéo n° 67 2, As entrevistas exploratérias 69 2.1.Com quem ¢ atil ter uma ent 4 2.2. Bm que consistem as entrevistas € 2 23.A exploragdo das entrevistas exploratér + Trabalho de aplicagdo n.* 6: realizagio ¢ andlise de entrevistas explorers ome ve 82 3. Métodos exploratérios complementares 83 + Resumo da segunda etapa ....- 85 + Trabalho de aplicagio n= 7: ida 36 Teer ep APROBLEMATICA Objectivos ... 89 1. Dois exemplos de concepgfio de w 90 90 1.1.0 suicidi 1.2.0 ensino .. 2 2. Os dois momentos de uma problemitica 96 2.1.0 primeiro momento: fazer 0 balango e elucid 100 Qvarta capa ‘A CONSTRUGAO DO MODELO DE ANALISE Objectivos ... 1, Dois exemples de construgie do modelo de amilise Porqué as hipéteses? ... 119 120 ey ‘Como proceder coneretamente? 3.1.4 construgdio dos c 3.2.4 construgo das hi + Resumo da quarta eta + Trabatho de aplicago ist 151 ina cape S zg 3 a S 3 : 5 B $ = & : g i 3 z a 2, Observar em quem? O campo de an: unidades de observacio 2.1.0 campo de andlise 1s7 2.2. A amostra.. 159 3. Observar como? Os instrumentos de observagio e a reco- tha dos dados .... 163 3.1. A elaboragdo dos instrumentos de observa 163 3.2.As Urs operagdes da observagio ..... 181, = Panorama dos principais métodos de recolha das informa- 4.4.A reeolha de dados preexistentes: dados secundirios e dados documentais| 205 + Resumo da quinta eta. se rein dc aplcage nT. encengto Gt ObEEGI0 sons 207 Ses pa [AANALISE DAS INFORMACOES Objectivos .. . . a4 1 1. Um exemplo: smeno religioso 2. As trés operacées da anilise das informagbes . 216 24 dos dados: descrever e agrega - 26 219 * 222 . m2 226 3.2.A anilise de contetido .. 3,3. Limites e complementaridade dos plo da field research... 3.4.Um cenirio de investigagio nfo linear 3.5, Exomplos de investigages que aplicam os métodos apresenta- dos . re - + Resumo da sexta etapa + Trabalho de aplicacao n. 233 25 237 . BE 239 243 243 244 Objectives 1. Retrosp: 2. Novos contributos para os conhecimentos 2.1. Novos conhecimentos relatives ao objecto de anili 244 2.2. Novos conhecimentos tebricos .... 245 247 3. Perspectivas pratica UMA APLIGAGAO DO PROCEDIMENTO Objectivos .. 251 1. A pergunta de partida 251 2. A exploragio . 252 2.1. As leitu 252 2.2. As entrevistas explorat 253 3. A problematica .. 257 3.1. Fazer 0 balango 257 3.2. Conceber uma. problemétien 258 4. A construgio do modelo de aniilise . 259 260 : so 261 43. As relagdes enite construgio e ver 262 4.4.A selecgio das unidades de observacio 263 5. A observaciio .. . 264 5.1.0 instrumento de observag 264 5.2. recolba dos dados 267 6. A anilise das informagies 267 6.1.4 medig&o 268 6.2. descrigio dos resultados 268 6.3.A anélise das relagdes entre a taxa de presenga e as razSes para ir as aulas.. 6.4. Acomparagio dos rados a partir da hipétese ¢ 0 exame das diferengas.. 7. As conclusées .. 274 A hipétese esqu 205 itulagio das operagées ... 277 rafia geral ... . 281 Prefacio a 2.° edigéo sta 2.* edigdo esforgémo-nos por nifo alterar a concepeao didactica da obra, O Manual de Investigagao em Ciéncias Sociais permanece resolutamente pratico. Foram feitas muitas correcgdes € modificagées locais em todas as partes do livro. Algumas foram transformadas de alto « baixo. As principais alteragbes so as se- guintes: + Primeiva etapa: a pergunta de partida — supressio de algu- ‘mas passagens que podiam conduzir a mal-entendidos ¢ nova redacgo dos comentirios de determinadas questdes (elaydes entre a investigagio em ciéneias sociais © a entre a descrigdo ¢ a compreensiio dos fenémenos soci + Terceira etapa: a problemética — capitulo quase inte mente recomposto tendo em conta os contributos de obras recentes sobre os modos de explicagiio dos fendmenos sociais; * Quarta etapa: a construgio do modelo de antlise —~ refor- mulagdo das dimensSes do conceito de actor social a partir de investigagées recentes; formagdes — acrescentos sobre a tipologia, a field research, a complementaridade entre métodos diferentes ¢ um cenério de investigago no li- near; + Actualizagdo das diferentes bibliografias © integraglio das bibliografias especi apresentagdes dos métodos de recotha ¢ de anilise das informagées. Estas alteragdes devem muito a varias pessoas, a quem queria- mos assegurar 0 nosso reconhievisnento; Monique Tavernier, p sua ajuda competente ¢ eficaz na preparagdo desta 2." edi Michel Hubert, Jean-Marie Lacrosse, Christian Maroy ¢ Jean Nizet, pelas suas criticas ¢ sugestdes profissionais ¢ amigiveis, Casimiro Marques Balsa, seus colegas da Uni idade Nova de Rui Santos, pelo seu exame pormenoriza- muitos professores, estudantes e investigadores de Franca, Quebeque, Senogal, Bélgica e de outros paises que nos deram a conhecer as suas reacgdes ¢ estimulos. OBJECTIVOS E PROCEDIMENTO 1, OS OBJECTIVOS 1.1. OBJECTIVOS GERAIS A investigagao em ciéncias sociais segue um procedimento andlogo ao do pesquisador de petréleo. Nao é perfurando ao acaso que este encontraré 0 que procura, Peto contrario, 6 sucesso de um. programa de pesquisa petrolifera depende do procedimento segui- do, Primeiro o estudo dos terrenos, depois a perfuraco. Este pro- cedimento implica a participagdo de numerosas competéncias dife- Tentes. Os gedlogos irfio determinar as zonas geogréficas onde é maior a probabilidade de encontrar petréleo; os engenheiros ido conceber processos de perfuragio apropriados, que ido ser aplica- dos pelos técnicos, Nao pode exigir-se ao responsavel do projecto que domine minuciosamente todas as técnicas necessérias. © seu papel espe- cffico seré o de conceber 0 conjunto do projecto e coordenar as operagties com o méximo de coeréncia e eficécia, i sobre ele que recaita a responsabilidade de levar a bom termo o dispositive global de investigagao. No que respeita a investigagao social, o processo ¢ compardvel. Importa, acima de tudo, que o investigador seja capaz, de conceber ¢ de por em pritica um dispositive para a elucidac&o do real, isto & no seu sentido mais lato, um método de trabalho. Este nunca se apresentard como uma simples soma de técnicas que se trataria de aplicar tal ¢ qual se apresentam, mas sim como um percurso global do espitito que exige ser reinventado para cada trabalho. Quando, no decorrer de um trabalho de investigagio social, 0 seu autor se vé confroniado com problemas graves que comprometem © prossegaimento do projecto, raramente isso acontece por razies de ‘ordem estritamente técnica. 18 possivel aprender variadissimas técni- ‘pido, assim como, de qualquer forma, de um especia- cas de um modo bastante solicitar a colaboragfio ou, pelo menos, os consel lista. Quando um investigador, profissional ou pri des dificuldades no seu trabalho, as razSes so quase sempre de ordem metodolégica, no sentido que damos ao termo, Quvimos eno expres- ses invariavelmente ‘tenho a impressio de j& nem saber © que procuron, «niio fago a minima ideia do que hei-de fazer para continuary, «tenho muitos as niio sei 0 que fazer com eles, ou até mesmo, logo de ‘xno sei bem por onde comepar>. dolégicas no se preocupam muito com... 0 método, no seu sentido mais lato. Longe de contribuirem para formar os seus leitores num procedimento global de investigacio, apresentam-se fiequentemente como exposigdes de téenicas particulares, isoladas da reflexio teérica ¢ da concepgio de conjunto, sem as quais ¢ impossivel justificar a sua escolha ¢ dar-Ihes um sentido. Estas obras tém, bem entendido, a sua utilidade para o investigador, mas s6 depois da construgaio metodols- gica, apés esta ter sido validamente encetada, Esta obra foi concebida para ajudar todos os que, no Ambito dos seus estudos, das suas responsabilidades profissionais ou sociais, desejem formar-se em investigacao social ou, mais precisamente, empreender com trabalhos, andlises ou investigagdes cujo objective seja compreen- der mais profundamente e interpretar mais acertadamente os fend- ‘menos da vida colectiva com que se confrontam ou que, por qual- quer raz%o, os interpelam. ?Pelos motivos acima expostos, pareceu-nos que esta obra 86 pode- ria desempenhar esta fungiio se fosse inteiramente concebida como um saporte de formagéio metodolégica, em sentido lato, isto é, como wma formagiio para conceber e aplicar umn dispositivo de elucidagdo do real. Significa isto que abordaremos numa ordem I6gica temas como a formulagio de um projecto de investigagio, 0 trabalho exploratério, & construgiio de um plano de pesquisa ou 0s critérios para a escolba das ‘Porém, ¢ paradoxalmente, as numerosas obras que se dizem meto- técnicas de recolha, tratamento ¢ anilise dos dad 7 los. Deste modo, cada um poderd, chegado 0 momento ¢ com pleno conhecimento de causa, fazer sensatamente apelo a um ou a outro dos numerosos métodos e ties