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Casos práticos de Direito Penal – Teoria da Lei Penal

I
Tenha em conta os acórdãos do Tribunal Constitucional nº 179/12 e 377/15 pronuncie-
se sobre as propostas de criação do tipo legal de enriquecimento ilícito e de
enriquecimento injustificado à luz princípios que regem o Direito Penal.

II
Tendo em conta os acórdãos do Tribunal Constitucional n.º 134/2020 e 867/2021
pronuncie-se sobre a conformidade constitucional do tipo legal de maus tratos a animais
(art. 387.º, n.º 3, Código Penal).

III
Até 1998, o crime de lenocínio possuía a seguinte formulação no Código Penal
português: “Quem, profissionalmente ou com intenção lucrativa, fomentar, favorecer ou
facilitar o exercício por outra pessoa de prostituição ou a prática de atos sexuais de
relevo, explorando situações de abandono ou de necessidade económica, é punido com
pena de prisão de 6 meses a 5 anos”.
Após 1998, o legislador alterou a configuração deste crime eliminando a exigência da
exploração de situações de abandono ou de necessidade económica da vítima. Assim,
passou simplesmente a cometer o crime de lenocínio “quem, profissionalmente ou com
intenção lucrativa, fomentar, favorecer ou facilitar o exercício por outra pessoa de
prostituição” (artigo 169.º, n.º 1, do CP). O elemento da exploração de situações de
especial vulnerabilidade da vítima passou a ser meramente considerado como uma
circunstância agravante da pena aplicável (artigo 169.º, n.º 2, alínea d)).
Pronuncie-se sobre a constitucionalidade da versão atual do crime de lenocínio à luz dos
princípios estruturantes do direito penal.
Ver acórdãos do Tribunal Constitucional nº 641/2016 e n.º 72/2021

IV
António e Carlos, que se encontravam a pescar enguias no rio Tâmega durante a noite,
foram detidos por dois guardas florestais, presentes a tribunal e acusados do crime de
pesca ilegal – pesca em época de defeso –, previsto no Decreto-Lei nº 44 623, de 1962.

1
De acordo com o artigo 67º do referido diploma, verificando-se uma das circunstâncias
agravantes previstas na lei – como sucedia no caso, pelo facto de o crime ter sido
perpetrado durante a noite – deveria ser automaticamente aplicada a pena máxima aí
prevista. Porém, o juiz recusou-se a aplicar esse solução legal por considerar que a
mesma tinha sido tacitamente revogada, por inconstitucionalidade superveniente, na
sequência da entrada em vigor da Constituição de 1976.
O Ministério Público recorreu desta decisão para o Tribunal Constitucional, que foi
chamado a apreciar se esta solução legal era compatível com o princípio da culpa em
direito penal.
Acórdão do TC n.º 83/91.
Acórdão do TC n.º 95/01

V
O artigo 46.º, n.º 7, do Decreto n.º 2-C/2020, de 17 de abril, da Presidência do Conselho
de Ministros dispõe que «a desobediência e a resistência às ordens legítimas das
entidades competentes, quando praticadas em violação do disposto no presente decreto,
são sancionadas nos termos da lei penal e as respetivas penas são sempre agravadas em
um terço, nos seus limites mínimo e máximo, nos termos do n.º 4 do artigo 6.º da Lei n.º
27/2006, de 3 de julho».
Pronuncie-se sobre a conformidade constitucional desta norma
(Acórdão Tribunal Constitucional n.º 618/2022)

VI
Por decisão proferida pela Direcção Geral de Viação/Delegação Distrital de Viação de
Leiria, o arguido MC foi condenado pela prática da contra-ordenacão prevista p. e p.
pelos artigos 15º, nº1 e 31º do Decreto-Lei nº 175/91, de 11 de Maio, com a redacção
dada pelo Decreto-Lei nº 343/97, de 5 de Dezembro, em conjugação com o art. 18º, n.º
2 do Regulamento de Provas de Exame aprovado pela Portaria n.º 536/2005, de 22 de
Junho e com o Despacho do Director-Geral de Viação n.º 15150/2005, de 19 de Julho,
sendo-lhe imputada a prática do seguinte facto: na qualidade de director do Centro de
Exames, não procedeu ao sorteio dos percursos/examinadores, tendo encarregado uma
funcionária de o fazer, facto que ocorreu no dia 26 de Janeiro de 2006, pelas 13h51m,
no Centro de Exames dirigido pelo arguido, sito no n.º 2, Anieca, em Porto de Mós.

