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Teoria Psicodramática – PUC-SP

Prof.ª Nadir Haguiara Cervellini


Matheus Pereira Costa RA00093841

Relato da sessão de psicodrama no Centro Cultural São Paulo no Sábado, 7 de


Abril de 2018

Foi pedido à classe uma tarefa simples e participativa, escrever um relato a partir da ida
a uma sessão aberta de psicodrama. O relato começa pela tarefa. Faz parte da tarefa pedida, da
empreitada, da vivência, da atividade (qualquer uma dessas palavras pode servir, dependendo
do humor daquele que a emprega). Afinal, será que eu iria em uma sessão psicodramática nesse
momento da minha vida, já senti o chamado para fazer tantas coisas, mas isso não estava em
meus planos, não agora. Fui para lá, naquele sábado de sol, de grande mobilização – o maior
líder político do brasil se entregaria para a polícia federal no dia sete de Abril. Fui para lá, para
o centro cultural São Paulo, aquela bonita construção na Vergueiro… fui para lá acompanhado,
pedi carona a uma amiga e colega de curso. Tinha pensando que quem sabe tendo companhia
a eu não me sentiria mais confortável para fazer a tarefa de casa… quantas coisas buscamos
fazer para nos sentirmos confortáveis com uma simples atividade – ir lá e ver o que acontece e
depois escrever um relato do que aconteceu. Simples, sem grandes elucubrações, mas porque
tanta resistência, tanta falta de vontade, tanta preguiça?
Eu estava especialmente cansado quando acordei, tinha dormido pouco e tarde, quase
com o dia raiando. Tomei banho, esquentei a comida do dia anterior, servi a comida dos
cachorros. Minha amiga chegou, estava com o namorado no carro, fomos conversando e
ouvindo música.
Chegamos atrasados. Será que ainda poderíamos participar com os quinze minutos de
atraso, perguntei. O segurança da entrada para o subsolo não opôs resistência ao nosso atraso,
assinamos nossos nomes e r.g., chamamos o elevador. Lá era abafado e amplo, seguimos as
placas para o lugar da encenação. Cadeiras dispostas em um quadrado, as pessoas sentadas,
muitos conhecidos – colegas do mesmo curso –, outros desconhecidos de diversos lugares
diferentes de São Paulo e do Brasil e os dois diretores de cena em pé falando, não cheguei a
guardar seus nomes, apesar de ter me afeiçoado pela imagem que ambos passaram. Uma pena.
A moça tomou a dianteira frente ao seu companheiro de trabalho, ele não teve muita
voz durante a sessão, acompanhou observando. Com ela foi diferente, foi bem diferente. Cibely
foi tudo. Passou para nós as instruções, cuidou das vozes mais tímidas em cena, contracenou,
contrapôs e em todos os momentos se manteve firme e inabalável naquele papel de não ser
protagonista, mas incendiando a cena e os atores. Ela era o fogo de uma lareira que mantém a
sala viva e receptiva, criando o ambiente, fazendo-o possível.
Os exercícios foram simples, começamos nos alongando, mexam os braços, mexam as
pernas, agachem, alonguem o pescoço. Fomos aquecendo até pediram para que a gente
andasse, ande e esbarre, agora ande de costas até trombar com alguém e essa pessoa será a sua
dupla. Nesse processo eu fui percebendo a minha cabeça preconceituosa que adora colocar
defeitos nos outros e nas situações que não me apetecem ou que fogem do meu controle.
Internamente ia criticando algumas das pessoas que participavam do jogo. Até que percebi meu
deboche e o meu excesso de críticas. De quem que eu estava falando mal? Porque toda essa
carga negativa? Afinal, nada naquilo que eu pensava de fato eu acreditava ou concordaria em
por para fora, eram só divagações, criticismos internos de quem estava com sono e um pouco
descontente com tudo que estava acontecendo naquele dia de sábado, 7 de Abril.
Encontramos nossas duplas. Eu estava em um trio, me separei e me juntei a uma moça
que estava em outro trio. Foi pedido para a gente conversar. Cada um por um período de tempo
começa a contar da sua vida. Sem outra regra além dessa. Bruna me contou sobre sua vida,
suas dificuldades atuais e alguns de seus sonhos. Eu falei em como me sentia velho fazendo
um curso com colegas sete anos mais novos, como as gerações estão muito diferentes, e como
eu e meus amigos nos vemos muitas vezes perdidos nessas mudanças.
Andem e pensem em uma palavra que sintetize o diálogo. Pensei em “importar”, o
verbo transitivo indireto com o sentido de ter importância para alguém. Bruna me havia dito
sobre a peça de teatro que está montando, sobre como nos apegamos as coisas como se elas
fossem aquilo que importassem. Relativizamos os objetos e supervalorizamos o sentimento ou
relativizamos o sentimento e supervalorizamos os objetos. Qual o núcleo, o cerne, de
importância das coisas? Não sei qual palavra Bruna tirou dessa nossa troca.
O próximo passo foi escrever a palavra em um papel. Colocamos todos os papéis no
centro do espaço e contemplamos por alguns segundos. A próxima tarefa era escolher uma
palavra, escolhi “teatro”. Escolhi porque o teatro fez parte da minha vida, porque o teatro faz
parte da minha vida, porque penso sobre ele, penso com ele. A sequência disso foi encontrar
um grupo de pessoas com palavras parecidas e formular uma frase que sintetizasse todas as
palavras. Não me lembro agora, mas era algo como: o teatro da vida é a arte do encontro,
vivemos entre a ansiedade e a vontade. Munidos desse dito tínhamos que então pensar numa
cena. Três protagonistas, o resto do grupo seria o coro. Três empregados de uma mesma
empresa, cansados um do outro, um assumia o papel de chefe que precisava escolher um para
demitir. O resto de nós assumia vontades, sentimentos, atitudes, representaria o peso sobre o
corpo. Decidimos apenas essas linhas gerais.
Ia começar o momento aguardado: os quatro grupos iam apresentar o que fora
combinado. O primeiro grupo encenou a extração de um dente do siso que se tornou o
nascimento de um filho. O segundo grupo nos fez pensar sobre o trabalho humano e sobre a
opressão. O terceiro foi agoniante, um falatório sobre o não fazer nada fazendo alguma coisa,
sobre a não tomada de posição tomando a posição de que todos tem posição. E então o nosso
grupo para encerrar. As quatro cenas acabaram provocando momentos de catarse nas pessoas,
seus relatos no final da roda contaram isso. Uma moça disse que estava cansada de andar para
trás na própria vida, um moço comentou sobre o peso de decidir o que fazer, eu falei sobre
como engendramos em conversas para não fazermos nada, agir pelo não agir.
A sessão então foi encerrada, sai de lá contente por ter participado, pensando quando
iria voltar. O dia estava bonito.

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