de investigngo, om sentido resto, para elaborr por simes- 10, a partir deles, procedimentos de trabalho correctamente 0 seu projecto. aiepiaos 1.2, CONCEPCAO DIDACTICA No plano ¢ significa que o ras paginas, sero propostas. a0 seu trabalho as recomendagdes que Ihe presenta-se, pois, como um manual cujas dife- rentes partes podem ser experimentadas, seja por investigadores Principiantes isolados, seja em grupo ou na sala de aula, com 0 enquadramento critico de um docente formado em ci No entanto, recomenda-se uma primeira leitura iin trabalhos .e apicato, de mogo que coeréncin globel rocedimenta seja bem apreendida e i das de forma flenve, exten ¢ inventive, een ame ‘Uma tal ambie%o pode patecer uma aposta impossivel: como posstvel propor um manual metodolégico num campo de ‘onde, como ¢ sabido, os dispositivos de pesquisa variai consideravel- 0 1 igacées? Nao existe aqui um enorme risco de peor aime imagem simplista e muito arbitraria da investigagio social? las: Jes, pensamos que este ris Perv res posmos que tri 6 poderia resultar de uma Embora 0 contetido desta obra se apresenta, no entanto, como w mas como uma trama geral e muito aberta, no 4i fora da qual!) podem pér-se em pi os. nas vino peecede mentos conoretos. Se é verdade que contém numerosas sugesties s ¢ exercicios de aplicagio, nem aquelas nem estes arrasta- 6 leitor para uma via metodolbgica precisa ¢ irrevogavel. Este livro foi inteiramente redigido para ajudar o leitor a conceber por si préprio um processo de trabalho, ¢ nao para Ihe impor um determinado processo a titulo de cdnone universal. Nao se trata, -ctamente aplicavel, niio iples colecgfio de receitas, pois, de um «modo de emprego> que implique qualquer aplicagto precanica das suas diferentes etapas. Propde pontos de referéncia tao polivalentes quanto possivel para que cada um possa elaborar vom lucider. dispositivos metodol6gicos proprios em fungzo dos seus objectivos. Com este propésito —e trata-se de uma segunda precaugio—. as piginas desta ubra convidam constantemente: ao recve eritico, de malo que 0 leitor sea regularmente levado a reflect com lueidea obre @ sentido do seu trabalho, 2 medida que for progredindo, As Feflexdes que propomos ao Teitor fundam-se: na nossa experiéncia de cnvestigadores em sociologin, de formadores de adultos ¢ ce docentes, Sho, portanto, forgosamente. subjecivas e inacabadas. Partimos do pressuposto de que o leitorseguiu ou segue paraelamente uaa forma- {do tebrica © goza da possbilidade de diseuts © ser avalide por 6 fivestigador ov uin docente formado em ciéncias socials. Veremes, por outro lado, no decurso desta obra, onde @ como os Feeutsos Prerices intervérn na elaboragHo do dispositive metodol6gico. “Uma investigagio social nifo é, pois, uma sucessio de métodos ¢ téonicas estereotipadas que bastaria aplicar tal © qual se apresen- fam, nuina ordem imutével. A escolhe, a elaboragio e a organiza. {0 dos provessos de trabalho variam com cada investigasso especi- Fea Por isso -—e trata-se de uma terceira precaugio —, a obra est laborada com base em numerosos exemplos reais. Alguns deles Serio varias vezes referidos, de modo a realgarem a coeréncia glo- al de uma investigagio. Nao constituem ideals a atingir, mas sim balizas, a partir das quais cada um poderd dist se ¢ siluar-se, ‘nalmente —‘tiltima precaugiio—-, este livro apresenta-se, explicitamente, como um manual de formaglo. Bsté construsdo em Fungo de uma ideia de progressiio na aprendizagem. Por conse- guinie, compreender-se-f imediatamente que o significado ¢ 0 inte. Fosse destas diferentes etapas nao podem ser correctamente avalia- Toe se forem retiradss do seu contexto global. Umas so mais téonicas, outras mais crfticas. Algumas ideias, pouco aprofundadas ho infcio da obra, sio retomadas ¢ desenvolvidas posteriormente outtos contextos, Certas passagens contém recomendaghes fine damentadas; outras apresentam simples sugestdes ou um Jeque de possibilidades. Nenhuma delas dé, por si 36, uma imagem do dis- positive global, mas cada uma ocupa nele um lugar necessétio. 1.3, «INVESTIGACAO» EM «CIENCIAS» SOCIAIS? No dominio que aqui nos oct ili werent somos foadcs«inchi-ooe net sos at plan envealipgion a «ciéncia» com uma certa ligeireza e nos sentidos mais elfstcos, Fale, pe ee, de «investigacZo cientifiea» para qualificar as eee , os estudos de mercado ou os diagnésticos mais 5 porque foram efectuados por um servigo ou por um cent de investigacio universtirio, Dé-se a entender aos estucantes d : meiro nivel do ensino superior, ¢ mesmo 20s dos tiltimos oe do ensino secundario, que as suas aulas de métodos e técnicas de in ~ tigagdo social os tomar aptos a adoptat um «procedimento cient. ce eg desde logo, a prod ‘um «conhecimento cientffico», quando, m vee ale é muito dificil, mesmo para um investigador profissional periéneia, produzir conhecimento verdadeiramente nov faga progredir a sua disciplina. eae one aue 6 que, na melhor das hipéteses, se aprende de facto no esta ate é gel “ado como trabalho de «inves- {eect em eign lag soci is»? A compreender melhor os significa- dos de um aeontecinenio ou de uma cond, fe intigente- mente 0 ponto da situagio, a captar com maior perspicécia as gicas de funcionamento de uma organizagao, a reflectiracertada- aetreenee as implica de uma decisao politica, ou ainda a mais nitidez como determinadas j dem um prot isivei indatmentos das ge um bln ©» amt vss algns ds finan dis Tudo isto merece que nos detenhamos e que adquiramos essa a formagio ¢ a imaginago do «investigador» e as precaugdes de ave ge a para levar a cabo as suas investigagdes. Este trabalho recioso € contribuir muito para a lucie a lucidez. dos actor sociais acerca das praticas de que s& re 0 {0 autores, ou sobre os aconte- cimentos ¢ os fendmenos que tesemuntam, mas nao se deve ai -lhe um estatuto que nao Ihe é apropriado. sta obra, embora possa apoiar determinados leitores empenha- dos em investigagdes de uma certa envergadura, visa sobretudo ajudar os que tém ambigdes mais modestas, mas que, pelo menos, gxtiio decididos a estudar os fendmenos sociais com uma preocu- pagiio de autenticidade, de compreenséo e de rigor metodol6gico. ‘Em ciéncias socials temos de nos proteger de dois defeitos opostos: um cientismo ingénuo que consiste em crer na possibli- dade de estabelecer verdades definitivas e de adoptar um rigor anélogo a0 dos fisicos ou dos bidlogos, ou, inversamente, um copticismo que negaria a ptépria possibilidade de conhecimento ientifico, Sabemos simultaneamente mais ¢ menos do que por vezes deixamos entender. Os nossos conhecimentos constrocm-se com 0 apoio de quadtos tedricos ¢ metodolégicos explicitos, len- tamente elaborados, que constituem um campo pelo menos par~ cialmente estruturado, © esses conhecimentos stio apoiados por observagiio dos factos concretos. : ; we esas Stidades de autenticidade, de curiosidade e de rigor que queremos dat relevo nesta obra. Se utilizamos os termos «in- Vestigagdion, «investigadom» e «ciéncias sociais» para falar tanto dos trabalhos mais modestos como dos mais ambiciosos, é por uma questo de facilidade, porque nfo vemos outros mais convenientes, mas é também com a consoiéncia de que so frequentemente exces sivos. 2. 0 PROCEDIMENTO 2.1. PROBLEMAS DE METODO (o caos original... ou trés ‘maneiras de comegar mal) ‘No inicio de uma investigaglio ou de um trabalho, 0 cendrio € uase sempre idéntico. Sabemos vagamente que queremos estudar tal ou tal problema —por exemplo, o desenvolvimento da nossa propria regio, o funcionamento de uma empresa, a introdugo das hovas tecnologias na escola, a emigrago ou as actividades de uma associagio que frequentamos —, mas nfo sabemos muito bem ‘como abordar a questo. Desejamos que este trabalho seja ditil ¢ resulte em proposigdes concretas, mas temos a sensago de nos perdermos nele ainda antes de 0 termos realmente comegado. Eis aproximadamente a forma como comeya a maior parte dos traba- thos de estudantes, mas também, por vezes, de investigadores, nos dominios que dizem respeito aquilo a que costumamos chamar as «cigneias sociaisy, Este caos original nio deve ser motivo de inquictagao; pelo contrério, é a marca de um espirito que nao se alimenta de simplismos ¢ de certezas estabelecidas. O problema consiste em sair dele sem demorar demasiado ¢ em fazé-lo em nosso proveito, Para o conseguirmos, vejamos primeiro aquilo que nfio deve- mos de forma alguma fazer... mas que, infelizmente, fazemos com frequéncia: a fuga para a frente. Fsta pode tomar varias formas, das quais s6 iremos aqui abordar as mais frequentes: a gula livresca ou estatistica, a «passagem as hipéteses ¢ a énfase que obscurece. Se nos detemos aqui sobre o que nao