2
MC, com os sinais dos autos, recorre da sentença que julgou improcedente o recurso de
impugnação por si interposto da decisão do Director-Geral da Viação, mantendo, assim,
a condenação.
Fundamenta o recurso interposto do seguinte modo: o artigo 15º, n.º1 do D.L. 175/91 de
11/5 que regula a realização de exames para obtenção da carta de condução de veículos
automóveis, remetendo para outras normas para a concretização de determinados
elementos do tipo, por forma abstracta e genérica, sem definição de conteúdo ou limite,
viola a princípio da tipicidade ou da determinabilidade da lei penal, aplicável à
definição dos ilícitos de mera ordenação social, constitui uma norma penal em branco.
Quid iuris
(Cfr.http://www.dgsi.pt/jtrc.nsf/c3fb530030ea1c61802568d9005cd5bb/178a1b26fbe20e
56802574e5004f2692?OpenDocument, também disponível no moodle)

VII
A. e Outro, condenados pela 1.ª Vara Criminal do Tribunal do Porto como autores
materiais de um crime de infracção de regras de construção, p.p. no artigo 277.º, n.º 1,
alínea b), do Código Penal invocam a sua inconstitucionalidade material com
fundamento na violação do princípio da tipicidade.
Quid iuris
(Cfr. http://www.tribunalconstitucional.pt/tc/acordaos/20080102.html, disponível ainda
no moodle)

VIII
António, cabeça de casal na herança aberta por óbito de seu pai, Bento, celebra a
competente escritura de habilitação no notário, no dia 1 de Fevereiro de 2013. Porém,
apesar de expressamente advertido, nos termos do art. 97.º do Código do Notariado 1, de
que a prestação de declarações falsas traduz a prática de crime de falsas declarações,
afirma que é o único herdeiro, quando bem sabe que seu irmão, Duarte, também é
herdeiro de seu pai, tentando assim afastá-lo da herança a que tem direito.

1
) Com a seguinte redacção: “«Artigo 97.º Advertência - Os outorgantes são advertidos de que
incorrem nas penas aplicáveis ao crime de falsas declarações perante oficial público se,
dolosamente e em prejuízo de outrem, prestarem ou confirmarem declarações falsas,
devendo a advertência constar da escritura.”

3
Pronuncie-se sobre a eventual responsabilidade criminal de António, nomeadamente à
luz do art. 348.º-A do Código Penal.
(Cfr. Ac. TC 379/2012, disponível em
http://www.tribunalconstitucional.pt/tc/acordaos/20120379.html e Ac. TC 96/2015,
disponível em http://www.tribunalconstitucional.pt/tc/acordaos/20150096.html )

IX
António é surpreendido por Bento que empunha uma seringa usada e lhe pede todo o
dinheiro que traz consigo, bem como o seu iphone, o que António faz.
Poderá Bento responder pela prática de um crime de furto qualificado, p.p. no art. 204.º,
n.º 2, al. f) do CP, considerando-se que a seringa que empunha pode ser qualificada
como «arma»?
(Ac. do STJ, de 8.02.1996, BMJ, n.º 454, pp. 370 e segs.)

