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Av1 Aprendiz
Av1 Aprendiz
Imagine a seguinte situação: você está em casa, sozinho(a) e precisa cozinhar alguma coisa com
ingredientes que vão estragar na geladeira. Já com fome, você busca um vídeo explicativo na internet
e prepara o prato que é ensinado e, assim, consegue comer e saciar a sua fome. Na semana
seguinte, você volta à cozinha e não já precisa mais olhar o vídeo na internet para cozinhar o prato
que fez na semana passada. Isso ocorre, pois você aprendeu a cozinhar aquele prato. E esse é
exatamente o tópico desta unidade: a aprendizagem. Por que aprendemos? Como aprendemos?
Essas e outras perguntas é o que vamos explorar a seguir.
O ato de aprender, de maneira geral, é vinculado com algum objetivo, contido na motivação do
aprendiz (COELHO JUNIOR; BORGES-ANDRADE, 2008). Por exemplo: quando falamos em aprender,
sempre precisamos de um complemento: “aprender a escrever, aprender a nadar”, o aprendizado
nunca é finito, por si só, mas sim relacionado a uma habilidade, comportamento, atitude etc.
E por que aprendemos? Aprendemos, basicamente, para resolver tarefas, solucionar problemas. A
aprendizagem está intimamente relacionada com a nossa sobrevivência, enquanto seres humanos,
como uma forma de adaptação e, sobretudo, de transformação do meio. Se pensarmos em termos
evolutivos, chegamos até aqui graças, muito especialmente, à nossa capacidade de aprender:
aprendemos a fazer fogo, a diferenciar plantas venenosas, a caçar etc.
A aprendizagem é um processo psicológico complexo, multifatorial – depende de aspectos
individuais, fisiológicos, sociais – e, portanto, não há uma definição plena e absoluta acerca deste
constructo. Dessa forma, para nortear os estudos da aprendizagem, vamos nos deparar
com diferentes teorias e concepções que, por vezes, podem ser complementares ou até mesmo
antagônicas entre si.
Vale ressaltar que as consequências produzidas por nossos comportamentos tendem a influenciar
suas ocorrências em um futuro, assim, determinarão, em algum grau, se tornarão a ocorrer e com
que frequência (MOREIRA; MEDEIROS, 2007). Vamos conferir alguns tipos de aprendizagem que são
relacionadas pela consequência dos comportamentos, segundo o condicionamento operante.
É importante que você se lembre que uma característica fundamental da modelagem é o tempo que
o reforço demora a ocorrer: quanto mais próximo ao comportamento, mais eficaz ele será
(MOREIRA; MEDEIROS, 2007).
Piaget propõe que o crescimento cognitivo do sujeito ocorre por meio da assimilação e
acomodação. Para abordar a realidade, nós construímos esquemas de assimilação mental. Quando
nossa mente assimila uma informação, ela incorpora a realidade a seus esquemas de ação e se
impõe ao meio. Frequentemente, nossos esquemas de ação não se mostram capazes de assimilar
uma determinada situação, neste caso, a mente desiste ou se modifica. Quando a mente se modifica,
ocorre a acomodação, que leva à construção de novos esquemas de assimilação, resultando no
desenvolvimento cognitivo. Para Piaget, a aprendizagem só ocorre quando o esquema de
assimilação sofre acomodação (OSTERMANN; CAVALCANTI, 2011).
Por exemplo, uma criança convive em sua casa com um gato, assim, seu esquema para um animal
peludo, de quatro patas, dois olhos é de um gato (assimilação). No entanto, essa criança se depara,
pela primeira vez, com um cachorro. O que possivelmente acontecerá? Ela vai inferir que este cão é,
na verdade, um gato (porque seu esquema de animal peludo foi constituído como gato, não como
cachorro). Ao interagir com o cão, ela vai perceber que ele não é, na verdade, um gato (neste
momento ocorre a acomodação). Um adulto se aproxima e indica que esse é um cão, assim, ela vai
assimilando a informação, por meio da equilibração, até que seu esquema de cão esteja construído e
ela compreenda que nem todo o animal peludo de quatro patas é, necessariamente, um gato.
Nossa mente tende a funcionar em equilíbrio. Quando esse equilíbrio é rompido em função das
experiências que não são assimiladas, nossa mente sofre acomodação, com a intenção de construir
novos esquemas de assimilação, atingindo assim um novo equilíbrio. Esse processo de retorno ao
equilíbrio é o que chamamos de equilibração (OSTERMANN; CAVALCANTI, 2011).