devemos fazer, é por termos visto demasiados estudantes e investigadores principiantes precipi- tarem-se desde o inicio para os piores caminhos. Ao dedicar alguns minutos a ler estas primeiras paginas, o leitor pouparé talvez algu- mas semanas, ou mesmo alguns meses, de trabalho extenuante e, em grande parte, initil. a) A gula livresca ou estatistica Como 0 nome indica, a gula livresca ou estatistica consiste em encher a cabega» com uma grande quantidade de livros, artigos ‘ou dados numéricos, esperando encontrar af, ao virar de um paré- grafo ou de uma curva, a luz que permitiré enfim precisar, correc- tamente de forma satisfatéria, o objectivo ¢ o tema do trabalho que se deseja efectuar. Esta atitude conduz invariavelmente a0 desalento, dado que a abundancia de informagSes mal integradas acaba por confundir as ideias. Seré entiio necessdrio voltar atrés, reaprender a reflectir, em vez de devorar, a ler em profundidade poncos textos cuidadosamente escolhidos © a interpretar judiciosamente alguns dados estatisticos particularmente eloquentes. A fuga para a frente no 86 é initil, mas também prejudicial, Muitos estudantes abandonam os seus ———————E_ © projectos de trabalho de fim de curso ou de tese por os terem iniciado desse modo. ; i muito mais gratificante ver as coisas de outra forma e consi- derar que, bem compreendida, a lei do menor esforgo 6 uma regra essencial do trabalho de investigacdo, Consiste em procurar sempre tomar o caminho mais curto e mais simples para o melhor resul- tado, o que implica, nomeadamente, que nunca se inicie um traba- Iho importante sem antes reflectit sobre 0 que se procura saber e a forma de 0 conseguir. . Quem se sentir visado por estas observagdes nfo deve deses- perar, Bastar-ihe-4 simplesmente descongestionar 0 cérebro e dese maranhar a meada de ntimeros ou de palavras que o asfixia impede de fancionar de forma ordenada e criativa, Pare de acumu- ar sem método informagées mal assimiladas ¢ preocupe-se primei- ro com o seu procedimento. b) A «passagem as hipéteses Aqui esti uma outra forma diferente de fuga para a frente. Os jogadores de bridege sabem bem 0 que é uma «passagem>. Em vez de jogat primeizo o 4s e assegurar assim a vaza, o terceiro jogador tenta ganhar 0 ponto com a dama, esperando que 0 quarto no tenha o rei. Se a jogada resultar, o jogador ganha a Vaza e conserva o 4s, Uma tal aposta ndo se justifica em investi- gagho, onde € absolutamente necessério assegurar cada ponto € realizar cuidadosamente as primeiras etapas antes de pensar nas seguintes. ; ‘A. «passagem» as hipéteses consiste precisamente em precipi- tarse sobre a recolha dos dados antes de ter formulado hip6teses de investigagdo — voltaremos adiante a esta nogiio — e em preo- cupar-se com a escolha ¢ a aplicagio pratica das técnicas de inves- tigagfo antes mesmo de saber exactamente aquilo que se procura to, para o que irao servir. . Oo é mayo ouvir um estudante declarar que tenciona fazer um inquétito por questionério junto de uma dada populagto quendo nfo tem nenhuma hipétese de trabalho e, para dizer a verdade, nem sequer sabe 0 que procura, $6 € possivel escother uma técnica de pesquisa quando se tem uma ideia da natureza dos dados a re- colher, 0 que implica que se comece por definir bem o projecto. Esta forma de fuga para a frente 6 corrente, sendo encorajada pela crenga segundo a qual a utilizago de técnicas de investigago consagradas determina o valor intelectual e o cardcter cientffico de um trabalho, Mas que utilidade tem a aplicago correcta de técni- cas experimentadas se estas estiverem ao servigo de um projecto vago ¢ mal definido? Outros pensam que basta acumular um mé- ximo de informagSes sobre um assunto e submeté-las a varias técnicas de anélise estatistica para descobrir a resposta As suas perguntas, Afundam-se, assim, numa armadilha cujas consequén- cias podem cobri-los de ridiculo. Por exemplo, num trabalho de fim de curso um estudante tentava descobrir quais os argumentos mais frequentemente empregues por um conselho de wrma para avaliar a capacidade dos estudantes. Tinha gravado todas as discus- sdes dos docentes durante 0 conselho de turma de fim de ano e, ap6s ter introduzido tudo num ficheiro de computador, havia-o submetido a um programa de anélise de conteddo ‘altamente sofis- ticado. Os resultados foram inesperados. Segundo o computador, ‘os termos mais empregues para julgar os alunos eram palavras como «e>... cde»... «heim... «capaz>... «mas»... etc! ©) A énfase que obscurece . Este terceiro defeito & frequente nos investigadores princi piantes que esto impressionados ¢ intimidados pela sua recente passagem pela frequéncia das universidades ¢ por aquilo que pensam ser a ciéneia, Para assegurarem a sua credibilidade jul- ‘gam ser Gitil exprimirem-se de forma pomposa ¢ ininteligivel e, na maior parte das vezes, nfo conseguem evitar raciocinar da mesma maneira. Duas caracteristicas dominam os seus projectos de investigagto ou de trabalho: a ambiglo desmedida e a mais completa confusio. Umas vezes parece estar em causa a reestruturagao industrial da sua regiflo; outras, o futuro do ensino; outras ainda é nada menos do que 0 destino do Terceiro Mundo que parece jogar-se nos seus poderosos cérebros. Estas declaragées de intengao exprimem-se numa gitia, to oca ‘quanto enfitica, que mal esconde a auséncia de um projecto de investigagiio claro ¢ interessante. A primeira tarefa do orientador deste tipo de trabalho seré ajudar 0 seu autor a assentar os pés na terra ¢ a mostrar mais simplicidade e clareza. Para vencer as suas oventuais reticéncias & necessétio pedir-the sistematicamente que defina todas as palavias que emprega © que explique todas as frases que formula, de modo que rapidamente se dé conta de que ele proprio nfio percebe nada da sua algaraviada. ‘Se pensa que estas consideragées se Ihe aplicam, esta tomada de consciéncia, por si 86, pé-lo-4 no bom caminho, dado que uma carac- teristica essencial — ¢ rara — de uma boa investigagao é a autentici- dade, Neste dominio que nos ocupa, mais do que em qualquer outro, iio ha bom trabalho que nao seja uma procura sincera da verdade. Nao a verdade absoluta, estabelecida de uma vez por todas pelos dogmas, mas aquela que se repée sempre em questo e se aprofunda ineessan- femente devido ao desejo de compreender com mais justeza a reali- dade em que vivemos e para cuja produgdo contribuimos. Se, pelo contririo, pensa que nada disto lhe diz. respeito, faga- -se, mesmo assim, 0 pequeno favor de explicar claramente as palavras ¢ as frases que jé tenha eventualmente tedigido sobre um trabalho que inicia. Pode honestamente afitmar que se compreende bem a si mesmo € que os seus textos nao contém expresses imi- tadas ¢ declaragées ocas € presungosas? Se assim é, se possui a autenticidade e o sentido das proporgées, entiio, e 86 entio, & pos- sivel que o seu trabalho venha a servir para alguma ‘Apés termos examinado vérias maneiras de comegar mal, vejamos agora como & possivel proceder de forma vélida a um trabalho de investigago e assegurar-Ihe um bom comego. Com a ajuda de esquemas, referiremos primeiro os principios mais impor- tantes do procedimento cientifico ¢ apresentaremos as etapas da sua aplicagao pritica, 2.2, AS ETAPAS DO PROCEDIMENTO Fundamentalmente, © problema do conhecimento cientifico pOe-se da mesma maneira para os fendmenos sociais ¢ para os fenémenos naturais: em ambos os casos hé hipéteses tedricas que devem ser confiontadas com dados de observagio ou de experi- mentagao. Toda a investigagio deve, portanto, responder a alguns princfpios estaveis ¢ idénticos, ainda que vérios percursos diferen- tes conduzan a0 conhecimento cientifico. jm procedimento é uma forma i objectivo. Expor o procedimento ci ico cores cee am deserever os prinefpi trabalho de inv formalizagées particulares do procedimento, percursos diferentes concebidos para estarem mais adaptados eos fendmenos ou domi- ios estudados. Mas esta adaptago no dispensa a fidelidade do investigador 208 principios fundamentais do procedimento cientifico. Ao dar mais relevo ao procedimento do que aos métodos par- ticulares, a nossa formulaggo tem, assim, um alcance geral e pode aplicar-se a todo 0 tipo de trabalho cientifico em ciéncias sociais. Mas quais so esses principios fiundamentais que toda a investiga. go deve respeitar? Gaston Bachelard resumiu 0 processo cientifico em algumas «O facto cientifico é conquistado, consiruido e verifi- — Conquistado sobre os preconceitos; —Construfdo pela razio; — Verificado nos factos A mesma ideia estrutura toda a obra Le métier de deP. Bourdieu, J.C. Chamboredon eI. C, Passeron (Paris, Mecwe Bordas, 1968). Nela os autores descrevem 0 