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1 Noções Preliminares

A partir deste momento, estudaremos a respeito do construto inteligência e das abordagens psicométricas e
cognitivas, que têm em seu entendimento a forma como cada uma é concebida e utilizada nos processos
educacionais. Dessa forma, educadores e pesquisadores de demais áreas do conhecimento podem ter acesso a essas
informações tão importantes na atualidade, pois são necessárias para produzir novos conhecimentos e criar
estratégias que possam ser utilizadas para a sua testagem, avaliação e aplicação nos diversos contextos
organizacionais, principalmente na educação. Cada abordagem tem seus precursores na psicologia e, com eles,
torna-se capaz de avançar na compreensão da inteligência e sua testagem.

Além disso, vamos entender que existem instrumentos capazes de avaliar a inteligência nas novas propostas e na
criatividade. Sabendo desses entendimentos, há a necessidade de rever a aplicação e a utilização desses conceitos
na escola e em organizações voltadas à resolução de problemas, por meio da inteligência e criatividade.

Figura 1 - Inteligência e CriatividadeFonte: Uropong, iStock, 2020.

#PraCegoVer: na figura, é mostrada uma mão segurando uma lâmpada e, no pano de fundo, uma pessoa sentada
diante de um laptop digitando, sugerindo, assim, a construção de uma nova ideia. Isso representa a inteligência.

Portanto, estudaremos a inteligência e o seu estudo no processo de civilização humana. É fundamental que os
educadores compreendam a necessidade histórica de promover situações que possam estimular a capacidade
intelectual dos seus alunos, pois é por meio habilidade que eles irão conseguir melhorar o desempenho escolar e
posteriormente, obter sucesso na vida.

1.1 Conceituação de inteligência: duas formas de compreender a inteligência

No dia a dia, ouvimos que “fulano é mais inteligente que ciclano”, mas “fulano parecia ser mais esperto e foi
engando por ciclano”. Essas afirmativas colocam uma pessoa em comparação com a outra, com relação às suas
capacidades de serem inteligentes. Entretanto, do que se realmente fala? Para saber disso, é necessário que
tenhamos o conceito de inteligência, e, para isso, serão utilizados alguns conceitos que são consenso hoje em dia.

Desde os primórdios da civilização, o homem procurou compreender o que fazia algumas pessoas aprenderem mais
do que outras. Assim, iniciou-se um longo processo histórico, que deu origem a várias compreensões. Na atualidade,
podemos encontrar duas linhas que definem o que é a inteligência, a primeira linha, segundo Intelligence: Knowns
and Unknowns:

Os indivíduos diferem na habilidade de entender ideias complexas, de se adaptarem com eficácia ao ambiente, de
aprenderem com a experiência, de se engajarem nas várias formas de raciocínio, de superarem obstáculos mediante
o pensamento. Embora tais diferenças individuais possam ser substanciais, nunca são completamente consistentes:
o desempenho intelectual de uma dada pessoa vai variar em ocasiões distintas, em domínios distintos, a se julgar
por critérios distintos. Os conceitos de 'inteligência' são tentativas de aclarar e organizar esse conjunto complexo de
fenômenos. (INTELLIGENCE KWNOWNS AND UNKNOWNS apud RODRIGUES, 2018, p. 4)

Nesse entendimento, a inteligência está relacionada com a capacidade da pessoa em se adaptar ao seu meio, o que
significa ser capaz de superar as situações-problema do dia a dia e responder de forma que consiga dar uma resposta
adequada à aquela situação encontrada. Não há, portanto, um ponto fixo do que uma pessoa seja inteligente, irá
depender da situação na qual está inserida.

A segunda linha, de acordo com Mainstream Science on Intelligence, explica que a inteligência é:

uma capacidade mental bastante geral que, entre outras coisas, envolve a habilidade de raciocinar, planejar,
resolver problemas, pensar de forma abstrata, compreender ideias complexas, aprender rápido e aprender com a
experiência. Não é uma mera aprendizagem literária, uma habilidade estritamente acadêmica ou um talento para
sair se bem em provas. Ao contrário disso, o conceito refere se a uma capacidade mais ampla e mais profunda de
compreensão do mundo à sua volta ' pegar no ar', 'pegar' o sentido das coisas ou 'perceber' uma coisa.
(MAINSTREAM SCIENCE ON INTELLIGENCE apud RODRIGUES, 2018, p. 4)

Essa definição mostra que a inteligência é uma capacidade profunda de compreender o mundo ao seu redor, de
“pegar no ar” o sentido das coisas ou “perceber” uma coisa. As duas formas distintas de entender a inteligência na
atualidade conduzem os demais autores e estudiosos sobre esse objeto de estudo seguirem uma das duas linhas de
raciocínio.

Neste material, consideraremos que inteligência é

[...] a solução de um problema novo para o indivíduo, é a coordenação dos meios para atingir um certo fim, que não
é acessível de maneira imediata; enquanto o pensamento é a inteligência interiorizada e se apoiando não mais sobre
a ação direta, mas sobre um simbolismo, sobre a evocação simbólica pela linguagem, pelas imagens mentais etc.
(PIAGET 1972 apud BOCK, 1999, p. 179)

De maneira geral, a inteligência é a conseguir encontrar a solução de um problema novo para a pessoa, ou seja, é
coordenar os meios para se atingir uma solução de uma coisa ou situação num dado momento.