X
Por despacho de 23 de Setembro de 1997, proferido no 9º Juízo Criminal de Lisboa, foi
declarado prescrito o procedimento criminal, em virtude de se ter considerado decorrido
o prazo de dois anos, previsto no artigo 117º, nº 1, alínea d) do Código Penal de 1982,
sem que tivesse ocorrido qualquer causa susceptível de interromper ou suspender o
decurso do prazo prescricional, nos termos dos artigos 119º e 120º do Código Penal.
Determinou-se, em consequência, o arquivamento dos autos. Desse despacho interpôs
recurso o assistente, J..., invocando a interrupção do prazo de prescrição do
procedimento criminal antes de 12/12/95, momento da notificação para as primeiras
declarações do arguido na fase do inquérito. O fundamento do recurso foi a
interpretação "forçosamente actualista", após 1987 e em virtude da entrada em vigor do
novo Código de Processo Penal, do artigo 120º, nº 1, alínea a), do Código Penal,
segundo a qual tal norma passaria a referir à constituição de arguido e à fase do
inquérito (artigo 57º do Código de Processo Penal) o momento da interrupção da
prescrição que o legislador de 82 referira à instrução preparatória, durante a vigência do
Código de Processo Penal de 1929.
O recurso deve proceder?
(Ac. do TC n.º 205/99)

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XI
Desde Agosto de 2009 que Abel, de 80 anos de idade, se encontrava acamado devido a
um cancro em fase terminal. Para aliviar as dores intensas que sentia o médico receitou-
lhe uma injecção diária de morfina.
João, filho de Abel, não aguentando mais assistir à degradação e sofrimento do pai e
sabendo que desde sempre Abel fora apologista da eutanásia, resolve, em Janeiro de
2010, quadruplicar a dose diária de morfina, o que provocou a morte de Abel.
Em Abril de 2010, o Ministério Público acusou João do crime de homicídio qualificado,
ao abrigo do disposto no artigo 132º, nº2, alínea a), do Código Penal.
Em Julho de 2010, entrou em vigor a Lei X que estabelecia o seguinte: “Age sem culpa
quem, em caso de doença séria, dolorosa e terminal, praticar um facto ilícito contra a
vida da pessoa que padece dessa enfermidade, com o intuito de extinguir o seu
sofrimento”.
Aprecie fundamentadamente a eventual responsabilidade penal de Abel.

XII
A revogação do Código de Trabalho de 2003, operada pelo art.º 12º, nº 1, al. a), da Lei
nº 7/2009, de 12/2, implicou a eliminação do número das infracções das contra-
ordenações tipificadas no art.º 671º do mesmo código, já que a manutenção em vigor
desta disposição não foi ressalvada, designadamente pelo nº 3, al. a), do referido art.º
12º.
Sucede que, nos termos da Declaração de Rectificação nº 21/2009, publicada no D.R. a
18/3/2009, rectificou-se a redacção do aludido art.º 12º, nº 3, al. a), nele passando a
referenciar também o art.º 671º do C.T. de 2003, de modo a que este artigo não fosse
afinal revogado.
Está pendente, na fase judicial, um processo que tem por objecto a eventual prática de
uma contra-ordenação laboral, que terá ocorrido em 2008. Como deve decidir o juiz?

(ac. da Rel. de Évora, de 05.05.2009, Proc. 2595/08-2 e acórdão do TC n.º 490/09)

XIII
O artigo 24.º do Decreto-Lei 13004, de 12 de Janeiro de 1927, dispunha que:
«Ao sacador de um cheque cujo não pagamento, por falta de provisão, tiver sido
verificado nos termos e no prazo prescritos nos artigos 21.º e 22.º do presente decreto

5
com força de lei será aplicada, a pedido do portador do cheque, a pena de seis meses a
dois anos de prisão correccional.»
Por seu lado, o artigo 11.º do Decreto-Lei n.º 454/91, de 28 de Dezembro, passou a
dispor que:
«Será condenado nas penas previstas para o crime de burla, observando-se o
regime geral de punição deste crime, quem, causando prejuízo patrimonial:
a) Emitir e entregar a outrem cheque de valor superior ao indicado no art. 8.º
(5.000$00) que não for integralmente pago por falta de provisão, verificada nos termos
e prazos da Lei Uniforme Relativa ao Cheque».

