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SUBJETIVIDADE MODERNA:

AFIRMAÇÃO DO HOMEM ATRAVÉS


DA RAZÃO
Aula 4 – Profa Karoline Paiva
PSICOLOGIA E HISTÓRIA
■ Por trás de qualquer produção material ou espiritual existe a História.

Compreender algo = recuperar sua história.

■ A história da Psicologia tem por volta de 2 milênios (2000 anos): começou entre os gregos
(período anterior à era cristã).

Desde que o homem pensa, ele pensa sobre si mesmo, mas foi apenas no final do século XIX que
surgiram os projetos de se realizar uma ciência da mente

■ Para compreender a diversidade da Psicologia hoje, ou seja, suas diferentes abordagens


teóricas, é indispensável recuperar sua história.
Linha do Tempo da História da Ciência
Psicológica
Idade Antiga Idade Média Idade Moderna Idade Contemporânea
(4000 a.C. – 476) (476 – 1453) (1453 – 1789) (1789 - →)
Filosofia Antiga Filosofia Medieval Renascimento Capitalismo
Gregos: povo mais Falar em Psicologia na Duas pré-condições para Final do século XIX, na
evoluído na Antiguidade. Idade Média é relacioná- o surgimento de um Alemanha:
la ao conhecimento projeto de Psicologia Wundt cria o 1º
Primeira tentativa de religioso. como ciência: Laboratório de
sistematizar uma 1. Surgimento de uma Psicofisiologia.
Psicologia surge na A Igreja Católica noção clara de Wundt é considerado o
Filosofia, entre os monopolizava o saber subjetividade privada pai da Psicologia
filósofos gregos (além do poder (o Homem é livre, científica
econômico e político). indivisível,
independente um do Advento da Psicologia
outro e dono do científica → Psicologia
próprio destino) “sem alma”.
2. Essa concepção de
Homem entrou em
crise, gerando uma
crise de identidade
Idade Média (476 – 1453)
■ Era difícil responsabilizar o homem por pecar.
■ Homem não era livre
■ Cumpria os planos de Deus
Renascimento (1453 – 1789)

Homem Livre que pode Homem Livre que pode


ser julgado ser julgado
■ Busca pelo Bom Caminho ■ Poderá desviar-se por tentações e
(purificação, iluminação) dispersões
■ Recompensa. ■ Punição
Subjetividade Moderna: afirmação do EU através da razão

Crise da filosofia clássica e medieval

Insegurança Ceticismo

Necessidade de uma referência


confiável sobre a existência

RAZÃO
HUMANA

Profª Dra. RILMA BENTO 6


Contexto

■ Séculos XVII e XVlll : marcados pela ocorrência de grandes transformações políticas,


econômicas e culturais.
■ Essas transformações influenciaram profundamente a visão de mundo da
Modernidade, contribuindo de modo decisivo também para a formulação de um
novo modo de conhecer o homem
■ Mudança cultural impulsionada pela filosofia desses séculos, levará ao nascimento
da psicologia científica no século XIX.
Iluminismo

Iniciou-se como movimento cultural europeu do século XVII e XVIII focado em gerar mudanças políticas,
econômicas e sociais na sociedade da época.

Pensam que presente é moldado pela afirmação das Luzes da Razão, os pensadores iluministas
contrapõem-no ao passado medieval, rotulado negativamente de Idade das Trevas.

Enxergam a disseminação do conhecimento, como forma de enaltecer a razão em detrimento do


pensamento religioso
Duas Orientações Filosóficas

■ As duas orientações têm em comum:


■ Importância da ciência experimental como novo método de conhecimento;
■ Buscam uma renovação da filosofia a partir de urna concepção de razão inerente
ao método científico.
■ A perspectiva empirista, inicialmente proposta por Francis Bacon, preconiza uma
ciência sustentada pela observação, pela experimentação, pela formulação indutiva
de leis.
■ Já o racionalismo de Descartes busca na razão os recursos para a fundamentação
da certeza científica.
René Descartes

■ Diante da percepção aguda da crise dos tradicionais sistemas de saber, Descartes


afirma a necessidade de um novo método de conhecimento para alcançar a certeza.
■ Consciente da crise da filosofia clássica e medieval e assinala a exigência de uma
mudança.
■ Na cultura contemporânea de Descartes, busca-se a evidência da realidade, ou seja, a
presença da verdade não é mais tomada como dado adquirido, e sim problematizada.
■ Como ele mesmo afirma, em seu Discurso do método, o filósofo francês é movido por
um intenso desejo de aprender a distinguir a verdade da mentira para discernir com
clareza acerca das próprias ações e desse modo alcançar a segurança do caminho a
percorrer na vida.
Subjetividade Moderna: afirmação do EU através da razão
✓ 1596 – 1650

✓ Filósofo, físico e matemático francês

✓ Ingressou colégio de jesuítas – influência de Santo


Inácio

✓ Fundador Filosofia moderna


René Descartes
✓ Pai do Racionalismo

✓ Passou a vida em busca de uma referência confiável

✓ Textos mais importantes: Discurso do método (1637);