1.2. Histórico dos estudos da inteligência (da cidade-estado grega até a atualidade na psicologia)

Os estudos da inteligência devem-se aos questionamentos feitos pelos antigos filósofos gregos. Desde a ascensão da
cidade-estado grega,

um determinado conjunto de ideias dominou as discussões sobre a condição humana em nossa civilização. Esta
coletânea de ideias enfatiza a existência e a importância de poderes mentais – capacidades que foram
diferentemente denominadas como racionalidade, inteligência ou o desenvolvimento da mente. (GARDNER, 1994, p.
4) Então, a partir desse período, o homem vem tentando compreender como se processa a inteligência. Isso se deve
à vontade do homem em se conhecer, e, portanto, a sua capacidade de conhecimento. No processo histórico temos
a presença da preocupação na escrita de Platão, sobre o profeta hebraico.

Os períodos históricos se sucedem, mas a curiosidade por saber mais sobre a inteligência contínua, conforme
Gardner (1994, p. 5), “pode-se ver que no milênio das trevas que se estendeu entre a época Clássica e a Renascença,
a posição dos fatores intelectuais raramente foi desafiada”. No início do período medieval Santo Agostinho irá falar
sobre a inteligência e, logo depois, no ápice da Idade Média, Dante se posiciona a respeito da inteligência.

Na sequência histórica, no Renascimento, Descartes e Francis Bacon irão falar sobre a inteligência, sendo que Bacon
irá construir uma história na qual um navio se depara com uma ilha utópica e a principal instituição é um
estabelecimento científico.

Assim, os filósofos e mais tarde os psicólogos dividiram-se em dois grandes blocos, quanto à compreensão desse
aspecto do pensamento (cognição) humano: a abordagem da psicologia diferencial (Psicométrica) e a abordagem
dinâmica (Cognitiva).

Acreditamos que, até o presente momento, é fundamental conhecermos os conceitos básicos da inteligência e o seu
histórico, bem como saber as duas abordagens que se mantêm até hoje com relação a compreensão da inteligência.
É possível avançar, então, para mais conhecimentos sobre as abordagens que estudam a inteligência na área da
Psicologia e, posteriormente, possam fornecer experiência prática e, esclarecer questionamentos.
2. Abordagem psicométrica da inteligência

Foi exposto anteriormente a compreensão da inteligência ao longo da história e desenvolvimento científico se


dividiu em duas grandes abordagens na psicologia: Psicologia Diferencial (Psicométrica) e a abordagem dinâmica
(Cognitiva). A partir de agora, nos aprofundaremos na abordagem psicométrica da inteligência.

2.1 Histórico da abordagem da psicométrica da inteligência: psicologia diferencial e precursores da abordagem


psicométrica

A psicologia diferencial tem como sua base a tradição positivista. Segundo Bock (1999) a visão positivista tem como
objetivo estudar os fatos observáveis e mensuráveis, ou seja, essa visão torna a inteligência mensurável, ou melhor,
torna a inteligência visível por meio dos comportamentos humanos, que são a manifestação da capacidade cognitiva
da pessoa. Portanto, nessa abordagem, a inteligência é um conjunto de habilidades e, assim, capaz de ser medida
por meio dos testes psicológicos de inteligência.

Sobre a origem da psicometria, há alguns fatores que influenciaram na construção dos testes psicológicos. Segundo
Anastasi (apud VIANA; NACIMENTO, 1999) os testes, portanto, são resultado da necessidade em saber o diagnóstico
dos pacientes atendidos tendo como objetivo escolher o melhor tratamento para a pessoa atendida.

Nesse período, os psicólogos buscavam a uniformidade, as descrições generalizadas do comportamento humano;


contudo, nesse momento os psicólogos experimentais em seus laboratórios com os estudos sobre os

[...] estímulos sensoriais, dentro do rigor do método científico, influenciaram a natureza dos primeiros testes
psicológicos, que são caracterizados por testes sensoriais. A preocupação com condições padronizadas de
observação, como a instrução e o ambiente, é mantida pelos testes até hoje. (VIANA; NASCIMENTO, 1999, p. 96-97)

A origem dos testes psicológicos aconteceu no século XIX, no qual os psicólogos se preocupavam em obter
informações corretas a respeito dos quadros apresentados pelos seus pacientes e, consequentemente, escolher o
melhor tratamento. No laboratório de psicologia, eram feitas pesquisas que culminaram na elaboração dos testes
psicológicos sensoriais.

Nesse período, alguns nomes ficaram marcados na história da psicologia, pela construção dos testes psicológicos e
contribuição à elaboração dos testes e pelo conceito de inteligência na qual trabalhavam.

Francis Galton

Foi um biólogo inglês, que começou com a aplicação de testes que refletiam sobre a influência das pesquisas
sensoriais. Esse pesquisador acreditava que havia uma relação de proporcionalidade direta entre a capacidade de
discriminação sensorial e a capacidade intelectual e, por isso, quanto maior fosse uma, maior seria a outra. Portanto,
ele acreditava que testes de discriminação poderiam avaliar os processos intelectuais de um indivíduo.

James McKeen Cattell

Foi um psicólogo americano que orientou, nos EUA, o uso de métodos experimentais objetivos, testes mentais e
aplicação de psicologia nas áreas de educação, negócios, indústria e publicidade. Ele desenvolveu trabalhos na área
da testagem da inteligência e utilizou o termo teste mental pela primeira vez; além disso, esse autor defendia a
mesma ideia de Galton a respeito da inteligência.