1. Carlos adquire a Duarte um televisor no valor de 300.000$00 em 5 de Janeiro de


1990. Ficou acordado entre ambos que o pagamento seria feito em 3 prestações
mensais, no valor de 100.000$00 cada uma. Para o efeito, Carlos entregou a Duarte, no
mesmo dia, 3 cheques, no valor de 100.000$00, com datas de 5 de Janeiro, 5 de
Fevereiro e 5 de Março 1990, ficando combinado entre ambos que Duarte só os
apresentaria a pagamento nas datas respectivas. Sucede que Duarte atravessa
inesperadas dificuldades económicas, pelo que apresenta os últimos 2 cheques a
pagamento no dia 5 de Fevereiro de 1990, os quais são devolvidos por falta de provisão
em 9 de Fevereiro de 1990. Iniciado o competente processo penal, na sequência da
queixa apresentada por Duarte, o Ministério Público deduz acusação contra Carlos,
imputando-lhe a prática de 2 crimes de emissão de cheque sem provisão. No julgamento
ficam provados os factos acima descritos. Como deve decidir o juiz?

(Assento n.º 6/1993, de 27.01.1993, D.R., I.ª-Série A, de 7.4.1993)

2. Suponha agora que o julgamento de Carlos só tem lugar em 1998, data em que já
estão em vigor as alterações ao artigo 11.º do Decreto-Lei n.º 454/91, introduzidas pelo
Decreto-Lei n.º 316/97, de 28 de Dezembro, em virtude das quais a sua redacção passou
a ser a seguinte:
«1. Quem, causando prejuízo patrimonial ao tomador do cheque ou a terceiro:
a) Emitir e entregar a outrem cheque para pagamento de quantia superior a
€ 62,35 que não seja integralmente pago por falta de provisão(...)
(...) é punido com pena de prisão até 3 anos ou com pena de multa (...).

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2. O disposto no n.º 1 não é aplicável quando o cheque seja emitido com data
posterior à da sua entrega ao tomador».

A sua resposta é a mesma?

XIV
Quando Joana passeava na via pública, João apoderou-se da carteira desta, utilizando,
para o efeito, uma arma.
No momento em que o facto foi praticado, vigorava a Lei X, que dispunha o seguinte: “
Pratica um crime de roubo quem se apoderar de coisa alheia, mediante o emprego de
uma arma”.
Aquando do julgamento, a Lei X havia sido substituída pela Lei Z, a qual preceituava:
“Pratica um crime de roubo quem se apoderar de coisa alheia, na via pública”.
Aprecie a eventual responsabilidade penal de João.

(Cfr. Taipa de Carvalho, Direito Penal – Parte Geral – Questões Fundamentais –


Teoria do Crime, Coimbra Editora, Coimbra, 2008, p. 196-201)

XV
Pelo Decreto-Lei n.º 20-A/90, de 15 de Novembro, foi aprovado o Regime Jurídico das
Infracções Fiscais não Aduaneiras. Dispunham os seus arts. 2.º e 5.º:

«Artigo 2º (Início da eficácia temporal)

As normas, ainda que de natureza processual, do Regime Jurídico das Infracções


Fiscais não Aduaneiras só se aplicam a factos praticados posteriormente à entrada em
vigor do presente diploma.

Artigo 5º (Âmbito da revogação)

2.- Mantêm-se em vigor as normas de direito contravencional anterior até que


haja decisão, com trânsito em julgado, sobre as transgressões praticadas até à data da
entrada em vigor do presente diploma.»

António praticou determinada contravenção fiscal em data anterior à entrada em vigor

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do referido diploma legal, o qual, contudo, já está em vigor na data em que tem lugar o
seu julgamento. Sucede que o regime introduzido pelo referido diploma é, em concreto,
mais favorável do que aquele que vigorava na data da prática dos factos imputados a
António.

Como deve decidir o juiz?