O desenvolvimento psíquico, que começa quando nascemos e termina na idade adulta, é comparável ao
crescimento orgânico: como este, orienta-se para o equilíbrio. [...] O desenvolvimento, portanto, é uma
equilibração progressiva, uma passagem contínua de um estado de menor equilíbrio para um estado de
equilíbrio superior. (PIAGET, 1999, p. 13)
Agora que você já aprendeu alguns termos importantes nesta concepção teórica, vamos
compreender os períodos gerais de desenvolvimento cognitivo, em que partimos do princípio de
que diferentes períodos proporcionam diferentes estruturas no sujeito. Por exemplo, em
determinado período, uma criança pode já apresentar estruturas suficientes para lavar as mãos
sozinha, porém, não para escrever uma carta. Para Piaget, há quatro grandes períodos de
desenvolvimento nos seres humanos, que vão desde o nascimento até a adolescência, relacionados
a essas estruturas e ao desenvolvimento do sujeito. São estes: sensório-motor, pré-operatório (ou
pré-operacional), operatório-concreto (ou operacional concreto) e operacional-formal (ou
operacional abstrato) (OSTERMANN; CAVALCANTI, 2011).
O primeiro período, conhecido como sensório-motor, é o estágio em que é possível verificar uma
coordenação sensório-motora de ação, que se baseia na evolução da motricidade e da percepção do
indivíduo. Este período estende-se desde o nascimento até a aparição da linguagem na criança (por
volta dos 18 a 24 meses, GOULART, 2008).
O segundo período é o pré-operatório (também traduzido como pré-operacional), que tem duração
dos dois aos sete anos, aproximadamente. É neste estágio que a criança se volta a realidade exterior
e é quando a representação mental (capacidade de produção simbólica) surge na criança (GOULART,
2008). Uma diferenciação importante dele para o período anterior é que, no sensório-motor, a
criança é centrada nela mesma, já no pré-operatório a criança volta-se para as descobertas no
ambiente.
O Operatório concreto (também traduzido como operacional-concreto), é o terceiro período de
desenvolvimento cognitivo, que ocorre por volta dos seis a sete anos de idade até os doze ou treze
anos. Nesta fase, a criança passa a interagir com o ambiente de maneira diferente. Este é um
período de transição entre a ação e as estruturas lógicas mais gerais. É no operatório concreto que
surgem as operações lógico matemáticas e as infralógicas (composição de um objeto total a partir de
objetos parciais, como montar um quebra-cabeça mais complexo, por exemplo).
O último período de desenvolvimento cognitivo é o operatório-formal (ou operacional-formal, ou
ainda operatório-abstrato) que se inicia por volta dos onze a quatorze anos de idade. Neste estágio,
o sujeito já é capaz de distinguir o real e o possível, em que sua capacidade de entendimento
ultrapassa o imediato (GOULART, 2008). O adolescente já é capaz de compreender para além do
imediato, planejando e abstraindo conceitos mais complexos.
O processo de aprendizagem, na concepção piagetiana, depende, portanto, da estrutura do sujeito,
relacionada ao período de desenvolvimento em que se encontra, buscando, assim, a equilibração,
dentro de suas possibilidades.
2.3 Aprendizagem segundo a Gestalt
A Gestalt (do alemão Gestalt = forma) é a linha teórica da psicologia que busca compreender a
percepção e a forma, que propõe que o todo é mais importante que a soma de suas partes
(OSTERMANN; CAVALCANTI, 2011). Esta abordagem foi criada em criada pelos psicólogos Max
Wertheimer (1880-1943), Wolfgang Köhler (1887-1967) e Kurt Koffka (1886-1940), na Alemanha, ao
final do século XIX (OSTERMANN; CAVALCANTI, 2011). Vale reforçar que a psicologia da
Gestalt não apresenta relação com a Gestalt-terapia, criada pelo psicanalista Fritz Perls.
Nesta teoria, em contraponto ao behaviorismo, trabalha-se com o conceito de estruturas mentais
enquanto sua totalidade (GIUSTA, 2013). Faz um contraponto com dualismo cartesiano,
apresentando a essência de que o todo é maior que a soma das partes. A interpretação, dentre
outras coisas, explica a compreensão do todo, como o que ocorre em uma pintura, por exemplo: é
necessário interpretá-la em sua totalidade e não somente uma parte da obra ou uma camada de
tinta. Assim, olhar a pintura de maneira isolada não fará com que você compreenda a obra. Nesta
ótica, pode-se dizer que a aprendizagem, na Gestalt, preocupa-se em compreender e resolver
problemas partindo do todo para as partes.
Para nossos estudos, talvez o conceito mais relevância para o estudo da aprendizagem seja o insight,
que consiste em uma percepção súbita de relações entre elementos dentro de um contexto ou
situação problema (OSTERMANN; CAVALCANTI, 2011), que ocorre de maneira encoberta (ou seja, não
observável). Uma característica importante da aprendizagem por meio de insight é que determinadas
situações e ambientes são mais favoráveis do que outras para que os indivíduos obtenham
o insight. Em uma situação escolar, por exemplo, a escola pode proporcionar metodologias e
ambientes que estimulem o insight em crianças.