Alfred Binet

Em 1904, Binet construiu os primeiros testes de inteligência, que objetivavam analisar os progressos de crianças
deficientes, do ponto de vista intelectual. Eles realizavam programas especiais para auxiliar no desenvolvimento
dessas crianças e, por isso, era fundamental que realizassem uma testagem para verificar a eficiência dos programas
(BOCK, 1999). Ele elaborou, também, testes para verificar o desenvolvimento das crianças por idade. Entretanto, a
posição dele era contrária à de Galton a respeito da inteligência “que critica a natureza sensorial dos testes e a sua
concentração em habilidades simples e especializadas. ” (VIANA; NASCIMENTO, 1999, p. 97). Juntamente, com Henri
Simon, Binet construiu a escala para avaliar a inteligência das crianças, conhecida como Escala de Binet-Simon.
2.2 Conceitos de inteligência na abordagem psicométrica

Segundo Viana e Nascimento (1999) na abordagem psicometrista, o fator de inteligência decorre da utilização da
análise fatorial, que está relacionada com a estatística. Portanto, os valores da variável psicológica correspondem ao
fator matemático da análise fatorial, e ele é conhecido como fator psicológico. Portanto, na abordagem psicométrica
há a inclusão da quantificação estatística que é transformada na correspondente na área psicológica. Spearman foi o
teórico que “utilizou a análise fatorial para determinar os fatores presentes nos testes. Sua intenção era a de reduzir
os dados encontrados em um número mínimo de fatores mentais significativos. Deste modo, isolou dois fatores: um
geral g e um específico ou fator e, formulando a teoria bifatorial da inteligência” (VIANA; NASCIMENTO, 1999, p. 98).

Os fatores g e e possibilitam avaliar os fatores comum a todas as habilidades humanas (g) e o (e) os fatores
relacionados com as habilidades especificas da atividade. Com base no fator g, seria uma variável constante
intraindividualmente, o que demonstraria que as pessoas nasceriam com um nível predeterminado de inteligência e
manteria constante ao longo do desenvolvimento (VIANA; NASCIMENTO, 1999).

Além dessa forma de compreender a inteligência na psicometria, Thurstone:

Concebe a inteligência como um composto de capacidades mentais primárias. A inteligência seria composta das
seguintes capacidades: numérica, visual (espacial), de memorização, de compreensão verbal, de fluidez verbal, de
indução, de rapidez de percepção, de flexibilidade da percepção. Tais capacidades mentais variariam tanto inter
como intra-individualmente. (ANACONA-LOPES, 1987 apud VIANA; NASCIMENTO, 1999, p. 98)

As duas formas de compreender a inteligência influenciarão na construção dos testes e na capacidade de alteração
na inteligência. Ambas as formas ainda repercutem na elaboração de testes padronizados da inteligência na
psicologia. Na atualidade, temos o Teste de Inteligência R1-Forma B e G36 que utilizam o conceito de Spearman; e o
conceito de Thurstone é utilizado na bateria de Testes de Aptidão Diferencial para Orientação (DAT para orientação).

A respeito do conceito de inteligência, Ancona-Lopes (1987 apud VIANA; NASCIMENTO, 1999, p. 98) “ressalta que o
caminho percorrido pela psicometria não foi o de elaborar primeiro um conceito de inteligência para depois
construir instrumentos para sua mensuração: ao contrário, mediu primeiro para depois tentar definir o que seria
inteligência”. A psicologia de maneira geral, constrói a sua base conceitual a partir da prática, e não de forma
inversa. De acordo com a autora, a psicometria falhou em elaborar um único conceito de inteligência, e, na
realidade, a maior contribuição da psicometria é o estudo das diferenças individuais e da sua mensuração; dessa
forma, não se preocupa com a gênese do funcionamento cognitivo como fez Piaget.

2.3 Aplicação na educação dos testes de inteligência

A utilização dos testes de inteligência teve sua origem na necessidade dos psicólogos no século XIX, em diagnosticar
as pessoas com doenças mentais e a partir dos resultados escolher o mais indicado para cada caso.

Os testes de inteligência tiveram e têm forte inserção no processo educacional, por permitirem avaliar a capacidade
de um aluno em acompanhar ou não os demais estudantes. Portanto, esses testes têm uma grande importância na
educação inclusiva, antes denominada especial, para auxiliar os psicólogos no levantamento da capacidade
intelectual das crianças e, somados com outros testes psicológicos, irão fornecer subsídios para o aluno participar
dos programas da escola especial ou do ensino regular nos programas de apoio.

A aplicação dos testes psicológicos, então, permite aos profissionais levantarem as defasagens da inteligência e
demais habilidades para a aprendizagem formal, a partir de tais informações é possível criar estratégias para que os
professores forneçam condições para o aprendizado da criança.

A Associação Americana de Deficiência Intelectual e Desenvolvimento (AAIDD), segundo Anache (2018) afirma que:

Embora que as recomendações da Associação Americana de Deficiência Intelectual e Desenvolvimento (AAIDD)


represente avanço ao reconhecer os múltiplos fatores determinantes da deficiência intelectual, sugerem um
conjunto de instrumentos/testes para esta finalidade, os quais nem sempre podem ser aplicados para este público,
em decorrência das suas diversas características. Em tempo, esta Associação considera como deficiente um
indivíduo que apresentar déficit de inteligência (QI abaixo de 70), déficit em duas ou mais áreas do comportamento
adaptativo, e, a depender da etiologia, pode se manifestar até os 18 anos de idade. Assim, o processo avaliativo deve
ser realizado por meio da combinação de instrumentos psicométricos e outros métodos de natureza qualitativa,
evitando-se com isso, as inferências dos profissionais na elaboração das análises dos resultados. (ANACHE, 2018, p.
69, grifo nosso)

Mesmo diante de toda a discussão frente à educação inclusiva, e as críticas feitas a respeito da utilização dos testes
psicométricos de inteligência e outros, eles ainda são defendidos pela associação americana de deficiência
intelectual e desenvolvimento.