(Ac. Tribunal Constitucional n.º 150/94, disponível em www.tribunalconstitucional.pt)

XVI
1. António é acusado, em Outubro de 2006, da prática de um facto punível com uma
multa de 40 €, a título de transgressão rodoviária, prevista no Código da Estrada em
vigor na altura da prática do facto. Sucede, porém, que, por força da Lei X, de Junho de
2007, todas as transgressões rodoviárias vêm a ser transformadas em contra-ordenações.
Quid iuris.

(Acórdão do S.T.J., de 01/05/95, proc. Nº 047080)

2. Suponha agora que a Lei X tinha uma disposição com o seguinte teor:

«Regime transitório

1 - As contravenções e transgressões praticadas antes da data da entrada em


vigor da presente lei são sancionadas como contra-ordenações, sem prejuízo da
aplicação do regime que concretamente se mostrar mais favorável ao agente,
nomeadamente quanto à medida das sanções aplicáveis.

2 - Os processos por factos praticados antes da data da entrada em vigor da


presente lei pendentes em tribunal nessa data continuam a correr os seus termos
perante os tribunais em que se encontrem, sendo-lhes aplicável, até ao trânsito em
julgado da decisão que lhes ponha termo, a legislação processual relativa às
contravenções e transgressões.»

A sua resposta é a mesma?

(Ac. do T.C. n.º 221/2007)

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XVII
António é julgado e condenado pela prática de um determinado crime público, a uma
pena de prisão efectiva de 2 anos. Durante o processo, o ofendido juntou aos autos um
documento pelo qual declarou que desistia da queixa, mas esta desistência não foi
homologada, em virtude de o crime não ter natureza semi-pública. Sucede que, 6 meses
depois de a sentença transitar em julgado, em Janeiro de 2006, entra em vigor uma nova
redacção do CP, nos termos da qual o crime pelo qual António foi condenado passou a
ter natureza semi-pública. Poderá António beneficiar da aplicação desta nova lei, nos
termos da redacção do Código Penal em vigor em 2006? Em que termos?

(Ac. do S.T.J, de 10.07.1984, B.M.J., n.º 339, pp. 353 e segs.; Acs. do Tribunal
Constitucional n.º 644/98, 677/98 e 169/02, disponíveis em
www.tribunalconstitucional.pt)

XVIII
1. Armando é condenado em 1ª instância, em Março de 2006, a uma pena concreta de 6
anos de prisão, pela prática do crime de ofensa à integridade física grave (artigo 144º,
do CP). A sentença transita em julgado em Abril de 2007.
Em Junho de 2007, surge uma nova lei que determina novas regras de determinação da
medida concreta da pena que, se aplicadas à situação jurídico-penal de António,
determinariam a condenação do mesmo numa pena concreta de 4 anos de prisão. Tendo
isso em conta, Armando quer que se lhe aplique a nova lei.
Quid iuris?

(Acórdãos do Tribunal Constitucional n.º 164/2008 e n.º 265/2008 )

2. Maria é condenada, com sentença transitada em julgado, em Março de 2004, a uma


pena concreta de 4 anos de prisão, pela prática do crime de infanticídio (artigo 136º, do
CP).
Acontece que, em Fevereiro de 2008, surge uma nova lei que procede a diversas
alterações ao Código Penal, entre as quais, estabelece que a punição pela prática do
crime de infanticídio deve corresponder a uma “pena de prisão de um a três anos”.
Maria quer que se lhe aplique a nova lei, sendo que já cumpriu 3 anos e dois meses de
prisão.

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Quid iuris.

3. Bernardo é condenado em 1ª instância, em Abril de 2006, a uma pena concreta de 3


anos e 6 meses de prisão, pela prática do crime de violência doméstica (artigo 152º, do
CP). A sentença transita em julgado em Outubro do mesmo ano.
Em Setembro de 2007, surge uma nova lei que permite a suspensão da execução de
penas de prisão não superiores a 5 anos, enquanto que a lei anterior só o permitia se a
pena não fosse superior a 3 anos.
Bernardo está convencido de que se verificam os pressupostos da suspensão de
execução da pena de prisão a que foi condenado, mas a verdade é que, como a lei
anterior não o permitia, não foi produzida prova, na audiência de julgamento, destinada
a demonstrar a verificação dos mesmos pressupostos, pelo que este terá de invocar e
provar factos novos que nunca foram discutidos em julgamento.
Tendo isso em conta, Bernardo pretende que se proceda à reabertura da audiência de
julgamento para que possa produzir prova relativamente a esses novos factos, de modo a
que a pena a que foi condenado seja suspensa.
Quid iuris.