procecimento como um proceso em trés actos cuja ordem deve ser respeitada. E aquilo a que chamam «hierarquia dos actos epistemolégicosn. Estes trés aces so a ruptura, @ construgo ¢ a verificagao (ou experimenta- ko). O objectivo deste manual é o de apresentar estes princi procedimento cientifico em ciéncias sociais sob a ‘orma Mea etapas a percorrer. Em cada uma delas so descritas as operagdes ‘© empreender para atingir a seguinte e progredir de um acto para © outro, Ou seja, este manual apresenta-se como uma pega de teatro clAssica, em trés actos ¢ sete cenas. ‘O esquema da pagina seguinte mostra a correspondéncia entre actapa ¢ 0s actos do procedimento, Por razdes didécticas, os actos © as ctapas so apresentados como operagdes separadas e numa ordem sequencial, Na reslidade, uma investigacdo cientifica nio tio mecénica, pelo que introduzimos no esquema circuitos de retroacgo para simbolizar as interacgBes que realmente existem entre as diferentes fases da investigagZo. @) Os trés actos do procedimento Para compreender a articulagdo das etapas de uma investigagzo com os trés actos do procedimento cientifico & necessitio dizer primeiro algumas palavras sobre os principios que estes trés actos encerram e sobre a l6gica que os une. A ruptura Em cigneias sociais, a nossa bagagem supostamente «tebrica» comporta numerosas armadithas, dado que uma grande parte das nossas ideias se inspiram nas aparéncias im ‘ou em posigdes parciais. Frequentemente, nfio mais do que ilusdes e preconceitos. Construir sobre tais premises equivale a construir sobre areia. Daf a importiincia da ruptura, que consiste precisamente em romper com os preconceitos ¢ as falsas evidéncias, que somente nos dio a ilusdo de compreendermos as coisas. A ruptura ¢, pottanto, o pri- ‘meiro acto constitutivo do procedimento cientifico. A construgio sta ruptura s6 pode ser efectuada a partir de um sistema ‘conceptual organizado, susceptivel de exprimir a l6gica que 0 in- vestigador supe estar na base do fenémeno. & gragas a esta teoria que ele pode erguer as proposigdes explicativas do fenémeno a estudar e prever qual o plano de pesquisa a definit, as operagdes a aplicar e as consequéncias que logicamente devem esperar-se no AS ETAPAS DO PROCEDIMENTO [Etapa 1 — A pergunta ce partida Etapa 2—~ A exploragfio exploratérias Etapa 3~ A problemética CONSTRUGAO J Etapa 4— A construgo do modela de anilise VERIFICAGAO Erapa 6 — A andlise das informagdes Etapa 7 — As conclusies termo da observagiio. Sem esta construgio teérica no haveria experimentagao valida. Nao pode haver, em ciéncias sociais, veri- ficagdo frutuosa sem construgao de um quadro teérico de referén- cia. Nao se submete uma proposicao qualquer ao teste dos factos. As proposigdes devem ser 0 produto de um trabalho racional, fundamentado na légica e numa bagagem conceptual validamente constituida (J.-M. Berthelot, "Intelligence du social, Patis, PUP, 1990, p. 39). A verificagao Uma proposigdo s6 tem direito ao estatuto cientifico na medida em que pode ser verificada pelos factos. Este teste pelos factos & designado por verificago ou experimentacio. Corresponde ao ter ceiro acto do proceso. 5) As sete etapas do procedimento Os trés actos do procedimento cientifico nao siio independentes uns dos outros. Pelo contririo, constituem-se mutuamente, Assim, por exemplo, a ruptura nao se realiza apenas no inicio da investi- gagdio; completa-se na ¢ pela construc, Esta nao pode, em contra- partida, passar sem as etapas iniciais, principalmente consagradas & mptura. Por seu tumo, a verificago vai buscar o seu valor A qualidade da construgo. No desenvolvimento concreto de uma investigagio, os trés actos do procedimento cientifico sao realizados ao longo de uma suces- siio de operagdes, que aqui s4o reagrupadas em sete etapas. Por raz6es didécticas, o esquema anteri gue de forma precisa as etapas umas das outras. No entanto, circuitos de retroacglio lem- bram-nos que estas diferentes etapas esto, na realidade, em perma- nente interacgéio. Nao deixaremos, alias, de mostré-lo sempre que possivel, uma vez que este manual dard especial relevo ao encadea- mento das operagdes ¢ a I6gica que as liga. PRIMEIRA ETAPA A PERGUNTA DE PARTIDA AS ETAPAS DO PROCEDIMENTO Etapa 2—A exploragio As leituras, (ess ta Etapa 3 — A problemstica Etapa 4— A construgio do modelo de anise Etapa 5 — A observagiio Etapa 6 — A anflise das informagdes Etapa 7 —— As conclusbes OBJECTIVOS primeiro problema que se poe 0 investigador é muito sim- plesmente o de saber como comegar bem o seu trepalho. De facto, nao € facil conseguir traduzir o que vulgarmente se apresenta como um foco de interesse ou uma preocupagao relativamente vaga num. projecto de investigagio operacional. O receio de iniciar mal o trabalho pode levar algumas pessoas a andarem as voltas durante bastante tempo, a procurarem uma seguranga ilus6ria numa das formas de fuga para a frente que abordémos, ou, ainda a renun- ciarem pura e simplesmente 20 projecto. Ao longo desta etapa mostraremos que existe uma outra solugdo para este problema do arranque do trabalho, A dificuldade de comegar de forma vélida um trabalho tem, frequentemente, origem numa preocupagio de faz8-lo demasiado bem e de formular desde logo um projecto de investigagao de forma totalmente satisfat6ria. E um erro. Uma investigagio é, por definigao, algo que se procura. & um caminhar para um melhor conhecimento ¢ deve ser aceite como tal, com todas as hesita- Ges, desvios ¢ incertezas que isso implica. Muitos vivem esta realidade como uma angiistia paralisante; outros, pelo contratio, reconhecem-na como um fenémeno normal e, numa palavra, est mulante, Por conseguinte, o investigador deve obrigar-se a escolher rapi- damente um primeiro fio condutor to claro quanto possivel, de | | | | 2. OS CRITERIOS DE UMA BOA PERGUNTA DE PARTIDA ‘Traduzir um projecto de investigagio sob a forma de uma per- gunta de partida s6 seré formulada, Isto nfo € necessari pois uma boa per- gunta de purtidaweve precucher varias condigdes. Bm vez de apre- sentar imediatamente estas condigdes de forma abstracta, é profe- com formas correntes, Este exame permitir-nos-4 refl critérios de uma boa pergunta e 0 significado profundo desses critérios. O enunciado de cada pergunta sera seguido de um co- mentério eritico, mas seria preferivel que cada um discutisse por si mesmo estas perguntas, se possivel em grupo, antes de ler, mais ou menos passivamente, 0s nossos comentérios. ‘Ainda que os exemplos de perguntas apresentados Ihe paregam muito claros, até mesmo demasiado claros, e que as recomendagdes propostas Ihe paregam evidentes e elementares, nfo deixe de levar a sério esta primeira etapa. Aquilo que pode ser fécil quando um ctitério & apresentado isoladamente sé-lo-4 muito menos quando se tratar de respeitar © conjunto destes critérios para uma tinica per- gunta de a sua, Acrescentemos que estes exemplos niio sao puras invengSes da nossa parte, Ouvimo-los todos, por vezes sob formas muito ligeiramente diferentes, da boca de estudantes. Se, insatisfatdrias sobre as quais trabalhémos com eles, acabimos por refer aqui apenas sete, € porque elas siio bastante representativas das falhas mais conrentes e porque, juntas, cobrem bem os objectivos pretendidos. tivas espontineas. Neste sentido, a pergunta de partida constitu normalmente um primeiro meio para pér em prética uma das dimen- do processo cientifico: a ruptura com os preconceitos ¢ as nogées prévias. Voltaremos a este ponto no fim do exer ‘O conjunto das qualidades requeridas pode resumir-se em algu- ‘mas palavras: uma boa pergunta de partida deve poder ser tratada. Isto significa que se deve poder trabalhar eficazmente a pattir dela e, em particular, deve ser possivel forecer elementos para Ihe responder. Estas qualidades tém de ser pormenorizadas, Para esse eftito, procedamos ao exame critico de sete exemplos de perguntas, 2.1. AS QUALIDADES DE CLAREZA _As qualidades de clareza dizem essencialmente respeito a pre~ cisio € A concisto do modo de formular a pergunta de partida. Pergunta 1 Qual ¢ © impacto das mudangas na organizagio do espaco urbano sobre a vida dos habitantes? me Comentério idades de deslocagio? As suas disposigdes psicolégicas? Po- derfamos faciimente alongar a lista das interpretagées. possiveis desta pergunta demasiado vaga, que informa muito pouco acerca das intengdes precisas do seu autor, se € que estas 0 sio. Conviré, portanto, formular uma pergunta precisa cujo sentido nao se preste a confuses. Seré muitas vezes indispensavel definir claramente os termos da pergunta de partida, mas é preciso pri- meiro esforgar-se por ser o mais limpido possivel na formulago da propria pergunta, Existe