A abordagem psicométrica trouxe consideráveis ganhos para o processo de avaliação das crianças com problemas de
aprendizagem e intelectuais. Foi possível conhecer melhor a maneira como as crianças podem ter diferentes ritmos
no processo de desenvolvimento e aprendizagem. Além disso, ela permitiu aos profissionais da educação
melhorarem as condições de ensino-aprendizagem e a criarem um ambiente voltado para a aprendizagem de acordo
com a necessidade de cada aluno.

3 Inteligência na abordagem cognitiva

A partir de agora, estudaremos de que forma a inteligência é compreendida na abordagem cognitiva. Essa
abordagem surgiu no século XX, trazendo contribuições da psicologia cognitiva, que utiliza informações da psicologia
radical, do processamento de informações e da linguística. Essa integração surge da necessidade em contrapor o
modelo paradigmático do condutismo, assim criam-se alternativas para explicar o comportamento, pensamento,
inteligência etc.

A proposta da psicologia cognitiva refletirá na compreensão da inteligência, que surgirão formas diferenciadas da
conceituação e avaliação da inteligência. Agora, estudaremos as bases da abordagem cognitiva da inteligência, seus
precursores e sua utilização no contexto educacional.

3.1. Conceito de inteligência na abordagem Cognitiva: história e principais autores

O modelo da abordagem cognitiva segue o processo histórico da evolução da psicologia. Entretanto, no século XX,
surgiram debates sobre como a psicologia iria compreender comportamento, pensamento, inteligência dentre
outros conceitos, diante do novo cenário científico, tecnológico e social nas primeiras décadas após a segunda
guerra mundial.

Assim, em 1956 foi publicado A Study of Thinking dos autores Bruner, Goodnow e Austin, que é considerada obra
capital da psicologia do pensamento e da solução de problemas. Essa publicação resulta das integrações entre a
psicologia radical (Skinner), da linguística (Chomsky) e do avanço tecnológico em telecomunicações, “ na
manipulação de fatores humanos e nos computadores digitais levaram a progressos análogos na teoria psicológica,
particularmente em relação ao processamento da informação” (STERNBERG, 2000, p. 31). Depois disso, em 1967,
Neisser publicou o livro Cognitive Psychology,

Foi especialmente decisivo para tornar bem conhecido o cognitivismo, por meio da informação a estudantes e
professores universitários sobre esse campo de recente desenvolvimento. [...] Neisser definiu psicologia cognitiva
como o estudo da maneira como as pessoas aprendem, estruturam, armazenam e usam o conhecimento.
(STERNBERG, 2000, p. 31, grifo nosso)

Portanto, a origem no século XX da proposta cognitiva tem como objetivo estudar o conhecimento nas várias etapas
da sua construção: aprender, armazenar e usar o conhecimento.

Então, nessa abordagem da inteligência, buscamos entender como as habilidades mentais se alteram ao longo da
vida, considerando, também, como variáveis a maturação e a aprendizagem. Os principais autores que teorizam
sobre a compreensão cognitiva são Jean Piaget e Lev Vygotsky, e ambos falam sobre o processo de aprendizagem,
desenvolvimento e inteligência, apesar de cada um enfatizar mais um dos aspectos. Porém, ambos são referência no
que diz respeito à compreensão da inteligência na abordagem cognitiva.
3.2 Jean Piaget (1896-1980)

Jean Piaget é o pioneiro do enfoque construtivista à cognição humana. O seu diferencial com relação aos estudos de
Binet é no que diz respeito à compreensão dos erros que as crianças faziam durante a realização das provas de Binet.
Assim, a teoria piagetiana parte da observação dos erros infantis realizados durante a realização dos testes de
inteligência de Binet e considera que a lógica do pensamento infantil é diferente do adulto, e, portanto, deve ser
compreendida.

A teoria piagetiana tem como conceitos básicos: assimilação, acomodação e equilibração. De acordo com Moreira:

O crescimento cognitivo se dá por assimilação, e acomodação. A assimilação designa o fato de que a iniciativa na
interação do sujeito com o objeto é do organismo. O indivíduo constrói esquemas de assimilação mentais para
abordar a realidade. Todo esquema de assimilação é construído e toda abordagem à realidade supõe um esquema
de assimilação. Quando o organismo (a mente) assimila, ele incorpora a realidade a seus esquemas de ação,
impondo-se ao meio. (MOREIRA, 1999, p. 100)

Assim, podemos dizer que o mecanismo por meio do qual a pessoa conhece a sua realidade é o processo de
assimilação que acontece pelo contato com a realidade. Quando há modificação no organismo, ocorre a
acomodação.

É através das acomodações (que, por sua vez, levam à construção de novos esquemas de assimilação) que se dá o
desenvolvimento cognitivo. Se o meio não apresenta problemas, dificuldades, a atividade da mente é, apenas, de
assimilação, porém, diante deles, ela se reestrutura (acomodação) e se desenvolve. (MOREIRA, 1999, p. 100)

Para que exista a aprendizagem, portanto, é necessário que ocorra a assimilação e acomodação. O equilíbrio entre
assimilação e acomodação é a adaptação à situação.