(Ac. Tribunal Constitucional nº 265/2008 e Ac. do STJ n.º 15/2009)

XIX

António foi acusado pelo Ministério Público da prática de determinado crime. De


acordo com a Lei em vigor no momento da prática dos factos, o prazo de prescrição era
de 5 anos. Sucede que, em virtude de uma alteração que entrou em vigor na pendência
do processo, esta prazo foi encurtado para 2 anos. Se for aplicável a nova Lei, o prazo
de prescrição já decorreu, enquanto que, por aplicação da Lei anterior, o mesmo prazo
ainda não foi ultrapassado. Qual das duas leis deve o juiz do julgamento aplicar?

Suponha agora que, nos termos da Lei em vigor no momento da prática do facto, o
prazo de prescrição já decorreu. Porém, entrou em vigor uma nova Lei que aumentou
esse mesmo prazo, o qual ainda não decorreu quando o juiz vai proferir sentença. Qual
das duas leis deve o juiz de julgamento aplicar?

(Assento de 19 de Novembro de 1975, D.R., I.ª-Série A, de 17.12.1975)

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XX
O art. 7.º da Lei 10-A/2020, de 13 de Março dispõe:
“Artigo 7.º
Prazos e diligências
1 - Sem prejuízo do disposto nos números seguintes, aos atos processuais e procedimentais que devam
ser praticados no âmbito dos processos e procedimentos, que corram termos nos tribunais judiciais,
tribunais administrativos e fiscais, Tribunal Constitucional, Tribunal de Contas e demais órgãos
jurisdicionais, tribunais arbitrais, Ministério Público, julgados de paz, entidades de resolução alternativa
de litígios e órgãos de execução fiscal, aplica-se o regime das férias judiciais até à cessação da situação
excecional de prevenção, contenção, mitigação e tratamento da infeção epidemiológica por SARS-CoV-2
e da doença COVID-19, conforme determinada pela autoridade nacional de saúde pública.
(…)
3 - A situação excecional constitui igualmente causa de suspensão dos prazos de prescrição e de
caducidade relativos a todos os tipos de processos e procedimentos.
4 - O disposto no número anterior prevalece sobre quaisquer regimes que estabeleçam prazos máximos
imperativos de prescrição ou caducidade, sendo os mesmos alargados pelo período de tempo em que
vigorar a situação excecional.”

O regime de suspensão da contagem dos prazos de prescrição, previsto no n.º 3, á


aplicável aos prazos de prescrição que já se encontrassem a correr na data de entrada em
vigor desta Lei?
(v. acórdão da Relação de Lisboa de 21.07.2020, Proc. 76/15.6SRLSB.L1-5, disponível
em:http://www.dgsi.pt/jtrl.nsf/33182fc732316039802565fa00497eec/134708951c434be
2802585b400313218?OpenDocument e acórdão do TC n.º 798/2021)

XXI
António, co-gerente da filial de Lisboa da empresa multinacional de cosmética, Beauty,
com sede em Singapura, é convidado pelo conselho de administração da empresa mãe,
para ir trabalhar para Singapura, a fim de chefiar o departamento de imagem e
marketing da referida Beauty.
António aceita de imediato o convite, pois, para além do maior prestígio inerente às
novas funções, o cargo em questão proporciona-lhe um aumento salarial na ordem dos
90%.
José, o outro co-gerente da filial de Lisboa, que sempre teve pretensões ao lugar, ao
saber da promoção de António, fica indignado. Resolve, então actuar em prol dos seus
interesses.
Para o efeito, telefona a Chuan Man, um mercenário tailandês residente em Singapura, e
oferece-lhe 20.000€ em troca da prestação de um “serviço”. Concretamente Chuan Man
deveria, quando António já estivesse em Singapura, danificar a direcção do carro deste,