um meio muito simples de se assegurar de que uma pergunta é bastante precisa, Consiste em formul-la diante de um pequeno grupo de pessoas, evitando comenté-la ou expor 0 sett sentido, Cada pessoa do grupo ¢ depois convidada a explicar como compreendeu a pergunta. A pergunta sera precisa se as intexpreta- ges convergirem ¢ corresponderem a intengo do seu autor. Ao proceder a este pequeno teste em relagiio a varias pergu diferentes, depressa observard que uma pergunta pode ser pr ¢ compreendida da mesma forma por todos sem estar por isso limitada a um problema insignificante ou muito marginal. Consi- deremos a seguinte pergunta: «Quais so as causas da dimi dos empregos na indistria vali’ no decurso dos anos 80 pergunta é precisa no sentido de que cada um a comp! mesma forma, mas cobre, no entanto, um campo de andlise muito vasto (0 que, como veremos mais a frente, colocard outros proble- mas). Uma pergunta precisa nao é, assim, o contrario de uma pergunta ampla ou muito aberta, mas sim de uma pergunta vaga ou impre- cisa, No encerta imediatamente o trabalho numa perspectiva restritiva © sem possibilidades de generalizagio. Permite-nos sim- plesmente saber aonde nos dirigimos e comunicé-lo aos outros. Resumindo, para poder ser tratada, uma boa pergunta de partida tera de ser precisa, Pergunta 2 Em que medida o aumento das perdas de empregos no sector da construgio explica a manutengio de grandes projectos de trabalhos pablicos, destinados niio sé a manter este sector, mas também a diminuir os riscos de conflitos sociais inerentes a esta situagio? Comentério Esta pergunta é demasiado longa e desordenada. Contém supo- sigdes e desdobra-se no fim, de tal forma que ¢ dificil perceber bem © que se procura compreender prioritariamente. B preferivel formu- lar a pergunta de partida de uma forma univoca e concisa para que possa ser compreendida sem dificuldade ¢ ajudar o seu autor a perceber claramente 0 objective que persegue, Resumindo, para poder ser tratada, uma boa pergunta de partida teri de ser univoca e to concisa quanto possivel. "Da Valénia, regio francéfona da Bélgiea. (W. do T.) 2.2, AS QUALIDADES DE EXEQUIBILIDADE idade esto essencialmente ligadas a0 cardcter realista ou irrealista do trabalho que a pergunta deixa entrever, Pergunta 3 Os dirigentes empresariais dos diferentes paises da Comunidade Europeia tém uma percepgio idéntica da concorréncia econdmica dos Estados Unidos ¢ do Japio? Comentario Se puder dedicar pelo menos dois anos inteiros a esta investi- gagdo, se dispuser de um orgamento de varios milhdes ¢ de colabo- tadores competentes, eficazes e poliglotas, terd, sem divida, algu- mas hip6teses de realizar este tipo de projecto e de obter resultados suficientemente pormenorizados para terem alguma utilidade. Se nio, € preferivel restringir as suas ambigdes Ao formular uma pergunta de partida, um investigador deve assegurar-se de que 0s seus conhecimentos, mas também os seus recursos em tempo, dinheito ¢ meios logisticos, Ihe permititao obter elementos de resposta vélidos. O que é coneebivel para um centro de investigagio bem equipado e para investigadores com experigncia nfo o é forgosamente para quem nao dispde de recur sos comparaveis. Os investigadores principiantes, mas por vezes também os pro- fissionais, subestimam quase sempre as restrigdes materiais, parti- cularmente as de tempo, que os seus projectos de investigagao implicam. Realizar as i ias a um inquérito ou a entre- vistas, constituir uma amostra, decidir as pessoas-chave que podem dar apoio, organizar reunides, encontrar documentos uiteis, ete, podem devorar a partida uma grande parte do tempo © dos meios consagrados a investigagao. Em consequéneia, uma boa parte das informagées recolhidas ¢ subexplorada ¢ a investigagao termina num sprint angustiante, durante o qual nos expomos a crros e negligéncias. Resumindo, para poder ser tratada, uma boa pergunta de partida deve ser realista, isto &, adequada aos recursos pessoais, materiais e técnicos, em cuja necessidade podemos imediatamente pensar e com que podemos razoavelmente contat. 2.3. AS QUALIDADES DE PERTINENCIA As qualidades de pertinéncia dizem respeito ao registo (expli- cativo, normativo, preditivo...) em que se enquadra a pergunta de partida, Procedamos, também aqui, ao exame critico de exemplos de perguntas semelhantes as que encontramos frequentemente no inf- cio de trabalhos de estudantes. Pergunta 4 A forma como 0 fisco esté organizado no nosso pats & social- mente justa? Comentério Esta pergunta no tem, evidentemente, como odjectivo analisar 6 funcionamento do sistema fiscal ou o impacto da maneira como ele & concebido ou levado a cabo, mas sim julg4-lo no plano moral, © juizo de valor € muito usual e nem sempre é fécil de detectar. De uraa maneira geral, podemos dizer que uma pergunta é moralizadora quando a resposta que Ihe damos s6 tem sentido em relag&o ao sistema de valores de quem a formula. Assim, a res- mente diferente consoante a pessoa que responde ache que a justiga consiste em fazer cada um pagar uma quota- -parte igual A dos outros, sejam quais forem os seus rendimentos (como € 0 caso dos impostos indirectos), uma quota-parte propor- cional aos seus rendimentos ou uma quota-parte proporcional- mente mais importante & medida que forem aumentando os seus rendimentos (a taxa progressiva aplicada nos impostos directos). Esta dltima formula, que alguns considerario justa por contribuir pata atenuar as desigualdades econémicas, ser4 julgada absoluta- mente injusta por quem considere que, assim, o fisco Ihe extorque bastante mais do que aos outros do fruto do seu trabalho ou da sua habilidade. Os Lagos entre a investigagZo social e o julgamento moral so, evidentemente, mais estreitos ¢ mais complexos do que este sim- ples exemplo deixa supor, mas ndo é este o lugar para os aprofundar. © facto de um projecto responder a uma preocupagio de fcter ético e politico (como contribuir para resolver problemas sociais, para instaurar a motivagao do pessoal de uma empresa, para ajudar a conceber um plano de renovagao urbana...) nfo é, em si, um problema, Longe de dever ser evitada, esta preocupagao de pertinéncia prética com uma intengao ética deve ser encorajada, sob pena de produzir investiga- bes desprovidas de sentido e que const la com rigor, pelo menos desde que o icar as opgdes subjacentes e controlar as ¢ de o enfrentarem mais explicitamente do que outras disciplinas. Acresce que uma investigagdo realizada com tigor € cuja problemé- tica € construida com inventividade (v. quarta etapa) evidencia os desafios éticos ¢ normativas dos fenémenos estudados, de maneira anéloga aos trabalhos dos biélogos, que poem revelar desafios eco- égicos. Deste modo, a investigago social cumpre o seu verdadeiro papel e 0 conhecimento por cla produzido pode inscrever-se no proces- so mais englobante de um verdadeiro pensamento. Enfim, tal como foi bem demonstrado por Marx (L’Idéologie allemande), Durkheim (Les formes élémentaires de la vie religieuse) ox Weber (L'Ethique protestante et esprit du capitalisme), os sistemes de valores ¢ de normas fazem parte dos objectos pr porquanto a vida coleo- tiva € incompreenstvel fora Resuminco, se o investigador deve esforgar-se por pensar nos lagos entre 0 conhecimento, 0 ético ¢ 0 politico, também deve evitar as confusdes entre os registos e, durante o trabalho de inves- tigagdo, abordar o real em termos de andlise, e n&io de julgamento moral. Trata-se, alis, de uma condigao da sua credibilidade e, por conseguinte, em iltima andlise, do impacto ético e politico dos seus trabalhos. ‘Tal nfo é forgosamente simples, pois, tanto na vida corrente 10 sccundario, esses registos sfio regularmente confundidos. Considera-se, por vezes, de bom tom terminar os trabalhos ou as dissertagdes com um pequeno toque morelizador, destinado tanto & edificagdo ética dos leitores como a conveneé-los de que se tem bom coracdo. Também aqui a ruptura com os preconceitos e os valores pessoais é fundamental. Resumindo, uma boa pergunta de partida nfo deveré, ser mora- lizadora, Nao procuraré julgar, mas sim compreender. Pergunta 5 Ser que os patrdes exploram os trabalhadores? Comentirio Fsta pergunta 6, na realidade, uma afalsa pergunta, ou, por outras, palavras, uma afirmagio disfargada de pergunta. E evidente que, na mente de quem a fez, a resposta é @ priori, «sin» (ou «niio»). Serd, alids, sempre possivel responder-the afirmativamente, como também é possivel «provar» que, inversamente, os trabalhadores exploram os patrdes. Basta para isso seleccionar cuidadosamente os critérios e os dados adequados ¢ apresenté-los da forma que convém. ‘As més perguntas de pattida deste