Conforme Piaget (1972 apud STERNBERG, 2000) a equilibração ocorre entre uma etapa e outra do desenvolvimento
cognitivo infantil, porém as crianças aprendem continuamente. O que significa que o processo de equilibração não
acontece em apenas um momento, mas durante todo o processo do desenvolvimento cognitivo.

As fases propostas por Piaget do desenvolvimento cognitivo, segundo Bock (1999, p. 101-107) e Sternberg (2000, p.
375-382):

1º período – Sensório-motor (0-2 anos)

Esta etapa é marcada por atividades físicas que são dirigidas a objetos e situações externas. As atividades iniciais
reflexas por meio das atividades físicas vão se transformando gradativamente em atos conscientes e intencionais,
entretanto, a capacidade de conceituação ainda é limitada. Dessa maneira, quando a criança adquire a marcha e a
linguagem, as atividades externas ampliam uma dimensão interna importante, pois toda a sua experiência vai sendo
representada mentalmente. A partir da aquisição da linguagem, inicia-se uma socialização efetiva da inteligência.

2º período – Pré-operatório (2 a 7 anos)

Nesta fase, a criança vai construindo a capacidade de efetuar operações lógico-matemáticas (seriação, classificação).
Embora a inteligência já tenha condições de empregar símbolos e signos, ainda lhe falta a reversibilidade, ou seja, a
capacidade de pensar simultaneamente o estado inicial e o estado final de alguma transformação efetuada sobre os
objetos (por exemplo, a ausência de conservação da quantidade quando se passa o líquido de um copo mais largo
para um outro recipiente mais estreito). Essa reversibilidade será construída nos períodos operatório concreto e
formal.

3º período – Operações concretas (7 a 11 ou 12 anos)

Nessa etapa, a criança começa com a construção lógica, que é a capacidade da criança de estabelecer relações que
permitam a coordenação de pontos de vista diferentes. Nesse período a criança torna-se capaz de cooperar com as
demais crianças e adultos, o que possibilita, a sua autonomia pessoal.

4º período – Operações formais (11 ou 12 anos em diante)


Nesta etapa, ocorre a mudança pensamento concreto para o pensamento formal, isto é, o adolescente realiza as
operações no plano das ideias, sem necessitar de manipulação ou referências concretas. É capaz de lidar com
conceitos como liberdade, justiça etc.

O processo de desenvolvimento cognitivo proposto por Piaget explica o processo de mudanças na forma de pensar
de todas as pessoas, com a mesma sequência. Entretanto, o início e o término de cada uma delas, depende das
características biológicas, dos fatores educacionais e sociais dos indivíduos (BOCK, 1999).

Ao longo dos seus estudos do desenvolvimento cognitivo, Piaget elaborou as Provas de Operatórias das Operações
Mentais, segundo Moraes (2018),

[...] as provas operatórias são instrumentos “de avaliação intelectual individual” que permitem investigar se o sujeito
já atingiu um estágio cognitivo no qual é capaz de realizar operações mentais. Elas dão um bom direcionamento do
nível de raciocínio lógico, indicando em qual dos estágios piagetianos o sujeito avaliado se encontra. (MORAES, 2018.
242)

As provas piagetiana são importantes para os profissionais da educação localizarem em qual período o
desenvolvimento cognitivo da criança está. Assim, são capazes de criar condições adequadas para a aprendizagem,
respeitando o desenvolvimento cognitivo. As provas são um exemplo de teste no modelo da abordagem cognitiva

3.4. Lev S. Vygotsky (1896-1934)

A obra de Vygotsky também apresenta grande contribuição para a compreensão dos processos de aprendizagem,
pois, segundo ele, “é o aprendizado que possibilita o despertar de processos internos de desenvolvimento que, não
fosse o contato do indivíduo com certo ambiente cultural, não ocorreriam” (OLIVEIRA, 1995, p. 56, grifo nosso).

Assim, o desenvolvimento ocorre a partir do processo de aprendizagem, no qual a aquisição do conhecimento se dá


no meio social, entre a criança e a sua cultura, e há transformação do homem sobre ele mesmo, através dos
instrumentos que transformam ativamente a realidade, em vez de imitá-la.

Segundo Botelho (2016), Vygotsky considera que o período da infância apresenta características próprias das
funções psicológicas e, ao passar do tempo, e as interações vão evoluindo de acordo com as suas experiências e
marcos neuropsicológicos.

Além da cultura, meio social e o sujeito o autor considerou a parte biológica do organismo, conforme Vygotsky, a
proposta engloba a base biológica, que seria estimulada pelo meio ambiente (social, cultural e físico), pois o
desenvolvimento está relacionado com a junção do ambiente e o fisiológico da criança. Essa junção permite o
avanço nos processos de maturação neurofisiológica e de aprendizagem (estrutura mental) (BOTELHO, 2016).

A importância do entendimento da lei genética geral do desenvolvimento cultural mostra a interação entre o
biológico e social, que acontece de maneira organizada, dependendo da estrutura pré-programada pela genética,
mas irá sofrer influência do meio, seja social, cultural e físico. Essa combinação culminará no desenvolvimento das
características humanas que estão relacionadas com o desenvolvimento psicológico, que passa da categoria
interpsíquica para a interpsíquica.