Quando tratamos de percepção na Gestalt, é fundamental compreendermos as Leis da Gestalt, que,
apesar de não serem direcionadas exclusivamente para o processo de aprendizagem, podem
apresentar implicâncias importantes, como por exemplo as semelhanças e proximidades de um
tema devem ser ressaltadas, se considerarmos a Lei da Proximidade na Gestalt (OSTERMANN;
CAVALCANTI, 2011). Vamos compreender, de maneira sucinta, cada uma destas leis:
2.4 Aprendizagem na concepção Sócio-histórica
Esta abordagem compreende que o desenvolvimento humano se dá por meio das relações sociais
do sujeito ao longo de sua trajetória de vida. Essa teoria está intimamente ligada com os
processos de socialização do sujeito, em que, por meio de sua história, imprime sua própria visão
sobre o mundo ao seu redor.
Surgida ao final do século XIX, essa teoria traz consigo uma série de pensadores, neste tópico vamos
abordar especialmente sobre a teoria de aprendizagem de Lev Semenovitch Vygotsky (1896-1934),
um renomado teórico da perspectiva sócio-histórica, bem como o brasileiro Paulo Freire (1921-1997).
Lev Vygotsky foi um importante psicólogo, que, dentre diversas contribuições, foi o proponente da
psicologia cultural-histórica. Nascido em Orsha, no antigo Império Russo (região que hoje
compreende a Bielorrússia), em 1986, era filho de uma família judia, teve sua formação em Direito na
Universidade de Moscow. Por ter vivido durante a revolução russa, seus estudos tiveram forte
influência nas obras de Karl Marx e Friedrick Engels.
Sob a ótica vygotskiana, a aprendizagem é o processo em que o sujeito adquire informações,
atitudes, habilidades, valores, que ocorre a partir do contexto em que está inserido, por meio de sua
relação com o ambiente e outras pessoas. Dessa forma, o aprendizado incluí a interdependência dos
sujeitos no processo de aprender (OLIVEIRA, 1993). Para Vygotsky, não é possível realizar uma
separação entre o indivíduo (psicológico), o mundo material e o social: todas as esferas estão
interligadas e o pensamento tem sua forma moldada pela cultura.
Assim, o indivíduo é histórica, social e culturalmente datado: o lugar que se ocupa no tempo e no
espaço contribui para a formação da personalidade e o desenvolvimento. Por exemplo: uma pessoa
nascida no Amazonas, em 1950, é diferente de alguém nascido em Santa Catarina, no ano de 2020,
tanto por questões temporais (como era o mundo e as tecnologias em 1950), quanto geográficas
(são estados com populações culturalmente muito diferentes). Nesse princípio, então, não é possível
pensarmos em indivíduos universalizados, é preciso pensar em indivíduos específicos, respeitando
sua história e contexto.
#PraCegoVer: figura demonstra, ao centro, um círculo contendo o ícone de uma criança, em que se
indica “nível de desenvolvimento real”. Em outro círculo, contornando o círculo central, está escrito
ZDP (zona de desenvolvimento proximal). Por fim, é demonstrado uma terceira borda que indica o
potencial de aprendizagem (a solução de problemas sob orientação, com a indicação de um ícone de
uma pessoa adulta.
Aprendizagem experimental
Neste vídeo, Diana Laufenberg conta sua experiência como docente em busca do despertar do
interesse de seus alunos no processo de aprendizagem experimental e por meio de erro. Ela narra
como foi a inclusão de métodos colaborativos e resultados obtidos nessa jornada. (TED, 2010b).
3 A transferência da aprendizagem
Como vimos anteriormente, o ato de aprender nunca é suficiente por si só, assim,
sempre aprendemos algo e nunca apenas aprendemos. Neste sentido, entre a informação obtida e
a prática do que foi aprendido, há o que chamamos de transferência de aprendizagem.
Em linhas gerais, a transferência da aprendizagem ocorre, em linhas gerais, quando um sujeito é
capaz de colocar em prática aquilo que foi aprendido. Por exemplo: imagine que você precisa
consertar o trinco de uma porta em sua casa. Para isso, você pede ajuda a sua namorada, que lhe
ensina como fazer isso. Quando você conserta, sozinho, um outro trinco de outra porta, significa que
você transferiu o aprendizado, ou seja, o colocou em prática aquilo que sua namorada o ensinou.
A transferência de aprendizagem é bastante discutida no âmbito organizacional, justamente pelo
crescente investimento que as empresas em dedicado à educação corporativa. Então, que tal
conhecer mais a respeito deste tema? Assista o vídeo a seguir para entender mais sobre a
transferência de aprendizagem o mundo do trabalho.
4 Dificuldades de aprendizagem
Aprender não é igual para todos, como já vimos. Há, ainda, sujeitos que podem
apresentar dificuldades em aprender. Diversos fatores podem comprometer ou limitar a
aprendizagem em crianças e adultos, sejam por causas biológicas (formação genética, patologia,
distúrbio neurológico, limitação psicomotora) de ordem social (violência, abuso, condições de vida
precárias), ou ainda culturais (viver em uma comunidade não alfabetizada, por exemplo).
No vídeo a seguir, vamos conhecer um pouco sobre as dificuldades de aprendizagem.