tipo stio abundantes. A que se segue é um exemplo suplementar, ainda que menos nitido: «Seré a fraude fiscal uma das causas do défice orgamental do Estado?» ‘Também aqui é fécil imaginar que o autor tem, & partida, uma ideia bastante precisa da resposta que, custe 0 que custar, tenciona dar a esta pergunta, oo O exame de uma pergunta de partida deve, portanto, incluir uma reflexio sobre a motivagdo e as intengdes do autor, ainda que nao possam ser detectadas no enunciado da pergunta, como 0 caso do nosso exemplo, Convira, nomeadamente, definir se 0 seu objectivo 6 de conhecimento ou, pelo contrério, de demonstragio, O esforgo a despender para evitar formulagdes tendenciosas da pergunta de partida, tal como os debates que poder ter sobre este assunto, podem contribuir de um modo eficaz para um recuo das ideias preconcebicias. ‘Uma boa pergunta de partida serd, portanto, uma «verdadeira pergunte», ou scja, uma pergunta «abertan, 0 que significa que devem poder ser encaradas a priori vérias respostas diferentes ¢ que no se tem a certeza de uma resposta preconcebida. Pergunta 6 Que mudangas afectariio a organizagao do ensino nos préximos vinte anos? Comentério O autor de uma pergunta como esta tem, na realidade, como Projecto proceder a um conjunto de previsées sobre a evolugiio de um sector da vida social. Alimenta, assim, as mais ingénuas ilusdes sobre o alcance de um trabalho de investigagdo social. Um astré- homo pode prever com muita antecedéncia a passagem de um cometa nas proximidades do sistema solar, porque a sua trajectori responde a leis estiveis, as quais ndo pode furtar-se por si proprio. Isto nfio acontece no que respeita as actividades humanas, cujas orientagdes munca podem ser previsias com certeza. Podemos, sem cuivida, afirmar, sem grande risco de nos enga- harmos, que as novas tecnologias ocupario um lugar cada vez maior na organizagio das escolas e no contetido dos programas, mas somos incapazes de formular previsdes seguras que transcen- dam este tipo de banalidades. Alguns cientistas particularmente cl conseguem antecipar os acontecimentos e pressagiar o sentido pro- vavel de transformagdes préximas melhor do que o faria o comum dos mortais. Mas estes pressentimentos raramente se referem a acontecimentos precisos ¢ apenas sfio concebidos como eventua- lidades. Baseiam-se no seu profundo conhecimento da sociedade, identes ¢ informados tal como hoje funciona, e nfo em prognésticos fantasistas que nunca se verificam, a no ser por acaso : ‘Significard isto que a investigagiio em ciéncias sociais nada tem a dizer quanto ao futuro? Certamente que nao, mas o que ela tem a dizer depende de outro registo. Com efeito, uma investigagaio bem conduzida permite captar os constrangimentos ¢ as légicas que determinam uma sitvago ou um problema, assim come dis- cemir a margem de manobra dos «actores sociais», ¢ evidencia os desafios das suas decisdes ¢ relagdes sociais. E nisso que ela {nierpela directamente o futuro ¢ adquire uma dimenso prospec- tiva, embora nio se trate de previsio no sentido estrito do termo, Essa dimensio prospectiva enraiza-se no exam ‘ que existe e funciona aqui e agora e, em particular, das tendéncias perceptiveis quando se observa o presente & luz. do passado, Fora desta perspectiva, as previsdes feitas com ligeiteza arriscam-se fortemente a ter pouco interesse ¢ consisténcia, Deixam os seus autores desarmados perante interlocutores que, por seu lado, nfo sonham mas conhecem os seus dossiers. Resumindo, uma boa pergunta de partida abordaré o estudo do que existe ou existiu, e no 0 daquilo que ainda nfo existe, Néo estudaré a mudanga sem se apoiar no exame do funci mnarnento, Nao visa: © futuro, mas caplar um campo de constrangimentos e de poss des, bem como os desafios que esse campo define. Pergunta 7 0s jovens so mais afectados pelo desemprego do que os adultos? Comentario [Em primeiro lngar, podemos temer que esta pergunta exija apenas ‘uma resposta puramente descrtiva, que teria como tnico objective conhecer melhor os dados de uma situaglo, Se a intenglo de quem a formula se limita, com efeito, a juntar e a exibir os dados — oficiais ou produzidos pelo proprio, pouco importa neste caso— , sem procu- rar compreender melhor, a pattit deles, 0 fenémeno do desemprego € as l6gicas da sua distribuigio nas diferentes categorias da populagio, teremos de reconhecer que ¢ «um pouco curta>, Em contrapartida, numerosas questdes que se apresentam, & primeira vista, como descritivas nem por isso deixam de implicar uma finalidade de compreensaio dos fendmenos sociais estudados. Descrever as relagbes de poder numa organizago, ou situagdes socialmente problemiéticas que mostrem precisamente em que so «probleméticas», ou a evolugo das condigdes de vida de uma parte da populacdo, ou os modos de ocupagiio de um espago pi- blico ¢ as actividades nele desenvolvidas... implica uma reflexio acerca do que é essencial salientar, uma selecgo das informagées a recolher, uma classificagdo dessas informagdes com 0 objectivo de descobrir linhas de forga e ensinamentos pertinentes, A despeito das aparéncias, trata-se de algo diferente de uma «simples descrigio», ou seja, no minimo, de uma «descrigéo construfda» que tem o scu lugar na investigacZo social e que requer a concepgao ¢ a realizagao de um verdadeiro dispositivo conceptual € metodolégico. Uma «descri¢do» assim concebida pode con: uma excelente investigagao em ciéncias sociais e uma boa maneira de a iniciar, Aliés, muitas investigagdes conhecidas apresentam-se, de certo modo, como descrigdes construidas a partir de critérios que rompem com as categorias de pensamento geralmente admiti- das € que, por isso, conduzem a reconsiderar os fenémenos estu- dados sob um olhar nove. La distinction, critique social du Jugement, de Pierre Bourdicu (Paris, Bditions de Minuit, 1979), & ‘um bom exemplo: a desctieao de praticas e disposigdes culturais € realizada a partir do ponto de vista do hébito e de um sistema de desvios entre as diferentes classes soci Estamos, porém, muito longe de uma simples intencdo de agru- pamento nio oritico de dados e de informagdes existentes ou pro- duzidas pelo proprio. B desejavel que essa intengao de ultrapassar esse estédio transparega na pergunta de partida, Resumindo, uma boa pergunta de partida visaré um melhor conhecimento dos fenémenos estudados e rio apenas a sua des- crigao. No fando, estas boas perguntas de partida so, portanto, aque- que permitem com- preender melhor os fenémenos ¢ os acont entos observiveis e interpreté-los mais acertadamente. Estas perguntas requerem res- postas em termos de estratégias, de modos de funcionamento, de relagdes e de conflitos sociais, de relagdes de poder, de invenciio, para citar apenas alguns de difusio ou de integragio cul exemplos cldssicos de pontos de : nentes para a andlise em ciéncias sociais, e aos quais teremos ocasifio de voltar. Poderiamos ainda discutir muitos outros casos exemplares & salientar outros defeitos e qualidades, mas 0 que foi dito até aqui fis do que suficiente para fazer perceber claramente os trés is de exigéncia que uma boa pergunta de partida deve respeitar: primeiro, exigéncias de clareza; segundo, exigéncias de ex dade; tercciro, exigéncias de pertinéncia, de modo a servir de ptimeiro fio condutor a um trabalho do dominio da investigagao em ciéncias sociais. RESUMO DA PRIMEIRA ETAPA, APERGUNTA DE PARTIDA ‘A melhor forma de comegar um trabalho de investigagio em cién- ccias sociais consiste em esforgar-se por enunciar © projecto sob a forma de uma pergunta de partide. Com esta pergunta, o investigador tenta exprimir o mais exactamente possivel aquilo que procura saber, celucidar, compreender melhor. A pergunta de patida serviré de primei- 10 fio condutor da investigacio, | Para desempenhar correctamente @ sua fungao, a pergunta de partida deve apresentar qualidades de clareza, de exequibilidade e de pertingneia: + As qualidades de clareza: — ser precisa, — ser concisa ¢ univ + As qualidades de exeg — ser realista; + As qualidades de pertinéncia: — ser uma verdadeira pergunta; — abordar o estudo do que existe, basear 0 estudo da mudanga ‘no do funcionamento; — ter uma intenglo de compreensio dos fenémenos estudados. TRABALHO DE APLICACAO N° 1 PORMULAQAO DE UMA PERGUNTA DE PARTIDA um trabalho de investigagaio social sozinho ou em jenciona comegé-lo em breve, pode considerar este exer- ira etapa desse trabalho. Mesmo no caso de o seu estudo i estar iniciado, este exercicio pode ajuda lo a enfocar melhor as suas preocupagdes. Para quem comera uma investigacio seria muito imprudente cumprir atabalhoadamente esta etapa. Dedique-the uma hora, um dia ou uma semana de