As pesquisas de Vygotsky demonstraram que a origem das funções superiores está nas relações estabelecidas entre
as pessoas, e que, a partir delas, desenvolvem o processo de internalização das formas culturais do comportamento
(BOTELHO, 2016).

Assim sendo, o homem torna-se social à medida que, agindo entre si, utiliza instrumentos para aproximar-se de seus
semelhantes e, assim, os instrumentos também adquirem a utilidade no contexto social. Um dos instrumentos, os
signos, vão possibilitar ao homem ampliar a sua capacidade de atuar sobre o mundo. A partir do momento em que
armazena as informações do meio, passando a internalizá-las, o homem constrói o seu mundo interno, ou seja, as
representações mentais.
Essa capacidade de realizar as operações mentais, nas quais a ação do mundo não se faz diretamente, mas através
dos signos internalizados que representam os elementos do mundo, não necessita da interação concreta do homem
com os objetos do seu pensamento.

Ao longo do processo histórico do homem, as representações da realidade se articulam em sistemas simbólicos.


Assim, os sistemas de representação da realidade – a linguagem é um deles – se dá no contexto social. Portanto, é o
grupo “cultural onde o indivíduo se desenvolve que lhe fornece formas de perceber e organizar o real, as quais vão
constituir os instrumentos psicológicos que fazem a mediação entre indivíduo e o mundo” (OLIVEIRA, 1995, p. 36).

Os sistemas simbólicos, e particularmente a linguagem, permitem ao homem partilhar com os membros de seu
grupo, através dos significados a interpretação de sua realidade, está constituída pelos objetos, eventos e situações
do mundo real.

Na obra de Vygotsky, “é o aprendizado que possibilita o despertar de processos internos do indivíduo, liga o
desenvolvimento da pessoa à sua relação com o ambiente sociocultural em que vive e a sua situação de organismo
que não se desenvolve plenamente sem o suporte de outros indivíduos de sua espécie” (OLIVEIRA, 1995, p. 18).

Tal compreensão do processo de aprendizagem por Vygotsky, vai possibilitar a construção dos conceitos de zona do
desenvolvimento real, zona do desenvolvimento potencial e zona do desenvolvimento proximal, nas quais

o nível real de desenvolvimento define as funções que já estão maduras, quer dizer, os produtos finais do
desenvolvimento, a Zona de desenvolvimento próximo define “aquelas funções que ainda não tenham amadurecido,
porém que se encontram em processo de maturação, função que em um amanhã próximo alcançarão seu
amadurecimento e que agora se encontram em um estado embrionário. (MINGUET, 1998, p. 114)

Assim, o processo de desenvolvimento do indivíduo se faz através do aprendizado, que se dá no contexto


sociocultural à medida em que o indivíduo adquire os conceitos de sua realidade cultural. Decorrente desse
processo, surge o conceito de zona de desenvolvimento proximal, que Vygotsky utiliza para mostrar a importância
do outro no processo de aprendizagem, e possibilita a compreensão da relação entre desenvolvimento e
aprendizado. Portanto, a zona de desenvolvimento proximal é “constituída pelo que o sujeito seria capaz de fazer
com a ajuda de outras pessoas ou de instrumentos mediadores externos” (VYGOTSKY, 1991 apud POZO, 1998, p.
197).

A partir deste conceito, Vygotsky demonstra a importância do outro no processo de aprendizagem, bem como a
importância do social para a formação do indivíduo. O processo de formação psicológica do indivíduo,
primeiramente se dá através da aquisição dos símbolos, regras, normas, valores sociais de seu contexto sócio-
histórico. A aquisição desses instrumentos ocorre por meio do outro e, assim, fica estabelecida a importância do
grupo social no processo de aprendizagem e de desenvolvimento do indivíduo.

Vygotsky conceitua esse processo de transformação do indivíduo, da esfera interpessoal para a esfera intrapessoal,
como sendo o processo de internalização. A internalização, portanto, é o conjunto de ações que conduzirão a
aquisição dos aspectos sociais em individuais, onde “o processo, sendo transformado, continua a existir e a mudar
como uma forma externa de atividade por um longo período de tempo, antes de internalizar-se definitivamente”
(VYGOTSKY, 1991, p. 65).

O instrumento pelo qual se dá o processo de internalização é o signo. Segundo o teórico, “a internalização de formas
culturais de comportamento envolve a reconstrução da atividade psicológica tendo como base as operações com
signos” (VYGOTSTKY, 1991, p. 65).

Dessa forma, o processo de internalização, possibilitado pela cultura, consequentemente, a cultura é o mediador
entre o indivíduo e o mundo, fornecendo-lhe condições de construir as suas representações mentais que dará a sua
forma de entender e intervir sobre o mundo. A linguagem é o sistema simbólico de intercâmbio social entre os
indivíduos de uma dada cultura, ao mesmo tempo que lhe ordena “o real, agrupando todas as ocorrências de uma
mesma classe de objetos, eventos, situações sob uma mesma categoria conceitual” (OLIVEIRA, 1995, p. 43).
Destarte, a linguagem e a cultura são elementos importantes para o processo de aprendizagem e desenvolvimento
do homem, pois eles se dão em um contexto sócio-histórico. À medida em que há o desenvolvimento da
aprendizagem, linguagem a pessoa terá, como consequência, o desenvolvimento cognitivo.

A necessidade de compreender a teoria de Vygotsky como uma das possibilidades de compreensão da inteligência
(representações mentais), é entender a importância do outro no processo de desenvolvimento cognitivo,
aprendizagem e da linguagem por meio do mediador, que pode ser qualquer indivíduo da espécie humana.