Regras para a direção do espírito (1628); Meditações
metafísicas (1638-1642); Meditações acerca da
primeira filosofia (1641); Tratado das paixões da alma
(1644).
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Caminho da Verdade: acessível a todos
Homem livre para direcionar a vontade para o caminho certo

Santo Inácio de Loyola Descartes


■ Verdade é o próprio Pensamento
■ Verdade é Deus

■ Caminho está no uso de leis


■ Caminho é a meditação (exercícios matemáticas e geométricas.
espirituais)
Descartes – Busca da Verdade
■ Confiança no homem e no poder da razão como instrumento da busca da verdade, num momento
histórico marcado ao mesmo tempo pelo entusiasmo pela ciência e pela incerteza e pelo desatino
diante das possibilidades imprevisíveis de posicionamento da liberdade dos indivíduos e dos
povos (guerras, rupturas sociais e religiosas).
■ As Regras para a busca da verdade, que Descartes propõe como parte de um novo método de uso
da razão, são baseadas no conhecimento matemático, por ser esse saber mais rigoroso e
garantia da certeza.
■ A matemática possui duas características essenciais para alcançar um conhecimento certo e
evidente: a ordem e a medida.
■ Conhecimento certo e evidente se dá pelo modelo das ciências matemáticas.
■ As quatro regras para a busca da verdade colocadas no Discurso do método por Descartes são: a
regra da evidência (acolher, como verdadeiro, somente o que é evidente); o uso da análise (dividir
o problema em partes para solucioná-lo); a regra da síntese ( ordenar os pensamentos desde o
mais simples até o mais complexo); a regra da enumeração (controlar o percurso do raciocínio).
■ Essas regras evidenciam um uso da razão que não busca mais alcançar o universal ( conforme
era o de Platão e da filosofia grega e medieval de modo geral), mas o mais simples.
Subjetividade Moderna: afirmação do EU através da razão

Conhecimento Certo e evidente –


matemático ordem e medida

Construção conhecimento seguir ciências matemáticas

✓ Evidência : O verdadeiro é evidente.

✓ Análise: Dividir o problema em partes para


solucioná-lo.
4 Regras
✓ Síntese: Ordenar pensamentos desde os
mais simples aos mais complexos.

✓ Enumeração: Controlar o percurso do


raciocínio.
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Compreender o mundo para Descartes

Problematizar , Questionar.

Dividir o mundo
Analisar o mundo
Hierarquizar metodicamente
Subjetividade Moderna: afirmação do EU através da razão

Dualismo – Relação Mente Corpo

Consciência compreende
Pensamento é vontade, intelecto,
consciência imaginação

Máquina com
Mundo componentes matéria e
movimento

Princípio do
Corpo humano
funcionamento não é a
alma, e sim o movimento
mecânico
Comparado a um relógio
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Dualismo Corpo/Mente

■ Descartes propõe o modelo da máquina (mecanicismo) como recurso para conhecer o


corpo humano e o mundo material e biológico.
■ O mundo é uma máquina cujos componentes são matéria e movimento (mecanicismo).
Inclusive a vida se explica em termos de mecanismo.
■ Não é necessário postular a existência de uma alma, ou princípio vital: "Se houvesse
máquinas que tivessem órgãos e figura externa de um mono ou de outro animal
qualquer desprovido de razão, não haveria meio algum que nos permitisse conhecer que
não são em tudo de natureza igual a esses animais" (Descartes, 2001, p. 53 apud
Marias, 1975, p. 181).
■ O corpo humano é comparado por ele, várias vezes, a um relógio.
■ O princípio de seu funcionamento não é a alma, ou princípio vital, e sim o movimento
mecânico.
Dualismo Corpo/Mente