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de forma a causar um acidente mortal. O tailandês não hesita e celebra o negócio com
José.
Chuan Man, conforme o combinado, mal António se instala em terras do oriente, quebra
a coluna de direcção do carro deste.
Assim que António começa a guiar, não consegue manter a direcção do carro e despista-
se. A morte foi imediata.
Quid iuris?

XXII
Carlos, residente na Suíça, resolveu envenenar o seu tio António, emigrante em Caracas,
com o intuito de herdar a fortuna pessoal deste último.
Para o efeito, tendo comprado uns magníficos bombons suíços, recheou-os de “mata-
ratos” e enviou-os pelo correio para o seu tio. Este, mal acabou de comer o primeiro
bombom, teve morte imediata.
Na posse da excelente herança do tio António, Carlos decidiu regressar a Portugal a fim
de comprar uma sumptuosa “mansão”.
a) Será a Lei Penal portuguesa aplicável?
b) Imagine que Carlos já fora punido na Suíça por Homicídio Qualificado com
uma pena de 18 anos de prisão, embora tenha conseguido evadir-se ao fim de 5 anos de
prisão. Quid iuris?
c) Suponha que aquele homicídio qualificado seria punido, segundo a Lei Penal
Venezuelana, com uma pena de 10 anos de prisão e, pela Lei Penal Suíça, com uma
pena de 18 anos de prisão. Qual seria a Lei aplicável?

XXIII
João, casado com Isabel, apaixona-se por Matilde, solteira. Como Matilde pretende
casar com João e este nunca lhe disse que era casado, convence-a a casarem em
Marrocos, onde a poligamia é permitida.
Pouco após o seu regresso a Portugal, João é notificado para prestar declarações ao
Ministério Público na qualidade de arguido pelo crime de bigamia, nos termos do artigo
247º do Código Penal.
João alega em sua defesa que esta norma não lhe é aplicável, porque casou com Matilde
em Marrocos, onde a poligamia é permitida.
Tem razão?

12
XXIV
António, domador de leões, obriga o seu filho, Bento, de 8 anos de idade, a colaborar
diariamente consigo no treino dos animais, inflingindo-lhe diversos castigos corporais,
apesar de estar consciente de que tal não é permitido. Num determinado dia, António
decide treinar um número particularmente perigoso com os seus leões, para o que pede a
colaboração de Bento, sabendo dos riscos que corre. Como Bento se recusa a colaborar,
António, furioso, desfere-lhe uma chicotada que o atinge na cara. Bentofica grave e
permanentemente desfigurado em virtude dos ferimentos sofridos.
O M.P. deduz acusação contra António pela prática dos crimes de ofensa à integridade
física grave (art. 144.º do C.P.) e de violência doméstica (art. 152.º de C.P.) Quid iuris?

XXV
Carlos descobre que Duarte, com quem tem relações difíceis, andou a dizer mal dele.
Para esclarecer a situação, dirige-se a casa de Duarte e bate à porta. Quem abre a porta é
Francisca, mulher de Duarte, que diz a Carlos que Duarte não está em casa e que, de
qualquer modo, não o deixa entrar. Carlos, não acreditando em Francisca, empurra-a
violentamente, atirando-a ao chão e entra na casa, à procura de Duarte, que
efectivamente não está presente.

Responda às seguintes questões:

1 – O M.P. deduz acusação contra Carlos, imputando-lhe a prática dos crimes de


violação de domicílio (art. 190.º, n.º 3, do C.P.) e de ofensa à integridade física simples
(art. 143.º do C.P.). Quid Iuris?
2 – Suponha agora que Carlos, furioso por não encontrar Duarte em casa, vinga-se na
mulher deste, a quem dá uma valente tareia, no interior da residência. A sua resposta é a
mesma?