Vygotsky não criou um mecanismo de testagem para averiguar os conhecimentos localizados nas zonas de
desenvolvimento proximal ou real; entretanto, a base conceitual permite que sejam feitas avaliações qualitativas
com as crianças e adolescentes por meio da realização das atividades estruturadas com esse objetivo. Um exemplo
dessas avaliações é o Sistema de Triagem Pré-escolar (PSS), teste que permite avaliar as áreas cognitiva responsáveis
pela aprendizagem – motricidade, linguagem e função visoespaciais.

3.5. Utilização da avaliação cognitiva na educação

As duas propostas do desenvolvimento cognitivo, mostram que o biológico é a base para que se tenha a interação
entre o indivíduo e o seu meio ambiente (físico, social, cultural) e, nessa troca de informações, acontece o
desenvolvimento cognitivo e das capacidades inerentes ao processo.

Os autores têm em comum a explicação da interação entre a pessoa e o meio ambiente, o que lhes confere a visão
interacionista do desenvolvimento/aprendizagem/inteligência humana. Ambos autores, também, não montaram
propostas de metodologias educacionais, mas proporcionaram o subsídio por meio de um quadro teórico validado
pelo tempo e as pesquisas que as ideias contidas na visão desses autores.

Portanto, a respeito da avaliação proposta, ela não assume a mesma forma que a proposta psicométrica. Entretanto,
mesmo que sejam qualitativas sobre o aspecto cognitivo, fornecem informações a respeito da capacidade das
representações mentais e aspectos psicológicos da inteligência.

As avaliações existentes com relação à proposta piagetiana são as provas operatórias das representações mentais.
Na proposta de vygotskiana, há instrumentos criados para a avaliação da criança a respeito dos conhecimentos
localizados na zona de desenvolvimento real, ou seja, o conhecimento que a criança já internalizou, e os que estão
na zona de desenvolvimento proximal e, portanto, necessitam da interferência da mediação do professor ou adulto
para que haja a aprendizagem/interiorização da informação.

Portanto, a avaliação cognitiva proposta pelos dois autores que são utilizados na educação permite conhecer o
ponto no qual as crianças se encontram no processo de desenvolvimento cognitivo. Entretanto, essa forma está
relacionada com a qualidade, ou seja, como as crianças realizam as atividades e em qual ponto se encontram no
processo de desenvolvimento/aprendizagem/intelectual.

4 Novas perspectivas teóricas: inteligência e criatividade

Atualmente, temos visto mudanças significativas no entendimento da inteligência e de um dos aspectos que a
compõe a criatividade. O aumento nos estudos da inteligência/criatividade deve-se às transformações na sociedade
do conhecimento e, no perfil dos profissionais de todas as áreas do saber.

O futuro será caracterizado cada vez mais pela mudança, rapidez e imprevisibilidade. Resolver problemas de forma
apenas lógica será então insuficiente face aos novos desafios, sendo as competências criativas de resolução de
problemas necessárias à inovação exigida. Estas competências são mesmo encaradas como necessidade de quase
sobrevivência futura. (STARKO, 2010 apud MORAIS,2020, p. 3)

No futuro, serão solicitadas cada vez mais a inteligência e a criatividade, com relação à capacidade de resolver
problemas. Isso porque, para alguns teóricos, a criatividade faz parte da inteligência, e, portanto, está relacionada
com inteligência-resolução de problemas- criatividade. Entretanto, não é conclusivo nos estudos a respeito da
relação entre inteligência e criatividade.
Tais habilidades são consideradas as “habilidades do século XXI”, devido às demandas para as resoluções dos
problemas que surgem na vida das pessoas, seja profissional ou pessoal. Analisaremos, agora, algumas maneiras de
compreender a relação entre inteligência e a criatividade, porém, frisamos novamente, algumas abordagens ainda
estão sendo construídas.

4.1 Perspectiva da inteligência e da criatividade

Hoje há uma grande variedade de estudos que promovem a atualização no entendimento da inteligência e da
criatividade nas diferentes abordagens que estudam tais construtos. A base de entendimento está nas pesquisas
realizadas nas abordagens psicométrica e cognitiva, pois elas permitiram que houvesse o surgimento de discussões
sobre o que é inteligência e, a criatividade.

Os temais tornam-se urgentes para que se tenha uma nova forma de entender a inteligência e se existe relação com
a criatividade. Essa compreensão tornará o desenvolvimento de instrumentos psicológicos que permitam avaliar
com maior validade e fidedignidade tais construtos, bem como criar estratégias que conduzam os alunos desde o
ensino básico até a pós-graduação desenvolverem a criatividade na resolução de problemas na área profissional,
pessoal e lazer.

4.2 Inteligência e a criatividade: novos desafios na ciência e na educação

No final do século XX, observaram-se grandes transformações que reorganizaram o modo de produção e, por
conseguinte, mudaram o funcionamento da sociedade e promoveram novas demandas nas capacidades e
habilidades das pessoas sejam no aspecto pessoal, profissional ou de lazer. Nesse contexto, as pessoas tiveram de
desenvolver a capacidade de se adaptarem às novas realidades.

As novas capacidades estão relacionadas com a inteligência e a criatividade, esses dois construtos já vinham sendo
estudados pelos teóricos das abordagens da psicometria e cognitiva. Porém, ocorreu a intensificação do contexto de
mudança, e os psicólogos buscaram ampliar os conhecimentos dessas duas capacidades que são tão necessárias
para a adaptação do homem à sua realidade. Isso, portanto, envolve conhecer a si mesmo e ao seu meio ambiente,
para ter respostas inéditas para problemas já existentes e os que surgem nas mudanças.