trabalho. Realize este exercicio sozinho ou em grupo, com 8 ajuda critica de colegas, amigos, professores ou formadores. Va tra- bathando a sua pergunta de partida até obter uma formulagio satisfatdria ¢ correcta. Efectue este exerefcio com todo 0 cuidado que merece, Despachar rapidamente esta etapa do trabatho seria o seu primeito erro, i rnenhum trabatho pode ser bem sucedido se for incapaz de decidir & partida e com elareza, mesmo que provisoria- mente, aquilo que deseja conhecer melhor. © resultado deste precioso exercicio Jinhas numa fothe de papel, mas con partida do seu trabalho. ara levar este 2 bom tetmo pode proceder do seguinte modo: — Formule um projecto de pergunta de partida; — Teste esta pergunta de partida junto das pessoas que o rodciam, de modo a assegurar-se de que ela é clara e precisa e, portanto, compreendida da mesma forma por todas; — Verifique se ela possui igualmente as outras qualidades acima recordadas; — Reformule-e, caso no seja satisfatdria, ¢ recomece todo 0 pro- cess0. rcuparé mais-de duas a trés rd 0 verdadeiro ponto de 3. E SE AINDA TIVER RETICENCIAS... Talvez ainda tenha reticéncias. Conhecemos as mais frequentes. + O.meu projecto ainda néo esté suficientemente afinado para proceder a este exercicio, Neste caso, ele convém-Ihe perfeitamente, porque tem precisa- mente como objectivo ajudé-lo —e obrigé-lo— a tomar o seu Projecto mais preciso. + A problemética ainda sé esté no inicio. Apenas poderia formular uma pergunta banal, Isto nao tem importancia porque a pergunta nao é definitiva, Por outro lado, que pretende «problematizars, se é incapaz de formula claramente o seu objectivo de partida? Pelo contririo, este exe: cio ajuda-lo-a a organizar melhor as suas reflexes, que de mo- mento se dispersam em demasiadas direcgdes diferentes. + Uma formulagdo tao lacénica do meu projecto de trabatho no passaria de uma grosseira redugdo das minhas interrogagdes ¢ das minhas reflexdes tebdricas. Sem dtivida, mas as suas reflexGes nao se perdero por isso, Ino reaparecer mais tarde ¢ serio exploradas mais depressa do que pensa. canalizar 0 seu trabalho e evite dispersar as suas preciosas reflexées. + Ndo me interessa apenas uma coisa. Desejo abordar varias facetas do meu objecto de estudo. Se € essa a sua intengfo, cla é respeitdivel, mas jé esta a pensar em «problemétican. Passou por cima da pergunta de partida, O exercicio de tentar precisar 0 que poderia constituir a pergunta central do seu trabalho vai fazer-lhe muito bem, porque qualquer investigagao coerente possui uma pergunta que Ihe assegura unidade, Se insistimos na pergunta de partida, € porque a evitamos com demasiada frequéncia, seja porque parece evidente (implicita- mente!) ao investigador, seja porque este pensa que vera mais claro mais preciso for este «guian, melhor progrediré 0 investigador. Além disso, & «moldando» a sua pergunta de partida que 0 inves- idadosamente este exercicio: as hipéteses de trabalho, que constituem os eixos centrais de uma investigagio, apresentam- -se como proposigdes que respondem A pergunta de partida. SEGUNDA ETAPA A EXPLORACAO AS ETAPAS DO PROCEDIMENTO [Biapa 2 A pergunta de partida Etapa 2—A exploragio As leituras. [>|As entrevistas ‘exploratirias Etapa 3 —A problemitica Erapa 4— A construgéo do modelo de andlise Etapa 5 —- A dbservagio Btapa 6 — A anilise das informagées Etapa 7 — As conclusdes OBJECTIVOS Ao longo do capitulo anterior aprendemos a formular um pro- Jjecto de investigag%o sob a forma de uma pergunta de partida apropriada. Até nova ordem, esta constitui o fio condator do traba- tho. © problema é agora o de saber como proceder para conseguir uma certa qualidade de informagio; como explorar o terreno para conceber uma problemética de investigagio. E este o objecto deste capitulo, A exploragio comporta as operagées de leitura, as entre- io complementa- assegurar a qua- lidade da problematizagio, ao passo que as entrevistas e os métodos complementares ajudam especialmente o investigador a ter um ide vivide pelos actores sociais, Tremos aqui estudar métodos de trabalho precisos ¢ directa- mente aplicdveis por todos, qualquer que seja o tipo de trabalho em que se empenhem. Estes métodos silo concebidos para ajudarem 0 investigador a adoptar uma abordagem penetrante do seu objecto de estudo e, assim, encontrar ideias e pistas de reflexio esclare- cedoras. 1. A LEITURA © que vélido para a sociologia deveria sé-lo para qualquer trabalho intelectual: ultrapassar as interpretagdes estabelecidas, que contribuem para reproduzir a ordem das coisas, a fim de fazer aparecer novas significagdes dos fenémenos estudados, mais esclarecedoras ¢ mais perspicazes do que as precedentes. E sobre este ponto que queriamos comecar por insistir, Esta capacidade de ultrapassagem nilo cai do céu. Depende, em certa medida, da formagdo tedrica do investigador e, de uma ma- neira mais ampla, daquilo a que poderiamos chamat a sua‘cullura intelectual, seja ela principalmente sociolégica, econémica, poli- tica, hist6rica ou outra, Um longo convivio com o pensamento sociol6gico antigo e actual, por exemplo, contribui consideravel- mente para alargar o campo das ideias e ultrapassar as interpreta- Ges jf gastas, Predispée a colocar boas questdes, a adivinhar o que nao 6 evidente e a produzir ideias inconcebiveis para um inves gador que se contente com os magros conhecimentos teéticos que adquiriu no passado. Muitos pensadores siio investigadores mediocres, mas em cién- cias sociais nao existe um Gnico investigador que néo seja também um pensador. Desiludam-se, pois, os que eréem poderem aprender a fazer investigagao social contentando-se com o estudo das técni- cas de investigagao: termio também de explorar as teorias, de ler & reler as investigagdes exemplares (ser proposta uma lista no segui- mento deste livro) e de adquitir o hébito de reflectir antes de se Precipitarem sobre o terreno ou sobre os dados, ainda que seja com as técnicas de andlise mais sofisticadas. Quando um investigador inieia um trabalho, é pouco provavel que © assunto tratado nunca tenha sido abordado por outta pessoa, pelo menos em parte ou de forma indirecta, Tem-se frequentemente a impressaio de que nao hd «nada sobre o assunto», mas esta opi- nido resulta, em regra, de uma mé informagio, Todo o trabalho de investigagao se inscreve num continuum e pode ser situado dentro Ge, ou em relagéo a, correntes de pensamento que o precedem ¢ influenciam, B, portanto, normal que um investigador tome conhe- cimento dos trabalhos anteriores que se debrugam sobre objectos compardveis € que explicite 0 que aproxima ou distingue 0 seu trabalho destas correntes de pensamento, E importante insistir desde 0 inicio na exigéncia de situar claramente 0 trabalho em relagdo a quadros conceptuais reconhecidos. Esta exigéncia tem um nome que exprime bem aquilo que deve exprimir: a vatidade externa. Falaremos novamente disto no Ambito da etapa intitulada «Problematica» Ainda que a sua preocupagio no seja fazer investigagao cien- (ifica em sentido estrito, mas sim apresentar um estudo honesto Sobre uma questio particular, continua a set indispensivel tomar conhecimento de um minimo de trabalhos de referéncia sobre 0 mesmo tema ou, de modo mais geral, sobre problemiticas que The estio ligadas. Seria a0 mesmo tempo absurdo ¢ presungoso acredi- ‘ar que podemos pura e simplesmente passar sem esses contributos, como se estivéssemos em condigdes de reinventar tudo por nds Proprios. Na maior parte dos casos, porém, o estudante que inicia tuma dissertagao de fim de curso, o trabathador que deseja realizar um trabalho de dimensio modesta ou o investigador a quem é Pedida uma anflise répida nio dispdem do tempo necessério para abordarem a leitura de dezenas de obras diferentes. Além disso, como jé vimos, a bulimia livresca 6 uma forma muito mé de iniciar uma investigagio. Como proceder nestas situagdes? Tratar-se-4, coneretizando, de seleccionar muito cuidadosamen- te um pequeno nimero de leituras e de se organizar paca delas tetirar © maximo proveito, o que implica um método de trabalho comrectamente elaborado. E, portanto, um método de organizacéo, de realizagfio ¢ de tratamento das leituras que comecatemos pot estudar, Este é indicado para qualquer tipo de trabalho, seja qual for 0 seu nivel. J4 fot experimentado com sucesso em miiltiplas ocasides por dezenas de estudantes que nele confiaram. Inscreve. “Se na nossa politica geral do menor esforgo, que visa obter os melhores resultados com o menor custo em meios de todo o tipo, a comecar pelo nosso precioso tempo. 