■ A afirmação de que o homem é composto pelo corpo e pela mente funda o


dualismo que caracteriza a metafísica de Descartes.
■ Permanece o problema de explicar como é possível a unidade mente e corpo, sendo
duas substâncias separadas, na vida concreta do ser humano.
■ Segundo o filósofo, a comunicação entre as duas substâncias diferentes se dá num
órgão corpóreo: a glândula pineal. De fato, no Traité des passions de l'âme (livro 1,
cap. 34), Descartes propõe a hipótese de que a sede principal da alma é a glândula
pineal, que se encontra bem no meio do cérebro, irradiando ao corpo inteiro por
meio dos espíritos, dos nervos e do sangue que, ao "participar das impressões dos
espíritos, pode levá-los pelas artérias a todos os membros".
Dualismo corpo/mente
■ O conceito cartesiano de homem está na origem da psicologia moderna.
■ O conceito clássico de homem como unidade psicossomática de espírito, alma e corpo,
Descartes o substitui pelo conceito dualista de homem como composto de mente e corpo:
Visto que sei por certo que existo e, não obstante, não advirto que a minha natureza ou a
minha essência lhe convenha necessariamente outra coisa, mas que eu sou algo que
pensa, concebo muito bem que minha essência consiste somente em ser algo que pensa,
ou ser uma substância cuja essência ou natureza toda é só pensar. E mesmo que, por
acaso, ou melhor, certamente, como direi depois, eu tenha um corpo ao qual estou
estreitamente unido, no entanto, visto que por um lado tenho uma ideia clara e distinta de
mim mesmo, segundo a qual sou só algo que pensa e não extenso e, por outro lado, tenho
uma ideia distinta do corpo, segundo a qual este é uma coisa extensa, que não pensa,
torna-se claro que eu, isto é, minha mente, pela qual sou o que sou, é inteira e
verdadeiramente distinta do meu corpo, podendo ser e existir sem o corpo (Descartes,
2004, p. 42).
Dualismo corpo/ mente
■ O corpo é divisível, a mente é indivisível:
■ "Quando considero o espírito, isto é, a mim mesmo, enquanto sou apenas uma coisa que
pensa, não posso distinguir em mim partes, mas pelo contrário conheço e concebo muito
claramente que sou uma coisa absolutamente uma e inteira " (Descartes apud Marias,
1975, p. 183)
■ Mesmo tratando-se das faculdades de querer, sentir etc., elas são partes de um único
espírito.
■ Pelo contrário, somente posso conhecer o corpo pelo fato de que ele é divisível: "não posso
imaginar nenhuma coisa corporal ou extensa, por pequena que seja, que meu pensamento
não desfaça em pedaços ou que meu espírito não divida facilimamente em várias partes, e,
por conseguinte, a conheça como divisível" (idem).
Dualismo corpo/ mente
■ Em suma, Descartes modifica profundamente a visão de homem e o método de seu
conhecimento, próprios da tradição cultural precedente, descartando a definição de
homem enquanto animal racional e afirmando que o pensamento é o único atributo que
não pode ser separado do eu; ao mesmo tempo adota o mecanicismo como modelo de
conhecimento da corporeidade humana.
■ O mecanicismo implica que o corpo seja submetido ao mesmo tipo de determinismo, ou
seja, de relação causa-efeito, que ordena o mundo da matéria em movimento.
Subjetividade Moderna: afirmação do EU através da razão

Método - Dúvida Metódica

✓ As opiniões das pessoas comuns e


de especialistas eram duvidosas
✓ Variabilidade das leis e regras
Descartes morais
As coisas, uma a ✓ Órgãos do sentido não lhe
uma iam se proporcionavam informações
mostrando seguras
enganadoras ✓ Seus sentimentos transmitiam o
que não era objetivo
✓ Sensação de ter certeza, não
garantia a verdade

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Dúvida Metódica

■ Para realizar a reconstituição do saber, é necessário submeter todos os conhecimentos


já adquiridos ao teste da dúvida, de modo a alcançar os conhecimentos efetivamente
verdadeiros, ou seja, aqueles que as dúvidas não conseguem derrubar.
■ Através desse procedimento, Descartes alcança a certeza fundamental: penso, logo
existo. Ou seja, o eu existe visto que pensa, mesmo que pense algo falso.
■ Essa afirmação encontra-se na quarta parte do Discurso do método. Percebi logo que,
querendo eu pensar desse modo que tudo é falso, era necessário que eu, que o
pensava, fosse alguma coisa; e observando que esta verdade: "eu penso, logo sou", era
tão firme e segura que as mais extravagantes suposições dos cépticos não são capazes
de comovê-la, julguei que poderia recebê-la sem escrúpulo, como o primeiro princípio
(2001, p. 38).
Subjetividade Moderna: afirmação do EU através da razão

Pensamento como princípio da existência

Existência de um
Diante de toda a sujeito
dúvida do mundo CERTEZA
Um eu pensante

Eu penso, logo
existo

Homem era Homem tem um


reconhecido como centro – sua razão,
centro do mundo sua autoconsciência

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Subjetividade Moderna: afirmação do EU através da razão

Mesmo o cético não pode duvidar de sua existência, caso


contrário não seria possível sequer que ele se enganasse

Descartes – a fonte da moral, a verdade, é interna


Deus não é o fim do caminho, mas um passo em meu
caminho, uma garantia para as ideias evidentes que tenho
de mim. É no eu que tudo se encerra.
Deus é deduzido como uma causa necessária para a
existência do homem.

O lugar da verdade é o eu e não mais textos ou


representantes do sagrado

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Subjetividade Moderna: afirmação do EU através da razão

A evidência do eu como única referência estável dará origem a


todo o projeto científico. O homem passa a ter segurança
quanto à sua possibilidade de alcançar um conhecimento
objetivo do mundo.

A verdade já não será procurada nas escrituras sagradas ou


em iluminações místicas. Só poderá ser considerado
verdadeiro algo que tenha passado pelo crivo da observação e
racionalidade humanas. Santi (2012, p.66)

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Método Científico

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