As mudanças sempre foram desafiadoras para a espécie humana, pois, para sobreviver às intempéries da natureza,
foi necessário criar ferramentas que conduzissem o homem à resolução dos problemas que surgissem no seu
caminho. Entretanto, a partir do século XX a velocidade e frequência das solicitações para se responder de forma
criativa trouxeram o fortalecimento de pesquisas que produzissem novos conhecimentos sobre a inteligência e a
criatividade.

Os estudos, mesmo acontecendo há mais de 30 anos na ciência, ainda encontram dificuldades para desvendar esses
construtos, porém, foram feitos caminhos que delinearam novos estudos a respeito desses conceitos. Portanto, na
atualidade ainda se tem muito o que pesquisar e, além disso, criar nas diversas organizações novas condições de
estimular a criatividade e a inteligência, para conseguirem pessoas que tragam inovações nas diversas áreas da
sociedade, com o objetivo de trazer qualidade de vida para as pessoas.

É importante, porém, separar os conceitos de inteligência e criatividade para entender as possibilidades de


compreensão mais recentes sobre esses construtos. A inteligência, segundo Hutz et al. (2018), tem base no que foi
proposto por Cattell-Horn-Carroll (CHC) e sintetizado pelos estudiosos Flanagan e McGrew. Nessa hipótese,
consideram que exista uma hierarquia das habilidades cognitivas em três níveis. O modelo CHC é o estudo mais
recente a respeito da compreensão da inteligência na qual é compreendida pela interligação em camadas das áreas
amplas do funcionamento cognitivo, domínios de conhecimento e os fatores específicos relacionados aos fatores
amplos (HUTZ et al., 2018).

Conforme Gibim (2019), o modelo CHC é o modelo mais adequado, o que mais diferencia e explica as diversas
capacidades que representam a inteligência no quadro da abordagem psicométrica, e isso tem sido um consenso no
quadro da abordagem da psicométrica [...]. Portanto, o modelo CHC é proposto para a explicação da inteligência, e
com base nesse modelo foram construídos instrumentos que avaliem a inteligência, dentre eles está a Bateria
Woodcock-Johnson III – WJ III, essa bateria tem como embasamento a teoria e pesquisas do intelecto humano de
habilidades cognitivas. (GIBIM, 2019, p. 20)
Sobre a criatividade, nas concepções atuais, de acordo com Hutz et al. (2018), ainda não existe um consenso amplo a
respeito de tal construto. Os fatores que atuam na criatividade são os processos cognitivos, traços de personalidade
e contexto ambiental.

Além disso, ainda a respeito da criatividade, existem estudos em várias abordagens que explicam o construto.
Segundo Sternberg (2000, p. 333-336) elas podem ser:

Abordagens Psicométricas

Os estudos de Guilford enfatizam o desempenho em tarefas que envolvam aspectos específicos da criatividade, tais
como: produção divergente, a produção de um agrupamento diferente de respostas apropriadas. O teste de
Torrance, de Paul Torrance, é um dos utilizados para a avaliação psicométrica da criatividade.

Abordagens Cognitivas

Os pesquisadores psicológicos cognitivos enfocaram a criatividade como um processo cognitivo, tal como estudaram
a resolução de problemas e insight. Alguns dos estudiosos cognitivos que estudaram a criatividade foram Robert
Weisberg, Ronald Finke, Pat Langley & Randolph Jones e Steven Smith.

Abordagens da Personalidade e Motivacionais

Os psicólogos dessas abordagens separaram o seu foco da personalidade e da motivação na criatividade. Alguns
teóricos dessas abordagens são Frank Barron, Teresa Amabile e outros.

Abordagens Sociais, Societárias e Históricas

Consideraram além das características intrínsecas das pessoas criativas, alguns estudiosos enfocam a importância
dos fatores externos que contribuem para a criatividade. Teóricos representativos da abordagem são Mihaly
Csikzentmihalyi, Dean Simonton.

Abordagens Integrativas

Howard Gardner tentou sintetizar vários aspectos da pesquisa sobre a criatividade e formular uma visão integrada
do que caracteriza as pessoas criativas. Além dele, Sternberg e Lubart sugerem que os múltiplos fatores individuais e
ambientais devem convergir para que a criatividade venha a ocorrer.

Com relação a essas abordagens, apesar da diversidade de concepções, “a maioria dos pesquisadores concorda em
que a maior parte das características individuais e das condições ambientais precedentes é necessária e nenhuma,
isoladamente, seria suficiente” (STERNBERG, 2000, p. 336).

A respeito da avaliação das pessoas criativas, isso tem sido feito por meio de testes de personalidade, inventários de
autorrelato ou análise de autobiografia. As junções desses instrumentos apontam para as características
relacionadas com a pessoa criativa (GIBIM, 2019, p. 44).

A partir do século XX, surgiram estudos que tentavam relacionar o construto de inteligência com o da criatividade.
Os resultados obtidos mostraram uma variação de respostas que acabaram por tornar essa fonte de muitas
controvérsias. Apesar da grande quantidade de estudos realizados, ainda não atingimos um consenso sobre a
relação entre esses construtos, apesar de que a maioria dos estudos indica que, de fato, há ao menos uma relação
entre inteligência e criatividade.

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