XXVI
O Tribunal Colectivo deu como provados os factos seguintes:
- Na noite de 11 para 12 de Dezembro de 1993, a hora indeterminada, os arguidos
dirigiram-se ao Centro Comercial Terminal, sito no Rossio, em Lisboa. Haviam
combinado entre si assaltar a loja nº 117, de nome "Só Sorte Lda", propriedade de Vitor
Martins.

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- Na concretização desse desígnio, o arguido C. permaneceu numa casa de banho
do referido Centro Comercial, após o seu encerramento. De seguida, saiu da casa de
banho e abriu uma das portas de entrada, por onde se introduziu o co-arguido Virgílio.
Depois, ambos cobriram as cabeças com uma touca e um gorro, que consigo levavam.
- Dirigiram-se à dependência onde se encontrava o vigilante Guilherme F. B. e aí,
sem proferirem quaisquer palavras, agrediram-no a soco e pontapé, na cara, costas,
tórax, abdómen e membros superiores, até cair inanimado. Causaram-lhe, como
consequência directa e necessária, as lesões referidas e examinadas nos autos, que
originaram 180 dias de doença com igual período de incapacidade para o trabalho, bem
como discreta assimetria facial com ligeira hipomobilidade labial e jugal à direita,
acompanhada de esporádicos espasmos faciais direitos com distúrbios post-traumáticos
de stress, consequências permanentes que ainda mantém.
- Encontrando-se o ofendido já caído e inanimado, os arguidos algemaram-no com
um par de algemas, que o Virgílio trazia e que havia adquirido num estabelecimento
comercial. Em seguida, ataram-no com uma corda de nylon ao corrimão de uma escada
existente no local e taparam-lhe a boca com fita cola de tipo industrial.
- Dirigiram-se depois à referida loja, com auxílio de um corta-vidros com
diamante, adquirido pelo Virgílio num supermercado, retiraram a almofada de aço
existente na porta e por aí lograram entrar lá dentro. Do interior retiraram os objectos
relacionados a fls. 14, no valor global de 1.710.000$00, bem como a importância de
224.000$00.
Meteram esses objectos em sacos e transportaram-nos para o automóvel de
matrícula IN-, pertencente ao Virgílio dirigindo-se com eles para as respectivas
residências, após terem-nos dividido em partes iguais.
- Antes de se retirarem do local, os arguidos tiraram as algemas ao ofendido,
deixando-o, contudo, amarrado e amordaçado. Porque ele se conseguiu libertar da corda
que o amarrava, telefonou para as urgências e foi transportado para o hospital, onde
esteve internado durante dois dias.
- Face à intervenção da PSP, alertada para o efeito, foi possível a identificação dos
arguidos, bem como a recuperação e entrega de todo os objectos subtraídos ao seu dono,
bem como da importância de 212.000$00.
- Os arguidos agiram livre, deliberada e conscientemente, contra a vontade dos
ofendidos, sabendo que tais objectos lhes não pertenciam e com intenção de os
integrarem nos respectivos patrimónios.

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- para melhor concretizarem os seus intentos, actuaram conjuntamente; através de
arrombamento e a coberto da noite, que lhe facilitou os actos de execução.
- Ao prenderem o ofendido antes da execução dos actos necessários à subtracção
dos objectos referidos, bem como ao deixá-lo preso e amordaçado, após a execução
daqueles, os arguidos actuaram por forma a privá-lo da sua liberdade de movimentação
e impedi-lo de agir; fizeram-no para que não fossem perseguidos.
- Sabiam que estas condutas eram proibidas por lei.

Em virtude da prova destes factos os arguidos foram condenados pela prática dos
crimes de roubo e de sequestro. Inconformados, interpõem recurso, por considerarem
que apenas podem ser punidos por um crime de roubo. Quid Iuris?

(Ac. do S.T.J., de 27.09.1995, C.J., 1995)

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