1.1. A ESCOLHA E A ORGANIZAGAO DAS LEITURAS a) 's eritérios de escolha A escolha das leituras deve ser realizada com muito cuidado. Qualquer que seja o tipo e a amplitude do trabalho, um investigador dlispée sempre de um tempo de leitura limitado. Hé quem s6 possa consagrar-the algumas dezenas de horas, outros vétias centenas, mas, para uns como para outros, este tempo ser sempre de certa forma demasiado curto em relagio &s suas ambigoes. Nfio hf ento nada mais desesperante do que verificar, aps varias semanas de Jeitura, que nfo se est muito mais avangado do que no inicio © objectivo 6, portanto, fazer 0 ponto da situag#o acerca dos co- nhecimentos que interessam para a pergunta de pastica, exploran- do ao méximo cada minuto de leitura, Como proceder? Que critérios reter? $6 podemos aqui propor, bem entendido, prineipios e critérios gerais, que cada um devers adaptar com flexibilidade ¢ pertinéncia, Primeiro principio: comegar pela pergunta de partida. A melhor forma de nfo se perder na escolha das leituras €, com efeito, ter uma boa pergunta de partida. Todo o trabalho deve ter um fio condutor €, alé nova ordem, é a pergunta de partida que desem- penha esta fungdo, Serd, sem divida, tevado 2 modificé-la no fim Go trabatho exploratério ¢ tentaré formulé-la de uma maneira mais judiciosa, mas, por enquanto, 6 dela que deve parti Segundo princfpio: evitar sobrecarregar 0 programa, seleccio- nando as leituras. Nao € necessfrio — nem, aliés, na maior parte das vezes, possivel — ler tudo sobre um assunto, pois, em certa medida, 28 obras ¢ os artigos de referéncia repetem-se mutuamente ‘c um leitor assiduo depressa se dé conta destas repetigdes. Assim, hum primeiro momento, evitar-se-4 0 mais possivel comegat 1og0 ‘a ler calhamagos enormes ¢ indigestos antes de se ter a certeza de nao poder passar sem eles. Orientar-nos-emos mais para as obras {que apresentam uma reflexdo de sintese, ou para artigos de algumas dezenas de paginas. E preferivel, com efeito, Jer de modo aprofun- dado e critico alguns textos bem escolhidos a ler superficialmente milhares de pfiginas. Terceiro principio: procurar, na medida do possivel, documen- tos cujos autores nao se limitem a apresentar dados, mas incluam também elementos de anélise e de interpretagdo. Sio textos que Tevam a reflectir € que nao se apresentam simplesmente como jnsipidas descrigdes pretensamente objectivas do fenémeno estu- dado. Abordaremos muito em breve @ aniilise de um texto de Emile eee eee tah. An 1 Ruietdin. Veremos aue este texto inclui dados que, neste caso, até sito dados estatisticos. No entanto, nfio sto apresentados isoladamente. A anélise de Durkheim dé-thes sentido ¢ permite a0 leitor apreciar melhor o seu significado. Ainda que estudemos um problema que, @ priori, exigiré a utilizagéo de abundantes dados estatisticas, tal como as causas do aumento do desemprego ou a evolugio demografica de uma regiaio. 6, mesmo assim, preferivel procurar textos de anilise, em vez de listas de ndmeros, que munca querem dizer grande coisa por si mesmos, A maior parte dos textos que incitam a reflexio contém dados suficientes, numéricos ou nfo, para nos permitirem tomar consciéncia da amplitude, da distribuigéo ou da evolugio do fenémeno a que se referem. Mas, além disso, permitem «ler» inteligentemente estes dados © estimulam a reflexio critica ¢ @ imaginac&o do investigador. No estado presente do trabalho, isto chega perfeitamente. Se for dil uma grande quantidade de dados, haverd sempre oportunidade de os recolher mais tarde, quando 0 westigador tiver delimitado pistas mais precisas. Quarto principio: ter © cuidado de recolher textos que apresen- tem abordagens diversificadas do fenémeno estudado. Nao s6 no serve de nada ler dez vezes a mesma coisa, como, além disso, a preocupacdo de abordat 0 abjecto de estudo de um ponto de vista esclarecedor implica que possam confrontar-se perspectivas dife- remtes. Esta preocupagao deve incluir, pelo menos nas investiga- Ges de um certo nivel, a consideragio de textos mais tebricos que, nfo se debrugando necessariamente, de forma directa, sobre 0 fenémeno estudado, apresentem modelos de andlise susceptiveis de inspirarem hipoteses particularmente interessantes. (Voltaremos, a frente aos modelos de anilise e as hip6teses.) Quinto principio: oferecer-se, a intervalos regulares, periodos de tempo consagrados & reflexdo pessoal ¢ as trocas de pontos de vista com colegas ou com pessoas experientes. Um espirito atu- Thado nunca criativo, ‘As sugestdes anteriores dizem principalmente respeito as primeiras fases do trabalho de leitura, A medida que for avangando, impor-se-40 progressivamente por si mesmos eritérios mais precisos ¢ espectficos, na condi, precisamente, de que a leitura seja entrecortada de perfo- dos de reflexao e, se possivel, de debate ¢ discuss6es. ‘Uma forma de se organizar consiste em ler «levas» sucessivas de dois ou trés textos (obras ou artigos) de cada vez, Apés cada leva, pfra-se de ler durante algum tempo para reflecti, tomar notas ¢ falar com pessoas conhecidas que se julga poderem ajudar-nos a progredir. E s6 ap6s esta pausa nas leituras que se decidiré 0 eentesido exacto da leva seguinte, estendo as oriontagdes gerais que se tinham fixado no infcio sempre sujeitas a correecbes, Decidir de uma s6 vez, o contetido preciso de um programa de Teitura importante € getalmente um erro: a amplitude do trabalho depressa desencoraja; a rigidez do programa presta-se inal X sua fungdo exploratéria ¢ os eventuais exros iniciais de orlentagdo se- ficeis de corrigit. Por outro lado, este dispositive por § trabalhos modestos como as iros porto fim ao aps duas ou Ués levas; as segun- twabalho de leitura preparat6ri das, aps uma dezena ou ‘mais. Em suma, respeite 08 seguintes critérios de escolha: — Ligagdes com a pergunta de partida; _— Dimensio razofvel do programa de leitura; — Elementos de andlise e de interpretagio; — Abordagens diversificadas, “Lola por «salvas» sucessivas, entrecortadas por pausas consa- agradas & reflexdo pessoal € as trocas de pontos de vista b) Onde encontrar estes textos? ‘Antes de se precipitar para as bibliotecas 6 necessétio saber o que se procura. As bibliotecas de ciéncias soctais dignas deste nome possuem milhares de obras. £ inl esperar descobrir por acaso, #0 Sabor de um passeio por enire as estantes ou de uma olhadela pelos ficheiros, o livro ideal que responde exactamente ds nossas expecta tivas, Também aqui é preciso um método de trabalho, cuja primeira etapa consiste ein precisar claramente o tipo de textos procurado, Neste dominio, como em outros, a precipitagdo pode custar muito caro, Por ter quetide poupat algumas horas de reflexfio, hé muita verde denoje varios dias, até varias semanas de trabalho. Nii abordaremos aqui o trabalho de pesquisa bibliogréfica pro- priamente dito, visto que isso nos levaria demasiado longe ¢ nto farfamos mais do que repetir o que qualquer um pode ler em varias, obras es] das neste dominio. Bis, no entanto, algumas ideias que podem ajudar a encontrar facilmente os textos adequados sem gastar demasiado tempo: Peca conselhos a especialistas que conhegam bem o seu nvestigadores, docentes, responsiveis de organizagées, etc. Antes de se Ihes ditigir, prepare com precistio o seu pedido de informagio, de forma que 0 com- preendam imediatamente e possam recomendar-lhe o que, segundo eles, mais Ihe convém. Compare as sugestdes de uns e de outros ¢ fac, finalmente, a sua escolha em fungio dos critérios que tiver definido: Nao negligencie os artigos de as entrevistas de especialistas publicadas na imprensa para um grande pablico instruido, as publicagdes de organismos especializados e muitos outros documentos que, nao sendo relat6rios cientfficos em sentido estrito, nfo deixam por isso de conter elementos de reflexdo ¢ informagao que podem ser preciosos para si; {As revistas especializadas no seu campo de investigagio sto patticularmente interessantes, por duas razbes. Primeiro, porque 0 seu contetido traz os conhecimentos mais recentes na matéria ou um olhar critico sobre os conhecimentos ante~ riormente adquitidos, Num € noutro caso, os artigos fazem frequentemente 0 balango da questo que tratam e, assim, citam publicagdes a ter em consideraglo. A segunda razio 6 que as revistas publicam comentétios bibliogréficos sobre as obras mais recentes, gragas aos quais poder fazer uma escolha acertada de Tejturas; ‘As bibliotecas cientificas comportam repertérios especialli- zados, como a Bibliographie internationale des sciences sociales (Londres ¢ Nova Torque, Routledge) ¢ 0 Bulletin signalétique do Centro de Documentagao do CNRS (Paris). encontra-se uma grande quantidade de cas (obras e/ou artigos), organizada se- .as, 08 dossiers de sintese

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